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Introdução

O uso crescente de mídias sociais tem experimentado um aumento exponencial nos últimos
anos, indicando a importância dessas plataformas na vida diária das pessoas. Essa
tendência é impulsionada pela conectividade global, avanços tecnológicos e a busca por
interação social online. O aumento expressivo de 500 milhões de usuários ativos em 2014
destaca a adoção acelerada dessas plataformas, alcançando uma parcela significativa da
população mundial, com 42% conectados online (Chyjek et al, 2015; Frazier et al, 2014).

Desde o surgimento da internet e, especialmente, com a evolução para a tecnologia Web


2.0, a segunda geração da World Wide Web que promove maior interatividade entre os
usuários, o acesso e uso dessa tecnologia têm mostrado um crescimento contínuo. Em
2012, a estimativa indicava a presença de 2,4 bilhões de usuários, tanto em contextos
profissionais quanto recreativos (European Travel Commission, 2013).

Nesse contexto, a utilização da tecnologia e das redes sociais representa um novo padrão
de comportamento social, apresentando tanto vantagens quanto desvantagens. No âmbito
da saúde, a integração de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) surge como
uma ferramenta que pode intensificar a promoção, assistência e cuidado à saúde. As
ferramentas tecnológicas facilitam a interação entre usuários e profissionais, agilizam
procedimentos e permitem o monitoramento remoto da saúde (Santos et al, 2017).

No entanto, apesar de as mídias sociais facilitarem a disseminação e comunicação de


informações relacionadas à saúde, o aumento das tecnologias e redes sociais durante a
pandemia de COVID-19 trouxe consigo uma nova dinâmica: a infodemia e a propagação de
notícias falsas. A infodemia é caracterizada pelo excesso de informações, tornando
desafiante o acesso a fontes confiáveis. A rapidez na divulgação de informações e a ampla
difusão de notícias verídicas podem ter efeitos positivos na promoção da saúde e na
prevenção de riscos, mas essa mesma agilidade e alcance são também propícios à
disseminação de fake news e desinformação. Isso tem representado um significativo
obstáculo para a gestão eficaz de questões relacionadas a saúde (Garcia; Duarte, 2020).

Considerando esse cenário, onde a participação em debates e discussões virtuais se tornou


mais acessível, surgiram os influencers – indivíduos que exercem influência significativa nas
decisões de compra, promovem discussões e têm impacto nas escolhas relacionadas a
estilo de vida, preferências e bens culturais dentro de suas redes. O avanço das redes
sociais se tornou uma forte aliada para quem deseja divulgar sua rotina saudável e ser
reconhecido, pois a imposição do ideal de beleza presente na sociedade e intensificado
nessas redes faz com que os indivíduos sintam a necessidade de transformar seus hábitos
alimentares e rotina para se encaixarem no padrão (Kamida et al, 2021).

Contudo, a busca incessante pelo corpo ideal torna as pessoas vulneráveis a serem
enganadas por soluções milagrosas frequentemente promovidas por influencers. Estes
compartilham seu cotidiano, sugerindo estilos de vida baseados unicamente em
experiências pessoais, sem respaldo em fontes confiáveis de informação e sem considerar
a diversidade de corpos existentes (Kamida et al, 2021).

Redes sociais
A definição de "mídia social" é abrangente e está em constante evolução (Ventola, 2014).
Essas plataformas podem ser descritas como uma variedade de ferramentas online que
auxiliam os usuários a se conectar, colaborar e comunicar em tempo real (Ressler; Glazer,
2010). Os sites de mídias sociais oferecem uma gama diversificada de recursos, agrupados
de acordo com diferentes propósitos, como redes profissionais (LinkedIn), compartilhamento
de mídia (YouTube, Flickr), produção de conteúdo (blogs [Tumblr, Blogs] e microblogs
[Twitter]), informativos (Wikipedia), ambientes virtuais e jogos (Second Life), além das redes
sociais tradicionais (Facebook, MySpace, Google Plus, Twitter) (Dizon, 2012; George, 2013;
Lambert, 2012)

As redes sociais destacam-se como uma das principais expressões de mídias sociais,
proporcionando uma plataforma conveniente para compartilhar informações e manter
contato com outras pessoas. Elas oferecem uma maneira eficaz de localizar e se conectar
com indivíduos, facilitando a troca estruturada de informações e comunicação. Além disso,
as redes sociais possibilitam que profissionais estabeleçam e cultivem conexões com
colegas e pares(Casella, 2014; Fraser, 2011).

