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Desde então, essa mera observação para a sobrevivência passou por inúmeros
processos de sistematização que, em princípio apresentavam informações com caráter
meramente descritivo, até começarem a tomar caráter analítico.
Sabemos que a Geografia apenas passou a ser considerada como Ciência a partir do
século XIX. E ainda assim muito voltada para as descrições dos fenômenos físicos da
Terra . Um de seus precursores, Karl Ritter, que apesar de ter trabalhado a Geografia de
forma ainda descritiva, já observava a influência da ação humana e sua individualidade
na construção do meio em que vivemos. O que mais tarde serviria de base para uma das
correntes filosóficas sobre a Geografia, conhecida como Geografia Humana.
A necessidade de uma análise mais crítica foi percebida à medida que se deparava com
um mundo em crise, em busca de soluções para questões referentes às relações entre
sociedade e natureza. Disputa de territórios, sua distribuição e organização, o que as
motivou e as consequências dessas ações, como cada formação social organizava o
espaço e o explorava, como desenvolvia técnicas e habilidades para utilização dos
recursos naturais, todas essas problemáticas impulsionaram o pensamento mais analítico
complementando uma ciência que até então apenas descrevia e quantificava.
A influência fenomenológica.
Principais conceitos.
O objetivo central dessa obra de Yi-Fu Tun é a observação da afetividade das pessoas
sobre um ambiente natural ou construído. Observação esta feita com o propósito de
identificar elementos comuns a todas às pessoas (derivadas da estrutura biológica do
cérebro humano), no que tange às percepções e valores sobre o ambiente em que vivem.
Para o autor, a mente humana funcionaria a priori de forma a organizar tudo em pares
opostos. Todas as culturas pensam os fenômenos de maneira binária e antagônica, como
por exemplo: macho e fêmea, terra e céu, amigo e inimigo, paz e guerra. Numa dialética
constante. O que para o autor, seria uma característica ontológica do homem.
Nesse amplo e completo estudo, aonde é apresentada uma análise sobre diversas
culturas e valores construídos de seus lugares no mundo, um capítulo em específico, o
capítulo 8, o autor aborda uma questão que, ainda que de forma indireta, nos remete a
outra bastante atual, não somente em nossa sociedade, mas comum a todas as
sociedades contemporâneas. A questão ambiental e a preocupação ecológica tão
presentes nos dias de hoje se torna reflexão quase que automática quando é aprofundado
o enfoque no tópico “o impacto da urbanização na apreciação do campo e do
selvagem.” contido nesse capítulo.
Tuan aqui pontua que o contato humano com o natural está cada vez mais limitado e
indireto. Tornando os espaços naturais mais valorizados devido à sua escassez. A crise
ocasionada pela escassez de paisagens naturais e as consequências de uma urbanização
cada vez mais crescente fez surgir uma busca por ideias ambientalistas e certa
preocupações de cunho ecológico.
Segundo TUAN (ano, p.118) “quando uma sociedade alcança um certo nível de
desenvolvimento e complexidade, as pessoas começam a observar e apreciar a relativa
simplicidade da natureza.”
Porém, “o sentimento é romântico no sentido de que nada tem a ver com qualquer
compreensão real da natureza.” (TUAN, ano, p.118). A preocupação aqui talvez seja
motivada pela necessidade de experimentação da sensação de pertencimento a uma
sociedade globalizada e atenta às temáticas atuais. Como bem é explicitado pelo autor:
“O tipo de sentimento pelo campo, sugerido pelos trechos anteriormente citados, pôde
somente aparecer quando foram construídas grandes cidades, quando as pressões da
política e da vida tornaram atrativa a paz rural.” (TUAN, ano, p.118).
Nesse tópico abordado no capítulo destinado ao estudo das relações afetivas entre o
homem e meio ambiente, de título “Topofilia e meio ambiente” há um esboço de tudo o
que fundamenta a Geografia Humanista. Estão presentes a análise crítica necessária
quando se depara com crises (questões ambientais e ecológicas). Estão presentes
também o conceito de espaço, a subjetividade como base construtora do conceito de
lugar. A importância dos sentidos fisiológicos humanos para a subjetividade e
interpretação de mundo, quando é abordado no capítulo, o tópico “Estética”, expondo
como Tuan entende a interpretação e construção de mundo partindo de características
comuns a todos os homens. E depois passando por como as experiências individuais
imprimem afetividade a seus espaços.
“Topofilia” é sem dúvida uma obra da Geografia Humanista indispensável para que se
aprofunde a compreensão dos conceitos defendidos nessa corrente do pensamento
geográfico.
Referências Bibliográficas: