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Resumo: No início dos anos 1990, a internet rompeu barreiras militares e acadêmicas e passou a ser de
acesso à população em geral. Com o surgimento do interesse de adaptação de computadores para os fins
de comercialização e a criação do World Wide Web (WWW), as interações humanas sofreram
alterações, o número de pessoas conectadas à rede não parou de crescer e, com isto, milhões de usuários
incorporaram o uso de recursos da internet ao dia-a-dia no trabalho e aos relacionamentos interpessoais.
A internet possibilitou a criação de novas maneiras de se relacionar, interagir, produzir e consumir
conteúdos postados por outros usuários, impactando diretamente na maneira como perceber e interagir
também no mundo físico. Com isto novos hábitos e modelos de subjetividade tomaram conta de
diferentes espaços remodelando a sociedade em diversos parâmetros. Isto, intensificado pelo surgimento
não só da Web 2.0 mas também pela ascensão da Web 3.0 e 4.0 ou “internet das coisas", estreitou ainda
mais a relação humano-máquina e possibilitou através de sua característica mobile o surgimento e
disseminação das plataformas digitais também conhecidas como redes sociais. Tais serviços permearam
a vida de pessoas através do globo e passaram a integrar suas vidas atribuindo características digitais a
seus relacionamentos. Para tanto, considerando a influência de tais serviços na vida das pessoas fez-se
importante a investigação da saúde mental e bem-estar daqueles que acessam a internet. Através das
dimensões do bem-estar psicológico em paralelo com a investigação do uso das redes sociais foi possível
inferir que existem impactos relacionados ao uso dessas novas tecnologias nas maneiras de ser e estar
dos usuários não só no mundo on-line mas também off-line, e portanto em sua saúde. Foram investigados
três jovens adultos com idade entre 25 e 27 anos, todos portadores de dispositivos com acesso a internet.
Por meio da aplicação de uma entrevista semiestruturada foram coletadas informações acerca do uso e
o significado que os participantes atribuem às redes sociais e impacto destas em seu bem-estar geral.
Com isto, é importante esclarecer que tal método de investigação pauta-se no objetivo geral deste
trabalho que consiste em investigar os impactos das redes sociais no Bem-Estar Psicológico (BEP) de
jovens adultos. Muito ainda há de ser discutido sobre o tema, e os resultados da pesquisa apontaram a
necessidade de investigação desta relação de maneira ainda mais ampla, com uma amostra de maior
representabilidade e por meio de outros instrumentos de investigação. Concluiu-se que com a rápida
difusão das redes sociais através do mundo, existe a necessidade de estudos mais aprofundados e
colaborativos com áreas como a psicologia, computação e demais áreas da saúde e tecnologia.
Abstract: In the early 1990s, the internet broke military and academic barriers and became a means of
access to the general population. With the emergence of interest in adapting computers for commercial
purposes and the creation of the World Wide Web (WWW), as human interactions have changed, the
number of people connected to the network has not stopped growing and, with this, millions of users
incorporated the use of internet resources into their day-to-day work and interpersonal services. The
internet made it possible to create new ways to relate, interact, produce and consume content posted by
other users, directly impacting the way they perceive and interact in the physical world as well. With
these new habits and subjectivity, models took over different spaces, remodeling society in different
parameters. This, intensified by the emergence not only of Web 2.0 but also by the rise of Web 3.0 and
4.0 or the “internet of things”, has further narrowed the human-machine relationship and made possible,
1
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: paula.angelis@gmail.com.
Artigo elaborado com base no projeto de conclusão de curso de graduação em Psicologia, 2021.
2 Professora orientadora. Docente do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Mestre em
Psicologia pela Universidade Federal da Bahia e Doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina.
