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Introdução

Alertamos a sociedade brasileira: como está, projeto de lei 2630 favorece


grandes grupos de comunicação e ameaça a democracia

Nós da mídia independente, progressista, nos dirigimos ao público para dizer


que apoiamos as iniciativas de combate às fake news e qualquer outra
modalidade de desinformação. Por isso lembramos que, em 2019,
acompanhamos e divulgamos intensamente a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito criada no Congresso Nacional especificamente com a finalidade de
investigar os produtores desse conteúdo nefasto para a democracia brasileira,
bem como apontar caminhos para evitar a proliferação desse conteúdo e para
punir seus responsáveis.

Estranhamente, antes que a CPMI avançasse, o Senado Federal aprovou


projeto de lei de combate a fake news, e esta matéria que agora está sendo
votada em caráter de urgência na Câmara dos Deputados. O caminho natural
seria a CPMI sugerir uma proposta legislativa, após amplo debate, como é
natural nessas comissões. Maior estranheza nos causou ainda que a CPMI foi
encerrada antes de produzir um relatório.

Restou à sociedade brasileira analisar o texto do relator Orlando Silva (PCdoB-


SP) sobre a proposta aprovada açodadamente pelo Senado Federal. Foi o que
fizemos e concluímos que, da forma como está redigido, o projeto de lei ameaça
a democracia brasileira e favorece grandes grupos de comunicação, como a TV
Globo. É surpreendente – para dizer o mínimo – que o projeto destinado ao
combate de fake news crie mecanismos de remuneração dessas empresas com
a publicidade gerada nos meios digitais.

O ideal é que o projeto se concentrasse nas medidas para impedir a divulgação


de mensagens anticientíficas, atentatórias ao estado democrático de direito e de
defesa de ideologias do ódio, como nazismo ou neonazismo, bem como ataques
em escolas.

Para isso, é preciso criar regras para evitar o anonimato na rede, que inclui a
obrigação de identificar contratantes de serviço de impulsionamento de
postagens. Também é preciso assegurar mecanismos de algoritmos neutros,
para evitar que conteúdos de extrema direita continuem a ser beneficiados com
recomendações das plataformas.

Entendemos que a internet possibilitou o surgimento de novos criadores de


conteúdo jornalístico. Com as plataformas, tornou-se possível a jornalistas
independentes, não vinculados a grandes grupos de comunicação, captar
informação, fazer análise e divulgar textos e vídeos, com a correspondente
remuneração.

É claro que, ao destinar parte expressiva da verba publicitária dos meios digitais
para os grandes grupos de comunicação, a receita para os produtores da mídia
independente cairá. Assim ocorreu na Austrália, onde o grupo de comunicação
do magnata Rupert Murdoch recebe cerca de R$ 230 milhões por ano das
plataformas.

Como está redigido, o projeto de lei 2630 tende a reduzir os produtores de


conteúdo na internet. Já houve um tempo em que 90% das informações que os
brasileiros recebiam vinham de empresas controladas por apenas seis famílias.
Podiam se reunir numa mesa de restaurante. Este é um Brasil que queremos no
passado. Precisamos de mais vozes, independentes, não menos.

Não concordamos com o argumento de que grupos de comunicação como o da


família Marinho no Brasil sejam um contraponto à produção de conteúdo
desinformativo. Pelo contrário. A história recente nos mostra que a cobertura
parcial e desonesta dos grandes grupos de comunicação levou ao golpe contra
a presidente Dilma Rousseff – impeachment sem crime de responsabilidade é
golpe.
Essa cobertura parcial e desonesta também levou à prisão política de Lula e à
eleição do extremista Jair Bolsonaro, que usou intensamente fake news durante
a campanha eleitoral. Se esses grupos de comunicação gigantes tivessem feito
um trabalho minimamente correto em 2018, o Brasil não teria sofrido durante
quatro anos com um governo anticonstitucional, negacionista, incompetente e
corrupto.

