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Ana Omar Saide

Anara Vicente Sabite Chipirone

António Jorge

Celestino Felisberto Ahinlavela

Elisete Regina Atanásio

TEMA: Noção de Limites e Origem de Direito das Águas.

Universidade Rovuma
Extensão de Niassa
2022
Ana Omar Saide

Anara Vicente Sabite Chipirone

António Jorge

Celestino Felisberto Ahinlavela

Elisete Regina Atanásio

TEMA: Noção de Limites e Origem de Direito das Águas

(Curso de Direito)

Trabalho da Cadeira de Direito das Águas, a


ser apresentado no Departamento de Direito
para fins avaliativos sob orientação do Dr:
Egídio Mateus Sairesse.

Universidade Rovuma
Extensão de Niassa
2022
Índice
1.Introdução.................................................................................................................................................3

2.A Problemática.........................................................................................................................................3

3.Objectivos.................................................................................................................................................4

3.1.Objectivo Geral:................................................................................................................................4

3.2.Objectivos Específicos...................................................................................................................4

3.Metodologia.............................................................................................................................................4

5.Perguntas de Pesquisa...............................................................................................................................4

6.Hipótese....................................................................................................................................................5

7.Justificativa...............................................................................................................................................5

8.Relevância do Tema.................................................................................................................................5

9. Contextualização.....................................................................................................................................5

9.1. Evolução...........................................................................................................................................6

9.2.Noção de Direito de Água..............................................................................................................6

9.3. Clarificação terminológica............................................................................................................7

9.3.1. Origem do Direito de Águas....................................................................................................10

9.3.1.1. O direito de usar a água........................................................................................................10

9.3.1.2.Regime jurídico de Direito de águas......................................................................................10

9.3.2. Limites do Direito de Águas....................................................................................................12

9.3.2.1.O regime jurídico das águas em Moçambique.......................................................................12

9.3.2.3. A Lei de águas de Moçambique............................................................................................12

Conclusão..................................................................................................................................................14

Referências Bibliográficas.........................................................................................................................15
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1.Introdução
A água é um elemento essencial para a existência da vida na terra. Os seres vivos são
compostos maioritariamente de água, sendo os seres humanos compostos por entre 60 a 80
por cento de água. Por isso, uma pessoa pode viver cerca de um mês sem alimento, mas não
resistiria mais do que uma semana sem água. Para além de ser fundamental para garantir a
subsistência da vida na terra, a água é essencial para o desenvolvimento económico e social,
ao bem-estar e ao equilíbrio ambiental.

E o presente trabalho, é referente a cadeira de Direito de Águas, e está subordinado ao


seguinte tema: Noção, Limites e Origem de Direito de Águas.

Pretendemos através deste trabalho, trazer a ideia central trazida pelo Direito de Águas, uma
área de Direito que precisa muito de nós, uma vez que está numa fase embrionária.

Os pontos aqui trazidos são referentes a legislação de água vigente no nosso ordenamento
jurídico e em relação a doutrina, recorreu-se a doutrina moçambicana e brasileira
principalmente, uma vez que estes estão a um pé adiantado no que concerne ao estudo de
Direito de Águas em relação aos outros ordenamentos jurídicos.

2.A Problemática
A questão da água tem sido apontada como um dos maiores desafios que o mundo enfrenta
actualmente. De facto, a importância vital da água como recurso necessário para a
subsistência humana, e como elemento necessário para o desenvolvimento socioeconómico
das sociedades, é tal que justifica-se, na maior plenitude, o ditado ‘sem água não há vida’.
Entretanto, se considerarmos a quantidade de água existente no mundo e o número de
habitantes existentes no planeta, haveria água suficiente para todos. Todavia, o desafio que se
coloca em relação à água é o facto de ela estar mal distribuída.

A escassez de água pode ser definida como o ponto no qual o impacto agregado de todos os
utentes reflecte-se na oferta ou qualidade da água a ponto de, a procura por parte de todos
utentes da mesma, incluindo para fins ambientais, não pode ser totalmente satisfeito.
Entretanto, o conceito de escassez de água é relativo, e a mesma pode ocorrer a qualquer
nível da procura ou da oferta. A escassez pode ser uma construção social (um produto da
expectativa ou comportamento costumeiro).
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3.Objectivos.

