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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESIGN

LILIANE DE LUCENA ITO

NARRATIVAS BASEADAS EM DADOS - CONTRIBUTOS AO RESGATE DA


CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA NO CONTEXTO DA DESINFORMAÇÃO

BAURU/SP
FEVEREIRO DE 2022
LILIANE DE LUCENA ITO

NARRATIVAS BASEADAS EM DADOS - CONTRIBUTOS AO RESGATE DA


CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA NO CONTEXTO DA DESINFORMAÇÃO

Projeto de pesquisa e plano de atividades para


graduação, pós-graduação e extensão da candidata
Liliane de Lucena Ito, apresentado à banca do
concurso de n. 03/2022 da Faculdade de Arquitetura,
Artes, Comunicação e Design da Unesp Bauru.

Linha de pesquisa: Redes Transmidiáticas.

BAURU/SP
FEVEREIRO DE 2022
SUMÁRIO

1. PROJETO DE PESQUISA 4

Resumo 4

Introdução 4

Referencial Teórico 7

Problema 15

Hipóteses 15

Objetivo geral 16

Objetivos específicos 16

Procedimentos metodológicos 16

Cronograma de execução 19

Planejamento físico-financeiro 20

Resultados esperados 21

Referências 23

2. PLANO DE ATIVIDADES PARA A GRADUAÇÃO 25

2.1 JORNALISMO ON-LINE (4º. TERMO) 28

2.2 LABORATÓRIO EM JORNALISMO ON-LINE (5º. TERMO) 30

2.3 JORNALISMO DE DADOS (7º. TERMO) 32

3. PLANO DE ATIVIDADES PARA A PÓS-GRADUAÇÃO 35

4. PLANO DE AÇÕES PARA A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA 40


4

1. PROJETO DE PESQUISA

NARRATIVAS BASEADAS EM DADOS: CONTRIBUTOS AO RESGATE DA


CREDIBILIDADE JORNALÍSTICA NO CONTEXTO DA DESINFORMAÇÃO

Resumo
No cenário social contemporâneo, no qual se fortalece a chamada crise de legitimidades,
em que expertise, técnica e conhecimento especializado são postos à prova diariamente
nas redes de desinformação, qual seria o lugar do jornalismo? Esta pesquisa tem por
objetivo compreender, a partir de perspectiva sistêmica e relacional, como uma vertente
jornalística que ganha força nos últimos anos no Brasil e no Exterior pode vir a
desempenhar papel de relevância e suscitar credibilidade: o jornalismo de dados.
Circunscrita ao ano de 2022, contexto das eleições presidenciais no país, a pesquisa
intenciona articular também ensino e extensão, a partir da criação de grupo de pesquisa
próprio, projeto extensionista voltado ao público jovem e metodologias ativas na
construção do saber acadêmico de graduação. Para o desenvolvimento da investigação,
serão combinados distintos procedimentos metodológicos, da revisão bibliográfica e
pesquisa documental à entrevista em profundidade, pesquisa de opinião e pesquisa
aplicada. Espera-se contribuir ao campo acadêmico com resultados relacionados ao
campo da Comunicação e ao campo do jornalismo; bem como propiciar debates que
fomentem o espírito cidadão nos públicos envolvidos, além de competências-chave para
o combate à desinformação, como a obtenção de dados públicos via Lei de Acesso à
Informação e o tratamento e decodificação dos mesmos.
Palavras-chave: Desinformação; Eleições 2022; Jornalismo de Dados; Narrativas
Hipermídia.

Introdução
Um rápido exercício de retrospectiva, com 2011 como ponto de partida, leva a
crer que, em pouco mais de uma década, a chamada crise de legitimidades alastra-se e
toma força em campos distintos, como a Ciência, a História e o Jornalismo. Os regimes
democráticos, ameaçados por levantes autoritários e governos conservadores, também
sofrem com a descrença generalizada em diversas partes do mundo. No âmbito individual,
o simulacro das redes sociais digitais confirma vieses e torna-se estopim para a corrosão
de relacionamentos, tendo na polarização seu principal motor.
2011 é o ano da criação, no Brasil, da Lei de n. 12527, mais conhecida como Lei
de Acesso à Informação (LAI), dentro de um contexto de transparência global crescente
naquele momento. É o ano no qual, no país, Facebook ultrapassa o Orkut em números de
usuários e a primeira mulher na História toma posse como presidenta. A internet das

4
coisas, num âmbito popular, ainda estava restrita a ficções científicas e tinha a Siri,
assistente virtual do iPhone 4, como a grande novidade do ano. Mesmo nesse contexto
incipiente, o desabrochar da Primavera Árabe, do outro lado do planeta, já se constituía
como prelúdio das transformações estruturais que se instauraram e moldaram o cenário
social, político, econômico e cultural contemporâneo. Ainda sem garantias do que
ocorreria nos próximos anos, a população dos países árabes se fez ouvir mundialmente
por meio de plataformas de comunicação digital, àquela época, recentes, como o
YouTube e o Twitter.
Como toda mudança estrutural, o desenrolar da crise de legitimidades ocorre de
forma gradativa e complexa, tendo a tecnologia como ferramenta catalisadora dos
movimentos em rede nos quais cresce a desconfiança nas instituições, até tornar-se
negação em alguns casos. O acesso facilitado – em termos econômicos e tecnológicos -
às ferramentas digitais de comunicação e informação, o consumo cada vez maior de
smartphones e a popularização das ambiências e possibilidades da web 2.0 efetivam a
entrada da sociedade numa etapa de midiatização, na qual o papel da mídia é central em
praticamente todos os aspectos da vida (BRAGA, 2006; SODRÉ, 2002; FAUSTO NETO,
2008; HJARVARD, 2012). Para o sociólogo Manuel Castells, que analisa as rupturas
causadas pela descrença popular nos conceitos e instituições tradicionais,

[...] a digitalização de toda a informação e a interconexão modal das mensagens


criaram um universo midiático no qual estamos permanentemente imersos.
Nossa construção da realidade e, por conseguinte, nosso comportamento e
nossas decisões dependem dos sinais que recebemos e trocamos nesse
universo. (CASTELLS, 2018, p. 20)

Tais sinais, no entanto, são a parte “visível” do universo virtual e digital no qual
nos encontramos abarcados. O que vemos e com o que interagimos são as interfaces e os
comandos das redes sociais digitais, dos apps de conversação, dos sites, as chamadas
affordances. No entanto, no mundo “invisível” à grande maioria dos usuários, o que
estrutura tais “sinais” são os algoritmos, que trabalham com enormes bases de dados inter-
relacionadas, nas quais informações em grande escala podem ser obtidas, revelando
tendências de comportamento e demandas de consumo da população.
Esta rápida retrospectiva introdutória inicia-se em 2011, ano de criação da LAI no
Brasil, a fim de ajustar o foco para a relevância crescente do manejo de bases de dados
em nível global, o big data, ao ponto em que este se torna um dos substratos mais
importantes ao sistema capitalista informacional (CASTELLS, 1999), influenciando
algumas decisões estratégicas por parte dos poderes públicos e privados. Os conteúdos de
usuários coletados pelas redes sociais digitais são um exemplo de manejo de dados com
finalidades variáveis; dentre elas, as mais abertamente públicas são o aumento da
audiência e engajamento dentro da própria rede social e a venda de espaços publicitários
direcionados. As taxas de acerto na oferta customizada de conteúdos adequados à
preferência dos usuários são altas e os mecanismos de vigilância e controle virtual foram
esmiuçados no documentário O Dilema da Redes, de 2020, causando polêmica à época
de seu lançamento.
O escândalo Cambridge Analytica, que pode ter influenciado positivamente a
vitória de Donald Trump em 2016; a desinformação em larga escala nas Eleições de 2018
a favor de Jair Bolsonaro no Brasil; e a vitória do Brexit em 2020 são fenômenos sociais
nos quais a comunicação digital em bases de dados, possibilitada por sofisticados
mecanismos algorítmicos, parece ter sido importantíssima, senão essencial. Apesar das
raízes da crise de legitimidades terem germinado há décadas, alimentadas por falhas na
democracia representativa e pelo agravamento das mazelas sociais devido ao
neoliberalismo globalizado, foi a comunicação digital e em rede o elemento catalisador
para que um outsider ao campo político e um então deputado sem nenhum feito público
subissem ao posto mais alto do poder executivo em seus países, EUA e Brasil. Situação
semelhante parece ter impulsionado a desintegração de alianças geopolíticas no caso da
saída do Reino Unido da União Europeia.
Numa era de pós-verdade estimulada por bolhas ideológicas e câmaras de eco
presentes nos ambientes digitais, a Comunicação tem lugar fundamental na luta contra a
crise de legitimidades e a desinformação. Ao ponto de, em 2020, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) declarar não somente uma pandemia de Covid-19, como também uma
infodemia:

A palavra infodemia se refere a um grande aumento no volume de informações


associadas a um assunto específico, que podem se multiplicar
exponencialmente em pouco tempo devido a um evento específico, como a
pandemia atual. Nessa situação, surgem rumores e desinformação, além da
manipulação de informações com intenção duvidosa. Na era da informação,
esse fenômeno é amplificado pelas redes sociais e se alastra mais rapidamente,
como um vírus. (OPAS, 2020, on-line)

Assim, como se pode notar, os esforços da OMS incluem também o campo da


Comunicação como frente de combate ao novo coronavírus. No caso do Jornalismo, a
avalanche de desinformação – seja sobre a pandemia ou quaisquer outros temas – é um
inimigo comum a todos os veículos e organizações pautadas pelos valores e técnicas do
jornalismo profissional, sério e especializado.
Como instituição intrínseca à sociedade, o jornalismo também traz para si os
elementos que são substrato ao capitalismo informacional, ou seja, também extrai dos
dados, do big data, material para sustentar investigações que visam ao interesse público.
Ao mesmo tempo, frente às transformações no consumo de informação e à desinformação
abundante, institui novas funções, como a de checagem (fact-checking) como rotina nas
redações.
Neste projeto de pesquisa, cujo objetivo é compreender o papel das narrativas
baseadas em dados no combate à desinformação no ano de 2022, pretende-se analisar a
ascensão do jornalismo de dados nas redações brasileiras, mapeando práticas e técnicas,
bem como investigando transformações na composição das redações, tendo em vista
novas funções/competências do jornalista profissional. Dentro de uma perspectiva
sistêmica e relacional, busca-se compreender o jornalismo de dados como uma vertente
que, “evoluída” do jornalismo de precisão, oferece técnicas científicas ao método de
investigação, fomentando credibilidade por parte do público final. Da mesma maneira,
busca-se entender como usuários, leitores e telespectadores percebem e possivelmente
valorizam o uso de dados em material jornalístico, contribuindo para a edificação da
confiabilidade na instituição e nos seus profissionais.
Para esta investigação, que intenciona articular pesquisa, ensino e extensão,
vislumbra-se o uso de metodologias variadas, como a pesquisa bibliográfica e
documental; a entrevista em profundidade e a pesquisa de opinião, além de metodologias
ativas como a pesquisa-ação, que propicie troca de conhecimento e aprendizagem em
grupos mistos, formados por discentes da graduação e alunos do ensino fundamental e
médio de escola pública em Bauru.