2
through its mobile feature, the emergence and dissemination of digital platforms as well. Such services
have permeated people's lives across the globe and have come to integrate their lives by attributing
digital characteristics to their customers. Therefore, considering the influence of such services on
people's lives, it was important to investigate the mental health and well-being of those that access the
internet. Through the dimensions of psychological well-being in parallel with the investigation of the
use of social networks, it was possible to infer that there are impacts related to the use of these
technologies in the ways of being and being of users, not only in the online world, but also offline, and
therefore in their health. Three young adults aged between 25 and 27 years, all carriers of devices with
ace, were investigated. It's the internet. Through the application of a semi-structured interview,
information was collected on the use and meaning that participants attribute to social networks and their
impact on their general well-being. With this, it is important to clarify that this method of investigation
is guided by the general objective of this work, which consists of investigating the impacts of social
networks on the Psychological Well-Being (BEP) of young adults. There is still much to be discussed
on the subject, and the research results indicated the need to investigate this relationship even more
broadly, with a sample of greater representability and through other research instruments. It was
concluded that with the rapid diffusion of social networks throughout the world, there is a need for more
in-depth and collaborative studies with areas such as psychology, specialized and other areas of health
and technology..
1 INTRODUÇÃO
3
Assim como o Orkut, Facebook, Twitter e Instagram são sites de relacionamento, ou seja, plataformas on-line
que conectam pessoas por meio de interesses em comum com diferentes públicos-alvo e finalidades, tais quais,
contatos profissionais relacionamentos amorosos, amizades, dentre outros. Estas ferramentas possibilitam aos
usuários interações, comunicações e compartilhamento de informações como textos, vídeos, imagens e áudios
(CIRIBELI; PAIVA, 2011).
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De acordo com o dicionário de língua portuguesa a palavra multitarefas pode ser definida como: “Execução de
dois ou mais programas ao mesmo tempo, por um único sistema de computador; processamento concorrente”
(MULTITAREFAS, 2021).
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Qualidade do conteúdo, software ou aplicativo que pode funcionar em várias plataformas (dispositivos)
diferentes a exemplo de tablets, computadores e smartphones.
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Metadados (livre tradução). Metadados, ou Metainformação, são elementos descritivos ou atributos referenciais
que representam características próprias de informações, ou seja, dados que descrevem outros dados em um
sistema de informação com o objetivo informar-nos sobre eles para tornar mais fácil a sua organização
(SANTOS; SIMIONATO; ARAKAKI, 2014).
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A Internet das Coisas é uma extensão da Internet atual, que proporciona aos objetos do dia a dia capacidade
computacional e de comunicação ao se conectarem à Internet. Estes dispositivos nos permitirão controlá-los
remotamente e também transforma-los em provedores de serviços, a exemplo da automatização de tarefas,
coleta de dados e criação de rotinas (SANTOS et al., 2021).
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Adjetivo referente a dispositivos do tipo móvel.
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Aprendizado de máquina (livre tradução). O aprendizado de máquina é um conjunto de algoritmos
computacionais que emulam a inteligência humana (NAQA; MURPHY, 2015).
4
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Post é o conteúdo criado e publicado pelos usuários em plataformas digitais como por exemplo nas mídias
sociais.
5
os possíveis impactos do uso das redes sociais no Bem-Estar Psicológico dos usuários tendo
em vista que por meio delas as pessoas podem executar diferentes tarefas, como postar fotos,
trocar mensagens e publicar uma atualização de status, o que pode resultar na construção de
sentidos sobre si e sobre os outros o que encontra-se diretamente ligado a saúde mental.
2 MÉTODO
2.1 PARTICIPANTES
Participaram deste estudo três jovens adultos de faixa etária entre 25 e 27 anos, usuários
de redes sociais, oriundos de estados diferentes, portadores de dispositivos com acesso à
internet, tais quais computadores, tablets e smartphones. Em relação às características dos
participantes, nota-se que todos possuem, pelo menos, o Ensino Médio completo com renda
familiar maior que dois salários-mínimos.
Sozinha(o) 1
Família 2
Grau de instrução
Superior completo 1
Superior incompleto (em andamento) 2
Profissão
Arquiteta(o) 1
Massoterapeuta 1
Técnico em telecomunicações 1
Renda Familiar
Até 2 salários e meio 1
Acima de 5 salários 2
Acompanhamento com psicólogo
Sim 1
Não 2
Acompanhamento com psiquiatra
Não 3
Fonte: Dados coletados pela autora.
