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A dimensão

argumentativa
em outros
gêneros
textuais
A esfera jornalística
Os textos jornalísticos são os textos veiculados
pelos jornais, revistas, rádio e televisão, os quais
possuem o intuito de comunicar e informar sobre
algo.
Nos dias atuais, o texto jornalístico é
provavelmente o gênero textual mais lido, pois
possui o maior alcance nos diversos setores da
sociedade.
A esfera midiática
Por texto midiático, estamos nos referindo às
mensagens orais, escritas e imagéticas
veiculadas pela mídia. E por mídia
compreendemos que é a “designação genética
dos meios, veículos e canais de comunicação,
como, por exemplo, jornal, revista, rádio,
televisão, outdoor, etc.” (FERREIRA, 2001, p.
462).
Mas o que a
argumentação
tem com isso?
A argumentação é uma presença constante nos
diferentes gêneros que circulam na esfera jornalística-
midiática. Em toda as escolhas que envolvem a
produção de um jornal ou de uma revista – da criação
da capa (com a escolha da imagem e da manchete) à
aprovação de anúncios, passando pela diagramação
dos elementos na página, pelo tema do editorial e pelo
conteúdo de charges e tiras – é possível identificar
diferentes níveis e formas de argumentação.
Embora a notícia – matéria-prima do jornalismo –
esteja submetida ao princípio da imparcialidade, é
preciso considerar que a maioria dos veículos
impressos e eletrônicos depende da venda de
conteúdos ou do acesso dos leitores para atrair
anunciantes e poder sobreviver economicamente.
Assim, todos os elementos que compõem uma edição,
como a escolha da imagem de capa, por exemplo, têm
como objetivo atrair o leitor e convencê-lo a comprar,
acessar, ler o conteúdo do jornal ou da revista.
Até as notícias, que se pretendem neutras e objetivas,
têm um certo grau de parcialidade, perceptível por
meio da escolha de palavras, dos recursos de
linguagem verbal e não verbal empregados em sua
construção e do enfoque dado às informações
relacionadas aos fatos noticiados.
A liguagem verbal e
não verbal
A linguagem verbal é aquela expressa através de
palavras escritas ou faladas, ou seja, a
linguagem verbalizada.
Já a linguagem não verbal utiliza dos signos
visuais para ser efetivada, por exemplo, as
imagens nas placas e as cores na sinalização de
trânsito.
Vamos aos
exemplos?
Maricas: 1. diz-se de ou
indivíduo do gênero
masculino que se
comporta com modos
tradicionalmente
associados ao feminino.
Você vai ler, a seguir, dois artigos de opinião publicados na
seção Tendências/ Debates do jornal Folha de S.Paulo, que
apresenta semanalmente uma questão polêmica a ser
respondida por dois articulistas, resultando em um
posicionamento favorável e um desfavorável. Nessa seção, os
temas polêmicos abordados referem-se ao contexto mais
imediato da sociedade – no Brasil e no mundo – e os
articulistas convidados são especialistas em áreas
relacionadas aos temas ou pessoas envolvidas de perto com a
discussão. Esse tipo de seção abre espaço para opiniões
diversas e amplia a quantidade de posicionamentos para além
daqueles veiculados pelo jornal em seus editoriais.
Responsabilizar as
redes sociais é uma
forma de evitar a
disseminação de
fake news? SIM
É inegável o impacto das chamadas fake news na sociedade. Um dos mais perversos
se dá na vida e na saúde das pessoas. Hoje, diante da pandemia de Covid-19,
a OMS e a ONU conclamam o mundo a, além de combater o novo coronavírus, lutar
contra o fenômeno da desinformação em massa, a “infodemia”.
[...]
É certo que precisamos identificar e penalizar infratores ou grupos organizados que
têm como fonte de renda e método de trabalho a criação e disseminação
de notícias falsas, valendo-se de robôs e contas inautênticas nas redes sociais. Mas
também o intermediário da informação, as plataformas, pode e deve contribuir no
combate ao problema.
O modelo bilionário de negócio dos monopólios de comunicação em massa, que são
as plataformas de redes sociais e de mensagens, é baseado em engajamento —
medido por cliques, curtidas, compartilhamentos. Estudos mostram que o conteúdo
radicalizado, chocante e que causa indignação, é mais lucrativo. Logo, não há
interesse real dos provedores em iniciativas para proteger a sociedade em
detrimento de seus lucros. É isso que precisa mudar.
As plataformas já têm medidas de controle de conteúdo, mas falta transparência.
Postagens são sinalizadas ou removidas e perfis são retirados da rede sem qualquer
justificativa ou processo para contestação. Para proteção real dos usuários, é preciso
reduzir o volume de robôs (“bots”) nas redes e a capacidade operacional das
ferramentas de disparos em massa; deixar claro quem é responsável por conteúdos
impulsionados e por publicidade; e dar transparência à gestão de conteúdo ofensivo
e com potencial de gerar danos individuais ou coletivos.
