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MINI-CURSO

Quantificação do Impacto de
Lançamento de Esgotos em Rios

2ª Edição
Julho de 2017

Prof. Dr. Fernando Mainardi Fan


fernando.fan@ufrgs.br

Msc. Eng. Arthur Tschiedel


arthurtidel@hotmail.com

Matheus Sampaio Medeiros


matheussampaiomedeiros@gmail.com
Apresentação
Esta apostila é uma revisão de conhecimentos relacionados à qualidade da água
baseada na literatura especializada existente, principalmente nas obras de Von Sperling
(2005 e 2007), Chin (2006) e Chapra (1997). Ela foi criada para servir como material
didático do mini-curso intitulado “Quantificação do Impacto do Lançamento de Esgotos
em Rios”.
Espera-se que seja dado o crédito a esta apostila em qualquer trabalho que
eventualmente utilize a mesma como referência. Assim como se espera que sejam
referenciados os autores dos livros em que esta apostila se baseou como fonte dos
conhecimentos e dados.

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1 Esgotos e Qualidade da Água
1.1 Introdução ao problema
A água é um recurso natural essencial que representa, sobretudo, o principal
constituinte de todos os organismos vivos. Ela é um recurso natural relacionado com
todos os aspectos de manutenção da vida, desenvolvimento e bem estar das populações
e ecossistemas em geral.
Contudo, não bastando a existência de problemas relacionados à falta de água em
quantidades apreciáveis, que é grave em diversas regiões do planeta, o homem tende a
poluir os corpos hídricos com efluentes diversos. Os cursos de água são considerados
solventes extremamente versáteis e utilizados para transportar produtos residuais para
longe do local de produção e descarga.
Um dos principais causadores de poluição hídrica produzidos pelo homem são os
esgotos sanitários, já que a sua produção é simplesmente inerente à existência de
pessoas vivendo em sociedade.
Em muitos locais, mesmo que o esgoto seja coletado, ele ainda é lançado in
natura nos cursos de água que passam próximos à região. Estas águas muitas vezes
serem de manancial de abastecimento para outras populações próximas, e a poluição
provinda de montante pode causar efeitos negativos sobre a população à jusante.
Para solucionar tratar deste problema, exige-se inicialmente uma forma de
avaliação criteriosa dos impactos dos lançamentos de poluentes nos cursos de água, que
possibilite uma avaliação constante da qualidade da água. Parte desta solução pode ser
encontrada na utilização de modelos matemáticos de qualidade da água, capazes de
representar as complexas interações ocorridas no corpo d’água receptor com um
poluente que nele é despejado.
A modelagem da qualidade hídrica é uma valiosa ferramenta de Engenharia, que
se constitui na aplicação de equações matemáticas para a simulação de processos de
transporte e autodepuração de poluentes em um corpo d’água, A sua aplicação propicia
a previsão e avaliação de cenários, o controle de alterações na qualidade das águas
causadas por descargas de poluentes, licenciamento e planejamento do uso da água,
análises de risco e a tomada de decisão em relação à proteção de mananciais e/ou
captações.
Estudos de qualidade da água, realizados por profissionais qualificados, podem
ser fonte uma fonte de informação preciosa para a garantia do bem-estar coletivo e da
saúde de muitas pessoas que são usuárias das águas potencialmente poluídas.
Neste curso são trabalhadas algumas noções teóricas básicas iniciais sobre os
princípios de avaliação dos impactos causados por lançamentos de esgotos em cursos de
água. Posteriormente é estudado e aplicado o modelo Qual2-UFMG, desenvolvido por
Von Sperling (2007), na Universidade Federal de Minas Gerais, através de um estudo

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de caso. O objetivo do curso é que o aluno saia capacitado para o uso de uma ferramenta
relativamente simples de avaliação de qualidade da água em rios ao mesmo tempo em
que se introduz no assunto de forma prática, talvez despertando algum interesse em
seguir pesquisando na área.
Esta apostila foi escrita com base nos livros escritos por Von Sperling (2005 e
2007), Chin (2006) e Chapra (1997). Para um maior aprofundamento e maior
compreensão sobre os assuntos apresentados recomenda-se fortemente a leitura destas
obras. Todo o conteúdo do curso é tratado nesta apostila, que visa servir como consulta
durante o curso e posteriormente ao mesmo.

1.2 Tópicos de legislação referente à qualidade da água

O interesse em estabelecer normas relacionadas à qualidade de água para


abastecimento público está diretamente relacionado com a saúde.
O acesso à água é condição de sobrevivência do homem, daí vem a necessidade de
estabelecer regras para o uso e consumo deste recurso, tendo em vista a grande
proliferação de atividades relacionadas com a exploração hídrica e a atual consideração
científica de que a água é um recurso natural limitado.
A regulamentação dos recursos hídricos, de uma maneira geral, é realizada por
inúmeras normas que compõem as políticas de recursos hídricos. Logo, será feita uma
introdução e contextualização das principais normas ligadas à proteção dos recursos
hídricos, com um enfoque direcionado para o controle e vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

1.2.1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988


Em âmbito Federal, o capítulo referente ao assunto tratado é o Capítulo VI - do
Meio Ambiente, abordado pelo Artigo 225 da Constituição Federativa do Brasil de 1988
em que dispõe: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”. Para assegurar a efetividade desse direito, o poder público está incumbido de
cumprir diversas tarefas, como por exemplo:
“I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

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IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade; ” entre outras.

1.2.2 Política Nacional de Meio Ambiente - Lei Federal 6.938 - 81


A Lei Federal 6.938 de 31 de agosto de 1981 dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente cujo destaca seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, além
disso constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), cria o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e institui o Cadastro Técnico Federal de
Atividades e instrumentos de Defesa Ambiental.
Para fins de estudo, foram separados os artigos mais importantes:
“Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o
meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Ill - planejamento
e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de
degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio
ambiente. ”
“Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema
Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:”

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“Art 8º Incluir-se-ão entre as competências do CONAMA:
I - estabelecer, mediante proposta da SEMA, normas e critérios para o
licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido
pelos Estados e supervisionado pela SEMA;
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das
alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados,
requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como a entidades
privadas, as informações indispensáveis ao exame da matéria;
III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante
depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pela SEMA;
IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na
obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO);
V - determinar, mediante representação da SEMA, a perda ou restrição de
benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a
perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos
oficiais de crédito;
VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da
poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos
Ministérios competentes;
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos
ambientais, principalmente os hídricos.

1.2.3 Política Nacional de Recursos Hídricos - Lei Federal 9.433 – 97

Em 8 de janeiro de 1997, foi criada a Lei nº 9.433, mais conhecida como Lei das
Águas, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh).
A lei, no artigo 1º, elenca os principais fundamentos da Política Nacional. A água
deve ser gerida de forma a proporcionar usos múltiplos (abastecimento, energia,

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irrigação, indústria) e sustentáveis, e esta gestão deve se dar de forma descentralizada,
com participação de usuários, da sociedade civil e do governo.
O Artigo 9 dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo
os usos preponderantes da água, visa a:
I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que
forem destinadas;
II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações
preventivas permanentes.
Art. 10. As classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislação
ambiental.
Trata-se de uma medida em conjunto ao poder de polícia ambiental, que visa
combater, de forma preventiva, a poluição das águas, através da avaliação dos níveis de
qualidade das águas.

1.2.4 A Resolução N° 357, de 17 de março de 2005


Publicada no DOU N° 053, de 18 de março de 2005 nas páginas 58 e 59, vem
substituir a resolução N° 20 do CONAMA, estabelecendo alguns parâmetros no que se
refere à qualidade da água para uso doméstico e industrial. A Resolução N° 357 em
questão “dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o
seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de
efluentes, e dá outras providências”.
Dessa forma, foram nesse texto selecionado alguns artigos (1°, 3° ,14° e 15º)
dessa resolução a fim de elucidar alguns princípios legais no que se refere à qualidade
da água para fins domésticos, e de consumo direto.
Em seu artigo 1°, estão dispostos itens a respeito das diretrizes ambientais para os
corpos hídricos, de um modo geral.
Art. 1° Esta Resolução dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o
enquadramento dos corpos de agua superficiais, bem como estabelece as condições e
padrões de lançamento de efluentes.
No artigo 3°, fala-se a respeito da qualidade da água e a sua utilização, de modo
menos exigente, complementado em parágrafo único.
Art.3° As águas doces, salobras e salinas do Território Nacional são
classificadas, segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes, em
treze classes de qualidade.
Parágrafo único: As águas de melhor qualidade podem ser aproveitadas em uso
menos exigente, desde que este não prejudique a qualidade da água, atendidos outros
requisitos pertinentes.

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No artigo 14° encontram-se padrões referentes à qualidade da água, abrangendo a
totalidade das águas doces exigentes para a sua utilização diversa.
Art. 14° As águas doces de classe 1 observarão as seguintes condições e padrões:
I - Condições de qualidade de água:
a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os
critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por
instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de
ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido.
b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
c) óleos e graxas: virtualmente ausentes;
d) substancias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
e) corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;
f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;
g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário
deverao ser obedecidos os padrões de qualidade de balneabilidade, previstos na
Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido
um limite de 200 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo
menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. A
E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro de coliformes
termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente;
h) DBO 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2;
i) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2;
j) turbidez ate 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT);
l) cor verdadeira: nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L; e
m) pH: 6,0 a 9,0.

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A seguir temos a TABELA I - CLASSE 1 - ÁGUAS DOCES
TABELA I - CLASSE 1 - ÁGUAS DOCES
PARÂMETROS VALOR MÁXIMO PARÂMETROS ORGÂNICOS VALOR MÁXIMO
Clorofila a 10 μg/L Acrilamida 0,5 μg/L
Densidade de cianobactérias 20.000 cel/mL ou 2 mm3/L Alacloro 20 μg/L
Sólidos dissolvidos totais 500 mg/L Aldrin + Dieldrin 0,005 μg/L
PARÂMETROS INORGÂNICOS VALOR MÁXIMO Atrazina 2 μg/L
Alumínio dissolvido 0,1 mg/L Al Benzeno 0,005 mg/L
Antimônio 0,005mg/L Sb Benzidina 0,001 μg/L
Arsênio total 0,01 mg/L As Benzo(a)antraceno 0,05 μg/L
Bário total 0,7 mg/L Ba Benzo(a)pireno 0,05 μg/L
Berílio total 0,04 mg/L Be Benzo(b)fluoranteno 0,05 μg/L
Boro total 0,5 mg/L B Benzo(k)fluoranteno 0,05 μg/L
Cádmio total 0,001 mg/L Cd Carbaril 0,02 μg/L
Chumbo total 0,01mg/L Pb Clordano (cis + trans) 0,04 μg/L
Cianeto livre 0,005 mg/L CN 2-Clorofenol 0,1 μg/L
Cloreto total 250 mg/L Cl Criseno 0,05 μg/L
Cloro residual total (combinado + livre) 0,01 mg/L Cl 2,4–D 4,0 μg/L
Cobalto total 0,05 mg/L Co Demeton (Demeton-O + Demeton-S) 0,1 μg/L
Cobre dissolvido 0,009 mg/L Cu Dibenzo(a,h)antraceno 0,05 μg/L
Cromo total 0,05 mg/L Cr 1,2-Dicloroetano 0,01 mg/L
Ferro dissolvido 0,3 mg/L Fe 1,1-Dicloroeteno 0,003 mg/L
Fluoreto total 1,4 mg/L F 2,4-Diclorofenol 0,3 μg/L
Fósforo total (ambiente lêntico) 0,020 mg/L P Diclorometano 0,02 mg/L
Fósforo total (ambiente intermediário,
DDT (p,p’-DDT + p,p’-DDE + p,p’-
com tempo de residência entre 2 e 40 dias, 0,025 mg/L P 0,002 μg/L
DDD)
e tributários diretos de ambiente lêntico)
Fósforo total (ambiente lótico e tributários
0,1 mg/L P Dodecacloro pentaciclodecano 0,001 μg/L
de ambientes intermediários)
Lítio total 2,5 mg/L Li Endossulfan (a + b + sulfato) 0,056 μg/L
Manganês total 0,1 mg/L Mn Endrin 0,004 μg/L
Mercúrio total 0,0002 mg/L Hg Estireno 0,02 mg/L
Níquel total 0,025 mg/L Ni Etilbenzeno 90,0 μg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem
Nitrato 10,0 mg/L N 0,003 mg/L C6H5OH
com 4-aminoantipirina)
Nitrito 1,0 mg/L N Glifosato 65 μg/L
3,7mg/L N, para pH £ 7,5 2,0
mg/L N, para 7,5 < pH £ 8,0
Nitrogênio amoniacal total 1,0 mg/L N, para Gution 0,005 μg/L
8,0 < pH £ 8,5 0,5 mg/L N,
para pH > 8,5
Prata total 0,01 mg/L Ag Heptacloro epóxido + Heptacloro 0,01 μg/L
Selênio total 0,01 mg/L Se Hexaclorobenzeno 0,0065 μg/L
Sulfato total 250 mg/L SO4 Indeno(1,2,3-cd)pireno 0,05 μg/L
Sulfeto (H2S não dissociado) 0,002 mg/L S Lindano (g-HCH) 0,02 μg/L
Urânio total 0,02 mg/L U Malation 0,1 μg/L
Vanádio total 0,1 mg/L V Metolacloro 10 μg/L
Zinco total 0,18 mg/L Zn Metoxicloro 0,03 μg/L
Paration 0,04 μg/L
PCBs - Bifenilas policloradas 0,001 μg/L
Pentaclorofenol 0,009 mg/L
Simazina 2,0 μg/L
Substâncias tensoativas que reagem
0,5 mg/L LAS
com o azul de metileno
2,4,5–T 2,0 μg/L
Tetracloreto de carbono 0,002 mg/L
Tetracloroeteno 0,01 mg/L
Tolueno 2,0 μg/L
Toxafeno 0,01 μg/L
2,4,5-TP 10,0 μg/L
Tributilestanho 0,063 μg/L TBT
Triclorobenzeno (1,2,3-TCB + 1,2,4-
0,02 mg/L
TCB)
Tricloroeteno 0,03 mg/L
2,4,6-Triclorofenol 0,01 mg/L
Trifluralina 0,2 μg/L
Xileno 300 μg/L

