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GESTÃO DE FINANÇAS = PD

PÚBLICAS
AULA 3
Prof. Fabrício Ramos Neves

CONVERSA INICIAL

Como vimos anteriormente, o processo orçamentário, integrado com o planejamento e a gestão,

contém três instrumentos: o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária
Anual. Elaborados pelo poder executivo, devem ser enviados às casas legislativas dos entes da
federação (Municípios, Estados e a União) para apreciação e votação para, posteriormente, serem

devolvidos ao executivo para sanção. Dessa forma, o processo envolve uma interação constante
entre os poderes executivo e legislativo.

CONTEXTUALIZANDO

De maneira geral, nós discutimos constantemente que a atividade financeira do Estado consiste
no arranjo de um conjunto dos recursos financeiros com o objetivo de financiar os gastos públicos
para a realização das necessidades coletivas. A atividade financeira é um instrumento para o
alcance determinado, na medida que, é por meio dela que o Estado viabiliza suas atividades. Mas o

Estado não pode desenvolver as suas atividades “ao arrepio da lei" ou “do lado errado da lei”, por
isso é preciso respeitar normas gerais que fundamentam o sistema jurídico.

A formalização dos orçamentos não está de fora desses regramentos e é cercada por uma série
de princípios e regras que lhe fornecem bases para o cumprimento de sua principal finalidade
político-administrativa: auxiliar o controle parlamentar sobre o governo. Os princípios orçamentários
são pilares a serem observados antes e durante a elaboração e execução das leis orçamentárias.

Qual a importância dos princípios orçamentários?

Os princípios são orientadores para que o orçamento esteja de acordo com a Constituição

Federal, e para que a transparência com os gastos seja realizada. Assim, qualquer item presente no
orçamento que desrespeite os princípios, que aponte uma falha, erro ou inconstitucionalidade, deve
ser retirado do documento ou enviado para análise, interferindo na sua aprovação, garantindo sua
correta execução. Cada princípio permite a elaboração de um orçamento mais organizado, de forma

padronizada e de entendimento mais fácil. Vamos a eles?

TEMA 1 — PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS

Vamos iniciar nossos estudos tratando de três princípios orçamentários previstos no art. 2º da
Lei 4.320/1964, que trata das normas gerais de direito financeiro e foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988. O mais importante nesses artigos é a noção de princípios, que está

embutida em cada um deles.

Lei 4.320/64:

Art. 2º A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a

política econômico-financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de

unidade, universalidade e anualidade.

Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito

autorizadas em lei.

Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da

administração centralizada, ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto

no artigo 2º. (Brasil, 1964, grifo nosso)

1.1 PRINCÍPIO DA UNIDADE

A ideia principal do princípio da unidade é que deve existir apenas um orçamento, e não mais

que um para cada ente da federação (Município, Estado ou União) em cada exercício financeiro (ano
civil).
Devendo ser apresentado de maneira integrada, o orçamento permite obter um retrato
abrangente das receitas e da fixação das despesas para cada exercício financeiro (dá uma olhada no
art. 34 da Lei 4.320/64). Assim, possui como objetivo eliminar a existência de orçamentos paralelos
e de retalhos que dificultam a execução orçamentária, e permite à sociedade e ao Legislativo uma

visão geral e um controle direto dos dispêndios financeiros de responsabilidade da administração


pública.

Relembro a você que, apesar da previsão legal disposta na Lei 3.420/1964, o princípio da
unidade só foi colocado em prática efetivamente com a entrada da Constituição Federal de 1988.
Anteriormente, muitas peças orçamentárias existiam de forma não consolidadas, como discutimos
em conteúdos anteriores, que nem sempre passava pela avaliação e aprovação legislativa.

Ainda devemos considerar o descrito na Constituição. Segundo o dispositivo constitucional, a


Lei Orçamentária Anual será composta pelo orçamento fiscal, pelo orçamento da seguridade social e
pelo orçamento de investimento das empresas públicas.

Constituição Federal de 1988, art. 165:

8 5º - A lei orçamentária anual compreenderá:

| — o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da

administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;

Il - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a

maioria do capital social com direito a voto;

Ill = o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados,

da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo

Poder Público. (Brasil, 1988)

Apesar da existência desses orçamentos, esse fato não representa quebra do princípio da
unidade, pois a peça orçamentária está unificada em um único documento, a Lei Orçamentária
Anual, atendendo ao princípio.

