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Gestão Orçamentária

e Financeira

Aula 3
Lei Orçamentária Anual
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RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO


Tribunal de Contas da União
Secretaria-Geral da Presidência
Instituto Serzedello Corrêa
Diretoria de Educação Corporativa de Controle Externo
1º Serviço de Educação Corporativa de Controle Externo- 1º Seducont

REVISÃO
Antonio José Saraiva de Oliveira Junior

CONTEUDISTA
Leonardo Rodrigues Albernaz

TRATAMENTO PEDAGÓGICO
Flavio Sposto Pompeo
Silvia Helena de Campos Martins

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO


Vanessa Vieira

Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em novembro de

2017. As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem

não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União.


Aula 3: Lei Orçamentária Anual 3

Aula 3 – Lei Orçamentária Anual


Qual é a composição da Lei Orçamentária Anual?
Quais são os limites constitucionais e legais à elaboração das
propostas orçamentárias?
O que é “Reserva de Contingência”? O que é a chamada
“Regra de Ouro”?

Na aula de hoje, estudaremos a forma legal definida pela Constituição do Brasil para
o orçamento público no país: a Lei Orçamentária Anual, comumente referida simplesmente
como LOA.

Vamos conhecer as partes que integram a LOA, os limites constitucionais e legais para
a elaboração da proposta orçamentária anual e um conjunto de tópicos complementares, que
incluirão questões relevantes, como a reserva de contingência, as vedações orçamentárias e a
“regra de ouro” para a gestão fiscal responsável.

Esperamos que ao término dessa aula, você consiga caracterizar a LOA no nível federal,
estadual e municipal.

Para facilitar o estudo, esta aula está assim organizada:

1. Lei Orçamentária Anual – LOA..................................................................................................... 4

Síntese......................................................................................................................................................... 16

Referências Bibliográficas............................................................................................................. 17

Pronto para começar? Então vamos lá!

Tribunal de Contas da União


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1. Lei Orçamentária Anual – LOA


Tribunal de Contas da União

Quais os aspectos legais mais importantes


relacionados à LOA?

Vamos conversar sobre isso agora.

Ao contrário do Plano Plurianual (PPA) e da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), a LOA


não constitui inovação da Lei Fundamental de 1988, à exceção do fato de que a Constituição
Cidadã tripartiu a LOA em orçamento fiscal, orçamento da seguridade social e orçamento de
investimento.

Dispõe a Constituição de 1988 que:

Art. 165 [...]

§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá:

I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades
da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo
poder público;

II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente,


detenha a maioria do capital social com direito a voto;

III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vin-
culados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e
mantidos pelo poder público. (grifou-se)

Em razão dessa formatação dada pela Constituição de 1988 – segundo a qual uma única
LOA consolida três orçamentos – a doutrina tende a atualizar o princípio orçamentário da unida-
de, substituindo-o pelo da totalidade.

Coube à doutrina tratar de reconceituar o princípio da unidade de forma que


abrangesse as novas situações. Surgiu, então, o princípio da totalidade, que
possibilita a coexistência de múltiplos orçamentos que, entretanto, devem
sofrer consolidação de forma a permitir uma visão geral do conjunto das
finanças públicas.

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Aula 3 – Lei Orçamentária Anual


O orçamento é o documento legal que estima receitas e fixa despesas para determinado
período de tempo. O conteúdo da LOA, portanto, deve obediência ao princípio orçamentário da
exclusividade, proclamado no art. 165, § 8º, da Constituição:

Art. 165 [...]

§ 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à


fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos
suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita,
nos termos da lei.

Os orçamentos fiscal e da seguridade social alcançam órgãos e entidades da


administração direta e indireta, enquanto o orçamento de investimento abrange
as empresas controladas pelo ente público (União, Estados, DF ou Municípios).
Com essa estruturação, estão dispensadas de integrar a LOA, por ilustração, as
paraestatais (ex: Sebrae) e os conselhos de fiscalização profissional (ex: OAB),
tendo em vista que essas entidades não compõem a administração pública.

É pertinente frisar que a exceção ao princípio orçamentário da exclusividade não contem-


pla os créditos especiais ou extraordinários, mas apenas a autorização para a abertura de
créditos suplementares. A ideia é simples: os créditos suplementares são destinados apenas a
reforçar dotações orçamentárias já autorizadas pelo Poder Legislativo, de forma que este Poder
deve ser envolvido nos demais casos – créditos especiais (a priori) e extraordinários (a posteriori).

