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MERCADOS DE
ENERGIA E EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
2
3 UNIDADE 1 - Introdução
4 UNIDADE 2 - Desafios do Desenvolvimento Sustentável
4 2.1 Os recursos hídricos e a gestão das águas
SUMÁRIO
16 3.1 Contratos de concessão e permissão
48 REFERÊNCIAS
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UNIDADE 1 - Introdução
Quanto à gestão dos recursos hídricos, Em 1989, foi criado o Instituto Brasileiro
1934 foi o ano que marcou nossa história do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
com a instituição do Código de Águas que Renováveis 1 (IBAMA) para ser o executor
objetivava estabelecer regras de controle da política ambiental.
para o uso e aproveitamento dos recur-
A Constituição Federal, promulgada em
sos hídricos e definir a base para a gestão
1988, deu destaque aos recursos hídricos
pública do setor de saneamento. Quanto
e à outorga, uma vez que o inciso XIX do
à organização institucional do setor públi-
artigo 21º estabelece que compete à União
co, voltado, principalmente, para a explo-
instituir o sistema nacional de gerencia-
ração da água como força hidráulica para
mento de recursos hídricos e definir crité-
geração de energia elétrica, destaca-se a
rios de outorga de direitos de seu uso. O in-
criação do Departamento Nacional de Pro-
ciso VIII do artigo 20º define como bens da
dução Mineral – DNPM e, em seguida, do
União os potenciais de energia hidráulica.
Conselho Nacional de Águas e Energia Elé-
trica – CNAEE. Complementando a Constituição Fede-
ral, em 08/01/1997, foi publicada a Lei nº
A Constituição de 1946 procurou regu-
9.433, também denominada de “Lei das
lamentar a utilização dos recursos natu-
Águas”, que instituiu a Política Nacional de
rais, visando à exploração econômica dos
Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacio-
mesmos, reservando à União a competên-
nal de Gerenciamento de Recursos Hídri-
cia para legislar sobre as águas.
cos. São fundamentos da Política Nacional
Durante a década de 1970, destaca-se de Recursos Hídricos:
a instituição do Plano Nacional de Sane-
I - a água é um bem de domínio público;
amento – PLANASA, com a finalidade de
implantar uma política nacional para provi- II - a água é um recurso natural limitado,
mento de serviços de água e esgotos. dotado de valor econômico;
Ao longo da década de 1980, houve o III - em situações de escassez, o uso
retorno da participação da sociedade nas prioritário dos recursos hídricos é o consu-
questões políticas e socioambientais, por mo humano e a dessedentação de animais;
intermédio das entidades civis. A política
ambiental passou por reestruturações,
IV - a gestão dos recursos hídricos deve
sempre proporcionar o uso múltiplo das
das quais se destaca a Lei nº 6.938, de
31/08/1981, que estabeleceu o Progra- 1- Em 2007, os setores do IBAMA responsáveis pela gestão das
Unidades de Conservação foram separados do órgão, dando
ma Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e a origem ao ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação
constituição do Sistema Nacional de Meio da Biodiversidade, criado dia 28 de agosto de 2007, pela Lei
11.516.
Ambiente (SISNAMA). Tal sistema incluía o Tanto o IBAMA quanto o ICMBio são autarquias vinculadas ao
Ministério do Meio Ambiente e integram o Sistema Nacional
conjunto de instituições governamentais do Meio Ambiente (SISNAMA). O IBAMA é responsável pela
que deveriam se ocupar da proteção e da fiscalização e licenciamento ambiental em âmbito federal,
enquanto o ICMBio é responsável pela gestão das unidades de
gestão da qualidade ambiental, tendo por conservação federais – como Parques Nacionais, Estações Eco-
lógicas, Áreas de Proteção Ambiental, entre outras – atuando
instância superior o Conselho Nacional de também na fiscalização e licenciamento apenas dentro destes
territórios.
6
desta Lei e do seu regulamento, o qual, ob- drográficas, sendo os demais usos defini-
servadas as diretrizes estabelecidas nos dos a partir da articulação entre os órgãos
parágrafos deste artigo, deverá dispor so- gestores de recursos hídricos e a ANEEL,
bre: no controle da quantidade de água que
será disponibilizada, desde que não haja
[...]
prejuízo da geração. Isso vai contra os fun-
VIII - mecanismo de realocação de ener- damentos da Política Nacional de Recursos
gia para mitigação do risco hidrológico. Hídricos da Lei nº 9.433, que estabelece
como usos prioritários o consumo humano
Segundo Souza (2004), o ONS gerencia
e a dessedentação de animais. Além disso,
o novo sistema de maneira centralizada,
a outorga visa assegurar o controle quanti-
objetivando o custo mínimo global; as em-
tativo e qualitativo dos usos da água, sen-
presas têm pouca influência nesse proces-
do principalmente condicionada a preser-
so, não havendo oferta de preços, só es-
vação do uso múltiplo.
forços para diminuição de custos.
