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Índice
Resumo............................................................................................................................III

1.0 Introdução....................................................................................................................4

1.1 Objectivos:...................................................................................................................5

1.1.1 Objectivo geral.........................................................................................................5

1.1.2 Objectivos específicos:.............................................................................................5

2.0 Gestão de Recursos Naturais.......................................................................................6

2.1 Conceito e Categorização dos Recursos Naturais.......................................................6

2.2 Contextualização da Gestão de Recursos Naturais.....................................................7

3.0 Gestão de Terra em Moçambique................................................................................7

4.0 Conclusão..................................................................................................................13

5.0 Referência bibliográfica............................................................................................14

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Resumo

O trabalho objectiva abordar aspectos relacionados à gestão de recursos naturais,


trazendo assim, inicialmente, os conceitos básicos no que se refere à recursos naturais,
contextualização da gestão de recursos naturais e a gestão de terra em Moçambique
com intuito de perceber o processo de gestão de terra no caso de Moçambique.
Considera-se que os recursos naturais são aqueles que se originam sem qualquer
intervenção humana. É possível ainda fazer distinções quanto à definição de recursos
naturais próprios de um Estado, os compartilháveis entre Estados e os que são
patrimônio comum da humanidade. Dessa forma a definição de recursos naturais ainda
abarca uma gama abrangente de componentes, tais como: recursos minerais, compostos
por minérios; recursos biológicos, formados por fauna e flora; recursos ambientais,
integrados pelo ar, pela água e pelo solo; e recursos incidentes, compostos pela radiação
solar, pelos ventos e pelas correntes oceânicas. Conclui-se que em Moçambique a terra
é propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por qualquer outra forma, alienada,
hipotecada ou penhorada. Como meio universal de criação de riqueza e de bem-estar
social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo moçambicano.
Palavras-Chave: Gestão; Recursos Naturais; Terra; Moçambique.

III 3
1.0 Introdução

A Gestão de Recursos Naturais (GRN) é o conjunto de ações destinadas a regular o uso,


o controle e a proteção dos recursos naturais. Sua necessidade emergiu nos debates
científico e político, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, acerca do interesse e
da preocupação de movimentos ambientalistas, regulamentações, organizações não-
governamentais, organizações internacionais, dentre outros, quanto às questões
ambientais e ao uso desordenado e devastador dos recursos naturais. De acordo com
Alves e Freitas (2013, p. 193), por muito tempo se teve a despreocupação quanto aos
impactos ambientais causados pelo crescimento econômico desordenado e pelo uso
desenfreado dos recursos naturais, como se fossem fontes inesgotáveis. Por isso, surge a
necessidade da gestão de recursos naturais e, para as autoras, a obtenção de resultados
positivos dependeria das boas práticas de gestão, as quais deveriam levar em conta
fatores como os interesses políticos e sociais, os objetivos que direcionam o
desenvolvimento socioeconômico e os instrumentos de gestão disponíveis.
Consequentemente, possibilitando que haja interação entre o modelo econômico e a
ação sobre o meio ambiente. Enfatizar que o aumento da competição e demanda por
recursos naturais de todos os tipos (petróleo, gás, minerais, metais, florestas, pesqueiros,
terras e água, por exemplo) estão relacionados ao crescimento dos conflitos gerados
pela problemática da escassez de recursos entre usuários de larga escala e comunidades
locais (DARBY, 2010, p. 5). Assim, o uso comum de grande parte dos recursos naturais
gera a necessidade de gerenciar, negociar e resolver conflitos entre os diferentes
usuários desses recursos.

O trabalho emerge da necessidade da percepção da gestão de recursos naturais, caso da


terra. Tendo em conta que a sua má gestão e administração pode gerar conflitos entre a
comunidade e o estado, ou seja entre os usuários dos mesmos; lembrando que existe
uma lei vigente que regula a questão do acesso dos recursos naturais.

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1.1 Objectivos:

1.1.1 Objectivo geral

 Descrever a gestão dos recursos naturais.

1.1.2 Objectivos específicos:

 Conhecer os recursos naturais;


 Explicar o processo da gestão de terra em Moçambique;
 Confrontar a lei e a realidade na gestão de terra em Moçambique.

Metodologia

O trabalho resultou de uma revisão bibliográfica cujo os artigos consultado foram


referenciados no trabalho em forma de citação e na referência bibliográfica.