Os créditos especiais necessitam de autorização prévia do Poder Legislativo pelo fato


de que são autorizados por lei antes de serem abertos. Já os créditos extraordinários são
abertos de imediato por medida provisória, a qual, posteriormente, deve ser submetida à
apreciação legislativa.

Na esfera federal, a autorização para a abertura de créditos suplementares tem sido confe-
rida a todos os Poderes, ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas da União, os quais, por ato
próprio, podem abrir créditos suplementares autorizados em LOA, observadas as condicionantes
fixadas em lei de diretrizes orçamentárias.

Mas a regra – cabe lembrar – é que a lei orçamentária anual deve se limitar a estimar recei-
tas e fixar despesas. Nesse contexto, em obediência ao princípio da universalidade, devem estar
compreendidas na LOA todas as receitas e todas as despesas da administração direta e indireta.

Destaca-se, no entanto, que, embora esse princípio seja bem aplicável no âmbito dos or-
çamentos fiscal e da seguridade social, sofre restrições em relação ao orçamento de investimen-
to, tendo em vista que neste somente são contempladas as despesas com “investimento”. De

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acordo com as LDOs da União, têm sido considerados investimentos, basicamente, as despesas
com aquisição de ativo imobilizado.

Ativo imobilizado são bens corpóreos destinados à manutenção das atividades


estatais ou exercidos com essa finalidade, como terrenos, edifícios, veículos,
máquinas, equipamentos etc.

Ainda em relação ao objeto dos orçamentos que compõem a LOA, é oportuno esclarecer
que o orçamento da seguridade social guarda correspondência com o conceito gravado no art.
194 da Constituição, o qual informa que a seguridade social compreende um conjunto integrado
de ações destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Nesse sentido, o Orçamento da Seguridade Social define os recursos destinados à saúde,


previdência e assistência social e quais ações estão sendo feitas nessas áreas.

1.1. Limites constitucionais e legais

No momento da elaboração das propostas orçamentárias, a definição do montante de


recursos a ser alocado a determinadas áreas de despesas não é totalmente discricionária. Ao
contrário! Há uma série de condicionantes constitucionais e legais que devem ser observadas.

Quais são essas condicionantes?

Vamos começar pelas operações de crédito e garantias.

Operações de Crédito e Garantias

Os limites para a contratação de operações de crédito e concessão de garantias são fi-


xados por Resolução do Senado Federal - RSF, uma vez que o art. 52, incisos VII e VIII, da
Constituição, estatui que compete privativamente ao Senado Federal dispor sobre:

• limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades
controladas pelo poder público federal; e

• sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de


crédito externo e interno.

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No âmbito da União, a RSF nº 48/2007 fixou em 60% da Receita Corrente Líquida – RCL
o limite para o montante global do fluxo das operações de crédito realizadas em um exercício
financeiro, enquanto o art. 9º daquela norma fixou em 60% da RCL o limite para o montante do
estoque acumulado das garantias concedidas.

Para os entes subnacionais, a RSF nº 43/2001 estabeleceu, basicamente, que o montante


global das operações de crédito realizadas por Estados, Distrito Federal e Municípios, em um
exercício financeiro, não pode ser superior a 16% da RCL.

Quanto às garantias, o art. 9º da mesma Resolução fixou em 22% da RCL o limite para o
saldo global das garantias concedidas pelos mencionados entes, podendo esse percentual ser
elevado para 32%.

A inobservância dos limites e condições fixados pelas Resoluções em estudo constitui in-
fração de natureza penal. Em relação a operações de crédito, o Decreto nº 2.848/1940 (Código
Penal) comina ao crime a pena de reclusão.

Em relação à concessão de garantias, a LRF estatui que essa operação depende do ofereci-
mento de contragarantia, em valor igual ou superior ao da garantia a ser concedida. A violação
desse preceito, consoante dispõe o Código Penal, sujeita o infrator à pena de detenção.

Dívida Pública

Além de dispor sobre operações de crédito e garantias, compete ao Senado Federal:

• fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da


dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e

• estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária (representada


por títulos) dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Já em relação à dívida mobiliária federal, cabe à lei – e não a Resolução do Senado – fixar
o seu montante máximo, conforme definido pela Constituição.

Não há, até o presente momento, limites de endividamento já aprovados para a União,
tendo em vista que ainda se encontram em tramitação no Senado Federal o Projeto de Resolução
do Senado nº 84/2007 (com o limite proposto de 350% da RCL, em termos de dívida conso-
lidada líquida) e o Projeto de Lei iniciado na Câmara dos Deputados nº 54/2009 (com o limite
proposto de 650% da RCL para a dívida mobiliária federal).