Por outro lado, o artigo 3º da Lei nº
No que tange a base legal, não está claro
9.648 dá nova redação ao artigo 28º da Lei
que o setor elétrico é mais um usuário no
nº 9.074, que em seu parágrafo 3º estabe-
contexto dos usos múltiplos de recursos
lece:
hídricos. Um fato que revela esta questão
é a revogação do parágrafo único do arti- É vedado (...) estipular, em benefício
go 2º da Lei nº 9.427, que definiu a ANEEL da produção de energia elétrica, qual-
como responsável pela promoção da arti- quer forma de garantia ou prioridade
culação com os Estados e o Distrito Fede- sobre o uso da água da bacia hidrográ-
ral, para o aproveitamento energético dos fica, salvo nas condições definidas em
cursos de água e a compatibilização com a ato conjunto dos Ministros de Estado
política nacional de recursos hídricos. Ou- de Minas e Energia e do Meio Ambiente,
tro exemplo que pode ser citado é o expos- dos Recursos Hídricos e da Amazônia
to no parágrafo 3º do artigo 31: Legal, em articulação com os Governos
dos Estados onde se localiza cada bacia
Os órgãos responsáveis pelo geren-
hidrográfica.
ciamento dos recursos hídricos e a ANE-
EL devem se articular para a outorga de Neste caso, pode-se inferir que o ato
concessão de uso de águas em bacias conjunto previsto seja a declaração de re-
hidrográficas, de que possa resultar a serva de disponibilidade hídrica, tal como
redução da potência firme de poten- definida no artigo 7º e no parágrafo 2º da
ciais hidráulicos, especialmente os que Lei nº 9.984, de criação da ANA:
se encontrem em operação, com obras
iniciadas ou por iniciar, mas já concedi- Para licitar a concessão ou autorizar o uso
das. de potencial de energia hidráulica em corpo
de água de domínio da União, a Agência Na-
Uma possível interpretação conduz ao cional de Energia Elétrica – ANEEL deverá
entendimento de que os aproveitamentos promover, junto à ANA, a prévia obtenção
hidráulicos são prioritários nas bacias hi- de declaração de reserva de disponibilidade
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riféricas nas quais formas tradicionais de dade às mudanças que levarão ao desenvol-
produção e cultura ainda predominam. Será vimento sustentável.
preciso considerar as diferenças temporais
necessárias para a percepção e efetiva ocor- 2.3 Meio ambiente e susten-
rência de transformações nas diferentes or-
ganizações sociais, uma vez que essa multi-
tabilidade
plicidade sugere diversas respostas para os Quando se fala em meio ambiente, a pri-
problemas de sustentabilidade de acordo meira ideia que vem à mente é relacionada
com cada contexto, ressaltando a importân- com a natureza, plantas e animais, contudo,
cia da integração entre soluções locais e uma na realidade, o meio ambiente é mais amplo
solução global. e complexo, podendo ser rural ou urbano,
incluindo até mesmo conjuntos arquitetôni-
Dentro dessa visão, ressaltam os auto- cos, ruas, praças, etc.
res, um sistema baseado no uso racional de
recursos renováveis, na reciclagem de mate- De acordo com o art. 3º, I, da Lei nº
riais, na distribuição justa dos recursos natu- 6.938/81, o meio ambiente é “o conjunto de
rais e no respeito a todas as formas de vida condições, leis, influências, alterações e in-
da terra oferece uma solução com equilíbrio terações de ordem física, química e biológica,
dinâmico e harmônico entre o ser humano e que permite, abriga e rege a vida em todas as
a natureza. suas formas”.
mam o espaço urbano construído (CF, 1988, Com relação ao meio ambiente, o setor
art. 21, XX, 182 e segs., art. 225); energético produz impactos ambientais em
toda sua cadeia de desenvolvimento, desde
meio ambiente do trabalho – é inte-
a captura de recursos naturais básicos para
grado pelo conjunto de bens, meios e
seus processos de produção até seus usos
instrumentos, de natureza material e finais por diversos tipos de consumidores.
imaterial, em face dos quais o ser humano
Ao final da unidade listaremos, do ponto
exerce as atividades laborais (CF, 1988, art.
