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AULA 1

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS

Prof.ª Ana Lizete Farias


INTRODUÇÃO

Olá! Essa etapa é para construirmos um caminho até entendermos como


podem ser realizadas as avaliações econômicas de danos ambientais.
Então, nesse momento, vamos estabelecer os fundamentos básicos acerca
de alguns tópicos ambientais importantes para a nossa contemporaneidade.
Em primeiro lugar, vamos definir o que é natureza e meio ambiente. Na
sequência, vamos falar sobre o que é Capital Natural e como ele é abordado
conceitualmente.
Depois, iremos nos ater um pouco à conjuntura sociopolítica mundial e o
conceito e contextos do Antropoceno, aspectos importantes para entendermos
como o planeta está caminhando para uma degradação sem precedentes.
Vamos juntos!

TEMA 1 – NATUREZA E MEIO AMBIENTE

Figura 1 – Natureza e Meio Ambiente

Créditos: Mother/Adobe Stock.

Para situar nossos estudos, vamos esclarecer, previamente, dois pontos


de vista acerca do debate ambiental: a visão antropocêntrica, que é orientada por

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um humanismo, privilegiando a cultura e os seres humanos; e a biocêntrica, que
considera a natureza em primeiro lugar, com seu capital natural, colocando à
parte, de certa maneira, o capital humano e cultural.
Essas definições apontam, como tentaremos demonstrar ao longo da
nossa etapa, às concepções subjetivas quando se quer dizer o que significa
natureza, reforçando a necessidade de explicitar o contexto do qual se está
falando.
De uma maneira geral, natureza, em seu sentido lato, equivale ao mundo
físico, ou mundo material, com seus fenômenos físicos, a vida em geral – podendo
se referir a plantas e animais vivos, processos geológicos, clima etc.
A palavra “natureza” deriva da palavra latina natura, ou "qualidades
essenciais, disposição inata", e literalmente significa "nascimento". Natura, por
sua vez, foi uma tradução latina da palavra grega phýsis (φύσις), que
correlacionava plantas, animais e outras características do mundo como se
desenvolvendo por sua própria vontade (Lenoble, 1969, citado por Foladori,
2004).
Alguns autores, como Gonçalves (2002, p. 23), pensam a natureza
relacionada a uma construção no âmbito social, histórico e espacial e que, em
nossa sociedade, se opõe à cultura, não apresentando intervenção antrópica.
Já para Dulley (2004, p.17), o mundo natural pode diferir conceitualmente
de “ambiente” e “meio ambiente”. O autor entende que a cultura que diferencia o
homem dos demais animais é civilizadora, ou seja, nascemos num ambiente
natural, mas, simultaneamente, num ambiente sociocultural.
Para Lenoble (citado por Dulley, 2004, p. 19), “natureza não se resume ao
físico, pois ela é antes de tudo um produto, um resultado da visão que o homem
tem dela no tempo e espaço”.
É interessante observarmos a perspectiva desses pesquisadores de que,
afinal, a concepção de natureza vem sendo construída socialmente ao longo da
história humana na Terra.
Dulley (2004, p. 20) afirma ainda que a natureza e o ambiente seriam,
portanto, duas faces de uma mesma moeda, sendo que o segundo teria conotação
mais prática ou de utilidade, não só para o homem, mas também para qualquer
espécie”.

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Figura 2 – Abstração

Créditos: Blue Planet Studio/Adobe Stock.

Podemos concluir, dessa maneira, que a natureza que conhecemos é


sempre uma abstração e que será radicalmente diferente, segundo as épocas e o
tipo de sociedade vigente.
TEMA 2 – CAPITAL NATURAL

Figura 3 – Pantanal

Créditos: Cacio Murilo/Adobe Stock.

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Os bens naturais, renováveis e não renováveis, assim como os serviços
ecossistêmicos, são parte essencial da riqueza das nações. Contribuem para a
receita fiscal, renda e redução da pobreza, geram empregos e, na grande maioria
das vezes, são a base da subsistência para comunidades mais pobres.
“Capital Natural”, nessa perspectiva, é a visão de que os bens da natureza
são essenciais para as atividades econômicas, assim como as pessoas,
tecnologias e os recursos financeiro, justificando a conservação ambiental para
tomadores de decisão.
A abordagem da temática sob a ótica de Capitais Naturais é uma forma de
avaliar o verdadeiro valor dos recursos naturais, de maneira que a gestão de
recursos contribua significativamente para o desenvolvimento econômico e social
desenvolvimento de um país, em vez de um mero crescimento de curta duração
baseado em fontes de renda.
Segundo Goodland e Daly (1996), o capital natural pode ser entendido
como o “estoque” que produz o fluxo de recursos naturais para o futuro e que
esses fluxos podem ser colhidos ou extraídos e convertidos em receita.
Num sentido mais amplo, o capital natural apreende todos os elementos de
ecossistema que proporcionam o desenvolvimento de outras formas de capital.

Figura 4 – Cachoeira

Créditos: shams Faraz Amir/Shutterstock.

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Isso inclui matérias-primas minerais e biológicas, energia renovável (solar
e das marés) e fósseis combustíveis, capacidade de assimilação de resíduos e
funções vitais de suporte à vida (como estabilidade) fornecidas por ecossistemas
em bom funcionamento
Entender o capital natural, composto tanto pelo estoque de recursos
naturais e serviços ecossistêmicos vitais, é entender a base para o
desenvolvimento de uma gestão sustentável dos recursos naturais que sirva a
desenvolvimento de benefícios econômicos de longo prazo para a sociedade.
A melhoria e a preservação do Capital Natural não são apenas
responsabilidades do setor público ou das iniciativas privadas. A sociedade de
forma geral também precisa entender a sua relação com o meio ambiente e como
é possível preservar o capital natural existente.

TEMA 3 – RECURSOS RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS

Como vimos, o Capital Natural é composto por bens (ou recursos) naturais,
enquanto componentes da paisagem geográfica. Ainda que não tenham sofrido
importantes transformações pelo trabalho humano e sua origem seja
independente dos seres humanos, lhe são atribuídos,
historicamente, valores econômicos, sociais e culturais. Portanto, só podem ser
compreendidos a partir da relação homem-natureza.
Ou seja, se, por um lado, os bens naturais ocorrem e se distribuem segundo
uma combinação de processos naturais, por outro, sua apropriação ocorre
segundo valores humanos. Além da demanda, da ocorrência e de meios técnicos,
a apropriação dos recursos naturais pode depender também de
questões geopolíticas, sobretudo quando se caracterizam como estratégicos,
envolvendo disputa entre povos.
Mas vejamos o que são esses bens:
Recurso natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações
e os ecossistemas necessitam para sua manutenção. Portanto, recurso natural é
algo de extrema importância para a continuidade da vida de todos os seres.
Os recursos naturais, também chamados de recursos ambientais, podem
ser classificados como bióticos e abióticos e são pré-requisitos indispensáveis
para a vida dos organismos em seus ambientes, visto que são consumidos à
medida que crescem e se reproduzem, permitindo a manutenção da vida.

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Os recursos não se distribuem de forma igual e homogênea nos locais em
que estão disponíveis. Em decorrência do consumo de outros indivíduos, eles
podem ser insuficientes para a necessidade de todos.
Estes recursos, pela disponibilidade, são caracterizados como renováveis
e não renováveis. Recursos renováveis e não renováveis são fontes de energia
que a sociedade humana utiliza para manutenção da vida cotidiana.
A diferença entre esses dois tipos de recursos é que os recursos renováveis
podem se reabastecer naturalmente, enquanto os não renováveis, não. Isso
significa que os recursos não renováveis são limitados em oferta e não podem ser
usados de forma sustentável.

Figura 5 – Recursos Renováveis

Créditos: tonefotografia/Adobe Stock.

O termo “renovável” é geralmente aplicado aos recursos energéticos e


tecnologias cuja característica comum é não serem esgotáveis ou naturalmente
recarregáveis. Isso inclui a energia solar, o vento, a força gerada por quedas de
água, calor da terra (geotérmica), materiais vegetais (biomassa), ondas, correntes
oceânicas, diferenças de temperatura nos oceanos e energia das marés.

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Figura 6 – Recursos Não-Renováveis

Créditos: evgenii_y/Adobe Stock.

Existem quatro tipos principais de recursos não renováveis: petróleo, gás


natural, carvão e energia nuclear. Petróleo, gás natural e carvão são
coletivamente chamados também de combustíveis fósseis.
Além dos recursos naturais renováveis e não renováveis, o capital natural
também é composto por serviços ecossistêmicos, como a capacidade de assimilar
resíduos e a produção de funções vitais de manutenção da vida, bem como a
purificação da água e a ciclagem de nutrientes.

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Figura 7 – Serviços Ecossistêmicos

Créditos: Viesinsh/Adobe Stock.

Os serviços ecossistêmicos são essenciais para a manutenção da vida e


da atividade econômica, mas são difíceis de quantificar e, portanto, receberam
relativamente pouca atenção no passado, nos círculos de formulação de políticas.
Com o reconhecimento de que a perda desses serviços ecossistêmicos, como a
capacidade da atmosfera de absorver dióxido de carbono sem se tornar
perigosamente instável e ameaçadora para as sociedades e economias, há agora
intensos esforços em andamento em todo o mundo para incluir a análise e
contabilização dos serviços ecossistêmicos na formulação de políticas ambientais
(Muñoz e Freitas, 2017).

TEMA 4 – O ESTADO DO MUNDO

Em 2020 nos deparamos com algo que deixou atônitos e, por que não dizer,
em pânico, assim como a maioria das pessoas no mundo: o surgimento da Covid-
19, doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2.

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Figura 8 – COVID-19

Créditos: Rick/Adobe Stock.

Assistimos imagens e noticias ininterruptamente sobre a tragedia, a


decretação da pandemia e a revelação de bilhões de seres humanos vivendo,
alimentando-se e se reproduzindo em meios contaminados, com toda a sorte de
doenças inéditas, imersos numa condição ímpar de desamparo.
A pandemia mostrou o que temos incessantemente negado: a nossa
responsabilidade nas práticas de habitar, viver e o planeta, e também nossa
dinâmica com os laços sociais.
Aprofundou divisões, ao mesmo tempo que se demonstrou que a
colaboração era urgentemente necessária para resolver desafios globais
iminentes, assim como a interdependência dos riscos globais.
Em termos ambientais, as consequências sanitárias e econômicas da
pandemia rapidamente se transformaram em crises agravadas. As emissões de
carbono aumentaram, à medida que a economia global pós-pandêmica voltou a
crescer.
No entanto, malpassado esse período, em 2022, poucos teriam previsto a
extensão da instabilidade que logo se desenrolaria, desta vez impulsionada por
uma nova guerra na Europa.

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Figura 9 – Conflitos

Créditos: kirill_makarov/Adobe Stock.

Comida e energia tornaram-se armas pela guerra na Ucrânia, levando a


inflação a níveis não vistos em décadas, globalizando uma crise de custo de vida
e alimentando a inquietação social. A mudança resultante na política monetária
marca o fim de uma era econômica definida pela facilidade de acesso a dívida
barata e ainda terá vastas ramificações para governos, empresas e indivíduos,
ampliando desigualdade dentro e entre os países.
Sem dúvida, esse é um ponto central para tensões geopolíticas e a
confluência de riscos socioeconômicos. Coloca-nos frente à frente com riscos
mais graves para as economias e sociedades nos próximos anos.
A atenção mundial está direcionada para a “sobrevivência” das crises de
hoje: custo de vida, problemas sociais e políticos polarização, abastecimento de
alimentos e energia, crescimento baixo, e conflitos geopolítico, entre outros.
No entanto, há outros riscos emergentes ou em rápida aceleração, como a
contaminação/desaparecimento de ecossistemas naturais, o surgimento de vírus
e bactérias que impactam severamente a saúde humana, segurança, direitos
digitais que poderão se tornar crises e catástrofes na próxima década.

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Figura 10 – Crise

Créditos: Golden Sikorka/Adobe Stock

No Brasil, em 2022, dados do segundo Inquérito Nacional sobre


Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da rede
Penssan 1, mostraram que só 4 entre 10 famílias conseguem acesso pleno à
alimentação. Em comparação à população do país, a fome atingiu 33,1 milhões
de pessoas.
Também é importante relembrar estamos ultrapassando os oito outros
limites planetários que não deveriam ser cruzados para que a Terra permaneça
habitável para humanos e muitas outras espécies, como descreveu Steffen et al.,
2015: 1) mudanças climáticas; 2) perda de ozônio estratosférico; 3) acidificação
dos oceanos; 4) ciclos biogeoquímicos de nitrogênio e fósforo; 5) mudanças na
integridade da biosfera associadas à perda de biodiversidade; 6) mudanças no
uso do solo; 7) uso de recursos hídricos; 8) carga de partículas de aerossóis na
atmosfera; 9) introdução de entidades novas e poluição química.
Esse recorte do que podemos chamar de “estado do mundo”, ainda que
alarmante, confirma a urgência de agir e pensar sobre tantos sintomas da
“insustentabilidade ambiental” que atingem não somente as empresas, mas
principalmente os cidadãos comuns, nós.

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Disponível em: <https://pesquisassan.net.br/olheparaafome/>. Acesso em: 3 abr. 2023.
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Figura 11 – Colapso

Créditos: 2ragon/Adobe Stock

TEMA 5 – ANTROPOCENO

Figura 12 – Tempo geológico

Créditos: Nattapon/Adobe Stock.

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No início da nossa discussão, mostramos como o conceito de natureza está
intimamente conectado ao modo como nós nos temos apropriado dos bens
naturais. E no tópico anterior, acerca do estado do mundo, confirmamos que a
situação do planeta vem se deteriorando de maneira acelerada e até dramática,
ainda que tenhamos dificuldade em reconhecer isso na nossa vida.
Alguns exemplos são quantidades gigantescas de plástico nas praias e nos
mares, o desenvolvimento, sem precedentes, de novas substâncias que estão
sendo inseridas na superfície da Terra, raramente recicladas, solos com excesso
de fertilizantes, acidez dos oceanos, níveis de poluição sem precedentes, a
erosão das florestas tropicais, a ruptura dos ecossistemas, a extinção em massa
de espécies e a drástica perda de biodiversidade, o aquecimento global em uma
velocidade alarmante, numa lista infindável.
É nesse cenário que nos deparamos com a palavra Antropoceno,
substantivo que aparece hoje no título de centenas de livros e artigos científicos,
em milhares de citações, e seu uso continua a crescer nos meios de comunicação.
O Antropoceno se refere a uma nova era geológica, que surge para
denominar o período em que as ações humanas começaram a provocar
alterações biofísicas em escala planetária (Artaxo, 2014). Foi criada nos anos
1980, pelo biólogo norte-americano Eugene Stoermer e popularizada na década
de 2000 por Paul Crutzen, o cientista atmosférico holandês e vencedor do Prêmio
Nobel de Química de 1995.
Para entendermos melhor, vamos nos relembrar que a que a Terra teve
sua evolução determinada pelas forças geológicas desde sua origem, há cerca de
4,5 bilhões de anos, com subsequentes transformações significativas em sua
crosta e atmosfera.
Com o início da Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII,
um novo agente de mudança se somou às transformações geológicas: as novas
formas de ocupação que os seres humanos, a partir do modelo econômico
capitalista, desenvolveram.
A partir do final da Segunda Grande Guerra Mundial, as implicações
negativas no ecossistema terrestre tiveram um crescimento exponencial de
degradação (Marques, 2015).
Provavelmente, a mudança mais significativa, do ponto de vista geológico
é aquela que é invisível para nós – a mudança na composição da atmosfera. As
emissões de dióxido de carbono são incolores, inodoras e, num sentido imediato,

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inofensivas. Mas seus efeitos de aquecimento poderiam facilmente elevar as
temperaturas globais a níveis que não eram vistos há milhões de anos.
Algumas plantas e animais já estão mudando suas áreas de distribuição
para os polos, e outras espécies não sobreviverão ao aquecimento. Enquanto
isso, o aumento das temperaturas pode eventualmente elevar o nível do mar em
seis metros ou mais.
Muito tempo depois de nossos carros, cidades e fábricas se tornarem pó,
as consequências dessa queima de bilhões de toneladas de carvão e petróleo
provavelmente serão claramente discerníveis. À medida que o dióxido de carbono
aquece o planeta, ele também se infiltra nos oceanos e os acidifica.
Um dos grandes impasses do Antropoceno é que o seu enfrentamento
implica lidar com a delicada questão da justiça ambiental. Nessa medida, se torna
um conceito problemático, visto que implica que todos os seres humanos são
igualmente responsáveis pelos danos decorrentes do aquecimento global
antropogênico, o que sabemos que não é verdade, vistas as imensas
desigualdades socioambientais planetárias.
A crise ambiental instaurada no planeta ampliará os riscos já existentes
assim como criará outros para os sistemas naturais e humanos, distribuídos de
socialmente forma desigual.