Referencial Teórico
Em 2017, o dicionário britânico Collins elegeu “fake news” como a palavra do
ano, graças ao uso constante pelo então candidato à presidência dos Estados Unidos,
Donald Trump. Conhecido por atacar o jornalismo profissional de maneira sistemática, o
verbete foi amplamente proferido por Trump para se referir a qualquer empresa de mídia
ou jornalista que o desagradasse. Houve então, uma politização do termo, além de sua
própria composição semântica trazer, em si, a contradição: ao se tratar de notícia (news),
não se tratam de boatos ou mentiras (fake).
Dessa forma, a palavra desinformação faz-se mais adequada. Segundo o glossário
Information Disorder (2018), de autoria de Claire Wardle, “A desinformação é uma
informação falsa que é deliberadamente criada ou divulgada com o propósito expresso de
causar danos. Os produtores de desinformação normalmente têm motivações políticas,
financeiras, psicológicas ou sociais” (WARDLE, 2018, on-line, tradução minha). Aqui,
vale notar que em momento algum existe a ligação do objetivo – enganar – ao jornalismo,
algo que imediatamente ocorre com o termo fake news.
No relatório encomendado pelo Conselho Europeu, denominado Information
Disorder, Wardle e Derakhshan (2017) explicitam as diferenças entre desinformação,
informação equivocada (tradução livre para mis-information) e má informação (mal-
information, também em tradução livre). Enquanto desinformação objetiva enganar ou
confundir; informação equivocada (mis-information) é a informação falsa que é repassada
sem tal intenção; já má informação seria aquela que, apesar de verdadeira, é usada para
causar prejuízos a outrem – seja uma marca, pessoa, instituição ou país.
Devido ao seu caráter intencional, desinformação geralmente é parte de uma
estratégia comunicacional mais ampla, que tem objetivos bem-definidos, como ajudar ou
prejudicar candidatos em tempos de eleição. Em 2019, série de reportagens da BBC
revelou que a cidade de Veles, na Macedônia do Norte, seria uma espécie de fábrica de
desinformação, com escritórios e funcionários contratados para criar conteúdos falsos em
diversos formatos e espalhá-los em sites e redes sociais (OXENHAM, 2019). No Brasil,
há o trabalho incessante do chamado “Gabinete do Ódio”, grupo de assessores ligados ao
governo Bolsonaro que cuidam das redes sociais e partilham mensagens enviesadas de
sites pseudojornalísticos.
Assim, seja por meio de ações coordenadas, com equipes e bots que trabalham a
desinformação em sites, redes sociais e apps de conversação, ou de forma emergente e
não-coordenada, mentir por meio da difusão de mensagens relaciona-se fortemente a
metas mais amplas, com finalidades políticas, financeiras ou psicológicas (WARDLE;
DERAKHSHAN, 2017).
Não à toa, a desinformação tende a crescer em períodos determinados, nos quais
as pessoas buscam informação para tomar decisões ou se proteger, pois as mensagens
enganosas contribuem em decisões coletivas. É assim em anos eleitorais, caso de 2022
no Brasil, e em situações de crise em geral, como na pandemia de Covid-19 no mundo.
Para além dos objetivos mais claros, focados na persuasão, vale lembrar que a
desinformação é muito utilizada para gerar cortinas de fumaça – estratégia na qual o
intuito é chamar a atenção para outros temas e mascarar o que realmente importa à
população, como no caso das mamadeiras com bico no formato de órgão sexual
masculino e outras construções inverossímeis, mas que alavancaram discussões vazias no
lugar de questionamentos relevantes sobre os candidatos à presidência do país em 2018.
“A tática é desconstruir a imagem dos oponentes, por meio de boatos e informações não
verificadas, que aprofundam as incertezas sobre eles [...]. Apenas a incerteza diante da
veracidade ou não daquele fato já teve o efeito desejado [...]” (FERRARI; FILHO, 2020,
p. 166).
As pessoas, atentas a teorias de conspiração e boatos, deixam de seguir os tópicos
realmente importantes para uma participação cidadã em assuntos públicos. Estudo de
Soares et al. (2021) mostrou que a desinformação em torno da pandemia de coronavírus
no Brasil foi utilizada como forma de favorecer Jair Bolsonaro – algo que atrasou ou
mesmo eliminou discussões e informações essenciais sobre os procedimentos necessários
para que o País reagisse à pandemia:

Dentre os nossos principais resultados, percebemos que (1) a pandemia foi


enquadrada como tema político para favorecer uma narrativa pró-Bolsonaro e
combater a crise política sofrida pelo governo. Isto foi identificado, por
exemplo, nos temas presentes nas mensagens, que frequentemente apontavam
as medidas de combate a pandemia como formas de prejudicar Bolsonaro.
Além disso, teorias da conspiração acusavam a oposição do governo de se
apropriar da pandemia como forma de prejudicar Bolsonaro. (SOARES et al.,
2021, p. 90)

A investigação em questão mostrou ainda que as teorias de conspiração foram a


tipologia mais compartilhada em grupos públicos do Whatsapp nos meses de março e
abril de 2020. Isso ocorre devido ao caráter mais privado da rede social em relação ao
Facebook, por exemplo, o que reforça a ideia de que as affordances – ou seja, as
características específicas de funcionamento e interface de cada rede social – moldam não
só o tipo de mensagem mais utilizada na comunicação, como também o comportamento
dos usuários em relação a esta mensagem.
Em comum, as teorias conspiratórias repetem a narrativa da descrença na versão
oficial dos acontecimentos, bem como menosprezam o conhecimento e a formação
especializada – teórica/empírica/técnica/científica - que permite aos profissionais e
especialistas desempenharem seu papel na sociedade. Para o sociólogo Anthony Giddens
(1991), estes são os chamados sistemas peritos, autônomos por natureza e cuja existência
implica numa relação de confiança, por parte de seus clientes e consumidores, em sua
competência especializada. É o que permite que saibamos que há buracos negros capazes
de “sugar” qualquer matéria no Universo, bem como utilizemos aviões confiando serem
estes um meio de transporte seguro. São os sistemas peritos, detentores de conhecimento
especializado, que indicam soluções para a vida em geral.
Para Miguel (1999), o jornalismo funciona como um metassistema perito, pois
lança luz e investiga outros sistemas peritos. Ou seja, enquanto outros sistemas peritos
não controlam seus pares – dada a autonomia centrada na expertise - , no caso do
jornalismo existe também a função de publicização do que ocorre em outros campos
sociais, o que por si só instaura hostilidades em setores que se sentem incomodados com
essa espécie de vigilância. “O jornalismo, portanto, é um foro informal cotidiano de
legitimação ou deslegitimação de diversos sistemas peritos” (MIGUEL, 1999, p. 202).
Num contexto de credibilidade, o jornalismo é considerado a profissão voltada a
apurar informações e dados com rigor, visando ao interesse público, de forma objetiva,
técnica e o mais neutra possível. Assim, a competência do jornalista está pautada na
confiança do público sobre a veracidade das informações, baseada em um método
específico de trabalho e em critérios de noticiabilidade de seleção, construção e produção
da notícia (TRAQUINA, 2008).
Aguiar e Rodrigues (2021) observam que, no cenário atual, a desinformação está
relacionada à corrosão da crença no valor da perícia – um fenômeno complexo e amplo,
consequente da modernidade:

Esse complexo de opressão produziu sentimento de desamparo e rancor junto


a um segmento que se sentiu subjugado e transformou o conhecimento formal
em razão de ressentimento. Se antes o expert era considerado essencial, agora
ele é rechaçado por ocupar o lugar de cidadão crucial. (AGUIAR;
RODRIGUES, 2021, p. 247)

Quando figuras públicas, como Trump e Bolsonaro, ou qualquer influenciador


digital com milhões de seguidores, reforça a descrença em empresas de mídia ou em
jornalistas, surge a ideia de que o mundo atual não precisa do jornalismo profissional. Por
sua vez, a comunicação livre, gratuita e descentralizada possibilitada pela Internet
transformou a forma como os públicos consomem informação, instaurando uma etapa
pós-industrial no jornalismo (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013), no qual este não é
mais o único ator a emitir informações. Ao mesmo tempo em que as empresas de mídia
sofrem com a crise financeira, resultado do consumo pulverizado de informações na
Internet e da diminuição expressiva de receita, as mais preparadas e visionárias investem
na inovação – seja em distintos formatos digitais, como a reportagem hipermídia, ou
mesmo em novas estratégias de monetização. (ITO, 2019)
Como fora previsto (e recomendado) no relatório Jornalismo Pós-Industrial, há
exatos dez anos, o jornalismo realmente tornou-se mais colaborativo: “Instituições
jornalísticas precisam aprender a atuar em parceria com indivíduos, organizações e até
redes pouco coesas tanto para ampliar seu alcance como para reduzir custos”
(ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 77); como também uma espécie de curador e
filtro, no contexto da avalanche informacional de hoje: “[...] sua capacidade de agregar
valor para usuários com essas técnicas será, cada vez mais, parte de seu valor como
profissional” (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 53) e adepto à tecnologia e a
investigações baseadas em dados como uma estratégia que reforça a expertise
profissional:

O dinheiro mais valioso que uma organização jornalística pode ganhar é o


dinheiro que não tem de gastar. No século 21, o dinheiro mais fácil de não
gastar é o dinheiro gasto colhendo informações. Em consonância com nossa
recomendação de que organizações jornalísticas devem dar mais prioridade a
cobrir mistérios do que a cobrir segredos, qualquer pessoa que lide com
governos ou empresas deve exigir que dados de relevância pública sejam
liberados de modo oportuno, interpretável e acessível. (ANDERSON; BELL;
SHIRKY, 2013, p. 80)

A especialização jornalística na qual as três características acima evidenciadas são


muito fortes é a do jornalismo de dados. Wikileaks, Panama Papers e Pandora Papers
são casos nos quais a colaboração internacional entre jornalistas e outros profissionais da
ciência dos dados e estatística foram essenciais para revelar ao mundo conexões escusas
e interesses particulares sobrepujando o interesse e o bem-estar público. Coube a esses
profissionais serem também filtros de informação, evidenciando o que havia de mais
importante na gigantesca quantidade de dados trabalhada.
Outro exemplo segue em andamento: esforços jornalísticos para se chegar a
estatísticas confiáveis acerca do número de infectados e mortos pelo novo coronavírus
resultaram na criação, em junho de 2020, do consórcio de imprensa formado pelos
veículos O Estado de S. Paulo, G1, Extra, O Globo, Folha de S. Paulo e UOL. Unindo a
apuração junto a 26 secretarias estaduais de saúde e Distrito Federal, o consórcio de
imprensa foi – e segue sendo – responsável por levar informação verificada à população,
no que se refere a número de casos de pessoas com Covid-19, além de estatísticas como
a média móvel de infectados, internados em estado grave, mortos e também do número
de vacinados no País. A criação do consórcio, que reúne veículos concorrentes, aconteceu
devido às restrições impostas pelo Ministério da Saúde aos dados. Apenas de forma
conjunta seria possível trabalhar dados extraídos de um país continental como o Brasil.
As informações, comuns aos veículos de mídia participantes, podem ser apresentadas da
maneira como convém a cada empresa jornalística, mesmo que todos tenham a mesma
base de dados – o que ressalta o caráter analítico do jornalismo de dados, e não apenas
informacional, baseado em um fato central ou em um mesmo pronunciamento oficial.
O passo a passo do consórcio de imprensa passa por todas as etapas previstas no
processo de uma investigação baseada em dados, a saber: a apuração (ou mineração dos
dados); sua estruturação (ou limpeza); a posterior análise de padrões e situações “fora da
curva”; a construção da narrativa (imagética, textual, infográfica, entre outras) e sua
divulgação, conforme o formato que cada veículo permite.
Caleffi e Pereira (2021) destacam a importância crescente do jornalismo de dados
para a compreensão da pandemia pelos telespectadores. No caso do programa semanal
Fantástico, da Rede Globo, antes da criação do consórcio de imprensa os números eram
apresentados em menos de 1 minuto, de maneira simplificada, com apoio de tabelas.
Depois, a média passa para 3 minutos de duração, com o uso de infografias animadas.

A utilização desses elementos é um reflexo do que é o jornalismo hoje, mais


dinâmico, com necessidade de ter mais confiabilidade nos processos e também
com incorporação de práticas do jornalismo digital em outras plataformas. A
construção, além de combater a desinformação e as fake news, também
possibilita a mediação entre telejornalismo e telespectadores, em processos
convergentes, interativos e multiplataformas (CALEFFI; PEREIRA, 2021, p.
35)

Pode-se dizer que a pandemia de Covid-19 significou uma popularização do


jornalismo de dados em todos os veículos de imprensa pertencentes ao consórcio. Um dos
expoentes, no entanto, segue sendo a Folha de S. Paulo, que já possuía tradição em
trabalhar com dados devido à criação, em 1983, do Instituto DataFolha. Mais
recentemente, a Folha lançou a editoria Delta Folha, especializada em narrativas com
jornalismo de dados cujo trabalho tem sido intenso desde o início da pandemia no mundo.
Um dos muitos exemplos da cobertura da pandemia por meio de jornalismo de dados, no
caso da Folha, é o Monitor de Coronavírus1, que permite ao usuário compreender a
velocidade da doença nos últimos 30 dias, por região do país, de forma interativa.

