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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

EMERSON FERNANDES FAGUNDES

ENGAJAMENTO NO CIBERESPAÇO

ITABUNA

2021
EMERSON FERNANDES FAGUNDES

ENGAJAMENTO NO CIBERESPAÇO

Trabalho de conclusão apresentado ao componente curricular de


Bases Filosóficas e Epistemológicas das Humanidades da
Universidade Federal do Sul da Bahia- UFSB, como requisito
parcial de conclusão.

DOCENTE: MILENA DOREA DE ALMEIDA

ITABUNA

2021
INTRODUÇÃO

O advento das redes sociais provocou mudanças radicais na sociedade.


O estreitamento das relações entre os indivíduos, à velocidade da
comunicação e o fenômeno imersivo das redes, criam um ambiente onde a
virtualidade proporciona uma experiência utópica para muitos de seus usuários.

Por ser o lugar comum da comunicação global, o ciberespaço propõe


uma experiência muito parecida com a do mundo real. Esse fenômeno se dá
principalmente em redes sociais como o Facebook, Twitter, Instagram, TikTok
entre outros, onde os indivíduos estão continuamente estreitando relações com
pessoas e grupos que normatizam comportamentos específicos nos quais os
indivíduos que pretendem participar, devem apropriar-se desses
comportamentos, a fim de participar de suas ações. Para tanto, os adeptos
dessas redes realizam um processo que tem sido denominado de estetização
da self (Carrera, 2012; Pinheiro, 2008; Zhao et al., 2008). Esse fenômeno se
caracteriza pelo fato dos usuários manipularem sua própria imagem,
acrescentando ou melhorando algumas características, a fim de criar novas
tendências ou para que sua imersão seja feita como parte do que chamarei
aqui de contrato do engajamento virtual, que em outras palavras, é a troca que
o individuo faz com uma rede social, onde ele se apropria dos comportamentos
ditados por essas redes virtuais para que suas ações sejam aceitas e seu perfil
engajado.

Partindo disso, esse ensaio pretende traçar uma linha analítica com
base em alguns pensadores e especialistas do tema, sobre o processo de
engajamento dos usuários e como se dá esse fenômeno na perspectiva da
manipulação da própria imagem.
1. Definindo o Ciberespaço
O termo ciberespaço tornou-se o centro de várias discursões em
nosso século. Mas a genealogia do termo é anterior, ela foi empregada pela
primeira vez com o autor de ficção cientifica Willian Gibson, em 1984, em
seu livro “Neuromancer”. Foi utilizado para mostrar um espaço artificial por
onde passam os dados e as relações sociais de forma indiscriminada.
Pierre Levy, por sua vez, autor de várias obras sobre o tema, descreve o
ciberespaço como o espaço da comunicação aberto pela intercomunicação
dos computadores e das memórias dos computadores (Lévy, 2009. p. 92).
Logo na introdução de seu de seu livro ”Cibercultura”, Pierre apresenta um
dos conceitos empregados ao ciberespaço:

[...] É o novo meio de comunicação que surge da interconexão


mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a
infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo
oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos
que navegam e alimentam esse universo (Lévy, 2009. p. 17).

Como afirma Levy, o ciberespaço é um novo meio de comunicação


interligado por computadores que é alimentado pelas informações e dados que
os humanos usuários dessas redes depositam. Isso não só cria um ambiente
alternativo onde o usuário pode ser ativista de sua própria liberdade, como se
torna uma grande ferramenta, símbolo da globalização e da participação social.

Exemplos de plataformas no ciberespaço são muitas. Posso citar


algumas que, no atual contexto, são primordiais para a comunicação e
participação no espaço virtual, são elas o Facebook, Twitter, TikTok, Instagram,
Telegram e WhatsApp. Além de serem grandes plataformas de comunicação,
elas têm ganhado uma conotação ainda maior, principalmente em termos de
globalização e nas decisões político-social da humanidade. É difícil conhecer
uma pessoa que não tenha uma rede social ou não está ligado de forma direta
ou indireta com essas redes. Para confirmar isso, o (relatório Global Digital
Statshot 2019), feita pelas empresas americanas Hootsuite e We Are Social,
confirma a teoria: 3,5 bilhões de pessoas possuem cadastro em alguma rede
social. Dá quase metade das 7,7 bilhões de pessoas do planeta.
Portanto, fica evidente o quanto a virtualização dos seres humanos está
mais constante e isso não só transforma de forma drástica a vida na realidade
do mundo, como também afeta de forma significativa a subjetividade das
pessoas que estão imersas nessas redes digitais. Para confirmar isso, Pierre
Levy diz o seguinte:

[...] Um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas


a informação e a comunicação, mas também os corpos, o
funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou o
exercício da inteligência. A virtualização atinge mesmo as modalidades
do estar junto, a constituição do “nós”: comunidades virtuais, empresas
virtuais, democracia virtual... (LEVY, 1996, p. 11)

2. Engajamento no ciberespaço

Para Jean Paul Sartre, o fato de sermos humanos no mundo implica em


estarmos em meios concretos onde a existência demanda nosso engajamento,
com o qual devemos participar de forma profunda e decisiva, o que ele chama
de “liberdade engajada”. Sartre foi bastante enfático ao dizer que a existência
demanda nosso engajamento, no ciberespaço não é diferente, existir
virtualmente, apesar de não ser no espaço concreto de Sartre, também requer
engajamento e uma participação decisiva nas ações. Segundo Laurel (1991,
p.115), o engajamento ocorre quando os usuários desses sistemas são
capazes de se entregar a uma ação representacional, confortável e sem
ambiguidades, ocasionando uma espécie de cumplicidade, onde os usuários
concordam em pensar e sentir em termos de conteúdo e, em troca, recebe uma
infinidade de novas possibilidades de ação e de emoção.

