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Hidrologia Básica

Água e Saneamento
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Waleska Martins Eloi (Conteudista, 2023).

Agência Nacional de Águas (ANA)

Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO

Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1 – Sistemas Hidrológicos, Ciclo hidrológico e Bacias
Hidrográficas
UNIDADE 1 - SISTEMAS HIDROLÓGICOS.................................................................. 7
Tópico 1 - Importância do estudo de sistemas hidrológicos........................................ 7

UNIDADE 2 - CICLO HIDROLÓGICO........................................................................ 11


Tópico 1 - O ciclo hidrológico e seus componentes.................................................... 11

UNIDADE 3 - BACIA HIDROGRÁFICA...................................................................... 14


Tópico 1 - A definição de uma bacia hidrográfica........................................................ 14
Tópico 2 - Parâmetros físicos que caracterizam uma bacia hidrográfica................. 24

Módulo 2 – Principais componentes do ciclo hidrológico e suas


relações com o ambiente
UNIDADE 1 – PRECIPITAÇÃO................................................................................... 41
Tópico 1 - Os processos de precipitação e medições................................................. 41

UNIDADE 2 – EVAPOTRANSPIRAÇÃO..................................................................... 52
Tópico 1 - O processo de evapotranspiração e sua relação com o
ciclo hidrológico............................................................................................................... 52

UNIDADE 3 – INFILTRAÇÃO.................................................................................... 55
Tópico 1 - Os processos de infiltração da água no solo e suas relações com
armazenamento e disponibilidade hídrica................................................................... 55

UNIDADE 4 – ESCOAMENTO................................................................................... 59
Tópico 1 - O escoamento subterrâneo e superficial e suas relações para o
dimensionamento de estruturas hídricas.................................................................... 59

UNIDADE 5 – BALANÇO HÍDRICO........................................................................... 66


Tópico 1 - Disponibilidade hídrica em função das entradas e saídas na bacia
hidrográfica...................................................................................................................... 66

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Referências.............................................................................................................. 69

Glossário.................................................................................................................. 71

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APRESENTAÇÃO
Caro(a) cursista,

Devido à complexidade dos fenômenos e processos envolvidos, a Hidrologia


utiliza uma base ampla de conhecimento envolvendo várias áreas, das quais
destacamos Hidráulica, Meteorologia, Física e Estatística. O curso que iniciaremos
agora, Hidrologia Básica, é constituída por uma parte relevante desse conjunto de
conceitos e objetiva identificar e caracterizar os principais fenômenos oriundos
da interação da água com o meio ambiente que influenciam a disponibilidade dos
recursos hídricos em uma dada região.

Destaca-se que o conhecimento dos parâmetros e características


hidrológicas de sua região é importante para poder avaliar e
gerir adequadamente projetos que visem atender às demandas
hídricas locais, bem como para entender e pensar em possíveis
ações que mitiguem os eventos extremos.

Objetiva-se, portanto, apresentar as noções básicas de hidrologia que nos permitem


caracterizar o comportamento hídrico na região de interesse e analisar projetos
tanto para elaboração de obras hídricas que visem atenuar o efeito do déficit hídrico,
quanto evitar ou conter transtornos advindos de enchentes.

Este curso é composto de dois módulos:

1. No primeiro módulo, discutiremos a importância dos sistemas


hidrológicos, ciclo hidrológico e sacias hidrográficas;
2. No segundo módulo, abordaremos com mais profundidade o fenômeno
da precipitação e controle de enchentes.

Fique atento às sugestões de leituras e atividades complementares para que possa


se aprofundar nos assuntos e fixar melhor o conteúdo aqui abordado.

Desejamos um bom aproveitamento do curso.

Objetivos:

• Identificar a importância do estudo de sistemas hidrológicos, os principais


componentes do ciclo hidrológico e os principais elementos de uma
bacia hidrográfica;
• Entender os conceitos de gerais e definições sobre a precipitação,
evapotranspiração, infiltração, escoamento superficial, escoamento
subterrâneo e o balanço hídrico. Esse conjunto de informações constitui
o ponto de partida para projetos hidráulicos e é importante para o gestor
público o domínio desses conceitos e definições, bem como para suas
tomadas de decisões que visem minimizar os transtornos do excesso e
da escassez ocasionais de água.

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Módulo

1 Sistemas Hidrológicos, Ciclo


hidrológico e Bacias Hidrográficas
Caro(a) cursista,

Este módulo, além de contextualizar a importância do estudo dos sistemas


hidrológicos, apresentará dois dos principais conceitos que embasam a hidrologia:
o ciclo hidrológico e a bacia hidrográfica.

O módulo está organizado da seguinte forma:

Unidade 1 - Sistemas Hidrológicos

Unidade 2 - Ciclo hidrológico

Unidade 3 - Bacia Hidrográfica

O ciclo hidrológico será abordado por meio dos principais fenômenos e processos
pelos quais a água passa em seu caminho regional de renovação, destacando as
consequências do desequilíbrio ocasionado pela ação humana.

A bacia hidrográfica será definida e caracterizada por diversos parâmetros relevantes


ao seu comportamento.

Ambos os conceitos possuem especial relevância para a gestão de recursos hídricos,


pois o conhecimento desses é pressuposto para uma intervenção consciente e
eficiente que tenda a preservar o meio ambiente ou adaptá-lo às necessidades da
população com o mínimo de impacto possível.

Vamos à aula!

Objetivos

• Identificar a importância do estudo de sistemas hidrológicos.


• Conhecer os principais componentes do ciclo hidrológico.
• Compreender os principais elementos de uma bacia hidrográfica.
• Conhecer e calcular os principais parâmetros que caracterizam uma
bacia hidrográfica.

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UNIDADE 1 - SISTEMAS HIDROLÓGICOS

Tópico 1 - Importância do estudo de sistemas


hidrológicos

De acordo com Santos et al. (2001), se pensarmos em vida, temos que pensar
em água, sendo essa uma condição para a vida. A pluralidade de sua ocorrência
e a complexidade do ciclo hidrológico caracteriza a hidrologia como uma ciência
multidisciplinar, fascinante, desafiadora e intimamente ligada à observação
sistemática da natureza.

Fonte: Enap, 2023.

A palavra hidrologia tem sua origem do grego hydro (água) e logos


(conhecimento), ou seja, ciência que estuda a água.

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Diversos autores definem hidrologia. Entre essas definições, destacamos as
seguintes:

Ciência que discute a água na superfície terrestre,


considerando sua ocorrência, circulação e distribuição,
suas propriedades físicas e químicas, e sua reação
com o meio ambiente, abrangendo sua relação com
as formas vivas (CHOW, 1959 apud TUCCI, 2004).

A hidrologia - que pode ser definida como o estudo


da água existente na Terra e seu comportamento
dentro do ciclo hidrológico, bem como sua relação
com o ambiente natural - é uma ciência essencial para
planejar e projetar o desenvolvimento dos recursos
hídricos. Devido ao seu rápido desenvolvimento
na última década, a hidrologia tornou-se uma
especialidade fundamental para a gestão dos recursos
hídricos (UNESCO, 1975).

Tucci (2004) relata que o profissional que trabalhe na área de Recursos Hídricos
necessita conhecer qualitativamente e quantitativamente os processos físicos
envolvidos para um melhor aproveitamento das ferramentas na avaliação e
planejamento.

A história da humanidade mostra que a evolução da hidrologia resulta do aumento


das obras relacionadas aos recursos hídricos, assim como o avanço das obras
decorre do avanço da hidrologia. De tal modo, verificamos que a ciência e a tecnologia
associadas aos recursos hídricos vêm interagindo entre si e se desenvolvendo
(KOBIYAMA; MOTA; CORSEUIL, 2008).

A hidrologia, por vezes, é chamada de engenharia hidrológica,


podendo ser entendida como a área que analisa o comportamento
físico da ocorrência e o aproveitamento da água na bacia
hidrográfica, quantificando os recursos hídricos no tempo e
no espaço e ponderando o impacto das alterações na bacia

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hidrográfica sobre o desempenho dos processos hidrológicos. A
quantificação da disponibilidade hídrica é usada como base para
o projeto e planejamento dos recursos hídricos (TUCCI, 2004).

A grande dificuldade e preocupação é que as águas de superfícies e subterrâneas


usadas no abastecimento humano encontram-se mal distribuídas e, atualmente, a
sua carência em diversos locais chama a atenção dos governantes em todo o mundo,
pois a escassez do recurso já abrange milhões de pessoas, fato que desacelera e
limita o desenvolvimento social e econômico dos países. Na Figura 1, podemos ver
a distribuição da água em relação a população no Brasil.

Figura 1: Distribuição de água e da população no Brasil

Fonte: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, 2017.

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A demanda por água tem sua origem no aumento crescente da população mundial,
o que gera um excessivo consumo dos recursos hídricos sem deixar que as devidas
reposições naturais tenham tempo para acontecer. Outro fato relacionado e
extremamente relevante é o alto índice de contaminação dos corpos hídricos, os quais
recebem altas cargas de esgotos urbanos, efluentes industriais, resíduos sólidos e
agrotóxicos que, somados às baixas vazões, reduzem a capacidade de recuperação
e impedem o estabelecimento do equilíbrio natural, sendo esse decorrente da ação
antrópica (KOBIYAMA, MOTA; CORSEUIL, 2008).

