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AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS
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um humanismo, privilegiando a cultura e os seres humanos; e a biocêntrica, que
considera a natureza em primeiro lugar, com seu capital natural, colocando à
parte, de certa maneira, o capital humano e cultural.
Essas definições apontam, como tentaremos demonstrar ao longo da
nossa etapa, às concepções subjetivas quando se quer dizer o que significa
natureza, reforçando a necessidade de explicitar o contexto do qual se está
falando.
De uma maneira geral, natureza, em seu sentido lato, equivale ao mundo
físico, ou mundo material, com seus fenômenos físicos, a vida em geral – podendo
se referir a plantas e animais vivos, processos geológicos, clima etc.
A palavra “natureza” deriva da palavra latina natura, ou "qualidades
essenciais, disposição inata", e literalmente significa "nascimento". Natura, por
sua vez, foi uma tradução latina da palavra grega phýsis (φύσις), que
correlacionava plantas, animais e outras características do mundo como se
desenvolvendo por sua própria vontade (Lenoble, 1969, citado por Foladori,
2004).
Alguns autores, como Gonçalves (2002, p. 23), pensam a natureza
relacionada a uma construção no âmbito social, histórico e espacial e que, em
nossa sociedade, se opõe à cultura, não apresentando intervenção antrópica.
Já para Dulley (2004, p.17), o mundo natural pode diferir conceitualmente
de “ambiente” e “meio ambiente”. O autor entende que a cultura que diferencia o
homem dos demais animais é civilizadora, ou seja, nascemos num ambiente
natural, mas, simultaneamente, num ambiente sociocultural.
Para Lenoble (citado por Dulley, 2004, p. 19), “natureza não se resume ao
físico, pois ela é antes de tudo um produto, um resultado da visão que o homem
tem dela no tempo e espaço”.
É interessante observarmos a perspectiva desses pesquisadores de que,
afinal, a concepção de natureza vem sendo construída socialmente ao longo da
história humana na Terra.
Dulley (2004, p. 20) afirma ainda que a natureza e o ambiente seriam,
portanto, duas faces de uma mesma moeda, sendo que o segundo teria conotação
mais prática ou de utilidade, não só para o homem, mas também para qualquer
espécie”.
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Figura 2 – Abstração
Figura 3 – Pantanal
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Os bens naturais, renováveis e não renováveis, assim como os serviços
ecossistêmicos, são parte essencial da riqueza das nações. Contribuem para a
receita fiscal, renda e redução da pobreza, geram empregos e, na grande maioria
das vezes, são a base da subsistência para comunidades mais pobres.
“Capital Natural”, nessa perspectiva, é a visão de que os bens da natureza
são essenciais para as atividades econômicas, assim como as pessoas,
tecnologias e os recursos financeiro, justificando a conservação ambiental para
tomadores de decisão.
A abordagem da temática sob a ótica de Capitais Naturais é uma forma de
avaliar o verdadeiro valor dos recursos naturais, de maneira que a gestão de
recursos contribua significativamente para o desenvolvimento econômico e social
desenvolvimento de um país, em vez de um mero crescimento de curta duração
baseado em fontes de renda.
Segundo Goodland e Daly (1996), o capital natural pode ser entendido
como o “estoque” que produz o fluxo de recursos naturais para o futuro e que
esses fluxos podem ser colhidos ou extraídos e convertidos em receita.
Num sentido mais amplo, o capital natural apreende todos os elementos de
ecossistema que proporcionam o desenvolvimento de outras formas de capital.
Figura 4 – Cachoeira
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Isso inclui matérias-primas minerais e biológicas, energia renovável (solar
e das marés) e fósseis combustíveis, capacidade de assimilação de resíduos e
funções vitais de suporte à vida (como estabilidade) fornecidas por ecossistemas
em bom funcionamento
Entender o capital natural, composto tanto pelo estoque de recursos
naturais e serviços ecossistêmicos vitais, é entender a base para o
desenvolvimento de uma gestão sustentável dos recursos naturais que sirva a
desenvolvimento de benefícios econômicos de longo prazo para a sociedade.
A melhoria e a preservação do Capital Natural não são apenas
responsabilidades do setor público ou das iniciativas privadas. A sociedade de
forma geral também precisa entender a sua relação com o meio ambiente e como
é possível preservar o capital natural existente.
Como vimos, o Capital Natural é composto por bens (ou recursos) naturais,
enquanto componentes da paisagem geográfica. Ainda que não tenham sofrido
importantes transformações pelo trabalho humano e sua origem seja
independente dos seres humanos, lhe são atribuídos,
historicamente, valores econômicos, sociais e culturais. Portanto, só podem ser
compreendidos a partir da relação homem-natureza.
Ou seja, se, por um lado, os bens naturais ocorrem e se distribuem segundo
uma combinação de processos naturais, por outro, sua apropriação ocorre
segundo valores humanos. Além da demanda, da ocorrência e de meios técnicos,
a apropriação dos recursos naturais pode depender também de
questões geopolíticas, sobretudo quando se caracterizam como estratégicos,
envolvendo disputa entre povos.
Mas vejamos o que são esses bens:
Recurso natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações
e os ecossistemas necessitam para sua manutenção. Portanto, recurso natural é
algo de extrema importância para a continuidade da vida de todos os seres.
Os recursos naturais, também chamados de recursos ambientais, podem
ser classificados como bióticos e abióticos e são pré-requisitos indispensáveis
para a vida dos organismos em seus ambientes, visto que são consumidos à
medida que crescem e se reproduzem, permitindo a manutenção da vida.
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Os recursos não se distribuem de forma igual e homogênea nos locais em
que estão disponíveis. Em decorrência do consumo de outros indivíduos, eles
podem ser insuficientes para a necessidade de todos.
Estes recursos, pela disponibilidade, são caracterizados como renováveis
e não renováveis. Recursos renováveis e não renováveis são fontes de energia
que a sociedade humana utiliza para manutenção da vida cotidiana.
A diferença entre esses dois tipos de recursos é que os recursos renováveis
podem se reabastecer naturalmente, enquanto os não renováveis, não. Isso
significa que os recursos não renováveis são limitados em oferta e não podem ser
usados de forma sustentável.
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Figura 6 – Recursos Não-Renováveis
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Figura 7 – Serviços Ecossistêmicos
Em 2020 nos deparamos com algo que deixou atônitos e, por que não dizer,
em pânico, assim como a maioria das pessoas no mundo: o surgimento da Covid-
19, doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2.
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Figura 8 – COVID-19
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Figura 9 – Conflitos
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Figura 10 – Crise
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Disponível em: <https://pesquisassan.net.br/olheparaafome/>. Acesso em: 3 abr. 2023.