Como o maior beneficiário do texto do relator Orlando Silva é a Globo, não


surpreende que artistas vinculados diretamente ou indiretamente ao maior grupo
de comunicação do Brasil estejam fazendo campanha pela sua aprovação com
urgência. São os mesmos atores, atrizes, cantores e compositores que bateram
palmas para Sergio Moro e Marcelo Bretas, desmascarados por um trabalho
incansável da mídia que não integra o chamado mainstream.

Neste texto, listamos alguns pontos do projeto de lei que entendemos ser
prejudicial à democracia brasileira. E aproveitamos para pedir que haja mais
debate quanto à elaboração de uma lei que verdadeiramente combata as fake
news e a desinformação. Lembramos que a pressa já produziu desastres como
a rejeição da PEC 37 e a aprovação da lei da colaboração premiada, eventos
que foram essenciais para a criação da Lava Jato, operação aplaudida pela
Globo, e que produziu ruína econômica e o sofrimento maior ao povo mais pobre
deste País.

Sobre os pontos do projeto

Para que o projeto contemple com plenitude o objetivo de criar um ecossistema


saudável de comunicação, ele também precisa reconhecer a existência e
proteger a atividade de um importante novo agente de comunicação, que surgiu
nas mídias digitais, e que não é nem ligado aos veículos de imprensa e nem às
plataformas, embora dependa exclusivamente delas para atuar. Este agente
possui uma nomenclatura diversa, que talvez demande de unificação, seriam os
comunicadores, influenciadores, influenciadores de opinião, youtubers e
tiktokers de opinião.
Sua atuação também é ligeiramente diversa, mas em essência, é em parte
análoga a de um jornalista apresentador. Eles atuam transmitindo seu conteúdo
audiovisual através das plataformas, mas não sob supervisão, solicitação ou
contratação delas. Em muitos casos o mesmo conteúdo é, inclusive, enviado
para muitas plataformas. Este conteúdo, autoral e independente, é produzido de
modo semelhante ao que se faz no jornalismo, isto é, a partir de fatos, eventos
e outras publicações jornalísticas da imprensa corporativa, que são submetidos
à pesquisa, comparação, crítica, checagem e opinião.

Nos últimos anos, em particular durante o período de pandemia, estes


profissionais se tornaram ainda mais numerosos, requisitados e importantes. De
certo modo, eles encontram formas de levar a informação produzida de maneira
independente ou com pesquisa original na imprensa tradicional, para a
intimidade de cada um de seus milhares de seguidores, de uma forma pessoal
e intimista, com linguagem ajustada, e, em particular quando existe divergência
de informação, como no caso das Fake News, eles demonstraram desenvolver
laços de credibilidade muito mais fortes do que os que se via em outros veículos.

Especialmente por causa dessa capacidade de geração de confiança é que esse


profissional, pra além de ser um registro de pluralidade e representatividade na
comunicação, se tornou extremante importante no combate às Fake News. Uma
vez que, como visto nos últimos 4 anos, as Fake News são divulgadas e
gravadas de forma muito arrojada e penetrante na população alvo.

Essa atividade parece não concorrer com o espaço da imprensa tradicional,


talvez justamente pela diferença na fórmula. Uma vez que nos últimos anos a
imprensa adentrou as plataformas anteriormente utilizadas por esses
comunicadores com todo o seu robusto maquinário e capacidade de produção,
e mesmo assim os índices de audiência desse setor independente não
recuaram.

É preciso registrar, inclusive, que muito do que foi implementado na imprensa,


nas plataformas digitais, foi aprendido de forma silenciosa ao mimetizar ou
observar as formulas destes comunicadores. Cenários, linguagem, formatos,
duração de vídeos, miniaturas usadas pelos veículos tradicionais de imprensa
carregam inspirações claras nas fórmulas desbravadas pelos comunicadores de
plataforma.