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Art 15. Aplicam-se às águas doces de classe 2 as condições e padrões da classe 1
previstos no artigo anterior, à exceção do seguinte:
I - não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas
que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração
convencionais;
II - coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário
deverá ser obedecida a Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos,
não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100
mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período
de um ano, com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição
ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo
órgão ambiental competente;
III - cor verdadeira: até 75 mg Pt/L;
IV - turbidez: até 100 UNT;
V - DBO 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2;
VI - OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2;
VII - clorofila a: até 30 μg/L;
VIII - densidade de cianobactérias: até 50000 cel/mL ou 5 mm3/L; e
IX - fósforo total:
a) até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; e
b) até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com tempo de residência entre 2
e 40 dias, e tributários diretos de ambiente lêntico.
Ainda nessa resolução estabelece-se alguns padrões de lançamentos de efluentes
de qualquer fonte poluidora que somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente,
nos corpos de água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições
exigidas. Estes padrões são melhores abordados na Resolução nº 430, de 13 de maio de
2011.

1.2.5 Resolução nº 410, de 04 de maio de 2009


Publicada no DOU nº 83, de 05/05/2009, pág. 106, altera a resolução nº 357/2005
e o art. 3º da Resolução nº 397/2008. Está resolução do CONAMA dispõe apenas de um
Artigo, que trata apensa da “Prorrogação do prazo para complementação das
condições e padrões de lançamento de efluentes, previsto no art. 44 da Resolução nº
357, de 17 de março de 2005, e no art. 3o da Resolução nº 397, de 3 de abril de 2008. ”

1.2.6 Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011


Publicada no DOU nº 92, de 16/05/2011, pág. 89, vem para alterar parcialmente e
complementando a Resolução no 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional

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do Meio Ambiente-CONAMA: ”estabelecendo algumas normas no que se refere a
“condições, parâmetros, padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes
em corpos de água receptores...”
Da mesma forma em que abordamos o exemplo anterior, para fins de facilitar e
mostrar a importância das bases legais no estudo de qualidade da água, foram separados
alguns artigos (1º,3º e 16º).
Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre condições, parâmetros, padrões e diretrizes
para gestão do lançamento de efluentes em corpos de água receptores, alterando
parcialmente e complementando a Resolução no 357, de 17 de março de 2005, do
Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.
Parágrafo único. O lançamento indireto de efluentes no corpo receptor deverá
observar o disposto nesta Resolução quando verificada a inexistência de legislação ou
normas específicas, disposições do órgão ambiental competente, bem como diretrizes
da operadora dos sistemas de coleta e tratamento de esgoto sanitário.
O Artigo 3º, dispõe sobre a condição, de modo geral, que um efluente poluidor
poderá ser lançado no corpo hídrico, e também, algumas exigências em que o órgão
ambiental competente poderá acrescentar.
Art. 3º Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados
diretamente nos corpos receptores após o devido tratamento e desde que obedeçam às
condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis.
Parágrafo único. O órgão ambiental competente poderá, a qualquer momento,
mediante fundamentação técnica:
I - acrescentar outras condições e padrões para o lançamento de efluentes, ou torná-
los mais restritivos, tendo em vista as condições do corpo receptor; ou
II - exigir tecnologia ambientalmente adequada e economicamente viável para o
tratamento dos efluentes, compatível com as condições do respectivo corpo receptor.
O Artigo 16º, estabelece alguns padrões técnicos que o efluente poluidor precisa ter
para ser lançado no corpo hídrico.
Art. 16. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados
diretamente no corpo receptor desde que obedeçam às condições e padrões previstos
neste artigo, resguardadas outras exigências cabíveis:
I - Condições de lançamento de efluentes:
a) pH entre 5 a 9;
b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura do corpo
receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;

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c) materiais sedimentáveis: até 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff. Para
o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja praticamente nula,
os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente ausentes;
d) regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média do
período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela
autoridade competente;
e) óleos e graxas: 1. Óleos minerais: até 20 mg/L; 2. óleos vegetais e gorduras
animais: até 50 mg/L;
f) ausência de materiais flutuantes; e
g) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO 5 dias a 20°C): remoção mínima de
60% de DBO sendo que este limite só poderá ser reduzido no caso de existência de
estudo de autodepuração do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do
enquadramento do corpo receptor;

1.2.7 Resolução CONSEMA 355 de 13 de julho de 2017

Além das leis em âmbito Federal sobre a qualidade da água do nosso planeta,
temos também as leis estaduais que atuam em prol da preservação ambiental, de saúde
pública e dos recursos naturais, no Estado do Rio Grande do Sul. Uma delas é a
Resolução CONSEMA 355 DE 13/07/2017 em que propõe “Art. 1º Fixar critérios e
padrões de emissão de efluentes líquidos para as fontes geradoras que lancem seus
efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul. ” Entrando em vigor
na data da sua publicação, para revogar as Resoluções CONSEMA 128/2006, 286/2014
e 317/2016
O artigo 10º estabelece parâmetros, que os efluentes líquidos de fontes poluidoras,
devem obedecer para que seja permitido o lançamento em corpos hídricos:
”Art. 10º. Os efluentes líquidos de fontes poluidoras somente podem ser lançados
em corpos d'água superficiais, direta ou indiretamente, atendendo aos seguintes
padrões de emissão:
Parâmetros Padrão de emissão

Alumínio Total 10 mg/L

*Arsênio total 0,1 mg/L

Bário total 5,0 mg/L

Boro total 5,0 mg/L

*Cádmio total 0,1 mg/L

*Cianeto total 0,2 mg/L

Cobalto total 0,5 mg/L

*Cobre total 0,5 mg/L

Cor não deve conferir mudança de coloração (cor verdadeira) ao corpo hídrico receptor

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Parâmetros Padrão de emissão

*Cromo hexavalente 0,1 mg/L

*Cromo total 0,5 mg/L

*Chumbo total 0,2 mg/L

Espumas Virtualmente ausentes

Estanho total 4,0 mg/L

Fenóis total (substâncias


que reagem com 4- 0,1 mg/L
aminoantipirina)

Ferro Total 10 mg/L

Fluoreto 10 mg/L

Lítio total 10 mg/L

Manganês total 1,0 mg/L

Materiais Flutuantes Ausentes

*Mercúrio total 0,01 mg/L

Molibdênio total 0,5 mg/L

Níquel total 1,0 mg/L

Odor Livre de odor desagradável

Óleos e Graxas: mineral < = 10 mg/L

Óleos e graxas: vegetal ou


< = 30 mg/L
animal

pH Entre 6,0 e 9,0

Prata total 0,1 mg/l

*Selênio total 0,05 mg/L

Sólidos Sedimentáveis < = 1,0 mL/L em teste de 1 (uma) hora em Cone Imhoff

Substâncias tenso-ativas
que reagem ao azul de 2,0 mg MBAS/L
metileno

Sulfeto 0,2 mg/L

Temperatura 40ºC

Vanádio total 1,0 mg/L

Zinco total 2,0 mg/L


Parágrafo único. As fontes poluidoras que apresentem vazão igual ou superior a
100 m³/dia, terão a aplicação de um fator mínimo de 0,8 sobre as concentrações
arroladas nos itens indicados com (*), para fixação do padrão de emissão.
Além disso esta Resolução deixa estabelecido padrões em função da vazão, para
o lançamento de fontes poluidores, ou efluentes líquidos sanitários, sendo eles:
poluentes orgânicos persistentes, DBO5, DQO, Sólidos Suspensos Totais (SST),
Fósforo Total, Nitrogênio Amoniacal, Coliformes Termotolerantes. Que devem atender
aos valores de concentração estabelecidos ou a eficiência mínima fixada, conforme as
faixas de vazão descritas nesta Resolução.

13
1.2.9 Portaria Nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011

Talvez uma das legislações mais importantes, quando se refere a qualidade de


Água para consumo humano, é a Portaria Nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Esta
portaria dispõe sobre “os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da
água para consumo humano e seu padrão de potabilidade”, descrevendo de forma clara
e coesa:

 As competências e responsabilidades da União, Estado, Municípios e do Órgão


responsável pelo sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água;

 O padrão de potabilidade, que deve estar em conformidade com o padrão


microbiológico, ambos descritos nesta Portaria;

 Um plano de amostragem; e

 As penalidades caso esse padrão não seja adotado.


A seguir serão apresentadas duas tabelas que descrevem os parâmetros, microbiológicos
e químicos, de Potabilidade da Água.
Tabela I
Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano

PARÂMETRO VMP(1)
Água para consumo humano(2)
Escherichia coli ou coliformes
Ausência em 100ml
termotolerantes(3)
Água na saída do tratamento
Coliformes totais Ausência em 100ml
Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)
Escherichia coli ou coliformes
Ausência em 100ml
termotolerantes(3)
Sistemas que abastecem a partir de 20.000 habitantes: Ausência em 100ml
em 95% das amostras examinadas no mês;
Coliformes totais Sistemas que abastecem menos que 20.000 habitantes: Apenas uma
amostra, entre as amostras examinadas no mês, poderá apresentar
resultado positivo
NOTAS: (1) valor máximo permitido.
(2) água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais como poços, minas, nascentes, dentre
outras.
(3) a detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.

