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BAURU/SP
FEVEREIRO DE 2022
LILIANE DE LUCENA ITO
BAURU/SP
FEVEREIRO DE 2022
SUMÁRIO
1. PROJETO DE PESQUISA 4
Resumo 4
Introdução 4
Referencial Teórico 7
Problema 15
Hipóteses 15
Objetivo geral 16
Objetivos específicos 16
Procedimentos metodológicos 16
Cronograma de execução 19
Planejamento físico-financeiro 20
Resultados esperados 21
Referências 23
1. PROJETO DE PESQUISA
Resumo
No cenário social contemporâneo, no qual se fortalece a chamada crise de legitimidades,
em que expertise, técnica e conhecimento especializado são postos à prova diariamente
nas redes de desinformação, qual seria o lugar do jornalismo? Esta pesquisa tem por
objetivo compreender, a partir de perspectiva sistêmica e relacional, como uma vertente
jornalística que ganha força nos últimos anos no Brasil e no Exterior pode vir a
desempenhar papel de relevância e suscitar credibilidade: o jornalismo de dados.
Circunscrita ao ano de 2022, contexto das eleições presidenciais no país, a pesquisa
intenciona articular também ensino e extensão, a partir da criação de grupo de pesquisa
próprio, projeto extensionista voltado ao público jovem e metodologias ativas na
construção do saber acadêmico de graduação. Para o desenvolvimento da investigação,
serão combinados distintos procedimentos metodológicos, da revisão bibliográfica e
pesquisa documental à entrevista em profundidade, pesquisa de opinião e pesquisa
aplicada. Espera-se contribuir ao campo acadêmico com resultados relacionados ao
campo da Comunicação e ao campo do jornalismo; bem como propiciar debates que
fomentem o espírito cidadão nos públicos envolvidos, além de competências-chave para
o combate à desinformação, como a obtenção de dados públicos via Lei de Acesso à
Informação e o tratamento e decodificação dos mesmos.
Palavras-chave: Desinformação; Eleições 2022; Jornalismo de Dados; Narrativas
Hipermídia.
Introdução
Um rápido exercício de retrospectiva, com 2011 como ponto de partida, leva a
crer que, em pouco mais de uma década, a chamada crise de legitimidades alastra-se e
toma força em campos distintos, como a Ciência, a História e o Jornalismo. Os regimes
democráticos, ameaçados por levantes autoritários e governos conservadores, também
sofrem com a descrença generalizada em diversas partes do mundo. No âmbito individual,
o simulacro das redes sociais digitais confirma vieses e torna-se estopim para a corrosão
de relacionamentos, tendo na polarização seu principal motor.
2011 é o ano da criação, no Brasil, da Lei de n. 12527, mais conhecida como Lei
de Acesso à Informação (LAI), dentro de um contexto de transparência global crescente
naquele momento. É o ano no qual, no país, Facebook ultrapassa o Orkut em números de
usuários e a primeira mulher na História toma posse como presidenta. A internet das
4
coisas, num âmbito popular, ainda estava restrita a ficções científicas e tinha a Siri,
assistente virtual do iPhone 4, como a grande novidade do ano. Mesmo nesse contexto
incipiente, o desabrochar da Primavera Árabe, do outro lado do planeta, já se constituía
como prelúdio das transformações estruturais que se instauraram e moldaram o cenário
social, político, econômico e cultural contemporâneo. Ainda sem garantias do que
ocorreria nos próximos anos, a população dos países árabes se fez ouvir mundialmente
por meio de plataformas de comunicação digital, àquela época, recentes, como o
YouTube e o Twitter.
Como toda mudança estrutural, o desenrolar da crise de legitimidades ocorre de
forma gradativa e complexa, tendo a tecnologia como ferramenta catalisadora dos
movimentos em rede nos quais cresce a desconfiança nas instituições, até tornar-se
negação em alguns casos. O acesso facilitado – em termos econômicos e tecnológicos -
às ferramentas digitais de comunicação e informação, o consumo cada vez maior de
smartphones e a popularização das ambiências e possibilidades da web 2.0 efetivam a
entrada da sociedade numa etapa de midiatização, na qual o papel da mídia é central em
praticamente todos os aspectos da vida (BRAGA, 2006; SODRÉ, 2002; FAUSTO NETO,
2008; HJARVARD, 2012). Para o sociólogo Manuel Castells, que analisa as rupturas
causadas pela descrença popular nos conceitos e instituições tradicionais,
Tais sinais, no entanto, são a parte “visível” do universo virtual e digital no qual
nos encontramos abarcados. O que vemos e com o que interagimos são as interfaces e os
comandos das redes sociais digitais, dos apps de conversação, dos sites, as chamadas
affordances. No entanto, no mundo “invisível” à grande maioria dos usuários, o que
estrutura tais “sinais” são os algoritmos, que trabalham com enormes bases de dados inter-
relacionadas, nas quais informações em grande escala podem ser obtidas, revelando
tendências de comportamento e demandas de consumo da população.