3.1.Objectivo Geral:
 Compreender a Noção, limites e a origem do Direito de Águas.

3.2.Objectivos Específicos
 Conceituar o direito de águas;
 Estabelecer os limites do Direito de Águas;
 Abordar sobre a origem do Direito de Águas;
 Análise sistemática das normas jurídicas aplicáveis à água.

3.Metodologia
Este trabalho foi elaborado com base em vários métodos de pesquisa. O primeiro, e mais
importante, foi o da pesquisa e análise bibliográfica específica, O segundo método mais
importante foi a análise e estudo de instituições e organismos que lidam directamente com a
questão da água, De igual modo, uma recolha, análise e estudo aturado das legislações
internas dos vários Estados e nela foram usadas as normas APA’S.

5.Perguntas de Pesquisa
 Porque é um facto que as grandes cidades, com o grande número de habitantes que
têm hoje (que faz crescer o consumo de água per capita), têm cada vez mais a
necessidade de buscar água em fontes distantes, por via dos mais diversos métodos?

 Quais as limitações e ou constrangimentos na aplicação de tal Direito e quais os


mecanismos existentes para garantia da efectivação do mesmo?
 Porque a água sendo um bem de que todos necessitamos, este acaba sendo um
problema global e comum da Humanidade?

 Sendo o Direito de Águas criado para garantir, em último lugar, um grau de


normatividade que visa garantir a sã convivência entre os Estados, as pessoas e ou
instituições, que mecanismos institucionais garantem tal efectividade, e que meios
concretos podem ser usados?
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6.Hipótese
H1- A água é um bem que pelas suas características é avaliado de um bem fundamental e
consequentemente passível de invocação como direito fundamental, tal facto cria um dever
dos Estados garantirem a existência de água para todos.

H2- A água por ser um bem económico, a exigência e satisfação do direito à água não é feita
de forma linear, principalmente se tivermos em conta que a satisfação do direito à água das
populações por parte dos Estados pode não depender somente da vontade deste, porquanto a
garantia da existência de água pode estar condicionada a um factor natural: o facto de a
existência de água em quantidades satisfatórias, internamente, depender de cursos de água
internacionais.

7.Justificativa
A razão que nos leva o estudo deste tema incide em vários os fins a que se destinam as águas
do planeta. As mesmas podem servir de fronteira entre os Estados. A água tem também um
importante papel económico, como bem de alto valor económico, para produção de energia e,
acima de tudo, considerando que é o mais importante elemento natural de que o homem se
socorre para manter a sua vida, para satisfazer as suas necessidades humanas básicas, seja
para destiná-la a fins económicos (mormente a agricultura, a indústria etc.), seja para fins de
lazer ou outros que se podem apontar.

8.Relevância do Tema
Este trabalho tem grande relevância académica porque pode servir como base para os
próximos pesquisadores, que irão provavelmente abordar matéria relacionado ao tema e
constitui também uma grande ferramenta uma vez, olhando num contesto de abrangência, ele
engloba situações que possuem um impacto nacional, que maioritariamente denotamos que
há uma grande ligação com a lei, e assim sendo, este tratará um benefício ou interesse da
colectividade.

9. Contextualização
O homem, assim como todos os seres vivos, dependem da água, recurso finito, cuja
quantidade encontrada hoje na Terra é a mesma existente quando surgiu a primeira bactéria.

As primeiras civilizações nasceram e floresceram nas margens dos rios. Hoje, a localização
das aglomerações humanas nem sempre coincide com a ocorrência de água.
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Nesse cenário, a tecnologia “traz” a água até o homem. Mas muitas vezes esquece-se de que
não bastam as grandes obras: é preciso conservar de modo sustentável a água, mantendo
condições ambientais para isso, como a cobertura vegetal nas nascentes e o cuidado com o
uso da terra para evitar a poluição e o assoreamento dos rios, de modo que a água não se
torne um bem escasso.

Além disso, é preciso considerar que a quantidade da água depende de sua qualidade.

As águas poluídas de um rio não podem ser utilizadas para usos mais nobres, como o
abastecimento humano, além dos problemas sanitários que apresentam e do impacto na
paisagem, sobretudo a urbana.