1.2 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE

Segundo este princípio, todas as receitas e despesas devem constar na lei orçamentária. Parece
um tanto obvio, né? Nem tanto...
Imagine se os chefes de governo lançassem mão de diversas leis distintas para tratar do
orçamento? O principal direcionador desse princípio é possibilitar ao legislativo o conhecimento, de
antemão, de todas as receitas e despesas dos governos e as suas formas de arrecadação. Esse
princípio está relacionado aos arts. 3º e 4º da Lei 4.320/64 (ver quadro acima). A universalidade do

orçamento alia-se ao princípio da unidade para melhor controle do processo orçamentário.

1.3 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE

Prezado aluno, peço atenção especial a esse princípio. O princípio da anualidade é responsável
pela direção do momento da elaboração e autorização do orçamento público a cada novo período,
geralmente anual, chamado de exercício financeiro (em geral o ano civil). A exceção acontece para os
créditos especiais e extraordinários autorizados nos últimos quatro meses do exercício, que poderão
ser reabertos nos limites de seus saldos, no exercício financeiro seguinte, incorporando-se ao

orçamento do próximo exercício.

Os créditos adicionais se referem a um crédito adicional (daí o nome) àquele já previsto no


orçamento, que pode ser liberado (depende de autorização) ao governo para reforçar gastos já

previstos (ou não, como nos extraordinários) durante determinado exercício financeiro. O exercício
financeiro é o período ao qual se referem a previsão das receitas e a fixação das despesas
registradas na Lei Orçamentária Anual. O parágrafo 5º do art. 165 da Constituição Federal de 1988
refere-se à existência de uma lei orçamentária anual. Conforme o art. 2º e 34 da Lei nº 4.320, de

1964, o orçamento é anual e o exercício financeiro coincidirá com o ano civil (1º de janeiro a 31 de

dezembro). “Lei 4.320/64:

Art. 34. O exercício financeiro coincidirá com o ano civil” (Brasil, 1964).

Saiba mais

Mas... e seu o governo não aprovar a Lei Orçamentária Anual em tempo?

Sem a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA), o governo só pode gastar uma parte das
previsões de despesas que foram definidas na LOA (chamados de duodécimos). O restante fica
congelado (contingenciado).

E isso já aconteceu? Como fica a vigência da LOA nesses casos?


Já. Agora em 2021, por exemplo, para o Governo Federal. A vigência da LOA continua até o
dia 31 de dezembro, mesmo que a sua vigência comece a valor após o início do ano.

Veja mais a respeito sobre: <https://politica.estadao.com.br/blogs/legis-ativo/estamos-em-


fevereiro-mas-ainda-nao-temos-orcamento/>. Acesso em: 2 set. 2021.

TEMA 2 — PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO E DA DISCRIMINAÇÃO

2.1 PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO

Apesar do art. 2º da Lei 4.320/64 expressamente indicar os princípios da unidade,

universalidade e anualidade, podemos extrair outros princípios que destacamos agora. O art. 6º da
Lei 4.320/64 determina a obediência de mais um princípio. Todos os entes federados devem
computar no orçamento suas receitas e despesas pelos seus valores totais, sem deduções. Por
exemplo, o Governo Federal tem que repassar aos municípios valores referentes ao Fundo de
Participação Municipal (FPM). Esse repasse constitucional obrigatório dos impostos arrecadados
pela União para os municípios (uma despesa) não pode ser descontado dos impostos (receitas),

mas ambos, receita e despesa, devem ser apresentados no orçamento pelos seus valores totais,
brutos. “Lei 4.320/64: Art. 6º Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos
seus totais, vedadas quaisquer deduções” (Brasil, 1964, grifo nosso).

Não confunda o princípio do orçamento bruto, que impõe a contabilização das despesas e
receitas sem as deduções, com o princípio da universalidade, que determina a contabilização de
todas as despesas e receitas.