14
Tabela 2
Padrão de potabilidade para substâncias químicas prejudiciais à saúde

PARÂMETRO Unidade VMP(1) PARÂMETRO Unidade VMP(1)


INORGÂNICAS AGROTÓXICOS
Antimônio mg/L 0,005 Alaclor µg/L 20,0
Arsênio mg/L 0,01 Aldrin e Dieldrin µg/L 0,03
Bário mg/L 0,7 Atrazina µg/L 2
Cádmio mg/L 0,005 Bentazona µg/L 300
Cianeto mg/L 0,07 Clordano (isômeros) µg/L 0,2
Chumbo mg/L 0,01 2,4 D µg/L 30
Cobre mg/L 2 DDT (isômeros) µg/L 2
Cromo mg/L 0,05 Endossulfan µg/L 20
Fluoreto(2) mg/L 1,5 Endrin µg/L 0,6
Mercúrio mg/L 0,001 Glifosato µg/L 500
Níquel mg/L 0,07
Heptacloro e Heptacloro
Nitrato (como N) mg/L 10 µg/L 0,03
epóxido
Nitrito (como N) mg/L 1 µg/LHexaclorobenzeno 1
Selênio mg/L 0,01 µg/LLindano (-BHC) 2
Urânio mg/L 0,03
ORGÂNICAS Metolacloro µg/L 10
Acrilamida µg/L 0,5 Metoxicloro µg/L 20
Benzeno µg/L 5 Molinato µg/L 6
Benzo[a]pireno µg/L 0,7 Pendimetalina µg/L 20
Cloreto de Vinila µg/L 5 Pentaclorofenol µg/L 9
1,2 Dicloroetano µg/L 10 Permetrina µg/L 20
1,1 Dicloroeteno µg/L 30 Propanil µg/L 20
Diclorometano µg/L 20 Simazina µg/L 2
Estireno µg/L 20 Trifluralina µg/L 20
Tetracloreto de
µg/L 2 CIANOTOXINAS
Carbono
Tetracloroeteno µg/L 40 Microcistinas(3) µg/L 1,0
Triclorobenzenos µg/L 20
Tricloroeteno µg/L 70
DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO
Ácidos haloacéticos
mg/L 0,08 Cloraminas totais mg/L 4
total
Bromato mg/L 0,01
Clorito mg/L 1 2,4,6 Triclorofenol mg/L 0,2
Cloro livre mg/L 5 Trihalometanos Total mg/L 0,1
NOTAS: (1) Valor máximo permitido.
(2) Os valores recomendados para a concentração de íon fluoreto devem observar à legislação específica vigente relativa à
fluoretação da água, em qualquer caso devendo ser respeitado o VMP desta Tabela.
(3) É aceitável a concentração de até 10 µg/L de microcistinas em até 3 (três) amostras, consecutivas ou não, nas análise realizadas
nos últimos 12 (doze) meses.
(4) Análise exigida de acordo com o desinfetante utilizado.

15
2 Modelagem de Qualidade D’água

Nos itens reproduzidos abaixo são expostos inicialmente uma representação


matemática clássica de alguns poluentes específicos. Após são apresentados modelos
usualmente utilizados para representação destes processos.

2.1 Representação clássica de alguns poluentes específicos

Alguns poluentes reconhecidamente comuns pela sua ampla ocorrência em


efluentes, principalmente esgotos domésticos, possuem a sua dinâmica de
transformação no corpo hídrico bem conhecida, como as transformações que os mesmos
e seus produtos sofrem e qual é a necessidade de consumo de outras substâncias
presentes no rio.
Estas dinâmicas são simuladas por equações tidas como “clássicas” para a
representação de lançamentos permanentes de esgotos, dada a grande importância que o
estudo desta forma de lançamento possui, uma vez que ela é inerente à existência de
uma população humana civilizada.
Neste capítulo, estas equações para representação de poluentes específicos
presentes em lançamentos permanentes de esgotos são apresentadas, dado que o modelo
de qualidade da água desenvolvido neste trabalho as utiliza quando os despejos
simulados se tratam deste tipo de lançamento.

2.1.1 Parâmetros de Qualidade da Água

A alteração da qualidade da água causada por despejos de esgotos em rios pode


ser avaliada através de uma série de parâmetros físicos, químicos e biológicos, que
traduzem as principais alterações das características do corpo receptor. O Quadro 1
sumariza os principais parâmetros normalmente utilizados para a caracterização de
qualidade de cursos de água, segundo Von Sperling (2005).

16
Quadro 1 – Principais parâmetros para avaliação de alterações na qualidade da água (adaptado
de Von Sperling, 2005).

Característica Parâmetro
Cor
Turbidez
Parâmetros Físicos
Temperatura
Sabor e Odor
pH
Alcalinidade
Acidez
Parâmetros Químicos
Dureza
Ferro e Manganês
Cloretos
Nitrogênio
Fósforo
Oxigênio dissolvido
Parâmetros Químicos Matéria orgânica
Metais
Micropoluentes orgânicos
Contaminantes químicos
Organismos indicadores
Parâmetros Biológicos Algas
Bactérias

Dentre estes parâmetros, aqueles que se tem maior conhecimento do


comportamento através de equacionamento matemático e de maior interesse para
estudos de modelagem de qualidade da água são: Matéria orgânica, Oxigênio
dissolvido, Nitrogênio, Fósforo e Organismos Indicadores. A seguir são descritos de
forma mais aprofundada cada um destes parâmetros, sua importância e as equações
normalmente utilizadas para a representação dos mesmos. As principais referências
desta sessão são Chapra (1997), Von Sperling (2005), Chin (2006) e Von Sperling
(2007)

2.1.2 Oxigênio Dissolvido e Matéria Orgânica

O oxigênio dissolvido (OD), que é a medida da quantidade de gás O2 dissolvido


na água, é considerado o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da poluição
de recursos hídricos, pois ele é essencial para a sobrevivência dos organismos aeróbios,
como os peixes.

17
Quando um despejo de efluente que contém matéria orgânica (como um esgoto) é
lançado em um corpo de água, os microrganismos presentes começam um processo de
decomposição utilizando o oxigênio dissolvido presente no meio para a execução de
seus processos metabólicos. Este consumo de oxigênio pelas bactérias pode vir a causar
uma redução da concentração de OD na água, o que por sua vez pode vir a causar a
morte de diversos seres aquáticos. Caso o oxigênio seja totalmente consumido, têm-se
as condições anaeróbias (ausência de oxigênio), com diversas implicações do ponto de
vista ambiental.
De uma forma esquemática, a oxidação da matéria orgânica presente em efluentes
ou em corpos de água pode ser representada, segundo Von Sperling (2005), pela
seguinte reação simplificada:

Matéria Orgânica + O2 + bactérias -> CO2 + H2O + NH3 + outros produtos + energia

2.1.2.1 Determinação da Matéria Orgânica

Os principais componentes da matéria orgânica normalmente despejada em cursos


de água são compostos de proteínas, carboidratos, gorduras e óleos, ureias, surfactantes,
fenóis, pesticidas e outros em menor quantidade (Von Sperling, 2005). A matéria
orgânica que tem como principal composto o carbono orgânico é denominada de
carbonácea, que pode ainda ser dividida em biodegradável (sofre decomposição
biológica) e não biodegradável.
Para a avaliação da matéria orgânica presente em efluentes e em corpos hídricos
há uma grande dificuldade na determinação laboratorial de seus diversos componentes,
além de isso não ser muito necessário na prática. Assim, utilizam-se normalmente
métodos indiretos para a quantificação da matéria orgânica e do seu potencial poluidor.
Para isto, a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e a Demanda Química de
Oxigênio (DQO) são os parâmetros tradicionalmente mais utilizados.
De especial interesse para estudos de modelagem de qualidade da água, a DBO
retrata a quantidade de oxigênio requerida para estabilizar, através de processos
bioquímicos, a matéria orgânica carbonácea presente em um volume de água. A
avaliação da DBO é feita através da medição de OD em uma amostra no dia de interesse
e a medição de OD em uma amostra armazenada em condições padrões e medida em
data posterior, aonde a DBO corresponde à diferença entre estas duas concentrações de
OD.
Em termos práticos, a estabilização completa da matéria orgânica demora muitos
dias (por exemplo, aproximadamente 20 dias para esgotos domésticos) e a DBO
correspondente a esta estabilização completa é chamada de DBO última (DBOu). No
entanto, para evitar demoradas análises laboratoriais e permitir a comparação de
resultados, criou-se o conceito de DBO520 que corresponde à DBO do quinto dia de

18
análise feita a 20°C. Desta forma, quando nos referimos a concentrações de DBO não
especificadas medidas em descargas de poluentes, estamos geralmente falando nesta
DBO padronizada. A Figura 1 apresenta o resultado de uma análise de DBO feita para
os esgotos do Campus do Vale da UFRGS, onde são exemplificadas as diferenças entre
a DBO520 e a DBOu.

Análise DBO
1901ral
Concentração de OD (mg/l)

1901ral
1901ral
DBOu
1900ral
1900ral
DBO520
1900ral
1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral
Tempo (dias)

Figura 1 – Análise de DBO para os esgotos do campus do vale da UFRGS.

A partir da análise da Figura 1, entende-se que a DBO é uma medida da


quantidade de oxigênio consumido por um despejo de matéria orgânica. Contudo,
conforme citado, a DBO também pode ser entendida como uma representação da
quantidade de matéria orgânica, se olhada por um ângulo inverso: a fração da DBOu
ainda presente (que não foi consumida segundo a curva da figura) corresponde à
quantidade de DBO ainda disponível para ser degradada. Desta forma, tem-se uma
medida da matéria orgânica, correspondente à DBO remanescente que a mesma possui.
Para que não haja confusão entre as duas medidas de DBO (a que representa o
oxigênio consumido e a que representa a matéria orgânica), adotam-se dois conceitos:

 DBO exercida: oxigênio consumido para estabilizar a matéria orgânica.

 DBO remanescente: concentração de matéria orgânica presente na massa


líquida.
A Figura 2 apresenta a diferença entre estes dois conceitos, para a análise de DBO
de esgotos do campus do vale da UFRGS. Nota-se que as duas curvas são simétricas
(espelhadas em relação ao eixo das abscissas) e que a unidade de medida de ambas é
massa de oxigênio por litro (geralmente mgO2/L).

19
DBO exercida e DBO remanescente
1901ral
Concentração (mg O2/l) 1901ral

1901ral
DBO Exercida
1900ral
DBO Remanescente
1900ral

1900ral

1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral
Tempo (dias)

Figura 2 – Análise de DBO remanescente e exercida para os esgotos do campus do vale da


UFRGS.

Para estudos de modelagem de qualidade da água, usualmente utiliza-se a DBO


remanescente, que trata da quantidade da matéria orgânica, nos equacionamentos
referidos.

2.1.2.2 Autodepuração

Após as alterações induzidas por despejos de efluentes que contém matéria


orgânica, os cursos de água passam por um fenômeno de restabelecimento do seu
equilíbrio, onde os compostos orgânicos são degradados e convertidos em compostos
mais estáveis (como CO2 e água) e as concentrações de OD tendem a aumentar através
da transferência do oxigênio presente na atmosfera. Este fenômeno de retorno ao
equilíbrio é denominado de Autodepuração do curso de água.
O estudo e modelagem da autodepuração é muito importante, pois permite que
sejam desenvolvidos projetos que utilizam ao máximo a capacidade de assimilação de
rios e que sejam criadas regras para balizar o lançamento de despejos acima do
suportado pelo corpo hídrico.
Como a autodepuração é um processo que se desenvolve ao longo do tempo e do
espaço, e considerando-se que a principal dimensão de um rio é a longitudinal, segundo
Von Sperling (2005) podemos dividir o perfil de um curso de água que está sofrendo
este fenômeno em quatro principais zonas: (I) zona de águas limpas, (II) zona de
degradação, (III) zona de decomposição ativa, e (IV) zona de recuperação. A Figura 3
apresenta estas zonas.

20
Figura 3 – Perfil esquemático de um lançamento de matéria orgânico em um curso de água,
apresentando a divisão das zonas de autodepuração.

O Quadro 2 apresenta de forma sumarizada as principais características de cada


zona de autodepuração.