E para entender por que a necessidade de proteção destes profissionais por


parte de um projeto que proteja a imprensa, é preciso compreender o impacto
desta última proteção, no financiamento dos produtores independentes.

Toda ou quase toda a fonte de renda dos produtores de conteúdo independentes


nestas plataformas vem da “monetização” de seus vídeos. Uma comissão que a
plataforma repassa para cada pequeno produtor, por veicular propagandas
antes, durante e depois da exibição do seu conteúdo.

Contudo, as plataformas não remuneram os produtores de forma consistente,


segura, democrática, justa e previsível. Isto ocorre por que, se por um lado, há
alguma clareza nos termos assinados pelas partes na hora da contratação para
monetização, isto é, quando a plataforma promete dividir a receita das
propagandas com o produtor de conteúdo, especificando quais as regras de
qualidade deste conteúdo, na prática o que se constata é uma arbitrariedade que
beira a neutralização da capacidade produtiva, e muitos chegam mesmo a
desistir da profissão. Isso acontece num processo chamado “desmonetização”.

A desmonetização é o processo onde, mesmo tendo um contrato com o produtor,


e o produtor enviando o material, que teve seu tempo e custos de produção, a
plataforma se nega a dividir a receita com o produtor, ou se nega a veicular
propagandas no conteúdo. Uma outra prática observada é a de não
desmonetizar o conteúdo, mas limitar vertiginosamente o seu alcance.

As plataformas alegam vários motivos para realizar a desmonetização, alguns


são justos e claros, como por exemplo o não atendimento à duração mínima do
conteúdo, alguns são questionáveis e limitantes da boa atividade, como a
exibição de certo grau de violência que é inerente à atividade informativa, mas
outros, pra piorar, são vagos e subjetivos, e muitas vezes arbitrários e seletivos,
como por exemplo, a alegação de incentivo a práticas perigosas, quando o
produtor simplesmente está registrando imagens de um simples protesto
popular.

O fato é que hoje, já sem a aplicação do projeto que responsabiliza juridicamente


as plataformas, elas já fazem um misto de terrorismo, assédio e censura sobre
os produtores que desenvolvem literalmente problemas de saúde, como
ansiedade, taquicardia, e até registros de AVC, por estresse passado com a
arbitrariedade aplicada na desmonetização

Na prática, a desmonetização diminui ou cessa o debate de temas altamente


relevantes por parte destes comunicadores, temas como assédio, pedofilia,
estupro, violência policial não são abordados propositalmente para evitar
assimilar o prejuízo e o desgaste de perder a receita do material, que, novamente
tem custos, e debater com os robôs da plataforma inutilmente.

Há literalmente uma cláusula para desmonetização que veta vídeos ditos


“polêmicos”, termo utilizado por algumas plataformas e que denota uma
plasticidade fulminante para quem precisa trabalhar com informação e receber
pelo conteúdo.

É de suma importância a compreensão da capacidade do projeto em questão de


implicar de forma incapacitante a existência remunerada deste tipo de
profissional, que, como em muitos casos da atividade liberal, depende da receita
para mantimento não apenas de sua atividade, mas de sua família e, até mesmo
de alguns colaboradores.

O projeto em questão chega, para além de qualquer mérito, carregado na defesa


da imprensa tradicional, mas também, com forte responsabilização das
plataformas não apenas por conteúdos ilícitos já denunciados, mas também para
aqueles em que não se tem registro. De maneira aparentemente equivocada, o
projeto faz supor que todas as plataformas são negligentes e nocivas e que não
utilizam seus recursos para evitar ilicitudes por simples opção, o que não é
exatamente a realidade.
Entendemos a importância da responsabilização e das medidas enérgicas que
propõe o projeto para as plataformas negligentes, mas é um grave equívoco
colocar todas elas no mesmo barco.