Esta rápida retrospectiva introdutória inicia-se em 2011, ano de criação da LAI no
Brasil, a fim de ajustar o foco para a relevância crescente do manejo de bases de dados
em nível global, o big data, ao ponto em que este se torna um dos substratos mais
importantes ao sistema capitalista informacional (CASTELLS, 1999), influenciando
algumas decisões estratégicas por parte dos poderes públicos e privados. Os conteúdos de
usuários coletados pelas redes sociais digitais são um exemplo de manejo de dados com
finalidades variáveis; dentre elas, as mais abertamente públicas são o aumento da
audiência e engajamento dentro da própria rede social e a venda de espaços publicitários
direcionados. As taxas de acerto na oferta customizada de conteúdos adequados à
preferência dos usuários são altas e os mecanismos de vigilância e controle virtual foram
esmiuçados no documentário O Dilema da Redes, de 2020, causando polêmica à época
de seu lançamento.
O escândalo Cambridge Analytica, que pode ter influenciado positivamente a
vitória de Donald Trump em 2016; a desinformação em larga escala nas Eleições de 2018
a favor de Jair Bolsonaro no Brasil; e a vitória do Brexit em 2020 são fenômenos sociais
nos quais a comunicação digital em bases de dados, possibilitada por sofisticados
mecanismos algorítmicos, parece ter sido importantíssima, senão essencial. Apesar das
raízes da crise de legitimidades terem germinado há décadas, alimentadas por falhas na
democracia representativa e pelo agravamento das mazelas sociais devido ao
neoliberalismo globalizado, foi a comunicação digital e em rede o elemento catalisador
para que um outsider ao campo político e um então deputado sem nenhum feito público
subissem ao posto mais alto do poder executivo em seus países, EUA e Brasil. Situação
semelhante parece ter impulsionado a desintegração de alianças geopolíticas no caso da
saída do Reino Unido da União Europeia.
Numa era de pós-verdade estimulada por bolhas ideológicas e câmaras de eco
presentes nos ambientes digitais, a Comunicação tem lugar fundamental na luta contra a
crise de legitimidades e a desinformação. Ao ponto de, em 2020, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) declarar não somente uma pandemia de Covid-19, como também uma
infodemia:
Referencial Teórico
Em 2017, o dicionário britânico Collins elegeu “fake news” como a palavra do
ano, graças ao uso constante pelo então candidato à presidência dos Estados Unidos,
Donald Trump. Conhecido por atacar o jornalismo profissional de maneira sistemática, o
verbete foi amplamente proferido por Trump para se referir a qualquer empresa de mídia
ou jornalista que o desagradasse. Houve então, uma politização do termo, além de sua
própria composição semântica trazer, em si, a contradição: ao se tratar de notícia (news),
não se tratam de boatos ou mentiras (fake).
Dessa forma, a palavra desinformação faz-se mais adequada. Segundo o glossário
Information Disorder (2018), de autoria de Claire Wardle, “A desinformação é uma
informação falsa que é deliberadamente criada ou divulgada com o propósito expresso de
causar danos. Os produtores de desinformação normalmente têm motivações políticas,
financeiras, psicológicas ou sociais” (WARDLE, 2018, on-line, tradução minha). Aqui,
vale notar que em momento algum existe a ligação do objetivo – enganar – ao jornalismo,
algo que imediatamente ocorre com o termo fake news.
No relatório encomendado pelo Conselho Europeu, denominado Information
Disorder, Wardle e Derakhshan (2017) explicitam as diferenças entre desinformação,
informação equivocada (tradução livre para mis-information) e má informação (mal-
information, também em tradução livre). Enquanto desinformação objetiva enganar ou
confundir; informação equivocada (mis-information) é a informação falsa que é repassada
sem tal intenção; já má informação seria aquela que, apesar de verdadeira, é usada para
causar prejuízos a outrem – seja uma marca, pessoa, instituição ou país.
Devido ao seu caráter intencional, desinformação geralmente é parte de uma
estratégia comunicacional mais ampla, que tem objetivos bem-definidos, como ajudar ou
prejudicar candidatos em tempos de eleição. Em 2019, série de reportagens da BBC
revelou que a cidade de Veles, na Macedônia do Norte, seria uma espécie de fábrica de
desinformação, com escritórios e funcionários contratados para criar conteúdos falsos em
diversos formatos e espalhá-los em sites e redes sociais (OXENHAM, 2019). No Brasil,
há o trabalho incessante do chamado “Gabinete do Ódio”, grupo de assessores ligados ao
governo Bolsonaro que cuidam das redes sociais e partilham mensagens enviesadas de
sites pseudojornalísticos.
Assim, seja por meio de ações coordenadas, com equipes e bots que trabalham a
desinformação em sites, redes sociais e apps de conversação, ou de forma emergente e
não-coordenada, mentir por meio da difusão de mensagens relaciona-se fortemente a
metas mais amplas, com finalidades políticas, financeiras ou psicológicas (WARDLE;
DERAKHSHAN, 2017).
Não à toa, a desinformação tende a crescer em períodos determinados, nos quais
as pessoas buscam informação para tomar decisões ou se proteger, pois as mensagens
enganosas contribuem em decisões coletivas. É assim em anos eleitorais, caso de 2022
no Brasil, e em situações de crise em geral, como na pandemia de Covid-19 no mundo.