Figura 13 – Injustiça ambiental

Créditos: Riccardo Niels Mayer/Adobe Stock.


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REFERÊNCIAS

ARTAXO, P. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno?


Revista USP, São Paulo, n. 103, 2014, p. 15. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/revusp/article/viewFile/99279/97695>. Acesso em 03
abr 2023.

DULLEY, R. D. Noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos


ambientais e recursos naturais. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 51, n.
2, p. 15-26, 2004.

FOLADORI, G. Uma tipologia do pensamento ambientalista. In: FOLADORI, G.


& PIERRI, N. (orgs.). Sustentabilidade? Discordâncias sobre
desenvolvimento sustentável. Blumenau: Edifurb (no prelo), 2004

GONÇALVES, C. W. P. Os descaminhos do meio ambiente. São Paulo:


Contexto, 2002.

GOODLAND, R.; DALY, H. Environmental sustainability: Universal and non-


negotiable. Ecol. Appl. 1996, 6, 1002–1017.

MARQUES, L. Capitalismo e colapso ambiental. – Campinas, São Paulo:


Editora da Unicamp, 2015.

MUÑOZ, A. M. M.; FREITAS, S. R. Importância dos Serviços Ecossistêmicos


nas Cidades: Revisão das Publicações de 2003 a 2015. Revista de Gestão
Ambiental e Sustentabilidade, v. 6, n. 2, p. 89-104, 2017.

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AULA 2

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS

Profa Ana Lizete Farias


INTRODUÇÃO

Nesta etapa, vamos ver de perto o conceito de dano ambiental e sua


diferenciação em relação a impacto ambiental. Também abordaremos um tema
urgente de um grande dano causado ao planeta pelo nosso estilo de vida em
sociedade: as mudanças climáticas. Na sequência, veremos o que são passivos
ambientais e para que serve a contabilidade ambiental relacionada a esse tema.
Por fim, acompanharemos alguns exemplos no Brasil sobre passivos ambientais.
Bons estudos!

TEMA 1 – DANOS E IMPACTOS AMBIENTAIS

Créditos: Piyaset/Adobe Stock.

Quando pensamos na palavra dano, é possível que nos venha à lembrança


o termo impacto. Por essa razão, vamos iniciar nosso estudo fazendo essa
distinção. A ideia de dano abre um grande leque de possibilidades de
interpretação, pois pode estar relacionada a questões patrimoniais, estéticas,
perdas, aspectos muitas vezes de difícil constatação.
No direito, um dano significa toda a desvantagem que um bem (patrimônio,
corpo, vida, saúde, crédito, bem-estar) pode sofrer, e, dessa maneira, passível de
reparação. Por consequência, une-se ao conceito de responsabilidade. No
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contexto desta etapa, dano ambiental é qualquer alteração no meio ambiente que
leve a consequências negativas. Nesse caso, poluição e degradação podem ser
consideradas potenciais promotores de danos.
A Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n. 6.938, de 31 de agosto de
1981), no art. 3º, define dano ambiental como a alteração adversa das
características do meio ambiente, de tal maneira que prejudique a saúde, a
segurança e o bem-estar da população, crie condições prejudiciais às atividades
sociais, afete desfavoravelmente a biota, prejudique condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente ou, por fim, lance rejeitos ou energia em desacordo
com os padrões ambientais estabelecidos (Brasil, 1981).
De acordo com o art. 3º, inciso II, da mesma lei, poluição é definida como:

a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta


ou indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia
em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (Brasil, 1981).

Por sua vez, o inciso II do mesmo artigo destaca que a degradação da


qualidade ambiental consiste na “alteração adversa das características do meio
ambiente” (Brasil, 1981).
Como dito anteriormente, frequentemente é possível confundir dano com
impacto, mas é necessário que diferenças sejam apontadas. Milaré (2007, p. 812)
explica que o dano causado pode originar reflexos diferentes em casos típicos,
podendo ter efeito mais aberto:

dano ambiental, embora sempre recaia diretamente sobre o ambiente e


os recursos e elementos que o compõem, em prejuízo da coletividade,
pode, em certos casos, refletir-se, material ou moralmente, sobre o
patrimônio, os interesses ou a saúde de uma determinada pessoa ou de
um grupo de pessoas determinadas ou determináveis.

É importante perceber que impacto é um conceito inerente ao dano, ainda


que seja positivo, negativo ou até subjetivo, como afirma Milaré quando se refere
à “dano moral”. Tomemos como exemplo a implantação de um aterro sanitário,
empreendimento que impacta positivamente a população em geral, no entanto as
comunidades que residem no entorno são afetadas negativamente.
O art. 1º da Resolução Conama n. 1, de 23 de janeiro de 1986, assim define
impacto ambiental:

Art. 1º [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e


biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou

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energia, resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais. (Brasil, 1986)

Os impactos ambientais são definidos a partir dos seguintes elementos


(Kapusta, 2009; SUREHMA/GTZ, 1992; Sánchez, 2013, citados por Farias, 2020):

Natureza: impactos podem ser positivos, quando acarretam melhorias


em termos de qualidade ambiental preexistente, ou negativos, quando
comprometem essa qualidade.
Incidência: se o impacto afeta de forma direta ou indireta o meio
ambiente.
Área de abrangência: impactos locais, quando ocorre no próprio local do
empreendimento, ou ainda na ADA (Área Diretamente Afetada); regional
(R), quando se propaga para fora desse local, na AID (Área de Influência
Direta); ou, estratégicos (E), quando se interligam com estratégias de
desenvolvimento local e/ou regional, podendo atingir a AII (Área de
Influência Indireta).
Duração ou temporalidade: tempo de duração do impacto na área em
que se manifesta podendo ser temporário ou permanente.
Reversibilidade: reversível será o impacto passível de ser revertido na
sua tendência ou os efeitos decorrentes das atividades do
empreendimento, levando-se em conta a aplicação de medidas para sua
reparação (no caso de impacto negativo) ou com a suspensão da
atividade geradora do impacto. Os impactos irreversíveis estão
relacionados ao fato de que mesmo com a suspensão da atividade
geradora do impacto não é possível reverter a sua tendência.
Cumulatividade e sinergia: a classificação de um impacto em relação a
este atributo considera a possibilidade de ocorrência de interação
cumulativa e/ou sinérgica com outros impactos, considerando as
atividades previstas para o empreendimento em questão. Nesse sentido,
uma vez identificada a possibilidade de interação cumulativa e/ou
sinérgica, é conferida ao impacto a qualificação “presente”. Por outro
lado, quando não é prevista a ocorrência destas interações o impacto
recebe a qualificação “ausente”.

Ressaltamos ainda que muitas vezes esses conceitos são subestimados e


se tornam alvo de grandes controvérsias perante a sociedade civil, trazendo uma
série de consequências sociais e ambientais. Exemplos disso são as nossas
próprias tragédias ambientais brasileiras, muitas delas recorrentes, como o
rompimento de barragens que ocorreu em Mariana e em Brumadinho.

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TEMA 2 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM DANO GLOBAL

Créditos: Arthur Kattowitz/Adobe Stock.

Se um dano ambiental é tudo o que causa qualquer alteração no meio


ambiente com consequências negativas, podemos afirmar que os efeitos já vistos
das mudanças climáticas na atualidade nos colocam diante da necessidade
imediata de estancar esse dano global.
Não é de hoje que a comunidade científica tem trazido evidências
contundentes de que essas mudanças estão associadas ao uso não sustentável
de recursos naturais, à urbanização acelerada dos grandes espaços e às
desigualdades sociais, colocando em risco o desenvolvimento futuro. Vamos
entender primeiramente o que são essas mudanças e os seus efeitos.
Desde 1988, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC),
órgão das Nações Unidas, produz e divulga periodicamente informações
científicas. Já no Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC, foi apresentado, com
90% de certeza, que a sociedade atual e sua maneira de estar no mundo são
responsáveis pelas mudanças do clima no planeta.
O documento estimava que as temperaturas iriam aumentar entre 1,8 e 4
graus ainda neste século e que, para garantir a qualidade de vida atual, é preciso

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que o aumento da temperatura média do planeta não ultrapasse 2º C em relação
aos níveis pré-industriais, na metade do século XIX.
Essa elevação é causada pelas emissões humanas de gases do efeito
estufa, principalmente o dióxido de carbono, e amplificada por respostas naturais
a essa perturbação inicial, em efeitos que se autorreforçam em realimentação
positiva. O aumento do dióxido de carbono tem sido provocado principalmente
pela queima de carvão, petróleo e gás natural – conhecidos como combustíveis
fósseis.
Em todo o mundo, os combustíveis fósseis são usados pelas pessoas no
transporte e na geração de eletricidade. Eles também fornecem calor em
residências quando são queimados e são usados em processos industriais. O
desmatamento de áreas florestais em todo o mundo também contribuiu para as
mudanças na atmosfera: as árvores absorvem dióxido de carbono quando
crescem e liberam gases de efeito estufa se forem derrubadas e queimadas ou
deixadas para apodrecer.
O dióxido de carbono está agora em concentrações que se aproximam de
uma vez e meia o nível na época do Revolução Industrial há cerca de 200 anos
(NOAA, 2022). Quanto mais ele estiver presente na atmosfera, mais calor será
retido e mais quente a Terra se tornará.
Dessa maneira, as mudanças climáticas se referem às alterações nas
condições climáticas médias, incluindo medidas como temperatura, umidade,
precipitação, nebulosidade e padrões de vento – e mudanças na frequência ou
gravidade dessas condições. Os principais impactos decorrentes que já estão
sendo observados são:

• mudanças nas temperaturas, com a ocorrência de ondas de calor extremas


que, segundo os relatórios do IPCC, teriam sido altamente improváveis sem
o recente aquecimento do planeta;
• aumento das chuvas, pois com o ar mais quente há maior retenção de
água;
• mudanças na disponibilidade de alimentos e água doce;
• elevação do nível do mar, em função das temperaturas do ar mais altas que
causam o aumento do derretimento das enormes camadas de gelo nas
regiões polares;
• perda da biodiversidade e de importantes ecossistemas, como os
oceânicos;
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• plantas e animais mudando para novas áreas devido ao aquecimento.

E quanto aos impactos futuros das mudanças climáticas? Grande parte do


dióxido de carbono que já emitimos permanecerá na atmosfera por séculos –
alguns até por milhares de anos. À medida que continuamos a adicionar a ele, a
concentração de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa aumentará e
o planeta ficará ainda mais quente.
À proporção que o mundo aquece, os impactos das alterações climáticas
se tornam mais fortes e claros: mais frequentes ondas de calor, diminuição da
disponibilidade de água em regiões hoje já secas e riscos substanciais à
diversidade de animais e plantas ao redor do mundo.

TEMA 3 – PASSIVO AMBIENTAL

Créditos: Aryfahmed/Adobe Stock.

Outro aspecto importante ligado ao conceito de dano ambiental diz respeito


aos passivos ambientais, ou seja, os danos causados ao meio ambiente por
empresas que legalmente têm obrigação de repará-los.
De maneira geral, passivo ambiental é como todo tipo de impacto causado
ao ambiente por determinado empreendimento e que não tenha sido reparado ao

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longo de suas atividades. Segundo Kraemer ([s.d.]), trata-se de obrigações
contraídas pela empresa perante terceiros que originam um gasto ambiental.
Veremos em detalhes exemplos mais contundentes e suas consequências
socioambientais, mas, a título ilustrativo, passivos podem abranger desde o
descarte incorreto de lixo até emissão de gases poluentes, lançamento de
produtos químicos em ambientes aquáticos, contaminação do solo ou águas
subterrâneas e alterações realizadas nas paisagens devido às construções de
estradas e projetos de mineração.
Ribeiro (2006) aponta que há três tipos de obrigações provenientes dos
passivos ambientais:

• obrigações de natureza legal: são aquelas em que a empresa tem uma


obrigação presente legal como consequência de um evento passado, que
é o uso do meio ambiente (água, solo, ar etc.) ou a geração de resíduos
tóxicos e que surge de um contrato, legislação ou outro instrumento de lei.
• obrigações construtivas: são aquelas que a empresa se propõe a cumprir
espontaneamente, excedendo as exigências legais. Isso pode ocorrer
principalmente quando ela estiver preocupada com sua reputação na
comunidade em geral ou está consciente de sua responsabilidade social e
usa os meios para proporcionar o bem-estar da comunidade.
• Obrigações justas: aquelas que refletem a consciência de responsabilidade
social, ou seja, a empresa as cumpre em razão de fatores éticos e morais.

Os levantamentos de passivos ambientais exigem equipe especializada,


pois incluem monitoramento em campo, análises de cunho laboratorial – quando
há indícios de contaminações –, ou seja, tudo o que for pertinente à caracterização
ambiental e seus processos causadores. Somente então é que o seu valor poderá
ser estimado, para que uma estimativa dele seja provisionada em detalhes e
presente em notas explicativas (Tinoco; Kraemer, 2011).

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TEMA 4 – CONTABILIDADE AMBIENTAL

Créditos: Czintos Ödön/Adobe Stock.