de vista global, a participação significativa da
200, VIII).
energia nos principais problemas ambientais
preservação ambiental – como o da atualidade.
próprio nome já sugestiona, é o ato de pro-
teção contra algum dano. “É a ação de pro- 2.4 Sistema de Gestão Am-
teger contra a destruição e qualquer forma
de dano ou degradação de um ecossistema,
biental
uma área geográfica ou espécies animais e No dicionário eletrônico da língua portu-
vegetais ameaçados de extinção”. guês (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,
1986), gestão é o ato de gerir, administrar,
degradação Ambiental, ao contrário, gerenciar. Transportando e relacionando o
é toda alteração adversa das características conceito com as questões do meio ambien-
qualitativas do meio ambiente. te, podemos inferir que Gestão Ambiental é
a administração do exercício de atividades
De modo geral, as empresas são respon-
econômicas e sociais de forma a utilizar de
sáveis por gerar impactos na natureza em
maneira racional os recursos naturais, reno-
suas principais áreas (água, energia, recur-
váveis ou não.
sos naturais variados e geração de resíduos).
Independente do seu porte, toda empresa A gestão ambiental deve visar o uso de
deve estar focada na prática da responsa- práticas que garantam a conservação e pre-
bilidade social e ambiental (como já falamos servação da biodiversidade, a reciclagem
anteriormente), para diminuir e prevenir das matérias-primas e a redução do impac-
efetivamente os impactos que possa causar, to ambiental das atividades humanas sobre
dessa forma contribuindo ativamente para a os recursos naturais. Fazem parte também
preservação do planeta. do arcabouço de conhecimentos associados
à gestão ambiental técnicas para a recupe-
Voltando a focar a energia, há uma gran-
ração de áreas degradadas, técnicas de re-
de discussão sobre a relação entre energia e
florestamento, métodos para a exploração
desenvolvimento, enfocando, dentre outros
sustentável de recursos naturais, e o estudo
aspectos, a disparidade entre os cenários
de riscos e impactos ambientais para a ava-
energéticos nacionais e regionais, a exten-
liação de novos empreendimentos ou am-
são do atendimento energético a cada ser
pliação de atividades produtivas.
humano (universalização do atendimento), a
oferta de energia necessária ao atendimen- A prática da gestão ambiental introduz
to das necessidades básicas e a questão da a variável ambiental no planejamento em-
equidade. presarial, e quando bem aplicada, permite
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a redução de custos diretos – pela diminui- a política e serve, inclusive, para explicitá-la.
ção do desperdício de matérias-primas e
f) Sistema organizacional – é um siste-
de recursos cada vez mais escassos e mais
ma no qual as relações entre pessoas predo-
dispendiosos, como água e energia – e de
minam sobre as relações entre equipamen-
custos indiretos – representados por san-
tos.
ções e indenizações relacionadas a danos ao
meio ambiente ou à saúde de funcionários e g) Sistema operacional – é um sistema
da população de comunidades que tenham no qual as relações entre equipamentos pre-
proximidade geográfica com as unidades de dominam sobre as relações entre pessoas.
produção da empresa. Por extensão, é operacional o sistema que,
mesmo apresentando intensa rede de rela-
Uma vez que gestão é o ato de coordenar
ções pessoais, apresente características re-
esforços de pessoas para atingir os objetivos
petitivas e mecânicas de trabalho.
da organização, devemos primar por uma
gestão eficiente e eficaz, realizada de modo h) Programa – é um conjunto de ações
que as necessidades e os objetivos das pes- desenvolvidas dentro de determinado cam-
soas sejam consistentes e complementares po de ação. Promove a evolução da organiza-
aos objetivos da organização a que estão ção rumo aos objetivos. São constituídos por
vinculadas (CARDELLA, 1999). objetivos específicos, diretrizes, estratégias,
metas, projetos, atividades e planos de ação.
Sistema de gestão pode ser definido en-
tão como um conjunto de instrumentos in- i) Meta – é um ponto intermediário na tra-
ter-relacionados, interatuantes e interde- jetória que leva ao objetivo.
pendentes de que uma organização faz uso
para planejar, operar e controlar suas ativida-
j) Projeto – é a menor unidade de ação ou
atividade que se pode planejar e avaliar em
des com o intuito de alcançar seus objetivos.
separado e, administrativamente, implantar.
Cardella (1999) define como instru- Tem característica não repetitiva de traba-
mentos do sistema de gestão: lho.