Para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a Resolução do Senado Federal nº


40/2001 estabeleceu que a dívida consolidada líquida não poderá exceder a:

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• 200% da RCL, no caso dos Estados e do Distrito Federal; e

• 120% da RCL, no caso dos Municípios.

Dívida consolidada líquida corresponde à dívida bruta deduzida dos haveres


financeiros (moeda e outros ativos financeiros emitidos pelo governo e instituições
financeiras, como títulos públicos, cédulas de crédito etc.)

Durante esse período, o endividamento excedente aos referidos limites, apurado ao final
do exercício do ano da publicação da Resolução mencionada, deve ser reduzido, no mínimo, à
proporção de 1/15 (um quinze avo) a cada exercício financeiro.

Ao lado dessa disciplina particular, a LRF estatui que, se a dívida consolidada de um ente
da Federação ultrapassar o respectivo limite ao final de um quadrimestre, o excedente deve-
rá ser eliminado, em regra, até o término dos três subsequente. Esta regra também deve ser
observada nos casos de descumprimento dos limites da dívida mobiliária e das operações de
crédito internas e externas.

Nesse contexto, é relevante observar que o art. 60 da LRF prevê que lei estadual ou mu-
nicipal poderá fixar limites inferiores aos estabelecidos por Resolução do Senado Federal, relati-
vamente ao respectivo ente federado, para as dívidas consolidada e mobiliária, bem como para
operações de crédito e concessão de garantias.

Despesas com pessoal

Estabelece o art. 169 da Constituição de 1988 que a despesa com pessoal ativo e inativo
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites esta-
belecidos em lei complementar.

À luz desse mandamento constitucional, a LRF estatuiu que a despesa total com pessoal,
em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os seguintes
percentuais da receita corrente líquida:

• 50% para a União;

• 60% para os Estados; e

• 60% para os Municípios.

Considerando que esses limites são repartidos no âmbito de cada Poder, o esquema adian-
te resume a repartição desses limites globais, conforme disposto na lei em comento. Trata-se de

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esquematização simplificada, já que há detalhes previstos na LRF que podem alterar essa distri-
buição geral.

(% da RCL) União Estados Municípios

Limite Global 50,0% 60,0% 60,0%

Executivo 40,9% 49,0% 54,0%

Legislativo 2,5% 3,0% 6,0%

Judiciário 6,0% 6,0% -

Min. Público 0,6% 2,0% -

Em face do quadro apresentado, cabe registrar que o Supremo Tribunal Federal (ADI 3.756,
2007), por unanimidade, decidiu que o DF deve observar o limite global de 52% da RCL para as
despesas com pessoal (49% para o Poder Executivo e 3% para o Legislativo), já que compete à
União, nos termos da Constituição, organizar e manter o Poder Judiciário e o Ministério Público
do Distrito Federal.

Na hipótese de ocorrer a extrapolação desses limites máximos para despesas com pesso-
al, a LRF estabelece o prazo de dois quadrimestres, em regra, para a eliminação de percentual
excedente.

Em reforço, o art. 5º da Lei de Crimes Fiscais (Lei nº 10.028/2000) informa que constitui in-
fração administrativa contra as leis de finanças públicas “deixar de ordenar ou de promover”,
na forma e nos prazos da lei, a execução de medida para a redução do montante da despesa
total com pessoal que houver excedido a repartição por Poder do limite máximo. O responsável
fica sujeito à punição com multa de 30% dos vencimentos anuais.

Despesas com Saúde

Por força do art. 198, § 2º, da Constituição Federal, a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios devem aplicar um valor mínimo em ações e serviços públicos de saúde. Na esfera
federal, por exemplo, o valor mínimo deve corresponder a 15% da receita corrente líquida.

Despesas com Ensino

Além do gasto mínimo com saúde, o art. 212 da Lei Magna estabelece que a União deve
aplicar, anualmente, nunca menos de 18%, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
25%, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferên-
cias, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

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Despesas com Irrigação

O art. 42 do ADCT, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 89/2015, deter-
mina que a União, durante os 40 anos subsequentes à promulgação da Constituição Federal de
1988 – até 2028, portanto – deve aplicar, do total dos recursos destinados à irrigação, 20% na
Região Centro-Oeste e 50% na Região Nordeste, preferencialmente no semiárido.

1.2. Tópicos Complementares

Qual a relação entre o PPA, a LDO e a LOA?


Existe algum tipo de subordinação?

Do ponto de vista formal, as leis orçamentárias atinentes ao plano plurianual, às diretrizes


orçamentárias e aos orçamentos anuais não guardam hierarquia legal entre si. São todas leis
temporárias e ordinárias, horizontalmente equiparadas.