1
Disponível em: < https://arte.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/casos-mortes-coronavirus-brasil-
mundo/#/local/mundo >. Acesso em 10 fev. 2022.
A informação apurada, verificada e decodificada profissionalmente parece ter sido
timidamente mais valorizada pela população brasileira durante a pandemia. É o que
aponta o Digital News Report 2021, do Instituto Reuters, que mostrou que 44% da
amostra pesquisada acreditam na imprensa em geral, representando aumento de 6 pontos
percentuais em relação ao ano anterior. Em comparativo, pós-eleições presidenciais de
2018, o mesmo estudo apontou uma queda de 11% na confiança dos brasileiros na
imprensa, cuja influência, citada no próprio relatório, estaria nos ataques à imprensa e na
polarização política alocados em redes de comunicação digital no ano de 2017.
(NEWMAN et al., 2021)
Para Aguiar e Rodrigues (2020), o jornalismo de dados é uma vertente capaz de
resgatar a credibilidade ameaçada da profissão:

O acesso a dados promovido por agências como a brasileira Gênero e Número


e a britânica The Bureau of Investigative Journalism promovem transparência
e servem como contraponto ao descrédito que cresce em ambientes polarizados
e dominados por viés político. O acesso às informações governamentais com
a criação de portais de transparência favoreceu a cultura do big data. A
reportagem Panamá Papers — denúncia sobre envolvimento de figuras
públicas e empresas no esquema de paraísos fiscais no exterior conduzido pelo
ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo)— foi um marco
que mostrou o potencial da combinação entre dados abertos, objetividade,
autoridade profissional e relevância jornalística (AGUIAR; RODRIGUES,
2020, p. 253)

A cultura de transparência espalhada pelo mundo no início deste século e o avanço


tecnológico permitiram uma etapa nova na história do jornalismo de dados, cuja origem
tem raízes no jornalismo de precisão, termo proposto por Philip Meyer no final dos anos
60 para se referir ao jornalismo de investigação que tem na adoção dos métodos das
Ciências Sociais seu traço definidor.
A busca por um jornalismo quase científico surge, entretanto, um pouco mais
distante no tempo. É no final do século XIX, em meio à consolidação das fronteiras entre
jornalismo informativo e jornalismo opinativo que os editores passam a cobrar de seus
repórteres fatores como a observação direta e as entrevistas como formas de assegurar
maior confiabilidade às notícias. Concomitantemente, as Ciências Sociais passam a se
fortalecer como um campo autônomo de conhecimento, e muitos de seus métodos
inspiram jornalistas a investir em análises estatísticas de dados, entre outras técnicas
próprias da Sociologia, por exemplo.
Philip Meyer é um dos precursores do jornalismo de precisão com a propriedade
de quem investigou e apurou, rascunhando tabelas de dados no papel, um esquema de
desvio de dinheiro para campanha à presidência do conselho de funcionários de colégios
num condado da Flórida. Seu manejo dos dados nesta apuração de 1959 mostra que a
tecnologia não é exatamente obrigatória no jornalismo de precisão, ao passo em que o
método, sim, é o ponto-chave. Para ele, o jornalismo ganharia em credibilidade e
neutralidade ao fazer uso de técnicas científicas quantitativas, que reduziriam os erros
jornalísticos, e métodos empíricos das Ciências Sociais.
O conceito de um jornalismo do tipo ganha força com a implantação de
computadores nas redações nos anos 80 e 90. A informatização acelera processos e
facilita o trabalho do jornalista, permitindo que investigações baseadas em dados fossem
melhor conduzidas. Já a popularização da Internet nas redações jornalísticas, em meados
dos anos 90, e a posterior cultura de transparência que ganha força no mundo na metade
do século XX, e no Brasil no início deste século (RIBEIRO et al., 2018), propiciam os
ingredientes para o avanço do jornalismo de dados no Brasil.
A gestão pública baseada cada vez mais em processos de accountability tem como
um dos pilares lançar luz às informações de ordem pública, como gastos, investimentos,
lucros, dados populacionais, demográficos e de consumo, entre outros. Com a publicação
da LAI, qualquer pessoa ou jornalista pode solicitar dados aos distintos órgãos de
governo, em níveis também diversos. Cabe, geralmente, a uma equipe multidisciplinar
formada não só por jornalistas, como também por tecnoatores (CANAVILHAS et al.,
2016), como programadores, estatísticos e designers, trabalhar as informações com a
finalidade de compreender, por trás dos números, mudanças estruturais na sociedade e
situações padrão e/ou incomuns, cuja interpretação dificilmente seria feita de outra
maneira.
Para Träsel (2014, p. 292), que vê uma aproximação entre a cultura hacker e o
jornalista no jornalismo de dados, este “[...] compreende diversas práticas profissionais,
cujo ponto em comum é o uso de dados como principal fonte de informação para a
produção de notícias”. Elias Machado (2006) considera que jornalismo de dados é um

“[...] modelo que tem as bases de dados como definidoras da estrutura e da


organização, bem como da composição e da apresentação dos conteúdos de
natureza jornalística, de acordo com funcionalidades e categorias específicas,
que também vão permitir a criação, a manutenção, a atualização, a
disponibilização, a publicação e a circulação de cibermeios dinâmicos em
multiplataformas” (MACHADO, 2006, p. 8).
O jornalismo de dados como vertente profissional que trabalha com métodos
científicos e encontra informações relevantes “escondidas” no big data está relacionado
à expertise própria do profissional de mídia e, assim, pode auxiliar no resgate da
credibilidade perdida em relação ao Jornalismo, contra-atacando a amplificação da
desinformação. Essa ideia vem sendo investigada por meio de estudos de caso, revisões
de literatura e entrevistas, dentre outros métodos, e é defendida por autores como Aguiar
e Rodrigues (2020); Baccin e Dal’Carobo (2021); e Caleffi e Pereira (2021).
Se nos anos 60, o jornalismo de dados surge como um embrião dentro do conceito
de jornalismo de precisão de Philip Meyer, com a sistematização da Reportagem Assistida
por Computador, nos anos 70, o uso da análise de dados é facilitado devido ao
processamento dos computadores. Um terceiro momento, relacionado ao big data, ao
contexto de transparência pública e à capacidade dos profissionais trabalharem narrativas
hipermídia ocorre no cenário atual, no qual “a metodologia do jornalismo de dados serve
de antídoto contra a produção jornalística de credibilidade questionável”. (AGUIAR;
RODRIGUES, 2021, p. 253)

Problema
As narrativas baseadas em jornalismo de dados asseguram credibilidade à
produção jornalística e reforçam a confiabilidade do jornalismo profissional no contexto
atual, de desinformação e infodemia?

Hipóteses
● O jornalismo de dados, por meio da aproximação metodológica das Ciências
Sociais, seria visto como mais neutro em relação às apurações habituais do
jornalismo, bastante calcadas na apuração junto a fontes;
● A presença de conteúdos oriundos de pesquisa quanti e qualitativa contrasta com
a ausência de dados em peças de desinformação, sendo assim um item de
confiabilidade a ser considerado pelo público;
● A percepção do público diante de narrativas baseadas em dados é mais atenta
devido à sua apresentação em ambientes digitais, em se tratando de visualizações
esteticamente envolventes e interativas;
● Quando adequadamente informados sobre seus direitos à informação e
conscientes de sua capacidade de análise de dados, jovens podem contribuir como
agentes defensores do jornalismo profissional junto ao seu círculo social.
Objetivo geral
Compreender, a partir de perspectiva sistêmica e relacional, o papel do jornalismo
de dados no combate à desinformação no Brasil, no ano de 2022.

Objetivos específicos
● Compreender a relação entre projetos de jornalismo de dados e a desinformação
no âmbito da corrida eleitoral de 2022, reconhecendo assim seus efeitos e limites;
● Investigar de ponta a ponta o processo de produção jornalística com base em
manejo de dados, incluindo as etapas de busca, extração, limpeza, análise e
decodificação em narrativas ao público final;
● Mapear transformações nas redações jornalísticas: o surgimento de novas funções,
a necessidade de novas competências, o papel dos tecnoatores e a participação do
público;
● Analisar qualitativamente a inserção de jornalismo de dados em narrativas
hipermídia e em outros formatos jornalísticos, tendo em vista aspectos centrais e
características comuns a projetos de diferentes formatos;
● Abordar criticamente temas como desinformação, manipulação da informação,
competência midiática e cidadania digital junto ao público universitário da Unesp
de Bauru e aos estudantes de escola pública de Bauru, com o objetivo de
disseminar conceitos e resultados de pesquisa.
● Instituir práticas de solicitação de dados públicos e técnicas de manejo e análise
de dados junto a discentes de graduação e pós-graduação, bem como aos
estudantes de escola pública;
● Amplificar os resultados da pesquisa, promovendo a credibilidade do jornalismo
profissional por meio de ambientes virtuais próprios, como site e perfil em rede
social.

Procedimentos metodológicos

A etapa inicial do projeto é a de revisão bibliográfica, cuja finalidade está no


aprofundamento dos conceitos-chave e suas relações. Vale ressaltar que a revisão
bibliográfica, apesar de ser uma etapa primordial para o início de qualquer investigação
científica, acaba sendo realizada também em seu decorrer, pois “é uma atividade contínua
e constante em todo o trabalho acadêmico e de pesquisa” (STUMPF, 2015, p. 52).
A pesquisa documental também é uma metodologia importante para este estudo,
uma vez que será necessária para agrupar informações sobre iniciativas nacionais de
jornalismo de dados que exercem ou exercerão papel fundamental na guerra contra a
desinformação. Intenciona-se ajustar o foco para a análise de narrativas hipermídia com
base em manejo de dados cujo tema seja relacionado às eleições presidenciais de 2022.
Assim, com o corpus formado por narrativas hipermídia centradas na eleição
presidencial cuja base é o jornalismo de dados, objetiva-se realizar observação
sistematizada e coleta de dados que serão tabulados, a fim de encontrar padrões e desvios
relevantes. Sobre o corpus, pretende-se diversificar a seleção em relação aos formatos
jornalísticos de tais narrativas, abarcando a reportagem hipermídia, a infografia animada,
a notícia vertical em stories, dentre outros.
Com a articulação entre pesquisa, ensino e extensão, vislumbra-se a utilização de
entrevistas em profundidade realizadas com jornalistas de dados e os chamados
tecnoatores, a fim de compreender semelhanças e alteridades no fazer jornalístico voltado
para a análise e visualização de grandes bases de dados, bem como esmiuçar a forma
como a utilização de métodos científicos quantitativos e qualitativos auxilia na apuração
acurada das informações. Segundo Duarte (2015),

A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base


em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a
partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações
que se deseja conhecer. (DUARTE, 2015, p. 62)

Entretanto, é essencial haver rigor metodológico em sua condução, a fim de que


se garanta validade e confiabilidade no uso da técnica. Tal rigor relaciona-se, por sua vez,
a três questões principais apontadas pelo autor: 1. a seleção adequada dos informantes; 2.
procedimentos que garantam a obtenção de respostas confiáveis, e 3. a descrição dos
resultados articulada ao conhecimento teórico disponível.
Planeja-se que, após as etapas de pesquisa citadas anteriormente, serão
aprofundados conhecimentos teóricos, técnicos e empíricos sobre os temas-chave, e
assim, pode-se partir para o momento de estimular o debate e apresentar ferramentas para
o combate à desinformação junto à comunidade que irá participar das ações de extensão.
Considera-se que esta pesquisa tenha caráter social, de natureza aplicada, ou seja,
tem como interesse “a aplicação, utilização e consequências práticas de seus
conhecimentos. Sua preocupação está menos voltada para o desenvolvimento de teorias
de valor universal que para a aplicação imediata numa realidade circunstancial” (GIL,
2008, p. 27). Dessa maneira, em sua etapa aplicada, pretende-se desenvolver ações que
fomentem a discussão sobre desinformação – suas características, motivações e
consequências entre o público universitário da Unesp e alunos e alunas da rede pública
de Bauru pertencentes aos níveis fundamental e médio de ensino.
A partir de uma perspectiva epistemológica que considera válido e importante
todo e qualquer tipo de saber, oriundo de indivíduos em quaisquer níveis etários,
sociodemográficos ou de formação acadêmica, acredita-se ser importante ouvir e
conhecer as demandas dos públicos envolvidos. Nesta etapa, que consiste na interação
entre pesquisadora, estudantes da Unesp e estudantes da rede pública, será realizado um
encontro inicial com a finalidade de debater sobre desinformação e o papel do jornalismo
na sociedade. Se for necessário, vislumbra-se a realização de mais encontros prévios.
Neste momento, serão aplicados questionários de opinião, a fim de levantar informações
que indiquem necessidades e particularidades do público envolvido. “A pesquisa de
opinião tem se mostrado instrumento tão valioso para a sociedade contemporânea, que,
muitas vezes, deixa de ser compreendida como técnica de medição da opinião pública
para tornar-se a própria expressão desta.” (NOVELLI, 2015, p. 164). Com tais dados,
pretende-se ajustar conteúdos e abordagens para as duas próximas etapas de pesquisa
aplicada.
Considera-se que, nestas etapas, dois momentos de encontro subsequentes são
essenciais: a apresentação das ferramentas Fala.BR2 e portais e-SIC3 em níveis municipal
e estadual; o treinamento para a solicitação de dados via Lei de Acesso à Informação; e o
compartilhamento de técnicas de busca e extração, limpeza, análise e visualização de
dados com ferramentas digitais gratuitas. Em tais etapas, a interação entre pesquisadores,
discentes da Unesp e do ensino público de Bauru será primordial para a troca de saberes.