Informações ambientais vêm sendo objeto de crescente interesse de


empresas, comunidades acadêmicas, órgãos reguladores de contabilidade,
associações profissionais e outros desde meados da década de 1980. Isso tem
resultado no incremento de publicações acadêmicas que têm adotado diferentes
perspectivas com a maior parte das pesquisas voltadas à análise de relatórios
socioambientais e em busca de fundamentações teóricas que justificam essas
práticas.
O que é uma contabilidade ambiental? De acordo com Antonovcz (2014),
trata-se do registro e controle das atividades realizadas por uma empresa
referentes aos aspectos financeiros no tocante aos efeitos delas que possam
resultar em consequências para o meio ambiente. Inclui, ainda, a forma como isso
terá consequências em seus ativos, passivos ou mesmo no seu patrimônio líquido.
A definição reforça essa nova perspectiva dos custos ambientais na medida em
que altera o modo de desempenho das empresas, pois impacta suas decisões.
Em síntese, podemos afirmar que “contabilizar o meio ambiente” é a
medição e quantificação dos recursos ambientais apropriados pelas empresas e
os impactos positivos e negativos decorrentes (Ribeiro; Lisboa, 2000). Vale
lembrar que os bens ambientais são todos aqueles passíveis da exploração da

9
empresa como matéria-prima, ou seja, minérios, energia, alimentação, ar puro,
paisagem, aterros para depósito de resíduos etc.
Historicamente, a contabilidade já estava nas premissas do
desenvolvimento sustentável está contido no Capítulo 8, letra d, da Agenda 21,
que descreve sobre a “[...] necessidade de que países e organismos
internacionais desenvolvam um sistema de contabilidade que integre as questões
sociais, ambientais e econômicas” (Carvalho, 2011, citado por Ferreira, 2003, p.
14).
Mais adiante, no início dos anos de 1990, o International Accounting and
Reporting Issues recomendou que a contabilidade ambiental, deve ser inclusa na
identificação das atividades de uma empresa, assim como sua mensuração e
evidencias, ou seja, que todos os custos, inclusive os ambientais fossem inseridos
(Carvalho, 2012).
No Brasil, a edição da NPA 11 – Balanço e Ecologia, pelo Instituto Brasileiro
de Contabilidade (Ibracon) (1996) estabeleceu os princípios entre a contabilidade
e o meio ambiente, indicando o uso de registros específicos para ativos e passivos
ambientais.
Tinoco e Kraemer (2011) descrevem que somente em 1998 a contabilidade
ambiental passou a ser vista como um novo ramo da ciência contábil. Segundo
esses autores, isso se deu pela finalização do relatório financeiro e contábil sobre
o passivo e custos ambientais pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental das
Nações Unidas de Especialistas em Padrões Internacionais de Contabilidade e
Relatórios (United Nations Intergovernmental Working Groups of Expert on
International Standards of Accounting and Reporting – ISAR).

Em vigor desde 1º de janeiro de 2006 a NBC T 15, aprovada pelo


Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por meio da Resolução nº
1.003/04, estabelece “procedimentos para evidenciação de informações”
de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à
sociedade a participação e a responsabilidade social da entidade [...],
devendo ser divulgada como informação complementar às
demonstrações contábeis, [...] não se confundindo com as notas
explicativas. Desta forma a Contabilidade Ambiental passa a identificar,
avaliar e evidenciar eventos econômico-financeiros relacionados com
questões ambientais e, portanto, assumindo a função de instrumento de
comunicação entre empresas e sociedade.
Segundo Tinoco e Kraemer (2011) a Contabilidade Ambiental
proporciona vantagens de identificar e alocar custos ambientais,
permitindo controlar a redução de recursos, gerando demonstrativos
sobre a eficiência e a viabilidade econômica das ações ambientais e,
consequentemente, a contínua correção de ações ambientais.
Os autores ainda discriminam as vantagens da utilização da
contabilidade ambiental para as empresas: identificar, estimar, alocar,
administrar e reduzir os custos, particularmente os tipos ambientais, de

10
maneira que as decisões de investimentos estejam baseadas na relação
custo-benefício; controlar o uso e os fluxos da energia e dos materiais,
possibilitando sua redução; proporcionar a informação mais precisa e
detalhada para suportar o estabelecimento e a participação em
programas voluntários, com custos efetivos para melhorar o
desempenho ambiental, em ações ambientais; informação mais precisa
e mais detalhada para a medida e o relatório de desempenho ambiental,
melhorando, assim, a imagem de companhia junto aos stakeholders,
como clientes, comunidades locais, empregados, Governo e
fornecedores, e contribuindo para a sociedade em geral.
Além disso, como retribuição à sociedade, a contabilidade ambiental:
permite o uso mais eficiente de recursos naturais, incluindo a energia e
a água; reduz os custos externos relacionados à poluição da indústria,
como os custos da monitoração ambiental, fornece informações
ambientais para a tomada de decisão, fornece a informação ambiental e
industrial do desempenho, que pode ser usada no contexto mais extenso
das avaliações do desempenho e de condições ambientais nas
economias e em regiões geográficas. (Carvalho, 2012, p. 110)

TEMA 5 – CASOS DE PASSIVOS AMBIENTAIS

No Brasil existem diversos exemplos de passivos ambientais provocados


por empresas, com consequências dramáticas, como a perda de vidas, por
exemplo. Vamos analisar algumas dessas tragédias cujos brutais impactos ainda
se mantêm até hoje como passivos não resolvidos.

5.1 O deslizamento do Morro do Bumba

No dia 7 de abril de 2010, a comunidade do Morro do Bumba, na cidade de


Niterói (RJ), foi atingida por um deslizamento de terra composto essencialmente
de lama e lixo. O local havia sido um antigo depósito de lixo que, depois de sua
desativação foi se urbanizando com o passar do tempo com a anuência do poder
público local.
Naquele período o estado do Rio do Janeiro estava atravessando um
período extremamente chuvoso, aumentando a suscetibilidade dos ambientes
naturais. O número de mortos chegou a pelo menos 47, e cerca de 300 famílias
ficaram desabrigadas e desalojadas (G1, 2016).
O desmoronamento do Morro do Bumba teve grande visibilidade por parte
da toda a sociedade justamente por causa de histórico de uso do solo e ocupação
e por ser a ocorrência de maior número de afetados e de vítimas concentrada na
mesma localidade, comparada às outras regiões da cidade.
Nos documentários e fotos do tragédia disponíveis na internet, é possível
observar que, além do chorume que se via escorrendo pela localidade e do lixo

11
em valas do morro, havia também a presença de gás metano acumulado, ainda
que nada tenha sido exposto oficialmente pelos órgãos públicos.

5.2 A empresa Plumbum e sua exploração de chumbo

Outro caso de passivo em que até hoje o meio ambiente e as pessoas


envolvidas ainda sofrem as consequências foi a exploração de chumbo realizada
pela empresa Plumbum Mineração e Metalurgia nos municípios de Santo Amaro
(Recôncavo Baiano) e no Vale da Ribeira, estado do Paraná.
Na Bahia, as minas foram abandonadas em 1993 após terem produzido
cerca de 900 mil toneladas de chumbo, deixando como passivo
milhões de toneladas de resíduos e cerca de 500 mil toneladas de escória
(Manzoni; Minas, 2009). Desde o início do funcionamento da metalúrgica,
o município começou a sofrer os impactos da contaminação, com as grandes
pilhas de resíduos a céu aberto diretamente sobre os solos (Carvalho et al., 2003).
Além disso, houve distribuição da escória para que a prefeitura e a população
local utilizassem como pavimentação de ruas e construções públicas, como
creches e escolas (Alcântara, 2010).
Santo Amaro é considerada uma das cidades mais poluídas por chumbo
do mundo, sendo referência para o estudo acerca das consequências da
contaminação por chumbo e cádmio (Alcântara, 2010).
Na esteira de Santo Amaro, a Plumbum também deixou um rastro de
destruição e morte no Vale do Ribeira, região
entre os estados do Paraná e São Paulo. Nesse caso, o passivo ambiental, além
de rios e solos degradados, teve o agravante de os depósitos terem como
elemento a arsenopirita, que causa a contaminação por arsênio que pode
provocar desde conjuntivite até doenças cardiovasculares, distúrbios no sistema
nervoso central e vascular periférico, câncer de pele e gangrena nos membros.
O Vale do Ribeira já foi uma das maiores províncias metalogenéticas de
chumbo do Brasil, assim como possuidora de um
importante reservatório de água doce e remanescentes da floresta da Mata
Atlântica.

12
5.3 O caso da Shell

A história desse passivo ambiental é de 1974, com a instalação de uma


fábrica de pesticidas da Shell em Paulínia, estado de São Paulo, e que depois foi
adquirida pela Basf. A contaminação do solo e dos lençóis freáticos se deu por 28
anos, com metais pesados utilizados em seu processo produtivo. Conforme
demonstram as inúmeras matérias sobre o assunto relativas ao processo de
gestão da empresa, são instalações inadequadas, armazenamento de produtos
perigosos sem os devidos cuidados, disposição de resíduos tóxicos diretamente
nos solos, vazamentos, infiltrações que ocorriam muito próximas das residências
(Aliaga, 2016).
O caso foi levado aos tribunais, resultando no maior acordo da história da
Justiça Trabalhista brasileira em 2013, condenando as empresas multinacionais
Shell e Basf ao pagamento total de R$ 371 milhões para indenizar os 1.058
trabalhadores contaminados por substâncias cancerígenas. Também houve
indenização por danos morais coletivos, a qual foi destinada à construção de uma
maternidade em Paulínia e a instituições indicadas pelo Ministério Público que
atuassem em área de pesquisa, prevenção e tratamento de trabalhadores vítimas
de intoxicação em acidentes ambientais (Aliaga, 2016).
Por fim é importante lembrar que:

[...] a polêmica construção da hidrelétrica de Belo Monte e seus


passivos ambientais, sociais e econômicos, que a empresa Norte
Energia, com seu projeto mais controverso e de impacto ambiental
altíssimo tem transferido à sociedade brasileira.
Muitos desses aspectos são tangíveis – multas, compensações etc. –,
mas também os intangíveis, outros de complexa mensuração como os
direitos das populações tradicionais que foram violados desde a
constituição do projeto, bem como a reputação da empresa, fora os
ecossistemas que foram perdidos ou modificados de forma irreversível.
Apenas 13 das 47 condicionantes foram integralmente concluídas,
segundo parecer técnico do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis) analisado pelo Instituto
Socioambiental (ISA). (ISA, 2015)

Nesse caso, houve o reconhecimento de que o próprio governo federal, em


decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022, violentou os direitos dos
povos originários da região, quando não estabeleceu nem priorizou que consultas
prévias, livres e informadas, fossem realizadas, ainda que estivessem previstas
na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Quem pagará essa conta?

13
REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, M. M. C. Cidade de chumbo: uma experiência de divulgação em


vídeo sobre a contaminação ambiental na cidade de Santo Amaro da Purificação.
Diálogos & Ciência, ano IV, n. 12, p. 107-118, mar. 2010.

ALIAGA, M. K. L. Caso SHELL/BASF: reflexões para um novo olhar sobre os


acidentes ampliados. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região,
n. 49, p. 69-95, 2016. Disponível em:
<ttps://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/103323/2016_aliaga_
marcia_caso_reflexoes.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 14 jun.
2023.

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Gestão Financeira).

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adjacências gera passivo ambiental e contaminação. Mapa da Injustiça
Ambiental e Saúde no Brasil, 11 ago. 2014. Disponível em:
<https://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/pr-apos-prosperidade-
exploracao-do-chumbo-e-prata-em-adrianopolis-e-adjacencias-gera-passivo-
ambiental-e-contaminacao/>. Acesso em: 14 jun. 2023.

BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 2 set. 1981. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 14 jun. 2023.

_____. Resolução Conama n. 1, de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial da


União, Brasília, DF, 17 fev. 1986. Disponível em:
<http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=8902>. Acesso em: 14
jun. 2023.

CARVALHO, F. M. et al. Chumbo no sangue de crianças e passivo ambiental de


uma fundição de chumbo no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, v.
13, n. 1, p. 19-24, jan. 2003.

CARVALHO, G. M. B. Contabilidade ambiental. Curitiba: Juruá, 2012.

CHUVA deixa rastro de destruição em municípios do RJ. G1, 2 mar. 2016.


Disponível em: <https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/03/chuva-deixa-
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14
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FERREIRA, A. C. S. Contabilidade ambiental: uma informação para o


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Instituto para o Desenvolvimento Ambiental. 2009.

15
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History of atmospheric carbon dioxide from 800,000 years ago until January,
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Curitiba: Secretaria Especial do Meio Ambiente, 1992.

TINOCO, J. E. P; KRAEMER, M. E. P. Contabilidade e gestão ambiental. 3. ed.


São Paulo: Atlas, 2011.

16
AULA 3

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS

Prof.a Ana Lizete Farias


INTRODUÇÃO

Dando sequência ao nosso estudo, agora vamos compreender o que são


riscos ambientais e como realizar uma avaliação sobre eles. Com base nessa
conceituação, iremos examinar as grandes tragédias ambientais no mundo e
também uma das grandes tragédias brasileiras em andamento, a saber, o
desmatamento da Floresta Amazônica. Vamos entender quais os riscos
decorrentes disso.

TEMA 1 – RISCOS AMBIENTAIS

Os conteúdos anteriores nos mostraram que as questões ambientais e


sociais estão imbricadas com a nossa vida em sociedade e nosso modelo
econômico capitalista. Dessa maneira, podemos dizer que os riscos ambientais
apresentam diversas perspectivas e formas de abordar, que incluem aspectos de
saúde, econômicos, financeiros, geopolíticos.
Inicialmente iremos tratar dos riscos ambientais sob a ótica física e natural,
que podem, por sua vez, ser ou não ser potencializados pela atividade humana e
pela ocupação do território, como no esquema a seguir:

• Risco atual = áreas já ocupadas  risco de consequências


socioeconômicas;
• Risco potencial = áreas ainda não ocupadas  possibilidade de ocorrência
de processos geológicos: deslizamentos, inundações, terremotos, furacões
etc.)  danos socioeconômicos.

Os riscos são classificados levando em conta o estágio da ocupação


humana em determinada área tendo como objetivo identificar aqueles que já estão
instalados e resolvê-los (risco atual). Dessa maneira, é possível evitar que novas
áreas de risco sejam ocupadas (risco potencial) pelo fato de sua suscetibilidade à
ocorrência de fenômenos naturais (Cerri; Amaral, 1998):
Castro, Peixoto e Rio (2005) definem risco natural como aquele derivado
da própria instabilidade dos sistemas, que produzem como consequência danos
humanos, materiais e/ou ambientais com prejuízos econômicos e sociais. Um
exemplo são deslizamentos de encostas, inundações, com processos e eventos
naturais ou induzidos por atividades humanas.

2
Figura 1 – Ilustração sobre as consequências de deslizamento de encosta

Crédito: Puckillustrations/Adobe stock.

Temos ainda os riscos biológicos que estão relacionados à fauna e/ou à


flora e ocorrem por meio de microrganismos que, em contato com o homem,
provocam inúmeras doenças.
Fortunato e Fortunato Neto (2012) ainda contemplam outro grande grupo
de risco denominado como risco tecnológico. Esse conceito se vincula a prováveis
falhas ou decomposição de equipamentos, os quais podem provocar explosões,
vazamentos ou derramamentos de produtos tóxicos em hospitais, limpeza pública
(coleta de lixo), laboratórios etc.
Fortunato e Fortunato Neto (2012) ainda contemplam outro grande grupo
de risco denominado de risco tecnológico. Esse conceito se vincula a prováveis
falhas ou à decomposição de equipamentos, os quais podem provocar explosões,
vazamentos ou derramamentos de produtos tóxicos.

3
Figura 2 – Despejo de efluentes num rio

Crédito: Wonderisland/Adobe Stock.

Figura 3 – Exemplo das consequências de risco tecnológico

Crédito: QuietWord/Adobe Stock.