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Figura 11 – Colapso
TEMA 5 – ANTROPOCENO
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No início da nossa discussão, mostramos como o conceito de natureza está
intimamente conectado ao modo como nós nos temos apropriado dos bens
naturais. E no tópico anterior, acerca do estado do mundo, confirmamos que a
situação do planeta vem se deteriorando de maneira acelerada e até dramática,
ainda que tenhamos dificuldade em reconhecer isso na nossa vida.
Alguns exemplos são quantidades gigantescas de plástico nas praias e nos
mares, o desenvolvimento, sem precedentes, de novas substâncias que estão
sendo inseridas na superfície da Terra, raramente recicladas, solos com excesso
de fertilizantes, acidez dos oceanos, níveis de poluição sem precedentes, a
erosão das florestas tropicais, a ruptura dos ecossistemas, a extinção em massa
de espécies e a drástica perda de biodiversidade, o aquecimento global em uma
velocidade alarmante, numa lista infindável.
É nesse cenário que nos deparamos com a palavra Antropoceno,
substantivo que aparece hoje no título de centenas de livros e artigos científicos,
em milhares de citações, e seu uso continua a crescer nos meios de comunicação.
O Antropoceno se refere a uma nova era geológica, que surge para
denominar o período em que as ações humanas começaram a provocar
alterações biofísicas em escala planetária (Artaxo, 2014). Foi criada nos anos
1980, pelo biólogo norte-americano Eugene Stoermer e popularizada na década
de 2000 por Paul Crutzen, o cientista atmosférico holandês e vencedor do Prêmio
Nobel de Química de 1995.
Para entendermos melhor, vamos nos relembrar que a que a Terra teve
sua evolução determinada pelas forças geológicas desde sua origem, há cerca de
4,5 bilhões de anos, com subsequentes transformações significativas em sua
crosta e atmosfera.
Com o início da Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII,
um novo agente de mudança se somou às transformações geológicas: as novas
formas de ocupação que os seres humanos, a partir do modelo econômico
capitalista, desenvolveram.
A partir do final da Segunda Grande Guerra Mundial, as implicações
negativas no ecossistema terrestre tiveram um crescimento exponencial de
degradação (Marques, 2015).
Provavelmente, a mudança mais significativa, do ponto de vista geológico
é aquela que é invisível para nós – a mudança na composição da atmosfera. As
emissões de dióxido de carbono são incolores, inodoras e, num sentido imediato,
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inofensivas. Mas seus efeitos de aquecimento poderiam facilmente elevar as
temperaturas globais a níveis que não eram vistos há milhões de anos.
Algumas plantas e animais já estão mudando suas áreas de distribuição
para os polos, e outras espécies não sobreviverão ao aquecimento. Enquanto
isso, o aumento das temperaturas pode eventualmente elevar o nível do mar em
seis metros ou mais.
Muito tempo depois de nossos carros, cidades e fábricas se tornarem pó,
as consequências dessa queima de bilhões de toneladas de carvão e petróleo
provavelmente serão claramente discerníveis. À medida que o dióxido de carbono
aquece o planeta, ele também se infiltra nos oceanos e os acidifica.
Um dos grandes impasses do Antropoceno é que o seu enfrentamento
implica lidar com a delicada questão da justiça ambiental. Nessa medida, se torna
um conceito problemático, visto que implica que todos os seres humanos são
igualmente responsáveis pelos danos decorrentes do aquecimento global
antropogênico, o que sabemos que não é verdade, vistas as imensas
desigualdades socioambientais planetárias.
A crise ambiental instaurada no planeta ampliará os riscos já existentes
assim como criará outros para os sistemas naturais e humanos, distribuídos de
socialmente forma desigual.
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AULA 2
AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS
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energia, resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais. (Brasil, 1986)
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TEMA 2 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM DANO GLOBAL
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que o aumento da temperatura média do planeta não ultrapasse 2º C em relação
aos níveis pré-industriais, na metade do século XIX.
Essa elevação é causada pelas emissões humanas de gases do efeito
estufa, principalmente o dióxido de carbono, e amplificada por respostas naturais
a essa perturbação inicial, em efeitos que se autorreforçam em realimentação
positiva. O aumento do dióxido de carbono tem sido provocado principalmente
pela queima de carvão, petróleo e gás natural – conhecidos como combustíveis
fósseis.
Em todo o mundo, os combustíveis fósseis são usados pelas pessoas no
transporte e na geração de eletricidade. Eles também fornecem calor em
residências quando são queimados e são usados em processos industriais. O
desmatamento de áreas florestais em todo o mundo também contribuiu para as
mudanças na atmosfera: as árvores absorvem dióxido de carbono quando
crescem e liberam gases de efeito estufa se forem derrubadas e queimadas ou
deixadas para apodrecer.
O dióxido de carbono está agora em concentrações que se aproximam de
uma vez e meia o nível na época do Revolução Industrial há cerca de 200 anos
(NOAA, 2022). Quanto mais ele estiver presente na atmosfera, mais calor será
retido e mais quente a Terra se tornará.
Dessa maneira, as mudanças climáticas se referem às alterações nas
condições climáticas médias, incluindo medidas como temperatura, umidade,
precipitação, nebulosidade e padrões de vento – e mudanças na frequência ou
gravidade dessas condições. Os principais impactos decorrentes que já estão
sendo observados são:
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longo de suas atividades. Segundo Kraemer ([s.d.]), trata-se de obrigações
contraídas pela empresa perante terceiros que originam um gasto ambiental.
Veremos em detalhes exemplos mais contundentes e suas consequências
socioambientais, mas, a título ilustrativo, passivos podem abranger desde o
descarte incorreto de lixo até emissão de gases poluentes, lançamento de
produtos químicos em ambientes aquáticos, contaminação do solo ou águas
subterrâneas e alterações realizadas nas paisagens devido às construções de
estradas e projetos de mineração.
Ribeiro (2006) aponta que há três tipos de obrigações provenientes dos
passivos ambientais:
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TEMA 4 – CONTABILIDADE AMBIENTAL
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empresa como matéria-prima, ou seja, minérios, energia, alimentação, ar puro,
paisagem, aterros para depósito de resíduos etc.
Historicamente, a contabilidade já estava nas premissas do
desenvolvimento sustentável está contido no Capítulo 8, letra d, da Agenda 21,
que descreve sobre a “[...] necessidade de que países e organismos
internacionais desenvolvam um sistema de contabilidade que integre as questões
sociais, ambientais e econômicas” (Carvalho, 2011, citado por Ferreira, 2003, p.
14).
Mais adiante, no início dos anos de 1990, o International Accounting and
Reporting Issues recomendou que a contabilidade ambiental, deve ser inclusa na
identificação das atividades de uma empresa, assim como sua mensuração e
evidencias, ou seja, que todos os custos, inclusive os ambientais fossem inseridos
(Carvalho, 2012).