Há plataformas que cooperam com as autoridades e respondem a todas as


solicitações da justiça com prontidão. E que não possuem indícios de
armazenamento de materiais ilícitos por que não permitem nem mesmo o
simples armazenamento privado desse tipo de conteúdo e não permitem
transmissões em massa para grupos fechados. Estas plataformas são as que
mais e melhor remuneram seus produtores.

E, nestas plataformas, pontualmente falando, um indício forte de que não há


negligência no uso dos robôs para revisão de conteúdo, é o de que esses robôs
são fortemente utilizados para revisar os conteúdos dos produtores
independentes, para checagem da desmonetização, e mesmo em se tratando
da principal fonte de receita da plataforma, essa checagem pode demorar alguns
minutos, ou alguns dias, a depender da demanda.

Quando estas empresas são pressionadas a verificar com maior intensidade


seus conteúdos, por experiência verificada ao longo dos últimos anos, elas
acabam escolhendo por desmonetizar em massa os conteúdos, uma vez que a
capacidade de verificação automatizada ou humana não seja suficiente.

Mais uma vez não é preciso esperar para ver se isso acontece. Em eventos como
a pandemia, ou guerras, os robôs e humanos das plataformas não conseguem
dar conta da demanda e as plataformas optam pela desmonetização em massa
ou pela remoção do vídeo só por abordar um tema, sem julgamento de mérito.

Caso as plataformas que demonstram essa responsabilidade sejam


pressionadas a revisarem seus conteúdos de modo impraticável para evitar a
responsabilização, da forma como prevê este projeto, elas tenderão a recorrer à
desmonetização ou na remoção injustificada de vídeos, trazendo prejuízos e
censura prévia, assim como sempre fez, cortando seu lucro naquele setor, o que
para ela pode não ser uma injúria letal, mas também corta a do produtor de
conteúdo de notícias, e neste, o dano pode ser fatal.

O produtor de conteúdo independente neste meio é peça tão volátil que já hoje,
a plataforma Youtube emitiu um comunicado geral alertando em tom de
apelo/chantagem, para que os produtores se atentem ao projeto. E isto por sua
vez já intensificou os índices de insônia e agitação na categoria, impactando na
saúde, na produtividade e na rentabilidade destes indivíduos.

Frente ao exposto, reiteramos a preocupação para que à medida da intensidade


da responsabilização e da pressão nas plataformas, também, se criem
dispositivos de proteção a estes produtores independentes, de modo a cercear
quaisquer estratégias criativas para acabar jogando para cima destes os
potenciais prejuízos em decorrência da implementação do projeto.

Seguem algumas sugestões com base na experiência da categoria com as


plataformas.

