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AULA 1

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES


FINANCEIRAS APLICADAS AO
SETOR PÚBLICO

Profª Bruna dos Santos


INTRODUÇÃO

Com o objetivo de entendermos melhor o funcionamento da administração


pública, vamos iniciar nossa disciplina trabalhando os seguintes assuntos:
• Orçamento público;
• Prestação de contas;
• Controle interno e externo;
• Governança corporativa na gestão pública;
• Estrutura da nova gestão pública (NGP).

TEMA 1 – ORÇAMENTO PÚBLICO

A grande responsabilidade do governo é proporcionar bem-estar à


coletividade, e para que isso possa ocorrer é necessário que seja feito um
planejamento dos programas a serem desenvolvidos. A Lei de Responsabilidade
Fiscal (101/2000), em seu artigo 1º, informa que a responsabilidade na gestão
fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, salientando a importância dos
instrumentos orçamentários na área pública (Brasil, 2000). Esses instrumentos
são o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei
Orçamentária Anual (LOA), que estão previstos na Constituição Federal (CF) de
1988, no seu artigo nº 165: “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais”
(Brasil, 1988). Algo importante nesse trecho da CF é que os instrumentos
orçamentários são iniciados pelo poder executivo, e não legislativo, apesar de
serem leis ordinárias, e sempre aprendemos que leis são elaboradas pelo Poder
Legislativo.

1.1 Plano Plurianual (PPA)

O PPA, segundo a CF/1988, estabelece de forma regionalizada as


Diretrizes, Objetivos e Metas da administração pública para as despesas de
capital e outras dela decorrentes e para os programas de duração continuada.
Ainda, no Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), é
afirmado que toda ação do governo está voltada para a realização dos objetivos
estratégicos definidos no Plano Plurianual, que é um planejamento de longo
prazo. Ele é obrigatório para o governo federal, estadual e municipal.

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Vamos analisar esse conceito de PPA para melhor fixação.
Notem que o PPA é feito de forma regionalizada, e o que isso significa?
As diferentes regiões do país, de um estado ou município, apresentam
necessidades diversas, ou seja, os problemas da região Nordeste do país que
necessitam de uma atuação do poder público são diferentes das da Sul. O
mesmo ocorre nos bairros de um município, em que a região central tem
determinadas peculiaridades, e as regiões periféricas possuem outras.
O conceito dado pela CF/1988 menciona ainda três palavras que
merecem destaque sobre o PPA, que podemos memorizar por “DOM” (D –
Diretrizes, O – Objetivos e M – Metas). As diretrizes são as normas amplas que
mostram uma direção a seguir em relação à gestão dos recursos. Os objetivos
estão ligados ao que será buscado com maior destaque. E, por fim, as metas
são as medidas dos objetivos realizados, podendo ser qualitativas ou
quantitativas. Exemplo: a Diretriz é melhorar a saúde do município, o Objetivo é
ampliar os atendimentos médicos diários, e a Meta é aumentar de 20 (vinte)
atendimentos diários para 30 (trinta).
As despesas de capital citadas são as de investimento, como a construção
de uma escola, aquisição de veículos, de bens móveis (computadores, mesas,
equipamento etc.), pavimentação de uma via, ou seja, o que for ampliar o
atendimento à população. As despesas decorrentes das despesas de capital são
para manter esses investimentos, por exemplo, a pavimentação de uma via é
despesa de capital, e o procedimento de “tapa buracos” dessa via é a despesa
que decorre dela, é uma despesa de manutenção, chamada também de despesa
corrente.
O Plano Plurianual, em resumo, é um planejamento das ações de governo
para um período de quatro anos. É feita uma estimativa da receita que será
arrecadada para cada um desses quatro anos e esse valor é distribuído em
ações. Um exemplo de ação de um município é a “Aquisição de um veículo para
a Secretaria de Educação” e outro a “Aquisição de Medicamentos para a
distribuição gratuita”. A receita total para cada ano deve ser igual à despesa total
para cada ano, que são as ações de governo. Assim, é definido onde o poder
público aplicará os recursos nesse período, que são arrecadados por meio dos
tributos e taxas cobradas dos cidadãos.
Esse planejamento é para um período de quatro anos, mas não tem a
vigência igual aos quatro anos de mandato do prefeito, governador ou