No Brasil, a edição da NPA 11 – Balanço e Ecologia, pelo Instituto Brasileiro
de Contabilidade (Ibracon) (1996) estabeleceu os princípios entre a contabilidade
e o meio ambiente, indicando o uso de registros específicos para ativos e passivos
ambientais.
Tinoco e Kraemer (2011) descrevem que somente em 1998 a contabilidade
ambiental passou a ser vista como um novo ramo da ciência contábil. Segundo
esses autores, isso se deu pela finalização do relatório financeiro e contábil sobre
o passivo e custos ambientais pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental das
Nações Unidas de Especialistas em Padrões Internacionais de Contabilidade e
Relatórios (United Nations Intergovernmental Working Groups of Expert on
International Standards of Accounting and Reporting – ISAR).
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maneira que as decisões de investimentos estejam baseadas na relação
custo-benefício; controlar o uso e os fluxos da energia e dos materiais,
possibilitando sua redução; proporcionar a informação mais precisa e
detalhada para suportar o estabelecimento e a participação em
programas voluntários, com custos efetivos para melhorar o
desempenho ambiental, em ações ambientais; informação mais precisa
e mais detalhada para a medida e o relatório de desempenho ambiental,
melhorando, assim, a imagem de companhia junto aos stakeholders,
como clientes, comunidades locais, empregados, Governo e
fornecedores, e contribuindo para a sociedade em geral.
Além disso, como retribuição à sociedade, a contabilidade ambiental:
permite o uso mais eficiente de recursos naturais, incluindo a energia e
a água; reduz os custos externos relacionados à poluição da indústria,
como os custos da monitoração ambiental, fornece informações
ambientais para a tomada de decisão, fornece a informação ambiental e
industrial do desempenho, que pode ser usada no contexto mais extenso
das avaliações do desempenho e de condições ambientais nas
economias e em regiões geográficas. (Carvalho, 2012, p. 110)
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em valas do morro, havia também a presença de gás metano acumulado, ainda
que nada tenha sido exposto oficialmente pelos órgãos públicos.
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5.3 O caso da Shell
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REFERÊNCIAS
14
CORTEZ, A. T. C.; ORTIGOZA, S. A. G. (Org.). Da produção ao consumo:
impactos socioambientais no espaço urbano. São Paulo: Unesp, Cultura
Acadêmica, 2009.
LOPES JR., I. et al. Chumbo e arsênio nos sedimentos do rio Ribeira e de Iguape,
SP/PR. In: SILVA, C. R. et al. (Ed.). Geologia médica no Brasil. Rio de Janeiro:
CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2006. p. 88-96.
15
MILARÉ, E. Direito do Ambiente, gestão ambiental em foco, doutrina
jurisprudência, glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
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AULA 3
AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS
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Figura 1 – Ilustração sobre as consequências de deslizamento de encosta
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Figura 2 – Despejo de efluentes num rio
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Atualmente, de maneira mais ostensiva, também nos deparamos com os
riscos sociais, também contemplados por Fortunato e Fortunato Neto (2012). Esse
tipo de risco é resultante das condições sociais e econômicas existentes,
materializados em más condições de habitação e saneamento, influenciando,
inclusive, os índices de desemprego e distribuição de renda da população.
O quadro a seguir ilustra a nossa classificação:
ATMOSFÉRICOS
• Furacões, secas,
FÍSICOS tempestades, granizos,
NATURAIS raios etc.
GEOLÓGICOS
• Endógenos
o Terremotos,
atividades
vulcânicas,
tsunamis.
• Exógenos
RISCOS AMBIENTAIS
o Escorregamentos,
Erosão,
subsidência de
solos, solos
expansivos
HIDROLÓGICOS
• Enchentes, inundações
SOCIAIS
• Assaltos, guerras, conflitos, atentados
Fonte: Cerri; Amaral, 1998.
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numa avaliação de danos, é importante considerar se foram realizadas avaliações
de risco prévias.
Uma avaliação dos riscos é um processo estruturado e sistemático que
deve ser feita para o gerenciamento dos riscos, envolvendo comparação com
critérios de tolerabilidade tendo como objetivo final subsidiar processos de tomada
de decisão (DNV, 2006).
Riscos impostos a uma coletividade humana, seja por um empreendimento,
processo ou obra, comportam uma série de variáveis e, com isso, podem
apresentar níveis razoáveis de incerteza, decorrente principalmente da escassez
de informações nesse campo.
Desse modo, é necessário que seja realizada uma análise comparativa de
riscos o que, para tal, requer o estabelecimento de níveis limite, ou mínimos, a
serem utilizados como referências que permitam comparar situações muitas
vezes diferenciadas. A análise comparativa exige a discussão acerca da
tolerabilidade dos riscos, que, na maioria das vezes, pode ser efeito de um
julgamento subjetivo.
Mesmo diante desse cenário de incertezas e dificuldades, a definição de
critérios de tolerabilidade de riscos é significativamente relevante, principalmente
quando há potencial para causar danos a uma população.
As perguntas iniciais são muito importantes nesse tipo de avaliação:
Quais os riscos evidentes? Qual sua frequência? O que pode dar errado?
Quais os impactos?
De posse das respostas desses questionamentos iniciais, o passo seguinte
é interpretar se os riscos avaliados são altos ou baixos e, com base neles, decidir
se se há ou não necessidade de implementação de medidas adicionais de
segurança para reduzir ainda mais o risco.
Para o gestor da decisão, os critérios de aceitabilidade ou de tolerabilidade
de riscos, ou melhor, os valores acima dos quais os riscos avaliados sejam
considerados inaceitáveis ou intoleráveis serão de suma importância.
As avaliações de risco também devem conter informações sobre os riscos
sociais e individuais. Quando os riscos sociais são baixos porque a população
exposta não é grande, alguns membros da população podem estar expostos a
riscos individuais inaceitavelmente altos. Da mesma forma, pode acontecer a
situação inversa, ou seja, cada indivíduo de uma população está exposto a um
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nível de risco baixo, mas, devido ao grande número de pessoas expostas, o risco
social poderia estar acima do critério de aceitabilidade correspondente
Deve-se ter cuidado em mensurar quantas pessoas estão sob risco; quanto
podem ser afetadas em caso de um acidente e quais podem ser os efeitos globais
sobre a comunidade.
Os critérios para classificação de risco geralmente estão relacionados à
gravidade, o que envolve desde a morte de pessoas e elevados danos ambientais
até consequências menores para pessoas e o meio ambiente, na ocorrência do
evento ou do impacto ambiental considerado.
Souza (2012) estabelece como denominações e níveis:
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significativos à saúde, ao meio ambiente e à economia. Essas tragédias também
levaram a longos desafios legais e levaram a novas regulamentações globais.
