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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA

GEOGRAFIA HUMANISTA NO MUNDO

Por:

Guilherme Reis Faria

João Marcelo de Castro Borges

Pedro Henrique de Souza André

Vanessa Christine de Souza

Surgimento e evolução do pensamento geográfico.

A observação do meio em que habitamos existe desde os primórdios da vida humana na


Terra. O homem é dotado de curiosidade natural e desde os tempos mais remotos já
observava o ambiente no qual estava inserido, com o intuito de proporcionar sua própria
sobrevivência. No que tange às observações e informações sobre os elementos físicos
do planeta, a Geografia começa a existir ainda que não sob o título de Ciência, mas
como estudo importante para o reconhecimento do habitat do homem.

Desde então, essa mera observação para a sobrevivência passou por inúmeros
processos de sistematização que, em princípio apresentavam informações com caráter
meramente descritivo, até começarem a tomar caráter analítico.

Geografia como ciência.

Sabemos que a Geografia apenas passou a ser considerada como Ciência a partir do
século XIX. E ainda assim muito voltada para as descrições dos fenômenos físicos da
Terra . Um de seus precursores, Karl Ritter, que apesar de ter trabalhado a Geografia de
forma ainda descritiva, já observava a influência da ação humana e sua individualidade
na construção do meio em que vivemos. O que mais tarde serviria de base para uma das
correntes filosóficas sobre a Geografia, conhecida como Geografia Humana.

Um olhar crítico – científico.

A necessidade de uma análise mais crítica foi percebida à medida que se deparava com
um mundo em crise, em busca de soluções para questões referentes às relações entre
sociedade e natureza. Disputa de territórios, sua distribuição e organização, o que as
motivou e as consequências dessas ações, como cada formação social organizava o
espaço e o explorava, como desenvolvia técnicas e habilidades para utilização dos
recursos naturais, todas essas problemáticas impulsionaram o pensamento mais analítico
complementando uma ciência que até então apenas descrevia e quantificava.

Nesse momento um movimento de renovação do pensamento geográfico se fez


presente, desenvolvendo algumas correntes filosóficas que entendem a partir de então, a
Geografia como Ciência que explica o espaço geográfico como a interação entre as
ações humanas e o território em que estão inseridos.

A influência fenomenológica.

As críticas às anteriores correntes se inspiravam em estratégias interpretativas de


investigação. Enfatizando os significados subjetivos derivados das experiências
individuais, essas correntes do pensamento geográfico pretendiam desafiar e contrapor
as definições naturalizadas e estáticas sobre o que se pensava em geografia até então.

A Geografia Humanista veio num movimento de reconceptualização constituído pelo


questionamento do modelo de pensamento técnico dominante do olhar sobre a
Geografia. Surgiu juntamente com a corrente Marxista, também crítica, porém, a
Humanista, mais voltada ao recuo ao pessoal, à subjetividade como origem das ações
que constroem e transformam o espaço. Sofreu críticas da corrente Marxista por esta
considerar a corrente Humanista pautada excessivamente na subjetividade e pouco
votada ao político.
Essa corrente entendia o mundo formado por interações entre homens e natureza a partir
de suas percepções individuais. Que ao se encontrarem com outras percepções
individuais, se afetam e se modelam mutuamente, ao mesmo tempo em que afetam,
transformam e constroem o mundo. Como se o mundo fosse construído partindo do
universo micro para o universo macro. E a Geografia que antes somente dialogava com
a matemática, agora dialoga também com diversas outras ciências, como História,
Psicologia, Sociologia, Etnografia, entre outras, ampliando a sua capacidade
interdisciplinar.

Fortemente influenciada pela corrente filosófica conhecida como Fenomenologia, a


Geografia Humanista surgiu nos anos 60 do século XX, fortalecendo seus princípios na
década de 70. E teve como maior expoente o geógrafo sino chinês Yi-Fu Tuan.

A Fenomenologia defendia que os significados que tomamos como naturais, na verdade


são subjetivamente e intersubjetivamente construídos. Exatamente como compreendiam
os defensores da Geografia Humanista.

Principais conceitos.

O diferencial nessa corrente do pensamento geográfico, bastante difundido por Tuan,


são os conceitos fundamentais de Espaço e Lugar.

O conceito de Espaço para a Geografia Humanista está alicerçado na observação do


cotidiano com o objetivo de entender comportamentos e valores que geram ações sobre
o ambiente em que se vive. O Espaço tem definição por algo construído pela ação dos
homens no ambiente em que vivem, intermediados pela natureza. É o que resulta da
ação humana sobre a natureza, criando um novo espaço de vivência.

Já o conceito de Lugar é uma forma de experiência humana, um tipo específico de


vivência do espaço. Existe aqui a impressão da ideia de afetividade sobre uma
paisagem. Algo construído subjetivamente. É o sentimento por um espaço construído.
Yi-Fu Tuan

Principal nome da Geografia Humanista, Yi-Fu Tuan foi um geógrafo sino-americano,


nascido na China na década de 30 do século XX. De família de classe média, teve
acesso a escolas de alto nível em diversos países. Iniciou sua graduação em Geografia
na University College em Londres, concluindo pela Universidade de Oxford. Concluiu
doutorado na Universidade de Berkeley na Califórnia.