2.2 INSTRUMENTOS
Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos distintos, sendo um deles o
questionário sociodemográfico (Apêndice B) e o roteiro entrevista semiestruturado (Apêndice
C) elaborado pela autora com o total de 25 perguntas. O questionário sociodemográfico teve
por objetivo coletar informações tais quais, como nível de escolaridade, idade, profissão, entre
outros dados, com a finalidade de traçar o perfil da amostra de participantes da pesquisa. Quanto
ao roteiro de entrevista semiestruturado, o instrumento de coleta foi elaborado pela autora, com
base nas seis dimensões do bem-estar psicológico apresentadas por Machado e Bandeira (2012)
tendo em vista a necessidade de realizar um paralelo com o uso das redes sociais. Para tal
buscou-se investigar elementos como frequência de acesso, tipo de conteúdo postado, acessado
e quais os sentimentos os entrevistados identificavam surgir durante o uso desses tipos de
aplicativos. Consoante a isto foram feitas perguntas como qual o tempo de uso diário gasto
pelos usuários na utilização de redes sociais, frequência do uso dessas plataformas durante a
semana, qual tipo de conteúdo costumam publicar e quais sentimentos experimentam ao acessar
o conteúdo publicado em seu meio social.
Após a aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade de Santa Catarina, que avalia
normas de pesquisa que envolvem seres humanos, parecer 4.992.284, iniciou-se o contato e
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coleta de dados com os participantes. Primeiramente, foi divulgado nas redes sociais da
pesquisadora e da universidade o convite para a participação do estudo com link11direcionado
a um formulário on-line. Os interessados em participar da pesquisa preencheram seus dados de
contato para serem contatados via telefone ou e-mail. A partir dessas informações, foi possível
identificar os participantes que atendiam a todos os critérios de inclusão. Após diálogo, os
participantes que aceitaram participar do estudo definiram junto com a entrevistadora data, local
e aplicativo de sua preferência para realização de vídeo chamada. Todos os participantes
optaram pela utilização da plataforma Microsoft Teams e todas as entrevistas tiveram em média
a duração de 40 minutos.
No momento do encontro, primeiramente, foi apresentado o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Apêndice A) para assinatura dos participantes. Com o aceite, iniciou-se a
coleta e registro de dados por meio de gravação da videochamada. Após a coleta de dados,
assim como orientações do Ofício n° 002/2021 para procedimentos éticos em pesquisas em
qualquer etapa em ambiente virtual (BRASIL, 2021), todo o material coletado foi arquivado
em sigilo, através de download em dispositivo eletrônico local, apagando todo e qualquer
registro em qualquer ambiente compartilhado ou "nuvem".
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Objeto digital, palavra, texto ou imagem que quando clicado pelo internauta, o direciona para outra página na
internet.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo deste trabalho foi analisar as percepções de jovens adultos sobre os impactos
do uso de redes sociais em seu bem-estar psicológico. Para isso, os relatos dos participantes
foram organizados em três categorias temáticas: 1) conceito de rede social, 2) frequência de
uso, dispositivo utilizado e rede social de preferência e 3) relação entre uso de redes sociais e
bem-estar psicológico.
“No celular é mais fácil de usar, mais rápido, computador você tem que
entrar, digitar, e eu posso usar em qualquer lugar." (participante F)
Tal fato se justifica porque, apesar da ampliação da gama de novos serviços para
dispositivos móveis, algumas ferramentas ainda apresentam recursos mais completos quando
acessadas pelo computador. Em relação à finalidade do uso da internet, semelhante à definição
de rede social, as repostas dos participantes variaram entre comunicação e entretenimento, o
que denota que a internet deixou de ser apenas um meio para a busca de informações e adquiriu
novas funcionalidades na vida dos usuários, conforme as falas que se seguem:
"Eu geralmente, para matar o tempo, né? Ou para assistir alguma coisa,
assistir algum vídeo, e pra fazer alguma pesquisa também”.
(participante B)
No uso diário relatado pelos participantes, o horário de preferência de uso das redes
sociais são os turnos vespertino e noturno, seguem frases que ilustram tal relato:
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"Final de tarde e à noite, que é quando eu estou mais livre dos meus
afazeres." (participante F)
“Acredito que 5 horas por dia, tem dias que passo o dia inteiro no
computador aí já num final de semana ou um dia que eu não esteja
fazendo nada, aí já pode passar de 5 horas, com certeza." (participante
N)
"Olha, eu, vamos supor, da hora que eu acordo até a hora de eu dormir,
é que só que momentos picados, não fico uma hora, trinta minutos, vinte
minutos direto assim, mas assim, se juntar tudo dá umas… duas horas
no total por dia, ou uma hora e meia, por aí". (participante B)
Um dos entrevistados relatou que o uso das redes sociais ocupou muitos espaços antes
ocupados por atividades fora do mundo on-line, e que agora, em todos os momentos livres,
acaba fazendo o uso das plataformas sociais, sobretudo em virtude do período pandêmico:
somente mudanças nas relações do mundo físico, e sim em toda a forma de viver dos indivíduos,
principalmente pelo tempo e afinco destes no uso das redes sociais e tecnologias (SILVA,
2014).
O supra referido é reforçado ante ao fato da maioria dos entrevistados terem relatado
alterações em sua rotina em virtude do uso de redes sociais. Resultado semelhante foi obtido
em um estudo brasileiro que revelou que, dentre os 169 participantes analisados, mais de 68%
faziam uso de redes sociais e aparelhos tecnológicos por tempo superior há três horas (variando
de três a oito horas) (MOROMIZATO et al., 2017). Ademais, pontua-se que o uso excessivo
e/ou de maneira descontraída das redes sociais, pode acarretar em alterações no padrão de
sono/repouso, alimentar, dentre outras (SOUSA, 2019).
Diante disto, nota-se uma implicação importante frente a algumas dimensões específicas
do Bem-Estar Psicológico definido por Machado e Bandeira (2012), alvo do presente trabalho.
A dimensão relações positivas com os outros, que refere-se à qualidade da rede de
relacionamentos das pessoas, pode sofrer implicações diretas, como o enfraquecimento dos
relacionamentos no mundo físico e, por fim, na diminuição da satisfação dos sujeitos com eles.
Ainda, no que tange às demais dimensões do BEP, o aspecto controle do meio pode sofrer
implicações, já que o manejo e satisfação das necessidades como explicitados por Sousa (2019)
pode ser prejudicado.
Em relação ao espaço de tempo que vêm utilizando as redes sociais, todos os
participantes relataram mais de dez anos de uso (variando entre 10, 12 e 20 anos), tempo médio
de 14 anos. Tal fato reflete a potencialidade e a rápida evolução e disseminação do fenômeno
das redes sociais a ainda tão recente, porém com grande necessidade de investigação no campo
da Psicologia. Os entrevistados relembram o motivo que os levaram a começar tais tipos de
plataformas.
"Ah, manter contato com os amigos, que lembro que eu estava na escola
e todo mundo, é, todo mundo tinha o Orkut né? Eu nunca tive, mas todo
mundo tinha aí, chegava na escola comentando aí postava foto e tal e
eu com o tempo fui querendo participar também né, mas o Orkut nunca
chamou a minha atenção, aí fiz o MSN e logo em seguida o Twitter,
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Segundo as afirmações dos participantes desta pesquisa o que gera os sentimentos supra
referidos são suas experiências e expectativas, conforme falas:
De acordo com Brito e Silva (2019), atualmente os excessos e as cobranças ligadas as atividades
do cotidiano, trabalho e relações digitais, características da era informacional caracterizada pela
rápida disseminação de informações, tem contribuído para o aumento do consumo de
psicofármacos visando a amenização da angústia. Tal fato, definido pelo imediatismo
característico da “sociedade líquida” acarreta não só a busca pela satisfação das necessidades
de maneira rápida, mas também a busca pelo prazer imediato. A exemplo dos recortes nas falas
dos participantes acima denota-se que a participante F é influenciada pelo sentimento de
imediatismo presente na expressão “sinto pressa”. Tal fato em concordância com a literatura
citada acima demonstra ainda a fala da participante F a angústia, sentimento de mal-estar
quando a mesma afirma sentir-se ansiosa.