No entanto, em homenagem à integração entre plano e orçamento, a própria Constituição


explicita a obrigatoriedade de observância do encadeamento lógico que parte do PPA, passa pela
LDO e se resolve na LOA, ao estatuir, por exemplo:

• que as emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não poderão ser aprovadas
quando incompatíveis com o PPA (art. 166, § 4º);

• que as emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem
somente podem ser aprovadas caso sejam compatíveis com o PPA e com a LDO
(art. 166, § 3º, I).

Quem é responsável pela estimativa da receita?

Considerando que compete ao Poder Executivo enviar o Projeto de Lei Orçamentária Anual
– PLOA ao Legislativo, cabe àquele Poder estimar as receitas quando da elaboração da proposta
orçamentária.

Por outro lado, para prestigiar a autonomia financeira que acompanha a tripartição fun-
cional do Poder, a Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece que o Executivo de cada ente da
Federação deve colocar à disposição dos demais Poderes e do Ministério Público, no mínimo

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trinta dias antes do prazo final para o encaminhamento de suas propostas orçamentárias, os
estudos e as estimativas das receitas para o exercício subsequente.

Além disso, cabe ressaltar que, após o envio do PLOA ao Poder Legislativo, este ainda pode
reestimar a receita nele prevista, se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal, em
conformidade com o disposto na LRF.

Por força do princípio orçamentário da discriminação, as receitas e despesas devem ser


especificadas para evitar que sejam aprovadas dotações globais destinadas a atender indistin-
tamente gastos quaisquer, pois, do contrário, o orçamento corresponderia a um “cheque em
branco” para o gasto público e tornaria inócuo o controle político exercido pelo Poder Legislativo
sobre o documento orçamentário.

E a Reserva de Contingência?

A Reserva de Contingência constitui exceção a esse princípio.

Conforme dispõe o art. 8º da Portaria Conjunta STN/SOF nº 163/2001, a reserva de contin-


gência corresponde a uma dotação global a ser utilizada como fonte de recursos para abertura
de créditos adicionais e para o atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos
fiscais imprevistos, devendo a sua forma de utilização e montante (definido com base na receita
corrente líquida) ser estabelecidos em LDO.

Reserva de Contingência: conforme o artigo 5º, III, da LRF, o projeto de Lei


de Orçamento Anual (LOA) conterá a Reserva de Contingência, cuja forma de
utilização e montante serão estabelecidos na LDO. A Reserva de Contingência
será destinada ao atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos
fiscais imprevistos.

O que são esses riscos?

De acordo com as LDOs federais, os riscos fiscais podem ser classificados como riscos or-
çamentários e riscos da dívida.

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Os riscos orçamentários dizem respeito à possibilidade de as receitas e despesas projetadas


na elaboração do PLOA não se confirmarem durante o exercício financeiro. Ao passo que os ris-
cos da dívida (mais especificamente da dívida mobiliária – representada por títulos) relacionam-
-se ao impacto de variações das taxas de juros, de câmbio e de inflação atreladas aos títulos da
dívida. Os riscos da dívida são especialmente relevantes, porque afetam a relação Dívida Líquida/
PIB, considerada o indicador mais importante de endividamento do setor público.

O que é a Regra de Ouro?

É a regra que estabelece que os orçamentos públicos sejam intrinsecamente deficitários,


não obstante sejam aprovados com equilíbrio formal. Isso porque, para “fechar a conta”, as
operações de crédito se somam às receitas com vistas a equalizá-las ao total das despesas.

À luz dessa realidade, em que o equilíbrio formal é ineficaz para combater o desequilíbrio
orçamentário substancial (real), o constituinte de 1988 optou não por impedir, mas por qualificar
desequilíbrios materiais que se apresentam sob as vestes de equilíbrios formais.

Nessa esteira, dispõe o art. 167, III, da Constituição, que é vedada a realização de opera-
ções de créditos que excedam o montante das despesas de capital. Trata-se da chamada regra
de ouro das finanças públicas, cuja ideia central é a de que o setor público não deve financiar
despesas correntes mediante endividamento, sob a perspectiva de valores globais.

E o que são despesas correntes?

Conforme a Lei 4.320/1964, as despesas correntes são as de:

a. custeio: destinadas à manutenção dos serviços criados anteriormente à Lei Orçamentária


Anual, e correspondem entre outros gastos, os com pessoal, material de consumo,
serviços de terceiros e gastos com obras de conservação e adaptação de bens imóveis;

b. transferências correntes: são despesas que não correspondem a contraprestação direta


de bens ou serviços por parte do Estado, pois são transferidas para custeio de outros
entes públicos ou privados (empresas estatais, instituições de caráter assistencial ou
cultural sem fins lucrativos etc).