Além da dissociação entre a localização da água e os grandes centros urbanos, o crescimento


da população expõe, cada vez mais, conflitos pelo uso da água, mesmo em países com
hidrologia relevante.

9.1. Evolução

9.2.Noção de Direito de Água


O Direito de Águas, denominado de direito emergente, é um ramo do Direito Público que
vem ascendendo rumo ao processo de autonomia didáctica, legislativa e Jurídica.

Direito de águas é o conjunto de princípios e normas jurídicas que disciplinam o uso múltiplo
das águas existentes em bacias hidrográficas para os mais diversos fins e nele analisa-se a
descentralização e a participação do Estado, no uso e gestão de recursos hídricos a criação de
planos de recurso hídricos assim como a resolução de conflitos decorrentes da gestão da água
como bem, individualmente considerável (Espada, 2014, pp. 26).

O Direito de Águas consiste em um conjunto normativo de cunho civil, ambiental e


administrativo que estabelece as regras de domínio, uso e protecção da água, com o objectivo
de garantir a melhoria da qualidade e da quantidade disponível desse recurso, para as actuais
e as futuras gerações.

Mas também, pode se considerar o conjunto de normas jurídicas que disciplinam o domínio o
uso, aproveitamento e a preservação da água assim como a defesa das e suas consequências.

O Direito de Águas surgiu há cerca de dois mil anos. Durante séculos, várias civilizações
geriram as questões ligadas à água, incluindo os aspectos legais. O surgimento e a queda de
grandes civilizações hidráulicas, como as civilizações Egípcia, Mesopotâmica, Hindu,
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Hebraica e Mesoamericana, estiveram ligados ao desenvolvimento, manutenção e controlo de


sistemas hídricos.
Durante o período de apogeu do império Romano (que durou de 753 a.C. até 476 d.C.) várias
leis sobre águas foram produzidas. A compilação do Direito Romano levada a cabo pelo
imperador Justiniano (527-565 d.C.) - o Corpus Iuris Civilis – contém tantas normas clássicas
assim como pós-clássicas do Direito Romano de águas. Na compilação de Justiniano, é
possível descortinar princípios de Direito Romano que distinguiam a propriedade pública da
propriedade privada das águas (determinadas pelo status legal da terra); as regras sobre o
fornecimento público de água; os direitos de usar a água por particulares; o direito de
transferir a água; o direito de retirar a água dos rios e ou de ter acesso à ela; a distinção entre
usos de água para consumo humano e outros fins domésticos; água para o abeberamento do
gado; pesca; transporte; indústria; irrigação, navegação etc. O Direito Romano continha ainda
regras claras que previam a proibição do uso da água pelo titular do respectivo direito para
causar danos a seus vizinhos ou outros utentes; e ainda regras que visavam proteger os
utentes de jusante.

9.3. Clarificação terminológica


Preliminarmente, focalizamos a distinção entre as expressões Direito de Águas e Direito das
Águas. Embora sejam elas, em geral, empregadas indistintamente, o surgimento da
Declaração Universal dos Direitos da Água, na qual esta é colocada na posição de sujeito do
direito para evitar confusões, fosse reforçado o seu entendimento no sentido de ser mais
apropriada a expressão Direito de Águas, perante a qual estas ocupam a posição de objecto,
como efectivamente são nelas tratadas. (Espada, 2014, pp.77).

Assim, (Gildo Espada 2014, pp. 78) o Direito de Águas pode ser conceituado como conjunto
de princípios e normas jurídicas que disciplinam o domínio, uso, aproveitamento, gestão,
conservação e preservação das águas existentes em bacias hidrográficas, para os mais
diversos fins, e analisa a descentralização e a participação dos Estados e da sociedade no uso
e gestão dos Recursos hídricos, a criação e implementação de planos de recursos hídricos, a
outorga do direito de uso e ou a cobrança pela utilização dos recursos hídricos, assim como a
resolução de conflitos decorrentes do uso e gestão da água, como bem individualmente
considerado.