2
Disponível em: <
https://falabr.cgu.gov.br/Login/Identificacao.aspx?idFormulario=3&tipo=8&ReturnUrl=%2fpublico%2f
Manifestacao%2fRegistrarManifestacao.aspx%3fidFormulario%3d3%26tipo%3d8%26origem%3didp%2
6modo%3d >. Acesso em 14 fev. 2022.
3
Sigla de Serviço Eletrônico de Informações ao Cidadão. Cada órgão público, em distintos níveis e
instâncias, como estadual e municipal, devem fornecer portais de acesso à informação desde a publicação
da LAI, em 2011. Um exemplo é o e-SIC da prefeitura de Bauru, disponível em: <
https://intranet.bauru.sp.leg.br/esic/index/index.php >. Acesso em: 18 fev. 2022.
Como este projeto de pesquisa pretende utilizar informações a partir da interação
junto a um público, vale ressaltar que já no início do cronograma de pesquisa pretende-
se submetê-lo ao Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Faculdade
de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Unesp de Bauru, como pode ser
observado no cronograma abaixo.

Cronograma de execução
Abaixo, segue planejamento mês a mês das ações deste projeto de pesquisa.
Considerou-se o período de 1 ano para sua realização, tendo em vista articulações entre
ensino, pesquisa e extensão. Ações em verde estão relacionadas à pesquisa, enquanto as
grifadas em azul se referem à extensão, e as em amarelo, a atividades que terão foco
também no ensino de graduação e pós-graduação. No entanto, ressalta-se que as divisões
não são estanques, significando apenas uma prevalência de cada área e o intuito de um
trabalho articulado entre os três pilares fundamentais da Unesp.

Ação Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6


Revisão bibliográfica X X
Preparo de material para análise do X
Comitê de Ética em Pesquisa da Faac-
Unesp
Submissão de projeto de extensão X
“Transparência e Dados contra a
Desinformação”
Formação de grupo de pesquisa - X
cadastro de nome e composição de
membros junto ao site do CNPq
Prospecção de amostra por X X
conveniência de estudantes da rede
pública para ações de extensão
universitária
Reuniões de estudo – grupo de pesquisa X X X
Pedido de autorização junto à direção X X
escolar e/ou Secretaria Estadual de
Ensino de Bauru
Visitas técnicas a redações que X
trabalham com jornalismo de dados
Entrevistas com jornalistas X X
Entrevistas com tecnoatores X X
Ação Mês 7 Mês 8 Mês 9 Mês Mês Mês
10 11 12
Reuniões de estudo (grupo de pesquisa X X X
e projeto de extensão)
Treinamento em Lei de Acesso à X
Informação e sistema (Fala.BR e e-SIC)
- membros projeto de extensão e
discentes
Oficina de jornalismo de dados – alunos X
de graduação, pós-graduação e
membros do projeto de extensão
Encontro 1 com alunos de escola X
pública – Entendendo a desinformação
(com aplicação de pesquisa survey)
Encontro 2 com alunos de escola X
pública – Como buscar a informação e
solicitar dados via LAI
Encontro 3 com alunos de escola X
pública – Manejando bases de dados
com ferramentas gratuitas
Reuniões grupo de pesquisa – discussão X
de resultados de pesquisa de
campo/survey e divisão de tarefas para
publicação de artigos científicos
Publicação de site e redes sociais para X
divulgação dos resultados de pesquisa
Redação de relatórios finais – projeto de X
extensão, grupo de pesquisa, relatório
anual atividades graduação

Planejamento físico-financeiro
Abaixo, segue planejamento de utilização de espaços físicos da Unesp, material
didático, bem como outros custos de pesquisa, como transporte. Todas as ações deverão
ser previamente submetidas e agendadas junto à coordenação de curso, chefia de
departamento, coordenação de pós-graduação, e demais setores responsáveis.

Ação Recursos físicos /financeiros


Revisão bibliográfica Acervo biblioteca e bases
de dados gratuitas
Preparo de material para análise do Comitê de Ética em -
Pesquisa da Faac-Unesp
Submissão de projeto de extensão “Transparência e -
Dados contra a Desinformação”
Formação de grupo de pesquisa - cadastro de nome e -
composição de membros junto ao site do CNPq
Prospecção de amostra por conveniência de estudantes da -
rede pública para ações de extensão universitária
Reuniões de estudo – grupo de pesquisa Sala de reuniões da seção
de pós-graduação da
Faac (dia e horário
semanal fixo)
Pedido de autorização junto à direção escolar e/ou -
Secretaria Estadual de Ensino de Bauru
Visitas técnicas a redações que trabalham com jornalismo Ônibus da Unesp para
de dados viagem a São Paulo (ida
e volta no mesmo dia).
Alimentação por parte
dos próprios estudantes
Entrevistas com jornalistas (on-line, sem custo)
Entrevistas com tecnoatores (on-line, sem custo)
Reuniões de estudo (grupo de pesquisa e projeto de Sala de reuniões da seção
extensão) de pós-graduação da
Faac (dia e horário
semanal fixo)
Treinamento em Lei de Acesso à Informação e sistema Laboratório de
(Fala.BR e e-SIC) - membros projeto de extensão e informática da Central de
discentes Lab. Da Faac (em dia e
horário de aula da
docente proponente)
Oficina de jornalismo de dados – alunos de graduação, Laboratório de
pós-graduação e membros do projeto de extensão informática da Central de
Lab. Da Faac (em dia e
horário de aula da
docente proponente)
Encontro 1 com alunos de escola pública – Entendendo a Sala ou auditório da
desinformação (com aplicação de pesquisa survey) escola pública
Encontro 2 com alunos de escola pública – Como buscar Laboratório de
a informação e solicitar dados via LAI informática da Central de
Lab. Da Faac OU
laboratório da escola
pública
Encontro 3 com alunos de escola pública – Manejando Laboratório de
bases de dados com ferramentas gratuitas informática da Central de
Lab. Da Faac OU
laboratório da escola
pública
Reuniões grupo de pesquisa – discussão de resultados de Sala de reuniões da seção
pesquisa de campo/survey e divisão de tarefas para de pós-graduação da
publicação de artigos científicos Faac (dia e horário
semanal fixo)
Publicação de site e redes sociais para divulgação dos Laboratório de
resultados de pesquisa informática da Central de
Lab. Da Faac
Redação de relatórios finais – projeto de extensão, grupo -
de pesquisa, relatório anual atividades graduação

Resultados esperados
Vislumbra-se, ao longo do ano letivo, o aprofundamento sobre o “estado da arte”
das pesquisas sobre desinformação, além do oferecimento de contribuições próprias ao
campo científico, por meio de publicações em congressos e eventos acadêmicos da área,
além de revistas qualificadas ou livros de autoria coletiva.
Considera-se que as ações propostas trarão uma compreensão mais ampla sobre
os ecossistemas midiáticos, bem como acerca das transformações profissionais já em
andamento, que exigirão dos novos jornalistas tanto competências quanto habilidades
específicas. Acredita-se que a apuração dessas informações será aplicada em sala de aula
e nas ações do projeto de extensão, inclusive com treinamentos específicos a fim de
empoderar os discentes da Unesp e da escola pública nas etapas de busca, extração,
limpeza, análise e visualização de dados de interesse público.
No que se refere a ensino, dentro dos conteúdos listados em plano de ensino das
disciplinas integradoras da matriz curricular em Jornalismo, espera-se utilizar
metodologias ativas, como a visita técnica e a entrevista com profissionais – jornalistas e
tecnoatores – em tarefas avaliativas.
Em relação à pesquisa, são almejadas a condução de pesquisas em nível de
iniciação científica e em nível de pós-graduação, nas quais cada uma, com suas
particularidades, possam investigar os seguintes temas (sozinhos, relacionados entre si ou
relacionados a outros subtemas): comunicação digital; desinformação; jornalismo de
dados; narrativas hipermídia.
Por fim, as ações de extensão visam três momentos sequenciais de reflexão e
conhecimento sobre o tema, a saber: 1. a discussão aprofundada sobre desinformação; 2.
o empoderamento dos alunos no que se trata de acesso à informação, com peso maior
para os pedidos via LAI; 3. o reconhecimento de técnicas de manejo de dados que podem
ser também utilizadas por esses estudantes – de forma coletiva ou não – para a
interpretação da realidade e construção de narrativas.
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2. PLANO DE ATIVIDADES PARA A GRADUAÇÃO

Em consonância com o Projeto Político-Pedagógico (PPP) do curso de Jornalismo


da Unesp, sugere-se, a seguir, planos de atividades para três disciplinas da matriz
curricular em andamento que mais assemelham-se aos pontos de conteúdo abordados no
edital de n. 3/2022.
Assim sendo, as disciplinas selecionadas para a proposição deste plano são:
Jornalismo On-line, ministrada no 4º termo, alocada no eixo de aplicação processual;
Laboratório de Jornalismo On-line, 5º termo, pertencente ao eixo de prática
laboratorial; e Jornalismo de Dados, do 7º termo, do eixo de Formação Profissional.
Vale esclarecer que, no caso de aprovação no concurso em questão, outras disciplinas
poderão ser ministradas pela candidata, a critério da coordenação de curso.
Em conformidade ao PPP, as duas primeiras disciplinas deverão fazer parte do
trabalho integrado interdisciplinar (TII), disposto no subitem 3.5.8 do documento, no qual
é exposto que:

Parte-se da concepção de que disciplinas integrantes do currículo do 1º ao 5º


termo possam se articular para ter sempre um produto produzido de forma
conjunta, de modo a valorizar os saberes, competências e habilidades
propostos para aquele termo. Deste modo, teríamos o retorno e a periodicidade
de produtos importantes como o Jornal Mural Extra, o jornal e a revista
Contexto, um produto audiofônico, um produto digital integrando hoje as
propostas do Repórter Unesp e Universitag, um produto audiovisual, podendo
ser na modalidade documentário ou telejornal4. (CONSELHO DO CURSO DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL: JORNALISMO, 2018, p. 49)

Dessa maneira, muitas das produções discentes realizadas em disciplinas diversas


podem ter como repositório e ambiente de compartilhamento um site de plataforma
gratuita – como o Wordpress. Pretende-se criar um produto digital que integre grandes
reportagens, edições de revista digital, webnotícias e webdocs, dentre outros. O site será
suporte para trabalhos integrados interdisciplinares e também para resultados dos
trabalhos das disciplinas Jornalismo On-line e Laboratório de Jornalismo On-line.
Além do site, a ideia é criar perfis em redes sociais, a saber: YouTube, Facebook
e Instagram, devido à popularidade das mesmas no Brasil. Em 2019, segundo pesquisa
feita pela agência We Are Social em parceria com a plataforma Hootsuite, 66% da
população brasileira estava conectada a uma ou mais redes sociais, sendo que YouTube,

