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FACULDADE DE DIREITO
Nos últimos anos, o advento das redes sociais trouxe consigo uma revolução na forma
como nos comunicamos, interagimos e consumimos informações. Essas plataformas se
tornaram um espaço virtual onde milhões de pessoas compartilham suas vidas, opiniões e
ideias.
Desenvolvimento
"O Dilema das Redes" é um documentário lançado em 2020 pela Netflix, que se
propõe a examinar a influência das mídias sociais na sociedade contemporânea. Dirigido por
Jeff Orlowski, o filme apresenta uma abordagem perspicaz, combinando sequências
dramatizadas fictícias com entrevistas de ex-executivos e engenheiros das maiores empresas
de tecnologia, tais como Google, Facebook e Twitter.
É importante saber que as empresas de redes sociais obtêm lucro ao manter os usuários
"engajados" em suas plataformas, isso significa interagir com o conteúdo na plataforma,
incluindo visualizar, curtir, comentar, compartilhar e salvar postagens.1 Quanto mais tempo
um usuário permanece engajado, maior é a exposição dos anúncios. Uma única exposição é
chamada de "impression".2 Os anunciantes desejam que o maior número possível de clientes
em potencial veja seus anúncios e, portanto, procuram plataformas que prometem um alto
número de “impressions” em seus anúncios. Em outras palavras, as plataformas de redes
sociais têm incentivos para manter os usuários engajados, para que possam lucrar ao exibir
anúncios.3
Para manter os usuários engajados pelo maior tempo possível, as plataformas de redes
sociais desejam tornar seus feeds de notícias interessantes e relacionáveis para os usuários.
1
GRUWELL, Leigh. Constructing research, constructing the platform: Algorithms and the
rhetoricity of social media research. Present Tense, v. 6, n. 3, p. 1-9, 2018.
2
NORSTRÖM, Livia; ISLIND, Anna Sigríður; LUNDH SNIS, Ulrika M. Algorithmic work: the impact of
algorithms on work with social media. 2020.
3
KIM, Sang Ah. Social media algorithms: Why you see what you see. Geo. L. Tech. Rev., v. 2, p.
147, 2017.
Assim, torna-se crucial prever o que usuários individuais ou grupos de usuários podem achar
interessante. Para isso o algoritmo segue uma sequência de ações automatizadas.
4
PASQUALE, Frank. The black box society: The secret algorithms that control money and
information. Harvard University Press, 2015.
5
KAUFMAN, Dora; SANTAELLA, Lucia. O papel dos algoritmos de inteligência artificial nas redes
sociais. Revista Famecos, v. 27, n. 1, 2020.
6
RAMOS, Daniela Osvald. A influência do algoritmo. Revista Communicare, v. 17, p. 70-85, 2017.
7
GUESS, Andrew et al. Avoiding the echo chamber about echo chambers. Knight Foundation, v. 2,
n. 1, p. 1-25, 2018.
consumir histórias que desafiam sua opinião. Essas bolhas sociais facilitam a propagação das
“Fake News”.
É importante ressaltar que ao se referir às "fake news", estamos nos referindo a uma
categoria específica de informações falsas que se assemelham ao formato de notícias, mas não
seguem os mesmos processos organizacionais ou intenções da mídia de notícias.9 Essas
informações são veiculadas por fontes que não possuem as mesmas normas editoriais e
procedimentos que garantem a precisão e a credibilidade das informações na mídia
tradicional.
8
LAZER, David MJ et al. The science of fake news. Science, v. 359, n. 6380, p. 1094-1096, 2018.
9
DI DOMENICO, Giandomenico et al. Fake news, social media and marketing: A systematic
review. Journal of Business Research, v. 124, p. 329-341, 2021.
10
ZIMMER, Franziska et al. Echo chambers and filter bubbles of fake news in social media.
Man-made or produced by algorithms. In: 8th annual arts, humanities, social sciences & education
conference. 2019. p. 2.
Imagem 1 “Echo Chamber(s)/ Bolhas socias” (vermelho) and “Fake News” (verde)
2000 até 2017.
11
OSTERWALDER, Alexander; PIGNEUR, Yves; MOVEMENT, T. Inovação em modelos de
negócios. Rio de, 2011.
12
KANGAS, Petteri; TOIVONEN, Santtu; BÄCK, Asta. " Ads by Google" and other social media
business models. VTT Technical Research Centre of Finland, 2007.
13
. O. Solon, “Facebook Won’t Block Fake News Posts Because It Has No Incentive, Experts
Say,” The Guardian, 15 Nov. 2016.