Cabe a cada organização adotar um siste- Uma boa gestão leva à proteção do meio
ma de gestão escolhido entre os disponíveis ambiente, dever de todos e de cada um dos
ou criar um próprio, de acordo com suas ne- seres que habita este planeta e neste con-
cessidades e especificidades. texto, vários são os programas que você
poderá aplicar no ambiente organizacional,
Para Arantes (1994 apud ARAÚJO, 2002),
dentro de sua formação que é multidiscipli-
as empresas têm um papel claro a desempe-
nar.
nhar perante a sociedade: prover produtos
de valor (utilidades) que irão satisfazer às
necessidades de um grupo representativo
2.5 impactos do setor ener-
de pessoas (clientes), praticando padrões de gético no meio ambiente
comportamento (conduta) aceitos pela so- a) Poluição do ar urbano:
ciedade. Além desse papel, as empresas têm
obrigações internas a cumprir: satisfazer as A poluição é um dos problemas atuais
expectativas de seus empreendedores e co- mais visíveis. Grande parte da
laboradores (realizações) e ter um compor- poluição, amplamente relacionada ao uso
tamento (conduta) coerente com suas con- de energia, deve-se ao transporte e à produ-
vicções, crenças e valores, portanto, Sistema ção industrial. A produção de eletricidade a
de Gestão é um conjunto, em qualquer nível partir de combustíveis fósseis é uma fonte
de complexidade, de pessoas, recursos, po- de emissão de óxido de enxofre (SOx), óxi-
líticas e procedimentos. Esses componentes dos de nitrogênio (NOx), dióxido de carbono
interagem de um modo organizado para as- (C02), metano (CH4), monóxido de carbono
segurar que uma dada tarefa seja realizada, (CO) e partículas, em quantidades que de-
ou para alcançar ou manter um resultado es- pendem de características específicas de
pecífico. cada usina e do tipo de combustível utilizado
Um Sistema de Gestão é uma estrutura (gás natural, carvão, óleo, madeira, energia
organizacional composta de responsabilida- nuclear etc.). Há também a ocorrência de po-
des, processos e recursos capazes de imple- luição de interiores (locais fechados) devida
mentar tal gestão, de forma que seu objeto a emissões de CO durante atividades domés-
seja eficazmente operacionalizado por to- ticas com uso de determinadas fontes ener-
dos os gestores de pessoas e contratos da géticas, principalmente em áreas rurais.
empresa, vindo a fazer parte da cultura e dos b) Chuva ácida:
valores dessa organização (DE CICCO; FAN-
TAZZINI, 1991). Resulta do efeito da poluição; é causada
por reações ocorridas na atmosfera com o
Enfim, como pondera Araújo (2002), os dióxido de enxofre (SO2) e os óxidos de ni-
sistemas de gestão se mostram como forma trogênio (NOx), que levam à concentração
eficiente de se implementar ideias, ou seja, de ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico
novos valores culturais às empresas, permi- (HNO3) na chuva. Esses ácidos têm efei-
tindo que ações efetivas venham a ocorrer, tos bastante negativos na vegetação e nos
mudanças se operem e o projeto corporativo ecossistemas. A geração de energia elétrica
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positivo poderá ser utilizado para abater Abaixo temos a matriz de energia elé-
o consumo em outro posto tarifário, em trica atualizada em 02/02/2014.
outra unidade consumidora (desde que
as duas unidades estejam na mesma área
de concessão e sejam do mesmo titular)
ou ainda na fatura do mês subsequente.
Vale lembrar que os créditos de energia
gerados continuam válidos por 36 meses.
Tipos de Usinas:
UHE - Usinas Hidrelétricas (Caracte- definição deveria contemplar seu aspec-
rizada por possuir potência instalada su- to semântico e os aspectos mais gerais
perior a 30 MW); do espírito da lei, tais como diminuir a ne-
cessidade de investimentos e melhorar a
UTE - Usinas Termelétricas;
qualidade dos serviços, contribuindo para
PCH - Pequenas Centrais Hidrelétri- a modicidade tarifária.
cas (Caracterizada por possuir potência
No aspecto semântico vale lembrar que
instalada entre 1MW e 30MW);
o adjetivo está em desuso na língua portu-
EOL - Usinas Eolioelétricas; guesa há bastante tempo sendo seu signi-
ficado, segundo Aurélio:
UTN - Usinas Termonucleares;
“Ancilar. [Do lat. ancillare.] Adj. 2 g. 1.
SOL - Fontes Alternativas de Ener- Relativo a ou próprio da ancila 2. Auxiliar,
gia;
subsidiário”.