21
Quadro 2 – Principal característica de cada zona de autodepuração (adaptado de Von Sperling,
2005).

Zona Principal Característica


(I) Águas Limpas Águas apresentam-se nas condições
normais, anteriores à poluição, pelo menos
no que diz respeito ao OD, às bactérias e à
matéria orgânica.
(II) Degradação Tem início logo após o lançamento, tem
como principal característica a alta
concentração de matéria orgânica ainda em
estado complexo.
(III) Fase onde os microrganismos
Decomposição desempenham ativamente suas funções de
Ativa decomposição. É onde a qualidade da água
está em pior estado.
(IV) Recuperação Após a fase de intensivo consumo de
matéria orgânica é a etapa onde acontece a
recuperação do corpo hídrico ao estado de
equilíbrio.

Através desta análise por divisão do perfil do rio em zonas de autodepuração


pode-se entender de forma simplificada como variam as concentrações da matéria
orgânica e oxigênio dissolvido ao longo do curso hídrico. A concentração de matéria
orgânica (medida geralmente pela DBO) sempre tende a diminuir devido à degradação
pelas bactérias, ao passo que o OD passa por uma fase de diminuição (consumo
acelerado de oxigênio pelas bactérias que fazem a degradação) até atingir um mínimo,
quando, devido a trocas com a atmosfera, a quantidade de oxigênio no rio volta a
aumentar até um patamar correspondente à concentração de saturação.
É importante ressaltar que as considerações apresentadas são fundamentas em
uma análise para um rio com apenas uma entrada pontual de poluição contínua ao longo
de todo o trecho analisado.

2.1.2.3 Modelagem da Matéria Orgânica

Conforme apresentado, o decréscimo do oxigênio dissolvido em um curso de


água está relacionado com a quantidade de matéria orgânica presente no mesmo,
representada pela DBO remanescente. Segundo Chapra (1997), a cinética de reação
desta matéria orgânica se processa segunda uma reação de primeira ordem. Desta forma,
a equação que representa o decaimento da DBO remanescente é expressa por:
dL (66)
  K1 .L
dt
Onde:
dL /dt = taxa de variação da concentração no sistema com o tempo [ML-3 T-1];

22
L =concentração de DBO remanescente [ML-1];
t = tempo [T];
K1 = coeficiente de desoxigenação [T-1];

Conforme exposto na revisão de conceitos de cinética química, esta equação tem


como solução analítica a expressão:
L = L0 . e−K1.t (67)
Onde:
L0 = concentração de DBO remanescente em t = 0 [ML-1];
L =concentração de DBO remanescente [ML-1];
t = tempo [T];
K1 = coeficiente de desoxigenação [T-1];

Nesta equação o coeficiente de desoxigenação é a constante que representa a


taxa de decaimento da DBO e, portanto, depende das características da matéria
orgânica, da temperatura e da presença de possíveis substâncias inibidoras. Quanto
maior o valor da variável k1, mais rápido é o consumo da DBO (Von Sperling, 2007).
O Quadro 3 apresenta alguns valores típicos do coeficiente K1 para diferentes
formas de esgoto em condições de laboratório.

Quadro 3 - Valores típicos coeficiente K1. Fonte: Von Sperling (2007).

Efluente K1 (dia-1)
Esgoto bruto muito 0,35-0,45
concentrado
Esgoto bruto pouco 0,30-0,40
concentrado
Efluente primário de ETE 0,30-0,40
Efluente secundário de ETE 0,12-0,24
Águas naturais 0,08-0,20

Contudo, ao se comparar os valores do coeficiente K1 apresentados na tabela b


com os valores do coeficiente de decaimento de DBO observados em cursos de água,
podem-se encontrar valores substancialmente diferentes. Segundo Chapra (1997) na
maioria das situações reais as forçantes ambientais como a sedimentação, remoção de
DBO pelo lodo de fundo, e maior efetividade das bactérias, fazem com que a taxa de
remoção em cursos de água seja maior que na bancada do laboratório.
Desta forma, para a simulação do decaimento de matéria orgânica em cursos de
água o coeficiente k1 é substituído pelo coeficiente de remoção de DBO em rios,
denominado de Kd, onde o último é sempre maior ou igual ao primeiro. Após fazer uma
revisão de diferentes trabalhos que tratam do assunto, Von Sperling (2007) apresentou
um sumário de valores típicos para Kd, que são reproduzidos no Quadro 4.

23
Quadro 4 - Valores típicos do coeficiente Kd (20°C), adaptado de Von Sperling (2007).

Efluente Kd (dia-1)
Rios Rasos Rios
Profundos
Esgoto bruto muito concentrado 0,50-1,00 0,35-0,50
Esgoto bruto pouco concentrado 0,40-0,80 0,30-0,45
Efluente primário de ETE 0,40-0,80 0,30-0,45
Efluente secundário de ETE 0,12-0,24 0,12-0,24
Águas naturais limpas 0,08-0,20 0,08-0,24

Onde são considerados rios rasos aqueles com profundidade entre 1,0m a 1,5m.
É possível notar no Quadro 4 que os valor de Kd são maiores em rios mais rasos
do que em cursos de água profundos. Isto se deve principalmente ao fato de estes rios
possuírem a biomassa aderida ao fundo exercendo maior influência sobre a degradação.
Outra forma de calcular o coeficiente Kd são as equações apresentadas por EPA(1985) e
Thomann e Mueller (1987) que colocam o mesmo em função da vazão do rio ou da
profundidade do leito:
𝐻 −0,434
𝐾𝑑 = 0,3. (2,5) (para H ≤ 2,5m) (68)

𝐾𝑑 = 0,3 (para H > 2,5m) (69)


𝐾𝑑 = 1,80. (𝑄)−0,49 (para H entre 0,3 e 10m e Q entre 0,15 e 250 m³/s) (70)
Onde:
Kd = Coeficiente de decaimento da DBO (T-1)
Q = Vazão do rio (L3S-1)
H = Profundidade média do rio (L)

Para a utilização do coeficiente Kd é necessário corrigir o mesmo para a


temperatura desejada, uma vez que a temperatura exerce grande influência sobre o
metabolismo bacteriano. A relação empírica utilizada para esta correção é dada por:

𝐾𝑑𝑡 = 𝐾𝑑20 . 𝜃 (𝑇−20) (71)


Onde:
Kdt = Kd na temperatura desejada (T-1)
Kd20 = Kd a uma temperatura de 20°C (T-1)
T = temperatura do líquido (°C)
Θ = coeficiente empírico, usualmente adotado como 1,047.

24
Mesmo assumindo o coeficiente de decaimento da DBO em rios como Kd (e não
como K1), ainda podem existir diferenças substâncias entre os valores calculados e os
observados em campo. Estas diferenças podem se dar devido à existência de decaimento
da matéria orgânica por sedimentação.
A sedimentação também pode ser incluída nos cálculos de decaimento da DBO
através da utilização de um coeficiente Kr no lugar de Kd, onde Kr = Ks + Kd. Nesta
equação Ks é o coeficiente de sedimentação da matéria orgânica cujos valores
aproximados são dados no Quadro 5:
Quadro 5 – Valores aproximados do coeficiente Ks. Adaptado de Von Sperling (2007)

Corpo Hídrico Ks (dia-1)

Rios rasos (H < 1,0m) 0,10 a 0,50

Rios intermediários (1m < H < 2m) 0,05 a 0,20

Rios profundos 0,00 a 0,05

É válido destacar que valores negativos de Ks podem ser utilizados caso haja
reintrodução de DBO no sistema devido à resuspensão de material sedimentado. O
coeficiente Ks, assim como Kd, deve ser sempre corrigido para a temperatura
(normalmente Θ = 1,024).

2.1.2.4 Modelagem da Reaeração

Quando a água é exposta ao oxigênio da atmosfera ocorre um intercâmbio


contínuo entre as moléculas da fase líquida e da fase gasosa. No momento em que a
concentração de solubilidade do oxigênio na fase líquida é atingida, o sistema entra em
equilíbrio dinâmico, onde as taxas de entrada e saída de moléculas são iguais e as
concentrações globais não variam. Esta concentração de equilíbrio dinâmico do gás O2
na água é denominada de concentração de saturação ou Cs.
Esta concentração de saturação do oxigênio na água é dependente principalmente
da temperatura do corpo hídrico, da altitude e da presença de sais dissolvidos na água.
Existem algumas equações empíricas para a obtenção e correção do valor de Cs em
função destas variáveis, como a de Pöpel (1979):
Cs = 14,652 – 4,1022.10-1.T + 7,9910.10-3.T2 – 7,7774.10-5.T3 (72)
Onde:
Cs = Concentração de saturação (mg/L)

25
T = Temperatura do corpo hídrico em (°C)

A influência da altitude pode ser considera segundo a seguinte equação (Qasim,


1985):
𝑐′ 𝐴𝑙𝑡𝑖𝑡𝑢𝑑𝑒
𝑓ℎ = 𝑐𝑠 = (1 − ) (73)
𝑠 9450

Onde:
Fh = fator adimensional de correção da concentração em função da altitude
Cs’ = concentração de saturação na altitude definida (mg/L)
Altitude = altitude (m).

Para a correção em função da salinidade, Pöpel (1979) sugere:


ϒ = 1 – 9.10-6.Csal (74)
Onde:
ϒ = fator de redução na solubilidade (é igual a 1 para água pura);
Csal = concentração de sais dissolvidos (mgCl-/L)

Conforme apresentado, quando uma contaminação por matéria orgânica é lançada


em um curso de água ocorre um consumo de OD meio, ocasionando uma alteração na
situação de equilíbrio do gás na água. Neste momento, buscando retornar à situação de
equilíbrio, começa um processo de transferência do oxigênio atmosférico para a água.
Este processo é chamado de reaeração atmosférica.
Todas as situações de equilíbrio entre gases e líquidos são descritas através de lei
de Henry, que representa o sistema de troca através de uma equação de cinética primeira
ordem. Desta forma, podemos representar o sistema de déficit de O2 através da seguinte
equação:

dD (75)
  K 2 .D
dt

Onde:
dD /dt = taxa de variação do déficit de oxigênio no sistema com o tempo [ML-3
T-1];
D = Cs - C = déficit de OD. É a diferença entre a concentração de saturação (Cs) e
a concentração existente em um tempo qualquer (C) [ML-1].;

26
t = tempo [T];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];

Esta equação tem como solução analítica a expressão:

D = D0 . e−K2.t (76)
Onde:
D0 = Déficit de OD em t = 0 [ML-1];
D = Déficit de OD em um tempo qualquer [ML-1];
t = tempo [T];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];

A estimativa correta do coeficiente K2 é muito importante para a obtenção de


resultados satisfatórios em estudos de autodepuração. A obtenção deste parâmetro já foi
alvo de muitos estudos de diferentes autores, onde foram desenvolvidas tabelas de
valores e equações para obtenção do coeficiente em função de características de rios. O
Quadro 6 apresenta alguns valores típicos do coeficiente:

Quadro 6 - Valores típicos do coeficiente K2 (20°C). Fonte: Fair et al (1973), Arceivala (1981),
Von Sperling (2007)

Corpo Hídrico K2 (d-1)


Profundo Raso
Pequenas lagoas 0,12 0,23
Rios vagarosos, grandes lagos 0,23 0,37
Grandes rios com baixa velocidade 0,37 0,46
Grandes rios com velocidade normal 0,46 0,69
Rios Rápidos 0,69 1,15
Corredeiras e quedas d'água >1,15 >1,61

Através do Quadro 6 é possível observar que quanto mais raso e mais rápido for o
curso de água, maior é a oxigenação. Isto já era esperado, uma vez que estas
características são agentes da turbulência na água.
Além de valores tabelados, existem algumas equações que são tradicionalmente
utilizadas para a obtenção dos valores de K2 em rios, que colocam o mesmo em função
da velocidade e da profundidade do curso de água, ou em função da vazão, velocidade e
da declividade. Estas equações são apresentadas no Quadro 7:

27
Quadro 7 – Equações para a determinação do coeficiente de desoxigenação a partir de
informações hidráulicas do curso de água.