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2.0 Gestão de Recursos Naturais

2.1 Conceito e Categorização dos Recursos Naturais

O conceito de recursos naturais adoptado neste trabalho é o de Brito (2006, p. 72), pois
define que: “recursos são elementos de que o homem se vale para satisfazer suas
necessidades. Os recursos naturais são aqueles que se originam sem qualquer
intervenção humana”. É possível ainda fazer distinções quanto à definição de recursos
naturais próprios de um Estado, os compartilháveis entre Estados e os que são
patrimônio comum da humanidade.

A diferença entre recursos naturais compartilhados e recursos do patrimônio


comum internacionais está baseada no número de Estados que compartilham o
recurso, pois os recursos como patrimônio comum pertencem a comunidade
internacional e não podem ser individualizados para os Estados, já os recursos
compartilháveis estão pela jurisdição de dois ou mais estados que os
compartilham de forma exclusiva (BRITO, 2006, p. 73).
Os recursos compartilhados podem ser divididos em duas espécies:

1- Substância fluidas, como os líquidos e os gases, os quais ultrapassam as


fronteiras de um Estados; e
2- Os animais que migram e cujo habitat compreende mais de um território estatal
(BRITO, 2006, p. 74).

Assim, ainda de acordo com Brito (2006, p. 74), a natureza constitutiva dos recursos
naturais é que vai determinar se o recurso será compartilhado ou não, mas pode-se
elencar os recursos naturais compartilháveis como: “as espécies de animais marinhos
migratórios, a atmosfera, os rios e lagos internacionais, as águas subterrâneas, os
reservatórios de gás, petróleo e energia geotérmica” (BARBERIS, 1979, p. 148 apud
BRITO, 2006, p. 74).

De acordo com Fonseca (1992 apud SENHORAS; MOREIRA; VITTE, 2009, p.3), “em
concordância com a definição de recursos naturais anteriormente adoptada, adiciona a
classificação dos recursos renováveis e não renováveis, em função de suas capacidades
ou não de esgotamento”. A definição de recursos naturais ainda abarca uma gama
abrangente de componentes, tais como: recursos minerais, compostos por minérios;
recursos biológicos, formados por fauna e flora; recursos ambientais, integrados pelo ar,
pela água e pelo solo; e recursos incidentes, compostos pela radiação solar, pelos ventos
e pelas correntes oceânicas. Senhoras, Moreira e Vitte (2009, p. 3) ressaltam que a

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característica natural dos recursos adquire um perfil geopolítico quando espaços de
atração da intervenção humana para exploração sistemática. Em plano global de
escassez de recursos naturais, estes recursos convertem-se em elemento geopolítico de
poder internacional, motivando disputas e conflitos que ocorrem nos âmbitos político,
econômico e/ou militar.

Assim, ainda pontuam os atores, o recurso natural passa a ser estratégico quanto
se torna escasso e/ou é potencialmente essencial para o desenvolvimento das
atividades econômicas, já que: “o componente conflitivo da geopolítica dos
recursos naturais acontece em função da assimetria natural de sua dotação,
quando em alguns territórios há abundância e em outra escassez” (SENHO-
RAS; MORREIRA; VITTE, 2009, p. 3).
2.2 Contextualização da Gestão de Recursos Naturais

A Gestão de Recursos Naturais (GRN) é o conjunto de ações destinadas a regular o uso,


o controle e a proteção dos recursos naturais.

Sua necessidade emergiu nos debates científico e político, principalmente nas


décadas de 1960 e 1970, acerca do interesse e da preocupação de movimentos
ambientalistas, regulamentações, organizações não-governamentais,
organizações internacionais, dentre outros, quanto às questões ambientais e ao
uso desordenado e devastador dos recursos naturais (CARVALHO; CURI;
LIRA, 2013, p. 31; LACERDA; CÂNDIDO, 2013, p. 13).
O modelo econômico capitalista vigente na actualidade, baseado no uso desregulado dos
recursos naturais e configurado desde a revolução industrial dos séculos XVIII e XIX,
tem causado uma variedade de danos ao meio ambiente, agravamento dos conflitos
ambientais, aumentando a possibilidade de escassez de recursos naturais e prejudicando
a qualidade de vida dos indivíduos. Com isso, nos anos de 1970, surge a perspectiva da
sustentabilidade como forma de modificação de modelos de desenvolvimento, com o
intuito de salvaguardar o meio ambiente e os recursos naturais para as futuras gerações
(LACERDA; CÂNDI- DO, 2013, p. 13).

3.0 Gestão da Terra em Moçambique

Moçambique é um dos bons exemplos dos países Africanos que têm desenvolvido
metodologias de delimitação das comunidades rurais e tem estado a implementar com
sucesso a sua reforma da lei de terra.