CGH - Central Geradora Hidrelétrica Serviços ancilares são aqueles que com-
(unidade geradora de energia com poten-
plementam os serviços principais que, na
cial hidráulico igual ou inferior a 1 MW (um
segmentação brasileira, são caracteriza-
megawatt), normalmente com barragem
dos pela geração, transmissão, distribui-
somente de desvio, em rio com acidente
ção e comercialização. Estes serviços, em
natural que impede a subida de peixes).
um sistema integrado como o brasileiro,
se caracterizam por relações causa-efeito
3.4 Serviços ancilares que afetam os sistemas como um todo e
A expressão “serviço ancilar” foi empre- que ultrapassam as fronteiras da área de
gada na Lei nº 9.648/98 (Art. 13, Parágra- abrangência das empresas e/ou dos servi-
fo único, “d” e Art. 14, § 1º, “d”) sem uma ços principais.
definição explícita do seu significado. Tal
Para que possam ser definidos como
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serviços e que sejam estabelecidas formas serviços que contribuem para segurança
de remuneração do agente responsável, confiabilidade e qualidade do suprimento
no entanto, é preciso que ela seja mensu- de energia elétrica, tornando-os impres-
rável (INEE, 2006). cindíveis à operação eficiente do sistema
elétrico em um ambiente de mercado.
Souza (2006) explica de maneira bem
didática o que vem a ser os serviços anci- No Brasil, os Serviços Ancilares de gera-
lares: ção e transmissão foram definidos em 10
de junho de 2003, através da Resolução
As mudanças estruturais nas empresas
nº 265 publicada pela Agencia Nacional de
de energia elétrica, decorrentes do pro-
Energia Elétrica – ANEEL. Embora tenha
cesso de desverticalização, resultaram
ocorrido tal definição, regras para remune-
na separação das atividades de geração,
ração da prestação destes serviços foram
transmissão e distribuição de energia elé-
propostas apenas para o Serviço Ancilar
trica.
prestado pelo gerador quando o mesmo
Com o processo de desverticalização trabalha como compensador síncrono, ou
surge a necessidade de repartição dos seja, os geradores que produzem apenas
custos de operação, de maneira que os potência reativa (capacitativa ou indutiva).
agentes envolvidos sejam remunerados
Outro exemplo de serviço ancilar seria o
adequadamente e que as restrições do sis-
autorrestabelecimento (black start).
tema sejam atendidas, viabilizando as ope-
rações de mercado.
3.5 Bandeiras tarifárias
Para que o processo de repartição dos A partir de 2015, as contas de energia
custos ocorra com o máximo de eficiência terão uma novidade: o Sistema de Bandei-
possível, há a necessidade de definir os di- ras Tarifárias. As bandeiras verde, amarela
ferentes tipos de serviços prestados com o e vermelha indicarão se a energia custará
objetivo de conhecê-los, organizá-los por mais ou menos, em função das condições
função e definir metodologias para identi- de geração de eletricidade.
ficação dos envolvidos no fornecimento e
recebimento destes serviços. Bandeira verde: condições favorá-
veis de geração de energia. A tarifa não so-
Definidos os envolvidos no fornecimen- fre nenhum acréscimo.
to e recebimento dos serviços prestados,
o próximo passo é definir métodos de re- Bandeira amarela: condições de
muneração destes serviços, sem que haja geração menos favoráveis. A tarifa sofre
subsídios cruzados e sem perder de vista acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 qui-
os estímulos necessários à expansão do lowatt-hora (kWh) consumidos.
sistema. Bandeira vermelha: condições mais
Uma classe de serviços melhor definida custosas de geração. A tarifa sobre acrés-
após o processo de reestruturação do se- cimo de R$ 3,00 para cada 100 kWh consu-
tor elétrico é a dos Serviços Ancilares. Os midos.
Serviços Ancilares são definidos como os Para facilitar a compreensão das ban-
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ano depois de ocorridos, quando a tarifa reais por quilowatt-hora (R$/kWh). Esse
reajustada passa a valer. Com as bandei- valor, ao ser multiplicado pela quantidade
ras, haverá a sinalização mensal do custo de energia consumida num determinado
de geração da energia elétrica que será período, em quilowatt (kW), representa a
cobrada do consumidor, com acréscimo das receita da concessionária de energia elé-
bandeiras amarela e vermelha. Essa sina- trica. A receita da distribuidora é destina-
lização dá, ao consumidor, a oportunidade da a cobrir seus custos de operação e ma-
de adaptar seu consumo, se assim desejar nutenção, bem como remunerar de forma
(ANEEL, 2014. Disponível em: http://www. justa o capital investido de modo a manter
aneel.gov.br/area.cfm?idArea=758). a continuidade do serviço prestado com a
qualidade desejada.