4
Atualmente, de maneira mais ostensiva, também nos deparamos com os
riscos sociais, também contemplados por Fortunato e Fortunato Neto (2012). Esse
tipo de risco é resultante das condições sociais e econômicas existentes,
materializados em más condições de habitação e saneamento, influenciando,
inclusive, os índices de desemprego e distribuição de renda da população.
O quadro a seguir ilustra a nossa classificação:

Quadro 1 – Riscos ambientais

ATMOSFÉRICOS
• Furacões, secas,
FÍSICOS tempestades, granizos,
NATURAIS raios etc.

GEOLÓGICOS
• Endógenos
o Terremotos,
atividades
vulcânicas,
tsunamis.
• Exógenos
RISCOS AMBIENTAIS

o Escorregamentos,
Erosão,
subsidência de
solos, solos
expansivos

HIDROLÓGICOS
• Enchentes, inundações

FAUNA E/OU FLORA


BIOLÓGICOS • Vírus, bactérias,
Fungos, ervas tóxicas e
venenosas
TECNOLÓGICOS
ANTRÓPICOS • Vazamento de produtos tóxicos, inflamáveis,
radioativos, queda de aviões, colisão de veículos

SOCIAIS
• Assaltos, guerras, conflitos, atentados
Fonte: Cerri; Amaral, 1998.

Como dito anteriormente, é importante ressaltar que os riscos ambientais


estão intrinsicamente conectados com outros grupos de riscos, quando uma
comunidade ou indivíduo específico são atingidos. É o caso de quando uma
empresa, por exemplo, contamina um determinado ambiente e toda a comunidade
local sofre com isso.

TEMA 2 – AVALIAÇÕES DE RISCOS

Como temos abordado ao longo do nosso estudo, é evidente que não há


como separar as atividades realizadas pelo homem do meio ambiente e, por isso,

5
numa avaliação de danos, é importante considerar se foram realizadas avaliações
de risco prévias.
Uma avaliação dos riscos é um processo estruturado e sistemático que
deve ser feita para o gerenciamento dos riscos, envolvendo comparação com
critérios de tolerabilidade tendo como objetivo final subsidiar processos de tomada
de decisão (DNV, 2006).
Riscos impostos a uma coletividade humana, seja por um empreendimento,
processo ou obra, comportam uma série de variáveis e, com isso, podem
apresentar níveis razoáveis de incerteza, decorrente principalmente da escassez
de informações nesse campo.
Desse modo, é necessário que seja realizada uma análise comparativa de
riscos o que, para tal, requer o estabelecimento de níveis limite, ou mínimos, a
serem utilizados como referências que permitam comparar situações muitas
vezes diferenciadas. A análise comparativa exige a discussão acerca da
tolerabilidade dos riscos, que, na maioria das vezes, pode ser efeito de um
julgamento subjetivo.
Mesmo diante desse cenário de incertezas e dificuldades, a definição de
critérios de tolerabilidade de riscos é significativamente relevante, principalmente
quando há potencial para causar danos a uma população.
As perguntas iniciais são muito importantes nesse tipo de avaliação:
Quais os riscos evidentes? Qual sua frequência? O que pode dar errado?
Quais os impactos?
De posse das respostas desses questionamentos iniciais, o passo seguinte
é interpretar se os riscos avaliados são altos ou baixos e, com base neles, decidir
se se há ou não necessidade de implementação de medidas adicionais de
segurança para reduzir ainda mais o risco.
Para o gestor da decisão, os critérios de aceitabilidade ou de tolerabilidade
de riscos, ou melhor, os valores acima dos quais os riscos avaliados sejam
considerados inaceitáveis ou intoleráveis serão de suma importância.
As avaliações de risco também devem conter informações sobre os riscos
sociais e individuais. Quando os riscos sociais são baixos porque a população
exposta não é grande, alguns membros da população podem estar expostos a
riscos individuais inaceitavelmente altos. Da mesma forma, pode acontecer a
situação inversa, ou seja, cada indivíduo de uma população está exposto a um

6
nível de risco baixo, mas, devido ao grande número de pessoas expostas, o risco
social poderia estar acima do critério de aceitabilidade correspondente
Deve-se ter cuidado em mensurar quantas pessoas estão sob risco; quanto
podem ser afetadas em caso de um acidente e quais podem ser os efeitos globais
sobre a comunidade.
Os critérios para classificação de risco geralmente estão relacionados à
gravidade, o que envolve desde a morte de pessoas e elevados danos ambientais
até consequências menores para pessoas e o meio ambiente, na ocorrência do
evento ou do impacto ambiental considerado.
Souza (2012) estabelece como denominações e níveis:

• Catastrófica (I): perigo à vida de pessoas ao redor da área, como resultado


dos produtos e processos envolvidos, riscos elevadíssimos para o meio
ambiente;
• Crítica (II): ameaça à saúde das pessoas ao redor da área, prejuízo sério
ao meio ambiente em casos de acidentes, não conformidade com requisitos
legais, consumo significativo de recursos naturais;
• Marginal (III): não conformidade com requisitos internos (normas), prejuízo
moderado ao meio ambiente, não conformidade com a política ambiental
da empresa, possível prejuízo à reputação da empresa, consumo
moderado de recursos naturais;
• Desprezível (IV): impacto baixo ou muito baixo sobre o meio ambiente,
evento dificilmente detectado.

A categorização dos riscos em termos de aceitabilidade deve ser feita


durante a fase de projeto, de forma que todo o empreendimento seja realizado de
acordo com o nível de segurança necessário.

TEMA 3 – GRANDES TRAGÉDIAS AMBIENTAIS

Uma característica fundamental dos riscos ambientais é que, quando se


concretizam, apresentam uma extensão catastrófica.
Outra característica dos novos riscos ambientais se refere à sua tendência
universalizante e globalizante, tornando-se independente da região geográfica em
que está sendo gerado.
O que está descrito acima não é algo novo, pois é visto historicamente em
todo o mundo, muitos envolvendo empresas multinacionais, que causaram danos

7
significativos à saúde, ao meio ambiente e à economia. Essas tragédias também
levaram a longos desafios legais e levaram a novas regulamentações globais.
Entender os principais aspectos desses desastres, sejam nucleares (a
exemplo de Chernobyl), químicos, por derramamento de poluentes etc., que
causaram danos irreparáveis às populações de diversos países, nos convoca a
uma reflexão sobre as consequências dos nossos sistemas produtivos.
Aqui mais uma vez podemos retornar ao desastre de 1952, em Londres,
como uma das piores lições aprendidas. Era 5 de dezembro de 1952 quando a
cidade iniciou um pesadelo que durou mais de quatro dias. O tradicional nevoeiro
londrino que caiu na entrada do inverno noite não era o mesmo, mas sim uma
neblina amarelada, espessa, malcheirosa e claramente tóxica. Quatro mil pessoas
morreram e outras 150 mil ficaram gravemente doentes por causa de infecções
respiratórias.
Foi também na década de 50, mais precisamente em 1956, que o mundo
teve ciência de quem desde a década de 30, a Chisso Corporation – despejava
rotineiramente seus rejeitos industriais nas águas que banhavam o município de
Minamata, no Japão, contaminando a vida marinha.
O Desastre de Minamata, como ficou conhecido, foi envenenamento de
centenas de pessoas por mercúrio, com a morte de mais de 900 delas pela
produção de PVC (policloreto de polivinila), plástico, liberando efluentes com alto
teor de mercúrio (Hernan, 2010).
A experiência do Japão influenciou muitas nações a estabelecer novos
limites para poluentes industriais, inclusive por meio da Convenção de Minamata
sobre o Mercúrio, um tratado internacional.
Outro marco das tragédias ambientais foi a denúncia de Rachel Carson,
nos Estados Unidos, 1962, sobre os efeitos do recém-descoberto DDT (dichloro-
diphenyl-trichloroethane), primeiro pesticida moderno. Utilizado após a Segunda
Guerra Mundial para o combate aos mosquitos vetores da malária e do tifo,
posteriormente foi largamente utilizado na Guerra do Vietnã. Carson naquela
época explicava como o uso desenfreado de pesticidas nos EUA alterava os
processos celulares das plantas, reduzindo as populações de pequenos animais
e colocando em risco a saúde humana (Carson, 2010). Rachel Carson conta com
detalhes o que ocorreu num dos livros mais famosos da história ambiental:
Primavera silenciosa.

8
No final da década de 60, o petroleiro Torrei Canyon 1967, um dos
primeiros supertanques petrolíferos, colidiu com um recife despejando 119 mil
toneladas do óleo na costa sudoeste do Reino Unido. A história se repetiu em
1984 quando o superpetroleiro Exxon Valdez colide em um rochedo deixando
vazar 40 milhões de litros de petróleo, contaminando uma área de 250 km2
(Hernan, 2010).
Em 1984, em Bhopal na Índia, a Union Carbide, uma das maiores indústrias
químicas do mundo, deixou vazar um tanque de armazenamento subterrâneo de
uma fábrica de pesticidas lançando ao ar 40 toneladas do gás isocianato de metila,
um dos mais graves acidentes no setor industrial da história. Em questão de
poucas horas, uma nuvem letal se dispersou sobre a densamente povoada cidade
de Bhopal, com 900 mil habitantes, matando mais de oito mil pessoas (BBC,
2014).
Na Rússia, 1986, na cidade de Chernobyl houve a explosão de um dos
quatro reatores da usina nuclear soviética de Chernobyl, lançando na atmosfera
uma nuvem radioativa que se espalhou não somente através da União Soviética,
mas também pela Europa Ocidental. Muitos anos após o desastre nuclear de 1986
em Chernobyl, por exemplo, as crianças começaram a sofrer de câncer da tireoide
como resultado de sua exposição a materiais radioativos (Hernan, 2010).

Figura 4 – Vista da cidade de Chernobyl atualmente

Crédito: Enolabrain/Adobe Stock.

O Brasil também apresenta um vasto histórico de danos ambientais


conforme levantamento sistematizado realizado por Borges, Ferreira e Rover
(2017) e Gonçalves (2017). A seguir, alguns dos mais conhecidos:

9
• 1984 – Vila Socó – uma falha em dutos subterrâneos da Petrobras
espalhou 700 mil litros de gasolina nos arredores dessa vila, localizada
também em Cubatão (SP). Após o vazamento, um incêndio destruiu parte
de uma comunidade local, deixando quase cem mortos;
• 1987 – Goiânia – um dos mais graves desastres radioativos do mundo
devido à contaminação de césio 137 onde dois catadores de lixo
arrombaram um aparelho radiológico nos escombros de um antigo hospital,
e encontraram um pó branco que emitia luminosidade azul. O material foi
levado a outros pontos da cidade, contaminando pessoas, água, solo e ar,
e causando a morte de pelo menos quatro pessoas;
• 2000 – Baía de Guanabara – um acidente com um navio petroleiro resultou
no derramamento de mais de um milhão de litros de óleo in natura no Rio
de Janeiro;
• 2003 – Cataguases, Minas Gerais – rompimento de uma barragem de
celulose ocasionando o derramamento de mais de 500 mil metros cúbicos
de rejeitos, compostos por resíduos orgânicos e soda cáustica atingindo os
rios Pomba e Paraíba do Sul, importantes no abastecimento das
populações locais e causando sérios danos ao ecossistema e à população
ribeirinha.
Em 2015 e em 2019 aconteceu o rompimento das respectivas barragens
de Mariana e de Brumadinho, em Minas Gerais.
O complexo minerário de Germano, em Mariana-MG, ao ser rompido,
lançou cerca 50 milhões de m³ de rejeitos de mineração de ferro no meio
ambiente, os quais foram carreados até o Estado do Espírito Santo, impactando
aproximadamente 632 km de cursos hídricos.
Em Brumadinho, as consequências foram ainda maiores, pois além da
extensa contaminação hídrica dos rios da região, houve também a morte de 270
pessoas
Ao olharmos os padrões dos grandes desastres ambientais, percebemos
que houve falhas tanto na compreensão dos riscos reais quanto na gestão das
consequências da fatalidade, a qual se dá predominantemente num enfoque de
remediação e não de prevenção. São contaminações ambientais que atingem
centenas de pessoas, descaracterização de ambientes e, muitas vezes, perdas
de vidas humanas.

10
TEMA 4 – DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA

A Amazônia da América do Sul contém quase um terço de todas as


florestas tropicais que restam na Terra. Apesar de cobrir apenas cerca de 1% da
superfície do planeta, a floresta amazônica abriga 10% de todas as espécies de
vida selvagem que conhecemos – e provavelmente muitas que ainda não
conhecemos.

Figura 5 – Vista aérea de fragmento da Floresta Amazônica

Crédito: Jarnoverdonk/Adobe Stock.

Vamos relembrar que a Amazônia Legal Brasileira inclui atualmente os


Estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte
do Mato Grosso e Maranhão.
O desmatamento da grande floresta tropical não é de hoje, pois a história
mostra que há sinais desse movimento desde a época do D78escobrimento,
intensificando-se no governo de Getúlio Vargas (1930-1945), quando a
colonização da floresta passou a ser vista como estratégica para os interesses
nacionais.

11
Após anos de incentivos à produção e à ocupação da Amazônia, os sinais
de destruição ficam mais claros e, em 1978, a área desmatada chega a 14 milhões
de hectares.
O desmatamento começa a tomar evidência internacional e o movimento
ambientalista começa a questionar o que estava acontecendo. Em 1988, o
assassinato do líder sindical Chico Mendes é considerado um divisor de águas na
história da Amazônia. A partir desse crime, o governo brasileiro passa a sofrer
pressões cada vez mais ostensivas a respeito de suas políticas para a Amazônia.
A realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, Eco-92, faz com que a questão ambiental e a Amazônia fossem
inseridas definitivamente na pauta das grandes discussões mundiais.
No entanto, é nesse mesmo período que a soja chega à Amazônia e como
um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira, transforma-se em
um dos vilões do desmatamento, atraindo uma nova leva de imigrantes do Sul e
Sudeste do país.
Em 1990, a área total desmatada volta a dar um salto, chegando a 41
milhões de hectares e nos anos 2000 chega a 70 milhões de hectares.
Além da soja, do garimpo ilegal, a pecuária também se configura como a
ser responsável pelo desmatamento de grandes áreas. Entre 1990 e 2003, o
rebanho bovino da Amazônia Legal cresceu 240%, chegando a 64 milhões de
cabeças.
Os dados mais recentes divulgados por órgãos reconhecidamente notáveis
pela sua excelência científica como o INPE- Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, Imazon e Map Bioma, apontam para fevereiro de 2023, 325 quilômetros
quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 7% em relação
a fevereiro de 2022, quando o desmatamento somou 303 quilômetros quadrados.
O desmatamento detectado em fevereiro de 2023 ocorreu no Mato Grosso
(48%), Pará (19%), Amazonas (17%), Rondônia (6%), Roraima (6%), Acre (2%),
Maranhão (1%) e Tocantins (1%). As florestas degradadas na Amazônia Legal
somaram 20 quilômetros quadrados em fevereiro de 2023, o que representa um
aumento de 100% em relação a fevereiro de 2022, quando a degradação
detectada foi de 10 quilômetros quadrados. Em fevereiro de 2023 a degradação
foi detectada no Pará (45%), Mato Grosso (35%), Roraima (10%), Acre (5%) e
Rondônia (5%).

12
Saiba mais

Caso você deseje se aprofundar nesse tema, confira os sites do INPE, MAP
Biomas e Imazon:
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em:
<https://www.gov.br/inpe/pt-br>. Acesso em: 15 maio 2023.
MAP BIOMAS. Disponível em: <https://mapbiomas.org/>. Acesso em: 15
maio 2023.
IMAZON. Disponível em: <https://imazon.org.br/>. Acesso em: 15 maio
2023.