Pesquisador Fórmula (K2) Faixa de Aplicação Eq.


O’Connor & Dobbins 3,93.v0,5.H-1,5 0,6m ≤ H ≤ 4,0m (77)
(1958) 0,05m/s ≤ v ≤ 1,5m/s
Churchill et al (1962) 5,0.v0,97.H-1,67 0,6m ≤ H ≤ 4,0m (78)
0,8m/s ≤ v ≤ 1,5m/s
Owens et al (apud 5,3.v0,67.H-1,85 0,1m ≤ H ≤ 0,6m (79)
Chapra, 1997) 0,05m/s ≤ v ≤ 1,5m/s
Tsivoglou e Wallace 31,6.v.i Rios pequenos (80)
(apud Thomann e 0,03m³/s ≤ Q ≤ 0,3m³/s
Mueller, 1987)
Tsivoglou e Wallace 15,4.v.i Rios médios (81)
(apud Thomann e 0,3m³/s ≤ Q ≤ 8,5m³/s
Mueller, 1987)
Melching e Flores (1999) 517(v.i)0,524.Q-0,242 Rios com poços e (82)
corredeiras
Q < 0,556m³/s
0,03m/s ≤ v ≤ 1,83m/s
0,00001m/m ≤ i ≤
0,06m/m
0,046m ≤ H ≤ 3,0m
Melching e Flores (1999) 596(v.i)0,528.Q-0,136 Rios com poços e (83)
corredeiras
Q > 0,556m³/s
0,03m/s ≤ v ≤ 1,83m/s
0,00001m/m ≤ i ≤
0,06m/m
0,046m ≤ H ≤ 3,0m
Melching e Flores (1999) 88(v.i)0,313.H-0,353 Rios com controle de (84)
canal
Q < 0,556m³/s
0,03m/s ≤ v ≤ 1,83m/s
0,00001m/m ≤ i ≤
0,06m/m
0,046m ≤ H ≤ 3,0m
Melching e Flores (1999) 142(v.i)0,333.H-660.B- Rios com controle de (85)
243 canal
Q > 0,556m³/s
0,03m/s ≤ v ≤ 1,83m/s
0,00001m/m ≤ i ≤
0,06m/m
0,046m ≤ H ≤ 3,0m

28
Onde:
V = velocidade do curso de água (m/s);
H = profundidade média do curso de água (m);
I = declividade do trecho de rio (m/km) para Tsivoglou e Wallace e em (m/m)
para Melching e Flores;
Q = Vazão do curso de água (m³/s);
B = largura do trecho (m).

No caso da presença de cascatas naturais no trecho de rio analisado, Von Sperling


(1987) apud Von Sperling (2007), sugere as seguintes equações empíricas obtidas para
alturas de queda maiores que 4m:
Ce = Co + K.(Cs-Co) (86)
K = 1 – 1,09.H-0,128
Onde:
Ce = Concentração de OD afluente da cascata (mg/L);
Co = Concentração de OD efluente da cascata (mg/L);
K = coeficiente adimensional de eficiência;
Cs = Concentração de saturação (mg/L);
H = Altura da queda livre (m).

Todas as formas de obtenção do coeficiente K2 apresentadas são para valores do


parâmetro a uma temperatura de 20°C. Desta forma, assim como para o coeficiente Kd,
é sempre necessário corrigir o mesmo para a temperatura do corpo receptor. A correção
é realizada através da seguinte equação:

𝐾2−𝑡 = 𝐾2−20 . 𝜃 (𝑇−20) (87)


Onde:
K2-t = K2 na temperatura desejada (T-1)
K2-20 = K2 a uma temperatura de 20°C (T-1)
T = temperatura do líquido (°C)
Θ = coeficiente empírico, usualmente adotado como 1,024.

29
2.1.2.5 Curva de depleção de oxigênio (modelo de Streeter-Phelps)

Se considerarmos que o balanço de oxigênio no trecho de rio em estudo é dado


unicamente pelo consumo de oxigênio promovido pela DBO e pela reaeração
atmosférica, podemos representar a taxa de variação do déficit de oxigênio no curso de
água através da combinação da equação diferencial de decaimento da DBO, que
também representa o consumo de OD (Equação 66), com a equação diferencial de
produção de OD (Equação 75), o que resulta na seguinte equação:

dD (87)
 K d .L  K 2 .D
dt Onde:
dD /dt = taxa de variação do déficit de oxigênio no sistema com o tempo [ML-3
T-1];
D = Cs - C = déficit de OD. É a diferença entre a concentração de saturação (Cs) e
a concentração existente em um tempo qualquer (C) [ML-1].;
t = tempo [T];
L =concentração de DBO remanescente [ML-1];
Kd = coeficiente de decaimento da DBO [T-1];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];

Esta é uma equação de cinética de segunda ordem para reações consecutivas,


conforme já apresentado na sessão de revisão de cinética química. Esta equação tem
como solução analítica usando de variáveis separáveis a expressão:
Kd .L0
D= . (e−Kd.t − e−K2.t ) + 𝐷0 . e−K2.t (88)
K2 −Kd

Onde:
D0 = Déficit de OD em t = 0 [ML-1];
D = Déficit de OD em um tempo qualquer [ML-1];
t = tempo [T];
Kd = coeficiente de decaimento da DBO [T-1];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];

Sabendo que o déficit de OD é dado por D = Cs - C (diferença entre a


concentração de saturação e a concentração em um tempo qualquer), podemos
reescrever a equação anterior:

30
K .L
Ct = Cs − {K d−K0 . (e−Kd.t − e−K2.t ) + (Cs − C0 ). e−K2.t } (89)
2 d

Onde:
Ct = Concentração de OD em um tempo qualquer [ML-1]
Co = Concentração de OD inicial [ML-1]
Cs = Concentração de saturação [ML-1]
t = tempo [T];
L0 =concentração de DBO inicial [ML-1];
Kd = coeficiente de decaimento da DBO [T-1];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];

A Equação 89 é a conhecida Equação de Streeter-Phelps, apresentada pela


primeira vez em 1925 por Streeter & Phelps, que simula o perfil da concentração de
oxigênio dissolvido em um rio afetado por um lançamento contínuo de poluição
orgânica. A curva descrita pela equação tem a forma de “√” conforme o comportamento
do OD em rio apresentado na Figura 3 anteriormente. A Figura 4 apresenta um exemplo
de simulação de OD realizado com a equação de streeter-phelps.

1900ral
Concentração de OD

1900ral
1900ral
(mg/L)

1900ral
1900ral
1900ral OD
1900ral OD sat
1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral
Distância percorrida ao longo do rio (km)
Figura 4 – Exemplo de simulação realizada com o modelo de streeter-phelps.

É importante destacar que a Equação 89 é aplicável para condições permanentes


de fluxo e para características uniformes do trecho simulado. Caso haja qualquer
alteração nas características do rio (declividade, velocidade, profundidade, etc), bem
como entrada ou saída de vazões (descargas, tributários, captações) o trecho simulado
deverá ser dividido em sub-trechos, cada um uniforme.

31
Outra restrição importante do modelo é que ele serve para modelar concentrações
positivas de OD. Se por algum motivo o oxigênio dissolvido no rio se tornar zero o
sistema entra em estado de anaerobiose e a equação de streeter-phelps não é mais
válida.

2.1.2.6 Condições de anaerobiose

Caso o trecho de rio entre em condição de anaerobiose, existem formas


específicas de representar a remoção de matéria orgânica, baseadas em algumas
suposições teóricas levantadas por Gundelach e Castillo (1976). As principais premissas
são que os mecanismos de transferência de oxigênio em condições anaeróbias são os
mesmos que atuam na fase aeróbia, que todo oxigênio que entra na água é consumido na
mesma velocidade de sua introdução e que a conversão de matéria orgânica por
mecanismos puramente anaeróbios é desprezível (devido a sua baixa taxa).
A partir disto, sabendo que em condições anaeróbias o déficit de oxigênio (D) é
igual à concentração de saturação (Cs) e que a taxa de conversão de matéria orgânica é
limitada pela transferência de O2 do meio líquido para o meio gasoso, chegamos à
seguinte relação de decaimento de matéria orgânica nas condições anaeróbias (Von
Sperling, 2007):

dL
  K 2 .C s (90)
dt
Onde:
dL /dt = taxa de variação da concentração no sistema com o tempo [ML-3 T-1];
Cs = concentração de saturação de oxigênio [ML-1];
t = tempo [T];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];
Da mesma forma, sabemos que a condição de anaerobiose só cessa quando a DBO
atingir um valor tal que a taxa de consumo de oxigênio para degradação da matéria
orgânica for menor ou igual à taxa de entrada de O2 na água. Estas condições são
satisfeitas quando:
Kd.Lf ≤ K2.Cs (91)
Onde
Kd = coeficiente de decaimento da DBO [T-1];
Cs = concentração de saturação de oxigênio [ML-1];
Lf = Concentração de DBO no final do trecho de anaerobiose [ML-3];

32
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];
Enquanto que a Equação 92 permite verificar a permanência ou não nas condições
de anaerobiose, a Equação 91 permite modelar a DBO em um ponto qualquer do trecho
em anaerobiose. A solução analítica da Equação 91 é uma reação de primeira ordem:
L = Li – K2.Cs.t (92)
Onde:
L = concentração de DBO em um tempo qualquer dentro do trecho de anaerobiose
[ML-3];
Cs = concentração de saturação de oxigênio [ML-1];
t = tempo percorrido dentro do trecho de anaerobiose [T];
K2 = coeficiente de reaeração [T-1];
Li = concentração de DBO inicial do trecho de anaerobiose [ML-3];

Com estas equações é possível, portanto, representar matemática o trecho de rio


em anaerobiose, sempre lembrando que ao longo deste trecho a concentração de OD é
nula.

2.1.3 Nitrogênio

No meio aquático o nitrogênio pode ser encontrado em várias formas e estados de


oxidação, que são: Gás nitrogênio (N2), Nitrogênio orgânico (compondo a biomassa dos
organismos), Amônia (livre NH3 e Ionizada NH4+), Nitrito (NO2-) e Nitrato (NO3-).
Este elemento é de grande importância na avaliação da qualidade e poluição de
águas, pois é um elemento indispensável para o crescimento de algas (podendo conduzir
ao fenômeno de eutrofização), a oxidação da amônia gera o consumo de OD no corpo
receptor, a amônia livre é tóxica aos peixes, e o nitrogênio na forma de nitrato está
associado à doença metahemoglobinemia (Von Sperling, 2005).
Em esgotos domésticos brutos as formas predominantes de nitrogênio são
geralmente o nitrogênio orgânico e a amônia. Quando estas formas de nitrogênio
atingem o curso de água, o nitrogênio orgânico tende a se transformar relativamente
rápido em nitrogênio amoniacal, através do processo conhecido como amonificação.
Este processo trata-se apenas de uma conversão, as quantidades totais de nitrogênio na
massa de água não são alteradas e não existe consumo de oxigênio dissolvido.
A amônia, por sua vez, quando presente nos cursos de água sofre um importante
processo de oxidação, denominado nitrificação. Neste processo a amônia é oxidada a
nitritos, que posteriormente são oxidados a nitratos, havendo consumo de oxigênio
dissolvido.