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Ainda segundo essa lei, as despesas de capital são as de:

a. investimento: dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas


à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como
para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e
material permanente e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam
de caráter comercial ou financeiro;

b. inversões financeiras: despesas para aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em


utilização; aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de
qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital;
e constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos
comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros;

c. transferências de capital: dotações para investimentos ou inversões financeiras que


outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de
contraprestação direta em bens ou serviços.

Importante observar que o art. 11 da Lei nº 4.320/1964 informa que as operações de cré-
dito representam espécie do gênero “receitas de capital”, e que o art. 12 da mesma lei explicita
que as despesas de capital são compostas por três parcelas:

• investimentos;

• inversões financeiras; e

• transferências de capital.

Segundo essa composição, para a verificação do cumprimento da regra de ouro, deve-se


comparar espécie de receita com gênero de despesa, por intermédio da comparação entre “ope-
rações de crédito” (espécie) e despesas de capital (gênero).

Juntamente com esse mandamento geral, a Constituição previu exceção à regra de ouro
ao ressalvar as operações de crédito autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais
com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta.

Com espírito semelhante, o art. 44 da LRF veda a aplicação da receita de capital derivada
da alienação de bens e direitos que integram o patrimônio público para o financiamento de des-
pesa corrente, salvo se destinada por lei aos regimes de previdência social, geral e próprio dos
servidores públicos. O objetivo desse artigo é promover a gestão fiscal responsável.

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Existem outras vedações orçamentárias?

Relembrando os princípios orçamentários, é possível perceber que alguns deles – como o


da exclusividade e o da não vinculação – se referem, na realidade, a vedações orçamentárias,
as quais, no plano constitucional, encontram-se gravadas em conjunto no art. 167, a seguir
transcrito.

Art. 167. São vedados:

I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual;

II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos


orçamentários ou adicionais;

III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital,
ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade pre-
cisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta;

IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas [...];

V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem


indicação dos recursos correspondentes;

VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de


programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa;

VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados;

VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos orçamentos fiscal
e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e
fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, 5º;

IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorização legislativa;

X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, inclusive por ante-


cipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para
pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);

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Aula 3 – Lei Orçamentária Anual


XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195,
I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral
de previdência social de que trata o art. 201. (Inciso acrescido pela Emenda Constitucional
nº 20, de 1998).

Em complemento, é oportuno realçarmos que há diversas outras vedações em matéria


orçamentária no plano infraconstitucional, a exemplo da constante no art. 44 da LRF a qual
impede, em regra, o financiamento de despesas correntes mediante a utilização de receitas de
alienação de bens, o que permitiria situações assemelhadas a “vender a casa própria para pagar
viagens de férias”.

Tal vedação torna-se necessária para não dar margem a condutas inaceitáveis que carac-
terizariam gestão temerária (imprudente, arriscada, perigosa, precipitada) de recursos públicos.

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16 Síntese
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Nesta aula, aprofundamos os estudos sobre a LOA, assim como o rela-


cionamento entre as três peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA) com vistas à
organização da ação estatal, permitindo a tradução de estratégias, objetivos
e metas em programas e ações de governo.

Estudamos as funções e a composição do orçamento público, que trata da estimativa


das receitas e da fixação das despesas que o Poder Público irá realizar a cada exercício financeiro,
e de aspectos importantes relacionados à peça orçamentária, como seu ciclo de gestão e princí-
pios que regem sua elaboração e interpretação.

Entendemos como o orçamento público no Brasil é estabelecido sob a forma de uma lei
ordinária e especial: a Lei Orçamentária Anual – LOA, que, com caráter autorizativo, irá orien-
tar a aplicação dos recursos públicos arrecadados pelos governos nas três esferas da federação.

Finalmente, estudamos os limites constitucionais e legais à elaboração da proposta or-


çamentária e outros tópicos de interesse especial, como a reserva de contingência, as vedações
orçamentárias e a regra de ouro para fins de equilíbrio fiscal.

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Referências Bibliográficas 17

Aula 3 – Lei Orçamentária Anual


Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Planejamento e Investimentos
Estratégicos. Manual de Elaboração: plano plurianual 2008-2011. Brasília: MP, 2007.

___. ___. Secretaria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO. Versão 2011. Brasília, 2010.

GIACOMONI, James. Orçamento Público. São Paulo: Atlas, 2010.

MACHADO JR, José Teixeira. A Técnica do Orçamento-Programa no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro
de Administração Municipal, 1979.

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