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presidente. No primeiro ano de mandato do prefeito ele executa o último ano do
PPA do prefeito anterior, e assim é no Estado e na União. Nesse exercício, o
prefeito elabora o PPA para os próximos quatro anos. Isso ocorre dessa forma
para que a máquina pública não pare e a prestação de serviços à população
tenha continuidade. Imagine como seria se esse prefeito tomasse posse em
primeiro de janeiro e não tivesse um caminho a seguir, ou seja, ainda tivesse
que elaborar um plano para ser cumprido.

Saiba mais
Assista ao vídeo para entender o PPA de modo descontraído. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=gnJv9dFhMdw>. Acesso em: 20 ago.
2021.

1.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

Segundo o parágrafo 2º do art. 165 da CF/1988:

A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades


da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para
o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei
orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária
e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais
de fomento. (Brasil, 1988)
A LDO é anual, diferente do PPA, que é para quatro anos, como vimos
anteriormente, e a principal característica da LDO é a orientação que ela fornece
para que seja feita a Lei Orçamentária Anual (LOA), sempre de acordo com o
que já foi estabelecido no PPA. Isso já mostra que a LDO deve ser desenvolvida
antes da LOA e é considerada um elo entre o planejamento de longo prazo, o
PPA e a Lei Orçamentária Anual.
O orçamento deve estar alinhado com as metas da administração. Na
definição da CF/1988 consta que essa lei vai dispor sobre as alterações na
legislação tributária. Isso ocorre porque qualquer alteração na forma de
arrecadação de tributos afeta diretamente a previsão de receita a arrecadar que
é feita na LOA. Por exemplo, se a alíquota do IPTU (Imposto Predial e Territorial
Urbano) diminuir, vai alterar a previsão da receita com esse imposto, diminuindo
o valor a ser arrecadado e, consequentemente, reduzindo o valor total de
receitas para a distribuição entre as ações de governo.

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1.3 Lei Orçamentária Anual (LOA)

O orçamento público é a previsão de receita e fixação de despesa (ações


de governo) para um determinado período (um ano) e consiste em um
documento fundamental das finanças e contabilidade na área pública. A
administração pública só pode executar o que estiver previsto no orçamento.
Assim, um Estado não pode, por exemplo, comprar ambulâncias no exercício de
2021 se quando foi elaborada a LOA para esse ano, não foi prevista essa
despesa.
A previsão de receita consiste na estimativa de receita que será
arrecadada, por exemplo, com base na receita recebida em 2020 para ISS
(Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza) e análise do mercado, é feito um
cálculo e chega-se que para 2021 a receita com esse imposto será R$
1.000.000,00 (um milhão). E isso é feito com cada um dos impostos e taxas que
são recebidos pelo ente, ainda separado em principal, multa e juros do principal,
dívida ativa e multa e juros sobre a dívida ativa.
A fixação de despesa é a definição da forma que esse recurso será
utilizado. O valor de 1.000.000,00 (um milhão) de receita prevista com ISS será
distribuído, por exemplo, em 2 (duas) ações de governo, sendo R$ 400.000,00
(quatrocentos mil reais) para aquisição de ônibus escolar e R$ 600.000,00
(seiscentos mil reais) para a construção de um posto de saúde. E assim é feito
com toda a previsão de receita. Ela é destinada a despesas de capital
(investimento) e de custeio. Lembrando que o total de receita prevista deve ser
igual à despesa fixada.
Além disso, a LOA tem alguns pontos que merecem ser destacados:

a) Deve estar compatível com o PPA. Isto significa, que não pode ter uma
despesa na LOA que não esteja no PPA.
b) Precisa ter Reserva de Contingência. A Reserva de Contingência é uma
ação específica para uma despesa inesperada. Por exemplo, pode
ocorrer uma enchente na cidade e ser preciso fazer doações para famílias
que ficaram desabrigadas. Por isso é preciso deixar um recurso separado
para esse tipo de caso.
c) Conter as despesas relativas à dívida pública. Alguns entes públicos têm
dívidas de longo prazo como operações de crédito (empréstimos

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bancários) ou parcelamento de tributos. O pagamento dessas dívidas tem
que estar previsto na LOA em ação específica.