Como vimos nos dois exemplos, existir no mundo das coisas e no


mundo virtual é um paralelo que os usuários enfrentam cotidianamente. A
infinidade de possibilidades de ação e emoção torna o ciberespaço ainda mais
atrativa sendo uma ferramenta de realização das emoções e de manifestações
do ser, ações que para muitos usuários é muito difícil no mundo real. Os
aspectos relacionados ao envolvimento de usuários com os softwares são
discutidos por Laurel (1991, p.115) onde ele fala que o engajamento só é
possível quando os usuários podem confiar no sistema para manter o contexto
da representação, e para que o processo de engajamento funcione, a relação
usuário-ciberespaço precisa acontecer de forma fidedigna, é o que O´Brien e
Toms (2008) vão confirmar dizendo que o engajamento dos usuários
dependem da profundidade de participação que esses são capazes de
alcançar dentro dos sistemas, ou seja, ao depositar suas informações no
mundo virtual, o usuário recebe em troca uma infinidade de ações para
engajar-se em diferentes grupos. Diferente do mundo real, quando o individuo
mergulha pela primeira vez em um ambiente virtual, ele encontra o que
(Castells, 1999ª) chama de sociedades em rede. Esses usuários já se deparam
com grupos que tem seus próprios comportamentos e estrutura, o que força o
individuo a se adaptar. Nesse aspecto, o usuário tende a manipular sua própria
identidade virtual a fim de negociar a sua participação nessas comunidades,
realizando, por fim, o processo de estetização da self para manter-se engajado.

As implicações desses processos são diversas: estariam essas redes


tornando as pessoas mais individualistas e solitárias ou mais coletivistas e
solidárias? De acordo com Paiva (2012), estabelece-se, nas redes, uma cultura
da convergência na qual a individualidade e o narcisismo encontram uma
ecologia comunicacional irrigada pela cooperação e pelo compartilhamento. As
comunidades virtuais passam a ser representadas por esses grupos, que
podem ou não existirem de forma anônima, podendo, portanto, agir de má-fé
tanto no âmbito da subjetividade quanto nas decisões politicas da sociedade
real.

3. Considerações finais

Compreendendo os aspectos que definem o fenômeno das redes,


compreendemos também a imersão dos seres humanos nessa ferramenta que
rompe a ideia de espaço e tempo. Dessa forma, partimos para uma analise
minuciosa desse fenômeno tão importante nos dias atuais.

Esse ensaio pretendeu analisar e definir o engajamento dos seres


humanos no ciberespaço trazendo como fundamento, algumas ideias de
pesquisadores e especialistas da área.

Como vimos, as redes sociais são de extrema importância para o


individuo, é notável que essa importância deva aumentar naturalmente com o
passar dos anos. Sendo assim, ao percebermos como essa ferramenta está
enraizada na sociedade, começam a surgir algumas inquietações sobre a
forma como se dá o processo de engajamento no ciberespaço: será que as
personalidades que apresentamos nas redes, representam quem somos no
mundo real?. Essa e muitas outras questões aparecem, ao percebermos a
grande importância do fenômeno das redes imersivas, tanto na sociedade real
quanto na subjetividade dos indivíduos que a utilizam.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Carrera, F. (2012). Instagram no Facebook: Uma refl exão sobre ethos, consumo e construção
de identidades em sites de redes sociais. Animus Revista Interamericana de Comunicação
Midiática, 11(22), 148-165. doi:10.5902/217549776850

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informação:
economia, sociedade e cultura; v. 1).

LAUREL, B. (1991). Computers as Theatre (1st ed.). Boston, MA, USA: AddisonWesley Longman
Publishing Company, Inc.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009.

O’BRIEN, B. H. L., & TOMS, E. G. (2008). What is User Engagement? A Conceptual Framework
for Defining User Engagement with Technology. Journal of the American Society for
Information Science & Technology, 59(6), pag. 938–955.
Paiva, C. C. (2012). O espírito de Narciso nas águas do Facebook: As redes sociais como
extensões do ego e da sociabilidade contemporânea. In Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação, XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
Recuperado em http://www.intercom.org.br/sis/2012/resumos/ R7-0953-1.pdf

Pinheiro, M. de A. (2008). Subjetivação e consumo em sites de relacionamento.


Comunicação, Mídia e Consumo, 5(14), 103-121.

Rosa, Gabriel Artur Marra, and Benedito Rodrigues dos Santos. "Repercussões das redes
sociais na subjetividade de usuários: uma revisão crítica da literatura." Temas em
Psicologia 23.4 (2015): 913-927.

(relatório Global Digital Statshot. 2019https://wearesocial.com/blog/2019/07/global-


social-media-users-pass-3-5-billion)

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