A nova lei de terra em Moçambique surgiu em 1997 e desde então um número


significativo de comunidades rurais reforçou o seu direito de uso e
aproveitamento da terra. Esta é uma vitória, um marco social e histórico, digno
de registo e apreciação, jamais visto na história contemporânea, desde a

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Conferência de Berlim onde o continente africano foi divido para melhor ocupar
e governar[ CITATION MAT11 \l 1046 ].

Apesar deste progresso em Moçambique, o desenvolvimento rural não tem sido um


processo pacífico. O conceito actual, tem atribuído o papel de liderança ao sector
privado que tem ocupado lugares-chave na agricultura empresarial de escala, onde se
apoia a economia rural. Camponeses, comunidades locais e a população rural em geral
são vistos como fornecedores de mão-de-obra e parceiro para ter acesso à terra, recursos
naturais e excedente da produção agrícola.

Este ambiente tem criado tendência de implantação de uma relação de cima para
baixo nos projectos e programas privados desenhados a nível nacional sem a
participação verdadeira das pessoas no local. Estas características muitas vezes
não são compatíveis para assegurarem a construção duma parceria genuína,
ficando a população rural sem espaço para decidir sobre o seu próprio futuro em
condições favoráveis para ela. Aliás o direito público comunitário consagrado
na legislação sobre terras, artigo 13 ponto 3, relativo à Consulta Comunitária, se
não ignorada, é deficiente1.
Em Moçambique a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por
qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada. Como meio universal de
criação de riqueza e de bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de
todo povo moçambicano.

Apesar do uso e aproveitamento da terra constituir um direito do povo moçambicano


consagrado na Constituição da República (número 2 do artigo 110) e na respectiva Lei
de Terras, tem havido problemas na gestão e administração de terras que culminam em
conflitos de terra pelo país, com sérios impactos sobre as populações mais pobres e
vulneráveis.

A deficiente e ineficaz gestão e administração da terra pelo Estado, sobretudo


no que se refere à atribuição do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra
(DUAT) e à defesa do Direito da população à terra, tem sido largamente
estudada e denunciada. No entanto, os conflitos de terra, na sua grande maioria
entre comunidades rurais e grandes projectos de investimento, permanecem sem
resolução[ CITATION MAT11 \l 1046 ].

Em 2011, a Justiça Ambiental (JA) e a União Nacional de Camponeses (UNAC)


lançaram um estudo “Os senhores da Terra” que apresentava uma série de projectos de
investimento com conflitos de terra com as comunidades locais. Estas e outras
evidências foram submetidas ao Estado, mas, grande parte destes mantêm-se e outros
tantos surgiram. A JA e várias organizações têm denunciado estes casos e têm exigido a

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Resolução do Conselho de Ministros nº 10/95, de 17 de Outubro, aprova a Política Nacional de
Terras
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intervenção do Estado na resolução dos mesmos, inclusive através dos tribunais. No
entanto, é evidente a inacção do Estado e a protecção dos interesses dos grandes
investimentos em detrimento dos direitos das comunidades locais, apesar de todas as
salvaguardas na Política Nacional de Terra (PNT) e na legislação em vigor.

A actual PNT estabelece como prioridades:

(i) Criação de condições para que a agricultura do sector familiar se desenvolva e


cresça, tanto em volume de produção como em índices de produtividade, sem
que o acesso à terra seja impeditivo;
(ii) Promoção do investimento privado, utilizando, de uma forma sustentável e
rentável, a terra e outros recursos naturais, sem prejudicar os interesses locais; e
(iii) Conservação das áreas de interesse ecológico e gestão dos recursos naturais de
uma forma sustentável, de forma a garantir a qualidade de vida da presente e
futuras gerações.

Defende-se que o Estado prioriza o sector privado na atribuição de terra, que tem
ocupado lugares-chave na agricultura empresarial, onde se apoia a economia rural,
relegando os camponeses e as comunidades locais, em geral, para o papel de
fornecedores de mão-de- obra a baixo custo e um meio de acesso à terra, recursos
naturais e excedente da produção agrícola.

No processo de atribuição de terras a grandes investimentos verifica-se que,


vezes sem conta, são concessionadas terras já ocupadas pelas comunidades
locais, sem salvaguarda dos seus direitos e sem considerar o potencial da terra
para produção de alimentos. Sendo estas terras férteis utilizadas para o uso
intensivo e em grande escala (plantio de monoculturas de árvores, normalmente
espécies exóticas de crescimento rápido - tais como eucalipto e pinheiro,
agronegócio e mineração), sem o devido rigor no cumprimento dos requisitos
exigidos por Lei, particularmente no que se refere às consultas comunitárias,
para a sua aquisição, quando comparado com o processo de obtenção de DUAT
para projectos de gestão comunitária[ CITATION ORA10 \l 1046 ].