33
A nitrificação, portanto, é um processo de duas etapas, e que ocorre através da
ação de microrganismos autótrofos quimiossintetizantes, para os quais a principal fonte
de carbono é o CO2 e a fonte de energia é obtida através da oxidação de um substrato
inorgânico, no caso a própria amônia. A primeira etapa do processo é denominada de
nitritação, e é efetivada pelas bactérias do gênero Nitrosomonas. A segunda etapa do
processo é denominada de nitratação, e dá-se principalmente pela atuação das bactérias
do gênero Nitrobacter. As equações 99 a 101 apresentam a estequiometria do processo:

Nitritação:
(amônia) (nitrito)
2NH3 + 3O2 → 2H + 2NO-2 + 2H2O + energia
+
(99)

Nitratação:
(nitrito) (nitrato)
2NO 2 + O2 → 2NO-3 + energia
-
(100)

Nitrificação (somando as equações):


(amônia) (nitrato)
NH3 + 2O2 → H + NO-3 + H2O
+
(101)

Nas reações 99 e 100, observa-se a ocorrência de consumo de oxigênio, também


conhecida como demanda nitrogenada. Por estequiometria, espera-se que a sequência de
reações resulte em um consumo de 4,57mgO2/L para cada 1mgNH4+ /L oxidada. Na
prática, os valores de consumo são um pouco menores do que este esperado, devido à
incorporação do de parte do nitrogênio à biomassa dos organismos presentes na água.
Os valores usuais de consumo situam-se entre 4,0 e 4,3mgO2/L para cada 1mgNH4+ /L
oxidada, sendo cerca de 3,2mgO2 para a nitritação e 1,1mgO2 para a nitratação.
As equações diferenciais utilizadas para a representação dos processos de
conversão do nitrogênio orgânico à amônia, sedimentação, liberação de nitrogênio
orgânico pelo sedimento de fundo, nitritação, nitratação e demanda nitrogenada de
oxigênio são (Thomann e Mueller, 1985; Chapra, 1997; Von Sperling, 2007):
𝑑𝑁𝑜𝑟𝑔
= −𝐾𝑜𝑎 . 𝑁𝑜𝑟𝑔 − 𝐾𝑠𝑜 . 𝑁𝑜𝑟𝑔 (102)
𝑑𝑡

𝑑𝑁𝑎𝑚𝑜𝑛 𝑆𝑁𝑎𝑚𝑜𝑛
= 𝐾𝑜𝑎 . 𝑁𝑜𝑟𝑔 − 𝐾𝑎𝑛 . 𝑁𝑎𝑚𝑜𝑛 + (103)
𝑑𝑡 𝐻

𝑑𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜
= 𝐾𝑎𝑛 . 𝑁𝑎𝑚𝑜𝑛 − 𝐾𝑛𝑛 . 𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 (104)
𝑑𝑡

34
𝑑𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜
= 𝐾𝑛𝑛 . 𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 (105)
𝑑𝑡

𝑁𝑡𝑜𝑡 = 𝑁𝑜𝑟𝑔 + 𝑁𝑎𝑚𝑜𝑛 + 𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 + 𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 (106)

𝑑𝐶
= −𝑅𝑂2𝑎𝑚𝑜𝑛 𝐾𝑎𝑛 . 𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 − 𝑅𝑂2𝑛𝑖𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 𝐾𝑛𝑛 . 𝑁𝑛𝑖𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 (107)
𝑑𝑡

Onde:
Ntot = concentração de nitrogênio total [ML-1];
Norg = concentração de nitrogênio orgânico [ML-1];
Namon = concentração de amônia [ML-1];
Nnitrito = concentração de nitrito [ML-1];
Nnitrato = concentração de nitrato [ML-1];
C = concentração de oxigênio dissolvido [ML-1];
Kso = coeficiente de remoção do nitrogênio orgânico por sedimentação [T-1];
Koa = coeficiente de conversão do nitrogênio orgânico em amônia [T-1];
Kan = coeficiente de conversão da amônia em nitrito [T-1];
Knn = coeficiente de conversão do nitrito em nitrato [T-1];
SNamon = coeficiente de liberação de amônia pelo sedimento de fundo (gO2/m².d);
H = profundidade do curso de água (m);
RO2amon = consumo de O2 para oxidação da amônia (3,2mgO2/L para cada
1mgNH4+ /L);
RO2nitrito = consumo de O2 para oxidação do nitrito a nitrato (1,1mgO2/L para cada
1mgNO2- /L).

A Figura 5 apresenta o resultado de uma simulação utilizando estas equações:

1900ral
1900ral
Concentração (mg/L)

1900ral
1900ral Norg
1900ral Namon
1900ral Nnitrito
1900ral
Nnitrato
1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Distância (km)

35
Figura 5 – Exemplo de simulação das diferentes formas de nitrogênio lançadas em rios (sem
considerar a sedimentação e nem a liberação pelo sedimento).

Assim como os coeficientes de simulação do decaimento de DBO e de reaeração,


os coeficientes utilizados para a representação dos processos sofridos pelas diferentes
formas do nitrogênio em cursos de água precisam ser corrigidos em função dos fatores
ambientais do local onde ocorrem as reações.
Para a correção em função da temperatura, é utilizada uma do tipo da Equação 87,
com o valor de θ = 1,047 para o coeficiente Koa (EPA, 1087), e o valor θ = 1,080 para o
coeficiente Kan.
Outra correção importante é a redução da taxa de nitrificação em virtude das
baixas concentrações de OD no curso de água. Para esta correção, Chapra (1997) sugere
o seguinte fator de correção para Kan:
𝑓𝑛𝑖𝑡𝑟=1−𝑒 −𝐾𝑛𝑖𝑡𝑟𝑂𝐷 .𝑂𝐷 (108)

Onde:
Fnitr = fator de correção do coeficiente de nitrificação em função do OD
KnitrOD = coeficiente de inibição da nitrificação por baixo OD. Valor usual: 0,60
OD = Concentração de oxigênio dissolvido no instante de tempo
O Quadro 8 apresenta alguns valores dos coeficientes típicos da modelagem de
nitrogênio
Quadro 8 - Valores dos coeficientes típicos da modelagem de nitrogênio (Fonte: Adaptada de
Von Sperling, 2007).

Parâmetro Valor Observação


Kso (d-1) 0,00 a 0,10 Menor para rios mais rápidos.
Koa (d-1) 0,20 a 0,25
Kan (d-1) 0,15 a 0,25
Knn (d-1) 0,10 a 1,00 Maior para rios mais rasos.

2.1.4 Fósforo

Embora seja essencial para a vida, o fósforo é um nutriente relativamente escasso


na natureza se comparado ao nitrogênio. Contudo, várias atividades humanas
promovem a entrada de fósforo em corpos de água, sendo uma parte derivada de fontes
difusas e outra parte de fontes pontuais, principalmente esgotos domésticos.
A principal implicação da presença de fósforo em corpos hídricos é o fato de ele
ser um nutriente essencial para o crescimento de algas, o que pode conduzir a
fenômenos de eutrofização em lagos, represas e estuários. Apesar de estas questões

36
dizerem respeito principalmente a estes tipos de corpos hídricos, o controle da presença
de fósforo em rios é fundamental para que estes problemas sejam evitados.
Para a representação do comportamento do fósforo em cursos de água, considera-
se que o fósforo em esgotos domésticos apresenta-se na forma de fosfatos, divido em
duas categorias (Von Sperling, 2007): inorgânico e orgânico. Na forma inorgânica as
principais formas do fósforo são polifosfatos e ortofosfatos, com origem principal nos
detergentes e outros produtos químicos domésticos. Na forma orgânica apresenta-se
ligado a compostos orgânicos de origem fisiológica.
As equações diferenciais utilizadas para a representação dos processos de
conversão do fósforo orgânico a fósforo orgânico, sedimentação do fósforo orgânico
particulado e liberação de fósforo inorgânico pelo sedimento de fundo, são (Chapra,
1997; Von Sperling, 2007):
𝑑𝑃𝑜𝑟𝑔
= −𝐾𝑜𝑖 . 𝑃𝑜𝑟𝑔 − 𝐾𝑠𝑝𝑜 . 𝑃𝑜𝑟𝑔 (109)
𝑑𝑡

𝑑𝑃𝑖𝑛𝑜𝑟𝑔 𝑆𝑃𝑖𝑛𝑜𝑟𝑔
= 𝐾𝑜𝑖 . 𝑃𝑜𝑟𝑔 + (110)
𝑑𝑡 𝐻

Onde:
Porg = concentração de fósforo orgânico [ML-1];
Pinorg = concentração de fósforo inorgânico [ML-1];
Koi = coeficiente de conversão de fósforo orgânico para inorgânico [T-1];
Kspo = coeficiente de remoção de fósforo orgânico [T-1];
SPinorg = coeficiente de liberação de fósforo inorgânico sedimento de fundo
(gO2/m².d);
H = profundidade do curso de água (m);
A Figura 6 apresenta um exemplo de simulação de fósforo com as equações
apresentadas.

1900ral
1900ral
1900ral
Concentração (mg/L)

1900ral
1900ral Porg
1900ral
Pinorg
1900ral
1900ral
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Distância (km)
Figura 6 - Exemplo de simulação de fósforo. Sem considerar contribuição do sedimento de
fundo.

37
Os coeficientes de simulação do dos processos sofridos pelo fósforo também
precisam ser corrigidos em função dos fatores ambientais do local onde ocorrem as
reações. Para a correção em função da temperatura, é utilizada uma equação do tipo da
Equação 87, com o valor de θ = 1,047 para o coeficiente Koi, o valor de θ = 1,024 para o
coeficiente Kspo e o valor de θ = 1,074 para SPinorg. O - Valores dos coeficientes típicos
da modelagem de fósforo (Fonte: Adaptada de Von Sperling, 2007). apresenta alguns
valores típicos dos coeficientes.
Quadro 9 - Valores dos coeficientes típicos da modelagem de fósforo (Fonte: Adaptada de Von
Sperling, 2007).

Parâmetro Valor
Kspo (d-1) 0,02 a 0,05
Koi (d-1) 0,2 a 0,3
SPinorg (g.m²/dia) 0,0 a 0,2

2.1.5 Coliformes

Um dos aspectos mais importantes do lançamento de esgotos em cursos de água é


a presença de agentes patogênicos, que são a causa de diferentes doenças aos seres
humanos. A detecção destes agentes patogênicos demanda grande esforço de trabalho
de campo e laboratorial, já que eles aparecem em baixas concentrações nos cursos de
água (e mesmo assim são motivos de grande preocupação).
Para superar este problema de dificuldade de detecção de patogênicos é utilizado
o conceito de organismos indicadores de contaminação fecal (Von Sperling, 2005), que
são organismos em sua maioria não patogênicos, mas que servem satisfatoriamente
como indicadores da presença de contaminação por fezes (humanas e de animais).
As bactérias do grupo coliforme são os organismos comumente mais utilizados
para este fim, uma vez que apresentam características importantes para um bom
indicador, como a presença em grande quantidade nas fezes, resistência ligeiramente
superior à maioria dos demais microrganismos patogênicos, e são facilmente detectadas.
Os principais organismos indicadores utilizados na avaliação da qualidade de
águas são os Coliformes Totais, os Coliformes Fecais (ou Coliformes Termotolerantes)
e as bactérias do gênero Escherichia Coli.
Os coliformes totais não necessariamente representam bactérias de origem fecal
ou patogênicas, pois compreendem também microrganismos de vida livre em geral, o
que faz dos mesmos não exatamente próprios para os objetivos desejados. Os
coliformes fecais consistem em bactérias predominantemente advindas do trato
intestinal humano (e de outros animais), contudo ainda é possível a existência de

38
bactérias não fecais dentre as mesmas, que resistem à elevada temperatura dos ensaios
laboratoriais (por isto este grupo tem sido chamado de termotolerante). Finalmente, as
bactérias do gênero Escherichia Coli são as principais bactérias do grupo das
termotolerantes, muito abundantes em fezes humanas e de outros animais, são as únicas
que dão garantia de contaminação exclusivamente fecal (muito embora não
exclusivamente humana) (Von Sperling, 2007).
Os coliformes encontram dentro do sistema digestivo dos animais as condições
ótimas para o seu crescimento e reprodução. Quando estas bactérias são expelidas e
entram em contato com um corpo hídrico elas encontram condições adversas como a
presença de luz solar, diferentes temperatura e pH, falta de nutrientes, efeitos osmóticos,
entre outros, e então elas tendem a decrescer em número, caracterizando o processo de
decaimento.
A taxa de mortalidade dos coliformes, assim como outras reações biológicas, pode
ser estimada através de uma reação de primeira ordem do tipo:
𝑑𝑁
= −𝐾𝑏 . 𝑁 (111)
𝑑𝑡
Onde:
N = número de coliformes (NMP/100mL)
Kb = coeficiente de decaimento bacteriano (d-1)
T = tempo (d)

A solução analítica da equação é dada por:

𝑁 = 𝑁0 . 𝑒 −𝑘𝑏.𝑡 (112)
Onde:
N0 = número inicial de coliformes (NMP/100mL)
N = número de coliformes (NMP/100mL)
Kb = coeficiente de decaimento bacteriano (d-1)
T = tempo (d)
Os valores de Kb variam entre 0,5 e 1,5 d-1 (Von Sperling, 2007). A correção em
função da temperatura pode ser feita com uma equação do tipo da Equação 87 e θ =
1,07 (Von Sperling, 2007; Chapra 1997).