3.6 Tarifação do consumi- As empresas concessionárias fornecem
dor final energia elétrica a seus consumidores com
Os consumidores de energia elétrica base em obrigações e direitos estabeleci-
pagam por meio da conta recebida da sua dos em um Contrato de Concessão, cele-
empresa distribuidora de energia elétrica, brado com a União, para a exploração do
um valor correspondente a quantidade de serviço público de distribuição de energia
energia elétrica consumida, no mês ante- elétrica em sua área de concessão.
rior, estabelecida em kWh (quilowatt-hora) No momento da assinatura do Contrato,
multiplicada por um valor unitário, denomi- a empresa concessionária reconhece que
nado tarifa, medida em R$ / kWh (reais por o nível tarifário vigente, ou seja, as tarifas
quilowatt-hora), que corresponde ao preço definidas na estrutura tarifária da empre-
de um quilowatt consumido em uma hora. sa, em conjunto com os mecanismos de
As empresas de energia elétrica pres- reajuste e revisão das tarifas estabeleci-
tam este serviço por delegação da União na dos nesse contrato, são suficientes para a
sua área de concessão, ou seja, na área em manutenção do seu equilíbrio econômico-
que lhe foi dado autorização para prestar -financeiro.
o serviço público de distribuição de energia Os contratos de concessão estabelecem
elétrica. que as tarifas de fornecimento podem ser
Cabe à Agência Nacional de Energia Elé- atualizadas por meio de três mecanismos:
trica – ANEEL – estabelecer tarifas que as- a) Reajuste tarifário anual:
segurem ao consumidor o pagamento de
uma tarifa justa, como também garantir o Este mecanismo tem como objetivo res-
equilíbrio econômico-financeiro da conces- tabelecer o poder de compra da receita
sionária de distribuição para que ela possa obtida por meio das tarifas praticadas pela
oferecer um serviço com a qualidade, con- concessionária.
fiabilidade e continuidade necessárias.
A receita da concessionária de distribui-
A tarifa regulada de energia elétrica ção é composta por duas parcelas: a “Par-
aplicada aos consumidores finais corres- cela A”, representada pelos custos não-ge-
ponde a um valor unitário, expresso em renciáveis da empresa (encargos setoriais,
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Selo Procel
Fonte:http://www.inmetro.gov.br/consumidor/etique-
tas.asp
Alguns fatos não possuem uma data Com o aumento do consumo de ener-
certa, outros possuem data aproxima- gia no mundo, a sociedade vem a cada dia
da e alguns têm datas precisas. O surgi- se preocupando com as medidas de uso
mento da preocupação mundial com a racional das diversas formas de energia
questão da eficiência energética possui utilizadas, notadamente a energia elé-
precisão: dia 17 de outubro de 1973, data trica. Há também que considerar que a
conhecida como a do primeiro choque do geração de energia, seja ela hidráulica, a
petróleo. óleo, a carvão e a gás natural, agride de
uma forma ou de outra o meio ambiente.
Naquele dia, os produtores majoritá-
Logo, é necessário preservar as fontes
rios da Organização dos Países Exporta-
de energia existentes comercialmente e
dores de Petróleo (OPEP) reduziram a ex-
aumentar a eficiência dos aparelhos con-
tração, elevando o preço do barril de US$
sumidores para evitar uma maior agres-
2,90 para US$ 11,65 em apenas 90 dias,
são ao meio ambiente (MAMEDE FILHO,
ou seja, o valor do barril foi multiplicado
2012).
por um fator muito próximo de quatro.
Atualmente, o governo brasileiro tem
A Agence France-Presse (2014) tam-
desenvolvido uma política moderada de
bém conta que a OPEP estabeleceu que
conservação de energia com a finalidade
os preços do petróleo seriam fixados pela
de reduzir os desperdícios, notadamente
própria organização e não pelas compa-
da área industrial, comercial e de ilumi-
nhias distribuidoras de petróleo, fazendo
nação pública, buscando uma melhor uti-
seu preço saltar de US$ 4,00 o barril para
lização da energia consumida. O PROCEL,
cerca de US$ 40,00. Em janeiro de 2014,
órgão vinculado à ELETROBRAS, é o res-
o barril do tipo “light sweet” (WTI) para
ponsável direto pela execução das políti-
entrega em março perdeu 74 centavos,
cas de eficientização energética, agindo
a 97,49 dólares, no New York Mercantile
das mais diferentes formas, tais como na
Exchange (Nymex).