Este cenário, para além de contribuir significativamente para o aumento de casos de


conflitos de terra, tem igualmente contribuído para o desmatamento, para a conversão
de floresta nativa em plantações de monoculturas e outros usos, com sérios impactos
ambientais e sociais, que incluem a fragmentação e perda de habitats naturais, perda da
biodiversidade, aumento de escoamento superficial, erosão do solo, contaminação de
solos, dos cursos de água e do ar, pelo uso de agroquímicos, contribuindo ainda para o
aumento de pragas e doenças, num contexto actual da crise climática, nomeadamente do
aumento da ocorrência e da intensidade de eventos climáticos extremos, como ciclones,
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secas e inundações, com impactos devastadores para a vida social e económica do país,
como se pôde verificar recentemente com os ciclones Idai e Kenneth.

Os projectos ou iniciativas comunitários que promovam a gestão comunitária de


recursos naturais estão sujeitos às mesmas exigências que qualquer outro
projecto com investimento privado, não há qualquer facilidade ou apoio na
tramitação do processo, não há, sequer, a preocupação em explicar devidamente
os inúmeros procedimentos para que uma associação comunitária ou os
membros de uma comunidade possam entender e serem eles mesmos, de forma
independente, a avançar com o processo, sendo necessário o apoio ou a
intervenção de organizações da sociedade civil ou privados[ CITATION ORA10 \l
1046 ].
Ora vejamos, a justiça ambiental (JÁ) implementou de 2010 a 2013, em parceria com a
ORAM, um projecto que visava essencialmente o estabelecimento de uma concessão
florestal comunitária na província da Zambézia. Este projecto vinha complementar um
trabalho já iniciado, portanto, já havia a associação formalizada, já tinha sido elaborado
o inventário florestal e o respectivo plano de maneio, custeado por um projecto anterior,
pois a associação não teria de forma alguma de custear os valores elevadíssimos que
este tipo de trabalho requer. Em 2010, o inventário e plano de maneio para a concessão
foram submetidos para aprovação, a serração estava quase pronta, ou seja, tudo a postos
para dar início à exploração e ao funcionamento da serração. No entanto, sem qualquer
justificação válida, a licença de corte só foi emitida em 2013; já o projecto tinha
finalizado quando, finalmente, a associação teve a sua autorização. Ao longo deste
período, vários foram os pedidos de celeridade no processo, vários foram os pedidos de
encontro submetidos às instituições relevantes para melhor perceber a razão da demora
no processo. No entanto, em momento algum sentimos qualquer vontade destas
instituições de explicar a razão da demora, de inclusive receber-nos para que
pudéssemos discutir o processo.

Sentimos a aqui que a prioridade do Estado na atribuição de terra tem sido a favor do
investimento e em detrimento das necessidades do povo, o que contraria, sobremaneira,
os princípios estabelecidos na legislação de terra.

Recentemente, no lançamento do processo nacional de auscultação pública no âmbito da


revisão da PNT, ocorrido a 16 de Julho de 2020, o chefe de Estado referiu que “ (...) o
Estado moçambicano continuará a ser o proprietário da terra e outros recursos naturais;
todos os moçambicanos têm o direito de acesso à terra e os direitos adquiridos pelas
famílias e comunidades locais deverão sempre ser protegidos”. Embora, estas premissas
não sejam uma novidade, pois já constavam da Política Nacional de Terras e da própria
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Lei de Terras, não obstante persistirem os conflitos de terra, influenciados pela pujança
do capital das multinacionais e dos seus interesses sobre o Estado moçambicano e o
bem-estar das populações rurais2.

É visível a diferença no tratamento de processos de atribuição de terra para


projectos de investimento, que são processados e finalizados em tempo recorde,
quando comparados com projectos ou iniciativas comunitárias ou até com
pedidos de DUAT individuais para uma simples habitação, que levam anos,
ficam perdidos nos gabinetes e muitas vezes “requerem” algum incentivo para
serem novamente encontrados. No entanto, nos grandes investimentos é comum
minimizar ou facilitar importantes passos, como as consultas comunitárias,
violando inclusive uma série de instrumentos legais[ CITATION MAC16 \l 1046 ].