Assim, podemos dizer que a falta de conhecimento do sistema hidrológico pode


acarretar problemas como os que ocorrem com frequência nas áreas urbanas, entre
os quais destacamos: construção em áreas consideradas de risco; projetos com
reservatórios superdimensionados ou subdimensionados; sérios problemas em
sistemas de drenagem urbana e agrícola; projetos de irrigação sem disponibilidade
hídrica suficiente; poços indevidamente perfurados; aumento ou surgimento de
áreas com solos salinizados nas regiões áridas e semiáridas; bem como a gestão
ineficiente dos recursos hídricos; entre outros (STUDART, 2004).

Vimos neste tópico um breve relato da importância dos sistemas hídricos, aspectos
que refletem o valor do sistema hídrico na tomada de decisão. No próximo tópico,
conheceremos os conceitos de ciclo hidrológico e a bacia hidrográfica.

Leia o artigo A importância da hidrologia na prevenção e mitigação de


desastres naturais, de Leandro Redin Vestena, 2008, em: https://
www.researchgate.net/publication/277805331_A_importancia_
da_hidrologia_na_prevencao_e_mitigacao_de_desastres_
naturais_The_importance_of_hydrology_in_the_prevention_and_
mitigation_of_natural_disasters.

Aprenda e tire suas dúvidas sobre os diversos termos


hidrológicos em: https://arquivos.ana.gov.br/imprensa/
noticias/20150406034300_Portaria_149-2015.pdf

Conheça A Rede Hidrometeorológica Nacional, assistindo


ao vídeo da Agência Nacional de Águas (ANA) em: A Rede
Hidrometeorológica Nacional

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UNIDADE 2 - CICLO HIDROLÓGICO

Tópico 1 - O ciclo hidrológico e seus componentes

A água está praticamente em tudo que imaginamos e se encontra em vários


estados. No âmbito global, podemos dizer que a quantidade de água é a mesma,
não havendo perdas, apenas se transforma em suas diversas fases (líquida, gasosa,
sólida), circulando no globo. Já em termos qualitativos, as perdas são constantes, em
função dos diversos usos que fazem com que muitas vezes retorne com a qualidade
inferior.

Fonte: Pixabay. 6186745 , 2023.

Quando analisamos o ciclo da água, considerando o aspecto regional, observamos


que o quantitativo pode variar, pois as entradas, bem como as saídas da água, em
uma determinada região, são variáveis em função de diversos aspectos, os quais
compõem o ciclo hidrológico, sofrendo alteração tanto na escala espacial quanto
temporal. Assim, podemos dizer que o ciclo da água é um sistema que nos mostra o
comportamento da água em suas diversas fases no globo terrestre.

Nosso interesse encontra-se, principalmente, nas fases do ciclo em que se processam


sobre a superfície terrestre, ou seja:

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Fonte: Enap,2023

É importante lembrar que os processos que envolvem o ciclo hidrológico têm


como principais agentes desencadeadores a energia solar, a gravidade e a rotação
terrestre – agindo, muitas vezes, de forma conjunta.

Na Figura 2, podemos observar as principais fases do ciclo hidrológico, que consiste


em um fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre
e a atmosfera.

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Figura 2: Ciclo Hidrológico

Fonte: Adaptado por DEAD/IFCE (2015).

O ciclo hidrológico nos mostra a água em suas diversas fases. Sua ocorrência se dá
desde precipitações até o seu regresso à atmosfera, sob a forma de vapor através do
fenômeno da evaporação e evapotranspiração. O seu estudo é de grande interesse
e se destaca quando se trata da superfície terrestre, pois é por meio dele que
poderemos analisar a viabilidade hídrica de uma região, sendo para isso necessário
o conhecimento da bacia hidrográfica, que forma a unidade espacial natural da
hidrologia.

Entenda melhor o ciclo Hidrológico assistindo ao vídeo no link:


O ciclo da água

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UNIDADE 3 - BACIA HIDROGRÁFICA

Tópico 1 - A definição de uma bacia hidrográfica

A bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água de precipitação que


faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório. A bacia
hidrográfica compõe-se basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e de
uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um
leito único no exutório (TUCCI, 2004).

Podemos também nos referir à bacia hidrográfica como a área determinada


topograficamente, delimitada pelos divisores de águas (linhas que unem os pontos
de cotas mais elevadas), a qual é drenada por um curso de água ou por um conjunto
desses cursos conectados, de forma que toda vazão efluente seja drenada por uma
simples saída (CECÍLIO; REIS, 2006).

Fonte: Pixabay, 679014, 2023.

Observa-se, na Figura 3, uma área delimitada de uma bacia hidrográfica.

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Figura 3: Bacia Hidrográfica

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

No contexto das bacias hidrográficas, podemos dizer que cada bacia hidrográfica
se interliga com outra de ordem hierárquica superior, constituindo, em relação
à última, uma sub-bacia. Portanto, os termos bacia e sub-bacia hidrográfica são
relativos (SANTANA, 2003). Um exemplo disso é a Figura 4 a seguir.

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Figura 4: Bacia hidrográfica e sub-bacias

Fonte: Adaptado de http://www.ufscar.br/aprender/aprender/2010/06/bacias-hidrograficas/.

A bacia hidrográfica é limitada com base no divisor topográfico,


o qual toma como base as cotas do terreno, levando em
consideração a topografia.

Assista à animação em: Comitê bacia hidrográfica

Assista ao vídeo sobre bacias hidrográficas em: O que são bacias


hidrográficas?

Com base no vídeo assistido, descreva uma bacia hidrográfica


em sua região e os fatores envolvidos na disponibilidade hídrica,
bem como os fatores positivos e negativos oriundos das ações
antrópicas.

Na Figura 5, podemos visualizar os dois tipos de divisores. Ressaltamos que o divisor


freático é variável, pois depende das flutuações do lençol freático, visto que, quanto

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mais elevado o nível do lençol freático, mais se aproxima o divisor freático do divisor
topográfico.

Figura 5: Divisores topográficos (águas superficiais) e freáticos


(águas subterrâneas)

Fonte: Adaptado de Collischonn; Dornelles (2015).

A delimitação da bacia hidrográfica, levando em consideração o divisor topográfico,


é realizada a partir de mapas topográficos e das características dos cursos de água.
Os divisores são ortogonais às curvas de nível e partem da foz em direção às maiores
cotas (Figura 6).

Para delimitar uma bacia hidrográfica, deve-se utilizar uma carta


planialtimétrica em escala adequada (dados planialtimétricos) e
atentar-se para os seguintes passos:

1. Localizar o exutório.

2. Identificar a rede de drenagem com foco no curso d’água


principal.

3. Identificar a rede de drenagem com foco nos cursos


d’água secundários e demais cursos de drenagem.

4. Identificar as maiores altitudes nas proximidades das


nascentes dos cursos d’água.

5. Traçar os divisores de água, ligando os pontos de maiores

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altitudes e sempre perpendicular às linhas de cotas.

6. Verificar por meio da diferença de cota (da maior para


menor, em trajetória perpendicular ao traçado das linhas)
para onde uma gota de água escoaria nas proximidades
dos divisores traçados.

Figura 6: Etapas para a delimitação de uma bacia hidrográfica

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

Uma vez delimitada a bacia hidrográfica, é possível contextualizar melhor o

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comportamento de seu rio principal e afluentes. Conforme Bertolini (2010, p. 56-57):

A configuração do relevo em temos de inclinação e


direção das vertentes está diretamente relacionada ao
escoamento superficial da água e, consequentemente,
ao papel que essa água desempenha na superfície,
seja em termos dos processos morfodinâmicos seja
quanto aos locais do terreno onde ela poderá se
acumular. (BERTOLINI, 2010)

Nesse contexto, Christofoletti (1980) relata que a unidade vertente pode ser dividida
em três partes: alta, média e baixa.

+ Alta vertente
Na alta vertente encontra-se o interflúvio e a zona de abastecimento
(infiltração) dos reservatórios subterrâneos. Região na qual se observa
processos de pedogênese, o movimento vertical do escoamento superficial,
e à atuação mecânica e à química da água subsuperficial. É o local onde a
força da corrente é maior devido aos maiores desníveis do relevo.

+ Média vertente
A média vertente é uma área propícia à atuação dos intemperismos físico e
químico, resultando possíveis desmoronamentos e deslizamentos, os quais
produzirão material que será transportado. Observa-se que os materiais
rochosos continuam a ser desgastados pela força da corrente e também
aumentam a ação erosiva do rio.

+ Baixa vertente
Na baixa vertente, ocorrem múltiplos processos como depósitos
aluvionares, ação da água subsuperficial; enquanto, no leito do canal fluvial,
ocorre transporte de material para jusante, com a ação da água superficial.
Observa-se que, nessa área, a deposição e acumulação dos materiais
transportados são agora muito mais finos e leves, originando a formação
de planícies aluviais.

O perfil transversal de um rio (Figura 7) nos mostra as secções transversais


características de sua nascente a foz.

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Figura 7: Seções características da nascente a foz de um rio

Fonte: Adaptado de DEAD/IFCE (2015).