• Notícias
o As plataformas podem reagir às dificuldades apresentadas no projeto
simplesmente evitando veicular vídeos de informações políticas, evitando o
transtorno como um todo. Proibindo, limitando, desmonetizando ou
“submonetizando” conteúdo desse tipo.
o É preciso garantir que a plataforma não encontre formas criativas de banir
o debate público sobre temas políticos e pertinentes à sociedade.
• Bolhas
o As plataformas tenderão a intensificar a separação do público em razão
das suas preferências políticas, para evitar “polêmicas” e diminuir o volume de
denúncias, que poderia sobrecarregar seus sistemas com os novos requisitos do
projeto.
o A separação do público limita o alcance dos conteúdos além de
empobrecer o debate e intensificar a polarização
o
o É preciso garantir que haja distribuição isonômica homogênea do
conteúdo informativo e político. Oferecer o contraditório.
o É preciso a criação de mecanismos que apresentem em vídeos de política
e ciência uma advertência afirmando que se trata de ficção ou que existe
contradição para determinado tema. Talvez sugerindo abaixo algum vídeo
correlacionado e contrário.
• Isenção em direitos autorais em remuneração e em regras de plataforma.
o Os pequenos produtores de conteúdo não podem arcar com taxas de
direitos autorais para uso de trechos de matérias jornalísticas em texto ou em
vídeo.
o Ainda que haja a cobrança, as plataformas não devem banir o canal, como
fazem atualmente, apenas por causa da quantidade de requisições de direito
autoral.
Em essência a atividade depende do uso desses materiais, havendo a
remuneração ou não. É inconcebível exigir dos canais que façam 5 vídeos por
dia, 1825 por ano, e ameaçar banir canais que incorrerem em 3 usos de terceiros
que resolvam solicitar a retirada de conteúdo.
o É preciso garantir a isenção de pagamento de direitos autorais para esta
atividade
o É preciso garantir que os canais não sejam excluídos por solicitação de
retirada de conteúdo de terceiros.
• Shadow Bans (Banimento silencioso)
o É preciso garantir que as plataformas não escondam canais ou vídeos de
canais com base em suas vertentes políticas ou ideológicas desde que dentro
da legalidade. Esta prática é intensamente aplicada por elas.
o Tipificar, prever multas pesadas para desincentivar a prática.
• Desmonetização
o Impedir as empresas de desmonetizar conteúdos informativos
jornalísticos mesmo que exibam algum grau acordado violência ou quais quer
temas polêmicos. Isso empobrece o debate e aliena a população da realidade.
• Especificidade
o Quaisquer apontamentos feitos pela plataforma, para reclamação do
conteúdo devem ser específicos, detalhados, apontando exatamente em que
frase e minuto do vídeo ocorreu a infração e com base em quais leis aquilo é
incorreto ou ilícito. Sem generalidades.
• Atendimento
o As plataformas devem ter escritórios presenciais no Brasil com
atendimento humano para os produtores de conteúdo informativo jornalístico
independentes.
o Garantia do direito ao contraditório e acesso ao judiciário para resolver
litígios sem retaliações, banimento, ocultações ou desmonetizações.
• Reconhecimento
o As plataformas devem oferecer reconhecimento (selos de identificação
original) dos gratuito aos produtores de conteúdo jornalístico informativo, ainda
que independentes, para fins de autenticidade e até para favorecer a
identificação correta dos responsáveis pelo conteúdo.
Este reconhecimento deve ser para todos que que tenham determinada
relevância (limite de inscritos e audiência superior a X) em qualquer outra
plataforma, mesmo que não necessariamente na que está fornecendo o selo.
• Dos direitos autorais
o A plataforma deve fornecer aos produtores reconhecidos no item anterior
suas ferramentas de checagem de direitos autorais. Atualmente as plataformas
negligenciam estas ferramentas para produtores que não tem seu foco de
atividade nela, usando seus conteúdos em outros perfis e os remunerando. A
ideia é proteger o produtor de uma plataforma, em qualquer plataforma.
• Isonomia
o Conceder os mesmos direitos de alcance, regras, restrições, atendimento,
recursos, indexações oferecidos à imprensa tradicional, aos produtores de
conteúdo independente.
o Atualmente a plataforma pune e limita vídeos dos independentes e
favorece os da mídia tradicional
o É de suma importância salientar que jornalista não é apenas aquele que
possuí diploma de jornalismo ou que trabalhe em uma empresa grandiosa.
• Em 2009 o STF Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu derrubar a
exigência do diploma para exercício da profissão de jornalista. A decisão foi
tomada no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 511961 , em que se
discutiu a constitucionalidade da exigência do diploma de jornalismo e a
obrigatoriedade de registro profissional para exercer a profissão de jornalista.
Para Gilmar Mendes, o jornalismo e a liberdade de expressão são atividades que
estão imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensados e tratados
de forma separada, disse.

Eis os artigos, incisos e parágrafos dos quais fazem parte esta discussão:

Art. 6º Os provedores podem ser responsabilizados civilmente, de forma


solidária:

I – pela reparação dos danos causados por conteúdos gerados por terceiros cuja
distribuição tenha sido realizada por meio de publicidade de plataforma; e

Art. 16. Os provedores deverão criar mecanismos que permitam a qualquer


usuário notificá-los da presença, em seus serviços, de conteúdos potencialmente
ilegais, de forma justificada.