Da mesma forma, também pela unidade terminológica, Gildo Espada na sua tese de
doutoramento, chama a atenção para a diferença entre o sentido do vocábulo água e o da
Expressão recurso hídrico. Com efeito, no estudo das matérias relativas à água, deve-se ter
presente a distinção entre o significado do vocábulo água e o da expressão recurso hídrico,
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pois, é comum encontrar, em leis e manifestações doutrinárias e técnicas, a utilização do


vocábulo e da expressão como sinónimos, o que na verdade não ocorre.

Água é o elemento natural, descomprometido com qualquer uso ou utilização. É o género.


Recurso hídrico é a água como bem económico, com fins utilitários.

Por esta razão, é comum haver um Código de Águas e não um Código de Recursos Hídricos.
Entretanto, deve-se ressaltar que toda a água da Terra não é, necessariamente, um recurso
hídrico, na medida em que seu uso ou utilização nem sempre tem viabilidade económica.

Mais ainda, convém ter presente que, em muitas ocasiões, o elemento líquido deve ser
referido no seu género, ou seja, como água e não como recurso hídrico, uma de suas
condições. De igual modo, não deve confundir-se a utilização da água com a utilização do
curso de água, porquanto tais expressões têm um alcance distinto: o uso da água é o
aproveitamento dela como bem sujeito a fins identificados para a satisfação de necessidades
que requerem simplesmente a água, como bem económico útil. Por isso, usamos a água para
o consumo, para a agricultura e para a indústria, e não o curso de água como um todo. Por
outro lado, vezes há em que de facto fazemos uso do curso de água, e não da água como bem
económico: a produção de hidro-energia, por exemplo, faz uso do curso de água e não da
água, da mesma forma que na navegação faz-se uso do curso de água e não da água como
bem económico individualmente considerado.

Esta distinção entre uso da água e uso do curso de água é relevante no Direito de Águas
porquanto permite esclarecer a distinção entre usos consumptivos e usos não consumptivos,
que do ponto de vista de gestão e regulação é crucial, pois se por um lado os usos não
consumptivos, que correspondem geralmente ao uso do curso de água são pacífico, os usos
consumptivos, que são correspondentes ao uso da água, são propensos à geração de conflitos.
Os cursos de água pertencem sempre a uma determinada bacia hidrográfica. Esta é entendida
como sendo uma unidade geográfica e hidrológica que consiste de um rio principal e todos os
territórios situados entre o curso de água, a nascente e a foz do rio, nela incluindo-se todo os
terrenos, riachos que alimentam o rio principal (sejam efémeros ou ocasionais), a região
costeira caso o rio desagúe no mar, os lagos, as terras húmidas e os aquíferos subterrâneos
que se encontrem interligados ao curso de água principal. Assim, o rio é o elemento central
do conceito de bacia hidrográfica. Estas não existem sem rios, e o inverso também é
verdadeiro. E devido a esta ligação íntima entre estes dois conceitos, a gestão de um rio está
totalmente relacionada com a gestão da bacia hidrográfica como unidade espacial, pelo que o
caudal do rio e a qualidade das suas águas dependerão dos usos não só da água
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individualmente considerada mas também dos usos a que o solo está sujeito, assim como as
condições geológicas (e de certo modo climáticas) da área da bacia hidrográfica. A bacia
hidrográfica, que se define como os terrenos pelos quais os cursos de água se espalham, pelas
características que têm, é vista sempre como local ideal para a prática de actividades
económicas, produtivas e culturais pelas sociedades. De facto, é ao longo das bacias
hidrográficas onde se encontram muitas das grandes cidades, e os grandes campos de
produção agrícola. Porque as condições oferecidas pelas bacias hidrográficas propiciam
condições ideais de vida, garantindo água para uso doméstico, industrial e agrícola e solos
férteis para a prática da agricultura. Assim, o ciclo hidrológico, que envolve a chuva, as águas
superficiais, as águas subterrâneas, a evapotranspiração, a transpiração de animais e plantas,
etc, está quase sempre relacionado com o conceito de bacia hidrográfica. E é exactamente por
isso que afirma-se, muitas vezes, que estamos todos unidos pela água: as bacias hidrográficas
de montante estão ligadas com as de jusante; a água superficial alimenta rios, lagos, terras
húmidas, assim como alimenta aquíferos, etc. Por este motivo, as bacias hidrográficas devem
ser vistas como uma unidade de gestão: a conservação do solo e da respectiva vegetação, das
águas superficiais e subterrâneas, devem ser garantidos por via de uso e gestão e gestão
adequada da bacia hidrográfica.