Ressalta-se que, ao se referir ao escoamento de um rio, comumente, costuma-se


caracterizar o fluxo das águas ocorrendo no sentido de Montante para Jusante,
permitindo a localização do ponto ou seção estudada em relação ao fluxo do rio
(Figura 8).

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Figura 8: Jusante e Montante

Fonte: Adaptado por DEAD/IFCE (2015).

Segundo Christofoletti (1981), o perfil longitudinal é determinado a partir de uma


linha que une pontos do seu leito, desde a nascente até a foz, e permite identificar
o declive do leito do rio ao longo do seu percurso. Por sua vez, o perfil transversal
aborda a linha imaginária que intersecta um plano vertical com o vale do rio,
sendo perpendicular ao leito do rio, mostrando as características do vale numa
determinada seção do rio. Assim, a seção transversal do rio aponta a magnitude da
sua modificação, em função dos possíveis ciclos de inundação e estiagem sucedidos
no trecho (OLIVEIRA, 2012). Podemos observar o perfil longitudinal e transversal na
Figura 9, e a amplitude da seção transversal pode ser observada na Figura 10.

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Figura 9: Ilustração dos cursos superior, médio e inferior de um rio

Fonte: Adaptado por DEAD/IFCE (2015).

Figura 10: Amplitude da seção transversal de um trecho de rio

Fonte: Adaptado por DEAD/IFCE (2015).

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Algumas características do relevo ao longo dos cursos superior, médio e inferior do
rio principal de uma bacia hidrográfica são ilustradas na Figura 11.

Figura 11: Topográfica característica ao longo de um rio

Fonte: Adaptado por DEAD/IFCE (2015).

Ainda podemos destacar as zonas hidro geodinâmicas, a saber:

Zonas de recarga: podem ser representadas pelos topos de


morros e chapadas, com solos profundos e permeáveis e relevo
suave, o que é importante para o abastecimento do lençol
freático.

Zonas de erosão: representadas pelas vertentes com diferentes


declividades, na qual o escoamento superficial chega a superar a
infiltração.

Zonas de sedimentação: engloba as planícies fluviais ou várzeas,


onde o material erodido é depositado.

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Tópico 2 - Parâmetros físicos que caracterizam uma
bacia hidrográfica

A bacia hidrográfica pode ser classificada em função de diversos parâmetros, entre


os quais destacamos:

• Deságue
• Regime dos Cursos de Água
• Padrão de Drenagem
• Área
• Perímetro e Comprimento
• Declividade
• Hipsiometria
• Tempo de Concentração
• Coeficiente de Compacidade
• Fator de Forma
• Densidade de Drenagem
• Ordenamento dos cursos de água

Essas classificações baseadas nos parâmetros listados acima permitem analisar o


comportamento da bacia e servem como indicadores de seu comportamento. A
seguir, vemos com mais detalhes cada uma dessas classificações:

DESÁGUE
Na classificação, conforme o padrão de deságue (CHRISTOFOLETTI, 1980), podemos
dividir a bacia em:

+ Exorréicas:
Deságuam diretamente o oceano.

+ Endorréicas
Drenagens internas e não possuem escoamento até o mar, deságuam em
um lago (ex.: Lago Titicaca).

+ Arréicas
Não há padrão (ex.: desertos).

+ Criptorréicas
Escoamento basicamente subterrâneo, devido às características geológicas
(ex.: regiões cársticas).

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REGIME DOS CURSOS DE ÁGUA
Em relação aos cursos de água, podemos dizer que, conforme os escoamentos das
águas nos rios, os cursos são: perenes, intermitentes ou efêmeros.

Em um curso de água, podemos ter um, dois ou os três tipos de cursos ocorrendo,
isso dependerá das características geológicas do curso desse rio.

PADRÃO DE DRENAGEM
O padrão de drenagem representa o arranjo dos cursos de água, sofrendo
interferência da geomorfologia do local e da topografia, podendo ser classificada
em: dendrítica, treliça, retangular, paralela, radial, anelar (Figura 12).

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Figura 12: Tipos de padrão de drenagem

Fonte: Adaptado de http://www.pedologiafacil.com.br/enquetes/enq44.php.

ÁREA
A área também se apresenta como importante, sendo utilizada na determinação de
outras características físicas da bacia hidrográfica, tendo influência na disponibilidade
hídrica local, pois, se considerarmos a bacia hidrográfica impermeável, a vazão será
um reflexo direto do produto entre precipitação e área. Porém, sabemos que a bacia
não é impermeável, no entanto, verificamos que a vazão disponível é uma função
também de sua área.

A determinação da área deve ser feita com muito rigor a partir de


fotografias aéreas, mapas topográficos, levantamento de campo,
imagens de satélite ou modelos digitais de terreno.

Para determinar a área de uma bacia que foi delimitada, podemos


utilizar algumas ferramentas que facilitam a sua determinação,
tais como os métodos numéricos. Além desses, podemos
também utilizar métodos manuais, como o planímetro, método
da pesagem e da contagem das quadriculas.

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Ressaltamos que, pela precisão, facilidade e segurança, essa determinação deve ser
feita com ferramentas computacionais largamente difundidas, usando softwares
baseados no SIG (Sistemas de Informações Geográficas – Geographic Information
System GIS) ou CAD (Computer Aided Design – Desenho auxiliado por computador).

Em relação à área de bacias hidrográficas, observamos que, de maneira geral,


está correlacionada com a vazão disponível. No entanto, apenas fazer inferência
baseada na área da bacia pode gerar conclusões errôneas, pois outros fatores
estão envolvidos nessa em maior ou menor disponibilidade. Na Tabela 1, podemos
observar que bacias com áreas semelhantes podem apresentar padrão de vazão
bastante distinto.

Tabela 1: Exemplos da relação Área e Vazão

BACIA ÁREA (km2) QMAX (m3/s)

Rio Little 18.200 18.320

Rio Susquehanna 25.785 6.570

Rio Souris 26.600 340

Rio Potomac 24.980 13.595

Rio Deschutes 27.185 1.235

Rio Cumberland 27.700 5.270

Fonte: Autora, 2023.

PERÍMETRO E COMPRIMENTO
Outras características importantes da bacia são o perímetro e
comprimento. O perímetro representa o comprimento total da
projeção ortogonal dos divisores de água.

Dentro da bacia, é possível determinar o comprimento do rio principal, de outros


cursos d’agua ou de toda a rede de drenagem. Normalmente o comprimento
é medido pelo talvegue, que é a linha sinuosa localizada no fundo do vale onde
passa a água. Também existe interesse no comprimento axial, que dispensa a
sinuosidade e refere-se à distância da foz ao divisor de água da cabeceira, estando
mais relacionado à forma da bacia.

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DECLIVIDADE
A declividade em uma bacia hidrográfica está correlacionada a importantes processos
hidrológicos, entre os quais podemos destacar: a infiltração, o escoamento superficial,
a umidade do solo, etc. Além disso, configura-se como um dos principais fatores
que regulam o tempo de duração do escoamento superficial e de concentração da
precipitação nos leitos dos cursos de água (LIMA, 2013).

O valor da declividade vai influenciar as vazões máximas e mínimas e tem relação


com a velocidade de ocorrência do escoamento. Veja a seguir:

Maior Declividade

Maior → Pico de cheia → Menor Vazão de estiagem

A declividade média da bacia pode ser determinada pela equação a seguir:

Em que:

I – Declividade média da bacia (%).

D – Equidistância entre as curvas de nível (m).

A – Área da bacia (m2).

CNi – Comprimento total das curvas de nível (m).

Guarde bem isso!

A curva de distribuição de declividade ou declividade média de


uma bacia hidrográfica é um elemento que pode permitir regular
parcialmente a velocidade de escoamento superficial que,
por sua vez, pode vir a ocasionar enchentes e erosão. Assim, é
indispensável para o correto manejo da bacia, quando se pensa
em propostas de práticas de conservação de água e solo.

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A declividade dos cursos de água pode ser classificada ainda de acordo com seu tipo
(Figura 13). Vejamos as definições a seguir:

Figura 13: Declividades

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

Declividade entre a
foz e a nascente
Diferença entre as cotas da nascente e da
foz dividida pela extensão total do rio.

Declividade de
Linha com declividade obtida por compensação
equivalência de áreas
de áreas, de forma que a área entre ela
e a abscissa seja igual à compreendida
entre a curva do perfil e a abscissa.

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Declividade equivalente
constante
É a média harmônica ponderada da raiz quadrada
das declividades dos diversos trechos retilíneos,
tendo como peso a extensão de cada trecho.

Declividade 15 – 85
Diferença entre as cotas a 85% e 10% da extensão
total do rio dividida por 75% dessa extensão

Em que:

H – diferença de cotas.
L – extensão horizontal do perfil (dividido em n trechos).
Li – extensão do trecho i.
Di – declividade média em cada trecho.

HIPSIOMETRIA
A curva hipsométrica representa graficamente o relevo médio de uma bacia
hidrográfica, permitindo avaliar a porcentagem da área da bacia que se encontra
em uma determinada altitude básica (Figura 14).

Figura 14: Curva Hipsométrica

Fonte: Adaptado de http://www.civil3d.tutorialesaldia.com/tag/curva-hipsometrica/.