educação, na promoção, no financiamen-
Declarada a crise, os governos e as so- to, no incentivo, etc.
ciedades, em geral, foram se conscien-
Se focarmos em uma instalação indus-
tizando de que era necessário conter os
trial, por exemplo, o estudo da eficiência
desperdícios de energia e implementar
energética requer agir nos diferentes ti-
programas para alcançar esse objeti-
pos de carga com a finalidade de verificar
vo. No Brasil, os Ministérios das Minas e
o seu potencial de desperdício. Além das
Energia e Indústria e Comércio tomaram
mencionadas cargas, devem ser imple-
para si essa tarefa em 1985, instituindo
mentadas certas ações que podem resul-
o Programa Nacional de Conservação de
tar na racionalização do uso de energia e
Energia Elétrica – PROCEL , cuja função
consequente economia na fatura mensal
básica era integrar as ações de conserva-
de energia elétrica. Essas ações devem
ção de energia, na época em andamento
ser implementadas nos segmentos de
por iniciativa de várias organizações pú-
consumo a seguir enumerados:
blicas e privadas.
iluminação;
26
Essa medição tem por objetivo princi- niza-se uma tabela horária média a partir
pal avaliar os ganhos obtidos a partir da da soma das demandas respectivas de
implementação das medidas de eficiên- cada dia em cada horário. Por exemplo, o
cia energética. Para isso é necessário que valor da demanda média de 73 kW regis-
as medições sejam realizadas durante a trada no horário de 11:45 horas mostra-
fase de levantamento e após a conclusão da na Tabela a seguir (parte da medição
das ações desenvolvidas. A diferença en- completa) é o resultado da média dos
tre os valores de energia e demanda das valores de demanda dos dias da semana,
duas medições mostra os ganhos obtidos nesse mesmo horário. Já o gráfico mos-
com o projeto. tra a formação das curvas registradas
no período de medição. Para efeito de
Essa medição deve ser realizada por
avaliação dos resultados, devem ser con-
um período mínimo de uma semana para
sideradas apenas as curvas médias das
que se possam obter resultados satisfa-
medições realizadas antes e depois das
tórios. Com os resultados das demandas
ações de eficiência energética.
ativas horárias, obtidas a cada dia, orga-
Medição semanal em kW
Sempre que for adotada uma ação de Fc - fluxo de caixa descontado que cor-
eficiência energética esta deve ser pre- responde a diferença entre as receitas e
cedida de uma análise econômica. O mé- despesas realizadas a cada período con-
todo de cálculo denominado Valor Pre- siderado, em R$ ou US$;
sente Líquido (VPL) é de fácil execução
Ir - taxa interna de retorno ou taxa de
e deve ser aplicado em todas as ações de
desconto;
eficiência energética.
T - tempo, em meses, trimestre ou ano,
O Valor Presente Líquido é a soma al-
a que se refere a taxa interna de retorno;
gébrica de todo fluxos de caixa descon-
tados para o instante T = 0. Pode ser de- N - número de períodos.
terminado através da Equação:
Através desse método pode-se deter-
minar o tempo de retorno do investimen-
to, observando-se a Planilha de Cálculo
da Tabela abaixo e o gráfico seguinte.
Quando a curva dos fluxos acumulados
Onde: tocar a reta representativa do investi-
mento, obtém-se o tempo de retorno do
Fac - fluxos acumulados, em R$ ou em
investimento realizado.
US$;
Para que o usuário do sistema de ilumi- Esse acréscimo poderá ser evitado se as
nação tenha sempre as condições de ilu- lâmpadas forem substituídas logo que
minância na forma como foi inicialmente queimem.
projetado, é necessário que o profissio-
b) Condutores elétricos
nal de manutenção execute as seguintes
tarefas: O dimensionamento dos condutores
elétricos, incluindo-se aí a escolha da sua
as paredes, o forro e as janelas de-
isolação, pode conduzir projetos de bai-
vem ser limpos com determinada frequ-
xas perdas elétricas.