2.2 PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO OU DA ESPECIALIZAÇÃO

De acordo com esse princípio, as receitas e as despesas devem ser discriminadas e


evidenciadas na lei orçamentária, de tal forma que se possa saber, de forma detalhada, as origens
dos recursos e as formas de sua aplicação. Perceba que, de forma geral, o princípio auxilia a função

do controle do gasto público (controle social e controle político), pois inibe autorizações (chamadas
de dotações) que são feitas de forma genérica, e que possam propiciar de forma demasiada a
flexibilidade e o arbítrio do chefe do executivo. “Lei 4.320/64: Art. 5º A Lei de Orçamento não
consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material,
serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 e seu
parágrafo único” (Brasil, 1964, grifo próprio).

TEMA 3 — PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

A ideia com esse princípio é estabelecer que a lei orçamentária deve conter apenas matéria
(assunto) referente ao próprio orçamento. O princípio da exclusividade então tem como base evitar
que durante a discussão do projeto orçamentário outros assuntos sem pertinência com o conteúdo
orçamentário fossem inseridos e aprovados em conjunto. Diferente de outras leis, as leis
orçamentárias só devem tratar de orçamento. Algumas ressalvas são feitas para a autorização de

abertura de créditos suplementares e para a contratação de operações de crédito (empréstimos),


nos termos definidos pela lei. Essas exceções são possíveis para atender excepcionalidades de
caixa.

CcF/88

art. 165:8 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à

fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos

suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos

termos da lei. (Brasil, 1988)

Os assuntos estranhos à LOA, sem pertinência ao seu conteúdo, eram chamados de “caudas

orçamentárias” ou “orçamentos rabilongos” (expressão dada por Ruiu Barbosa). Por outro lado,
devemos ter em mente, que as exceções ao princípio acabam possibilitando certa margem de
flexibilidade ao poder executivo para alterações orçamentárias.

TEMA 4 — PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO DAS RECEITAS

O princípio da não vinculação de receitas ou não afetação das receitas dispõe que nenhuma

receita de impostos poderá ser vinculada (reservada ou comprometida) para atender a determinados
gastos, salvo as ressalvas constitucionais. Já discutimos na aula anterior que as vinculações
acabam reduzindo o grau de liberdade do chefe do executivo e emperra o planejamento de longo,
médio e curto prazos. Apesar de termos visto que, em algumas situações, ainda existem certas
possibilidades de flexibilidade no orçamento.
Este princípio encontra-se claramente expresso no inciso IV do art. 167 da CF de 88, mas aplica-
se somente às receitas de impostos, e contempla uma série de exceções (conforme figura abaixo).
Apesar disso, existem diversas receitas tributárias que já estão vinculadas na lei orçamentária por
determinações constitucionais de aplicação obrigatória de recursos derivados de outras receitas

vinculadas.

CF/88, art. 167:

Art. 167. São vedados:

IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do


produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de

recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do

ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado,

respectivamente, pelos arts. 198, 8 2º, 212 e 37, XXIl, e a prestação de garantias às operações de

crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, 8 8º, bem como o disposto no & 4º deste

artigo; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003). (Brasil, 1988, grifo nosso)

Na Constituição Federal anterior, o princípio da não vinculação de receitas compreendia todos

os tributos. Agora, no texto constitucional atual, refere-se apenas aos impostos, que é uma das
espécies de tributos. Assim, a regra geral é que as receitas tributárias que se originam dos impostos
devem estar disponíveis (livres) para custear qualquer atividade estatal. Por isso que quando você
ouvir dizer que o IPTU (imposto sobre propriedade territorial urbana) é destinado para a conservação
e obras da cidade, isso é uma meia verdade. Se é imposto, os governos (nesse caso, os municipais)

podem determinar o imposto para pagamento de despesa com servidores, fornecedores e inclusive
conservação e obras da cidade.

Os arts. 158 e 159 da Constituição Federal tratam da repartição dos tributos entre os entes da

federação, o parágrafo 4º do art. 167 estabelece as exceções ao “princípio da não afetação das
receitas”:

CF/88, art. 167:

8 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os

arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, l, a e b, e Il, para a prestação

de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 3, de 1993). (Brasil, 1988)


er=—
Repartição constitucional de impostos

Destinação de recursos para a saúde

e
Exceções ao
Princípio da não | Destinação de recursos para o ensino
afetação das
receitas
Recursos para à atividade de administração

| Garantias para as operações de crédito (empréstimos)


%

| Garantias e contragarantias oferecidas à União ]

TEMA 5 - OUTROS PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS

5.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Já entendemos que todos os instrumentos orçamentários (PPA, LDO, LOA) são encaminhados
pelos poderes executivos dos entes da federação aos seus respectivos poderes legislativos para
discussão e aprovação. Vimos que esse rito está bastante relacionado a um processo legal e
discutimos sobre a natureza jurídica da lei orçamentária.