Lecionou na Universidade de Lousiannia e foi cátedra de Geografia na Universidade do


Novo México. Seguindo para Toronto e depois para a Universidade de Minessota aonde
sistematizou seus estudos fundadores da Geografia Humanista.

Na década de 70 publicou um dos livros mais importantes da área,

“Topofilia – um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.”

Topofilia – um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.

O objetivo central dessa obra de Yi-Fu Tun é a observação da afetividade das pessoas
sobre um ambiente natural ou construído. Observação esta feita com o propósito de
identificar elementos comuns a todas às pessoas (derivadas da estrutura biológica do
cérebro humano), no que tange às percepções e valores sobre o ambiente em que vivem.

Para o autor, a mente humana funcionaria a priori de forma a organizar tudo em pares
opostos. Todas as culturas pensam os fenômenos de maneira binária e antagônica, como
por exemplo: macho e fêmea, terra e céu, amigo e inimigo, paz e guerra. Numa dialética
constante. O que para o autor, seria uma característica ontológica do homem.

Em “Topofilia” o autor busca identificar as percepções e os valores sobre o espaço


individuais que aparecem em várias culturas, observando também as respostas
psicológicas que são comuns a todas elas. O que o leva a concluir que a subjetividade
tem papel importante na construção de mundo. Ainda que em todas as culturas sejam
influenciadas pela subjetividade de seus atores sociais, a multiplicidade cultural se faz
presente justamente pelo artifício da individualidade do homem.
A palavra que intitula o livro, “Topofilia”, é um neologismo que sugere exatamente a
ideia de afinidade, apego ao lugar. Exatamente o que é a questão central abordada no
estudo.

Topofilia e meio ambiente.

Urbanização e atitude para com o campo.

Nesse amplo e completo estudo, aonde é apresentada uma análise sobre diversas
culturas e valores construídos de seus lugares no mundo, um capítulo em específico, o
capítulo 8, o autor aborda uma questão que, ainda que de forma indireta, nos remete a
outra bastante atual, não somente em nossa sociedade, mas comum a todas as
sociedades contemporâneas. A questão ambiental e a preocupação ecológica tão
presentes nos dias de hoje se torna reflexão quase que automática quando é aprofundado
o enfoque no tópico “o impacto da urbanização na apreciação do campo e do
selvagem.” contido nesse capítulo.

Tuan aqui pontua que o contato humano com o natural está cada vez mais limitado e
indireto. Tornando os espaços naturais mais valorizados devido à sua escassez. A crise
ocasionada pela escassez de paisagens naturais e as consequências de uma urbanização
cada vez mais crescente fez surgir uma busca por ideias ambientalistas e certa
preocupações de cunho ecológico.

Segundo TUAN (ano, p.118) “quando uma sociedade alcança um certo nível de
desenvolvimento e complexidade, as pessoas começam a observar e apreciar a relativa
simplicidade da natureza.”

Porém, “o sentimento é romântico no sentido de que nada tem a ver com qualquer
compreensão real da natureza.” (TUAN, ano, p.118). A preocupação aqui talvez seja
motivada pela necessidade de experimentação da sensação de pertencimento a uma
sociedade globalizada e atenta às temáticas atuais. Como bem é explicitado pelo autor:

“O tipo de sentimento pelo campo, sugerido pelos trechos anteriormente citados, pôde
somente aparecer quando foram construídas grandes cidades, quando as pressões da
política e da vida tornaram atrativa a paz rural.” (TUAN, ano, p.118).
Nesse tópico abordado no capítulo destinado ao estudo das relações afetivas entre o
homem e meio ambiente, de título “Topofilia e meio ambiente” há um esboço de tudo o
que fundamenta a Geografia Humanista. Estão presentes a análise crítica necessária
quando se depara com crises (questões ambientais e ecológicas). Estão presentes
também o conceito de espaço, a subjetividade como base construtora do conceito de
lugar. A importância dos sentidos fisiológicos humanos para a subjetividade e
interpretação de mundo, quando é abordado no capítulo, o tópico “Estética”, expondo
como Tuan entende a interpretação e construção de mundo partindo de características
comuns a todos os homens. E depois passando por como as experiências individuais
imprimem afetividade a seus espaços.

“Topofilia” é sem dúvida uma obra da Geografia Humanista indispensável para que se
aprofunde a compreensão dos conceitos defendidos nessa corrente do pensamento
geográfico.

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Manuel. “A Geografia como ciência e sociedade”. In Ciência e


Sociedade. Recife, Editora Universitária UFPE, 2006.

SANTOS, Milton. “Metamorfoses do Espaço Habitado.” São Paulo, Hucitec, 1994.

TUAN, Yi-Fu, “Topofilia – um estudi da percepção, atitudes e valores do meio


ambiente.” São Paulo, Editora Difel, 1980.

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