Quando questionados sobre se sentirem influenciados pelas redes sociais os
participantes explicitaram seus sentimentos e descreveram o tipo de conteúdo das postagens:
Sim: "Já, já, principalmente que filme eu vou assistir, tipo, as vezes
você acha na netflix algum filme e você pesquisa, você joga lá, você
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fala ah, esse filme parece legal, você joga no twitter da vida e todo
mundo metendo pau no filme, ou vice-versa, você fala ah, tem uma série
e tá todo mundo comentando, vou dar uma chance já que tá todo mundo
comentando, e mais nisso assim, em questão onde, principalmente de
filme e série e você precisa de uma opinião externa para saber se você
não vai jogar seu tempo no lixo assistindo um negócio ruim, e pelo que
me lembre assim, só isso assim, agora, algumas questões mais sérias,
tipo, o que que eu vou querer estudar ou trabalhar, eu nunca me lembro
de ter sido afetado por isso." (participante B)
Nota-se que, mesmo que os participantes comentem sentir-se pouco influenciados pelo
conteúdo acessado nas redes sociais, em todas as falas acima há influência do conteúdo
consumido, o que, no presente estudo, foi explicitado pela influência em relação a viagens,
acesso a informações, filmes e séries. Tal achado se relaciona aos apontamentos de Abbade,
Flora e Noro (2014) que explicitaram a influência das redes sociais nos comportamentos de
consumidores. Destaca-se que, entre os participantes desta pesquisa, 7.500 indivíduos, 76,5%
utilizavam as redes sociais e/ou internet para averiguação e busca de informação sobre produtos.
Em relação a como os participantes se sentiam ao acessar conteúdos postados em seu
círculo social e qual o motivo eles identificavam como causador deste sentimento, não houve
consenso nas respostas e, de acordo com seus relatos, as impressões e motivos destes eram:
"Geralmente feliz, com certeza, pelo progresso de cada um. Posso ficar
sabendo da vida dos outros, não necessariamente entrando em contato
com a pessoa, tendo de conversar com a pessoa, a pessoa vai tendo
evoluções na vida, eu me sinto feliz com certeza." (participante N)
“Me sinto bem - acho que é uma maneira de manter o contato com
aquela pessoa, mesmo não sendo contato direto né"
(participante B)
por fim, felicidade e sentimentos positivos relacionados à vida em geral. Estes aspectos,
observados como constitutivos da subjetividade dos sujeitos, sofrem influência direta do
conteúdo consumido nas redes sociais e têm assumido papel significativo no bem-estar
psicológico dos usuários.
Em consonância com as respostas anteriores, sobre o conteúdo e a frequência a qual
publicam e a relação com sentimento que possuem referente ao conteúdo que postam, os
entrevistados afirmaram que:
superficiais. Neste aspecto, Leite e colaboradores (2020) questionaram que até que ponto o uso
da tecnologia, desenvolvida para auxiliar o humano em suas múltiplas tarefas diárias, avança
ou regride. Logo, compreende-se que, mesmo as redes sociais possibilitando contatos
longínquos, elas não superam e/ou substituem as relações do mundo físico.
Em relação às dimensões de crescimento pessoal e propósito de vida antes de ser usuário
de redes sociais e após os participantes descreveram a percepção que possuem em quatro
diferentes vertentes, para cada um dos períodos, essas percepções, estão descritas na Tabela 4.
Tabela 4: Descrição dos relacionamentos no mundo físico e nas redes sociais.