Será o povo uma prioridade no acesso à terra? A resposta a esta questão é negativa. O
povo não é uma prioridade e não tem acesso privilegiado à terra, podendo isto ser
verificado a partir de alguns casos práticos. A Portucel, por exemplo, é uma das
empresas, de capital estrangeiro (pertence ao Grupo Navigator e com financiamento
Corporação Financeira Internacional – IFC, do Grupo Banco Mundial), que se dedica ao
plantio de eucalipto em larga escala para produção de papel e derivados. A Portucel tem
actualmente vários títulos de DUAT para uma área total de terra de 356 000 hectares
localizados nas províncias de Zambézia e de Manica, que obteve no período de 1 ano de
forma bastante problemática.

Os processos de aquisição de DUAT de projectos de investimentos, embora sejam


processos de interesse público e cuja informação deve ser, portanto, pública, na
realidade não o são. A JA solicitou várias vezes estes e outros processos, tanto às
empresas como às instituições do Estado, sem sucesso e foi necessário interpor, uma
acção judicial, para ter acesso aos mesmos. Nestes processos, é possível verificar que os
mesmos tiveram início e fim em 2009.

Neste processo, o Governo ignorou o facto de estas terras estarem ocupadas


pelas comunidades locais, ignorou e, por vezes combateu, as inúmeras
preocupações sociais e ambientais apresentadas pelas organizações da sociedade
civil, e atribuiu, mesmo assim, as terras ocupadas pela comunidade local àquela
empresa, e passou a responsabilidade de negociar estas terras com as
comunidades locais à empresa[ CITATION BRU17 \l 1046 ].

A empresa, por sua vez, através de inúmeras promessas de vida melhor, de acesso a
emprego, reabilitação de escolas, estradas e fontanárias e outras tantas promessas,

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Regulamento Sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental; Lei n0 19/97, de 1 de Outubro -
Lei de Terra; Resolução do Conselho de Ministros nº 10/95, de 17 de Outubro, aprova a Política Nacional
de Terras.

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estabeleceu contratos individuais de cedência de terra com as famílias afectadas, um
documento sem qualquer enquadramento legal e que mostra claramente que esta terra é
cedida em troca de prioridade de emprego.

Contudo, esta disparidade de tratamento de pedidos de DUAT sugere que o problema


não reside necessariamente na legislação da terra, mas essencialmente na sua aplicação
e na clara priorização dos interesses de investimento externos, em detrimento dos
interesses locais. O Estado tem que assumir o seu papel neste processo, a terra pertence
ao Estado e é o Estado que autoriza e regula o seu uso e aproveitamento. Portanto, é o
Estado que deve assegurar, antes de mais, a proteção dos direitos e interesses do povo
moçambicano que é constituído por cerca de 80%11 de população rural que depende da
terra para prática da agricultura para o sustento dos seus respectivos agregados. No
entanto, os inúmeros conflitos de terra por todo o país são prova de que a gestão de
terras tem sido bastante problemática.

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4.0 Conclusão

Tendo-se abordado o tema em destaque conclui-se que a Gestão de Recursos Naturais


(GRN) é o conjunto de ações destinadas a regular o uso, o controle e a proteção dos
recursos naturais. Sua necessidade emergiu nos debates científico e político,
principalmente nas décadas de 1960 e 1970, acerca do interesse e da preocupação de
movimentos ambientalistas, regulamentações, organizações não-governamentais,
organizações internacionais, dentre outros, quanto às questões ambientais e ao uso
desordenado e devastador dos recursos naturais. Todavia, Em Moçambique a terra é
propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por qualquer outra forma, alienada,
hipotecada ou penhorada. Como meio universal de criação de riqueza e de bem-estar
social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo moçambicano, mas apesar
do uso e aproveitamento da terra constituir um direito do povo moçambicano
consagrado na Constituição da República (número 2 do artigo 110) e na respectiva Lei
de Terras, tem havido problemas na gestão e administração de terras que culminam em
conflitos de terra pelo país, com sérios impactos sobre as populações mais pobres e
vulneráveis. Vários exemplos certificam como é o caso disparidade de tratamento de
pedidos de DUAT, onde os investimentos estrangeiros são priorizados em detrimento
aos locais.

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5.0 Referência bibliográfica

ALVES, I; FREITAS, L. Análise comparativa das ferramentas de gestão ambiental:


produção mais limpa x Ecodesign. In: LIRA, W; CÂNDIDO, G (2013) Gestão
sustentável dos recursos naturais: uma abordagem. Campina Grande: EDUEPB. (Org.).

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Regulamento Sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental; Lei n0 19/97, de 1


de Outubro - Lei de Terra; Resolução do Conselho de Ministros nº 10/95, de 17 de
Outubro, aprova a Política Nacional de Terras.

Resolução do Conselho de Ministros nº 10/95, de 17 de Outubro, aprova a Política


Nacional de Terras;

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