39
2.2 O Modelo Qual-UFMG

Uma ferramenta simples para a modelagem da qualidade da água e de crescente


utilização é a plataforma QUAL-UFMG, criada por von Sperling (2007). O programa
em Excel QUAL-UFMG, desenvolvido em planilhas, tem como objetivo possibilitar a
modelagem de rios através da utilização de um modelo baseado no QUAL2-E,
desenvolvido pela US Envionmental Protection Agency (USEPA).
O QUAL-UFMG permite a modelagem dos seguintes constituintes ao longo do
rio: Demanda Bioquímica de Oxigênio, Oxigênio Dissolvido, Nitrogênio Total e suas
frações (orgânico, amoniacal, nitrito e nitrato), Fósforo Total e suas frações (orgânico e
inorgânico), Coliformes Termotolerantes ou E. coli.
As simplificações na implementação do QUAL-UFMG em relação ao QUAL2E
envolvem: integração numérica pelo método de Euler, a desconsideração da dispersão
longitudinal e a não inclusão da modelagem de algas e todas suas inter-relações com os
demais constituintes (Von Sperling, 2007).
O programa é composto de quatro planilhas, a saber:
FómulasCoefic - Planilha que contém todas as fórmulas utilizadas e os valores
usuais dos coeficientes das equações utilizadas na modelagem (Figura 7);
DiagramaUnifilar - Planilha destinada ao usuário detalhar o diagrama unifilar do
rio que ele está modelando (Figura 8);
RioPrincipal - Contém a modelagem do rio principal, onde os cálculos são
processados e os resultados apresentados (valores e gráficos - Figura 9);
Tributario1 - Caso seja modelado algum tributário do rio principal, esta planilha
deverá ser utilizada e os resultados da simulação deverão ser transportados para a
planilha Rio-Principal. Pode se ter tantas planilhas Tributario1 quantos forem os
tributários a se modelar, bastando para tal copiar a planilha Tributario1 (Figura 10);

40
Figura 7 – FómulasCoefic

Figura 8 – DiagramaUnifilar

41
Figura 9 – RioPrincipal

Figura 10 – Tributario1

A Figura 11 representa as interações entre os parâmetros simulados pelo modelo


QUAL-UFMG segundo Mourão Júnior (2010).

42
Figura 11 – Interações entre os parâmetros simulados pelo modelo QUAL-UFMG segundo
Mourão Júnior (2010).

O modelo Qual-UFMG já foi aplicado em vários rios brasileiros para estudos técnicos e
científicos. Material complementar sobre aplicações do modelo é fornecido junto ao
material do curso.
A utilização do modelo é intuitiva uma vez que o usuário tenha os conhecimentos
básicos sobre qualidade da água, que são tratados no primeiro capítulo. Além disso,
todas as células do modelo que são modificadas na realização de simulações são
De qualquer forma, é sempre importante lembrar que um modelo é apenas uma
ferramenta e jamais substitui o senso crítico e o conhecido de um Engenheiro
devidamente qualificado para a realização de um estudo de qualidade da água.

43
2.3 O Modelo Qual-2K
2.3.1 Introdução ao modelo

Desenvolvido orginalmente por Chapra, S.C, o QUAL-2K trabalha com


interface Excel para entrada e saída de dados, através de programação em linguagem
VBA (EPA, 2013), com o intuito principal de simular a qualidade d’água em corpos
hídricos.

Em relação aos aperfeiçoamentos, Santos (2009) destaca que, dentre os


parâmetros de qualidade d’água modelados, o QUAL-2K apresentou diferenças em
relação aos seus anteriores, como a representação da matéria orgânica no meio fluvial,
uma vez que passou a ser diferenciada a fração dissolvida de matéria orgânica
(representada por duas variáveis chamadas DBOLenta e DBORápida e a fração particulada,
simulada através da contribuição de fitoplancton (KNAPIK, 2011). A divisão entre
DBOLenta e DBORápida é baseada no fato de a primeira considerar matérias orgânicas
estáveis, ou recalcitrantes, com baixas velocidades de decaimento (como ocorre em
alguns efluentes industriais), enquanto a segunda considera a matéria orgânica
biodegradável, como esgotos domésticos, por exemplo.

Adicionalmente, o modelo QUAL-2K passou a considerar a existência de


ambientes anóxicos, englobando desse modo situações em que não há presença de
oxigênio dissolvido no manancial, afetando outros processos, como o de nitrificação e
crescimento de algas perefíticas e fitoplâncton.

Não apenas as simulações quanto à matéria orgânica foram atualizados em


relação ao QUAL-2E e consequentemente ao QUAL-UFMG. Outros parâmetros
também foram adicionados ou alterados no modelo, podendo ser destacados a
simulação direta de algas de fundo, a simulação do pH com base nas concentrações de
alcalinidade e carbono inorgânico total e a relação entre a inibição da luz solar no
ambiente aquático com o crescimento de algas, bem como a presença de detritos e de
sólidos inorgânicos (SANTOS, 2009).

O QUAL-2K é um modelo unidimensional, de canal bem misturado, tanto


verticalmente quanto lateralmente, estruturado em um rio principal e tributários
ramificados. O fluxo no modelo é constante e em regime permanente, de modo que a
discretização espacial dos canais pode representar trechos de diferentes características
hidráulicas. Adicionalmente, o QUAL-2K pode simular até 18 diferentes variáveis e
permite tanto a inserção de lançamentos difusos e pontuais como a manipulação de
diversos índices e coeficientes de ajuste de curvas de decaimento dos poluentes.

Ainda, adota o conceito de escalas de tempo, em que as simulações são


representadas em escalas temporais de 24 horas. As equações de balanço de calor,
temperatura, e de cinética das reações são simuladas em escala de tempo diurna,
implicando também na necessidade de entrada de informações climatológicas no

44
modelo (SILVINO, 2008). As entradas utilizadas para este modelo são citadas por
Salvai e Bezdam (2008):

• Características Geográficas locais. Como longitude, latitude, fuso horário e


altitudes;

• Características Meteorológicas, como temperatura do ar, ponto de orvalho da


região, velocidade do vento, sombreamentos e porcentagem de cobertura de nuvens;

• Parâmetros químicos e biológicos relativos qualidade do rio principal e dos


afluentes, bem como as descargas difusas e pontuais;

• As informações hidráulicas que regem ou procuram representar as características


reais do rio simulado.

2.3.2 Segmentação no Qual-2K

Conforme mencionado anteriormente, o modelo trabalha com discretização


hidráulica de corpos hídricos, em que os elementos possuem iguais propriedades, como
comprimentos, características hidráulicas, coeficientes de reação e vazões incrementais.
O modelo permite, entretanto, a variação dessas propriedades entre os chamados
trechos, que são compostos por um conjunto de elementos de iguais características
hidráulicas. A Figura 12 elucida esta subdivisão exemplificando um trecho composto
por 4 elementos. Soma-se, para completar a caracterização espacial do modelo, a
denominação “Segmento”, que nada mais é que um conjunto de trechos representativos
de um ramo do sistema (SILVINO, 2008).
Na Figura 13 se visualiza como o QUAL-2K entende de simulação, e como ocorre
a ordem de processamento dos elementos inseridos no modelo. A numeração é
formatada de forma crescente, de montante para jusante. A Figura 13, adicionalmente,
apresenta um exemplo de como podem ser inseridas entradas de fontes poluidoras ou
abstrações provocadas por usuários do manancial.

Figura 12 – Discretização do Modelo Qual-2K

45
Figura 13 – Discretização do Modelo Qual-2K

2.3.3 Balanço de Vazão no Qual-2K

Conforme mencionado anteriormente, o QUAL-2K trabalha com escoamentos


uniformemente permanentes, o que significa que não há variação das características de
escoamento com o tempo. Desse modo, as simulações realizadas consideram não
somente o vetor de velocidade constante, mas também outras características como, por
exemplo, a massa específica do fluido e a pressão (SILVINO, 2008).

Considerando essas premissas, o balanço de vazão de um dado elemento “i” é


determinado pelas equações representadas abaixo (BOTTINO, 2008), de modo que os
significados dos coeficientes são apresentados no Quadro 10. Adicionalmente, é
apresentada na Figura 8 uma representação esquemática do balanço de vazões

46
Figura 14 – Balanço de Vazões no Qual-2K

𝑄𝑖 = 𝑄𝑖−1 + 𝑄𝑖𝑛,𝑖 − 𝑄𝑜𝑢𝑡,𝑖 113


𝑝𝑠,𝑖 𝑛𝑝𝑠,𝑖
𝑄𝑖𝑛,𝑖 = ∑𝑗=1 𝑄𝑝𝑠,𝑖,𝑗 + ∑𝑗=1 𝑄𝑛𝑝𝑠,𝑖,𝑗 114
𝑝𝑎,𝑖 𝑛𝑝𝑎,𝑖
𝑄𝑜𝑢𝑡,𝑖 = ∑𝑗=1 𝑄𝑝𝑎,𝑖,𝑗 + ∑𝑗=1 𝑄𝑛𝑝𝑎,𝑖,𝑗 115

Quadro 10 – Significado dos coeficientes das equações do balanço de massa

𝑄𝑖 Vazão de saída do elemento i e de entrada do elemento i +1 a jusante (m³/d)


𝑄𝑖−1 Vazão de saída do elemento i - 1 a montante do elemento i (m³/d)
𝑄𝑖𝑛,𝑖 Vazão de entrada no elemento i por fontes pontuais e/ou difusas (m³/d)
𝑄𝑜𝑢𝑡,𝑖 Vazão de saída no elemento i por fontes pontuais e/ou difusas (m³/d)
∑𝑝𝑠,𝑖
𝑗=1 𝑄𝑝𝑠,𝑖,𝑗
Somatório das vazões de entrada no elemento i por fontes pontuais (m³/d)
∑𝑛𝑝𝑠,𝑖
𝑗=1 𝑄𝑛𝑝𝑠,𝑖,𝑗
Somatório das vazões de entrada no elemento i por fontes difusas (m³/d)
∑𝑝𝑎,𝑖
𝑗=1 𝑄𝑝𝑎,𝑖,𝑗
Somatório das vazões abstraídas no elemento i por fontes pontuais (m³/d)

∑𝑛𝑝𝑎,𝑖
𝑗=1 𝑄𝑛𝑝𝑎,𝑖,𝑗
Somatório das vazões abstraídas no elemento i por fontes difusas (m³/d)

2.3.4 Balanço de Massa no Qual-2K

O modelo QUAL-2K simula o decaimento e transporte de poluentes através da


consideração de quatro fenômenos: Dispersão, Advecção, Cinética de decaimento e
Fontes Externas (incluindo fontes e sumidouros), representados por Silvino (2008) na
equação da Figura 15. Ainda, a figura seguinte apresenta a relação esquemática das
considerações do modelo QUAL-2K (CHAPRA, 2008)