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TEMPO DE CONCENTRAÇÃO
O tempo de concentração é definido como quando tempo que uma gota de
precipitação que caiu no ponto mais distante do exutório leva para chegar até ele
(Figura 15).

Assim, a distância a ser percorrida e a velocidade dessa “gota” de água no percurso


até o exutório são os principais elementos para definição do tempo.

Algumas das características físicas podem influenciar relativamente na velocidade e


na distância, como:

• Forma da bacia
• Comprimento do talvegue
• Área da bacia
• Declividade da bacia
• Ação antrópica

Figura 15: Tempo de Concentração

Fonte: Adaptado por DEaD/IFCE (2015).

Para a determinação do tempo de concentração, podemos usar equações empíricas,

como a de Kirpich:

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Em que:

Tc = tempo de concentração em minutos.


LT = comprimento do talvegue (km).
∆h = diferença de altitude ao longo do talvegue (m).

COEFICIENTE DE COMPACIDADE

O coeficiente de compacidade (Kc) representa uma relação entre o perímetro da

bacia e a circunferência de área correspondente a da bacia. Pela fórmula da área do

círculo, temos: ; lembrando que

Substituindo na equação de Kc, encontramos que:

Em que:

Kc – coeficiente de compacidade.
P – perímetro da bacia.
A – área da bacia.
r – raio da circunferência.

O coeficiente de compacidade fornece uma noção da probabilidade de a bacia


ser susceptível a enchentes. A Tabela 2 apresenta os valores de Kc com sua
susceptibilidade à ocorrência de enchentes.

Tabela 2: Valores de Kc

VALORES DE KC SUSCEPTIBILIDADE A ENCHENTE

1,00 ≤ kc < 1,25 Bacia com alta propensão a grandes enchentes.

1,25 ≤ kc < 1,50 Bacia com tendência mediana a grandes enchentes.

> 1,50 Bacia não sujeita a grandes enchentes.

Fonte: Adaptado de Lima et al. (2013).

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Guarde bem isso!
O que podemos observar e interpretar em relação aos valores de
Kc?
• Quanto mais próximo da unidade, a tendência é de a
bacia ser circular, e maior é a probabilidade de enchente.
• Os valores de Kc são sempre iguais ou maiores que 1.
• Bacias alongadas apresentam menor probabilidade de
ocorrer enchente que as circulares.

FATOR DE FORMA
Outro parâmetro importante é o fator de forma, que também permite avaliar a
probabilidade de ocorrência de enchente na bacia. É determinado pela relação entre
a largura média e o comprimento axial da bacia. Permite avaliar o quanto a forma
da bacia hidrográfica é alongada.

onde:

Em que:

Kf – fator de forma.

– Largura média.

Lax – comprimento axial .

Podemos observar os valores de Kf e, respectivamente, sua condição em relação à


susceptibilidade à ocorrência de enchentes na Tabela 3.

Tabela 3: Correlação entre valores de Kf e susceptibilidade a


enchente

VALORES DE KC SUSCEPTIBILIDADE A ENCHENTE

Kf ≥ 0,75 Bacia sujeita a enchentes

0,50 < Kf < 0,75 Bacia com tendência mediana a enchentes

Kf ≤ 0,50 Bacia não sujeita a enchentes

Fonte: Adaptado de Lima et al. (2013).

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Guarde bem isso!
O que podemos observar e interpretar em relação aos valores de
Kf?
• Quanto mais próximo de zero, a tendência é de que a
bacia seja mais alongada e menor a probabilidade de
enchente.
• Os valores de Kf são maiores que zero.
• As bacias alongadas apresentam menor probabilidade de
ocorrer enchente que as circulares.

DENSIDADE DE DRENAGEM
A densidade de drenagem é uma das características importantes na análise
morfométrica das bacias de drenagem. Expressa o grau de dissecação topográfica
nas paisagens elaboradas pela atuação fluvial ou representa a quantidade disponível
de canais para o escoamento e o controle exercido pelas estruturas geológicas
(CHRISTOFOLETTI, 1981).

Os fatores clima, topografia, solo e rocha influenciam a densidade de drenagem,


que permite uma inferência do grau de desenvolvimento do sistema de drenagem,
apresentando uma indicação da eficiência da drenagem da bacia. A equação abaixo
permite determinar a densidade de drenagem de uma bacia e, de acordo com o
valor obtido, é realizada a intepretação do resultado (Tabela 4).

(Equação 3)

Em que:

Dd – densidade de drenagem.

Ltotal – comprimento total dos canais.

A – área da Bacia Hidrográfica.

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Tabela 4: Densidade de drenagem

VALOR DENSIDADE INTERPRETAÇÃO


DE DRENAGEM

Dd > 3,5 km/km2 Bacias excepcionalmente bem drenadas

2,5 ≤ Dd < 3,5 km/km2 Bacias com drenagem muito boa

1,5 ≤ Dd < 2,5 km/km2 Bacias com drenagem boa

0,5 ≤ Dd < 1,5 km/km2 Bacias com drenagem regular

Dd < 0,5 km/km2 Bacias com drenagem pobre

Fonte: Adaptado de Dortzbach et al. (Villela; Mattos, 1975).

ORDENAMENTO DOS CURSOS DE ÁGUA


O ordenamento dos cursos de água nas bacias hidrográficas reflete os resultados
diretos do uso da terra. Pode-se analisar que, quanto mais ramificada a rede, mais
eficiente será o sistema de drenagem (SAITO, 2011).

A ordenação dos cursos de água permite definir o grau de ramificações e/ ou


bifurcações existentes em uma bacia hidrográfica. A classificação de ordenamento
dos cursos mais empregada é a proposta por Horton (1945) e modificada por Strahler
(1957). Essa ordenação permite identificar a posição hierárquica que um curso de
água ocupa na rede de drenagem.

A ordenação é realizada da seguinte maneira: inicialmente, as linhas de drenagem,


que não têm nenhum afluente, são designadas como linhas de 1ª ordem. A ordem
das demais linhas é determinada de acordo com o método (Horton, Strahler e
Shreve), representados na Tabela 5 abaixo, com as características de cada método.

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Tabela 5: Ordenamento cursos d’água

MÉTODO ORDENAMENTO ILUSTRAÇÃO

- As linhas de 2ª ordem são


formadas pela junção de
duas linhas de 1ª ordem;
as linhas de 3ª ordem são
formadas pela junção de
Strahler duas linhas de 2ª ordem,
assim sucessivamente.
Ressaltamos que as
linhas de 3ª ordem,
podem também receber
um canal de 1ª ordem.
Fonte: http://www.dpi.inpe.br/
cursos/tutoriais/modelagem/
cap2_modelos_hidrologicos.pdf.

- Extensões são
adicionadas sempre que
ocorre a união de duas
linhas de drenagem, sendo
que, se a junção é de duas
Shreve linhas de 2ª ordem, o
trecho a jusante recebe a
qualificação de 4ª ordem.
É importante observar que
nesse método algumas
ordens podem não existir.
Fonte: http://www.dpi.inpe.br/
cursos/tutoriais/modelagem/
cap2_modelos_hidrologicos.pdf.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 36


MÉTODO ORDENAMENTO ILUSTRAÇÃO

- Nesse método, os canais


de 2ª ordem apresentam
somente afluentes de 1ª
ordem. Já os canais de 3ª
ordem têm afluência de
canais de 2ª ordem, porém
também podem receber
diretamente canais de 1ª
Horton ordem. Assim, os canais
de ordem u podem ter
tributários de ordem
u-1 até 1. O que indica a
atribuição de maior ordem
ao rio principal, ampliando
esta designação em todo Fonte: DEAD/IFCE (2015).
o seu comprimento, do
exutório à nascente.

Fonte: Adaptado de Rennó e Soares (2003)

CODIFICAÇÃO OTTO
Um método de classificação muito importante e utilizado pela Agência Nacional
de Águas para codificar as bacias hidrográficas brasileiras é o método de Otto
Pfafstetter.

A codificação de bacias hidrográficas pelo método de Otto Pfafstetter possibilita


a hierarquização das bacias hidrográficas, ou seja, a definição da posição relativa
e o ordenamento entre as bacias e interbacias. Assim, com a geração do código
único pelo sistema, é possível a identificação da posição relativa de uma bacia ou
interbacia em relação às demais, sejam essas subdivisões ou localizadas a montante
ou a jusante (ELESBON et al., 2009).

Conforme Teixeira et al. (2007), a codificação de Otto Pfafstetter se baseia nos


seguintes princípios:

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Teixeira et al. (2007) ainda relatam que:

Cada bacia, interbacia e intrabacia devidamente


codificada e discretizada, conforme o nível de detalhe
para o trecho, passa a ser uma Otto bacia. As bacias
determinadas anteriormente podem ser novamente
codificadas conforme o nível de detalhe a atingir, sendo,
então, atribuído um algarismo adicional. As bacias
pares são codificadas como uma nova bacia integral,
sendo que cada afluente, no trecho correspondente à
maior área de contribuição, passa a ser considerado
um novo curso d’água principal. As interbacias são
codificadas considerando-se o mesmo rio principal
da fase anterior, restrito ao trecho incremental
considerado. O processo pode ser repetido enquanto
houver afluentes na rede hidrográfica representada
na escala de trabalho adotada. (TEIXEIRA et al., 2007)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 38


Recomenda-se, para um melhor entendimento e utilização do
método adotado pela Agência Nacional de Águas, que acessem a
apostila CODIFICAÇÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS PELO MÉTODO
DE OTTO PFAFSTETTER - Aplicação na ANA, a qual se encontra
disponível em:

https://capacitacao2.ana.gov.br/conhecerh/bitstream/
ana/104/1/apostila.pdf.