Entender os principais aspectos desses desastres, sejam nucleares (a
exemplo de Chernobyl), químicos, por derramamento de poluentes etc., que
causaram danos irreparáveis às populações de diversos países, nos convoca a
uma reflexão sobre as consequências dos nossos sistemas produtivos.
Aqui mais uma vez podemos retornar ao desastre de 1952, em Londres,
como uma das piores lições aprendidas. Era 5 de dezembro de 1952 quando a
cidade iniciou um pesadelo que durou mais de quatro dias. O tradicional nevoeiro
londrino que caiu na entrada do inverno noite não era o mesmo, mas sim uma
neblina amarelada, espessa, malcheirosa e claramente tóxica. Quatro mil pessoas
morreram e outras 150 mil ficaram gravemente doentes por causa de infecções
respiratórias.
Foi também na década de 50, mais precisamente em 1956, que o mundo
teve ciência de quem desde a década de 30, a Chisso Corporation – despejava
rotineiramente seus rejeitos industriais nas águas que banhavam o município de
Minamata, no Japão, contaminando a vida marinha.
O Desastre de Minamata, como ficou conhecido, foi envenenamento de
centenas de pessoas por mercúrio, com a morte de mais de 900 delas pela
produção de PVC (policloreto de polivinila), plástico, liberando efluentes com alto
teor de mercúrio (Hernan, 2010).
A experiência do Japão influenciou muitas nações a estabelecer novos
limites para poluentes industriais, inclusive por meio da Convenção de Minamata
sobre o Mercúrio, um tratado internacional.
Outro marco das tragédias ambientais foi a denúncia de Rachel Carson,
nos Estados Unidos, 1962, sobre os efeitos do recém-descoberto DDT (dichloro-
diphenyl-trichloroethane), primeiro pesticida moderno. Utilizado após a Segunda
Guerra Mundial para o combate aos mosquitos vetores da malária e do tifo,
posteriormente foi largamente utilizado na Guerra do Vietnã. Carson naquela
época explicava como o uso desenfreado de pesticidas nos EUA alterava os
processos celulares das plantas, reduzindo as populações de pequenos animais
e colocando em risco a saúde humana (Carson, 2010). Rachel Carson conta com
detalhes o que ocorreu num dos livros mais famosos da história ambiental:
Primavera silenciosa.
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No final da década de 60, o petroleiro Torrei Canyon 1967, um dos
primeiros supertanques petrolíferos, colidiu com um recife despejando 119 mil
toneladas do óleo na costa sudoeste do Reino Unido. A história se repetiu em
1984 quando o superpetroleiro Exxon Valdez colide em um rochedo deixando
vazar 40 milhões de litros de petróleo, contaminando uma área de 250 km2
(Hernan, 2010).
Em 1984, em Bhopal na Índia, a Union Carbide, uma das maiores indústrias
químicas do mundo, deixou vazar um tanque de armazenamento subterrâneo de
uma fábrica de pesticidas lançando ao ar 40 toneladas do gás isocianato de metila,
um dos mais graves acidentes no setor industrial da história. Em questão de
poucas horas, uma nuvem letal se dispersou sobre a densamente povoada cidade
de Bhopal, com 900 mil habitantes, matando mais de oito mil pessoas (BBC,
2014).
Na Rússia, 1986, na cidade de Chernobyl houve a explosão de um dos
quatro reatores da usina nuclear soviética de Chernobyl, lançando na atmosfera
uma nuvem radioativa que se espalhou não somente através da União Soviética,
mas também pela Europa Ocidental. Muitos anos após o desastre nuclear de 1986
em Chernobyl, por exemplo, as crianças começaram a sofrer de câncer da tireoide
como resultado de sua exposição a materiais radioativos (Hernan, 2010).
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• 1984 – Vila Socó – uma falha em dutos subterrâneos da Petrobras
espalhou 700 mil litros de gasolina nos arredores dessa vila, localizada
também em Cubatão (SP). Após o vazamento, um incêndio destruiu parte
de uma comunidade local, deixando quase cem mortos;
• 1987 – Goiânia – um dos mais graves desastres radioativos do mundo
devido à contaminação de césio 137 onde dois catadores de lixo
arrombaram um aparelho radiológico nos escombros de um antigo hospital,
e encontraram um pó branco que emitia luminosidade azul. O material foi
levado a outros pontos da cidade, contaminando pessoas, água, solo e ar,
e causando a morte de pelo menos quatro pessoas;
• 2000 – Baía de Guanabara – um acidente com um navio petroleiro resultou
no derramamento de mais de um milhão de litros de óleo in natura no Rio
de Janeiro;
• 2003 – Cataguases, Minas Gerais – rompimento de uma barragem de
celulose ocasionando o derramamento de mais de 500 mil metros cúbicos
de rejeitos, compostos por resíduos orgânicos e soda cáustica atingindo os
rios Pomba e Paraíba do Sul, importantes no abastecimento das
populações locais e causando sérios danos ao ecossistema e à população
ribeirinha.
Em 2015 e em 2019 aconteceu o rompimento das respectivas barragens
de Mariana e de Brumadinho, em Minas Gerais.
O complexo minerário de Germano, em Mariana-MG, ao ser rompido,
lançou cerca 50 milhões de m³ de rejeitos de mineração de ferro no meio
ambiente, os quais foram carreados até o Estado do Espírito Santo, impactando
aproximadamente 632 km de cursos hídricos.
Em Brumadinho, as consequências foram ainda maiores, pois além da
extensa contaminação hídrica dos rios da região, houve também a morte de 270
pessoas
Ao olharmos os padrões dos grandes desastres ambientais, percebemos
que houve falhas tanto na compreensão dos riscos reais quanto na gestão das
consequências da fatalidade, a qual se dá predominantemente num enfoque de
remediação e não de prevenção. São contaminações ambientais que atingem
centenas de pessoas, descaracterização de ambientes e, muitas vezes, perdas
de vidas humanas.
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TEMA 4 – DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA
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Após anos de incentivos à produção e à ocupação da Amazônia, os sinais
de destruição ficam mais claros e, em 1978, a área desmatada chega a 14 milhões
de hectares.
O desmatamento começa a tomar evidência internacional e o movimento
ambientalista começa a questionar o que estava acontecendo. Em 1988, o
assassinato do líder sindical Chico Mendes é considerado um divisor de águas na
história da Amazônia. A partir desse crime, o governo brasileiro passa a sofrer
pressões cada vez mais ostensivas a respeito de suas políticas para a Amazônia.
A realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, Eco-92, faz com que a questão ambiental e a Amazônia fossem
inseridas definitivamente na pauta das grandes discussões mundiais.