Figura 6 – Vista aérea de uma área de mineração em plena Floresta Amazônica,


Pará

Crédito: Toa555 /Adobe Stock.

TEMA 5 – RISCOS E CONSEQUÊNCIAS DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

Ainda que existam muitos estudos científicos confirmando que a Amazônia


é de vital importância não somente para o Brasil, mas para todas as pessoas ao
redor do mundo, o desmatamento tem aumentado assim como os grandes
incêndios.

13
O desmatamento perde apenas para a queima de combustíveis fósseis
como fonte de emissões de gases de efeito estufa que causam mudanças
climáticas. Existem verdadeiros tratados científicos que comprovam que
interromper e reverter o desmatamento em florestas tropicais pode reduzir as
emissões globais de carbono em quase 18% até 2030.

Figura 7 – Ilustração sob a absorção de carbono em florestas tropicais

Crédito: Tarcisio Schnaider/Adobe Stock.

A Floresta é importante não apenas para alimentos, água, madeira e


remédios mas para fundamentalmente para ajudar a estabilizar o clima, pois cerca
de 76 bilhões de toneladas de carbono estão armazenadas, também liberando 20
bilhões de toneladas de água na atmosfera por dia, desempenhando um papel
crítico nos ciclos globais e regionais de carbono e água.
Para além dos efeitos na biodiversidade e da diminuição nas chuvas por
toda a América, as pesquisas têm demonstrado que o desmatamento pode causar
problemas graves de saúde a milhões de brasileiros.
O impacto da ausência de árvores – e consequentemente a diminuição de
chuvas – somado à tendência de aumento da temperatura como efeito do

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aquecimento global pode conduzir à temperatura a níveis acima do limite aceitável
pelo corpo humano.
Se os níveis de desmatamento continuarem no mesmo ritmo, a temperatura
na Região Amazônica poderá chegar a 41 °C na sombra e a 46 °C ao ar livre, com
efeitos, por consequência, no sistema de saúde público referentes a quadros de
infecções respiratórias causadas por queimadas.
Já sabemos, portanto, que a única maneira de reverter o quadro atual é
interrupção imediata do desmatamento e das queimadas na área da Floresta
Amazônica, pois já podemos estar num ponto de não retorno.

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REFERÊNCIAS

BORGES, L.; FERREIRA, J. S.; ROVER, S. Divulgação de acidentes ambientais


no Brasil: uma análise a partir de notícias de jornais de grande circulação. RMC,
Revista Mineira de Contabilidade, v. 18, n. 3, art. 1, p. 5-15, set./dez. 2017
Disponível em: <http://revista.crcmg.org.br>. Acesso em: 15 maio 2023.

CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Gaia, 2010.

CASTRO, C. M; PEIXOTO, M. N. O; RIO, G. A. P. Riscos ambientais e geografia:


conceituações, abordagens e escalas. Anuário do Instituto de Geociências, Rio
de Janeiro, v. 28, n. 2, p. 11-30, 2005.

CERRI, L. E. S.; AMARAL, C. P. Riscos geológicos. In: OLIVEIRA, A. M. S.;


BRITO, S. N. A. (eds.). Geologia de engenharia. São Paulo: Associação
Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. cap. 18, p. 301-310.

CERRI, L. E. S. Riscos geológicos associados a escorregamentos: uma


proposta para prevenção de acidentes. Tese (Doutorado em Geologia) – Instituto
de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista
(IGCE/Unesp). Rio Claro, SP, 1993.

DNV – Det Norske Veritas. Conceitos fundamentais, formas de expressão e


critérios de aceitabilidade de riscos – Apostila do Curso sobre Estudo de
Análise de Riscos e Programa de Gerenciamento de Riscos. Brasília: Ministério
do Meio Ambiente; Secretaria de Qualidade Ambiental, 2006.

FORTUNATO, I.; FORTUNATO NETO, J. Risco ambiental à luz dos princípios da


precaução e da prevenção. In: LIMA-GUIMARÃES, S. T. de (org.). Gestão de
áreas de riscos e desastres ambientais. Rio Claro: IGCE/Unesp/Rio Claro,
2012. p. 25.

GONÇALVES, D. P. Principais desastres ambientais no Brasil e no mundo. Jornal


da Unicamp, 1 dez. 2017. Disponível em:
<https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-
ambientais-no-brasil-e-no-mundo>. Acesso em: 15 maio 2023.

HERNAN, R. E. This borrowed Earth lessons from the fifteen worst


environmental disasters around the world. New York: Palgrave Macmillan,
2010.

16
SOUZA, F. M. N. et al. Análise de riscos como instrumento para sistemas de
gestão ambiental. Revista Ibero‐Americana de Ciências Ambientais, Aquidabã,
v. 3, n. 1, p. 17‐41, 2012.

17
AULA 4

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS

Profª Ana Lizete Farias


INTRODUÇÃO

O debate sobre a importância de revermos nosso modelo hegemônico de


desenvolvimento em função dos danos e impactos ambientais ao sistema Terra
tem acrescido novos jeitos de conceber a teoria econômica.
As novas economias caminham lado a lado com o fim da era do petróleo,
o aumento da pressão da sociedade contra as desigualdades sociais e a
necessidade crescente de que haja um avanço para cooperação entre a grande
multiplicidade de atores da sociedade civil, do setor privado e de diversas
instâncias governamentais unindo ética, economia, sociedade e natureza. Vamos
olhar então o que são essas “novas economias”.

TEMA 1 – ANÁLISE ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE

Figura 1 – As relações entre economia e meio ambiente são complexas

Crédito: Deemerwha Studio /Adobe Stock.

À medida que nossas aulas avançam, vamos percebendo como as


questões ambientais e sociais estão conectadas com a nossa vida em sociedade
e o modelo econômico vigente, capitalista. Sob essa perspectiva, os danos
decorrentes no meio ambiente também se relacionam, sem dúvida, com as
ciências econômicas.

2
Em sua origem, o pensamento tradicional econômico ignorou que podemos
esgotar determinada classe de recurso, sem que isso se tornasse um impeditivo
à nossa vida no planeta, na medida em que avanços tecnológicos nos dariam
condições para isso e, como consequência, poderíamos ter um crescimento
econômico ilimitado.
Ao longo das últimas décadas, no entanto, as questões ambientais têm
adquirido um status de bem econômico, porque muitos recursos naturais, como a
água e algumas fontes de energia não renovável, começam a escassear,
apresentando não apenas sinais de esgotamento, mas também altíssimo nível de
degradação.
Por outro lado, esses bens naturais, ainda que sejam insumos
indispensáveis no processo produtivo, aparentemente são caracterizados como
bens não econômicos por não possuírem preço nem dono.
Veremos mais adiante que, atualmente, há o desenvolvimento de outras
linhas de escolas econômicas que também trabalham com a questão ambiental,
amparadas em outras filosofias que procuram compreender a
multidimensionalidade do meio ambiente.
Em termos históricos, a relação entre economia e meio ambiente pode ser
vista na breve linha do tempo a seguir:

• Século XVIII: surgem pensadores da economia clássica que elaboram a


concepção do “mundo finito”. O surgimento da teoria da dinâmica
demográfica de Malthus aponta a existência de um limite ambiental para o
crescimento da população global.
• Século XIX, o início da revolução industrial baseada na termodinâmica
(potência motriz por calor) amplia os desafios ambientais. Surge uma
geração de “engenheiros economistas", precursores da economia
ecológica, que utilizam os princípios da termodinâmica para demonstrar as
repercussões ecológicas da revolução “termoindustrial” e seus transtornos
irreversíveis para os grandes ciclos biogeoquímicos da biosfera.
• Nos anos 1960, a visão econômica tem como cenário um mundo destruído
pela Segunda Guerra e, portanto, o crescimento econômico deveria ser o
maior possível e a preocupação com a deterioração e a real escassez dos
recursos naturais não era importante.
• Anos 1970 e 1980, com a realização, em 1972, da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e, em 1987, o lançamento do
3
Relatório Brutland (conceito de desenvolvimento sustentável), surgem os
primeiros movimentos em relação a uma preocupação com a escassez dos
recursos naturais e, por conseguinte, a inclusão destes nos modelos de
crescimento econômico.
• Já nos anos 2000, as altas taxas de crescimento trazem consigo também
novos conceitos como o de “sustentabilidade” e a necessidade de
compatibilizar o crescimento econômico com a conservação do ambiente
natural. Na metade dos anos 2000, as mudanças climáticas no contexto
global e suas consequências têm impulsionado a necessidade de
aceleração dessa compatibilização.

Quando olhamos ao longo da história, é possível ver os avanços acerca do


pensamento econômico em relação às questões ambientais, no entanto, os
métodos de valoração ainda apresentam uma série de limitações de mensuração.
Talvez a mais evidente seja que os recursos naturais só são monetizáveis quando
são úteis para o ser humano.
Quando um bem natural tem sua utilidade não conhecida, às vezes até na
sua subjetividade não possui valor, por exemplo, a biodiversidade. Ou seja, muitas
vezes, o meio ambiente se apresenta como um “bem público puro”, não
apropriável, nem exclusivo, gratuito, não conseguir ser monetizado, até não
consumível, porém, útil para todos.
É preciso ressaltar, no entanto, que a elaboração das teorias econômicas
teve que definir o que é o valor. Para os economistas clássicos como Adam Smith
e Marx, o valor de um bem depende das condições de produção, segundo a
quantidade de trabalho incorporado, o que traduz a dificuldade de sua produção.
Para os neoclássicos, o valor de um bem é definido pela utilidade, ou seja,
é subjetivo, depende das preferências pessoais e da circunstância em que o
produto é consumido.
Quando pensamos em “valor ambiental”, nos interrogamos,
inevitavelmente, sobre se o meio ambiente constitui um valor por que, quando e
para quem?
Na concepção utilitarista, o meio ambiente tem valor porque tem um valor
de uso para os indivíduos, enquanto, na concepção conservacionista, o meio
ambiente tem um valor de não uso, um valor inerente a ele mesmo. Sob esse
aspecto, preservar a natureza está fora do que se possa elaborar como “útil”.

4
Por outro lado, o valor de uso pode ser direto, aqueles em que o bem é
utilizado para consumo, lazer; indireto, como aqueles que nos beneficiam sem que
tenhamos consciência. Esse é o caso do próprio planeta a nos assegurar a
condição de vida sobre a terra, sem que muitos tenham consciência disso. Ainda
assim, o valor de uso indireto não deixa de ser um conceito funcionalista, um bem
que trabalha em função de nós, para a nossa utilidade, percebem?

TEMA 2 – ECONOMIA AMBIENTAL

Figura 2 – O pressuposto da economia ambiental está relacionado aos


referenciais do que é mercado

Crédito: Icons-Studio/Adobe Stock.

O campo da teoria econômica aplicada ao meio ambiente é chamado de


Economia Ambiental ou Economia do Meio Ambiente. Constituída enquanto
disciplina nos anos 1970, veio como uma resposta dos economistas neoclássicos
à problemática ambiental contemporânea.
Tem como pressuposto a análise do mercado e não o processo produtivo,
ou seja, um mercado só se forma quando os bens são escassos. Dessa maneira,
entende que o comportamento dos agentes econômicos − produtores e
consumidores − é guiado por uma racionalidade que sempre os leva a maximizar
a satisfação individual, dentro de suas preferências e diante de suas estruturas
restritivas, como a renda.
Nesse caso, a atividade econômica de produção e consumo de bens tem
como ponto de equilíbrio quando o preço que os produtores estão dispostos a
oferecer o bem, dentro das restrições tecnológicas e dos custos dos insumos, for
igual ao preço que os consumidores estão dispostos a pagar pelo mesmo bem,
dentro também de suas preferências e disponibilidades de renda.

5
Pela primeira vez, o valor de um bem deixa de ser objetivo para ser
subjetivo, dependendo da valoração individual.
A teoria neoclássica também se coloca como neutra, não lhe interessando
por que ou se é justo alguns indivíduos possuírem mais e outros menos recursos,
o que importa é que dado o que possuem, façam o melhor dele.
Baseada na teoria de Adam Smith acredita na harmonização do mercado
pela “mão invisível”, onde os interesses (custos e benefícios) privados coincidem
sempre com os interesses sociais. Ou seja, o que é bom para o indivíduo é sempre
bom para a coletividade.
Sem dúvida, seu aspecto mais controverso e objeto de crítica é não levar
em consideração que não há o esgotamento de recursos naturais, pois isso seria
solucionado pelo alto avanço tecnológico.
Segundo esse ponto de vista, caso houvesse uma seca ou inundação
generalizada que causasse um colapso em termos de agricultura, onde mesmo
assim o Produto Interno Bruto (PIB) se mantivesse a partir do crescimento de
outros setores da economia, não se teria um problema de ordem econômica.

Figura 3 – A economia ecológica tem como pressuposto a valorização do social,


a diversidade cultural e biológica

Crédito: ilima/AD/Adobe Stock.

6
TEMA 3 – ECONOMIA VERDE OU ECONOMIA ECOLÓGICA

A economia ecológica ou economia verde é o modelo que surge como


resposta à corrente da economia ambiental, buscando integrar a análise de
ecossistemas aos sistemas econômicos. Como definição, temos, segundo May
(2003): “Campo de conhecimento transdisciplinar, desenvolvido a partir do
reconhecimento de que, de um lado, o sistema socioeconômico baseia-se e
depende dos sistemas naturais e, de outro lado, ele interfere e transforma o
funcionamento destes últimos” (May, 2003, p. 12).
Nessa escola, a economia é como um processo aberto dentro de um
sistema maior, o ecossistema Terra, e, por isso, não deve ser analisada em si
mesma, mas, sim, a partir das suas inter-relações com os ciclos biogeoquímicos
(Foladori, 2004).
De acordo com a definição apresentada pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente-PNUMA, “uma Economia Verde é a que resulta em melhora
do bem-estar humano e da equidade social, enquanto reduz significativamente
riscos ambientais e a escassez ecológica”.
Como consequência, o crescimento em renda e emprego devem estar
baseados em investimentos públicos e privados que reduzam emissões de
carbono e poluição, aumentem a eficiência energética e de recursos e minimizem
a perda de serviços da biodiversidade e dos ecossistemas.
A economia verde também sofre críticas principalmente em relação a duas
questões: primeiramente, a inclinação em privatizar os serviços ambientais;
segundo, o fato de que não parecem realmente se ter perspectivas de mudanças
na questão de preservação e degradação do planeta.
Sobre valorar financeiramente as funções ecossistêmicas ou serviços
ambientais, recursos da biodiversidade às críticas remontam ao fato de que estes
vêm sendo utilizados ao longo da história desde as comunidades indígenas e,
depois, mantidos por populações tradicionais e pequenos agricultores.
Sob essa ótica, atribuir um valor financeiro seria como impacto ao direito
humano inalienável e universal ao meio ambiente, ao que é oferecido pela
natureza para a sobrevivência de todos (Repórter Brasil, 2012).
Em relação às mudanças sobre a preservação e degradação dos sistemas
ambientais, o fato é que os países em desenvolvimento se defendem declarando
que para crescer é preciso continuar poluindo e, por outro lado, os países

7
desenvolvidos continuam a serem os maiores poluidores e assim se tem um
impasse (Reporter Brasil, 2012).
Outra definição emergente, com várias definições, dentro da economia
ambiental, é a chamada Bioeconomia, voltada para biomas de alta diversidade
biológica, como a Floresta Amazônia. Diverge de uma bioeconomia focada
principalmente em uma transição energética, valorizando o social, diversidade
cultural e biológica. Do ponto de vista socioecológico, a ideia de bioeconomia inclui
a valorização do conhecimento de povos tradicionais, acoplados de forma não
linear com conhecimento tecnológico.