Também indicamos a leitura do artigo de Texeira et al. (2022) com


melhorias propostas para o sistema de codificação Pfafstetter -
Improvements on the Pfafstetter basin coding system proposal (Melhorias
na proposta do sistema de codificação de bacias hidrográfica de
Pfafstetter), o qual pode ser acessado por meio do link:

h t t p s : / / w w w . s c i e l o . b r / j / r b r h / a /
q573vgGK9dw7btfLQSQ7gCd/?format=pdf&lang=en.

A ANA disponibiliza no catálogo de metadados do portal SNIRH uma base hidrográfica


ottocodificada (BHO) composta por trechos de drenagem e suas respectivas
áreas de contribuição hídrica, contendo várias informações importantes, como o
comprimento do curso d’água, área da bacia, distância à foz, etc.

São várias bases disponíveis, com várias escalas e recortes espaciais, para serem
visualizados e manipulados em um SIG (Sistema de Informações Geográficas).

Explore acessando o Catálogo de Metadados da ANA (snirh.


gov.br): https://metadados.snirh.gov.br/geonetwork/srv/por/
catalog.search#/search?any=bho.

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Módulo

2 Principais componentes do ciclo


hidrológico e suas relações com o
ambiente
Caro (a) cursista,

Estamos dando início à nossa segunda aula, na qual abordaremos alguns conceitos
gerais e definições sobre a precipitação, evapotranspiração, infiltração, escoamento
superficial, escoamento subterrâneo e o balanço hídrico. Esse conjunto de
informações constitui a base para projetos hidráulicos e é importante para o gestor
público o domínio desses conceitos e definições, bem como para suas tomadas de
decisões que visem minimizar os transtornos do excesso e da escassez ocasionais
de água.

Vamos à aula!

Objetivos:

Entender os conceitos gerais e definições sobre a precipitação, evapotranspiração,


infiltração, escoamento superficial, escoamento subterrâneo e o balanço hídrico.

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UNIDADE 1 – PRECIPITAÇÃO

Tópico 1 - Os processos de precipitação e medições

Fonte: Pixabay 4047523, 2023.

A precipitação, em Hidrologia, é o termo geral dado a todas as formas de água


depositada na superfície terrestre, tais como chuvisco, chuva, neve, granizo, orvalho
e geada (COLLISCHONN; DORNELLES, 2015).

A seguir, vamos conceituar cada uma dessas formas de acordo com Tucci (2004).

+ Chuvisco (neblina ou garoa)


Precipitação muito fina e de baixa chuva - gotas de água que descem das
nuvens para a superfície. É medida em milímetros.

+ Neve
Precipitação em forma de cristais de gelo que, durante a queda, coalescem,
formando flocos de dimensões variáveis.

+ Saraiva
Precipitação em forma de pequenas pedras de gelo arredondadas, com
diâmetro de cerca de 5 mm.

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+ Granizo
Quando as pedras, redondas ou de formato irregular, atingem diâmetro
superior a 5 mm.

+ Orvalho
Objetos expostos ao ar à noite amanhecem cobertos por gotículas d’água.
Isso se dá devido ao resfriamento noturno, que baixa a temperatura até o
ponto de orvalho.

Geada: é uma camada, geralmente fina, de cristais de gelo, formada no solo


ou na superfície vegetal. Processo semelhante ao do orvalho, só que em
temperaturas inferiores a 0° C.

Comumente, os termos precipitação e chuva se confundem, uma vez que a neve é


incomum no nosso país e as outras formas pouco contribuem para a vazão dos rios.

As chuvas podem ser classificadas conforme o movimento e interação entre massas


de ar. Há basicamente três tipos de precipitação: frontais, orográficas e convectivas
(Figura 16).

Figura 16: Tipos de Chuvas

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

Collischonn e Dornelles (2015) definem essas formas de precipitação do seguinte


modo:

FRONTAIS
As chuvas frontais ocorrem quando se encontram duas grandes massas de ar, de
diferentes temperatura e umidade. Na frente de contato, entre as duas massas, o ar
mais quente (mais leve e, normalmente, mais úmido) é empurrado para cima, onde
atinge temperaturas mais baixas, resultando na condensação do vapor. As massas
de ar que formam as chuvas frontais têm centenas de quilômetros de extensão

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 42


e movimentam-se de forma relativamente lenta. Consequentemente, as chuvas
frontais caracterizam-se pela longa duração e por atingirem grandes extensões. No
Brasil, as chuvas frontais são muito frequentes na região Sul, atingindo também as
regiões Sudeste, Centro Oeste e, por vezes, o Nordeste.

Chuvas frontais têm uma intensidade relativamente baixa e uma duração


relativamente longa. Em alguns casos, as frentes podem ficar estacionárias, e a
chuva pode atingir o mesmo local por vários dias seguidos.

OROGRÁFICAS
As chuvas orográficas ocorrem em regiões em que um grande obstáculo do relevo,
como uma cordilheira ou serra muito alta, impede a passagem de ventos quentes
e úmidos, que sopram do mar, obrigando o ar a subir. Em maiores altitudes, a
umidade do ar se condensa, formando nuvens junto aos picos da serra, onde chove
com muita frequência.

CONVECTIVAS
As chuvas convectivas ocorrem pelo aquecimento de massas de ar, relativamente
pequenas, que estão em contato direto com a superfície quente dos continentes
e oceanos. O aquecimento do ar pode resultar na sua subida para níveis mais
altos da atmosfera, onde as baixas temperaturas condensam o vapor, formando
nuvens. Esse processo pode ou não resultar em chuva, e as chuvas convectivas são
caracterizadas pela alta intensidade e pela curta duração normalmente, porém,
as chuvas convectivas ocorrem de forma concentrada sobre áreas relativamente
pequenas. No Brasil, há uma predominância de chuvas convectivas, especialmente
nas regiões tropicais, são típicas de regiões com altas temperaturas e conhecidas
também como chuvas de verão (exemplo: chuvas que ocorrem normalmente no
sudeste brasileiro durante as tardes de verão).

Guarde bem isso!


Os processos convectivos produzem chuvas de grande intensidade
e de duração relativamente curta. Problemas de inundação
em áreas urbanas estão, muitas vezes, relacionados às chuvas
convectivas.

O entendimento da ocorrência da chuva em uma bacia hidrográfica, bem como a


sua quantificação, é de extrema importância para análise do comportamento das
vazões nos rios.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43


Assim, a precipitação, deverá ser medida considerando conceitos como altura da
lâmina precipitada, duração e intensidade. Além disso, devido à sua variabilidade
no espaço, temos a necessidade de definir a precipitação média em uma dada
área. Devido à variabilidade temporal das precipitações, os conceitos de frequência,
tempo de recorrência e chuvas máximas surgem como fundamentais para a
caracterização do regime pluviométrico de uma região.

MEDIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO
Associadas à precipitação existem algumas grandezas que possibilitam sua
caracterização e, consequentemente, sua análise quantitativa. As principais são:

+ Altura
A altura pluviométrica é a espessura da lâmina d’água precipitada que
recobriria uma dada região plana, admitindo-se que toda água precipitada
durante o evento de chuva permaneça naquela região sem evaporar,
infiltrar ou escoar para fora dos seus limites.
A unidade de medição habitual é o milímetro de chuva. Cada milímetro
de chuva equivale ao volume de 1 litro de água por metro quadrado de
superfície.

+ Duração
A duração é o período de tempo durante o qual a chuva cai. As unidades
normalmente são: minuto, hora ou dia.

+ Intensidade
A intensidade é a precipitação por unidade de tempo (divisão da altura
pluviométrica pela duração). Normalmente, a intensidade é expressa em
milímetro por hora (mm/h).

+ Frequência
A frequência é a quantidade de ocorrências do evento dentro de uma
amostra, ou, no caso da frequência de excedência, a quantidade de
ocorrência iguais ou superiores ao valor do evento alvo.

O instrumento utilizado para medir a altura pluviométrica é o pluviômetro.

No monitoramento convencional, a altura de chuva é medida uma vez ao dia, sempre


no mesmo horário e dá origem às séries de precipitações diárias.

Pluviômetros automáticos conseguem medir e armazenar a altura de chuva


para durações menores, substituindo o pluviógrafo tradicional que registrava

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 44


continuamente a quantidade de chuva em um cilindro de papel. Além disso, as
informações de quantidade de chuva no decorrer do tempo também podem ser
transmitidas remotamente via telefonia móvel, rádio ou satélite. A Figura 17 ilustra
o pluviômetro e o pluviógrafo.

Figura 17: Pluviômetro e Pluviógrafo

Fonte: autoria própria.