§ 1º O mecanismo e os requisitos mínimos para a notificação de conteúdos serão


definidos em regulamento.

§ 2º O registro da notificação de que trata este artigo configura-se como ato


necessário e suficiente como prova do conhecimento pelos provedores sobre o
conteúdo apontado como infringente, para fins do disposto no art. 13 desta lei.

Esses artigos formam uma combinação perigosa. O Art.6º inciso I torna as


redes solidariamente responsáveis por tudo o que circula nelas.

Já o art. 16 cria o “botão de denúncia” de conteúdo, a ser acionado por


qualquer pessoa. A partir do acionamento do botão, a rede social passa a
estar notificada da situação potencialmente danosa.
Não é difícil imaginar que, em um país de 220 milhões de habitantes como
o Brasil, haverá um número exorbitante de denúncias realizadas todos os
dias. Supondo que sejam aproximadamente 10 milhões de denúncias por
dia, fica evidente que é impossível que as plataformas analisem esse
volume de informações. O custo disso se tornaria proibitivo. Além disso,
algumas situações a serem analisadas são potencialmente complexas, a
rede social ficaria em situação muito difícil em julgar se aquele conteúdo
pode causar prejuízo futuramente (indenizações oriundas de condenações
no Poder Judiciário). Isso pode, de fato, a levar as redes a proibirem
determinados assuntos em suas plataformas, principalmente os
controversos, como a política. Nesse sentido o PL é um risco aos
“youtubers” que trabalham com o tema.

Este dispositivo torna-se gravíssimo, uma vez dá a qualquer pessoa, pessoa, ou


um grupo de pessoas podem se reunir e denunciar um vídeo legítimo e
verdadeiro e o mesmo ser removido, pois somente a denúncia já implicaria numa
espécie de notificação a plataforma.
Imagine os extremistas assistindo um vídeo de um dos nossos canais em que
estivéssemos criticando os atos golpistas do dia 8/01 e decidissem boicotar a
transmissão? Bastaria uns cliques para que fôssemos rifados da programação.
Isso pode acontecer também no modo inverso causando uma confusão na
plataforma e inviabilizando centenas de canais de notícias.

Tem que deixar explicitado que após tal denúncia, a plataforma terá o dever de
analisar o conteúdo do vídeo, para aí sim, depois de análise minuciosa, decidir
se retira, ou não do ar, pois do jeito que está só criaria confusão!

Esse artigo traz insegurança jurídica enorme para todos os criadores de


conteúdo, principalmente os que trabalham com notícias.

Além disso, ele inviabiliza qualquer live, pois a plataforma não pode
controlar o que eu ou você dissermos em tempo real, e inclusive inviabiliza
financeiramente o Youtube, porque gera uma cascata de demandas
judiciais contra a plataforma.
Se o negócio se tornar inviável financeiramente para o YouTube, ele acaba
pra gente também. Precisamos garantir a viabilidade dos conteúdos de
informação de quem age com responsabilidade nas redes e combate as
fake News.

SUGESTÃO: no curto prazo, a supressão do artigo 6º inciso I. No longo


prazo, pensando em uma solução mais razoável e definitiva, o ideal seria
a criação, dentro do Poder Judiciário, em todas as unidades da federação,
de “Tribunais de Direito Digital”, com rito veloz de tramitação, nos moldes
daquele utilizado pela Justiça Eleitoral atualmente.

Art. 8º Os provedores adotarão medidas de atenuação razoáveis, proporcionais


e eficazes, direcionadas aos riscos sistêmicos de que trata o art. 7 o:

Plataforma ser responsabilizada por eventuais "riscos sistêmicos". Isso dá


margem para várias interpretações. Tem que dizer explicitamente.