Para além dos objetivos mais claros, focados na persuasão, vale lembrar que a
desinformação é muito utilizada para gerar cortinas de fumaça – estratégia na qual o
intuito é chamar a atenção para outros temas e mascarar o que realmente importa à
população, como no caso das mamadeiras com bico no formato de órgão sexual
masculino e outras construções inverossímeis, mas que alavancaram discussões vazias no
lugar de questionamentos relevantes sobre os candidatos à presidência do país em 2018.
“A tática é desconstruir a imagem dos oponentes, por meio de boatos e informações não
verificadas, que aprofundam as incertezas sobre eles [...]. Apenas a incerteza diante da
veracidade ou não daquele fato já teve o efeito desejado [...]” (FERRARI; FILHO, 2020,
p. 166).
As pessoas, atentas a teorias de conspiração e boatos, deixam de seguir os tópicos
realmente importantes para uma participação cidadã em assuntos públicos. Estudo de
Soares et al. (2021) mostrou que a desinformação em torno da pandemia de coronavírus
no Brasil foi utilizada como forma de favorecer Jair Bolsonaro – algo que atrasou ou
mesmo eliminou discussões e informações essenciais sobre os procedimentos necessários
para que o País reagisse à pandemia:
1
Disponível em: < https://arte.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/casos-mortes-coronavirus-brasil-
mundo/#/local/mundo >. Acesso em 10 fev. 2022.
A informação apurada, verificada e decodificada profissionalmente parece ter sido
timidamente mais valorizada pela população brasileira durante a pandemia. É o que
aponta o Digital News Report 2021, do Instituto Reuters, que mostrou que 44% da
amostra pesquisada acreditam na imprensa em geral, representando aumento de 6 pontos
percentuais em relação ao ano anterior. Em comparativo, pós-eleições presidenciais de
2018, o mesmo estudo apontou uma queda de 11% na confiança dos brasileiros na
imprensa, cuja influência, citada no próprio relatório, estaria nos ataques à imprensa e na
polarização política alocados em redes de comunicação digital no ano de 2017.
(NEWMAN et al., 2021)
Para Aguiar e Rodrigues (2020), o jornalismo de dados é uma vertente capaz de
resgatar a credibilidade ameaçada da profissão:
Problema
As narrativas baseadas em jornalismo de dados asseguram credibilidade à
produção jornalística e reforçam a confiabilidade do jornalismo profissional no contexto
atual, de desinformação e infodemia?
Hipóteses
● O jornalismo de dados, por meio da aproximação metodológica das Ciências
Sociais, seria visto como mais neutro em relação às apurações habituais do
jornalismo, bastante calcadas na apuração junto a fontes;
● A presença de conteúdos oriundos de pesquisa quanti e qualitativa contrasta com
a ausência de dados em peças de desinformação, sendo assim um item de
confiabilidade a ser considerado pelo público;
● A percepção do público diante de narrativas baseadas em dados é mais atenta
devido à sua apresentação em ambientes digitais, em se tratando de visualizações
esteticamente envolventes e interativas;
● Quando adequadamente informados sobre seus direitos à informação e
conscientes de sua capacidade de análise de dados, jovens podem contribuir como
agentes defensores do jornalismo profissional junto ao seu círculo social.
Objetivo geral
Compreender, a partir de perspectiva sistêmica e relacional, o papel do jornalismo
de dados no combate à desinformação no Brasil, no ano de 2022.
Objetivos específicos
● Compreender a relação entre projetos de jornalismo de dados e a desinformação
no âmbito da corrida eleitoral de 2022, reconhecendo assim seus efeitos e limites;
● Investigar de ponta a ponta o processo de produção jornalística com base em
manejo de dados, incluindo as etapas de busca, extração, limpeza, análise e
decodificação em narrativas ao público final;
● Mapear transformações nas redações jornalísticas: o surgimento de novas funções,
a necessidade de novas competências, o papel dos tecnoatores e a participação do
público;
● Analisar qualitativamente a inserção de jornalismo de dados em narrativas
hipermídia e em outros formatos jornalísticos, tendo em vista aspectos centrais e
características comuns a projetos de diferentes formatos;
● Abordar criticamente temas como desinformação, manipulação da informação,
competência midiática e cidadania digital junto ao público universitário da Unesp
de Bauru e aos estudantes de escola pública de Bauru, com o objetivo de
disseminar conceitos e resultados de pesquisa.
● Instituir práticas de solicitação de dados públicos e técnicas de manejo e análise
de dados junto a discentes de graduação e pós-graduação, bem como aos
estudantes de escola pública;
● Amplificar os resultados da pesquisa, promovendo a credibilidade do jornalismo
profissional por meio de ambientes virtuais próprios, como site e perfil em rede
social.
Procedimentos metodológicos
2
Disponível em: <
https://falabr.cgu.gov.br/Login/Identificacao.aspx?idFormulario=3&tipo=8&ReturnUrl=%2fpublico%2f
Manifestacao%2fRegistrarManifestacao.aspx%3fidFormulario%3d3%26tipo%3d8%26origem%3didp%2
6modo%3d >. Acesso em 14 fev. 2022.