4
Grifo meu
Facebook e Instagram ocupavam a primeira, segunda e quarta posições no ranking das
maiores em números de usuários. Intenciona-se compartilhar conteúdos também em
perfis próprios no LinkedIn, rede social corporativa, que segundo a mesma pesquisa,
ocupava o 7º lugar na lista de mais populares no País (KEMP, 2019, on-line). A relevância
do LinkedIn, no entanto, está muito mais em sua natureza - uma rede social para assuntos
relacionados a mercado de trabalho e empresas. Tais perfis repercutiriam, em formato e
linguagem apropriados, os resultados de pesquisas e trabalhos de discentes e docentes da
Unesp para além da comunidade acadêmica, uma vez que a superdistribuição das redes
sociais (COSTA, 2014) tem um grande potencial para alavancar a audiência dos sites.
Segundo o PPP, no quinto termo, a pretensão é a produção de um documentário
que foque nos “[...] dilemas éticos e deontológicos na sociedade contemporânea e como
os jornalistas em sua atividade profissional lidam com as dificuldades no mercado de
trabalho.” (CONSELHO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: JORNALISMO,
2018, p. 52). Dessa forma, pretende-se tanto abordar conceitos e técnicas de produção de
webdocs na disciplina Laboratório de Jornalismo Online, bem como utilizar o site em
questão para a agregação dos trabalhos, que poderão, por sua vez, ser alocados no
YouTube, em canal próprio, e incorporados ao site.
Vale ressaltar que, para a gestão do site e de conteúdos de redes sociais
relacionadas a ele, pretende-se contar com o apoio de alunos bolsistas de graduação e/ou
extensionistas; por outro lado, vislumbra-se também o apoio técnico do próprio setor de
informática da Unesp de Bauru.
Em relação aos conteúdos abordados em sala de aula, como este se trata de um
projeto integrado entre pesquisa, ensino e extensão, planeja-se a captação de estudantes
interessado(a)s em desenvolver projetos de iniciação científica relacionados a jornalismo
de dados, narrativas hipermídia, desinformação, fact-checking ou correlatos. Segundo
Grossi e Lopes (20220), que documentam a trajetória de elaboração do novo Projeto
Político Pedagógico do curso de Jornalismo da Unesp, novos desafios ao profissional
jornalista impõem um trabalho ainda mais preocupado com a ética e com o papel do
jornalista na sociedade:

Além disso, ao Jornalismo, desde o período de discussão das DCN, coube


novos desafios no início dos anos 2020, como a necessidade enfrentamento ao
ecossistema de desinformação (que tem no bojo as Fake News) e de se pensar
em educação midiática na era da pós-verdade e “bolhas sociais”; a necessidade
de lidar com um mundo regido por algoritmos e pela ampliação dos usos dos
dados, bem como novas áreas que emergem do desenvolvimento das
Tecnologias da Informação e Comunicação, entre outros. (GROSSI; LOPES,
2020, p. 55)

Dessa maneira, dentro do projeto de extensão “Transparência e Dados contra a


Desinformação”, aluno(a)s de graduação serão convidados a compor a equipe de
investigação, a fim de que possam participar de atividades como ciclo de estudos, a
realização de entrevistas em profundidade com jornalistas de dados e tecnoatores, e a
condução das etapas extensionistas do projeto junto ao público jovem oriundo de escola
pública bauruense (debate(s) sobre desinformação; treinamento sobre LAI e suas
ferramentas; e oficina de jornalismo de dados).
A seguir está a proposta para três planos de ensino que mais se assemelham aos
itens do edital n. 3/2022, com ementa extraída do site da FAAC, e outras informações
produzidas pela candidata. Cada disciplina contém: ementa, objetivos, metodologia,
conteúdos programáticos, avaliação e bibliografia sugerida.

Referências bibliográficas

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Político-Pedagógico (PPP) do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual Paulista
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Acesso em: 22 dez. 2021.

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Jornalismo ESPM, v. 9, p. 51-115, 2014.

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repensando o Projeto Político-Pedagógico da Universidade Estadual Paulista.
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Disponível em: < https://wearesocial.com/uk/blog/2019/01/digital-in-2019-global-
internet-use-accelerates/ >. Acesso em: 20 fev. 2022.
2.1 JORNALISMO ON-LINE (4º. TERMO)

Ementa: Contextualização das mídias digitais. Introdução às produções on-line e


levantamento das características do jornalismo digital, apresentando, para tanto, suas
contribuições às mudanças paradigmáticas da atividade jornalística.

Objetivos:
- Identificar as características do meio Internet.
- Conhecer as diferentes fases do jornalismo na web.
- Compreender e dominar diferentes ferramentas e linguagens em mídias digitais.

Metodologia:
Aplicação de conteúdo na prática, com o uso de ferramentas digitais gratuitas; leitura
de textos-base; técnicas de metodologias de aprendizagem ativa, como mapas
conceituais, quizzes, estudos de caso, aprendizagem em espiral e debates; aulas
dialogadas; investigação de cases.

Conteúdos Programáticos:
1 - A Revolução Web
1.1 Características da Internet como meio de comunicação.
1.2 Mudanças paradigmáticas no consumo e produção da informação: cibercultura,
desintermediação, inteligência coletiva.
1.3 Hipertexto, hipermídia; remediação e imediação; convergência.
1.4 Redes sociais digitais: segmentação, self, bolhas e câmaras de eco.

2 - Técnicas de jornalismo on-line


2.1 O surgimento do jornalismo na Internet e seus diferenciais
2.2 As gerações do jornalismo na internet
2.3 Arquitetura da informação: da pirâmide invertida à pirâmide deitada
2.4 Produções jornalísticas em redes sociais: formatos, técnicas, ética e interação
2.5 Conteúdos mobile first: especificidades e verticalização
2.6 Cobertura de eventos on-line

3 - Práticas de jornalismo on-line


3.1 Produção de vídeos verticais (individual) para disciplina “Jornalismo,
criatividade e inovação” (dentro da proposta do trabalho integrado interdisciplinar)
3.2 Webnotícia em stories (duplas) sobre conteúdo do trabalho integrado
interdisciplinar
3.3 Produção de reportagem (grupo) sobre as demandas profissionais para o
jornalista em ambiente digital
3.4 Produção de webnotícia (individual) com pirâmide deitada sobre tema do TII
3.5 Produção e gestão de conteúdo (grupo) para redes sociais digitais – perfis oficiais
do site da disciplina.

4 - Avaliação:
Reportagem em grupo – 40% da nota
Vídeos verticais/webnotícia pirâmide deitada – 20% da nota
Webnotícia em stories – 20% da nota
Gestão de conteúdo redes sociais digitais – 20% da nota
Bibliografia sugerida:
CANAVILHAS, J. (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a
diferença. 1ª ed. Covilhã: Livros Labcom, 2014. 183p.

CANAVILHAS, J. Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide deitada.


2006. Disponível em < https://bit.ly/1WaOiBw >. Acesso em: 2 jan. 2017.

BELL, E. et al. The Platform Press. How silicon valley reengineered journalism.
Tow Center for Journalism. Columbia Journalism School: 2017.

BOLTER, J.; GRUSIN, R. Remediation: understanding new media. MIT Press,


2000.

BRUNS, A. Gatewatching: collaborative online news production. New York: Peter


Lang, 2005.

JENKINS, H.; FORD, S.; GREEN, J. Cultura da conexão: criando valor e


significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.

JENKINS, H. Cultura da Convergência. Tradução de Susana Alexandria. São


Paulo: Aleph, 2008.

LANDOW, G. Hipertexto 3.0. Teoría crítica y los nuevos medios en la era de la


globalización. Barcelona: Paidós, 2009.

LÉVY, P. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34,
2003.

____________. A inteligência coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço. 8ª


edição. São Paulo: Edições Loyola, 2011.

MIELNICZUK, L.. Características e implicações do jornalismo na Web. 246f.


Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporânea). Universidade
Federal da Bahia, Salvador, março de 2003. Disponível em: <
https://bit.ly/2dgL8wR >. Acesso em: 2 jan. 2022.

RECUERO, R. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

ROVAI, R. Um novo ecossistema midiático: a história do jornalismo digital no


Brasil. Primera edición. Buenos Aires: CLACSO, 2018. Disponível em:
<http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/se/20181101012635/Um_novo_ecossistema.
pdf>. Acesso em: 18 fev. 2022.

SALAVERRIA, R.; NEGREDO, S. Periodismo Integrado. Convergencia de


medios y reorganización de redacciones. Barcelona: Editorial Sol 90, 2008.

THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 15ª ed.


Editora Vozes Limitada, 2014.
2.2 LABORATÓRIO EM JORNALISMO ON-LINE (5º. TERMO)

Ementa: Introdução às produções on-line. Características do jornalismo on-line.


Tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) na World Wide Web.
Recursos multimídia e hipermídia no jornalismo on-line. Análise dos produtos
jornalísticos on-line. O leitor e o produtor on-line.

Objetivos:
- Realizar produções práticas no âmbito do jornalismo digital.
- Distinguir conceitualmente e procedimentalmente produtos jornalísticos digitais
variados, como o webdocumentário; as narrativas long form, dentre elas a reportagem
hipermídia; e formatos híbridos, como os bots noticiosos, os agregadores de
conteúdo, a galeria de imagens interativa; projetos de realidade virtual ou realidade
aumentada; e os newsgames.
- Analisar criticamente o modo de fazer jornalístico voltado à web, bem como os
produtos jornalísticos digitais.
- Refletir sobre a diferença no contexto de consumo e produção de informação: os
tipos de leitores e o jornalismo participativo.
- Reconhecer convergências e limites entre o editorial e o publicitário, entendendo e
aplicando técnicas de webwriting, copywriting e SEO (search engine optimization).

Metodologia:
Aprendizagem integrada por projetos; leitura de textos-base; aulas dialogadas; utilização
de slides, vídeos e áudios para apresentação de imagens, conceitos, cases e resumos;
aplicação de conteúdo na prática, com o uso de ferramentas digitais gratuitas; técnicas de
metodologias de aprendizagem ativa, como mapas conceituais, quizzes, estudos de caso,
aprendizagem em espiral, debates, entre outros.

Conteúdos Programáticos:
1 – Transformações do jornalismo digital
1.1 O que muda na leitura na internet? O papel do usuário na produção jornalística
(jornalismo colaborativo/participativo)
1.2 Análise de distintos produtos midiáticos digitais. A responsividade. O
imperativo mobile. Reflexões críticas sobre as métricas de audiência web.
1.3 Limites e convergências entre conteúdos jornalísticos e publicitários –
publieditorial, branded content, copywriting, webwriting e SEO.

2 - Narrativas especiais no jornalismo on-line


1.4 Webdocumentário
1.5 Newsgames
1.6 Storytelling; realidade virtual e aumentada
1.7 Chatbots e agregadores de conteúdo
1.8 Reportagem hipermídia

3- Distribuição e fluxos da comunicação


3.1 Jornalismo multi, cross e transmídia
3.2 A super-distribuição das redes sociais digitais
3.3 As respostas sociais da comunicação em fluxos
3.4 Desinformação e “fake news”

4 - Avaliação:
Criação de site em plataforma gratuita (grupo) - 20% da nota
Produção de webdocumentário interativo (grupo), fruto de TII – 50% da nota
Reportagem hipermídia de mesmo tema do webdoc (grupo) – 20% da nota
Gestão de conteúdo redes sociais digitais (grupo) – 10% da nota

Bibliografia sugerida:
ANDERSON, C.; BELL, E.; SHIRKY, C. Jornalismo pós-industrial: adaptação aos
novos tempos. Revista de Jornalismo ESPM, ed. 5, p. 30-89. São Paulo, 2013.

ANDERSON, K. Beyond the article: frontiers of editorial and commercial


innovativon. Reuters Institute for the Study of Journalism. Universidade de Oxford:
2017.

COSTA, C. T. Um modelo de negócios para o jornalismo digital. Revista de


Jornalismo ESPM, v. 9, p. 51-115, São Paulo, 2014.

MURRAY, J. Hamlet no holodeck. O futuro da narrativa no ciberespaço. Trad.


Elissa Khoury Daher, Marcelo Fernandez Cuzziol. São Paulo: Itaú Cultural:
UNESP, 2003.

PAVLIK, J. Journalism and new media. New York: Columbia University Press,
2001.

RENÓ, D. P. Cinema interativo e linguagens audiovisuais interativas: como


produzir. Tenerife: Editorial ULL, 2011.

RENÓ, D. P.; FLORES, J. Periodismo transmedia. Madrid: Fragua, 2012.

SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo.


São Paulo: Paulus, 2004.

SCOLARI, C. A. Narrativas transmedia: cuando todos los medios cuentan.


Barcelona: Deusto, 2013.

SCHWINGEL, C.; ZANOTTI , C. A. (org.). Produção e colaboração no


Jornalismo Digital. Florianópolis: Editora Insular, 2021.

SOSTER, D. de A.; LIMA JÚNIOR, W. T. Jornalismo digital: audiovisual,


convergência e colaboração. Santa Cruz do Sul, RS: Ed. da UNISC, 2011.
2.3 JORNALISMO DE DADOS (7º. TERMO)

Ementa: Origens do jornalismo de dados e as diferenças do jornalismo convencional.


Práticas do jornalismo de dados a partir da interdisciplinaridade de conhecimentos.
Desenvolvimento de etapas de busca, extração, limpeza, análise e visualização de
dados jornalísticos a partir de conteúdos disponíveis na rede. Produção de
reportagens investigativas em plataformas complexas.