Discurso na perspectiva de influência e as “ fake news”

Conforme Citelli (2002), o discurso persuasivo utiliza recursos retóricos com o propósito de
convencer ou modificar comportamentos já estabelecidos. O autor esclarece que, nesses
discursos, os signos são apresentados como expressão de uma "verdade", embora
almejem ser considerados sinônimos da "verdade completa" (Citelli, 2002). Essa influência,
longe de se limitar ao ambiente digital, tem raízes profundas, estendendo-se desde os
primórdios das civilizações em figuras de liderança, como religiosos, políticos, esportistas,
entre outros. O surgimento de redes sociais mais complexas, que incorporam textos,
imagens e vídeos, como o Facebook, o YouTube e o Instagram, permitiu uma interação
mais direta e, muitas vezes, íntima entre criadores de conteúdo e público.

Jenkins (2014) destaca que os usuários engajam-se na criação de conteúdos movidos pelo
desejo de compartilhar com um público mais amplo, não apenas para autopromoção, mas
também impulsionados pelo anseio por diálogo, fortalecimento de relações sociais e
construção de comunidades. Quando os membros das redes sociais encontram conteúdos
de interesse, interagem e os disseminam dentro das redes, realizando esse trabalho de
forma voluntária com prazer. O autor explana que essas interações podem ser
compreendidas por meio do conceito de "engajamento", uma nova abordagem que o setor
de comunicações tem buscado para formular, medir e rentabilizar as ações das audiências
com o conteúdo na cultura das redes (Jenkins, 2014).

O envolvimento significativo e a combinação de seguidores conferem uma legitimidade


simbólica ao influencer. Em virtude desse poder adquirido, organizações têm buscado a
colaboração de influencers para se adaptarem ao cenário digital. De acordo com Carvalho e
Rosa (2008), formadores de preferências surgem como indivíduos comuns interessados em
um tema específico, compartilhando suas opiniões com outros interessados, o que os eleva
a um patamar de reconhecimento e respeito no mesmo nível de especialistas dentro desse
ambiente. Os influencers contam com o suporte do sistema de preferências e
recomendações das redes, direcionando seu conteúdo a usuários com interesses
semelhantes. Assim, ocorre o ciclo de formação, sustentação e promoção dos influencers
nas redes sociais.

Alguns influencers produzem conteúdos que, apesar de aparentarem ser informativos, na


realidade, expressam suas ideias e opiniões pessoais com o intuito de estabelecer uma
conexão com o interlocutor e induzir ações como curtidas, compartilhamentos, ou até
mesmo compras. Costa e Romanini (2020) destacam a presença de interesses econômicos
na propagação de “fake news”, pois os modelos de negócio de plataformas digitais como
Facebook, Instagram, entre outras, priorizam a monetização através de cliques. Dessa
forma, criar e disseminar narrativas falsas tende a atrair mais cliques.

Um estudo recente caracterizou fake news como artigos de notícias deliberadamente falsos,
com o potencial de enganar os leitores (Allcott, 2017; Gentzkow, 2013). Os dados referentes
à propagação de fake news suscitam preocupação. O volume de cliques em conteúdos
desse tipo aumentou de 800 milhões em 2015 para 9 bilhões em 2019. No âmbito da saúde,
as fake news ocuparam a terceira posição, contribuindo com 6% desse tráfego. Embora
possa parecer uma porcentagem modesta, ela equivale a 540 milhões de cliques (Decode,
2020).

Referências

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