TEMA 4 – ECONOMIA CIRCULAR

Figura 4 – Comparação entre o pensamento linear e o modelo proposto pela


economia circular

Crédito: m.malinika/Adobe Stock.

O conceito de Economia Circular se fundamenta entre conceitos da


ecologia e os processos industriais. É baseada na inteligência da natureza onde
os resíduos são transformados em insumos para produção de novos produtos.
Esse conceito também é reconhecido por Cradle to Cradle (do berço ao berço),
não existindo a ideia de resíduo, pois tudo é nutriente para um novo ciclo.
A expressão Cradle to Cradle (C2C) foi concebida por Stahel em finais de
1970, indicando o desenvolvimento de uma abordagem de "ciclo fechado" para os
processos de produção e persegue quatro objetivos principais: extensão de

8
produtos de vida, bens de longa duração, atividades de recondicionamento e
prevenção de resíduos (Ellen MacArthur Foundation, 2013).
Cradle to Cradle, ou C2C, é uma abordagem de design para produção e
consumo baseada em processos encontrados na natureza que considera
recursos e materiais como “nutrientes” circulando indefinidamente dentro da
economia em um circuito fechado rico em feedback. Ele também vê os resíduos
como recursos que podem ser reintroduzidos na economia.

Figura 5 – Conceito gráfico do Cradle to Cradle

Crédito: VectorMine/Adobe Stock.

Consumíveis, como fibras naturais, agentes de limpeza ou embalagens


biodegradáveis circulam em um ciclo biológico ao qual podem ser reintroduzidos
com segurança após o uso. Eles se transformam em composto ou outros materiais
que, por sua vez, são usados para fazer novos produtos. Desta forma, os produtos
antigos não se transformam em resíduos, mas em “nutrientes” para um novo
produto.
O modelo da Economia Circular tem o objetivo de proteção ambiental,
prevenção da poluição contribuindo para o desenvolvimento sustentável através
da utilização de recursos naturais com maior eficiência, que possam ser
reutilizados e reciclados, quando possível. Com isso, a contaminação é
minimizada, promovendo uma transformação da organização industrial,
infraestrutura urbana, proteção ambiental, paradigmas tecnológicos e distribuição
do bem-estar social.

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Figura 6 – Os cupins utilizam um sistema de ventilação nos cupinzeiros que tem
sido copiado por arquitetos para o desenvolvimento de edifícios

Crédito: rose1967Adobe Stock.

As soluções baseadas na natureza (SbN) oferecem uma ferramenta


inovadora para o modelo de economia circular. Soluções que são inspiradas e
apoiadas pela natureza são ações para proteger, gerenciar de forma sustentável
ou restaurar ecossistemas naturais, que abordam desafios sociais, como
mudanças climáticas, saúde humana, segurança alimentar e hídrica e redução de
riscos de desastres de forma eficaz e adaptativa, proporcionando
simultaneamente o bem-estar humano e a biodiversidade de benefícios. Podem
envolver a conservação ou a reabilitação de ecossistemas naturais e/ou o
desenvolvimento ou a criação de processos naturais em ecossistemas
modificados ou artificiais.

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TEMA 5 – ECONOMIA DE BAIXO CARBONO

Figura 7 – A emissão zero é alcançada por meio da redução, compensação e


remoção de carbono

Crédito: WD Stockphotos/Adobe Stock.

Em linhas gerais, economia de baixo carbono é o nome utilizado para uma


economia baseada em ações sustentáveis, voltadas principalmente para a
redução ou mesmo sequestro dos gases de efeito estufa (GEE) gerados na cadeia
produtiva, resultando em menor impacto ambiental. Na expressão economia de
baixo carbono, a palavra carbono é utilizada para simplificar e representar todos
os gases que, ao serem lançados na atmosfera, são responsáveis pelo efeito
estufa no planeta.
Assim, os chamados gases de efeito estufa (GEE) compreendem uma
variedade de gases, incluindo os utilizados para refrigeração, gases provenientes
da decomposição da matéria orgânica, nitrogenados, fluorados, clorados e dióxido
de carbono, também chamado de gás carbônico
Vejamos um exemplo sobre a geração de milhares de toneladas de lixo
orgânico em nossas cidades brasileiras, cujo destino, ainda em muitas regiões,
são os chamados lixões. Nesses locais, o descarte e o manuseio inadequado de
resíduos geram uma quantidade imensa de metano.
Se esse gás não for recuperado, por exemplo, gerando eletricidade ou
mesmo queimando, ele acaba sendo lançado na atmosfera. O metano tem poder

11
de aquecimento 28 vezes maior que o do CO2, impactando absurdamente o
planeta.
Desta forma, uma economia de baixo carbono é formada por um conjunto
de atividades que, comparadas ao modo de produção tradicional, emitem menos
GEE, de forma a reduzir o impacto do aquecimento global no planeta.
Precificar o carbono é, portanto, atribuir um custo aos impactos gerados
pelo aumento de gases de efeito estufa na atmosfera (GEE), causado pela queima
de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra para a produção dos
insumos, manufatura, distribuição e consumo desses produtos, modelo de
produção e consumo que dá sinais de ruptura diante da maior ameaça de todos
os tempos: o aquecimento global (Mckinsey; Company, 2013).
Há duas maneiras de precificação do carbono que são os esquemas de
comércio de emissões (cap and trade) e a tributação, consistindo em importantes
incentivos, estimulando as empresas e pessoas a reduzirem suas emissões à
medida que tornam as atividades intensivas em emissões de carbono mais caras
e as tecnologias limpas mais acessíveis.
Cap and Trade se refere à distribuição de permissões por meio dos
Governos dos países signatários do Protocolo, em que as empresas desses
países teriam um limite máximo de emissão de gases estipulado e, a partir disso,
poderiam comprar e vender permissões. Nesse caso, empresas que tenham
menos emissão permitida podem vender a quantia restante para outras empresas.
A tributação consiste em um instrumento de ajuste via preço em que é
definido um preço fixo a ser cobrado por cada unidade de emissão incidindo sobre
toda a emissão gerada. A taxa é paga aos governos, como se fosse um imposto,
tendo seu valor calculado de forma a atingir o nível social ótimo de emissões. No
momento em que a taxa é implementada, as empresas podem tomar a decisão
de manter o padrão ou reduzir e pagar menos taxa.
No Brasil, ainda não temos o Cap and Trade colocado em prática devido à
pequena demanda para créditos de carbono. Também não há metas obrigatórias
de redução de gases do efeito estufa para empresas brasileiras.
O fato é que os dados mais recentes que as análises climáticas têm trazido
é que preciso limitar o aquecimento global e para evitar os piores impactos
climáticos, as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) precisarão cair
quase pela metade até 2030 e, finalmente, chegar a “zero líquido”.
Mas o que significa uma meta de NET ZERO?

12
Diferentes termos (neutro em carbono, zero líquido, neutro em termos
climáticos) apontam para diferentes maneiras pelas quais as fontes e sumidouros
de emissões são contabilizados.
Eles ajudam a indicar o que está e o que não está incluído no cálculo ou
em uma meta. O zero líquido é a meta acordada internacionalmente para mitigar
o aquecimento global na segunda metade do século, de acordo com as
recomendações do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC –
sigla em inglês).
As emissões líquidas zero, ou “líquido zero”, serão alcançadas quando
todas as emissões liberadas pelas atividades humanas forem contrabalançadas
pela remoção de carbono da atmosfera em um processo conhecido como
remoção de carbono.
Atingir NET ZERO exige uma abordagem em duas partes: em primeiro
lugar, as emissões causadas pelo homem (como as de veículos e fábricas
movidos a combustíveis fósseis) devem ser reduzidas o mais próximo possível de
zero.
Quaisquer emissões remanescentes devem então ser equilibradas com
uma quantidade equivalente de remoção de carbono, o que pode acontecer por
meio de abordagens naturais, como a restauração de florestas, ou por meio de
tecnologias como captura e armazenamento direto de ar (DACS), que limpa o
carbono diretamente da atmosfera.
Você pode se aprofundar no site do Instituto de Pesquisas Espaciais –
INPE. (C & T Brasil, 2023).

Figura 8 – Conceito de Emissão zero até 2050

Crédito: Deemerwha/Adobe Stock.

13
REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, R. Muito Além da Economia Verde. São Paulo: Avina; Planeta


Sustentável; Abril, 2012.

_____. Amazônia: por uma economia do conhecimento da natureza. São Paulo:


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15
AULA 5

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS

Prof.ª Ana Lizete Farias


INTRODUÇÃO

Prosseguiremos nossos estudos olhando outros aspectos importantes em


relação à avaliação econômica de danos ambientais. O primeiro deles está
relacionado às externalidades, fenômeno que pode acontecer entre
consumidores, entre firmas ou entre combinações de ambos.
Veremos também a alocação de recursos naturais, sua relação com o
ideal de crescimento ilimitado do planeta, serviços ecossistêmicos e como se
pode realizar o pagamento por esses serviços.

TEMA 1 – TEORIA DAS EXTERNALIDADES

Figura 1 - Imagem ilustrativa sobre a teoria das externalidades

Crédito: Alifuat/Adobe Stock.

O conceito de externalidade está relacionado diretamente à economia


ambiental clássica. O consumo, a produção e as decisões de investimento dos
indivíduos, famílias e empresas afetam frequentemente as pessoas não
diretamente envolvidas nas transações. Às vezes, esses efeitos indiretos são
pouco significativos, mas quando são grandes e problemáticos temos o que os
economistas chamam externalidades.

2
A teoria das externalidades busca definir a quem pertencem, afinal, os
custos dos efeitos das atividades econômicas que recaem sobre terceiros,
aqueles que são alheios ao processo. Tais efeitos podem ser malefícios ou
benefícios.
A maioria das externalidades insere-se na categoria das chamadas
externalidades técnicas ou seja, os efeitos indiretos têm um impacto sobre as
oportunidades de consumo e produção dos outros, mas o preço do produto não
tem em conta essas externalidades. Como resultado, existem diferenças entre
os retornos ou custos privados e os retornos ou custos para a sociedade como
um todo.
Longo (1984) define externalidade como uma imposição de um efeito
externo causado a terceiros, gerada em uma relação de produção, consumo ou
troca e que pode ser classificada como externalidades positivas ou negativas.
As externalidades negativas geram custos para os agentes envolvidos,
como no caso da poluição atmosférica, dos rios, oceanos, desmatamento ilegal,
poluição sonora.
As externalidades positivas acontecem quando existe um beneficiamento
sobre os terceiros ainda que involuntário como em investimentos realizados por
empresas privadas em projetos de infraestrutura, voltados à questão energética
ou mesmo de ordem tecnológica, programas sociais que empresas desenvolvem
beneficiando comunidades.
Longo (1984) evidencia que as externalidades existem mesmo quando
não conseguimos visualizá-las dentro dos processos de produção, ou seja,
quando é impossível atribuir preço aos benefícios ou malefícios causados por
ela. A partir do momento que são totalmente internalizadas, via preço, deixam de
existir como tal.
O debate sobre externalidades tem gerado uma discussão sobre a
necessidade – ou não – da criação de políticas públicas para obrigar geradores
de externalidades negativas a internalizá-las, isto é, arcar com os custos destas.
No caso da poluição – o exemplo tradicional de uma externalidade
negativa – um poluidor toma decisões baseadas apenas no custo direto e na
oportunidade de lucro da produção e não considera os custos indiretos para
aqueles que são prejudicados pela poluição. O social – isto é, os custos totais de
produção – são maiores do que os custos privados. Esses custos indiretos – que
não são suportados pelo produtor ou utilizador – incluem a diminuição da

3
qualidade de vida, por exemplo no caso de um proprietário de uma casa perto de
uma fábrica; custos de cuidados de saúde mais elevados; e oportunidades de
produção perdidas, por exemplo quando a poluição prejudica atividades como o
turismo. Minimizar os custos sociais levaria a níveis de produção mais baixos
Em suma, quando as externalidades são negativas, os custos privados
são inferiores aos custos sociais e, para promover o bem-estar de todos os
membros da sociedade, os retornos sociais devem ser maximizados e os custos
sociais, minimizados.
Podemos ter como exemplo o rompimento de barragens, acidentes
envolvendo produtos perigosos, atingindo rios de determinada região onde
vivem comunidades tradicionais, que sofrerão os efeitos sem, no entanto, ter
participado efetivamente do processo produtivo.

Figura 2 - Externalidade negativa: impacto direto sobre a fauna, quando de um


derrame de óleo

Crédito: Adin/Adobe Stock.

Na atualidade o problema de externalidade mais urgente e complexo são


as emissões de gases de efeito estufa (GEE). O acúmulo atmosférico desses
gases da atividade humana foi identificado como uma das principais causas do
aquecimento global. Salvo políticas para reduzir as emissões de GEE, os

4
cientistas esperam que esse problema cresça e eventualmente leve à mudança
climática e seus custos associados, incluindo danos à atividade econômica pela
destruição de capital (por exemplo, ao longo de áreas costeiras) e menor
produtividade agrícola. As externalidades entram em jogo porque os custos e
riscos das mudanças climáticas são suportados pelo mundo como um todo, ao
passo que existem poucos mecanismos para obrigar aqueles que se beneficiam
da atividade emissora de GEE a internalizar esses custos e riscos.

Figura 3 - Os impactos da utilização de combustíveis fosseis só tem piorado

Crédito: edojob/Adobe Stock.

TEMA 2 – ALOCAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS

Assim como a teoria das externalidades, a alocação de recursos naturais


é oriunda da teoria econômica clássica, no entanto os debates mais acirrados
sobre a natureza inesgotável dos recursos e a ideia de que o planeta não
suporta limites de crescimento ilimitados têm dado novos contornos a essa
discussão.
Qualquer atividade produtiva envolve combinações de fatores, cuja
participação deve estar consoante com o seu produto marginal e o seu custo de
oportunidade. A combinação ótima dos fatores de produção pode ser enfocada
sob dois critérios de eficiência: (a) eficiência técnica e (b) eficiência econômica.
Alocar recursos significa determinar as quantidades ótimas de bens a
serem produzidas, incluindo definir a alocação dos insumos (matéria-prima) para
a produção dos diferentes bens e a distribuição desses produtos entre os
consumidores a fim de maximizar o bem-estar social (Santos, 2018).