1.4 Ciclo orçamentário

O orçamento é anual, porém o ciclo orçamentário, não. Para que no


primeiro dia do exercício seja possível iniciar a execução do orçamento, ele
precisa estar finalizado e aprovado, e depois de acabado o exercício, deve-se
analisar essa execução.
O ciclo orçamentário começa com a elaboração da proposta
orçamentária, que já vimos que é de iniciativa do Poder Executivo (presidente,
governadores e prefeitos), que encaminha essa proposta para verificação do
Poder Legislativo.
A segunda etapa é a análise por parte do Poder Legislativo (PL). O PL
pode fazer emendas ao projeto de lei orçamentária, que devem ser coerentes
com o PPA e a LDO e indicar os recursos necessários, por cancelamento de
dotação (outra ação). Isto é, por exemplo, se o PL solicita que seja feita uma
ação “construção de um hospital” no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil), ele
deve indicar qual parte do orçamento deve ser cortada para ter recurso para essa
despesa. Além de que, o PL não pode sugerir cancelamento de dotação
relacionada à despesa com pessoal, dívida e transferências para Estados,
Distrito Federal e municípios. Ainda, se o PL não receber a proposta do Poder
Executivo dentro do prazo estabelecido, ele considerará como orçamento o
mesmo do ano vigente. Aí ocorre a sanção pelo Poder Executivo, ou o veto
parcial ou total, que deve ser apreciado pelo PL, e pode ser confirmado ou
rejeitado.
Na terceira fase ocorre a execução orçamentária, que consiste na efetiva
arrecadação de receita e realização das despesas. Para que seja possível
executar o orçamento é preciso que se tenha recurso financeiro, por isso é de
extrema importância que seja controlada a execução orçamentária e financeira
ao mesmo tempo. Isso significa que não se pode fazer uma contratação no valor
de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) apenas porque há esse valor no
orçamento, se em caixa há apenas R$ 10.000,00 (dez mil reais). Esse exemplo
é um tanto absurdo, mas é apenas para demonstrar que execuções orçamentária
e financeira devem caminhar juntas. É possível fazer um contrato de valor alto

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se a estimativa de receita mensal está sendo atingida. Pode, ainda, acontecer o
contrário, ter receita e não estar fixada a despesa no orçamento, como no caso
de convênios.
Por último, acontece a avaliação da execução orçamentária, para verificar
se estão sendo alcançadas as metas definidas no orçamento e analisar o que
deu certo ou errado no planejamento.

Saiba mais
Como complemento, assista ao vídeo a seguir. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_rJJ6rGFB-w>. Acesso em: 20 ago. 2021.

TEMA 2 – PRESTAÇÃO DE CONTAS

Segundo a CF/1988, tem o dever de prestar contas “qualquer pessoa


física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou
administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda,
ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária” (Brasil,
1988). Pode-se citar como exemplo um prefeito que realiza um convênio com o
Estado para uma finalidade específica como a construção de uma creche, ou
ainda, uma empresa privada que receba recursos públicos para investimento em
seu patrimônio próprio.

2.1 Prestação de contas municipal

Muitos entendem que o município presta contas apenas para o Tribunal


de Contas do Estado a que pertence. No entanto, o Poder Executivo, que é o
poder que arrecada recursos, de acordo com a CF/1988 e a Lei 4320/1964, deve
prestar contas ao Poder Legislativo do município (Câmara de Vereadores) com
parecer prévio do Tribunal de Contas. De forma simples, imagine que a
sociedade, detentora de recursos públicos, é representada pelo Poder
Legislativo (senadores, deputados e vereadores). O Poder Executivo
(presidente, governadores e prefeitos) são os que aplicam os recursos. Assim, a
prestação de contas deve ser feita para o Poder Legislativo, que representa o
povo.
Para exemplificar, no estado do Paraná os municípios devem
mensalmente enviar informações ao Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR),