Objetivos:
- Compreender as raízes da investigação baseada em dados no jornalismo de precisão.
- Entender o papel das metodologias científicas no jornalismo de dados.
- Situar o papel da RAC (reportagem assistida por computador) para o jornalismo
investigativo.
- Refletir sobre o trabalho do jornalista de dados: colaboração entre pares, contato
com tecnoatores, trabalho remoto e competências interdisciplinares necessárias.
- Analisar distintos formatos de jornalismo de dados: televisivo, audiovisual,
impresso, digital.
- Fortalecer reportagens e notícias com a credibilidade presente no manejo
transparente e rigoroso dos dados.
- Trabalhar dados contra a desinformação: o uso de JD em fact-checking e notícias
em geral.
- Compreender e colocar em prática os passos da investigação baseada em dados:
busca e extração, limpeza, análise e visualização de dados.

Metodologia:
Visita técnica a redações que trabalham com jornalismo de dados. Métodos de
aprendizagem ativa: entrevistas jornalísticas e entrevistas em profundidade com jornalistas
de dados e tecnoatores. Produção de reportagem investigativa com base em extração de
dados ou solicitação via Lei de Acesso à Informação, cuja apresentação se dará on-line
(reportagem hipermídia ou infografia animada). Leitura de textos-base; aulas dialogadas;
utilização de slides, vídeos e áudios para apresentação de imagens, conceitos, cases e
resumos.

Conteúdos Programáticos:
1 – Jornalismo de dados: origens
1.1 História do jornalismo investigativo; o jornalismo de precisão e a reportagem
assistida por computador (RAC)
1.2 Análise de projetos jornalísticos baseados em dados. O Wikileaks, Panama
Papers, Pandora Papers e o hackativismo.
1.3 A redação híbrida do jornalismo de dados: jornalistas, estatísticos, designers,
programadores. Desafios e novas configurações.
1.4 Etapas básicas de toda investigação baseada em dados

2 – Etapa 1: Busca e extração


2.1 O que são base de dados; Big Data
2.2 Onde buscar dados; busca avançada do Google
2.3 Extração via LAI; importando dados de sites
2.4 Extração com WebScraper
2.5 Extração manual
2.6 Arquivos e particularidades: csv, xls, pdf
2.7 Hackativismo X Jornalismo colaborativo: compartilhamento de bases de dados

3 – Etapa 2: Limpeza
3.1 Dados estruturados e não-estruturados: empecilhos ao acesso à informação
3.2 Limpando os dados no Excel
3.3 Estruturando os dados
3.4 Mitigando vieses e pré-análise: tabelas dinâmicas

4 – Etapa 3: Análise
4.1 Definindo variáveis
4.2 Utilizando ferramentas gratuitas para análise: Google Sheets
4.3 Aprendizado de máquina e noções de programação

5 – Etapa 4: Apresentando os dados


5.1 Infografia e infografia animada
5.2 Visualização de dados
5.3 Utilizando ferramentas gratuitas: Infogram; Tableau, Google Data Studio e
Flourish

6 – Boas práticas e serviço público


6.1 Recortes enviesados: aspectos éticos
6.2 Fact-checking
6.3 Monitoramento e análise de métricas

7 - Avaliação:
Seminário com jornalistas de dados (grupo) - 40% da nota
Produção de reportagem hipermídia baseada em dados – 60% da nota

Bibliografia sugerida:
ASSIS, J. C. Os sete mandamentos do jornalismo investigativo: inteligência, ética e
coragem na construção da reportagem. São Paulo: Textonovo, 2015.

CAIRO, A. Como os gráficos mentem: ficando mais esperto sobre informações


visuais. WW Norton & Company, 2019.

CANAVILHAS, J. et al. Jornalistas e tecnoatores: dois mundos, duas culturas, um


objetivo. Esferas. Ano 3, no 5, p. 85 a 95, Julho a Dezembro de 2014.

BURGH, H.; LUSVARGHI, L. Jornalismo investigativo: contexto e prática. São


Paulo: Roca, 2008.

DADER, J. L. Periodismo de precisión. Madrid: Sintesis, 1997.

GREY, J.; CHAMBERS, L.; BOUNEGRU, L. O manual de jornalismo de dados:


como os jornalistas podem usar os dados para melhorar as notícias. "O'Reilly
Media, Inc.: 2012.
KIRK, A. The little of visualization design. Disponível em: <
https://www.visualisingdata.com/2016/03/little-visualisation-design/> . Acesso em:
16 fev 2022.

LÁZARO JUNIOR, J. et al. Jornalismo de dados: Conceitos, rotas e estrutura


produtiva. Curitiba: Intersaberes, 2018

MEYER, F. Jornalismo de precisão: a introdução de um repórter aos métodos das


ciências sociais. Editora Rowman & Littlefield, 2002.

RENÓ, L. Manual de Periodismo de Dados. Aveiro: Ria Editorial, 2018. Disponível


em: < http://www.riaeditorial.com/index.php/manual-dejornalismo-de-dados/ >.
Acesso em: 10 jan. 2022.

TOURAL, C. CORONEL, G. FERRARI, P. (orgs). Big Data e Fake News na


sociedade do (des)conhecimento. 2a. Ed. Aveiro: Ria Editorial, 2020. Disponível
em: <http://www.riaeditorial.com/index.php/bigdata-e-fake-news-na-sociedade-do-
esconhecimento/ >. Acesso em: 18 fev. 2022.

VASCONCELOS, F. Anatomia da reportagem: como investigar empresas, governos


e tribunais. São Paulo: Publifolha, 2008.
3. PLANO DE ATIVIDADES PARA A PÓS-GRADUAÇÃO

Como docente da pós-graduação, seja junto ao programa de Pós-Graduação em


Comunicação ou ao Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia do campus da
Unesp de Bauru, intenciona-se ministrar a disciplina abaixo, relacionada ao tema do
projeto de pesquisa apresentado no início deste documento, especificamente sobre o papel
do jornalismo como contrapoder em relação à miríade de desinformação circulante na
esfera pública.
Ressalto aqui também o objetivo de orientar pesquisas em nível de pós-graduação,
com ou sem bolsa, que sejam articuladas às teorias e/ou metodologias trabalhadas nesta
proposta de disciplina para a pós-graduação. Para que isso se materialize, seria importante
a criação de um grupo de pesquisa próprio, com linha de pesquisa e objetivos bem-
definidos, e a participação de estudantes da Unesp em diversos níveis, bem como outros
docentes parceiros.
A seguir, informações sobre a disciplina. Ao final, encontra-se tabela com
cronograma estimado para a condução das aulas, com apontamento de metodologias
ativas de aprendizagem na última coluna da tabela.

POLIFONIA E DISTOPIA: A (DES)INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA


SOCIDADE MIDIATIZADA

Ementa: O papel central da mídia nos processos sociais. O virtual, a cibercultura, a


inteligência coletiva, a cultura de convergência e de conexão. Múltiplas vozes, zero
fronteiras: movimentos sociais e impactos políticos. Educação, ciência, religião e cultura
midiatizadas. Bolhas de informação e mecanismos algorítmicos. Miríade informativa e o
jornalismo interativo: colaboração, narrativas, desafios.

Objetivos: Apresentar reflexões teóricas e metodológicas sobre a comunicação a partir


da ótica da teoria da midiatização, na qual considera-se que os meios de comunicação
engendram novas formas de sociabilidade. Discutir as consequências da transição da
sociedade dos meios para a sociedade midiatizada, observando-se aspectos relacionados
ao coletivo e também ao indivíduo. Compreender o protagonismo das mídias digitais e
em rede para a articulação de movimentos insurgentes em níveis nacional e global, bem
como em diversos campos sociais, como o político, o da religião, do consumo e cultural.
Debater o uso estratégico da informação e o papel do jornalismo na contemporaneidade,
principalmente no combate à desinformação.
Conteúdos programáticos:

1. Da sociedade dos meios à sociedade midiatizada: marcos e transformações.


Campos sociais e a mídia. Comunicação em fluxos/circuitos comunicacionais.
2. Polifonia em rede. Da desintermediação à cibercultura. A inteligência coletiva:
fandom, trabalho imaterial; crowdsourcing. A insurgência em rede – utopias e
distopias.
3. O lugar do jornalismo na sociedade midiatizada. Hipermídia, crossmídia,
transmídia. O jornalismo pós-industrial. Novos formatos. O imperativo da
audiência web e as fronteiras “maleáveis” entre publicidade e entretenimento.
4. Bolhas ideológicas e a pós-verdade. Mecanismos algorítmicos e a desinformação.
Pós-verdade, “fake news” e vieses de confirmação. A problemática da pós-recepção
em rede. Educação midiática. Desafios legislativos, técnicos e éticos.
5. Jornalismo de dados e fact-checking. Da inclusão de métodos científicos ao
manejo de base de dados. Novas configurações da redação jornalística.
Visualização de dados. Checagem e recirculação de narrativas: limites e efeitos.
6. O metaverso e a hipermediação da existência. Imediação, remediação e
hipermediação. Jornalismo e gamificação. Webdocs imersivos. Novos modos de
ser e de sentir: os impactos para os profissionais do campo da Comunicação.

Referências:
ANDERSON, C. A Cauda Longa: do Mercado de massa para o Mercado de nicho.
Tradução Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2ª reimpressão, 2006.

BARROS, L. M. Recepção, mediação e midiatização: conexões entre teorias europeias


e latino-americanas. In: MATTOS, M.A.; JANOTTI JÚNIOR, J.; JACKS, N. (orgs.).
Mediação e Midiatização. Livro Compós 2012. Salvador: EDUFBA, 2012. p. 79-105.

BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: understanding new media. MIT Press,


2000.

BOURDIEU, P. O campo político. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 5, p. 193-


216, 2011.

BRAGA, J. L. Circuitos versus Campos Sociais. In: MATTOS, M. Â.; JANOTTI


JÚNIOR, J.; JACKS, N. (orgs.). Mediação e Midiatização. Livro Compós 2012.
Salvador: EDUFBA, 2012. p. 31-52

BRAGA, J. L. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica midiática.


Paulus, 2006.

BRIGGS, A.; BURKE, P. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet.


Tradução Maria Carmelita Pádua Dias. 2ª. edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

CASTELLS, M. Ruptura: a crise da democracia liberal. Editora Schwarcz-Companhia


das Letras, 2018.

_____________. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da


Internet. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
FAUSTO NETO, A. Fragmentos de uma analítica da midiatização. Matrizes, v. 1, n. 2,
p. 89-105, 2008.

HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma


categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

HARDT, M.; NEGRI, A. Império. Rio de Janeiro: Record, 2010.

HJARVARD, S. Midiatização: teorizando a mídia como agente de mudança social e


cultural. Matrizes, v. 5, n. 2, p. 53-91, 2012.

HEPP, A. As configurações comunicativas de mundos midiatizados: pesquisa da


midiatização na era da “mediação de tudo”. Matrizes, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 45-64,
jan-jun 2014.

ITO, L. L. A (r)evolução da reportagem: Estudo do ciclo da reportagem hipermídia, da


produção às respostas sociais. Aveiro: Ria Editorial, 2019.

JENKINS, H.; FORD, S.; GREEN, J. Cultura da conexão: criando valor e significado
por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.

JENKINS, H. Cultura da Convergência. Tradução de Susana Alexandria. São Paulo:


Aleph, 2008.

LÉVY, P. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2003.

________. A inteligência coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço. 8ª edição. São


Paulo: Edições Loyola, 2011.

MARTÍN-BARBERO, J. Ofício de cartógrafo. Edições Loyola, 2004.

____________________. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia.


In: Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Editora UFRJ, 1997.

PRIMO, A. Industrialização da amizade e a economia do curtir: estratégias de


monetização em sites de redes sociais. A insustentável leveza da web: retóricas,
dissonâncias e práticas na sociedade em rede. Salvador: EDUFBA, 2014, p. 109-129.

RENÓ, D. P. Transmedia Journalism and the New Media Ecology: Possible Languages.
In: RENÓ, Denis Porto et al (org). Periodismo Transmedia: miradas múltiples.
Barcelona: Uoc, 2014. p. 3-19.

SCOLARI, C. A. Narrativas transmedia: cuando todos los medios cuentan. Barcelona:


Deusto, 2013

SODRÉ, M. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede.


Petrópolis: Vozes, 2002.

THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 15ª ed.


Editora Vozes Limitada, 2014.
VERÓN, E. El cuerpo de las imágenes. Buenos Aires: Editorial Norma, 2001.