3
Sigla de Serviço Eletrônico de Informações ao Cidadão. Cada órgão público, em distintos níveis e
instâncias, como estadual e municipal, devem fornecer portais de acesso à informação desde a publicação
da LAI, em 2011. Um exemplo é o e-SIC da prefeitura de Bauru, disponível em: <
https://intranet.bauru.sp.leg.br/esic/index/index.php >. Acesso em: 18 fev. 2022.
Como este projeto de pesquisa pretende utilizar informações a partir da interação
junto a um público, vale ressaltar que já no início do cronograma de pesquisa pretende-
se submetê-lo ao Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Faculdade
de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Unesp de Bauru, como pode ser
observado no cronograma abaixo.
Cronograma de execução
Abaixo, segue planejamento mês a mês das ações deste projeto de pesquisa.
Considerou-se o período de 1 ano para sua realização, tendo em vista articulações entre
ensino, pesquisa e extensão. Ações em verde estão relacionadas à pesquisa, enquanto as
grifadas em azul se referem à extensão, e as em amarelo, a atividades que terão foco
também no ensino de graduação e pós-graduação. No entanto, ressalta-se que as divisões
não são estanques, significando apenas uma prevalência de cada área e o intuito de um
trabalho articulado entre os três pilares fundamentais da Unesp.
Planejamento físico-financeiro
Abaixo, segue planejamento de utilização de espaços físicos da Unesp, material
didático, bem como outros custos de pesquisa, como transporte. Todas as ações deverão
ser previamente submetidas e agendadas junto à coordenação de curso, chefia de
departamento, coordenação de pós-graduação, e demais setores responsáveis.
Resultados esperados
Vislumbra-se, ao longo do ano letivo, o aprofundamento sobre o “estado da arte”
das pesquisas sobre desinformação, além do oferecimento de contribuições próprias ao
campo científico, por meio de publicações em congressos e eventos acadêmicos da área,
além de revistas qualificadas ou livros de autoria coletiva.
Considera-se que as ações propostas trarão uma compreensão mais ampla sobre
os ecossistemas midiáticos, bem como acerca das transformações profissionais já em
andamento, que exigirão dos novos jornalistas tanto competências quanto habilidades
específicas. Acredita-se que a apuração dessas informações será aplicada em sala de aula
e nas ações do projeto de extensão, inclusive com treinamentos específicos a fim de
empoderar os discentes da Unesp e da escola pública nas etapas de busca, extração,
limpeza, análise e visualização de dados de interesse público.
No que se refere a ensino, dentro dos conteúdos listados em plano de ensino das
disciplinas integradoras da matriz curricular em Jornalismo, espera-se utilizar
metodologias ativas, como a visita técnica e a entrevista com profissionais – jornalistas e
tecnoatores – em tarefas avaliativas.
Em relação à pesquisa, são almejadas a condução de pesquisas em nível de
iniciação científica e em nível de pós-graduação, nas quais cada uma, com suas
particularidades, possam investigar os seguintes temas (sozinhos, relacionados entre si ou
relacionados a outros subtemas): comunicação digital; desinformação; jornalismo de
dados; narrativas hipermídia.
Por fim, as ações de extensão visam três momentos sequenciais de reflexão e
conhecimento sobre o tema, a saber: 1. a discussão aprofundada sobre desinformação; 2.
o empoderamento dos alunos no que se trata de acesso à informação, com peso maior
para os pedidos via LAI; 3. o reconhecimento de técnicas de manejo de dados que podem
ser também utilizadas por esses estudantes – de forma coletiva ou não – para a
interpretação da realidade e construção de narrativas.
Referências
AGUIAR, L. A.; RODRIGUES, C. M.. Expertise no jornalismo: considerações sobre a
autoridade profissional no contexto da desinformação impulsionada pelos algoritmos.
Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, v. 1, n. 147, 2021.
ANDRÉ, N. Venda de ivermectina cresce 857% no último ano. CNN. São Paulo, 6 maio
2021. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/saude/venda-de-ivermectina-
cresce-857-no-ultimo-ano/ > . Acesso em: 18 fev. 2022.
CALEFFI, R.; PEREIRA, A. Quantos números têm aqui? A utilização de dados pelo
Fantástico na cobertura da Covid-19 no Brasil. Lumina, v. 15, n. 3, p. 23-39, 2021.
FERRARI, P.; FILHO, A. F.. O mundo está ao contrário e ninguém reparou. In:
TOURAL, C. CORONEL, G. FERRARI, P. (orgs). Big Data e Fake News na sociedade
do (des)conhecimento. 2a. Ed. Aveiro: Ria Editorial, 2020.
GIL, A. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas Editora, 2008.
NEWMAN, N. et al. Digital News Report 2021. Reuters Institute for the Study of
Journalism: 2021.