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por meio do SIM – Sistema de Informação Municipal, até o final do mês
subsequente. Essas informações são divididas em módulos e as informações
são variadas: Planejamento e Orçamento, Contábil, Tesouraria, Contratos,
Patrimônio, Folha de Pagamento, Tributário, Obras Públicas, entre outras. Além
disso, até em torno de março do ano seguinte, é preciso fazer a Prestação de
Contas Anual ao TCE-PR eletronicamente, que exige um rol de documentos.
Dentre eles, estão: ofício assinado pelo gestor da entidade encaminhando à
Prestação de Contas; Balanço Patrimonial encerrado em 31/12/2018 emitido
pelo sistema de contabilidade, assinado pelo contabilista responsável; Relatório
do Controle Interno atestando o fiel cumprimento das exigências contidas no
artigo 74 da Constituição Federal; Certificado de Regularidade Previdenciária
(CRP) do município, entre outros. No momento desse envio para o TCE-PR, o
Poder Executivo afirma em um dos documentos que já entregou essa mesma
prestação de contas ao Poder Legislativo. Isso ocorre com os outros municípios
do Brasil e seus respectivos tribunais de contas estaduais, por meio dos sistemas
específicos.

2.2 Transparência

Os entes públicos têm obrigação de deixar suas informações sobre a


execução orçamentária e financeira disponíveis para consulta, em tempo real,
segundo a Lei n. 131/2009 (Lei da Transparência), e estão sujeitos a penalidades
se não cumprirem essa lei. Essa é outra forma de prestar contas à sociedade e
aos órgãos fiscalizadores. Ainda, ressalta-se que é considerado “tempo real” até
o primeiro dia útil após a data de registro contábil no sistema.
Em 2011 uma nova lei foi publicada, a chamada LAI – Lei de Acesso à
Informação (n. 12.527/2011), exigindo que os entes públicos divulguem dados
diversos, até, por exemplo, referente a salários de servidores. No entanto, o
grande diferencial dessa legislação é regularizar o direito do cidadão em solicitar
documentos ou esclarecimentos que tiver interesse, e ainda, sem a necessidade
de justificar o pedido. O interessado deve apenas fazer o requerimento por meio
do canal de comunicação disponibilizado pelo ente público.
Responda as questões abaixo, extraídas de concurso público identificado
em cada uma delas, para fixação.

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1 - (Quadrix - 2017 - Conter - Auxiliar Administrativo - CRTR) Nos termos da Lei
n. 12.527/11 (acesso à informação), qualquer interessado poderá apresentar
pedido de acesso a informações a órgãos e entidades referidos nessa lei, por
qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do requerente e
a especificação da informação requerida. Relativamente ao tema, avalie as
seguintes afirmativas.
I. Para o acesso a informações de interesse público, a identificação do
requerente não pode conter exigências que inviabilizem a solicitação.
II. Os órgãos e as entidades do poder público devem viabilizar alternativa de
encaminhamento de pedidos de acesso por meio de seus sítios oficiais na
internet.
III. São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da
solicitação de informações de interesse público.
Está correto o que se afirma em:
a) todas.
b) I e II, somente.
c) II e III, somente.
d) I e III, somente.
e) nenhuma.
2 - (CCV-UFC - 2018 - UFC - Assistente em Administração) Tem por objetivo
aumentar a transparência da gestão pública, permitindo que o cidadão
acompanhe o uso do dinheiro público ajudando a fiscalizá-lo.
a) Prefeituras municipais.
b) Portal da transparência.
c) Supremo Tribunal Federal.
d) Tribunal de Contas da União.
e) Secretaria de Controle do Dinheiro Público.

TEMA 3 – CONTROLE INTERNO E EXTERNO

O Controle na Administração Pública está fundamentado na Lei


4.320/1964 e está relacionado à noção de finanças. A sua finalidade é que a
administração atue de acordo com os princípios de legalidade, moralidade,
finalidade pública, publicidade, impessoalidade.