Programação das aulas:


Conteúdo Metodologia ativa
Aula 1 Apresentação da disciplina (plano de ensino, Uso da ferramenta
metodologia, bibliografia). Explicação sobre mentimeter para
procedimento avaliativo (produção de um artigo construção de nuvem de
científico com até 15 páginas de caráter tags sobre expectativas
teórico/empírico e seminário). em relação à disciplina
Aula 2 Para compreender sobre o estabelecimento da Divisão da turma em
sociedade dos meios e a evolução para a grupos para leitura e
sociedade midiatizada, trabalharemos os textos reflexão sobre trechos
de Eliseo Verón; Stig Hjavard e Andreas Hepp selecionados dos textos
Aula 3 A midiatização está intrinsecamente ligada à Na segunda parte da
virtualização, à desterritorialização, ao aula, abriremos para um
ciberespaço e à inteligência coletiva. Serão debate coletivo sobre a
articulados os textos de Piérre Levy: O que é o inteligência coletiva em
Virtual? e A Inteligência Coletiva. 2022. Realidade ou
utopia?
Aula 4 A cibercultura consolida-se a partir do momento Construção coletiva
em que emergem mídias interativas, conectadas (metodologia da
em rede. A polifonia em rede relaciona-se a aprendizagem em
fenômenos típicos da cibercultura, como o espiral) sobre o conceito
fandom, trabalho imaterial e o crowdsourcing. A de cibercultura
mudança no consumo e na produção cultural
baseiam-se no conceito de cauda longa. Assim,
serão articulados os textos de Henry Jenkins,
Hardt e Negri, Chris Anderson e Alex Primo.
Aula 5 Serão apresentadas intersecções entre a Teoria Comparação crítica
das Mediações de Martín-Barbero e a Teoria da entre conceitos por
Midiatização, a partir da ótica de Laan Mendes parte dos alunos
de Barros.
Aula 6 No Brasil, José Luiz Braga dá corpo ao conceito Identificação de
de midiatização. Assim, serão apresentados dispositivos de crítica
conceitos do pesquisador, como os três sistemas midiática por parte dos
do fluxo comunicacional, a resposta social, a alunos, a partir de
comunicação em fluxos e circuitos. Articulação exemplos apresentados
dos textos de José Luiz Braga e Antonio Fausto pela docente
Neto.
Aula 7 Apresentação de caminhos metodológicos para Construção individual
pesquisar com base na teoria da midiatização: do esboço do objeto e
exemplos. da metodologia do
artigo final da disciplina
- orientações
Aula 8 Quais impactos na esfera privada e na vivência Roda de conversa sobre
coletiva são trazidos pelas tecnologias digitais experiências pessoais,
de informação e comunicação? Serão articulados com vistas a relacioná-
novos modos de ser, conviver e de sentir; bem las aos conceitos
como os conceitos de imediação e a apresentados em aula.
hipermediação. Textos-base: Antropológia do Discussão sobre o
Espelho, de Muniz Sodré; Industrialização da metaverso e a
Amizade, de Alex Primo e Remediation, de imediação do cotidiano.
Bolter e Grusin.
Aula 9 A insurgência em rede – possibilidades, utopias Discussão em grupos
e distopias. Leitura de Cultura da Conexão, de sobre movimentos
Henry Jenkins; Redes de Indignação e insurgentes organizados
Esperança e Ruptura, ambos de Manuel Castells. em rede, ocorridos no
exterior e no Brasil.
Aula 10 Discussão de conceitos centrais da obra de Debate coletivo sobre
Habermas, Mudança estrutural da esfera os conceitos de
pública, essencial para abordar a influência da Habermas e fenômenos
mídia na opinião pública na atualidade, bem recentes no que diz
como problematizar questões complexas, como respeito à
as bolhas ideológicas; desinformação e os desinformação
mecanismos algorítmicos de distribuição estimulada por bots e
informativa. algoritmos.
Aula 11 A partir do conceito de campo, de Pierre Divisão da turma em
Bourdieu, e da leitura do texto de Verón, El duplas ou trios a fim de
cuerpo de las imágenes, com especial enfoque discutir a inserção da
no caso da eleição de François Mitterrand, será mídia como elemento
mostrada a transição dos meios de comunicação central em campos
de outsiders a protagonistas em campos sociais sociais distintos, como o
diversos. Discussão sobre o ano eleitoral de religioso, o científico, o
2022 no Brasil. esportivo, dentre outros.
Aula 12 O jornalismo é uma das atividades sociais que Brainstorming feito de
mais sofre influências da circulação de forma coletiva com a
mensagens em dispositivos diversificados de ferramenta padlet, a fim
crítica midiática. Para abordar sobre a pós- de levantar pontos
recepção no Jornalismo, será utilizado o estudo correlatos, positivos,
de caso presente no livro A (R)evolução da negativos ou neutros
Reportagem, de Liliane Ito. acerca da liberação do
pólo emissor
Aula 13 O que Matrix, Snow Fall, Harry Potter e League Apresentação de
of Legends têm em comum? Na sociedade estudos de caso +
midiatizada, o usuário deixa a passividade e comentários de alunos e
mergulha em narrativas convergentes. alunas
Utilizando-se de tais exemplos da cultura pop e
do jornalismo, serão trabalhados os conceitos de
hipermídia, crossmídia e transmídia, a fim de
debater sobre o consumo de produtos culturais
na contemporaneidade. Textos-base: Denis Renó
e Carlos Scolari.
Aula 14 Apresentação de investigações que serão Seminário
realizadas pelos discentes e se tornarão os
artigos de conclusão de disciplina
Aula 15 Recebimento dos artigos e finalização da -
disciplina
4. PLANO DE AÇÕES PARA A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Nome do projeto de extensão: Transparência e Dados contra a Desinformação

Objetivo: Promover o debate junto ao público jovem, oriundo de escola pública


bauruense, sobre razões, mecanismos e consequências da desinformação. A partir disso,
realizar encontros entre o público extensionista e discentes da Unesp para informar e
treinar tais alunos a buscar e solicitar dados públicos via Lei de Acesso à informação;
bem como manejar tais dados visando ao combate à desinformação.

Fundamentação teórica:
Conforme descrito pela OMS, a infodemia é um fenômeno que ganha força em
períodos determinados, nos quais um mesmo assunto causa uma intensa disseminação de
informações – falsas e verdadeiras. Neste ano especificamente, 2022, a infodemia
potencialmente versará também sobre a temática da eleição presidencial brasileira.
Assim, investigar a atuação do jornalismo, mais especificamente o jornalismo de dados,
na contracorrente desinformativa pode esclarecer sobre a relevância e os desafios da
profissão dentro deste cenário.
Vale ressaltar que a desinformação não fica restrita apenas aos ambientes virtuais
nos quais é mediada. Suas consequências reverberam em ideias e ações que, muitas
vezes, prejudicam todo um coletivo. É o caso da desinformação a respeito de
medicamentos comprovadamente ineficazes ao Covid-19, como a ivermectina,
hidroxicloroquina e cloroquina. Alardeados pelo presidente e por seus apoiadores como
sendo alternativas ao Covid, devendo ser utilizados como tratamento precoce, tais
medicamentos tiveram alta no consumo na ordem de 857%, para ivermectina; e 126%
para hidroxicloroquina, entre abril de 2020 e março de 2021 (ANDRÉ, 2021, on-line).
O país é o único no mundo onde mentiras sobre o uso de cloroquina no combate
à Covid-19 ainda circulam pelas redes sociais digitais, sendo motivadas principalmente
por questões políticas e ideológicas, segundo a pesquisa Scientific (self) isolation (2020).
As consequências do uso irracional de tais medicações podem estar causando um aumento
considerável nas infecções resistentes no Brasil e em outros países americanos, como
indica a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), órgão da OMS nas Américas.
“Os dados mostram que mais de 90% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 nas
Américas receberam um antimicrobiano, enquanto apenas 7% deles necessitaram desses
medicamentos para tratar uma infecção secundária” (OPAS, 2021, on-line).
Como fora pontuado anteriormente, a desinformação obedece a estratégias mais
amplas de convencimento coletivo, servindo muitas vezes como elemento distrator em
relação a crises e assuntos realmente importantes para a população. Reportagem baseada
em dados da Agência Pública esmiuçou como o governo Bolsonaro conseguiu turbinar a
produção de cloroquina e enviar 2,8 milhões de comprimidos do composto para todo o
Brasil5. Ao menos R$ 23,4 milhões foram gastos em publicidade sobre o chamado
“tratamento precoce” em veículos de comunicação como Rádio, TV e em espaços
públicos como outdoors (ROCHA, 2021). Foram gastos R$ 23 mil com marketing de
influência, sendo que nenhum dos influencers citava, em seus vídeos, a importância do
isolamento social no combate à disseminação de Covid-19. (FLECK; MARTINS;
FERNANDES, 2021, on-line)
Num momento no qual as verbas públicas são gastas em desinformação, torna-se
ainda mais essencial o trabalho do jornalismo como metassistema perito (MIGUEL,
1999), já que este pode, por meio de levantamento de dados, indicar incoerências,
supostos desvios e corrupção, amplificando a informação para o público. Um dos
problemas é que a informação inverídica tende a ser espalhada muito mais vezes do que
a informação verdadeira. Segundo estudo de Vosoughi, Roy e Aral (2018), que investigou
mentiras e informações verdadeiras disseminadas no Twitter entre 2006 e 2017,

a falsidade se difundiu significativamente mais longe, mais rápido, mais


profunda e mais amplamente do que a verdade em todas as categorias de
informação, e os efeitos foram mais pronunciados para notícias políticas falsas
do que para notícias falsas sobre terrorismo, desastres naturais, ciência, lendas
urbanas ou informações financeiras. (VOSOUGHI et al, 2018, on-line,
tradução minha).

Entre as razões apontadas para a crença e disseminação maiores quando se trata


de informações falsas está o fato de que as mentiras frequentemente inserem novos
“dados” sobre os assuntos em voga, sejam eles inventados, enganosos, fora de contexto
ou manipulados.

5
Disponível em: < https://apublica.org/2021/03/o-mapa-da-cloroquina-como-governo-bolsonaro-enviou-
28-milhoes-de-comprimidos-para-todo-o-brasil/#Link1 >
A manipulação informacional é muito comum em corridas eleitorais, mas ganha
um sofisticado modus operandi no contexto das tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC). Exemplo emblemático são as eleições norte-americanas de 2016.
Naquele momento, a sociedade estadounidense, amplamente conectada à Internet e
presente na rede social Facebook, foi exposta a peças de propaganda eleitoral que se
modificavam conforme as características do perfil de cada usuário. Assim, não fora
preciso necessariamente mentir – mas pôde-se omitir e manipular informações à vontade,
destacando determinadas características do então candidato Donald Trump que fossem
sensíveis para determinados perfis psicológicos dos usuários. Combinando estratégias de
comunicação aos dados extraídos ilegalmente das contas de 50 milhões de usuários do
Facebook, a empresa Cambridge Analytica apresentava diferentes peças de propaganda
sobre Trump, a fim de acertar certeiramente os usuários conforme suas predileções e
rejeições a temas nevrálgicos aos norte-americanos, como a imigração, por exemplo.
Todo o governo Trump foi marcado por desinformação, inclusive sua saída. De
acordo com pesquisa de John (2021), publicada na MIT Technological Review, o papel
dos influencers, principalmente entre os jovens, foi muito relevante para o espalhamento
de boatos que causaram pânico:

Uma adolescente olha seriamente para a câmera, o enquadramento se movendo


à medida que ela aponta o telefone para o rosto. Uma legenda sobreposta em
seu moletom dá um aviso sinistro: se Joe Biden for eleito presidente dos
Estados Unidos, “trumpistas” cometerão assassinatos em massa a indivíduos
LGBT e pessoas de cor. Uma segunda legenda anuncia: “esta é realmente a 3ª
Guerra Mundial”. Esse vídeo foi postado no TikTok em 2 de novembro de
2020 e foi curtido mais de 20.000 vezes. Naquela época, dezenas de outros
jovens compartilharam avisos semelhantes nas redes sociais, e suas postagens
conquistaram centenas de milhares de visualizações, curtidas e comentários.
(JOHN, 2021, on-line)