Pois bem, com base no art. 5º da Constituição de 1988: “ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Só que no caso do setor público, o gestor e

toda a administração pública só pode fazer aquilo que está na lei. Isso vale também para a matéria
orçamentária.

a
O orçamento é uma Lei ordinária, aprovada pelo Poder Legislativo, sob rito especial, com

iniciativa exclusiva de apresentação do Projeto pelo Chefe do Poder Executivo. Apesar de ser uma lei
ordinária, o orçamento público não cria nem gera direitos e deveres, não inovando na ordem jurídica.
Dessa forma, materialmente, o orçamento público é considerado uma lei de efeitos concretos, logo,

com natureza de ato administrativo.

Constituição Federal de 1988:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998) (Brasil, 1988, grifo nosso)


5.2 PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO

O princípio do equilíbrio está relacionado com as receitas e despesas, no qual as despesas não
podem ser maiores do que a receita. Ele visa assegurar que o nascimento do orçamento represente

equilíbrio, mesmo que tenha que demonstrar em seus quadros a apresentação de possíveis déficits.
Por exemplo, no orçamento é colocado uma rubrica definida como “reserva de contingência”.

A reserva de contingência no orçamento visa assegurar o atendimento ao princípio do equilíbrio


orçamentário no aspecto financeiro. Por exemplo, em uma situação de calamidade pública, em que o

poder público necessite reconstruir parte de uma estrada que foi destruída por uma inundação ou
para abrigar os munícipes, em não tendo recursos específicos, será possível utilizar a reserva de
contingência. Na ausência dela, haveria um grande desequilíbrio, e o aumento das despesas
provocado pelo imprevisto abre a possibilidade do uso do crédito extraordinário. “Lei Complementar
101/2000: Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no 8 20 do art. 165 da
Constituição e: | - disporá também sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas” (Brasil, 2000, grifo

próprio),

A Lei de Responsabilidade Fiscal dispõe sobre a observação desse princípio desde a elaboração

da Lei de Diretrizes Orçamentárias.

A Constituição Federal no seu art. 167, Ill, proíbe a realização da operação de crédito que seja

maior que as despesas.

CF/88, art. 167:

Art. 167. São vedados:

|-o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual;

I|l - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos

orçamentários ou adicionais;

Ill - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital,

ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa,

aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; (Brasil, 1988)

Todos esses princípios encontram-se acolhidos, em maior ou menor grau, na ordem jurídica

brasileira, alguns na própria Constituição, outros na Lei n. 4.320/64, no Decreto-Lei n. 200/67, nas
leis de diretrizes orçamentárias da União dos últimos anos e, recentemente, na Lei Complementar n.

101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal.

5.3 PRINCÍPIO DA PROGRAMAÇÃO

Por conta da necessidade de melhor estruturar o orçamento, ele deve ter a forma de

programação. O orçamento deve expressar os objetivos de forma planejada, ou programada. Alguns


autores defendem a ideia que o princípio da programação decorre de todo o processo de evolução

das funções orçamentárias com instituição do orçamento-programa. O princípio da programação


acaba se vinculando às normas orçamentárias pela finalidade do plano plurianual (programas de
longo prazo) e às demais leis de orçamento de curto prazo.

Relembramos que a finalidade do orçamento público é entregar bens e serviços públicos para o
atendimento das necessidades da sociedade. Assim, o princípio da programação auxilia na
construção de uma estrutura que classifica os gastos e permite uma visão organizada, como uma
forma de atender à exigência dos demais princípios (como a transparência e a clareza) e permitir a
análise detalhada dos gastos públicos.

Tomando como o exemplo da União, o orçamento público deve conter informações que são
qualitativas (classificadas por esfera, órgão, unidade, função/subfunção de governo, programa,

ações, outros classificadores) e informações quantitativas (necessidade física e financeira). À


dimensão física procura definir uma quantidade de serviços (em número de atendimentos) e bens a
serem entregues, e uma dimensão financeira (quantidade de recursos) para as despesas que foram
autorizadas.