Obviamente que isto consegue-se levando em conta factores geológicos, o solo, a


variabilidade climática etc., mas as questões culturais também são deveras importantes e não
devem ser olvidadas nem descuradas, porquanto o modus vivendi das populações das bacias
hidrográficas, mormente em relação ao uso do solo e particularmente dos recursos hídricos,
são determinantes para a boa gestão das bacias hidrográficas.

E neste particular, o Direito, como fenómeno cultural, na vertente do Direito de águas, torna-
se fundamental (Espda, 2014, pp. 80).

Uma situação muito comum em relação às bacias hidrográficas, é o facto de elas poderem
alastrar-se por dois ou mais países. E isto acontece de forma tão natural que grande parte dos
rios do mundo é de facto internacional.

Quando assim acontece, estamos perante uma bacia hidrográfica partilhada. Os Estados que
se encontrem dentro do espaço territorial de uma bacia hidrográfica (partilhada) são
denominados Estados ribeirinhos. Para além desta expressão, é comum usar-se também a
expressão Estado de bacia ou ainda Estado de curso de água. A grande questão que se coloca
muitas vezes é a de saber o que é que se partilha, se o leito do rio, os afluentes, a água em si
ou outro recurso que se encontre dentro dos limites da bacia hidrográfica.
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9.3.1. Origem do Direito de Águas.


Nas últimas décadas do século XX, ganhou musculatura com a nova Política Nacional de
Recursos Hídricos – PNRH, e a Instituição do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos – SNGRH. Diante da importância despontada pelo novel ramo jurídico,
objectiva-se traçar um panorama reflexivo do Direito de Águas do Brasil em suas relações
com o recente ar- ranjo jurídico-institucional implementado, permeado por articulações
políticas, visando ao alcance de uma gestão sustentável.

Após o exposto das mutações ocorridas, decompõe-se esse Direito e analisam-se as


componentes estruturais desse arranjo institucional, por meio do método hermenêutico
sistémico (BARBOSA, 2010, pp. 7). Assim, os paradigmas; o princípio da racionalidade do
uso da água; os fundamentos e o instrumento da cobrança pelo uso da água.

À forma de abertura investigativa, adverte-se que a água, é um direito fundamental da pessoa


humana, jamais deve ser desconsiderada pelo Direito, pela política e pelo Estado.

9.3.1.1. O direito de usar a água


Há uma diferença entre direito (humano) à água e o direito de usar a água (Espada, 2014,
pp.27). São direitos distintos, mais facilmente distinguíveis na língua inglesa, cujos termos
similares correspondem às expressões ‘‘right to water’’ e ‘‘water rights’’

O direito à água corresponde ao que aqui chamamos direito humano à água, sobre o qual
mais tarde nos debruçaremos. O direito de usar a água refere-se às circunstâncias, os limites,
a forma, a medida e a quantidade que determinada pessoa pode fazer uso da água em face do
direito que a si tenha sido concedido, regra geral por via administrativa.

Estes dois direitos estão relacionados. Enquanto o direito à água específica a quantidade e
qualidade de água mínima necessária para garantir a vida e a que certa pessoa tem direito
para a satisfação das suas necessidades básicas, o direito de usar a água corresponde a uma
autorização legal para usar uma quantidade específica de água, para um fim específico e sob
condições específicas ou ainda às formas tradicionais de legitimação do uso da água (Espada,
2014, pp.28).

9.3.1.2.Regime jurídico de Direito de águas


Tal como já referido, a lei de águas prevê ainda no n° 3 do artigo 1.° que o domínio público
hídrico é inalienável e imprescritível, o que funda-se no facto de os bens qualificados como
sendo de domínio público terem uma utilidade pública, devendo por isso serem subtraídos da
disciplina jurídica dos bens do domínio privado (Espada,2014, pp. 480).
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O artigo 2 da lei de águas indica os objectivos da mesma, que são os de definir em relação às
águas interiores:

a) O domínio público hídrico do Estado e a política geral da sua gestão;

b) O regime geral das actividades de protecção e conservação, inventário, uso e


aproveitamento, controlo e fiscalização dos recursos hídricos;

c) As competências atribuídas ao Governo em relação ao domínio público hídrico.