Para a pesquisadora, crianças e jovens (na faixa dos 9 aos 24 anos) são mais
propensos a acreditar, não checar e compartilhar informações falsas quando sentem
identificação com a pessoa que a compartilhou inicialmente, o que os tornam ainda mais
vulneráveis à desinformação sobre as temáticas de afinidade entre tais usuários.
Já a pesquisa Verdades e Mentiras – As meninas na era da desinformação e das
fake news (2021), conduzida pela organização não-governamental Plan International,
mostrou que um terço das 26 mil meninas entrevistadas passam mais de 12 horas
conectadas à Internet por dia. Apesar do recorte de gênero – a pesquisa visou meninas e
jovens mulheres de 33 países diferentes – o tempo elevado de conexão dá pistas sobre o
quão central é o papel do consumo de Internet e redes sociais por parte do público jovem
em geral.
Mais tempo conectados propicia exposição maior a diversos conteúdos
midiáticos, dentre eles os falsos e enganosos. A pesquisa, que é o primeiro estudo com
foco no cruzamento entre gênero e desinformação, mostrou que os efeitos da mesma no
público jovem feminino são impactantes. 67% das entrevistadas nunca foram ensinadas
a identificar informações falsas na escola; 44 % não têm certeza ou acha que não consegue
detectar desinformação on-line; 87% disseram que as “fake news” têm consequências
negativas diretas para suas vidas, o que equivale a quase 9 entre 10 garotas (PLAN
INTERNATIONAL, 2021).
Entre o público jovem pode haver a falsa ideia de que, devido ao fato de serem
nativos digitais, sabem identificar conteúdos falsos e agir de maneira adequada em
comparação a gerações mais velhas. Pesquisa qualitativa de 2019 com 23 jovens de 20 a
24 anos na capital do Pará mostrou que, entre a amostra, foi praticamente consenso que
“fake news” são compartilhadas com maior constância por gerações mais velhas. O
choque geracional contrasta, no entanto, com a inabilidade da mesma amostra abordada
em identificar desinformação, como ficou provado nos grupos focais feitos no estudo.
“Os resultados mostram, entre outros, insegurança e dificuldade em identificar o que é
verdadeiro e em quem confiar quando tratamos de notícias que circulam pela internet”
(FAGUNDES et al, 2021, p. 1).
Deve-se, portanto, desmistificar a ideia de que o público jovem é mais preparado
para as mídias. Ao mesmo tempo, é uma fatia geracional que, muitas vezes, pode ser vista
pelas pessoas mais velhas em círculos sociais próximos, como o familiar, como “experts”
nas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), como mostra a pesquisa
TIC Kids Online Brasil (2020), do Comitê Gestor de Internet no Brasil (Cetic.BR).
Segundo dados da pesquisa, crianças e adolescentes são um público que consome cada
vez mais Internet no País, e uma das ações rotineiras é ajudar pais em atividades on-line
- 29% dos usuários de Internet de 9 a 17 anos disseram auxiliar pais ou responsáveis a
fazer algo na web diariamente; e 28% auxiliam ao menos uma vez na semana. Assim,
ressalta-se aqui a importância de ações direcionadas ao público jovem que objetivem a
educação midiática e o combate à desinformação, já que muitas vezes é este público quem
irá manejar as tecnologias de comunicação digital em uma família.
Metodologia:
Parte do projeto de pesquisa “Narrativas baseadas em dados - contributos ao
resgate da credibilidade jornalística no contexto da desinformação”, apresentado no início
deste documento, este item diz respeito ao desenho metodológico do projeto
extensionista. Assim, o início da investigação contemplará a revisão bibliográfica e
pesquisa documental sobre os seguintes temas: nativos digitais; conflitos geracionais;
consumo de informação a partir do recorte geracional; desinformação e público jovem;
metodologias ativas de ensino-aprendizagem, dentre outros. O intuito é sustentar, em
termos de referências, as etapas práticas do projeto extensionista.
Para a execução da fase extensionista da investigação, intenciona-se utilizar o
método da pesquisa participante e pesquisa-ação (PERUZZO, 2015), uma vez que estas
consideram os processos de comunicação em campo entre pesquisadores e público
pesquisado como essencial, respeitando a valorização de saberes individuais de todos os
envolvidos. Os momentos de interação são cruciais para o desenvolvimento da confiança,
como também para o diagnóstico inicial de suas demandas específicas e, dessa maneira,
para que as ações sejam construídas em conjunto com a população envolvida.
Na História da extensão universitária, houve fases nas quais acreditava-se que o
repertório acadêmico era superior a outros conhecimentos, como os vindos de uma
comunidade. Atualmente, após a evolução do conceito de extensão universitária, a ideia
de uma comunhão de saberes é a que rege os projetos de extensão na Unesp:

Inaugura-se então, a quarta geração da Extensão Universitária: da ação COM


a sociedade, do impacto social e político resultante da construção de
conhecimento em diálogo democrático com a sociedade, da tecnologia social,
do empreendedorismo social e das políticas públicas estratégicas (UNESP,
2017, p. 4)

Dessa maneira, intenciona-se realizar um (ou mais encontros) com o público


almejado: alunos de escola pública do ensino fundamental e médio. O ideal é que estes
encontros sejam oportunidades para a troca de ideias, conceitos e o esclarecimento entre
os públicos envolvidos.
Inicialmente, planeja-se realizar este primeiro encontro no próprio ambiente
agregador e comum aos estudantes envolvidos, ou seja, a escola pública em questão, se
possível, dentro da programação normal de aulas. Imagina-se que o contraturno traria
empecilhos à participação dos estudantes nas rodas de conversa iniciais.
Nestes encontros, serão construídos em conjunto o conceito de desinformação,
suas causas, origens, manifestações atuais e o papel da mídia interativa.
Pretende-se solicitar previamente autorização da direção da escola e da Secretaria
Municipal de Ensino de Bauru para a condução dos encontros; dessa maneira, a presença
dos pesquisadores será planejada e, uma vez autorizada, terá como características: a
revelação das identidades e funções dos pesquisadores; sendo formalizada (ou seja,
autorizada formal e previamente) e também do tipo periférica, ou seja, os pesquisadores
não se inserem integralmente vivenciando todos os momentos dos estudantes de escola
pública, mas sim apenas nos momentos de troca que têm relação com o objeto de estudo
(PERUZZO, 2015).
A pesquisa participante e a pesquisa-ação são bastante semelhantes, sendo que
ambas poderiam ser inseridas numa metodologia de pesquisa ainda mais ampla, a de
observação participante. No caso da pesquisa-ação, o traço mais característico e
convergente a este plano é: “[...] o propósito de contribuir para solucionar alguma
dificuldade ou um problema real do grupo pesquisado” (PERUZZO, 2015, p. 138). Ou
seja, o objetivo é trocar saberes e orientar, a partir de conhecimentos do campo acadêmico
e profissional (jornalístico) maneiras de exercer a cidadania, no que tange à supervisão
dos poderes públicos.
Quando voltada às pesquisas em Comunicação, a pesquisa do tipo observação
participante (ou investigação etnográfica) é:

[...] realizada com a finalidade de observar comportamentos de pessoas em


relação aos meios de comunicação pressupõe a inserção do pesquisador no
ambiente investigado (uma família, uma gangue, um grupo profissional, uma
comunidade etc.) e, em geral, objetiva observar como se processa a recepção
das mensagens dos mass media, como elas são entendidas, decodificadas e
reelaboradas. (PERUZZO, 2015, p. 136)

Durante o(s) primeiro(s) encontro(s) com os estudantes selecionados para


participar das ações extensionistas, vislumbra-se a aplicação de um questionário de
pesquisa de opinião que investigue tanto o conhecimento prévio do público sobre temas
como acesso à informação, transparência governamental, desinformação e big data
quanto temas que sejam do interesse dos alunos, que venham a emergir naquele momento.
A fim de garantir a visibilidade necessária ao projeto de extensão, pretende-se
trabalhar, com o apoio de estudantes de graduação, bolsistas ou voluntários, a
disseminação das etapas do projeto – e seus resultados – em perfis oficiais a serem criados
em redes sociais como o YouTube, Facebook, Instagram e LinkedIn, sempre creditando
e marcando a Unesp, a Faac e o curso de jornalismo.
A partir da tabulação e análise dos resultados obtidos na survey, pretende-se
ajustar as etapas posteriores da extensão universitária: o uso da Lei de Acesso à
Informação, com foco na explicação sobre a ferramenta Fala.BR e os sistemas em níveis
estaduais e municipais do tipo e-SIC; e, em momento posterior, a decodificação e possível
produção de visualizações dos dados obtidos, a partir de técnicas de limpeza, análise e
visualização de dados com ferramentas digitais gratuitas. Como nestas etapas intenciona-
se a participação de estudantes de graduação e de pós-graduação, que sejam vinculados
ou a este projeto de extensão ou ao grupo de pesquisa que será criado, espera-se contribuir
para a formação integral de tais estudantes da Unesp,

[...] pois a interação com outros setores da sociedade possibilitará a


compreensão real e crítica da realidade social, das questões prioritárias e
políticas das quais ele ou ela fará parte como profissional e cidadão, na
concepção de que na interação de saberes e pessoas há sempre aprendizado
para todos os envolvidos. (UNESP, 2017, p. 8)

Espera-se, assim, ao final deste projeto de extensão de exequibilidade prevista


para um ano, a conclusão de pesquisas extensionistas em nível de iniciação científica por
parte dos discentes envolvidos, além do mapeamento de necessidades do público jovem
periférico, bem como instruções e troca de conhecimentos a partir de tais demandas.
Vislumbra-se que o conhecimento sobre LAI e jornalismo de dados possa se tornar
base para tomadas de ação por parte dos alunos, seja para aplicações pontuais – como
trabalhos escolares, por exemplo – como também para atuarem como cidadãos ativos na
sociedade, que participam da vida pública, cobrando e fiscalizando diferentes esferas de
poder, contribuindo para o exercício pleno da cidadania.
Ações previstas de extensão:

Conversa sobre Lei de Oficina de manipulação


Acesso à Informação e e visualização de dados
Encontro inicial6
sistemas Fala.BR e e- com ferramentas
SIC gratuitas
Escola pública ou
Lugar e data Escola pública, outubro Escola pública, novembro laboratório de informática
da FAAC7, novembro
Conversa dirigida ao tema Oficina de manipulação de
Roda de conversa com
da transparência, bases de dados: limpeza,
alunos do ensino
governança, direitos e análise e visualização.
fundamental e médio,
Descrição deveres no que se refere às Observação de reportagens
durante o período de aula,
informações públicas. baseadas em dados.
com anuência da direção
Oficina de pedido de dados Aplicações em trabalhos
escolar.
via plataformas oficiais. escolares ou em projetos.

Duração 1 a 2 horas 1 hora 2 horas


Estrutura Sala ampla ou auditório,
Laboratório de informática Laboratório de informática
necessária com cadeiras
Técnicos de laboratório (no
Agentes caso do uso da
Pesquisadora, discentes de Pesquisadora, discentes de
envolvidos da infraestrutura da Unesp);
graduação e pós-graduação graduação e pós-graduação
Unesp pesquisadora, discentes de
graduação e pós-graduação
Exequibilidade Alta Alta Alta

Divulgação junto à Divulgação junto à Divulgação junto à


imprensa local; postagens imprensa local; postagens imprensa local; postagens
Ações de em perfis oficiais do projeto em perfis oficiais do projeto em perfis oficiais do projeto
visibilidade de extensão "Transparência de extensão "Transparência de extensão "Transparência
e Dados contra a e Dados contra a e Dados contra a
Desinformação" Desinformação" Desinformação"

6
Existe a possibilidade de haver mais de um encontro diagnóstico de conhecimento. Por isso, foi planejado
que esta etapa seria feita um mês antes das seguintes, caso seja necessário acrescentar outros encontros.
7
Nesta etapa, como alguns softwares livres precisam de uma estrutura técnica apropriada (velocidade de
internet, processamento dos computadores), imagina-se que, na impossibilidade de realização em
laboratório de informática da própria escola pública, a oficina seja ministrada nos laboratórios da Faac, com
anuência dos órgãos responsáveis e em data/hora que não conflitem com as atividades acadêmicas
habituais.
Referências
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maio 2021. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/saude/venda-de-
ivermectina-cresce-857-no-ultimo-ano/ >. Acesso em: 27 jan. 2022.

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Publicado em: 25 jul 2021. Disponível em: < https://mittechreview.com.br/por-que-a-
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uso indevido de antimicrobianos durante pandemia. Publicado em: 17 nov. 2021.
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resistentes-medicamentos-devido-ao-uso

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Proposta de Projeto de Extensão Universitária e Iniciação à Extensão Universitária.
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