VARIÁVEIS ENTREVISTADO
RELACIONADAS
PARTICIPANTE F PARTICIPANTE N PARTICIPANTE B
AO BEP
Sentimento antes de ser usuário das redes sociais
“Perdi um pouco da “Sempre fui muito feliz” “Me sinto mais seguro
Você mesmo
timidez” comigo mesmo”
“Me sentia mais “Perdeu a ideia de ficar no “Me sentia bem”
Sensação de bem- tranquila” (se sente mundo de fora”
estar bombardeada) (enfraquecimento em
relações)
“Planejo coisas mais “Problema de atenção” “Nada mudou”
Objetivos de curto
materiais” (têm mais (acredita que fica muito
prazo
acesso à informação) entretido)
“Nada mudou” “Também é um atraso” “Nada mudou”
Objetivo de longo
(acabo perdendo tempo e
prazo
não sei ainda o que quero)
Sentimento após ser usuário das redes sociais
“Mais consumista e “Mais expressivo e acho “Tranquilo, seguro do que eu
mais competitiva” que me sinto mais feliz sou, do que eu faço do que eu
Você mesmo
por isso” tenho pra oferecer pros
outros”
“Um pouco instável” “É um sentimento bom, “Saturado de ficar entrando
(coisas que me eu acho que eu consigo em rede social, eu me sinto
contrariam me irritam) lidar com diferentes assim bem, só me entedio
Sensação de bem-
sentimentos talvez que mais rápido”
estar
poderiam me fazer mal”
(pessoas próximas que
gosto)
“Possuir mais objetivos “Com certeza a gente “Me sinto bem, bem focado”
de curto prazo” consegue desviar a (não sinto que as redes sociais
Objetivos de curto
atenção do computador, mexam com meus objetivos)
prazo
das redes sociais, para
poder concluí-los”
“Me sinto tranquila” “Acaba distraindo um “Não sinto que as redes
Objetivos a longo
pouco a construção de sociais afetem isso”
prazo
objetivos a longo prazo”
Fonte: Dados coletados pela autora.
O questionamento acerca dos sentimentos antes e após ser usuários de redes sociais
resultou em diferentes perspectivas, sendo elas o ponto de vista do próprio participante, a
sensação de bem-estar, os objetivos do participante a curto e longo prazo. Em relação aos
sentimentos relacionados ao próprio participante, apesar de todos terem afirmado que as
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mudanças ocasionadas pelas redes sociais foram pouco significativas, a maioria sugere que
antes do início do uso das redes sociais, havia insegurança. Após se tornarem usuários das redes
sociais, os participantes sugeriram haver uma maior expressividade e segurança, além de um
aumento do consumismo. Isso se correlaciona com o estudo de Carvalho (2014) que identificou
que há uma preferência de pessoas tímidas em relacionar-se de forma online, pois há uma
inibição da interação face a face. Contudo, há uma congruência com o comportamento on-line
e off-line também encontrado por Scott et al (2018) e que justifica essas pessoas possuírem
menor quantidade de postagens e contatos.
Desse aspecto emergiu também a pauta sobre consumismo relacionado aos objetivos de
curto prazo, sendo um importante ponto relacionado às redes sociais, já que é crescente o
número de exposição de produtos, tendo Awomabise (2018) constatado que a maior exposição
de jovens a produtos por essas redes e nos shoppings online aumentaram suas taxas de consumo.
Em outro estudo Gunaseran e Khalid (2017), apontaram que pessoas que utilizam a rede social
Instagram tendem a comprar mais quando percebem que possuir o produto é merecido, sendo
movidos pelo que os autores denominaram inveja benigna.
No que tange ao aspecto bem-estar, a maioria dos participantes demonstrou estar
incomodada, havendo uma maior sensação de bem-estar anterior ao uso de redes sociais. Esse
ponto foi discutido por Chen (2019) que encontrou uma correlação entre o nível de satisfação
com a vida e o nível de vício em redes sociais. Huang (2017), contudo, não encontrou correlação
entre sentimentos negativos e tempo gasto conectado. Isso se aplicou também quando se
correlacionou tempo gasto em redes com sentimentos positivos como autoestima e satisfação
com a vida (HUANG,2017).