5.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

O conteúdo do orçamento deve ser divulgado (publicado) nos veículos oficiais de comunicação
para conhecimento do público para que tenha eficácia de sua validade. Este princípio está
claramente exposto no art. 37 da Constituição Federal de 1988 (vide quadro acima no item 5.1). O

princípio da publicidade também é levado para uma vertente orçamentária, como parte das questões
da administração pública, pois é interessante saber que as decisões sobre orçamento só possuem
validade após a sua publicação em órgão da imprensa oficial (como visto quando tratamos da
natureza jurídica do orçamento). É condição sine qua non de eficácia do ato a divulgação do seu
conteúdo para conhecimento amplo do público, de forma a garantir a informação na elaboração e
execução do orçamento. Assim, tem-se a garantia de acesso para qualquer interessado às
informações necessárias ao exercício da fiscalização sobre a utilização dos recursos arrecadados
dos contribuintes.

Complementar a esse dispositivo, o art. 48 da Lei de Responsabilidade Fiscal traz:

Lei Complementar 101/2000:

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação,

inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes


orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da

Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses

documentos. (Brasil, 2000, grifo próprio)

5.4 PRINCÍPIO DA CLAREZA

Esse princípio define que os orçamentos (Leis que tratam do orçamento e as próprias peças
orçamentárias) devem ser expressos de forma clara, ordenada e completa. Devemos ter em mente
que a necessidade de especificar ou discriminar (seguindo o princípio da discriminação) os itens de
despesa atendem ao objetivo de permitir à sociedade e ao Legislativo o acompanhamento de sua

execução, ou mesmo a fiscalização e avaliação da destinação dos recursos, com o objetivo de poder
realizar o controle tanto social quanto por força do ofício (quando fizer parte das atribuições de
algum órgão público).

Nessa linha, a literatura traz a necessidade de que o orçamento público seja apresentado com
clareza e de forma objetiva para uso de todas as pessoas. Por exemplo, Sanches (2004, p. 62) define
o princípio da clareza como o princípio “segundo o qual a Lei Orçamentária deve ser estruturada por
meio de categorias e elementos que facilitem sua compreensão até mesmo por pessoas de limitado
conhecimento técnico no campo das finanças públicas”.

Em termos de clareza, vimos em conteúdos anteriores que os orçamentos brasileiros


apresentaram mudanças ao longo do tempo, em especial, após a implementação do orçamento-

programa, que acabou trazendo um incremento relacionado aos programas de trabalho, que
possuem em seu conteúdo projetos e atividades, o que possibilita a identificação dos objetivos dos
governos. Anteriormente, dificilmente era possível identificar a dimensão dos gastos
governamentais.

Os poderes legislativos de todos os níveis da federação (municipal, estadual ou União) possuem


como obrigação constitucional o dever de fiscalizar a execução orçamentária realizada pelos
gestores públicos. Para isso, são auxiliados pelos Tribunais de Contas dos Estados ou dos
Municípios (onde existem), pois, muitas vezes, os vereadores e deputados (estaduais ou federais),

podem não possuir conhecimento técnico em finanças públicas para bem avaliar os gastos públicos
e os demonstrativos que são disponibilizados. O art. 31 da Constituição de 1988 traz um exemplo.

Constituição Federal de 1988:

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante
controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da

lei.

8 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas
dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde

houver.

L|

8 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de

qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos

termos da lei. (Brasil, 1988)

Aqui eu aproveito e deixo um desafio ao estudante. Já deu uma lida na Lei orçamentária do seu
município ou já olhou o seu orçamento? Sugiro que faça esse exercício e que reflita e discuta com
seus colegas a respeito do atendimento ao princípio da clareza.

TROCANDO IDEIAS

Sem nenhum propósito de discussão política, mas apenas para fins didáticos, vamos analisar
do ponto de vista dos princípios orçamentários o impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma. Um
dos seus motivos oficiais foi a edição de três decretos de crédito suplementar sem prévia
autorização legal. A ausência de aprovação pelo Legislativo motivou a interpretação de que se
trataria de crime de responsabilidade.
Os decretos totalizavam 2,3 bilhões de reais, e foram considerados criação de despesa extra,

em um contexto de crise fiscal, demonstrando que o orçamento não seria cumprido. O processo de
impeachment conclui, portanto, que os decretos não estavam condizentes com da Lei de Diretrizes
Orçamentárias de 2015.