Faça uma revisão sobre os sistemas de unidades nos links a


seguir:

https://www.gov.br/inmetro/pt-br/centrais-de-conteudo/
publicacoes/documentos-tecnicos-em-metrologia/si_versao_
final.pdf/view

https://www.ifsc.usp.br/~donoso/ambiental/
conversaounidades.pdf

https://metrologia.org.br/wpsite/wp-content/uploads/2019/07/
Cartilha_O_novo_SI_29.06.2029.pdf

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 45


As chuvas também podem ser estimadas indiretamente através de radares
meteorológicos e imagem de satélites que dispõem de sensores para capturar a
temperatura do topo das nuvens. Tais métodos têm avançado em precisão e sua
utilização pode se tornar mais acessível e difundida no futuro próximo.

Observe que tanto o pluviômetro quanto o pluviógrafo fornecem dados relativos


à chuva (altura e intensidade) em um ponto específico do espaço, entretanto, um
evento de chuva pode apresentar grande variabilidade espacial, sendo necessário o
domínio do conceito de precipitação média em uma bacia.

PRECIPITAÇÃO MÉDIA EM UMA BACIA


Chuva pontual é a chuva que é medida numa estação climatológica. Para pequenas
áreas, menores que 50 km², a chuva pontual pode ser tomada como a precipitação
média sobre a área.

Para áreas maiores, aconselha-se o uso de uma rede de estações de coleta de


dados. Como a precipitação não é uniforme no espaço, a precipitação média pode
ser determinada por um dos seguintes métodos a seguir (RAGHUNATH, 2006):

- Método Aritmético

Este método consiste em se calcular a média aritmética de todos os postos situados


dentro da área de estudo. Para seu uso, algumas restrições devem ser observadas:
os postos devem ser uniformemente distribuídos na área estudada; o valor
apresentado após um evento de chuva em cada posto deve estar próximo ao da
média; e o relevo deve ser relativamente plano.

– Precipitação média.

Pi – Precipitação (altura) no posto i, com i = 1, 2, ..., n.

n – número de postos dentro da área de estudo.

- Método de Thiessen

O método de Thiessen estabelece uma média ponderada das precipitações usando


como peso uma área de influência (polígono de Thiessen) estimada para cada
aparelho instalado na região estudada (estação pluviométrica), geralmente em uma
distribuição não uniforme.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 46


De modo geral, os polígonos de Thiessen (Figura 18) podem ser obtidos pelo seguinte
procedimento:

1. Desenhar uma rede de triângulos tendo como vértices as estações


pluviométricas.
2. Para cada segmento de reta da rede construída, desenha-se uma linha
partindo do ponto médio do segmento e perpendicular a este.
3. As diversas linhas obtidas irão se encontrar delimitando polígonos ao
redor das estações pluviométricas – polígonos de Thiessen.

- Pluviometria média.

Pi - Pluviometria da estação i.

Ai - Área de influência da estação i.

Figura 18: Método de Thiessen

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47


Os polígonos de Thiessen são casos particulares dos diagramas
de Voronoi (matemático russo Georgy Feodosevich Voronoy) que
são utilizados para analisar dados espacialmente distribuídos.
Quando aplicados às medições de chuva são chamados polígonos
de Thiessen (meteorologista americano Alfred H. Thiessen).

- Métodos das Isoietas

O método das isoietas se baseia em curvas de mesma pluviometria desenhadas a


partir da interpolação dos dados das estações pluviométricas existentes na região
estudada.

A precipitação média é então calculada tomando como referência uma média


ponderada do valor médio entre duas curvas de mesma precipitação (isoieta), Figura
19, e a área entre elas.

- Pluviometria média.
Pi - Pluviometria da curva i.
Ai - Área entre as curvas i e i+1.

Figura 19: Método das Isoietas

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 48


Além da variação espacial, é necessário também compreender o comportamento
das chuvas quanto à intensidade e frequência no tempo. Para projetos de vertedores
de barragens, dimensionamento de canais, dimensionamento de bueiros etc., é
necessário o conhecimento da magnitude das enchentes que podem acontecer e
com que frequência.

PERÍODO DE RETORNO E CHUVAS MÁXIMAS


O período de retorno (ou tempo de recorrência Tr) de um evento é o tempo médio
(em anos) em que esse evento é superado ou igualado pelo menos uma vez.

É definido pelo inverso da probabilidade (frequência f) de ocorrer tal evento:

Para o dimensionamento de estruturas hidráulicas, devemos determinar a chuva


de maior intensidade que se pode esperar que ocorra em um dado período de
retorno (ou frequência). A utilização prática desse dado requer que se estabeleça
uma relação analítica entre as grandezas características de uma precipitação, quais
sejam: a intensidade (i), a duração (t) e a frequência (f).

ATENÇÃO!

Studart (2004) salienta que é importante o caráter não cíclico


dos eventos randômicos, ou seja, uma enchente com período
de retorno de 100 anos (que ocorre, em média, a cada 100 anos)
pode ocorrer no próximo ano, ou pode não ocorrer nos próximos
100 anos (ou ainda pode ser superada diversas vezes).

A equação da chuva é específica para cada local e é obtida a partir de registros de


pluviógrafos (séries de dados), estabelecendo-se, para cada duração de chuva, as
máximas intensidades registradas.

A representação geral de uma equação de chuvas intensas tem a forma:

Onde:

i – intensidade da chuva (mm/h).


Tr – período de retorno (anos).
t – duração da precipitação (minutos).
a,b,c,d – constantes (parâmetros característicos da IDF de cada local).

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Por exemplo, para a cidade de Fortaleza (Ceará), comumente adota-se:

Sendo:

i – intensidade média da chuva (mm/h).

Tr – período de retorno (anos).

t – duração da chuva (min).

Que dá origem ao gráfico da Figura 20.

Figura 20: Gráfico Equação de Fortaleza-CE, i [mm/h] x t [min]

Fonte: DEAD/IFCE (2015).

Outro exemplo é a equação de Wilken (1978) para a Região Metropolitana de São


Paulo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 50


Sendo:

i – intensidade média da chuva (mm/h).

Tr – período de retorno (anos).

t – duração da chuva (min).

Ao se projetar uma obra hidráulica, devemos levar em conta o fator de ordem


econômica e, assim, deve-se considerar o risco da obra falhar durante sua vida
útil – é importante quantificar esse risco. Para isso, analisam-se estatisticamente
as precipitações observadas nos postos pluviométricos, verificando-se com que
frequência a magnitude adotada no projeto foi igualada ou superada.

A Equação IDF (Intensidade, Duração, Frequência) é obtida a


partir da análise estatística de séries de dados de um pluviógrafo
(preferencialmente mais de 15 anos).

1. Para cada ano da série, escolhem-se as maiores chuvas


de uma determinada duração.

2. É escolhida uma distribuição de frequência que melhor


represente a distribuição dos valores observados.

3. O procedimento é repetido para diferentes durações de


chuva.

4. Os resultados são resumidos na forma da equação


contendo as variáveis: intensidade, duração e período de
retorno (ou frequência).

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UNIDADE 2 – EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Tópico 1 - O processo de evapotranspiração e sua


relação com o ciclo hidrológico

Collischonn e Dorneles (2015) definem a evapotranspiração como um conjunto de


dois processos: evaporação e transpiração.

Fonte: Pixabay 3638387, 2023

Evaporação é o processo de transferência de água líquida para vapor do ar


diretamente de superfícies líquidas, como lagos, rios, reservatórios, poças, e gotas
de orvalho. A água que umedece o solo, que está em estado líquido, também pode
ser transferida para a atmosfera diretamente por evaporação. Mais comum nesse
caso, entretanto, é a transferência de água por meio do processo de transpiração.

A transpiração envolve a retirada da água do solo pelas raízes das plantas, o


transporte da água pelos vasos condutores da planta até as folhas e a passagem da
água para a atmosfera através dos estômatos da folha.

O processo de evaporação exige um fornecimento de energia que, na natureza, é


provido pela radiação solar. O ar atmosférico é uma mistura de gases dentre os
quais está o vapor de água. A quantidade de vapor de água que o ar pode conter é
limitada e é denominada concentração de saturação (ou pressão de saturação). A

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 52


concentração de saturação de vapor de água no ar varia de acordo com a temperatura
do ar. Quando o ar acima de um corpo d’água está saturado de vapor, o fluxo de
evaporação se encerra, mesmo que a radiação solar esteja fornecendo a energia do
calor latente de evaporação.

Assim, para ocorrer a evaporação, são necessárias duas condições:

• Que a água líquida esteja recebendo energia para prover o calor latente
de evaporação – essa energia (calor) pode ser recebida por radiação ou
por convecção (transferência de calor do ar para a água).
• Que o ar acima da superfície líquida não esteja saturado de vapor de
água. Além disso, quanto maior a energia recebida pela água líquida,
tanto maior é a taxa de evaporação. Da mesma forma, quanto mais
baixa a concentração de vapor no ar acima da superfície, maior a taxa de
evaporação.

Fatores que afetam a evaporação (STUDART, 2004):

+ Vento
A ação do vento consiste em deslocar as parcelas de ar mais úmidas
encontrada na camada limite superficial, substituindo-as por outras mais
secas. Inexistindo o vento, o processo de evaporação cessaria tão logo o
ar atingisse a saturação, uma vez que estaria esgotada sua capacidade de
absorver vapor d’água.