4
Grifo meu
Facebook e Instagram ocupavam a primeira, segunda e quarta posições no ranking das
maiores em números de usuários. Intenciona-se compartilhar conteúdos também em
perfis próprios no LinkedIn, rede social corporativa, que segundo a mesma pesquisa,
ocupava o 7º lugar na lista de mais populares no País (KEMP, 2019, on-line). A relevância
do LinkedIn, no entanto, está muito mais em sua natureza - uma rede social para assuntos
relacionados a mercado de trabalho e empresas. Tais perfis repercutiriam, em formato e
linguagem apropriados, os resultados de pesquisas e trabalhos de discentes e docentes da
Unesp para além da comunidade acadêmica, uma vez que a superdistribuição das redes
sociais (COSTA, 2014) tem um grande potencial para alavancar a audiência dos sites.
Segundo o PPP, no quinto termo, a pretensão é a produção de um documentário
que foque nos “[...] dilemas éticos e deontológicos na sociedade contemporânea e como
os jornalistas em sua atividade profissional lidam com as dificuldades no mercado de
trabalho.” (CONSELHO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: JORNALISMO,
2018, p. 52). Dessa forma, pretende-se tanto abordar conceitos e técnicas de produção de
webdocs na disciplina Laboratório de Jornalismo Online, bem como utilizar o site em
questão para a agregação dos trabalhos, que poderão, por sua vez, ser alocados no
YouTube, em canal próprio, e incorporados ao site.
Vale ressaltar que, para a gestão do site e de conteúdos de redes sociais
relacionadas a ele, pretende-se contar com o apoio de alunos bolsistas de graduação e/ou
extensionistas; por outro lado, vislumbra-se também o apoio técnico do próprio setor de
informática da Unesp de Bauru.
Em relação aos conteúdos abordados em sala de aula, como este se trata de um
projeto integrado entre pesquisa, ensino e extensão, planeja-se a captação de estudantes
interessado(a)s em desenvolver projetos de iniciação científica relacionados a jornalismo
de dados, narrativas hipermídia, desinformação, fact-checking ou correlatos. Segundo
Grossi e Lopes (20220), que documentam a trajetória de elaboração do novo Projeto
Político Pedagógico do curso de Jornalismo da Unesp, novos desafios ao profissional
jornalista impõem um trabalho ainda mais preocupado com a ética e com o papel do
jornalista na sociedade:
Referências bibliográficas
KEMP, S. Digital In 2019. Global Internet use accelerates. Publicado em 31 jan. 2019.
Disponível em: < https://wearesocial.com/uk/blog/2019/01/digital-in-2019-global-
internet-use-accelerates/ >. Acesso em: 20 fev. 2022.
2.1 JORNALISMO ON-LINE (4º. TERMO)
Objetivos:
- Identificar as características do meio Internet.
- Conhecer as diferentes fases do jornalismo na web.
- Compreender e dominar diferentes ferramentas e linguagens em mídias digitais.
Metodologia:
Aplicação de conteúdo na prática, com o uso de ferramentas digitais gratuitas; leitura
de textos-base; técnicas de metodologias de aprendizagem ativa, como mapas
conceituais, quizzes, estudos de caso, aprendizagem em espiral e debates; aulas
dialogadas; investigação de cases.
Conteúdos Programáticos:
1 - A Revolução Web
1.1 Características da Internet como meio de comunicação.
1.2 Mudanças paradigmáticas no consumo e produção da informação: cibercultura,
desintermediação, inteligência coletiva.
1.3 Hipertexto, hipermídia; remediação e imediação; convergência.
1.4 Redes sociais digitais: segmentação, self, bolhas e câmaras de eco.
4 - Avaliação:
Reportagem em grupo – 40% da nota
Vídeos verticais/webnotícia pirâmide deitada – 20% da nota
Webnotícia em stories – 20% da nota
Gestão de conteúdo redes sociais digitais – 20% da nota
Bibliografia sugerida:
CANAVILHAS, J. (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a
diferença. 1ª ed. Covilhã: Livros Labcom, 2014. 183p.
BELL, E. et al. The Platform Press. How silicon valley reengineered journalism.
Tow Center for Journalism. Columbia Journalism School: 2017.
LÉVY, P. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34,
2003.
Objetivos:
- Realizar produções práticas no âmbito do jornalismo digital.
- Distinguir conceitualmente e procedimentalmente produtos jornalísticos digitais
variados, como o webdocumentário; as narrativas long form, dentre elas a reportagem
hipermídia; e formatos híbridos, como os bots noticiosos, os agregadores de
conteúdo, a galeria de imagens interativa; projetos de realidade virtual ou realidade
aumentada; e os newsgames.
- Analisar criticamente o modo de fazer jornalístico voltado à web, bem como os
produtos jornalísticos digitais.
- Refletir sobre a diferença no contexto de consumo e produção de informação: os
tipos de leitores e o jornalismo participativo.
- Reconhecer convergências e limites entre o editorial e o publicitário, entendendo e
aplicando técnicas de webwriting, copywriting e SEO (search engine optimization).
Metodologia:
Aprendizagem integrada por projetos; leitura de textos-base; aulas dialogadas; utilização
de slides, vídeos e áudios para apresentação de imagens, conceitos, cases e resumos;
aplicação de conteúdo na prática, com o uso de ferramentas digitais gratuitas; técnicas de
metodologias de aprendizagem ativa, como mapas conceituais, quizzes, estudos de caso,
aprendizagem em espiral, debates, entre outros.