Outra informação importante é que as redes sociais renovaram o modo como as
plataformas devem se comportar. Os usuários podem compartilhar fotos, mensagens de texto
e notícias uns com os outros com pouca ou nenhuma filtragem de terceiros ou verificação de
fatos. Alguns indivíduos conseguem alcançar tantos seguidores e leitores quanto grandes
veículos de comunicação, como o New York Times, Fox News e CNN14.
Assim, é perceptível que as redes sociais, em sua busca pelo lucro e engajamento dos
usuários, muitas vezes valorizam mais a manutenção da bolha social criada e a disseminação
das fake news do que o combate à desinformação.
Nesse contexto, ao abordar a discussão sobre algoritmos e redes sociais, o artigo 170
se torna relevante, pois fundamenta a necessidade de um moderador estatal que busque
equilibrar interesses e garantir o bem-estar social. O avanço tecnológico e a crescente
influência das redes sociais e dos algoritmos na vida das pessoas demandam uma análise
cuidadosa sobre o impacto dessas tecnologias na sociedade.
14
H. Allcott and M. Gentzkow, “Social Media and Fake News in the 2016 Election,” J.
Economic Perspectives, v. 31, no. 2, 2017, pp. 211–236.
15
TESTONI, Gustavo A. et al. Um método linguístico que combina polaridade, emoção e aspectos
gramaticais para detecção de fake news em inglês. In: Anais do X Brazilian Workshop on Social
Network Analysis and Mining. SBC, 2021. p. 151-162.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
Portanto, embora seja legítimo que uma empresa busque lucro, conforme estabelecido
no artigo 170 da Constituição, é necessário considerar os limites que o Direito pode e deve
impor a essa atuação. Além de garantir a liberdade negativa do Estado em não interferir nas
atividades econômicas, é também um anseio legítimo da sociedade que o Estado exerça seu
papel de proteção, visando assegurar uma existência digna para todos, conforme claramente
expresso nos princípios constitucionais.
Conclusão
17
SPOHR, Dominic. Fake news and ideological polarization: Filter bubbles and selective
exposure on social media. Business information review, v. 34, n. 3, p. 150-160, 2017.
18
DE PÁDUA, Sérgio Rodrigo. inteligência artificial e direitos humanos: o direito humano à
transparência algorítmica. interdisciplinaridade e direitos humanos, v. 2, p. 911.
19
DE BARROS TEIXEIRA, Lucas. Transparência Algorítmica em soluções utilizadas por
Governos. Revista Interface Tecnológica, v. 18, n. 1, p. 12-27, 2021.
Ao longo deste trabalho, foram explorados os perigos dos algoritmos presentes nas
redes sociais, que têm contribuído para a criação de bolhas sociais e a disseminação de fake
news. Apresentou-se como esses algoritmos são projetados para maximizar o engajamento
dos usuários, muitas vezes às custas da diversidade de opiniões e da veracidade das
informações compartilhadas.
As bolhas sociais, resultado direto desses algoritmos, representam uma ameaça para a
sociedade, pois limitam a exposição dos indivíduos a diferentes perspectivas, reforçando seus
preconceitos e criando um ambiente propício para a propagação de desinformação. O
fenômeno das fake news se fortalece nesse contexto, uma vez que as pessoas são expostas a
conteúdos que confirmam suas crenças e raramente são confrontadas com informações
contraditórias.
No entanto, é crucial ressaltar que as redes sociais devem ser conscientes de sua
responsabilidade perante a sociedade e agir de acordo com o Artigo 170 da Constituição, a
ordem econômica deve estar pautada na valorização do trabalho humano e na promoção do
bem-estar social. Dessa forma, as plataformas sociais devem buscar um equilíbrio entre o
lucro e o respeito aos direitos dos usuários, incluindo o acesso a informações confiáveis e
diversificadas.
É necessário um esforço conjunto entre os governos, sociedade civil e empresas de
tecnologia para supervisionar adequadamente os algoritmos utilizados pelas redes sociais. É
preciso garantir que esses algoritmos sejam transparentes, éticos e levem em consideração a
importância da diversidade de opiniões e da veracidade das informações.
Ademais, é fundamental promover a educação midiática e o pensamento crítico para
capacitar os usuários a identificar e combater as fake news. Além disso, é necessário fomentar
a criação de ambientes online mais inclusivos e respeitosos, que incentivem o diálogo e o
debate saudável, contrapondo-se às bolhas sociais e à polarização.
Referências Bibliográficas
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