+ Umidade
O ar seco tem maior capacidade de absorver vapor d’água adicional que o
ar úmido, dessa forma, à medida que ele se aproxima da saturação, a taxa
de evaporação diminui, tendendo a se anular, caso não haja vento para
promover a substituição desse ar.

+ Temperatura
A elevação da temperatura ocasiona uma maior pressão de saturação do
vapor, adquirindo o ar uma capacidade adicional de conter vapor d’água.

+ Radiação solar
A energia necessária para o processo de evaporação tem como fonte
primária o sol; a incidência de sua radiação varia com a latitude, clima e
estação do ano.

A evaporação pode ser medida em estações meteorológicas, comumente utilizando


tanques classe A. Essas medições podem ser usadas para estimar a evaporação da
água exposta nos reservatórios localizados em regiões próximas, sendo necessário,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 53


no entanto, a aplicação de um fator de redução, já que os tanques são rasos e
favorecem o aquecimento mais rápido da água em relação aos reservatórios.

Já as medições de evapotranspiração são muito complexas, pois requerem o controle


de retirada de água do solo pelas plantas e posterior evaporação. Sabendo-se que
cada tipo de planta e cada fase de crescimento possuem sua própria demanda
evaporativa, essas medições possuem aplicação muito específica.

Assim, na escala de bacia, costuma-se estimar a evapotranspiração por meio de


equações que utilizam apenas informações de clima ou adicionam considerações
genéricas de cobertura vegetal.

Quando se requer de informações mais precisas, como otimizar o uso da água


para irrigação de determinada cultura, faz-se necessário o uso de equações mais
específicas que levam em consideração características próprias de cada cultura.

Algumas equações usadas para estimar a evapotranspiração são a de Penman-


Monteith, de Thornthwaite, de Hargreaves, entre outras.

Entenda melhor sobre os métodos empíricos de determinação


da Evapotranspiração no documento 263 da Embrapa: Uma
Revisão sobre os Métodos Empíricos de Fernandes et al (2010).
Acesse: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/
item/29024/1/doc263.pdf.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 54


UNIDADE 3 – INFILTRAÇÃO

Tópico 1 - Os processos de infiltração da água


no solo e suas relações com armazenamento e
disponibilidade hídrica

A infiltração é definida como a passagem da água através da superfície do solo,


passando pelos poros e atingindo o interior, ou perfil, do solo. A infiltração de água
no solo é importante para o crescimento da vegetação, para o abastecimento dos
aquíferos (reservatórios de água subterrânea), para o armazenamento da água
que mantém o fluxo nos rios durante as estiagens, para a redução do escoamento
superficial, redução das cheias e diminuição da erosão (COLLISCHONN; DORNELLES,
2008).

A parte superior da crosta terrestre é normalmente porosa até uma maior ou menor
profundidade. Os poros podem, nesta porção da litosfera, estar parcialmente
ou completamente cheios de água. A camada superior onde os poros estão
parcialmente cheios d’água é designada zona de aeração. Imediatamente abaixo,
onde os interstícios estão repletos d’água, é a zona de saturação (STUDART, 2004).
Observem o perfil de distribuição vertical da água na Figura 21.

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Figura 21: Distribuição vertical da água

Fonte: Adaptado de CETESB, 1978.

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A zona de aeração é dividida em 3 faixas: faixa de água no solo, faixa intermediária e
franja de capilaridade. Seus limites não são bem definidos, havendo uma transição
gradual de uma para outra.

Faixa de água do subsolo é de particular importância para a agricultura, pois fornece


a água para crescimento das plantas. A água se mantém nessa faixa pela atração
molecular e pela ação da capilaridade, agindo contra a força da gravidade. A atração
molecular tende a reter uma delgada película de água sobre a superfície de cada
partícula sólida.

A faixa intermediária, da mesma forma que na faixa de água do solo, retém a água
por atração molecular e capilaridade. A água retida nessa faixa é um armazenamento
morto, visto que não pode ser aproveitada para qualquer uso.

A faixa de capilaridade retém a água acima da zona de saturação por capilaridade,


opondo-se à ação da gravidade.

A zona de saturação é a única dentre as águas da superfície que, propriamente,


constitui a água subterrânea, cujo movimento se deve também à ação da gravidade,
obedecendo às leis do escoamento subterrâneo.

São os seguintes os fatores que interferem no fenômeno da infiltração (STUDART,


2004):

+ Tipo de solo
A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade e com o
tamanho das partículas do solo. As características presentes em pequena
camada superficial, com espessura da ordem de 1 cm, têm grande influência
sob a capacidade de infiltração.

+ Umidade do solo
Quando a água é aplicada em um solo seco, não há movimento descendente
dessa água até que as partículas do solo estejam envolvidas por uma fina
película d’água. As forças de atração molecular e capilar fazem com que a
capacidade de infiltração inicial de um solo seco seja muito alta. À medida que
a água percola, a camada superficial vai ficando semi-saturada, fazendo com
que as forças de capilaridade diminuam, diminuindo também a capacidade
de infiltração, que tende a um valor constante após algumas horas.

+ Vegetação
Uma cobertura vegetal densa como grama ou floresta tende a promover
maiores valores de capacidade de infiltração, devido ao sistema radicular
que proporciona a formação de pequenos túneis e que retira umidade
do solo através da transpiração, e à cobertura vegetal que previne a
compactação do solo.

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+ Compactação
Solos nus podem se tornar parcialmente impermeáveis pela ação
compactadora das grandes gotas de chuva (que também preenchem
os vazios do solo com material fino) e pela ação do tráfego constante de
homens, veículos ou animais.

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UNIDADE 4 – ESCOAMENTO

Tópico 1 - O escoamento subterrâneo e superficial


e suas relações para o dimensionamento de
estruturas hídricas

ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO
No processo de infiltração, a água da chuva pode ultrapassar a zona de aeração e
chegar à zona de saturação recarregando o reservatório subterrâneo, conhecido
como aquífero.

Existem 2 tipos de aquíferos: o confinado, que fica abaixo de uma superfície


impermeável, na qual a pressão da água no aquífero é superior à pressão atmosférica;
e o livre, também conhecido como lençol freático, no qual a pressão da água no
aquífero está igual à pressão atmosférica.

A água contida nos aquíferos escoa lentamente pelos poros ou fraturas das rochas
até aflorarem na superfície de forma concentrada, como em nascentes/olhos
d’agua, ou distribuída ao logo dos rios, sendo responsável pela manutenção do
fluxo durante a estiagem.

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Além de alimentar os rios, a água subterrânea também é acessada através de poços,
sendo frequentemente utilizada para abastecimento humano; em teoria, está mais
protegida de contaminantes.

É importante então destacar que é a capacidade de infiltração da água da chuva no


solo que permite o abastecimento dos aquíferos e que o processo de compactação
dos solos agrícolas com o uso de maquinário pesado em larga escala, a exposição do
solo e predominância de raízes pouco profundas podem modificar profundamente o
padrão nativo de infiltração, reduzindo a chegada de água da chuva nos reservatórios
subterrâneos.

ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Quando a água da chuva não consegue infiltrar, seja porque o terreno impermeável
já esteja saturado ou a velocidade de ocorrência da chuva é superior que a de
infiltração, observa-se a geração do escoamento pela superfície do terreno em
forma de lâmina ou por “veios” de água até finalmente atingir um curso d’água, por
onde irá se propagar.

Esse movimento é chamado de escoamento superficial, ou escoamento rápido, em


contraponto ao escoamento lento ou subterrâneo.

A parcela de chuva que se transforma em escoamento superficial é denominada


de chuva efetiva ou precipitação efetiva e seu valor depende das características do
terreno e das condições da chuva (COLLISCHINN; DORNELLES, 2015).

O coeficiente de escoamento superficial (C), também chamado coeficiente de


deflúvio ou coeficiente de run-off, pode ser compreendido como a chuva efetiva em
termos relativos, ou seja, a razão entre o que choveu e o que foi escoado. Em termos
práticos, sendo C=0,4, significa que 40% da chuva se transforma em vazão.

A vazão que observamos nos rios são então uma resposta à chuva que ocorreu na
bacia, tanto em curto como em longo prazo.

O que é Hidrograma?

Um hidrograma é um gráfico que representa o comportamento


da vazão em uma seção de um rio ao longo do tempo.

No hidrograma da Figura 22, observamos que, durante e imediatamente após


a chuva, predomina o escoamento superficial, enquanto durante a estiagem,
predomina o escoamento subterrâneo ou escoamento de base (COLLISCHINN;
DORNELLES, 2015).

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Figura 22: Exemplo de hidrograma de um rio como resposta a um
evento de chuva

Fonte: Adaptado de Collischonn (2008).

Os aspectos que envolvem tanto a vegetação quanto as características do solo têm


influência no comportamento da bacia hidrográfica e sua resposta aos eventos de
chuva. Na Tabela 6, são apresentadas algumas características e comportamentos
que podem ser gerados por influência desses fatores.

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Tabela 6: Características e comportamentos da vegetação e das
características do solo

FATOR COMPORTAMENTO

Floresta → > intercepção foliar → > demora a


ocorrência do escoamento superficial → > sistema
radicular mais profundo → H2O utilizada pela
vegetação pode ser extraída mais profundamente.

Presença de vegetação → reduz perdas de


solo (erosão), entre outros aspectos.