Figura 15 – Representação da equação de transporte de poluentes em rios (Adaptado de Silvino,


2008)

47
Figura 16 – Representação esquemática do balanço de massa em volume de controle no
QUAL-2K (Adaptado de Silvino, 2008)

Vale a pena ressaltar que, dentre os fenômenos apresentados para transporte de


massa no QUAL-2K, a advecção é o principal responsável pelo movimento das
partículas, e consiste no movimento unidirecional das partículas, de modo que a
substância transportada não perde a identidade (Silvino apud Chapra, 2008), sendo um
dos principais mecanismos de transporte de constituintes.
O fenômeno da dispersão longitudinal é, por outro lado, função das diferenças
do movimento d’água no volume de controle, como, por exemplo, o movimento
diferencial associado ao perfil de velocidades de determinada seção transversal da calha
de um rio (CHAPRA, 1997). A inclusão desse fenômeno permite a transferência de
massa de poluentes tanto de montante como de jusante para dado elemento i,
proporcionando uma melhor estimativa do espalhamento dos poluentes no decorrer do
percurso dos corpos hídricos.
Para completar a explicação da Figura 15, o fenômeno de decaimento ali
considerado, faz referência às taxas de degradações ou transformações de poluentes,
enquanto que as fontes externas tratam das entradas e saídas devido a aportes ou
abstrações de vazões em dado volume de controle (ou, como aqui representado,
“elemento i”).
No QUAL-2K, Chapra (2008), estabelece a equação de balanço de massa (116)
destacada abaixo, onde: (i) os dois primeiros termos são a carga de entrada e saída no
elemento i; (ii) o terceiro e sexto termos são as cargas de saída por abstrações e entradas
por aportes no elemento i; (iii) o quarto e quinto termos são referentes às cargas de
entradas e de saídas do volume de controle devido ao fenômeno da dispersão e; (iv) o
último termo representa o aumento ou diminuição de carga devido a reações
bioquímicas de incremento ou decaimento de poluentes. Ainda, também é apresentada a
equação que o modelo considera para o aporte de vazões no canal simulado (117). Os
termos das equações são apresentados no Quadro 11.

𝒅𝒄𝒊 𝑸𝒊−𝟏 𝑸𝒊 𝑸𝒐𝒖𝒕,𝒊 𝑬′𝒊−𝟏 𝑬′𝒊 𝑾𝒊


𝒅𝒕
=
𝑽𝒊
𝒄𝒊−𝟏 −
𝑽𝒊
𝒄𝒊 −
𝑽𝒊
𝒄𝒊 +
𝑽𝒊
(𝒄𝒊−𝟏 − 𝒄𝒊 ) +
𝑽𝒊
(𝒄𝒊+𝟏 − 𝒄𝒊 ) +
𝑽𝒊
+ 𝑺𝒊 116

𝑝𝑠,𝑖 𝑛𝑝𝑠,𝑖
𝑊𝑖 = ∑𝑗=1 𝑄𝑝𝑠,𝑖,𝑗 𝑐𝑝𝑠,𝑖,𝑗 + ∑𝑗=1 𝑄𝑛𝑝𝑠,𝑖,𝑗 𝑐𝑛𝑝𝑠,𝑖,𝑗 117

48
Quadro 11 – Significado dos coeficientes das equações do balanço de massa

𝑑𝑐𝑖 Variação de concentração de determinado poluente dentro do volume de controle do elemento i


𝑑𝑡 (g/m³.dia)
𝑄𝑖−1 Vazão de saída do elemento i - 1 a montante do elemento i (m³/d)
𝑄𝑖 Vazão de saída do elemento i para o elemento i + 1 (m³/d)
𝑄𝑜𝑢𝑡,𝑖 Vazão de saída no elemento i por fontes pontuais e/ou difusas (m³/d)
𝑐𝑖−1 Concentração de saída do elemento i – 1 para determinado poluente (g/m³)
𝑐𝑖 Concentração de saída do elemento i para determinado poluente (g/m³)
𝑐𝑖+1 Concentração de entrada no elemento i pelo elemento i +1 para determinado poluente (g/m³)
𝑉𝑖 Volume de controle do elemento (m³)

𝐸𝑖−1 Coeficiente de dispersão longitudinal entre os elementos i -1 e i (m³/d)
𝐸𝑖′ Coeficiente de dispersão longitudinal entre os elementos i e i + 1 (m³/d)
𝑊𝑖 Carga de constituintes externos para o elemento i (g/dia)
𝑆𝑖 Fontes e/ou sumidouros de poluente devido a reações ou transferência de massa
𝑄𝑝𝑠,𝑖,𝑗 Vazão i proveniente de fonte pontual (m³/d)
𝑐𝑝𝑠,𝑖,𝑗 Concentração da vazão de fonte pontual i para determinado poluente
𝑄𝑛𝑝𝑠,𝑖,𝑗 Vazão i proveniente de fonte difusa (m³/d)
𝑐𝑛𝑝𝑠,𝑖,𝑗 Concentração da vazão de fonte difusa i para determinado poluente

O modelo QUAL-2K, por ter em suas equações fundamentais de transporte de


massa de poluente os termos de advecção e de dispersão, pode ser considerado,
portanto, como um modelo de reator de fluxo misto.Desse modo, todas as equações que
representam o comportamento no transporte de poluentes, revisadas acima, servem de
base para a simulação dos parâmetros abarcados pelo modelo, apresentadas a seguir.

Figura 17 – Relação de variáveis passíveis de modelagem pelo QUAL-2K

49
Entretanto, o foco deste curso será a simulação de apenas os parâmetros
destacados no quadro abaixo
Quadro 12 – Parâmetros modelados

Parâmetros de Qualidade d'água Simulados


Oxigênio Dissolvido
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBOC Rápida)
Coliformes Fecais (Patógenos)
Nitrogênio Total
Nitrogênio Orgânico Nitrogênio Amoniacal Nitrato
Fósforo Total Fósforo Orgânico Fósforo Inorgânico

2.3.5 Equações de Modelagem de Vazão

O modelo disponibiliza ao usuário três diferentes métodos hidráulicos para


simular as entradas e as saídas de vazão de cada elemento computacional. Segundo
Chapra (2008), os métodos são: (i) método represamento; (ii) o método da curva chave
e; (iii) a equação de Manning. Apesar de na literatura serem vastos os registros de
modelagens através do método de Manning, para o presente curso o método a ser
utilizado é o da curva-chave, de modo que os outros métodos de simulação de vazões
são apenas brevemente apresentados na Figura 18, onde é destacada a iteração interna
do programa para o caso da utilização do método de Manning, em que a vazão é
calculada e iterada até que os erros sejam inferiores a 0,001%.

Figura 18 – Representação esquemática de dois métodos de simulação de vazões no QUAL-2K:


Método do Represamento e Método de Manning (Adaptado de Chapra, 2008)

50
Destaca-se, portanto, o emprego do método de simulação hidráulica através da
metodologia da curva chave, composta pelo seguinte conjunto de equações, de modo
que os termos são explicados no Quadro 13.

𝑈 = 𝛼𝑄𝑏 1

𝐻 = 𝛼𝑄𝛽 2
𝑄
𝐴𝑐 = 3
𝑈

𝐴𝑐
𝐵= 4
𝐻

𝐴𝑠 = 𝐵∆𝑥 5

𝑉 = 𝐵𝐻∆𝑥 6

Quadro 13 – Significado dos coeficientes das equações do método da curva chave

𝑈 Velocidade do escoamento (m/s)


𝐻 Profundidade média do canal (m)
𝐴𝑐 Área da seção do canal (m²)
𝐵 Largura média do elemento computacional i (m)
𝐴𝑠 Área superficial do elemento computacional i (m²)
𝑉 Volume do elemento computacional i (m³)
𝑄 Vazão de determinado elemento computacional i (m³/s)
𝑏 Expoente adimensional para obtenção da velocidade
𝛽 Expoente adimensional para obtenção da profundidade
𝛼 Expoente adimensional

2.3.6 Utilização do Modelo QUAL-2K


O Qual-2K pode ser obtido através de download de um arquivo compactado no
link http://www.qual2k.com/. Após descompactado, o arquivo gera os seguintes
arquivos especificados na figura a seguir.

Figura 19 – Arquivos obtidos a partir do site do Qual-2K


Os arquivos da figura anterior são respectivos ao manual do modelo
(Q2KDocv2_12_May29_2012), a um arquivo executável (q2kfortran2_12) e a uma planilha em
Excel (Q2KMasterv2_12b1). O QUAL-2K é um modelo, portanto, que utiliza uma interface em
forma de planilha do Excel para chamar rotinas inseridas no executável Fortran
(q2kfortran2_12). Desse modo, para rodar o modelo, é necessário que coexistam, na mesma
pasta, o arquivo Q2KMasterv2_12b1.exe e o arquivo q2kfortran2_12.exe.A interface inicial do
QUAL2K é simples, sendo a mesma apresentada na Figura 20.

51
Figura 20 – Interface do Qual-2K
O modelo tem abas das cores azul, em que são definidas as condições de contorno e os
dados de entrada; cores amarelas, que são utilizadas para inserir dados de qualidade d’água
observados e abas de cores verdes que mostram em formas de tabelas os resultados oriundos do
modelo. Por fim, ainda estão presentes abas vermelhas, em que são apresentados gráficos que
puxam os dados das abas verdes.

52
A seguir (da

Figura 21 à Figura 28) são apresentadas as principais interfaces do modelo: (i) Aba de
condições de contorno de montante; (ii) Especificação “física” do curso hídrico, da propagação
de vazão, e da entrada de tributários; (iii) Aba onde são determinadas as entradas dos
coeficientes de decaimento para cada “reach”; (iv) Aba de entrada dos coeficientes de
decaimento padrão do modelo (que serão utilizados quando algum coeficiente da aba “Reach
Rates” é deixada em branco); (v) Aba onde se determina o trecho em que está entrando (ou
saindo) determinada vazão com características de qualidade d’água especificadas; (vi) Aba onde
se determina o ponto em que está entrando (ou saindo) determinada vazão com características
de qualidade d’água especificadas; (vii) Aba onde são inseridos valores observados de campo e;
(viii) aba onde são visualizados resultados obtidos pelo modelo em comparação com dados
observados.
Demais informações acerca de como estas informações são inseridas são mais bem
explanadas na apresentação em Power Point do curso.

53
Figura 21 – Aba Headwater - Condições de Contorno de Montante
Figura 22 – Aba Reach – Especificação “física” do curso hídrico, da propagação de vazão, e da entrada de tributários

55
Figura 23 – Aba Reach Rates – Entrada dos coeficientes de decaimento para cada “reach”

56
Figura 24 – Aba Rates – Entrada dos coeficientes de decaimento padrão do modelo (que serão utilizados quando algum coeficiente da aba “Reach Rates” é deixada em
branco)

57
Figura 25 – Aba Difuse Sources – Onde se determina o trecho em que está entrando (ou saindo) determinada vazão com características de qualidade d’água especificadas

58
Figura 26 – Aba Point Sources– Onde se determina o ponto em que está entrando (ou saindo) determinada vazão com características de qualidade d’água especificadas

59
Figura 27 – Aba Hydraulics Data – Local em que dados hidráulicos observados (como vazão) são inseridos, para serem comparados posteriormente com os resultados do
modelo.

60
Figura 28 – Abas Vermelha: Gráficos de visualização dos resultados, em que são observados os dados calculados (linha verde) e os dados observados
(pontos pretos)

61
3 Referências Bibliográficas

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na ecohidrologia fluvial de pequenas bacias: Estudo de caso do Rio Canha,
Baixo Ribeira, de Iguape, SP. 2008. 208f. Dissertação de mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, 2008.

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Conceituais entre os Modelos QUAL2E e QUAL2K. Revista Brasileira de
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qualidade das águas QUAL-UFMG [manuscrito] : estudo de caso sub-bacia do
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