No entanto, é nesse mesmo período que a soja chega à Amazônia e como
um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira, transforma-se em
um dos vilões do desmatamento, atraindo uma nova leva de imigrantes do Sul e
Sudeste do país.
Em 1990, a área total desmatada volta a dar um salto, chegando a 41
milhões de hectares e nos anos 2000 chega a 70 milhões de hectares.
Além da soja, do garimpo ilegal, a pecuária também se configura como a
ser responsável pelo desmatamento de grandes áreas. Entre 1990 e 2003, o
rebanho bovino da Amazônia Legal cresceu 240%, chegando a 64 milhões de
cabeças.
Os dados mais recentes divulgados por órgãos reconhecidamente notáveis
pela sua excelência científica como o INPE- Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, Imazon e Map Bioma, apontam para fevereiro de 2023, 325 quilômetros
quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 7% em relação
a fevereiro de 2022, quando o desmatamento somou 303 quilômetros quadrados.
O desmatamento detectado em fevereiro de 2023 ocorreu no Mato Grosso
(48%), Pará (19%), Amazonas (17%), Rondônia (6%), Roraima (6%), Acre (2%),
Maranhão (1%) e Tocantins (1%). As florestas degradadas na Amazônia Legal
somaram 20 quilômetros quadrados em fevereiro de 2023, o que representa um
aumento de 100% em relação a fevereiro de 2022, quando a degradação
detectada foi de 10 quilômetros quadrados. Em fevereiro de 2023 a degradação
foi detectada no Pará (45%), Mato Grosso (35%), Roraima (10%), Acre (5%) e
Rondônia (5%).
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Saiba mais
Caso você deseje se aprofundar nesse tema, confira os sites do INPE, MAP
Biomas e Imazon:
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em:
<https://www.gov.br/inpe/pt-br>. Acesso em: 15 maio 2023.
MAP BIOMAS. Disponível em: <https://mapbiomas.org/>. Acesso em: 15
maio 2023.
IMAZON. Disponível em: <https://imazon.org.br/>. Acesso em: 15 maio
2023.
13
O desmatamento perde apenas para a queima de combustíveis fósseis
como fonte de emissões de gases de efeito estufa que causam mudanças
climáticas. Existem verdadeiros tratados científicos que comprovam que
interromper e reverter o desmatamento em florestas tropicais pode reduzir as
emissões globais de carbono em quase 18% até 2030.
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aquecimento global pode conduzir à temperatura a níveis acima do limite aceitável
pelo corpo humano.
Se os níveis de desmatamento continuarem no mesmo ritmo, a temperatura
na Região Amazônica poderá chegar a 41 °C na sombra e a 46 °C ao ar livre, com
efeitos, por consequência, no sistema de saúde público referentes a quadros de
infecções respiratórias causadas por queimadas.
Já sabemos, portanto, que a única maneira de reverter o quadro atual é
interrupção imediata do desmatamento e das queimadas na área da Floresta
Amazônica, pois já podemos estar num ponto de não retorno.
15
REFERÊNCIAS
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SOUZA, F. M. N. et al. Análise de riscos como instrumento para sistemas de
gestão ambiental. Revista Ibero‐Americana de Ciências Ambientais, Aquidabã,
v. 3, n. 1, p. 17‐41, 2012.
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AULA 4
AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS
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Em sua origem, o pensamento tradicional econômico ignorou que podemos
esgotar determinada classe de recurso, sem que isso se tornasse um impeditivo
à nossa vida no planeta, na medida em que avanços tecnológicos nos dariam
condições para isso e, como consequência, poderíamos ter um crescimento
econômico ilimitado.
Ao longo das últimas décadas, no entanto, as questões ambientais têm
adquirido um status de bem econômico, porque muitos recursos naturais, como a
água e algumas fontes de energia não renovável, começam a escassear,
apresentando não apenas sinais de esgotamento, mas também altíssimo nível de
degradação.
Por outro lado, esses bens naturais, ainda que sejam insumos
indispensáveis no processo produtivo, aparentemente são caracterizados como
bens não econômicos por não possuírem preço nem dono.
Veremos mais adiante que, atualmente, há o desenvolvimento de outras
linhas de escolas econômicas que também trabalham com a questão ambiental,
amparadas em outras filosofias que procuram compreender a
multidimensionalidade do meio ambiente.
Em termos históricos, a relação entre economia e meio ambiente pode ser
vista na breve linha do tempo a seguir:
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Por outro lado, o valor de uso pode ser direto, aqueles em que o bem é
utilizado para consumo, lazer; indireto, como aqueles que nos beneficiam sem que
tenhamos consciência. Esse é o caso do próprio planeta a nos assegurar a
condição de vida sobre a terra, sem que muitos tenham consciência disso. Ainda
assim, o valor de uso indireto não deixa de ser um conceito funcionalista, um bem
que trabalha em função de nós, para a nossa utilidade, percebem?
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Pela primeira vez, o valor de um bem deixa de ser objetivo para ser
subjetivo, dependendo da valoração individual.
A teoria neoclássica também se coloca como neutra, não lhe interessando
por que ou se é justo alguns indivíduos possuírem mais e outros menos recursos,
o que importa é que dado o que possuem, façam o melhor dele.
Baseada na teoria de Adam Smith acredita na harmonização do mercado
pela “mão invisível”, onde os interesses (custos e benefícios) privados coincidem
sempre com os interesses sociais. Ou seja, o que é bom para o indivíduo é sempre
bom para a coletividade.
Sem dúvida, seu aspecto mais controverso e objeto de crítica é não levar
em consideração que não há o esgotamento de recursos naturais, pois isso seria
solucionado pelo alto avanço tecnológico.
Segundo esse ponto de vista, caso houvesse uma seca ou inundação
generalizada que causasse um colapso em termos de agricultura, onde mesmo
assim o Produto Interno Bruto (PIB) se mantivesse a partir do crescimento de
outros setores da economia, não se teria um problema de ordem econômica.
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TEMA 3 – ECONOMIA VERDE OU ECONOMIA ECOLÓGICA
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desenvolvidos continuam a serem os maiores poluidores e assim se tem um
impasse (Reporter Brasil, 2012).
Outra definição emergente, com várias definições, dentro da economia
ambiental, é a chamada Bioeconomia, voltada para biomas de alta diversidade
biológica, como a Floresta Amazônia. Diverge de uma bioeconomia focada
principalmente em uma transição energética, valorizando o social, diversidade
cultural e biológica. Do ponto de vista socioecológico, a ideia de bioeconomia inclui
a valorização do conhecimento de povos tradicionais, acoplados de forma não
linear com conhecimento tecnológico.
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produtos de vida, bens de longa duração, atividades de recondicionamento e
prevenção de resíduos (Ellen MacArthur Foundation, 2013).