Ação antrópica → substitui as florestas →


urbanização e agricultura → altera o Escoamento
→ aumenta velocidade do escoamento →
redução de distâncias quando comparada a
Vegetação – Solo drenagem natural → gera picos de enchente.
– Ação Antrópica
Agricultura → compactação do solo → pode reduzir
a porosidade, diminuir teor de matéria orgânica,
sistema radicular mais superficial, capacidade de
infiltração reduzida → aumento do escoamento
superficial → maior tendência a enchentes.

Solos rasos têm maior tendência a escoamento


superficial, bem como os solos argilosos
→ maior tendência a enchentes.

Solos profundos menor escoamento superficial, bem


como os solos arenosos → menor tendência a enchentes.

Fonte: Adaptado de Collischinn; Dornelles (2015).

Em alguns casos, a vazão de resposta a um evento de chuva pode ser estimada


por métodos simplificados, como o Método Racional, cujo desenvolvimento será
apresentado a seguir para ilustrar a utilização de informações estudadas até aqui.

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CÁLCULO DA VAZÃO DE PROJETO – MÉTODO RACIONAL
Vazão de projeto é a vazão de enchente de um curso d´água vinculada à segurança
de uma obra hidráulica, associada à probabilidade de ocorrência de evento em um
ano qualquer. É estimada para a bacia de contribuição delimitada pela seção de
projeto (DAEE, 2006).

O Método Racional é utilizado para a estimativa de vazões de enchentes (vazões de


pico do hidrograma) em bacias que não apresentem complexidade e que tenham
até 5 km² de área de drenagem, por meio da seguinte expressão:

Sendo:

Q – vazão de pico (m³/s).

C – coeficiente de escoamento superficial (adimensional).

I – intensidade da chuva (mm/h).

A – área da bacia hidrográfica (km²).

O fator 0,278 surge devido à transformação dimensional entre a intensidade de


chuva, área da bacia e a vazão de pico calculada.

Para aplicar os métodos, é preciso determinar:

• área da bacia a partir de mapas, fotografias aéreas e até mesmo


levantamento topográfico local.
• A intensidade média da chuva.
• O coeficiente de escoamento superficial C.

Atenção!

O uso desse método não é aconselhado para grandes áreas


naturais. Entretanto, é satisfatório para o projeto de galerias
cujo os cálculos comumente consideram sub-bacias pequenas.

O coeficiente de escoamento superficial C é variável e depende da chuva, da


precipitação antecedente, da umidade do solo no início da precipitação, do tipo do
solo, da ocupação da terra, da rede de drenagem, do efeito do armazenamento e da
retenção superficial, além de outros fatores. Valores de coeficiente de escoamento
superficial podem ser obtidos na Tabela 7 e Tabela 8 em função do tempo de retorno
da chuva e das características do terreno.

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Tabela 7: Valores de C (Método Racional), áreas urbanas e com
grama

Tipo/ Período de retorno (anos)


Declividade
da Superfície 2 5 10 25 50 100 500

ÁREAS URBANAS

Asfalto 0,73 0,77 0,81 0,86 0,90 0,95 1,00

Concreto/Telhado 0,75 0,80 0,83 0,88 0,92 0,97 1,00

ÁREAS COM GRAMA

Grama cobrindo menos de 50% da área

Plana (0 – 2%) 0,32 0,34 0,37 0,40 0,44 0,47 0,58

Média (2 – 7%) 0,37 0,40 0,43 0,48 0,49 0,53 0,61

Inclinada (> 7%) 0,40 0,43 0,45 0,49 0,52 0,55 0,62

Grama cobrindo de 50% a 75% da área

Plana (0 – 2%) 0,25 0,28 0,30 0,34 0,37 0,41 0,53

Média (2 – 7%) 0,33 0,36 0,38 0,42 0,45 0,49 0,58

Inclinada (> 7%) 0,37 0,40 0,42 0,46 0,49 0,53 0,60

Grama cobrindo mais do que 75% da área

Plana (0 – 2%) 0,21 0,23 0,25 0,29 0,32 0,36 0,49

Média (2 – 7%) 0,29 0,32 0,35 0,39 0,42 0,46 0,56

Inclinada (> 7%) 0,34 0,37 0,40 0,44 0,47 0,51 0,56

Fonte: Chow et al., (1988).

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Tabela 8: Valores de C (Método Racional), áreas rurais

Tipo/Declividade Período de retorno (anos)


da Superfície 2 5 10 25 50 100 500

ÁREAS RURAIS

Campos Cultivados

Plana (0 – 2%) 0,31 0,34 0,36 0,40 0,43 0,47 0,57

Média (2 – 7%) 0,35 0,38 0,41 0,44 0,48 0,51 0,60

Inclinada (> 7%) 0,39 0,42 0,44 0,48 0,51 0,54 0,61

Pastos

Plana (0 – 2%) 0,25 0,28 0,30 0,34 0,37 0,41 0,53

Média (2 – 7%) 0,33 0,36 0,38 0,42 0,45 0,49 0,58

Inclinada (> 7%) 0,37 0,40 0,42 0,46 0,49 0,53 0,60

Florestas/Reflorestamentos

Plana (0 – 2%) 0,22 0,25 0,28 0,31 0,35 0,39 0,48

Média (2 – 7%) 0,31 0,34 0,36 0,40 0,43 0,47 0,56

Inclinada (> 7%) 0,35 0,39 0,41 0,45 0,48 0,52 0,58

Fonte: Chow et al., (1988).

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UNIDADE 5 – BALANÇO HÍDRICO

Tópico 1 - Disponibilidade hídrica em função das


entradas e saídas na bacia hidrográfica

De acordo com Mendonça (2001), o princípio da conservação da massa aplicado


ao ciclo hidrológico permite descrever quantitativamente o balanço hídrico. A
conservação da massa de um volume de controle representa que a taxa de variação
armazenada é igual a diferença entre as entradas e saídas, considerando a densidade
da água constate, sendo que as leis de conservação podemos equacionar em termos
de volume como:

Onde:

V – volume de água no interior do volume de controle.

I – taxa de entrada de água no volume de controle.

O – taxa de saída de água no volume de controle.

Se considerarmos apenas condições medias anuais, o termo dv/dt (taxa de variação


da velocidade em função do tempo) pode ser desprezível, assim teremos que:

Conforme Collischonn e Dornelles (2015), o balanço entre entradas e saídas de água


em uma bacia hidrográfica considera a precipitação como principal entrada de água,
já a saída pode ocorrer por evapotranspiração e escoamento. Assim, podemos
reescrever a equação do balanço hídrico:

Onde:

P – taxa média de precipitação (mm ano-1).

Esc – taxa média de escoamento superficial* (mm ano-1).

Et – taxa média de evapotranspiração (mm ano-1).

*A taxa de escoamento subterrâneo a longo prazo é considerada desprezível quando


comparada a outras grandezas.

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Atenção!

Destacamos que é extremamente importante a realização do


balanço hídrico como ferramenta para definir a disponibilidade
hídrica. Quantificando as entradas e saídas podemos avaliar se é
possível atender à demanda.

Finalizamos analisando que o ciclo hidrológico pode ser afetado por fatores
climáticos e antrópicos, sendo as alterações produzidas pelo homem extremamente
preocupantes. Ao adaptar o meio ambiente às suas necessidades, o homem pode
provocar mudanças irreversíveis no ciclo hidrológico regional, comprometendo a
disponibilidade hídrica, tanto em quantidade como em qualidade. A Figura 23 ilustra
a interferência das ações antrópicas no ciclo hidrológico.

Figura 23: Interferências no ciclo hidrológico

Fonte: Adaptado de http://aquafluxus.com.br/?p=821.

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De acordo com Fritzen e Binda (2011), o ciclo hidrológico, quando em condições
naturais, é considerado um sistema em equilíbrio. Entretanto, com a crescente
urbanização das bacias hidrográficas, nota-se mudanças, as quais geram alterações
na dinâmica do ciclo da água. Analisando as áreas urbanizadas, observa-se que os
fatores como a impermeabilização do terreno, a canalização de cursos fluviais e a
remoção da vegetação desencadeiam ou aceleram os processos de erosão e de
inundações.

Ouça para assimilar um pouco mais os seus conhecimentos:


Hidrologia Básica - Disponibilidade hídrica na bacia hidrográfica

Entenda melhor como as mudanças climáticas podem interferir


nos recursos hídricos assistindo ao vídeo da Agência Nacional de
Águas, em: A Água e as Mudanças Climáticas

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Referências

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geográfica: noções e propostas para uma didática da geomorfologia. Belo Horizonte.
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Glossário

Aluvionares: Que se refere, pertence ou é próprio a aluvião, terreno formado


por depósito de matérias orgânicas e inorgânicas deixado pelas águas; aluviano,
aluvionário, aluviônico.

Exutório: é um ponto de um curso d’água onde se dá todo o escoamento superficial


gerando no interior uma bacia hidrográfica banhada por este curso.

Montante para Jusante: Em hidráulica, tudo o que está abaixo de um dado ponto
de referência, ao longo de um curso d’água, até a sua foz

Pedogênese: formação de solos é o processo no qual determinado solo é formado,


assim como suas características e sua evolução na paisagem.

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