Moçambique não é considerado um país com escassez de água.

O regime jurídico das águas em Moçambique comporta essencialmente duas vertentes: uma
vertente material e outra institucional (Espada, 2014, pp. 481).

A vertente material do Direito de Águas em Moçambique comporta um vasto acervo de


normas constitucionais e infraconstitucionais que regulam o acesso, uso e gestão da água pelo
Estado e pelos particulares. Por seu turno, a vertente institucional do Direito de Águas em
Moçambique estabelece a estrutura institucional de gestão dos recursos hídricos.

A lei de águas de Moçambique não se encontra ainda harmonizada com o Protocolo de


Águas Revisto da SADC. De facto, só instrumentos como a Política Nacional de Águas e a
estratégia nacional para os recursos hídricos é que referem os mais recentes instrumentos que
vinculam o país a nível da região.

Em Moçambique verifica-se muita consistência entre as práticas costumeiras e o Direito


positivo, que as legitima. Por exemplo, tanto o Direito positivo assim como o Direito
Costumeiro, no caso de Moçambique, coincidem no reconhecimento e respeito pelo critério
de prioridade de uso. Este factor mostra, só por si, que é possível desenvolver um sistema
inclusivo que permita o convívio entre o Direito positivo e o Direito Costumeiro, na senda do
previsto no artigo 4 da Constituição da República de Moçambique, o que devia ser transposto
para a lei de águas, tal como já acontece em relação à lei 500 de terras, pois tal permite uma
melhor gestão dos recursos, a prevenção, mitigação e resolução de conflitos.

As regras costumeiras podem conflituar com o Direito positivo. Por exemplo, tanto os
sistemas costumeiros assim como o Direito positivo classificam o que são usos prioritários. A
questão é como desenvolver processos inclusivos que podem levar à tomada de decisões
mutuamente aceitáveis. Por este motivo, reformas a nível da legislação de águas em
Moçambique são imperiosas, não só pelo referido mas também porque muita da legislação
não faz referência ainda ao conceito de desenvolvimento sustentável, internacionalmente
12

reconhecido como factor fulcral na uso e gestão dos recursos naturais. O caso de
Moçambique é um dos exemplos desta situação.

9.3.2. Limites do Direito de Águas


De acordo com Mário Faverela Lobo (1999, pp. 61) aput Gildo Espada, diz que o Direito de
Águas diz respeito aos recursos fluviais e lacustres apenas, que se trata de águas continentais
superficiais ou subterrâneas que decorre do sículo hidrológico, portanto de águas doces ou
não marítimos, isto é, águas dos rios e rias, lagos, lagoas e pântanos, canais e valas, águas
pluviais e subterrâneas e fontes nascentes.

9.3.2.1.O regime jurídico das águas em Moçambique


O regime jurídico das águas em Moçambique comporta essencialmente duas vertentes: uma
vertente material e outra institucional. A vertente material do Direito de Águas em
Moçambique comporta um vasto acervo de normas constitucionais e infra-constitucionais que
regulam o acesso, uso e gestão da água pelo Estado e pelos particulares. Por seu turno, a
vertente institucional do Direito de Águas em Moçambique estabelece a estrutura
institucional de gestão dos recursos hídricos.

9.3.2.2.O Direito material de águas de Moçambique


No Direito material de águas despontam a lei de águas e respectivos regulamentos, de entre
os quais apontam-se o Regulamento dos Sistemas Prediais de Distribuição e Drenagem de
Águas Residuais, o Regulamento de Licenças e Concessões de águas, o Regulamento Para a
Prevenção da Poluição e protecção do Ambiente Marinho e Costeiro739, e ainda o despacho
de 7 de Outubro de 2005 do Ministro das Obras Públicas e habitação, o Diploma Ministerial
n.° 33/91 de 24 de Abril, a Resolução n.° 10/2010, de 21 de Abril e o Decreto n.° 47/2009 de
7 de Outubro743. Para além dos referidos, encontram-se também a Política Nacional de
Águas, a Política Tarifária de Águas, e a Estratégia nacional de gestão de recursos hídricos.