Cradle to Cradle, ou C2C, é uma abordagem de design para produção e
consumo baseada em processos encontrados na natureza que considera
recursos e materiais como “nutrientes” circulando indefinidamente dentro da
economia em um circuito fechado rico em feedback. Ele também vê os resíduos
como recursos que podem ser reintroduzidos na economia.
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Figura 6 – Os cupins utilizam um sistema de ventilação nos cupinzeiros que tem
sido copiado por arquitetos para o desenvolvimento de edifícios
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TEMA 5 – ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
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de aquecimento 28 vezes maior que o do CO2, impactando absurdamente o
planeta.
Desta forma, uma economia de baixo carbono é formada por um conjunto
de atividades que, comparadas ao modo de produção tradicional, emitem menos
GEE, de forma a reduzir o impacto do aquecimento global no planeta.
Precificar o carbono é, portanto, atribuir um custo aos impactos gerados
pelo aumento de gases de efeito estufa na atmosfera (GEE), causado pela queima
de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra para a produção dos
insumos, manufatura, distribuição e consumo desses produtos, modelo de
produção e consumo que dá sinais de ruptura diante da maior ameaça de todos
os tempos: o aquecimento global (Mckinsey; Company, 2013).
Há duas maneiras de precificação do carbono que são os esquemas de
comércio de emissões (cap and trade) e a tributação, consistindo em importantes
incentivos, estimulando as empresas e pessoas a reduzirem suas emissões à
medida que tornam as atividades intensivas em emissões de carbono mais caras
e as tecnologias limpas mais acessíveis.
Cap and Trade se refere à distribuição de permissões por meio dos
Governos dos países signatários do Protocolo, em que as empresas desses
países teriam um limite máximo de emissão de gases estipulado e, a partir disso,
poderiam comprar e vender permissões. Nesse caso, empresas que tenham
menos emissão permitida podem vender a quantia restante para outras empresas.
A tributação consiste em um instrumento de ajuste via preço em que é
definido um preço fixo a ser cobrado por cada unidade de emissão incidindo sobre
toda a emissão gerada. A taxa é paga aos governos, como se fosse um imposto,
tendo seu valor calculado de forma a atingir o nível social ótimo de emissões. No
momento em que a taxa é implementada, as empresas podem tomar a decisão
de manter o padrão ou reduzir e pagar menos taxa.
No Brasil, ainda não temos o Cap and Trade colocado em prática devido à
pequena demanda para créditos de carbono. Também não há metas obrigatórias
de redução de gases do efeito estufa para empresas brasileiras.
O fato é que os dados mais recentes que as análises climáticas têm trazido
é que preciso limitar o aquecimento global e para evitar os piores impactos
climáticos, as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) precisarão cair
quase pela metade até 2030 e, finalmente, chegar a “zero líquido”.
Mas o que significa uma meta de NET ZERO?
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Diferentes termos (neutro em carbono, zero líquido, neutro em termos
climáticos) apontam para diferentes maneiras pelas quais as fontes e sumidouros
de emissões são contabilizados.
Eles ajudam a indicar o que está e o que não está incluído no cálculo ou
em uma meta. O zero líquido é a meta acordada internacionalmente para mitigar
o aquecimento global na segunda metade do século, de acordo com as
recomendações do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC –
sigla em inglês).
As emissões líquidas zero, ou “líquido zero”, serão alcançadas quando
todas as emissões liberadas pelas atividades humanas forem contrabalançadas
pela remoção de carbono da atmosfera em um processo conhecido como
remoção de carbono.
Atingir NET ZERO exige uma abordagem em duas partes: em primeiro
lugar, as emissões causadas pelo homem (como as de veículos e fábricas
movidos a combustíveis fósseis) devem ser reduzidas o mais próximo possível de
zero.
Quaisquer emissões remanescentes devem então ser equilibradas com
uma quantidade equivalente de remoção de carbono, o que pode acontecer por
meio de abordagens naturais, como a restauração de florestas, ou por meio de
tecnologias como captura e armazenamento direto de ar (DACS), que limpa o
carbono diretamente da atmosfera.
Você pode se aprofundar no site do Instituto de Pesquisas Espaciais –
INPE. (C & T Brasil, 2023).
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REFERÊNCIAS
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TEEB. Ecological and Economic Foundations. London: Earthscan, 2010.
Disponível em: <http://www.teebweb.org/>. Acesso em: 11 jun. 2023.
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AULA 5
AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS
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A teoria das externalidades busca definir a quem pertencem, afinal, os
custos dos efeitos das atividades econômicas que recaem sobre terceiros,
aqueles que são alheios ao processo. Tais efeitos podem ser malefícios ou
benefícios.
A maioria das externalidades insere-se na categoria das chamadas
externalidades técnicas ou seja, os efeitos indiretos têm um impacto sobre as
oportunidades de consumo e produção dos outros, mas o preço do produto não
tem em conta essas externalidades. Como resultado, existem diferenças entre
os retornos ou custos privados e os retornos ou custos para a sociedade como
um todo.
Longo (1984) define externalidade como uma imposição de um efeito
externo causado a terceiros, gerada em uma relação de produção, consumo ou
troca e que pode ser classificada como externalidades positivas ou negativas.
As externalidades negativas geram custos para os agentes envolvidos,
como no caso da poluição atmosférica, dos rios, oceanos, desmatamento ilegal,
poluição sonora.
As externalidades positivas acontecem quando existe um beneficiamento
sobre os terceiros ainda que involuntário como em investimentos realizados por
empresas privadas em projetos de infraestrutura, voltados à questão energética
ou mesmo de ordem tecnológica, programas sociais que empresas desenvolvem
beneficiando comunidades.
Longo (1984) evidencia que as externalidades existem mesmo quando
não conseguimos visualizá-las dentro dos processos de produção, ou seja,
quando é impossível atribuir preço aos benefícios ou malefícios causados por
ela. A partir do momento que são totalmente internalizadas, via preço, deixam de
existir como tal.
O debate sobre externalidades tem gerado uma discussão sobre a
necessidade – ou não – da criação de políticas públicas para obrigar geradores
de externalidades negativas a internalizá-las, isto é, arcar com os custos destas.
No caso da poluição – o exemplo tradicional de uma externalidade
negativa – um poluidor toma decisões baseadas apenas no custo direto e na
oportunidade de lucro da produção e não considera os custos indiretos para
aqueles que são prejudicados pela poluição. O social – isto é, os custos totais de
produção – são maiores do que os custos privados. Esses custos indiretos – que
não são suportados pelo produtor ou utilizador – incluem a diminuição da
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qualidade de vida, por exemplo no caso de um proprietário de uma casa perto de
uma fábrica; custos de cuidados de saúde mais elevados; e oportunidades de
produção perdidas, por exemplo quando a poluição prejudica atividades como o
turismo. Minimizar os custos sociais levaria a níveis de produção mais baixos
Em suma, quando as externalidades são negativas, os custos privados
são inferiores aos custos sociais e, para promover o bem-estar de todos os
membros da sociedade, os retornos sociais devem ser maximizados e os custos
sociais, minimizados.