[...]
A disseminação de mensagens por contas falsas em ferramentas como
WhatsApp ou Telegram é grave. Pode ser evitada com revisão dos mecanismos de
compartilhamento; autorização expressa do usuário antes do envio de
mensagens de massa ou inclusão em grupos; guarda dos metadados do ciclo de
compartilhamento de uma mensagem criminosa —a ser requisitado, eventualmente, por
medida judicial—; e impedimento do compartilhamento de contas
com atividade incompatível com a capacidade humana.
Hoje, as plataformas permitem a denúncia pelos usuários de conteúdos
ofensivos, ameaçadores ou mentirosos. Mas falta clareza sobre
como essa análise é feita e como o autor pode contestá-la. [...]
[...]
É urgente discutir adequações no modelo de negócio das plataformas para que
sirvam ao nobre objetivo de conectar pessoas e ideias,
e oferecer meios para um debate público saudável, democrático e
necessário.
Alessandro Vieira
Senador da República (Cidadania-SE), é autor do projeto que cria a Lei Brasileira
de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, a Lei das Fake
News.
Responsabilizar as
redes sociais é uma
forma de evitar a
disseminação de
fake news? NÃO
Na sanha legiferante de sapecar uma lei que opere o milagre de varrer as fake
news das terras brasileiras, os (as) parlamentares podem
agravar a doença da desinformação que já está inoculada na democracia. No
furor legifobético, embarcam em ideias tóxicas como se fossem
soluções mágicas. Na pressa legifuribunda, sucumbem à tentação de
exigir das plataformas sociais, como o Facebook, que passem a exercer
sobre os conteúdos de suas páginas um controle estrito, como se essas
plataformas fossem veículos jornalísticos.
Querem que as empresas armazenem o RG e o CPF de cada usuário,
além do endereço certinho, para entregar às autoridades quando elas
requisitassem. Querem que as empresas saibam, entre os bilhões de
postagens diárias, quais carregam discursos interessados ou maliciosos
e quais são meramente informativos. Querem que elas tracem a linha
divisória entre a verdade e a mentira. Simples assim. [...]
É lógico que esse negócio vai dar errado. Pedir às plataformas que filtrem
textos, áudios e imagens não apenas é algo que não se pode pretender, como é
algo que não se deve impor. No mais, é algo que não vai adiantar. Expliquemos.
Não se pode pretender uma coisa dessas porque tal grau de vigilância prévia é
incompatível com a natureza das redes. É mais ou menos como se um delegado
de polícia quisesse, durante uma final de campeonato de futebol, no meio de
uma torcida inflamada de dezenas de milhares de fanáticos batendo bumbo e
pulando nas arquibancadas, gravar imediatamente o que grita cada torcedor,
em cada segundo. A não ser que vivamos num pesadelo distópico, é inviável.
Se fosse viável, uma coisa dessas não deveria ser exigida. Se fosse exigida, não
deveria ser cumprida. A violação prévia da privacidade chegaria a um grau que
nem o cybergoverno chinês ousou profanar. E, ainda por cima, não resolveria
nosso problema de desinformação. No dia seguinte, os gabinetes ilegais do ódio
—que fabricam e distribuem fake news caluniosas financiados por dinheiros
escusos— migrariam para provedores fora do controle das jurisdições
brasileiras. O contrabando das notícias fraudulentas ficaria pior. A cloaca do
submundo da internet engoliria o que ainda não engoliu. Se o Congresso quer
proteger a nação contra mentiras industrializadas, deve criar programas
públicos para fomentar, estimular e financiar a imprensa livre. [...]
Atribuindo tamanho poder de controle aos conglomerados privados, que são
monopolistas da internet no mercado global, os legisladores vão hipertrofiar o
poder dos facebooks da vida (e da morte). Se fizerem isso, criarão o
totalitarismo privatizado. Deveriam fazer o oposto disso: quebrar o monopólio
desses grandes conglomerados, como defende a senadora americana Elizabeth
Warren. A indústria da desinformação é apenas um parasita clandestino dentro
dos conglomerados que monopolizaram as comunicações digitais. Os
conglomerados intocáveis são o pior problema. As fake news são o
subproblema. Salvar a democracia exige de nós combater o parasita (o que se
faz com informação de qualidade) e os conglomerados (com regulação). Só assim
a verdade dos fatos triunfará sobre a mentira do preconceito. Antes de correr
com legifilias megalôs, pensemos melhor.

Eugênio Bucci Jornalista, professor da ECA-USP e autor de ‘Existe democracia


sem verdade factual?’ (ed. Estação das Letras e Cores).
Como identificar
Para uma fake news?
Quais passos devem
ser seguidos?
Referência

CAMPOS, M. T. R. A. Multiversos: língua


portuguesa: ensino médio / Maria Tereza Rangel
Arruda Campos, Lucas Kiyoharu Sanches Oda. –
1 ed. – São Paulo: FTD, 2020.

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