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O Controle está separado em 1 - Controle interno de cada ente, 2 -
Controle Parlamentar, ainda subdividido em 2.1 - Político e 2.2 - Financeiro, e 3
- Controle Social. O Político é o realizado pelas casas parlamentares (Senado e
Câmara de Deputados, Assembleias Legislativas, Câmara de Vereadores), e o
Financeiro pelos órgãos especializados (Tribunais de Contas).
O Controle Interno é o realizado pela própria instituição com o objetivo de
proteger o patrimônio, dar fidedignidade às demonstrações financeiras e
promover eficiência operacional. Dentre as atividades dessa área pode-se citar:
apoiar o controle externo, assessorar a administração, realizar auditorias
internas, avaliar o cumprimento das metas previstas no PPA, LDO e LOA, revisar
e emitir parecer de prestações de contas.
Há princípios reguladores desse controle que afetam a prática da função
de controlador interno:
a) Segregação de funções: o indivíduo que exerce o controle não pode
realizar outra função administrativa. É preciso separar as funções de
autorização, execução, contabilização e controle. Exemplo: se um
servidor faz as previsões de pagamento, outro deve fazer a conferência
do pagamento efetuado.
b) Independência técnico-funcional: quem exerce controle de possuir
liberdade para realizar as suas atividades, analisar documentos e emitir
relatórios. Exemplo: existe a necessidade de fazer um levantamento em
gastos com manutenção de veículos de determinado ente. O controlador
pode e deve exigir documentos que demonstrem esses gastos para as
áreas competentes e ser atendido prontamente. Lembrem-se! O controle
interno tem a função de auxiliar a gestão.
c) Relação custo-benefício: ao iniciar determinado controle é preciso
analisar se o custo para realização do controle não é mais elevado do que
o retorno que esse controle trará. Exemplo: controlar o estoque de canetas
de um município, baixando do estoque apenas quando estas acabarem,
e não quando ocorrer a distribuição para o servidor. O valor da hora de
trabalho do servidor que fará esse controle rigoroso é maior do que o valor
das canetas que serão mais economizadas.
d) Qualificação adequada para o cargo: para exercer a função de
controlador interno ou participar da equipe, é preciso ter formação nas
áreas relacionadas (Administração, Contabilidade, Economia, Direito) e

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ter experiência no setor público. Se a controladoria é composta por
servidores que não têm esse perfil, acarreta problemas para todas as
outras áreas, que precisam de suporte da controladoria, em casos
atípicos, principalmente. Outro ponto é que essa equipe precisa sofrer
rodízio para evitar vícios nos procedimentos e fiscalizações realizadas.
Exemplo: não se pode ter na equipe de controle interno uma pessoa
formada em educação física, outra em pedagogia e um contador que
acabou de ingressar na área pública. Faltará conhecimento para dar
continuidade às atividades.
e) Seguimento de normativas: os servidores do controle interno devem ter
suas atividades pautadas no cumprimento das normas e diretrizes do
ente. Exemplo: um servidor do controle interno deve seguir as regras de
solicitação de documentos como qualquer outro servidor. Caso nas
normas do ente esteja definido que é necessário protocolar a solicitação
de documentos, é esse o procedimento que o servidor do controle interno
fará.
f) Definição de responsabilidades: o ente precisa ter normas que deixem
claro a autoridade exercida pelo controle interno, bem como sua
responsabilidade e competência, devido à relevância desse cargo.
Exemplo: o controlador pode definir que as receitas do município deverão
ser contabilizadas diariamente. O setor de contabilidade terá que acatar
devido à hierarquia. A área de Controle é superior ao Departamento de
Contabilidade. Caso isso gere algum tipo de problema futuro, a
responsabilidade será também do controlador por alterar um
procedimento sem analisar todos os pontos negativos e positivos.
g) Instruções formalizadas: o controle interno deve elaborar instruções
para melhorar procedimentos que considera falho, sempre com o objetivo
de maior eficiência das atividades. Exemplo: os pagamentos de
fornecedores são feitos antes da assinatura do prefeito nas notas de
pagamento. O controlador pode definir, por instrução normativa, que antes
de ocorrer o pagamento aconteça a assinatura, alterando o fluxo dos
processos.
h) Controle sobre as transações: deve-se existir controle sobre atos e fatos
financeiros, patrimoniais, orçamentários e operacionais. Ou seja, o
controle interno precisa se envolver em todas as áreas. Além disso, esse