Art. 11 - os provedores diligentemente para prevenir e mitigar práticas ilícitas no


âmbito de seus serviços...

Essa palavra prevenir é genérica e pode ser uma espécie de censura


camuflada.

Art. 12. Quando configurada a iminência de riscos descritos no art. 7º, ou a


negligência ou insuficiência da ação do provedor, poderá ser instaurado, na
forma da regulamentação e por decisão fundamentada, protocolo de segurança
pelo prazo de até 30 (trinta) dias, sem prejuízo de outras medidas legais cabíveis,
procedimento de natureza administrativa cujas etapas e objetivos deverão ser
objeto de regulamentação.

§ 1º A prorrogação do protocolo, por um prazo de até 30 (trinta) dias, poderá


ocorrer quando demonstrada a insuficiência de medidas menos gravosas para
afastar o risco iminente, após as ações tomadas no prazo inicial do protocolo.
§ 2° Prorrogado o protocolo, deverá o órgão emissor da decisão revisar a
necessidade de sua manutenção a cada 30 (trinta dias), mediante decisão
motivada de ofício e fundamentada em fatos concretos que demonstrem a
continuidade dos riscos iminentes.

Temos que ter cuidado !!

Este artigo dá ao Governo Federal, qualquer que seja ele, autoridade para
declarar um "protocolo de segurança" de emergência que permitiria
controlar o YouTube, tendo o poder de definir desde qual conteúdo é
retirado até como o produto funciona para os espectadores. O PL não deixa
claro quais circunstâncias podem acionar esse protocolo, nem define
quaisquer limites, o que significa que os criadores podem ter seu conteúdo
removido sem qualquer motivo ou possibilidade de recurso. Imagina esse
dispositivo nas mãos de um “Bolsonaro”?

Art. 31. Os conteúdos protegidos por direitos de autor e direitos conexos


utilizados pelos provedores, incluindo-se aqueles ofertantes de conteúdo sob
demanda e produzidos em quaisquer formatos que inclua texto, vídeo, áudio ou
imagem, ensejarão remuneração a seus titulares pelos provedores, inclusive os
provedores de aplicações ofertantes de conteúdo sob demanda, na forma de
regulamentação pelo órgão competente, que disporá sobre os critérios, forma
para aferição dos valores, negociação, resolução de conflitos, transparência e a
valorização do conteúdo nacional, regional, local e independente.

Este artigo não deveria estar em lei de FAKENEWS, vai ser regulamentado
como, decreto? Hoje o governo é o Lula, amanhã ou depois vem uma
extrema-direita e resolve usar estes mesmos dispositivos para perseguir,
bloquear ou controlar toda a regulamentação.

Os maiores canais propagadores de fake News são os próprios


parlamentares que tem canal dentro da plataforma. Essa parte é muito
sensível, deveria ser discutida amplamente, não tem nada a ver com fake
News e sim com finanças, lucro, ganhos e interesses puramente
comerciais.

Art. 32. Art. 32. Os conteúdos jornalísticos utilizados sem previsão contratual
pelos provedores, produzidos em quaisquer formatos, que inclua texto, vídeo,
áudio ou imagem, ensejarão remuneração às empresas jornalísticas, na forma
de regulamentação, que disporá sobre os critérios, forma para aferição dos
valores, negociação, resolução de conflitos, transparência e a valorização do
jornalismo profissional nacional, regional, local e independente.