Podemos ter como exemplo o rompimento de barragens, acidentes
envolvendo produtos perigosos, atingindo rios de determinada região onde
vivem comunidades tradicionais, que sofrerão os efeitos sem, no entanto, ter
participado efetivamente do processo produtivo.
4
cientistas esperam que esse problema cresça e eventualmente leve à mudança
climática e seus custos associados, incluindo danos à atividade econômica pela
destruição de capital (por exemplo, ao longo de áreas costeiras) e menor
produtividade agrícola. As externalidades entram em jogo porque os custos e
riscos das mudanças climáticas são suportados pelo mundo como um todo, ao
passo que existem poucos mecanismos para obrigar aqueles que se beneficiam
da atividade emissora de GEE a internalizar esses custos e riscos.
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No entanto, a relação entre as quantidades ótimas e os benefícios
gerados nem sempre corresponde à realidade. A literatura econômica relata
experiências positivas e negativas acerca da exploração de recursos naturais,
mas também se questiona se a descoberta de novas fontes de recursos naturais
foi benéfica ou maléfica para a saúde macroeconômica dos países.
A dificuldade em transformar a bonança de renda de recursos em
desenvolvimento econômico é frequentemente atribuída à hipótese da “maldição
dos recursos naturais”, um conceito definido por Ignacy Sachs, economista
polonês, grande pensador reverenciado por sua concepção de desenvolvimento
como uma combinação de crescimento econômico, aumento igualitário do bem-
estar social e preservação ambiental.
De acordo com Sachs e Warner (2001), a “maldição dos recursos” está no
fato de que há uma contradição, pois países e regiões com uma abundância de
recursos naturais exauríveis, como minerais e hidrocarbonetos, tendem a
apresentar piores taxas de crescimento e desenvolvimento econômico do que os
países que não possuem abundância de tais recursos.
Outros autores, principalmente economistas de pensamento como os
estruturalistas/keynesianos, são defensores da ideia de “uma maldição geral dos
recursos naturais”. Eles observam o mesmo fenômeno descrevendo que, de
maneira geral, são encontradas relações estatísticas negativas sobre o
crescimento econômico como também referentes a questões sociais: a)
elevação do nível de desigualdade e agravamento da pobreza; b) má gestão
governamental e violação dos princípios democráticos; c) altos índices de
corrupção; entre outros problemas (Santos, 2018).
Em síntese, esse problema é enfrentado por grande parte dos países que
apresentam uma fonte abundante de recursos dessa natureza. Portanto, a
abundância de um determinado bem natural pode ter suas vantagens e riscos,
uma vez que a riqueza mineral, por si só, não confere um bom desempenho
econômico-social.
Essa é uma discussão necessária e importante quando se pensa em
mecanismos de gestão assim como a definição de políticas que revertam esses
recursos em benefícios de forma que sociedades futuras também usufruam das
riquezas/legados.
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Figura 4 - O trabalho infantil é bastante utilizado na mineração ainda,
principalmente em países com abundância de recursos naturais, como o Brasil e
países africanos
Crédito: Magsi/Shutterstock.
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ciência de alocação de recursos, incorporando conceitos não tratados pelo
sistema econômico convencional.
O pensador elabora um caminho entre a economia e a física,
evidenciando que no processo econômico há uma utilização de bens naturais,
totalizando um capital natural de grande valor, no entanto o que dele é rejeitado
são os resíduos sem valor, ou de baixo valor agregado.
Para fundamentar essa discussão Georgescu-Roegen introduziu um
conceito essencial para nossa reflexão, a saber, o de entropia, grandeza física
utilizada para medir o grau de desordem de um sistema (Georgescu-Roegen,
2012). Ou seja, segundo a definição básica das leis da termodinâmica, quanto
maior for a variação de entropia de um sistema, maior será sua desordem, ou
seja, menos energia estará disponível para ser utilizada. O autor ensina que a lei
da entropia é “a de natureza mais econômica de todas as leis naturais”.
Crédito: petrroudny/Shutterstock.
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Quadro 1 – Ecossistema x biodiversidade
ECOSSISTEMA BIODIVERSIDADE
Complexo dinâmico de comunidades Quantidade e variabilidade de
vegetais, animais e de organismos vivos dentro de uma
microrganismos e os seus ambientes espécie (diversidade genética),
inorgânicos interagindo como uma entre espécies e entre
unidade funcional. Exemplos: ecossistemas. A biodiversidade não
desertos, recifes de coral, áreas é por si só um serviço
úmidas, florestas tropicais, florestas ecossistêmico, mas garante o
boreais, pradarias, parques urbanos fornecimento de tais serviços.
e terras cultivadas.
Uma vez que, como visto no tópico anterior, há uma grande utilização do
nosso capital natural e também uma gigantesca quantidade de resíduos num
alto grau de desorganização do sistema, não causa estranhamento o alto grau
de degradação dos ambientes naturais.
Os primeiros alertas sobre a imensa degradação que atinge os principais
ecossistemas do mundo foram elaborados em 2001, com o apoio da
Organização das Nações Unidas, em um relatório intitulado de Avaliação
Ecossistêmica do Milênio ou Millennium Ecosystem Assessment. Com a
publicação, em 2005, deu-se o alerta inicial sobre o impacto negativo irreversível
de depredação dos nossos recursos naturais. O relatório ainda indicou que a
situação constatada tende a se agravar significativamente até 2050.
Os ecossistemas sustentam diversos processos naturais resultantes das
complexas interações entre componentes bióticos e abióticos, por meio de fluxos
de matéria e energia. Esses processos garantem a sobrevivência das espécies
no planeta e têm a capacidade de prover bens e serviços que satisfazem as
necessidades humanas, os chamados serviços ecossistêmicos, que podem ser
conceituados como benefícios que as pessoas obtêm da natureza, direta ou
indiretamente (De Groot et al., 2002; MEA, 2005).
Florestas, mangues e ecossistemas marinhos, quando conservados e
bem manejados, têm um papel fundamental na provisão desses serviços
(Seehusen; Prem, 2011). São exemplos de serviços ecossistêmicos a regulação
do clima, a manutenção da fertilidade e o controle da erosão dos solos, o
armazenamento de carbono, a ciclagem de nutrientes, o provimento de água, a
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proteção da biodiversidade, a beleza cênica e a manutenção de recursos
genéticos (FGBPN, 2017).