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controle não deve ser apenas depois de ocorrido o fato ou ato. É preciso
prevenir “erros” e fazer o controle concomitantemente, dando suporte aos
servidores técnicos. Em resumo, a atuação do controle interno é realizada
a priori (previamente), concomitantemente e a posteriori (subsequente).
Exemplo: o controle interno analisa as previsões de pagamento dentro do
mês em que elas estão sendo feitas, antes de acontecer o fechamento
contábil desse mês, para que seja possível orientar em relação a algum
equívoco identificado em relação ao procedimento ou execução.
Apesar da notável essencialidade do Controle na Administração, há
algumas dificuldades em seu estabelecimento. Uma delas é a falta de risco
financeiro e de descontinuidade, ou seja, o investimento vem do povo e a
organização pública não está sujeita à falência, e assim, muitos podem pensar
que não há necessidade de tratar com zelo os recursos e o patrimônio público.
Para realizar o controle externo, a Constituição Federal previu os tribunais
de contas e o Ministério Público, que são dedicados exclusivamente a essa
função. O Controle Externo nos municípios, por exemplo, será exercido pelo
Poder Legislativo com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do
município, segundo artigo n. 31 da CF/1988. Também a Lei n. 4320/64,
considerada de alta relevância para elaboração e execução orçamentária no
país, afirma que o Poder Executivo Municipal prestará contas ao Poder
Legislativo, anualmente, com parecer Prévio do Tribunal de Contas ou órgão
equivalente.
A finalidade do Controle Externo é garantir a integridade dos atos da
administração pública, a correta aplicação dos recursos (gastos) e bens públicos
e o cumprimento da execução da lei orçamentária.

3.1 Controle social

Esse terceiro tipo de controle, como o próprio nome sugere, está


relacionado à sociedade. É o controle exercido pela população quando esta
exige seus direitos. Um cidadão pode verificar as informações do seu município
por meio do Portal da Transparência e identificar possíveis falhas em
procedimentos ou uso do dinheiro público. Caso identifique, deve questionar a
administração pública e exigir esclarecimentos, se for o caso, correção do dano
causado.

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Porém, o simples fato de uma pessoa ter o interesse em analisar os dados
do seu município, estado ou país, já é considerado controle social. Talvez essa
pessoa acesse as informações e não encontre nada que considere inadequado,
mas dará esse suporte ao poder público, “cuidando” e se importando com a
atuação da administração pública.
A participação da população é necessária para indicar problemas que,
muitas vezes, a administração pública não consegue identificar.

Saiba mais
Esse vídeo resume os três tipos de controle existentes. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=crSPhmWaqjc>. Acesso em: 20 ago. 2021.

TEMA 4 – GOVERNANÇA CORPORATIVA NA GESTÃO PÚBLICA

A governança corporativa é a forma que uma empresa é conduzida,


levando em consideração sua cultura, políticas e regulamentos, com o objetivo
de excelência na gestão. Assim como em uma empresa, a administração pública
também deve focar na governança corporativa para proporcionar a prestação de
serviço de interesse da sociedade.
São quatro os pilares da governança corporativa: Transparência,
Equidade, Prestação de Contas e Responsabilidade. Na área pública, esses
pilares estão ligados a uma maior interação entre os cidadãos e o governo. É
preciso que as pessoas indiquem suas necessidades, o governo atue para
auxiliar e demonstre para a população como está agindo, tratando cada um de
forma igualitária, e se responsabilize se não atingir os objetivos mínimos de
prestação de serviço à sociedade.
O grande objetivo da governança pública é atender da melhor forma o
cidadão e proporcionar uma vida saudável e feliz a todos, por isso sua
importância.

Saiba mais
O vídeo esclarece de forma simples o que é a governança. Assista para
melhor entender o conteúdo. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=kGYdT1mJ-0c>. Acesso em: 20 ago. 2021.