Farão jus à remuneração prevista no caput pessoa jurídica, mesmo


individual, constituída há pelo menos 24 (vinte e quatro) meses, que produza
conteúdo jornalístico original de forma regular, organizada, profissionalmente e
que mantenha endereço físico e editor responsável no Brasil

Observação: Qual o motivo deste artigo, porque 24 meses, qual interesse


nisso? Empresa com editor responsável no Brasil? E como ficariam os
apresentadores que não tem esse estrutura? E os jornalistas
independentes?
Além de ferir direitos dos verdadeiros autores e produtores de conteúdos
informativos confiáveis e seguros, o artigo 32, da forma como foi
apresentado, provocará grande insegurança jurídica. Jornalistas com
contratos CLT e PJ, prestadores de serviços, irão questionar judicialmente
os ganhos financeiros de terceiros com seus trabalhos, além de
questionamento sobre a inconstitucionalidade da retirada de direitos dos
verdadeiros autores dos conteúdos jornalísticos.

A exclusão de direito dos jornalistas – verdadeiros autores e produtores de


conteúdo jornalístico – do artigo 32 do PL 2630, que trata da remuneração
de conteúdo jornalístico, enfraquece a categoria e, como consequência,
fragiliza ainda mais os profissionais responsáveis pela produção de
informações seguras e éticas no país.

É de suma importância salientar que jornalista não é apenas aquele que possuí
diploma de jornalismo ou que trabalhe em uma empresa grandiosa.
• Em 2009 o STF Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu derrubar a
exigência do diploma para exercício da profissão de jornalista. A decisão foi
tomada no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 511961 , em que se
discutiu a constitucionalidade da exigência do diploma de jornalismo e a
obrigatoriedade de registro profissional para exercer a profissão de jornalista.
Para Gilmar Mendes, o jornalismo e a liberdade de expressão são atividades que
estão imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensados e tratados
de forma separada, disse. ( mesmo trecho do início, para massificar a proposta)

Observação: não há neste lei nada que proteja o criador de conteúdo


informativo, que trabalha de forma honesta, que não compartilha ódio nem
fake News. Porque a proposta favoreça os grande meios de comunicação
e deixa de olhar por nós que tanto apoiamos a democracia e o
reestabelecimento de um governo democrático?

§ 3º É livre a pactuação entre provedor de aplicação e empresa jornalística,


garantida a negociação coletiva pelas pessoas jurídicas previstas no § 2º,
inclusive as que integrarem um mesmo grupo econômico, junto aos provedores
quanto aos valores a serem praticados, o modelo e prazo da remuneração,
observada a regulamentação.

Podemos notar que o parágrafo 5° diz que a regulamentação vai garantir


equidade". Quem vai regulamentar, quando? Os governos futuros poderão
regulamentar também, um governo de extrema direita que por ventura
venha vencer as eleições vai respeitar esse dispositivo na hora de uma
regulamentação?

Sobre o jornalismo profissional e sua remuneração ou monetização. É


notório que a lei que seria para combater a fake News está adentrando em
outra esfera, a de contratos e balanço financeiro de empresa.
Como essas empresas serão pagas? De onde sairá o dinheiro?
E os criadores de conteúdos que trabalham com informação na plataforma
Youtube, quais os impactos que sofrerão? Qual artigo e dispositivo
abordou o tema? Qual artigo indica a proteção dos criadores de conteúdo
que trabalham seriamente colaborando para a informação e o combate as
Fakes News?

A outra questão é a "ação preventiva" das plataformas por conteúdo


potencialmente ilegal.

O que é conteúdo ilegal? Tem que explicitar pra ficar claro. Tirar o termo "ação
preventiva". É impossível o YouTube examinar milhares, ou milhões de
conteúdos divulgados todos os dias. Isso é claramente uma censura camuflada

A questão da derrubada dos nossos vídeos por denúncia. Tem que ser
devidamente esclarecido. O YouTube fala em risco de retirada em massa de
conteúdo legítimo se esse dispositivo estiver no PL.

Será que alguém acredita que as fake news começaram nas redes sociais e
circulam apenas nas plataformas das big techs?
Será que alguém acredita que a mídia tradicional divulga apenas fatos como eles
realmente são?

Agradecemos pela compreensão e estaremos a disposição para quaisquer


dúvidas.

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