Outra ideia emergida a partir do questionamento sobre o bem-estar se refere á sensação
de enfraquecimento das relações, tornando-se um ponto de insegurança trazido pelo uso
massivo de redes sociais virtuais, sendo congruente ao pensamento de Bauman (2006) que
pontua sobre o “amor líquido” e a fragilidade das relações bem como da insegurança nas quais
relações se iniciam e finalizam com facilidade.
Quanto aos objetivos de curto prazo, observa-se que a maior parte dos entrevistados
relataram que o uso de redes sociais não causa impacto, porém emergiu como uma questão a
falta de concentração para planejar, sendo também observado por Bashir e Bhat (2017) como
um dos efeitos do uso das redes sociais sobre a saúde mental de jovens. Além disso, outros
efeitos são aumento de estresse, fadiga, solidão, cyberbullying e declínio de habilidades
cognitivas, sugerindo os autores que qualquer rede que fortaleça este tipo de comportamento
deve ser abolido.
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Em relação aos objetivos a longo prazo, tanto antes, quanto após o advento das redes
sociais, a maioria dos participantes disseram que não perceberam a influência das redes sociais,
mas outra parte dos entrevistados sinalizou que, após as redes sociais, tem dificuldade na
construção de objetivos a longo prazo. Destaca-se que tal achado, além de se relacionar ao
tempo de dedicação ao uso de redes sociais (MOROMIZATO et al., 2017), possui relação com
a capacidade de planejamento e realização dos indivíduos. Mas, sinaliza-se a importância de se
pensar nos prejuízos e perdas decorrentes do uso das redes sociais, e suas formas de uso, haja
visto que, na contemporaneidade, elas fazem parte do cotidiano das pessoas e a cada dia, de
maneira mais precoce, se insere na socialização/vida dos indivíduos (HAN, 2021).
Por fim, cada um a seu motivo, todos os participantes já cogitaram parar de utilizar as
redes sociais, como explicitado abaixo:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
vez apontou, apesar dos participantes não indicarem explicitamente, para a influência do uso
das redes sociais nas seis dimensões do BEP apontadas por Machado e Bandeira (2012).
Como limitações do presente estudo, tem-se a investigação da realidade de poucos
indivíduos, e de localidades específicas, devendo futuras pesquisas, analisar a relação entre o
bem-estar psicológico e as redes sociais com outros instrumentos, tais quais uma pesquisa de
levantamento, com o uso de um questionário, à ser divulgado em redes sociais e uma amostra de maior
representatividade. Para tal, indica-se o uso de instrumento misto com perguntas fechadas e
abertas assim como a aplicação de uma escala específica de Bem-Estar psicológico
Por fim, espera-se que a presente pesquisa, aponte para a realização de mais estudos que
possam investigar o uso de redes sociais sobre os vieses da Psicología já que o uso dessas
ferramentas influenciam diretamente no bem-estar dos usuarios e com isso podem trazer
maleficios a saúde mental. Espera-se de futuras pesquisas o desenvolvimento de estratégias
específicas para o cuidado necessário à saúde mental dos indivíduos inseridos na
hiperconectividade característica do século XXI.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Comitê de Ética em Pesquisa – CEP UNISUL
Participação do estudo
Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa intitulada “Relação entre Redes
Sociais e Bem-Estar Psicológico: O que dizem os jovens adultos?”, coordenada pela professora
Quele de Souza Gomes Santos. O objetivo deste estudo é caracterizar as relações do uso de
redes sociais no dia-a-dia na saúde mental dos usuários, mais especificamente em seu bem-estar
psicológico.
Caso você aceite participar, você terá que responder um questionário de dados
sociodemográficos assim como participar de uma entrevista semiestruturada acerca das
repercussões do uso de redes socias em seu bem-estar, o que deve despender cerca de 60
minutos. Além disso, a entrevista de videochamada terá seu áudio gravado.