Agora, responda as questões:

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3 – (Cespe - 2016 - Funpresp-EXE - Especialista - Área Investimentos) Com
relação aos princípios fundamentais de governança corporativa, julgue o item a
seguir. A equidade, entendida como tratamento justo e igualitário a todas as
partes interessadas, faz parte dos princípios de governança corporativa.
Certo
Errado
4 – (Cespe - 2008 - CGE-PB - Auditor de Contas Públicas) O Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa define as linhas mestras das boas práticas de
governança corporativa, relacionando-as em quatro vertentes. Assinale a opção
que não corresponde a essas quatro vertentes.
a) Entidade (entity)
b) Prestação de contas (accountability)
c) Transparência (disclosure)
d) Equidade (fairness)
e) Responsabilidade corporativa na conformidade com as regras (compliance)

TEMA 5 – ESTRUTURA DA NOVA GESTÃO PÚBLICA (NGP)

Devido à falta de eficiência, eficácia e resultados produtivos na


administração pública, surgiu um novo modelo de gestão, conhecido como Nova
Gestão Pública (NGP), ou New Public Management (NPM), nos anos 1980. Esse
modelo incorpora à gestão pública ferramentas da área privada como análise de
dados, gestão eficiente e engajamento, para conduzir a administração a saciar
as demandas que visam o bem-estar social, por meio das políticas públicas.
A NGP defende uma gestão mais comunicativa com o cidadão e
organizada, por meio de um planejamento das ações a serem desenvolvidas;
integrada, em que as diferentes áreas trabalham interligadas na elaboração e
execução das políticas públicas; e nesse modelo há uma troca de experiências
entre os entes públicos para que seja possível aprender e evoluir com os erros
e acertos das demais entidades, sem a preocupação em testar determinados
procedimentos como se não pudesse jamais ocorrerem erros.
A principal mudança com a NGP é a substituição de um modelo
burocrático, baseado em regras e autoridade, por um normativo (Denhardt,
2011). Além disso, a NGP é considerada administração pública gerencial, com o

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objetivo de obter melhores resultados, flexibilizando alguns procedimentos e
aumentando a prestação de contas.
Com base no exposto, analise as afirmativas abaixo e indique se estão
certas ou erradas.
5 - (Cespe - 2012 - Anac - Técnico em Regulação de Aviação Civil - Área 2)
Preservando-se o caráter rígido da administração burocrática, foram
introduzidas, com a nova administração pública, novas práticas gerenciais,
direcionadas à criação de condições para elevar o controle social sobre o gestor
público.
Certo
Errado
6 - (Cespe - 2012 - PRF - Técnico em Assuntos Educacionais - Classe A Padrão
I) A nova gestão pública privilegia o incremento no desempenho voltado à
satisfação da sociedade e à elevação da qualidade do serviço prestado,
assemelhando-se, nesse aspecto, à gestão privada.
Certo
Errado

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei n. 4320, de 17 de março de 1964. Institui Normas Gerais de Direito


Financeiro para Elaboração e Controle dos Orçamentos e Balanços da União,
dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em: 20 ago. 2021.

BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a


informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e
no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei n. 8.112, de 11 de
dezembro de 1990; revoga a Lei n. 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos
da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>.
Acesso em: 20 ago. 2021.

BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas


de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá
outras providências. Disponível em:
<https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LCP&numero=101&ano=2000
&ato=fe3UzYU1EMNpWTcee>. Acesso em: 20 ago. 2021.

BRASIL. Lei Complementar n. 131, de 27 de maio de 2009. Estabelece normas


de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá
outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de
informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm>. Acesso em: 20 ago.
2021.

BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de


contabilidade aplicada ao setor público. 7. ed. Brasília/ DF, 2017. Disponível
em:
<http://portaria3992.saude.gov.br/images/legislacao/MCASP_7_edicao_Versao
_Republicacao_2017_06_02.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2021.

16
DENHARDT, R. B. Teorias da administração pública. São Paulo: Cengage
Learning, 2011.

17
GABARITO

Questão 1

Resposta correta: A

Questão 2

Reposta correta: B

Questão 3

Resposta correta: certo

Questão 4

Resposta correta: A

Questão 5

Resposta correta: errado

Questão 6

Resposta correta: certo

18

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