Como exemplo temos o impacto da degradação dos ecossistemas e sua
relação com a gestão da água. Embora cerca de 30% das terras em todo o
mundo permaneçam com cobertura florestal, pelo menos dois terços dessa área
se encontram em estado de degradação.
A maioria dos recursos do solo em todo o mundo, especialmente em
terras destinadas à produção agrícola, encontra-se apenas em condições
razoáveis, precárias ou muito precárias, e a perspectiva é de que essa situação
piore, com graves impactos negativos no ciclo da água, devido ao aumento das
taxas de evaporação, à redução da capacidade de armazenamento de águas
subterrâneas e ao aumento do escoamento superficial, acompanhado pelo
aumento da erosão. Estima-se que, desde 1900, entre 64% e 71% das zonas
úmidas de todo o mundo foram perdidas devido às atividades humanas (ONU,
2018).
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TEMA 5 – PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS
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Figura 7 - O PSA incentiva proprietários rurais a proteger nascentes e matas
ciliares. Quem realiza esse serviço é considerado “produtor de água”
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REFERÊNCIAS
SEEHUSEN, S. E.; PREM, I. Por que pagamentos por serviços ambientais? In:
INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA. Pagamentos por serviços ambientais na Mata
Atlântica: lições aprendidas e desafios. Brasília: MMA, 2011.
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AULA 6
AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE
DANOS AMBIENTAIS
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Morin (1977, p. 99), o sistema é “uma inter-relação de elementos que constituem
uma entidade ou unidade global. É composto por três integrantes básicos, a saber:
elementos, fluxos (entre os elementos e estados)”.
Sistemas ambientais são dinâmicos, interagem dentro dos ambientes
geográficos, assumindo, portanto, uma conotação territorial, com seus aspectos
bióticos e abióticos. Além disso, são influenciados pelos aspectos físicos,
químicos e biológicos, tanto naturais quanto produzidos pelos seres vivos, desse
espaço geográfico.
Relembrando, então: os principais sistemas ambientais são a atmosfera
(ar), a biosfera (organismos vivos), a hidrosfera (água), a pedosfera (solo) e a
litosfera (rocha), altamente permeáveis uns com os outros. A água, por exemplo,
reside não somente nos oceanos, lagos e rios, mas também no solo, no ar e nas
coisas vivas. De maneira similar, os seres vivos residem em rochas, corpos d’água
e na atmosfera. Cada uma dessas esferas é identificada como um reservatório,
por onde circulam fluxos de energia e matéria. Veja na figura a seguir um esquema
dessa ideia de fluxo:
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recombinam em compostos líquidos, sólidos e gasosos, onde se formam
os solos;
• Hidrosfera: basicamente hidrogênio e oxigênio combinado para formar
moléculas nos estados gasoso (vapor), líquido (oceanos e água corrente)
e sólido (gelo);
• Biosfera: composta na maioria dos elementos hidrogênio, carbono,
oxigênio nos estados sólidos, líquido e gasoso;
• Atmosfera: consiste principalmente de nitrogênio e oxigênio livres em seus
estados gasosos.
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dinâmicas interdisciplinares complexas que interconectam os sistemas
ambientais, sociais e econômicos, desafiando a compreensão humana.
A arte de construir modelos é conhecida como modelagem, termo que se
refere ao processo de pesquisa para realizar uma abstração da realidade.
Crédito: Metamorworks/Shutterstock.
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As etapas gerais ou mesmo imprescindíveis ao processo de modelagem
podem ser vistas no quadro a seguir:
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TEMA 3 – INDICADORES AMBIENTAIS
Crédito: NicoElNino/Shutterstock.
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Figura 5 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS
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construção e comunicabilidade, factibilidade para obtenção e periodicidade na
atualização, entre outros aspectos.
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a quantidade de água em um produto podem aumentar o processamento e,
portanto, as emissões de gases de efeito estufa.
Ao usar uma abordagem de ciclo de vida do produto de ponta a ponta, as
empresas obtêm uma compreensão mais clara do impacto real que causam no
meio ambiente. Podem materializar os seus compromissos de sustentabilidade
em metas de negócios paras serem implementadas em toda a empresa, indo além
da retórica para abordar o impacto total no meio ambiente.
Crédito: Dusit/Shutterstock.
A palavra ética tem origem grega (ethos) e quer dizer do lugar onde
habitamos, ou seja, a nossa casa. Segundo consenso de diversos autores da área
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da filosofia, a ética lida com a compreensão das noções e dos princípios que
sustentam as bases da moralidade social e da vida individual, sobre o valor das
ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo quanto no âmbito individual.
Sob essa perspectiva, podemos compreender ética como a maneira como
respondemos aos ditames morais, ou seja, se os aceitamos, como lidamos e se
realmente lhe damos valores efetivos.
Cortella (2010) coloca mais algumas situações interessantes sobre esse
tema, dizendo que é impossível pensar em ética sem pensarmos sobre nossas
relações com outras pessoas. Avança o filósofo no sentido de que a ética seria a
perspectiva para olharmos os nossos princípios e os nossos valores para
habitarmos espaços comuns. Em relação ao mundo corporativo, entende que
devemos separar aqueles que dizem “fazemos qualquer negócio” daqueles que
dizem “não fazemos qualquer negócio”. Cortella (2010) afirma ainda que as
pessoas éticas têm capacidade de desenvolver conhecimento e tecnologia para
gerar vida e não para diminuí-la.
Apropriamo-nos dessas definições para trazer o debate da ética ambiental,
que teve um incremento na década de 1960, a partir dos efeitos que a tecnologia,
a indústria, a expansão econômica e o crescimento populacional estavam tendo
sobre o meio ambiente.
O desenvolvimento dessa consciência foi auxiliado pela publicação do
importante livro da época, Primavera silenciosa, de Rachel Carson. Anteriormente
vimos que já em 1962 ela alertava sobre como o uso generalizado de pesticidas
químicos representava uma séria ameaça à saúde pública e levava à destruição
da vida selvagem.
Saiba mais
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fundamentais que a ética ambiental deve abordar são: quais são os deveres do
ser humano em relação ao meio ambiente e por quê?
É interessante que a última questão geralmente precisa ser considerada
antes da primeira. Para abordar exatamente quais são nossas obrigações,
geralmente é necessário considerar primeiro por que já as temos.
Não há ética, seja em qualquer campo, que não esteja ligada à
conservação ambiental e à valorização social por meio de parcerias estabelecidas
entre empresas, comunidades locais e consumidores. Em nossos projetos,
devemos analisar cautelosamente a realidade de nosso planeta e identificar
vulnerabilidades potenciais a respeito da demanda crescente por produtos e
serviços.
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REFERÊNCIAS
_____. NBR ISO 14001: 2015. Sistema de Gestão ambiental – Requisitos com
Orientações para uso. Rio de Janeiro, 2015.
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