Conteúdos Programáticos:
1 – Transformações do jornalismo digital
1.1 O que muda na leitura na internet? O papel do usuário na produção jornalística
(jornalismo colaborativo/participativo)
1.2 Análise de distintos produtos midiáticos digitais. A responsividade. O
imperativo mobile. Reflexões críticas sobre as métricas de audiência web.
1.3 Limites e convergências entre conteúdos jornalísticos e publicitários –
publieditorial, branded content, copywriting, webwriting e SEO.
4 - Avaliação:
Criação de site em plataforma gratuita (grupo) - 20% da nota
Produção de webdocumentário interativo (grupo), fruto de TII – 50% da nota
Reportagem hipermídia de mesmo tema do webdoc (grupo) – 20% da nota
Gestão de conteúdo redes sociais digitais (grupo) – 10% da nota
Bibliografia sugerida:
ANDERSON, C.; BELL, E.; SHIRKY, C. Jornalismo pós-industrial: adaptação aos
novos tempos. Revista de Jornalismo ESPM, ed. 5, p. 30-89. São Paulo, 2013.
PAVLIK, J. Journalism and new media. New York: Columbia University Press,
2001.
Objetivos:
- Compreender as raízes da investigação baseada em dados no jornalismo de precisão.
- Entender o papel das metodologias científicas no jornalismo de dados.
- Situar o papel da RAC (reportagem assistida por computador) para o jornalismo
investigativo.
- Refletir sobre o trabalho do jornalista de dados: colaboração entre pares, contato
com tecnoatores, trabalho remoto e competências interdisciplinares necessárias.
- Analisar distintos formatos de jornalismo de dados: televisivo, audiovisual,
impresso, digital.
- Fortalecer reportagens e notícias com a credibilidade presente no manejo
transparente e rigoroso dos dados.
- Trabalhar dados contra a desinformação: o uso de JD em fact-checking e notícias
em geral.
- Compreender e colocar em prática os passos da investigação baseada em dados:
busca e extração, limpeza, análise e visualização de dados.
Metodologia:
Visita técnica a redações que trabalham com jornalismo de dados. Métodos de
aprendizagem ativa: entrevistas jornalísticas e entrevistas em profundidade com jornalistas
de dados e tecnoatores. Produção de reportagem investigativa com base em extração de
dados ou solicitação via Lei de Acesso à Informação, cuja apresentação se dará on-line
(reportagem hipermídia ou infografia animada). Leitura de textos-base; aulas dialogadas;
utilização de slides, vídeos e áudios para apresentação de imagens, conceitos, cases e
resumos.
Conteúdos Programáticos:
1 – Jornalismo de dados: origens
1.1 História do jornalismo investigativo; o jornalismo de precisão e a reportagem
assistida por computador (RAC)
1.2 Análise de projetos jornalísticos baseados em dados. O Wikileaks, Panama
Papers, Pandora Papers e o hackativismo.
1.3 A redação híbrida do jornalismo de dados: jornalistas, estatísticos, designers,
programadores. Desafios e novas configurações.
1.4 Etapas básicas de toda investigação baseada em dados
3 – Etapa 2: Limpeza
3.1 Dados estruturados e não-estruturados: empecilhos ao acesso à informação
3.2 Limpando os dados no Excel
3.3 Estruturando os dados
3.4 Mitigando vieses e pré-análise: tabelas dinâmicas
4 – Etapa 3: Análise
4.1 Definindo variáveis
4.2 Utilizando ferramentas gratuitas para análise: Google Sheets
4.3 Aprendizado de máquina e noções de programação
7 - Avaliação:
Seminário com jornalistas de dados (grupo) - 40% da nota
Produção de reportagem hipermídia baseada em dados – 60% da nota
Bibliografia sugerida:
ASSIS, J. C. Os sete mandamentos do jornalismo investigativo: inteligência, ética e
coragem na construção da reportagem. São Paulo: Textonovo, 2015.
Referências:
ANDERSON, C. A Cauda Longa: do Mercado de massa para o Mercado de nicho.
Tradução Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2ª reimpressão, 2006.
JENKINS, H.; FORD, S.; GREEN, J. Cultura da conexão: criando valor e significado
por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.
LÉVY, P. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2003.
RENÓ, D. P. Transmedia Journalism and the New Media Ecology: Possible Languages.
In: RENÓ, Denis Porto et al (org). Periodismo Transmedia: miradas múltiples.
Barcelona: Uoc, 2014. p. 3-19.
Fundamentação teórica:
Conforme descrito pela OMS, a infodemia é um fenômeno que ganha força em
períodos determinados, nos quais um mesmo assunto causa uma intensa disseminação de
informações – falsas e verdadeiras. Neste ano especificamente, 2022, a infodemia
potencialmente versará também sobre a temática da eleição presidencial brasileira.
Assim, investigar a atuação do jornalismo, mais especificamente o jornalismo de dados,
na contracorrente desinformativa pode esclarecer sobre a relevância e os desafios da
profissão dentro deste cenário.