No entendimento do Supremo Tribunal Federal, os créditos adicionais somente poderão ser


abertos por medida provisória caso se demonstre situações de guerra, comoção interna ou

calamidade pública (nesse sentido, veja o link sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
4048 abaixo). Tal medida tem por objetivo evitar que os chefes do Poder Executivo alterem as
disposições orçamentárias sem o devido controle do Legislativo e, nesse sentido, representa um
reforço ao princípio da legalidade em sentido estrito. Na sua visão, outros princípios orçamentários
foram violados? Discuta com seus colegas.

Sobre o tema, confira: <https://www2 .camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes

-temporarias/especiais/55a-legislatura/denuncia-contra-a-presidente-da-republica/documentos/outr
os-documentos/manifestacao-da-denunciada/ManifestaodaDenunciada.PDF>. Acesso em: 2 set.

2021.

Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4048 STF: <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudenci

a/18253855/acao-direta-de-inconstitucionalidade-adi-4048-df-stf>. Acesso em: 2 set. 2021.

NA PRÁTICA

1. : Em às
à noções
Õ sobre os princípios
incípi orçamentários
ri e de administração
ini ão financeira
fi i e

orçamentária, analise a sentença a seguir (Se correto ou errado).

Em relação ao princípio da universalidade, a construção do orçamento deve englobar todas as


receitas e despesas do ente governamental (município, estado ou União) para que seja realizada a
programação financeira da arrecadação necessária para custeio das despesas projetadas pelo

governo.

2. De acordo com o disposto na Constituição Federal de 1988, a lei orçamentária anual (LOA)

deve compreender, entre outras coisas, o orçamento fiscal, que contém as receitas e despesas de
todas as entidades da administração direta e da indireta; o orçamento da seguridade social; e o
orçamento de investimento das empresas estatais. Essa determinação constitucional possui relação
aos princípios orçamentários da:

a. da unidade e uniformidade.

b. da especificação e universalidade.

c. unidade e da especificação.

d. universalidade e da unidade.

e. da programação e universalidade.

FINALIZANDO

Esta aula sobre os princípios orçamentários rege detalhes que devem ser pensados antes da

elaboração das peças de planejamento governamental. Alguns desses princípios estão expressos
nas leis, outros implícitos da interpretação legal e da doutrina.

Pudemos conhecer mais sobre cada um deles e, por fim, o exemplo fica claro que o alinhamento
das práticas com os princípios é importante para um orçamento mais transparente. Na aula
seguinte, vamos nos aprofundar mais sobre os crimes de responsabilidade e as maneiras de
controle e formas de governança no setor público. Adiante!

REFERÊNCIAS

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60, 1965.

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Gráfico, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em: 2 set. 2021.

BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para
elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/leis/14320.htm>. Acesso em: 2
set. 2021.

BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças


públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ceivil 03/leis/Icp/Icp101.htm>. Acesso em: 2 set. 2021.

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Disponível em: <https://www.tesourotransparente.gov.br/sobre/glossario-do-tesouro-nacional>.
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GIAMBIAGI, EF; ALEM, A. C. Finanças públicas. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001.

MESQUITA, R. da S. Constituição e orçamento: aspectos constitucionais, legais e práticos do


sistema orçamentário brasileiro, 2018.

OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia, práticas. 25. ed. São Paulo:
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PALUDO, A. Orçamento público, administração financeira e orçamentária e LRF. 7.ed. rev. e


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SANCHES, O. M. Dicionário de orçamento, planejamento e áreas afins. 2. ed. Brasília: OMS,

2004. 393 p.

TORRES, R. L. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 17. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.

GABARITO

1. Correto
2. Conforme previsão no art. 165, parágrafo 5º, da Constituição Federal, a questão se relaciona
com o princípio da universalidade, que rege que o orçamento deve considerar todas as receitas e
despesas de forma a englobar todas as instituições governamentais. A segunda parte da questão
possui relação ao princípio da unidade (que também é conhecido como princípio da totalidade), que

rege que o orçamento deve um só para cada ente governamental e deve contemplar todos os
orçamentos (fiscal, de investimento e o da seguridade social).

Resolução: Letra D.

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