Riscos e Benefícios
Com sua participação nesta pesquisa, você estará exposto a riscos como mal-estar
emocional, constrangimento, estresse e ansiedade, e caso eles venham a ocorrer, serão tomadas
as seguintes providências: acolhimento psicológico inicial assim como encaminhamento para
realização de acompanhamento psicológico caso necessário, sob a responsabilidade da
pesquisadora e professora responsável Quele de Souza Gomes Santos. Esta pesquisa tem como
benefícios diretos acesso a um momento de escuta e acolhimento com base em suas vivências
e narrativas viabilizado um momento de reflexão e bem-estar e como benefício indireto o
conhecimento acerca do tema.
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Rubrica do participante Rubrica do pesquisador responsável
Universidade do Sul de Santa Catarina
Comitê de Ética em Pesquisa – CEP UNISUL
guarda e confidencialidade dos dados, bem como a não exposição individualizada dos dados da
pesquisa. Sua participação é voluntária e você terá a liberdade de se recusar a responder
quaisquer questões que lhe ocasionem constrangimento de alguma natureza.
Autonomia
Você também poderá desistir da pesquisa a qualquer momento, sem que a recusa ou a
desistência lhe acarrete qualquer prejuízo. É assegurada a assistência durante toda a pesquisa,
e garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e
suas consequências. Se em sua participação na pesquisa for detectado que você apresenta
alguma condição que precise de tratamento, você receberá orientação da equipe de pesquisa, de
forma a receber um atendimento especializado. Você também poderá entrar em contato com os
pesquisadores, em qualquer etapa da pesquisa, por e-mail ou telefone, a partir dos contatos dos
pesquisadores que constam no final do documento.
Ressarcimento e Indenização
Lembramos que sua participação é voluntária, o que significa que você não poderá ser
pago, de nenhuma maneira, por participar desta pesquisa. De igual forma, a participação na
pesquisa não implica em gastos a você. No entanto, caso você tenha alguma despesa decorrente
da sua participação, tais como transporte, alimentação, entre outros, você será ressarcido do
valor gasto. Se ocorrer algum dano decorrente da sua participação na pesquisa, você será
indenizado, conforme determina a lei.
Após ser esclarecido sobre as informações da pesquisa, no caso de aceitar fazer parte do
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Rubrica do participante Rubrica do pesquisador responsável
Universidade do Sul de Santa Catarina
Comitê de Ética em Pesquisa – CEP UNISUL
Consentimento de Participação
Assinatura: __________________________________________________________
O Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) é composto por um grupo de pessoas
que estão trabalhando para garantir que seus direitos como participante sejam respeitados,
sempre se pautando pelas Resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
O CEP tem a obrigação de avaliar se a pesquisa foi planejada e se está sendo executada de
forma ética. Caso você achar que a pesquisa não está sendo realizada da forma como você
imaginou ou que está sendo prejudicado de alguma forma, você pode entrar em contato com o
Comitê de Ética da UNISUL pelo telefone (48) 3279-1036 entre segunda e sexta-feira das 13h
às 17h e 30min ou pelo e-mail cep.contato@unisul.br.
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Rubrica do participante Rubrica do pesquisador responsável
APÊNDICE B – Questionário de Dados Sociodemográficos
Idade:
Gênero :
Estado Civil:
( ) Solteiro(a)
( ) Casado(a)
( ) Divorciado(a)
( ) Viúvo(a)
Cidade e estado de residência:
Com quem mora:
Grau de instrução:
( ) Ensino fundamental completo
( ) Ensino fundamental incompleto
( ) Ensino médio completo
( ) Ensino médio incompleto
( ) Superior completo
( ) Superior incompleto
( ) Pós-graduação(Espcialização)
( ) Mestrado
( ) Doutorado
Curso de graduação:
Profissão:
Renda familiar mensal aproximada (em reais):
Já fez acompanhamento com psicólogo?
Já fez acompanhamento com psiquiatra?
APÊNDICE C – Roteiro de entrevista