Vale ressaltar que a desinformação não fica restrita apenas aos ambientes virtuais
nos quais é mediada. Suas consequências reverberam em ideias e ações que, muitas
vezes, prejudicam todo um coletivo. É o caso da desinformação a respeito de
medicamentos comprovadamente ineficazes ao Covid-19, como a ivermectina,
hidroxicloroquina e cloroquina. Alardeados pelo presidente e por seus apoiadores como
sendo alternativas ao Covid, devendo ser utilizados como tratamento precoce, tais
medicamentos tiveram alta no consumo na ordem de 857%, para ivermectina; e 126%
para hidroxicloroquina, entre abril de 2020 e março de 2021 (ANDRÉ, 2021, on-line).
O país é o único no mundo onde mentiras sobre o uso de cloroquina no combate
à Covid-19 ainda circulam pelas redes sociais digitais, sendo motivadas principalmente
por questões políticas e ideológicas, segundo a pesquisa Scientific (self) isolation (2020).
As consequências do uso irracional de tais medicações podem estar causando um aumento
considerável nas infecções resistentes no Brasil e em outros países americanos, como
indica a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), órgão da OMS nas Américas.
“Os dados mostram que mais de 90% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 nas
Américas receberam um antimicrobiano, enquanto apenas 7% deles necessitaram desses
medicamentos para tratar uma infecção secundária” (OPAS, 2021, on-line).
Como fora pontuado anteriormente, a desinformação obedece a estratégias mais
amplas de convencimento coletivo, servindo muitas vezes como elemento distrator em
relação a crises e assuntos realmente importantes para a população. Reportagem baseada
em dados da Agência Pública esmiuçou como o governo Bolsonaro conseguiu turbinar a
produção de cloroquina e enviar 2,8 milhões de comprimidos do composto para todo o
Brasil5. Ao menos R$ 23,4 milhões foram gastos em publicidade sobre o chamado
“tratamento precoce” em veículos de comunicação como Rádio, TV e em espaços
públicos como outdoors (ROCHA, 2021). Foram gastos R$ 23 mil com marketing de
influência, sendo que nenhum dos influencers citava, em seus vídeos, a importância do
isolamento social no combate à disseminação de Covid-19. (FLECK; MARTINS;
FERNANDES, 2021, on-line)
Num momento no qual as verbas públicas são gastas em desinformação, torna-se
ainda mais essencial o trabalho do jornalismo como metassistema perito (MIGUEL,
1999), já que este pode, por meio de levantamento de dados, indicar incoerências,
supostos desvios e corrupção, amplificando a informação para o público. Um dos
problemas é que a informação inverídica tende a ser espalhada muito mais vezes do que
a informação verdadeira. Segundo estudo de Vosoughi, Roy e Aral (2018), que investigou
mentiras e informações verdadeiras disseminadas no Twitter entre 2006 e 2017,
5
Disponível em: < https://apublica.org/2021/03/o-mapa-da-cloroquina-como-governo-bolsonaro-enviou-
28-milhoes-de-comprimidos-para-todo-o-brasil/#Link1 >
A manipulação informacional é muito comum em corridas eleitorais, mas ganha
um sofisticado modus operandi no contexto das tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC). Exemplo emblemático são as eleições norte-americanas de 2016.
Naquele momento, a sociedade estadounidense, amplamente conectada à Internet e
presente na rede social Facebook, foi exposta a peças de propaganda eleitoral que se
modificavam conforme as características do perfil de cada usuário. Assim, não fora
preciso necessariamente mentir – mas pôde-se omitir e manipular informações à vontade,
destacando determinadas características do então candidato Donald Trump que fossem
sensíveis para determinados perfis psicológicos dos usuários. Combinando estratégias de
comunicação aos dados extraídos ilegalmente das contas de 50 milhões de usuários do
Facebook, a empresa Cambridge Analytica apresentava diferentes peças de propaganda
sobre Trump, a fim de acertar certeiramente os usuários conforme suas predileções e
rejeições a temas nevrálgicos aos norte-americanos, como a imigração, por exemplo.
Todo o governo Trump foi marcado por desinformação, inclusive sua saída. De
acordo com pesquisa de John (2021), publicada na MIT Technological Review, o papel
dos influencers, principalmente entre os jovens, foi muito relevante para o espalhamento
de boatos que causaram pânico:
Para a pesquisadora, crianças e jovens (na faixa dos 9 aos 24 anos) são mais
propensos a acreditar, não checar e compartilhar informações falsas quando sentem
identificação com a pessoa que a compartilhou inicialmente, o que os tornam ainda mais
vulneráveis à desinformação sobre as temáticas de afinidade entre tais usuários.
Já a pesquisa Verdades e Mentiras – As meninas na era da desinformação e das
fake news (2021), conduzida pela organização não-governamental Plan International,
mostrou que um terço das 26 mil meninas entrevistadas passam mais de 12 horas
conectadas à Internet por dia. Apesar do recorte de gênero – a pesquisa visou meninas e
jovens mulheres de 33 países diferentes – o tempo elevado de conexão dá pistas sobre o
quão central é o papel do consumo de Internet e redes sociais por parte do público jovem
em geral.