5
No entanto, a relação entre as quantidades ótimas e os benefícios
gerados nem sempre corresponde à realidade. A literatura econômica relata
experiências positivas e negativas acerca da exploração de recursos naturais,
mas também se questiona se a descoberta de novas fontes de recursos naturais
foi benéfica ou maléfica para a saúde macroeconômica dos países.
A dificuldade em transformar a bonança de renda de recursos em
desenvolvimento econômico é frequentemente atribuída à hipótese da “maldição
dos recursos naturais”, um conceito definido por Ignacy Sachs, economista
polonês, grande pensador reverenciado por sua concepção de desenvolvimento
como uma combinação de crescimento econômico, aumento igualitário do bem-
estar social e preservação ambiental.
De acordo com Sachs e Warner (2001), a “maldição dos recursos” está no
fato de que há uma contradição, pois países e regiões com uma abundância de
recursos naturais exauríveis, como minerais e hidrocarbonetos, tendem a
apresentar piores taxas de crescimento e desenvolvimento econômico do que os
países que não possuem abundância de tais recursos.
Outros autores, principalmente economistas de pensamento como os
estruturalistas/keynesianos, são defensores da ideia de “uma maldição geral dos
recursos naturais”. Eles observam o mesmo fenômeno descrevendo que, de
maneira geral, são encontradas relações estatísticas negativas sobre o
crescimento econômico como também referentes a questões sociais: a)
elevação do nível de desigualdade e agravamento da pobreza; b) má gestão
governamental e violação dos princípios democráticos; c) altos índices de
corrupção; entre outros problemas (Santos, 2018).
Em síntese, esse problema é enfrentado por grande parte dos países que
apresentam uma fonte abundante de recursos dessa natureza. Portanto, a
abundância de um determinado bem natural pode ter suas vantagens e riscos,
uma vez que a riqueza mineral, por si só, não confere um bom desempenho
econômico-social.
Essa é uma discussão necessária e importante quando se pensa em
mecanismos de gestão assim como a definição de políticas que revertam esses
recursos em benefícios de forma que sociedades futuras também usufruam das
riquezas/legados.

6
Figura 4 - O trabalho infantil é bastante utilizado na mineração ainda,
principalmente em países com abundância de recursos naturais, como o Brasil e
países africanos

Crédito: Magsi/Shutterstock.

TEMA 3 – ALOCAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS E O MITO DO


CRESCIMENTO ILIMITADO

Em conteúdos anteriores, entendemos que, segundo a perspectiva de


preservação ambiental na ótica de mercado, é mais interessante utilizar o
conceito de capital natural, ou seja, aquilo que produz o fluxo de recursos
naturais para o futuro, podendo ser usufruídos e convertidos em receita.
Esses conceitos e definições são úteis, pois vamos delineando as várias
faces que compõem a imensa quantidade, pouco mensurada, de danos
ambientais existentes e as suas consequências nem sempre tão positivas e
principalmente desiguais.
Se o capital natural integra recursos naturais, identificados e
identificáveis, existentes em quantidades finitas na Terra, a grande questão que
se coloca é “como compatibilizar as teorias sociais e econômicas com a
utilização desse capital?”
Georgescu-Roegen, matemático e economista romeno, considerado
fundador da bioeconomia, estabeleceu pressupostos necessários a uma nova

7
ciência de alocação de recursos, incorporando conceitos não tratados pelo
sistema econômico convencional.
O pensador elabora um caminho entre a economia e a física,
evidenciando que no processo econômico há uma utilização de bens naturais,
totalizando um capital natural de grande valor, no entanto o que dele é rejeitado
são os resíduos sem valor, ou de baixo valor agregado.
Para fundamentar essa discussão Georgescu-Roegen introduziu um
conceito essencial para nossa reflexão, a saber, o de entropia, grandeza física
utilizada para medir o grau de desordem de um sistema (Georgescu-Roegen,
2012). Ou seja, segundo a definição básica das leis da termodinâmica, quanto
maior for a variação de entropia de um sistema, maior será sua desordem, ou
seja, menos energia estará disponível para ser utilizada. O autor ensina que a lei
da entropia é “a de natureza mais econômica de todas as leis naturais”.

Figura 5 – O conceito de entropia

Crédito: petrroudny/Shutterstock.

De maneira geral todos os organismos vivem de baixa entropia, exceto os


seres humanos que, para sua sobrevivência, combinam dois aspectos (ligados
entre si): (a) uso intenso de recursos; (b) geração de grande volume de
resíduos. Para atender a esses aspectos da vida humana, o sistema produtivo
transforma recursos naturais de valor, com baixa entropia, em resíduos, com alta
entropia, ou seja, alto grau de desorganização.
A lei da entropia implica, portanto, que o processo é de fato limitado
porque depende de recursos naturais finitos, como combustíveis fósseis e
8
minerais: utiliza recursos naturais de baixa entropia (alto valor) na produção de
bens de consumo e resulta no descarte de resíduos de alta entropia, por
exemplo calor na forma de CO2 e outros gases de efeito estufa, no meio
ambiente. Tal processo resulta em degradação ambiental perceptível.
Ao focar na quantidade de materiais e energia preconizados pelo sistema
produtivo, percebe-se que a atividade econômica de uma geração tem influência
na atividade das gerações futuras, visto que a utilização desses recursos implica
também acumulação dos efeitos prejudiciais do que é gerado no ambiente.
Este é o cerne do problema ecológico da humanidade: a diminuição de
recursos e a geração de resíduos como consequências inevitáveis da atividade
econômica de uma geração de habitantes do planeta, afetando em algum
momento a possibilidade de as gerações seguintes terem qualidade de vida
igual ou maior.
É provável que o estilo de desenvolvimento fundado na abundância da
produção industrial será benéfico para algumas gerações, mas é contrário ao
interesse da espécie humana (Georgescu-Roegen, 2012). Esse é um dos
problemas fundantes do modelo de desenvolvimento vigente, pois há pouca
preocupação com o longo prazo, estando articulado à falsa ideia de que é
possível um crescimento econômico ilimitado.

TEMA 4 – ALOCAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - SERVIÇOS


ECOSSISTÊMICOS

Na contrapartida da exploração sem limites dos bens naturais hoje nos


deparamos com outras maneiras de lidar com isso. Mas para falarmos sobre as
outras possibilidades de alocar os recursos naturais é preciso antes
entendermos o que são serviços prestados por estes, denominados de serviços
ecossistêmicos, ou seja, os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas
(MEA, 2005).
Para compreender isso vamos relembrar dois conceitos importantes, no
quadro abaixo:

9
Quadro 1 – Ecossistema x biodiversidade

ECOSSISTEMA BIODIVERSIDADE
Complexo dinâmico de comunidades Quantidade e variabilidade de
vegetais, animais e de organismos vivos dentro de uma
microrganismos e os seus ambientes espécie (diversidade genética),
inorgânicos interagindo como uma entre espécies e entre
unidade funcional. Exemplos: ecossistemas. A biodiversidade não
desertos, recifes de coral, áreas é por si só um serviço
úmidas, florestas tropicais, florestas ecossistêmico, mas garante o
boreais, pradarias, parques urbanos fornecimento de tais serviços.
e terras cultivadas.

Uma vez que, como visto no tópico anterior, há uma grande utilização do
nosso capital natural e também uma gigantesca quantidade de resíduos num
alto grau de desorganização do sistema, não causa estranhamento o alto grau
de degradação dos ambientes naturais.
Os primeiros alertas sobre a imensa degradação que atinge os principais
ecossistemas do mundo foram elaborados em 2001, com o apoio da
Organização das Nações Unidas, em um relatório intitulado de Avaliação
Ecossistêmica do Milênio ou Millennium Ecosystem Assessment. Com a
publicação, em 2005, deu-se o alerta inicial sobre o impacto negativo irreversível
de depredação dos nossos recursos naturais. O relatório ainda indicou que a
situação constatada tende a se agravar significativamente até 2050.
Os ecossistemas sustentam diversos processos naturais resultantes das
complexas interações entre componentes bióticos e abióticos, por meio de fluxos
de matéria e energia. Esses processos garantem a sobrevivência das espécies
no planeta e têm a capacidade de prover bens e serviços que satisfazem as
necessidades humanas, os chamados serviços ecossistêmicos, que podem ser
conceituados como benefícios que as pessoas obtêm da natureza, direta ou
indiretamente (De Groot et al., 2002; MEA, 2005).
Florestas, mangues e ecossistemas marinhos, quando conservados e
bem manejados, têm um papel fundamental na provisão desses serviços
(Seehusen; Prem, 2011). São exemplos de serviços ecossistêmicos a regulação
do clima, a manutenção da fertilidade e o controle da erosão dos solos, o
armazenamento de carbono, a ciclagem de nutrientes, o provimento de água, a

10
proteção da biodiversidade, a beleza cênica e a manutenção de recursos
genéticos (FGBPN, 2017).
Como exemplo temos o impacto da degradação dos ecossistemas e sua
relação com a gestão da água. Embora cerca de 30% das terras em todo o
mundo permaneçam com cobertura florestal, pelo menos dois terços dessa área
se encontram em estado de degradação.
A maioria dos recursos do solo em todo o mundo, especialmente em
terras destinadas à produção agrícola, encontra-se apenas em condições
razoáveis, precárias ou muito precárias, e a perspectiva é de que essa situação
piore, com graves impactos negativos no ciclo da água, devido ao aumento das
taxas de evaporação, à redução da capacidade de armazenamento de águas
subterrâneas e ao aumento do escoamento superficial, acompanhado pelo
aumento da erosão. Estima-se que, desde 1900, entre 64% e 71% das zonas
úmidas de todo o mundo foram perdidas devido às atividades humanas (ONU,
2018).

Figura 6 - Manguezais são a base de um ecossistema biodiverso e atuam como


berçário e protetor contra as mudanças climáticas

Crédito: 2ragon/Adobe Stock.

11
TEMA 5 – PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

Uma alternativa à utilização predatória dos serviços ambientais é a


possibilidade de aqueles que os mantêm serem remunerados por isso, como
uma maneira de instrumentalizar o incentivo à preservação dos ecossistemas e
corrigir essas falhas (Lustosa et al., 2010).
Dessa maneira, pode ser considerado como subsídio financeiro a
indivíduos usuários ou protetores de recursos naturais, como forma de
compensação dos impactos ambientais gerados pelas atividades humanas,
mantendo ou incrementando o provimento do serviço ecossistêmico em questão
(Engel et al., 2008).
O núcleo dessa proposta é recompensar pessoas, comunidades que
mantêm os serviços ambientais em suas propriedades e que não o fariam se
não tivessem um incentivo para tal. Dessa maneira, seria gerada uma estrutura
de incentivo condizente com o princípio do protetor-recebedor, para
recompensar quem de fato preserva recursos naturais, compensando eventuais
perdas financeiras decorrentes da não utilização de parte dos recursos naturais
em uma dada área (Fiorillo, 2010).
Conceitualmente aqui utilizaremos a definição proposta por Guedes e
Seehusen (2011): “uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem
definido ou um uso da terra que possa assegurar este serviço é comprado por,
pelo menos, um comprador de, pelo menos, um provedor, sob a condição de
que o provedor garanta a provisão deste serviço (condicionalidade)” (Guedes;
Seehusen, 2011, p.34).
O pagamento por serviços ambientais (PSA) é considerado como um
instrumento econômico com o objetivo de lidar com aquilo que os economistas
tradicionais apontam como uma falha de mercado, a qual seria ocasionada pela
falta de interesse por parte de agentes econômicos em atividades de proteção e
uso sustentável dos recursos naturais.
Os modelos mais utilizados de PSA no Brasil estão voltados à proteção
dos recursos hídricos, mas também podem ser aplicados ao sequestro e
armazenamento de carbono, à proteção da biodiversidade, à proteção de bacias
hidrográficas e belezas cênicas (Wunder et al., 2007).

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Figura 7 - O PSA incentiva proprietários rurais a proteger nascentes e matas
ciliares. Quem realiza esse serviço é considerado “produtor de água”

Crédito: Vitor Miranda/Shutterstock.

Uma dificuldade na implantação de um programa como o PSA se refere


aos valores a serem pagos, principalmente quando envolvem aspectos
subjetivos como a biodiversidade de uma floresta, por exemplo. Como não há
mercados estabelecidos para esses serviços, o valor repassado é, em geral,
negociado entre o comprador e o provedor dos serviços ambientais (Caetano,
2016).
A valoração econômica não é estritamente necessária para definir níveis
de pagamento, mas acaba se tornando útil, pois contribui para se trabalhar com
um valor justo. Nesse caso deve considerar os benefícios providos aos
compradores e os custos de oportunidade incorridos pelos produtores, ou seja,
os ganhos não realizados destes ao optar por determinado uso da terra em
detrimento de alternativas de uso.
A sustentabilidade de um PSA, além de recursos financeiros para a
continuidade dos pagamentos, deve contar com programas de educação
ambiental que abordem práticas de percepção dos valores do ambiente natural
bem como sobre a importância das atividades de conservação, uso sustentável
e recuperação da vegetação nativa para manter o provimento desses serviços.

13
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15
AULA 6

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS

Prof.a Ana Lizete Farias


INTRODUÇÃO

Nesta etapa, falaremos um pouco sobre a visão do nosso planeta como um


grande sistema a garantir nossa vida. Também veremos como podemos entender
melhor os danos e impactos por meio do processo de modelagem. Na sequência,
abordaremos a questão dos indicadores e o ciclo de vida de produtos que
consumimos.
Para finalizar, vamos falar de ética ambiental, cada vez mais urgente e
necessária para nossa vida profissional.

TEMA 1 – SISTEMAS DINÂMICOS

O sistema Terra, com a sua diversidade não somente em termos de


riquezas naturais, mas também biológicas e culturais, é o que proporciona a base
para a vida e a prosperidade de toda a humanidade. Riquezas que suscitam
conflitos, oportunidades para o desenvolvimento de novas formas de valoração
econômica e, consequentemente, sobre o modo de apropriação do que a natureza
oferece à humanidade.
Pensar sistemicamente é compreender a Terra como um único sistema na
qual a matéria e a energia circulam através de inúmeros subsistemas, a saber,
litosfera (parte externa sólida), pedosfera (solo e rocha decompostos), hidrosfera
(água), biosfera (vida) e atmosfera. Os seres humanos são parte desse grande
sistema, dependendo de seus recursos, afetando os seus ambientes e
respondendo as suas mudanças.
Mas essa maneira de pensar não surgiu por acaso, mas sim se originou da
Teoria Geral de Sistemas (TGS), estabelecida na década de 50 pelo biólogo
alemão Ludwig von Bertalanffy, com o objetivo de desenvolver condições de
aplicações na realidade, com base em diferenças entre sistemas físicos e
biológicos.
Bertalanffy demonstrou o funcionamento isolado dos sistemas menores
existentes em um ser vivo e a importância do inter-relacionamento desses
sistemas menores entre si e com o próprio sistema maior. Com isso, houve o
funcionamento genérico de qualquer sistema existente no Universo, ampliando-
se para a sociedade em geral.
Mas o que é um sistema? Segundo a própria definição de Bertalanffy (1977,
p. 57), um sistema é o “conjunto de unidades em inter-relações mútuas”. Para

2
Morin (1977, p. 99), o sistema é “uma inter-relação de elementos que constituem
uma entidade ou unidade global. É composto por três integrantes básicos, a saber:
elementos, fluxos (entre os elementos e estados)”.
Sistemas ambientais são dinâmicos, interagem dentro dos ambientes
geográficos, assumindo, portanto, uma conotação territorial, com seus aspectos
bióticos e abióticos. Além disso, são influenciados pelos aspectos físicos,
químicos e biológicos, tanto naturais quanto produzidos pelos seres vivos, desse
espaço geográfico.
Relembrando, então: os principais sistemas ambientais são a atmosfera
(ar), a biosfera (organismos vivos), a hidrosfera (água), a pedosfera (solo) e a
litosfera (rocha), altamente permeáveis uns com os outros. A água, por exemplo,
reside não somente nos oceanos, lagos e rios, mas também no solo, no ar e nas
coisas vivas. De maneira similar, os seres vivos residem em rochas, corpos d’água
e na atmosfera. Cada uma dessas esferas é identificada como um reservatório,
por onde circulam fluxos de energia e matéria. Veja na figura a seguir um esquema
dessa ideia de fluxo:

Figura 1 – Esquema da interação entre ambientes

Fonte: ABNT, 1989.