9.3.2.3. A Lei de águas de Moçambique


A Lei de Águas de Moçambique é a lei n.º 16/91, de 3 de Agosto. Nos termos do n.º 1 do
artigo 1° desta lei, as águas interiores, as superficiais e os respectivos leitos, as subterrâneas,
quer brotem naturalmente ou não, são propriedade do Estado, constituindo domínio público
hídrico. Nos termos do n.º 2 da mesma lei, constituem ainda domínio público hídrico, as
obras, equipamentos hidráulicos e suas dependências realizadas pelo Estado ou por sua conta
com o objectivo de utilidade pública. E nos termos do n.º 3 do mesmo artigo o domínio
público é inalienável e imprescritível e o direito ao uso e aproveitamento será concedido de
modo a garantir a sua preservação e gestão em benefício do interesse nacional.
13

A ONU, durante a Conferência da Semana Mundial da Água (2011), divulgou que um


investimento anual no sector hídrico de 0,16% do PIB mundial – o equivalente a 198 bilhões
de dólares – poderia diminuir a escassez de água e reduzir pela metade o número de pessoas
sem acesso à água potável e aos serviços de saneamento básico (Organização, 2011).

A escassez hídrica é menos um fenómeno natural e mais consequência de acções antrópicas.


A escassez pode ser explicada pelos dois ângulos, mas uma coisa é certa: nas últimas
décadas, o homem tem contribuído na quase totalidade com o processo de escassez das águas.

Sobre o assunto, a reconhecida pesquisadora canadense (Barlow 2009, p. 17) informa que o
mundo está ficando sem água e escreve que os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio da
Organização das Nações Unidas – ONU – incluem reduzir pela metade a proporção de
pessoas que vivem sem água potável não contaminada até 2015.

Argumenta ainda que, embora a iniciativa seja interessante, os resultados esperados não vêm
ocorrendo. Arremata, pois, em seus escritos, que, ao actuar em parceria com o Banco
Mundial, a ONU promove um modelo de desenvolvimento insustentável, que crê na
existência de águas para todos, sem atentar para os problemas da poluição.
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Conclusão
Da abordagem feita, em uma nota de conclusão queremos destacar que, a água é um elemento
fundamental para a vida e para a saúde. É o recurso natural no qual toda a vida depende. Sem
água, a sobrevivência dos seres vivos é impossível. Daí que o acesso a água seja crucial para
a sobrevivência humana, em particular, pois é na água que se centra o desenvolvimento
socioeconómico, a luta contra a pobreza, e uma vida saudável, sobre toda essa importância
ficou evidenciado ao longo deste trabalho.

Água por ser um recurso essencial para a substancial da vida humana, houve crescente
necessidade de ter uma área de Direito que regulasse este recurso valioso para o homem, pois
sem uma regulação jurídica poderia esta ser um grande motor para conflitos na sociedade.

Mas a sua origem legal no nosso ordenamento jurídico, dá-se com a aprovação da lei de
águas.

Sobre a noção de Direito deve ficar assente que, o Direito de Águas é um ramo de Direito
Publico que regula sobre o uso múltiplo e preservação da água.
15

Referências Bibliográficas
Legislação:

Lei nº 16 ̸ 91 de 3 de Agosto (Lei de Água)

Doutrinas:

Barbosa, E. (2012). Direito de Águas: Arranjo Jurídico-institucional, política e gestão,


Brasília.

Brawn. R. (2006). Água doce no mundo e no Brasil, em Águas doces no Brasil: capital
ecológico, uso e conservação. 3ª edição revista e ampliada. São Paulo: Escrituras Editora.

Espada, G.(2014). A Afirmação do Direito de Águas, UN:Lisboa.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). ONU aponta estratégias de


investimento para redução da escassez da água: ONU, 2011. Disponível em:

http://www.onu.org.br/onu-aponta-estrategias-de-investimento-para-reducao-da- escassez-da-
agua/ Acesso em: 7 Novembro. 2021

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