Mais tempo conectados propicia exposição maior a diversos conteúdos
midiáticos, dentre eles os falsos e enganosos. A pesquisa, que é o primeiro estudo com
foco no cruzamento entre gênero e desinformação, mostrou que os efeitos da mesma no
público jovem feminino são impactantes. 67% das entrevistadas nunca foram ensinadas
a identificar informações falsas na escola; 44 % não têm certeza ou acha que não consegue
detectar desinformação on-line; 87% disseram que as “fake news” têm consequências
negativas diretas para suas vidas, o que equivale a quase 9 entre 10 garotas (PLAN
INTERNATIONAL, 2021).
Entre o público jovem pode haver a falsa ideia de que, devido ao fato de serem
nativos digitais, sabem identificar conteúdos falsos e agir de maneira adequada em
comparação a gerações mais velhas. Pesquisa qualitativa de 2019 com 23 jovens de 20 a
24 anos na capital do Pará mostrou que, entre a amostra, foi praticamente consenso que
“fake news” são compartilhadas com maior constância por gerações mais velhas. O
choque geracional contrasta, no entanto, com a inabilidade da mesma amostra abordada
em identificar desinformação, como ficou provado nos grupos focais feitos no estudo.
“Os resultados mostram, entre outros, insegurança e dificuldade em identificar o que é
verdadeiro e em quem confiar quando tratamos de notícias que circulam pela internet”
(FAGUNDES et al, 2021, p. 1).
Deve-se, portanto, desmistificar a ideia de que o público jovem é mais preparado
para as mídias. Ao mesmo tempo, é uma fatia geracional que, muitas vezes, pode ser vista
pelas pessoas mais velhas em círculos sociais próximos, como o familiar, como “experts”
nas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), como mostra a pesquisa
TIC Kids Online Brasil (2020), do Comitê Gestor de Internet no Brasil (Cetic.BR).
Segundo dados da pesquisa, crianças e adolescentes são um público que consome cada
vez mais Internet no País, e uma das ações rotineiras é ajudar pais em atividades on-line
- 29% dos usuários de Internet de 9 a 17 anos disseram auxiliar pais ou responsáveis a
fazer algo na web diariamente; e 28% auxiliam ao menos uma vez na semana. Assim,
ressalta-se aqui a importância de ações direcionadas ao público jovem que objetivem a
educação midiática e o combate à desinformação, já que muitas vezes é este público quem
irá manejar as tecnologias de comunicação digital em uma família.
Metodologia:
Parte do projeto de pesquisa “Narrativas baseadas em dados - contributos ao
resgate da credibilidade jornalística no contexto da desinformação”, apresentado no início
deste documento, este item diz respeito ao desenho metodológico do projeto
extensionista. Assim, o início da investigação contemplará a revisão bibliográfica e
pesquisa documental sobre os seguintes temas: nativos digitais; conflitos geracionais;
consumo de informação a partir do recorte geracional; desinformação e público jovem;
metodologias ativas de ensino-aprendizagem, dentre outros. O intuito é sustentar, em
termos de referências, as etapas práticas do projeto extensionista.
Para a execução da fase extensionista da investigação, intenciona-se utilizar o
método da pesquisa participante e pesquisa-ação (PERUZZO, 2015), uma vez que estas
consideram os processos de comunicação em campo entre pesquisadores e público
pesquisado como essencial, respeitando a valorização de saberes individuais de todos os
envolvidos. Os momentos de interação são cruciais para o desenvolvimento da confiança,
como também para o diagnóstico inicial de suas demandas específicas e, dessa maneira,
para que as ações sejam construídas em conjunto com a população envolvida.
Na História da extensão universitária, houve fases nas quais acreditava-se que o
repertório acadêmico era superior a outros conhecimentos, como os vindos de uma
comunidade. Atualmente, após a evolução do conceito de extensão universitária, a ideia
de uma comunhão de saberes é a que rege os projetos de extensão na Unesp:
6
Existe a possibilidade de haver mais de um encontro diagnóstico de conhecimento. Por isso, foi planejado
que esta etapa seria feita um mês antes das seguintes, caso seja necessário acrescentar outros encontros.
7
Nesta etapa, como alguns softwares livres precisam de uma estrutura técnica apropriada (velocidade de
internet, processamento dos computadores), imagina-se que, na impossibilidade de realização em
laboratório de informática da própria escola pública, a oficina seja ministrada nos laboratórios da Faac, com
anuência dos órgãos responsáveis e em data/hora que não conflitem com as atividades acadêmicas
habituais.
Referências
ANDRÉ, N. Venda de ivermectina cresce 857% no último ano. CNN. Publicado em 6
maio 2021. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/saude/venda-de-
ivermectina-cresce-857-no-ultimo-ano/ >. Acesso em: 27 jan. 2022.
FAGUNDES, V. O. et al. Jovens e sua percepção sobre fake news na ciência. Boletim
do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 16(1), 2021.
JOHN, J. N. Por que a Geração Z cai na desinformação online. MIT Technology Review.
Publicado em: 25 jul 2021. Disponível em: < https://mittechreview.com.br/por-que-a-
geracao-z-cai-na-desinformacao-online/ >. Acesso em: 13 fev 2022.