Os sistemas diferem entre si em composição e propriedades físicas, a


saber:

• Litosfera: composta por silicatos, componentes sólidos de oxigênio e sílica


com alguns outros elementos incluindo alumínio e sódio;
• Pedosfera, parte mais externa da terra, é uma reserva de elementos
derivados da quebra das rochas e matéria rica em carbono que se

3
recombinam em compostos líquidos, sólidos e gasosos, onde se formam
os solos;
• Hidrosfera: basicamente hidrogênio e oxigênio combinado para formar
moléculas nos estados gasoso (vapor), líquido (oceanos e água corrente)
e sólido (gelo);
• Biosfera: composta na maioria dos elementos hidrogênio, carbono,
oxigênio nos estados sólidos, líquido e gasoso;
• Atmosfera: consiste principalmente de nitrogênio e oxigênio livres em seus
estados gasosos.

Figura 2 – Grandes sistemas ambientais

Fonte: Designua/Adobe Stock.

TEMA 2 – MODELOS DINÂMICOS APLICÁVEIS AO MEIO AMBIENTE

Agora sabemos que os grandes sistemas ambientais em sua amplitude são


bastante complexos, e com isso advém a necessidade de estudá-los e gerenciá-
los. Sob essa perspectiva, mudanças climáticas, disposição de resíduos sólidos,
despejos de efluentes em corpos hídricos, entre outros, são exemplos de

4
dinâmicas interdisciplinares complexas que interconectam os sistemas
ambientais, sociais e econômicos, desafiando a compreensão humana.
A arte de construir modelos é conhecida como modelagem, termo que se
refere ao processo de pesquisa para realizar uma abstração da realidade.

Figura 3 – Modelar é uma maneira de prever como se estruturam as interações


ambientais sob impacto, sejam positivos ou negativos

Crédito: Metamorworks/Shutterstock.

Os modelos dinâmicos, pautados na matemática ou na física, servem para


antecipar as consequências entre as ações tomadas e as reações causadas no
sistema fornecendo previsões do momento da mudança.
São utilizados tanto para estudar comportamentos antigos, ou seja, ao
longa da história da terra, quanto para simular trajetórias futuras de mudança sob
diferentes cenários, estimando as mudanças que seriam necessárias para atingir
o status aceitável do ecossistema em um determinado ano.
À luz do resultado do modelo, pode-se desenhar uma melhor estratégia de
conservação ambiental ou planejamento regional.
Para criar um modelo, sempre é necessário um entendimento prévio
mínimo do sistema que se quer modelar. Com base nisso, podemos montar um
mapa teórico com as hipóteses de relações de causa e efeito e pensar no tipo de
modelo que mais se adequa para responder às perguntas para as quais se
necessitam respostas.

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As etapas gerais ou mesmo imprescindíveis ao processo de modelagem
podem ser vistas no quadro a seguir:

Quadro 1 – Etapas da modelagem

FASE I Identifica-se o problema a ser estudado


Definição do problema
FASE II As características do modelo são examinadas
Formulação de hipóteses e selecionadas mediante uma simplificação
FASE III Utiliza-se uma formulação matemática para
Dedução do modelo descrever o problema, pode-se recorrer a uma
teoria física
FASE IV A aceitação do modelo é analisada,
Validação comparando a sua solução com dados reais
FASE V Uma vez validado, o modelo pode ser utilizado
Aplicação para compreender, explicar, prever ou decidir
sobre a realidade em estudo

Tivemos, nos anos de 2020, 2021, uma grande quantidade de incêndios


florestais se alastrando no país, então um exemplo de modelagem interessante,
seria, por exemplo, entender a direção do fogo em unidades de conservação.
Técnicas derivadas de sensoriamento remoto também tiveram seu alcance
ampliado, principalmente na última década, passando a fornecer informações
consistentes e valiosas sobre os riscos a que os ecossistemas em nível global
estão submetidos. Um exemplo são as coberturas espaciais das imagens e suas
séries históricas, que permitem monitorar o estado de determinada região.
Em síntese, temos uma série de ferramentas que podem ser utilizadas,
sozinhas e em conjunto, para apoiar aqueles que serão os tomadores de decisão,
apontando os diferentes cenários que os ecossistemas podem estar no futuro.

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TEMA 3 – INDICADORES AMBIENTAIS

Figura 4 – A ecoeficiência é um sistema de gestão ambiental

Crédito: NicoElNino/Shutterstock.

Para falarmos sobre indicadores ambientais, antes iremos nos referir ao


conceito de ecoeficiência, elaborado ao final da década de 60, com o surgimento
da compreensão acerca de eficiência ambiental (Freeman et al., 1973).
A definição de “ecoeficiência” se deu no ano de 1990, elaborada por
Schaltegger e Sturm (Cunha; Torato, 2016) em que, além de estabelecerem esse
conceito, também incluem a conexão do tema do desenvolvimento sustentável e
os negócios empresariais para que se voltassem a uma utilização mais eficiente
dos recursos naturais.
Li et al. (2012) assinalam que ecoeficiência é uma ferramenta que viabiliza
a criação de mais valor com menos impacto ambiental e pode ser utilizada nas
organizações como um instrumento para apoiar decisões de investimento
alternativo e estratégias de produção, conectando-se à melhoria da
competitividade e melhor desempenho.
Dessa maneira, ecoeficiência, segundo a definição utilizada na
International Organization for Standardization (Organização Internacional de
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Normalização), é o “aspecto da sustentabilidade que relaciona o desempenho
ambiental de um sistema de produto ao valor do sistema de produto” (ISO, 2012).
Nessa definição o sistema de produto representa o escopo da avaliação de
ecoeficiência, definindo quais etapas da produção desse produto serão avaliadas.
A dimensão ambiental é representada pelo “desempenho ambiental de um
sistema de produto” e a dimensão econômica pelo “valor do sistema de produto”.
Mas o que são indicadores?
São marcadores que medem um aspecto de um programa e mostram o
quão próximo este está de seu caminho e resultados desejados, definidos
previamente, antes do início do projeto com o objetivo de monitorar ou avaliar se
um projeto faz o que disse que faria.
Um indicador ambiental, portanto, é uma ferramenta que fornece a
evidência de que algo aconteceu – seja um produto entregue, um efeito imediato
ocorrido ou uma mudança de longo prazo observada.
Os indicadores de ecoeficiência são elementos muito importantes no
rastreamento do sucesso alcançado em atingir as metas de desempenho
ambiental estabelecida por uma organização, assim como permitem a
comparação do desempenho ambiental entre duas organizações ou entre dois
setores de uma mesma organização.
O WBSCD (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável) (2000) aponta que a definição para utilização de indicadores deve
incluir o fato de que os mesmos devem ser relevantes e significativos na proteção
do meio ambiente e da saúde humana e/ou na melhoria da qualidade de vida;
fornece informação aos tomadores de decisão, com o objetivo de melhorar o
desempenho da organização; reconhecer a diversidade inerente a cada negócio;
apoiar o benchmarking e monitorar a evolução do desempenho, bem como ser,
por fim, claramente definidos, mensuráveis, transparentes e verificáveis.
Exemplos de indicadores de ecoeficiência utilizados pelas organizações de
uma forma geral são o consumo de energia, consumo de água, potencial de risco,
toxicidade potencial das substâncias utilizadas e emissões, quantidade efluentes
e resíduos gerados.

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Figura 5 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS

Crédito: MintBlak/Adobe Stock.

Mais recentemente, temos um conjunto de indicadores utilizados para


medir a sustentabilidade de uma organização e de um país: os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODSs), acordados em uma Assembleia Geral das
Nações Unidas em setembro de 2015.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável compõem a chamada
Agenda 2030 e são um conjunto de 17 objetivos, com 169 metas. Mais
comumente chamados de ODS se constituem numa “nova agenda universal” (UN,
2015), definindo as prioridades e aspirações de desenvolvimento sustentável
global para 2030 e buscando mobilizar os esforços globais ao redor de uma série
comum de objetivos e metas.
A Agenda 2030 traz à tona o tema da construção de indicadores como
instrumentos que permitem mensurar as modificações nas características de um
sistema e que permitem avaliar a sustentabilidade de diferentes sistemas.
Os indicadores de desenvolvimento sustentável, a princípio, permitem
mensurar quantitativa e qualitativamente um objeto de estudo, sendo passíveis de
padronização e comparação com regiões, áreas ou países.
A definição de indicadores não é uma tarefa fácil, pois estes precisam ter
determinadas características, tais como relevância social, validade,
confiabilidade, cobertura, sensibilidade, especificidade, inteligibilidade de sua

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construção e comunicabilidade, factibilidade para obtenção e periodicidade na
atualização, entre outros aspectos.

TEMA 4 – CICLO DE VIDA DE PRODUTOS

O ciclo de vida de um produto é o processo que revela o caminho desse


produto desde que a sua introdução pela primeira vez no mercado até que esgote
ou mesmo seja removido do mercado.
Esse ciclo de vida compreende quatro estágios, a saber: introdução,
crescimento, maturidade e declínio. Embora alguns produtos possam permanecer
no estado de maturidade prolongada por algum tempo, ao final todos acabam
saindo do mercado devido a vários fatores, como a saturação, aumento da
concorrência, diminuição da demanda e queda nas vendas etc.
A análise do ciclo de vida orienta estratégias de uma empresa para
sustentar a longevidade de seus produtos ou alterá-los para atender à demanda
do mercado ou adaptar-se com/para tecnologias em desenvolvimento.
Embora as empresas geralmente tentem manter seus produtos vivos no
estágio de maturidade o maior tempo possível, o declínio final é inevitável para
praticamente todos os produtos, deixando uma importante questão em aberto: o
que acontecerá com esse produto? Qual impacto causará ao meio ambiente?
Em geral, a avaliação do impacto ambiental do produto exige a sua análise
ao longo do ciclo de vida do produto, o que nem sempre é feito.
Pensar sustentavelmente inclui que as empresas de bens de consumo
considerem o impacto ambiental total – desde o cultivo de matérias-primas até o
descarte de seus produtos pelo consumidor.
Vejamos a situação de produtos que requerem o uso de eletricidade: seu
impacto sobre as emissões de CO2 serão maiores quando usados na China, que
ainda utiliza energia derivada do carvão do que quando usados na França ou no
Brasil.
Outro exemplo seriam os produtos que devem ser refrigerados em toda a
cadeia de valor, como derivados do leite. Estes incorrerão em uma grande parcela
das emissões de gases de efeito estufa na fase de uso do consumidor, mas o
produto pode ser armazenado em refrigeradores com maior eficiência energética.
Para avaliar corretamente os danos e impactos decorrentes de um
determinado produto, é preciso entender as interações ambientais, ou seja, obter
uma visão sistêmica do produto. Mudanças na formulação do produto para reduzir

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a quantidade de água em um produto podem aumentar o processamento e,
portanto, as emissões de gases de efeito estufa.
Ao usar uma abordagem de ciclo de vida do produto de ponta a ponta, as
empresas obtêm uma compreensão mais clara do impacto real que causam no
meio ambiente. Podem materializar os seus compromissos de sustentabilidade
em metas de negócios paras serem implementadas em toda a empresa, indo além
da retórica para abordar o impacto total no meio ambiente.

Figura 6 – Ciclos de vida de um produto

Crédito: Dusit/Shutterstock.

TEMA 5 – ÉTICA AMBIENTAL

A palavra ética tem origem grega (ethos) e quer dizer do lugar onde
habitamos, ou seja, a nossa casa. Segundo consenso de diversos autores da área

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da filosofia, a ética lida com a compreensão das noções e dos princípios que
sustentam as bases da moralidade social e da vida individual, sobre o valor das
ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo quanto no âmbito individual.
Sob essa perspectiva, podemos compreender ética como a maneira como
respondemos aos ditames morais, ou seja, se os aceitamos, como lidamos e se
realmente lhe damos valores efetivos.
Cortella (2010) coloca mais algumas situações interessantes sobre esse
tema, dizendo que é impossível pensar em ética sem pensarmos sobre nossas
relações com outras pessoas. Avança o filósofo no sentido de que a ética seria a
perspectiva para olharmos os nossos princípios e os nossos valores para
habitarmos espaços comuns. Em relação ao mundo corporativo, entende que
devemos separar aqueles que dizem “fazemos qualquer negócio” daqueles que
dizem “não fazemos qualquer negócio”. Cortella (2010) afirma ainda que as
pessoas éticas têm capacidade de desenvolver conhecimento e tecnologia para
gerar vida e não para diminuí-la.
Apropriamo-nos dessas definições para trazer o debate da ética ambiental,
que teve um incremento na década de 1960, a partir dos efeitos que a tecnologia,
a indústria, a expansão econômica e o crescimento populacional estavam tendo
sobre o meio ambiente.
O desenvolvimento dessa consciência foi auxiliado pela publicação do
importante livro da época, Primavera silenciosa, de Rachel Carson. Anteriormente
vimos que já em 1962 ela alertava sobre como o uso generalizado de pesticidas
químicos representava uma séria ameaça à saúde pública e levava à destruição
da vida selvagem.

Saiba mais

CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Gaia, 2010.


Mas não eram somente a poluição e o esgotamento dos recursos naturais
as únicas preocupações ambientais desde aquela época, mas também a
diminuição da biodiversidade de plantas e animais, a perda da natureza selvagem,
a degradação dos ecossistemas e as mudanças climáticas. Ao longo da história,
o limite entre aquilo que se pode e o que se fazer em relação à apropriação dos
bens naturais sempre foi bastante tênue.
Por isso trabalho da ética ambiental vem para delinear nossas obrigações
morais diante dessas preocupações. Em poucas palavras, as duas questões

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fundamentais que a ética ambiental deve abordar são: quais são os deveres do
ser humano em relação ao meio ambiente e por quê?
É interessante que a última questão geralmente precisa ser considerada
antes da primeira. Para abordar exatamente quais são nossas obrigações,
geralmente é necessário considerar primeiro por que já as temos.
Não há ética, seja em qualquer campo, que não esteja ligada à
conservação ambiental e à valorização social por meio de parcerias estabelecidas
entre empresas, comunidades locais e consumidores. Em nossos projetos,
devemos analisar cautelosamente a realidade de nosso planeta e identificar
vulnerabilidades potenciais a respeito da demanda crescente por produtos e
serviços.

Figura 7 – Meio ambiente e ética caminham juntos!

Crédito: Peach_aAdobe/Adobe Stock.

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REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Degradação do solo:


terminologia. Rio de Janeiro, 1989.

_____. NBR ISO 14001: 2015. Sistema de Gestão ambiental – Requisitos com
Orientações para uso. Rio de Janeiro, 2015.

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Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. p. 167-180.

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CUNHA, J. G. M. C.; TORATO, U. Proeminências da ecoeficiência: uma revisão


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ISO – International Organization for Stantardization. ISO 14045:2012 -


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Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. p. 167-180.

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Sul, 2009.

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SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos 2. ed.
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cation/pdf/EfficiencyLearningModule.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2023.

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