ência, já que, normalmente, quando é
projetado um sistema de iluminação, o As principais ações que devem ser
projetista determina o número de lâmpa- desenvolvidas são:
das de acordo com a cor das paredes, piso
e teto, na condição de limpos. Se as pare- b.1) Dimensionamento da seção
des, teto e piso ficam sujos, a iluminância dos condutores
no recinto se torna menor, prejudicando corrente de carga;
as pessoas que utilizam o referido am-
biente; queda de tensão;
c) Circuito de distribuição de ar é
constituído pelos equipamentos utili-
zados na circulação do ar tratado, tubu-
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Evitar a entrada do ar exterior no ambiente cli- Verificar as condições dos condensadores das
matizado, mantendo as portas e janelas sempre serpentinas.
fechadas.
Verificar se há incrustações nas superfícies dos
Limpar periodicamente os filtros do aparelho trocadores de calor.
para melhorar o rendimento e higienizar o ar
Verificar se há vazamento do fluido frigorígeno.
circulante.
Verificar a perda de pressão nos trocadores de
Evitar que áreas climatizadas fiquem expostas
calor do equipamento de geração de frio.
ao sol, para evitar o aumento da carga térmica;
para isso utilizar cortinas, persianas ou película Verificar se há vazamentos de água no circuito
Evitar que a saída de ar do aparelho seja obstru- nas de arrefecimento do ar, dos filtros de ar e dos
ída. ventiladores.
Reparar periodicamente as tubulações de ar das centrais de climatização, para evitar a perda de calor
(frio).
Em edificações antigas, reavaliar o projeto de climatização adequando-o aos critérios mais modernos.
Utilizar barreiras verdes (árvores) para proteger a edificação contra a entrada de raios solares nos
ambientes dotados de janelas e portas de vidro.
h) Refrigeração
Os sistemas de refrigeração, se não
Onde: gerenciados adequadamente, consti-
tuem uma grande fonte de desperdício
Dm2 - diâmetro da nova polia do motor;
de energia elétrica. Para alcançar uma
Dm1 - diâmetro da polia atual do motor. melhor eficiência operacional desses
equipamentos, sugere-se seguir os pro-
Polia do ventilador, onde o diâmetro
cedimentos abaixo:
da polia do ventilador é dado pela seguin-
te equação: somente adquirir refrigeradores
certificados pelo PROCEL;
frio de alguns produtos do processo pro- minado pelo óleo ou pela água em algu-
dutivo; ma parte do processo e verificar que as
tomadas de ar devem ser providas de um
realizar estudos técnicos e econô-
ou dois filtros de abertura adequada ao
micos visando à recuperação de calor das
tamanho das partículas em suspensão no
unidades de refrigeração;
local.
é conveniente separar a produção
Em relação à rede de distribuição,
de água quente e vapor;
manter a pressão do sistema de ar com-
instalar redutores de fluxo de água primido tecnicamente adequada ao bom
em ramais alimentadores de grupo de funcionamento da máquina; nunca in-
torneiras que operam com elevada va- troduzir na rede do sistema de ar com-
zão; primido qualquer elemento restritor de
pressão para atendimento às exigências
analisar a viabilidade e avaliar os
de uma única máquina e, evitar que o ar
custos de substituição de chuveiros elé-
circulando em alta velocidade arraste o
tricos por sistema de aquecimento de
condensado formado no interior do sis-
água a gás natural ou energia solar;
tema para os pontos de uso das máqui-
analisar a viabilidade técnica e ava- nas, acarretando mau funcionamento
liar os custos para aproveitamento da das mesmas.
água quente de drenagem das cozinhas,
Sobre a pressão, cada máquina deve
lavanderias e unidades de refrigeração
receber do sistema a pressão nominal
para pré-aquecimento da água quente
indicada pelo fabricante, devendo-se di-
de utilização;
mensionar tantas redes de distribuição
analisar a viabilidade de instalação de ar comprimido quantas forem as má-
de coletores solares para o aquecimento quinas com pressões nominais diferen-
de água, em substituição aos aquecedo- tes.
res elétricos;
Em se tratando de vazamento nos
quando utilizar coletores solares e dutos, válvulas e conexões, evitar vaza-
os respectivos reservatórios térmicos, mentos nos diversos elementos da rede
adquirir equipamentos certificados pelo de ar comprimido, pois a quantidade de
PROCEL - INMETRO. ar desperdiçada é proporcional ao nível
de pressão da rede.
j) Ar Comprimido
Os custos com os vazamentos é o prin-
Uma fonte de desperdício de energia cipal ponto de desperdício nos sistemas
elétrica bastante conhecida é a operação de ar comprimido. Estudos apontam que
do sistema de ar comprimido, cujos pon- entre 20 e 70% do ar comprimido produ-
tos básicos devem ser motivo de cuida- zido num compressor são desperdiçados
dos permanentes. entre este equipamento e os pontos de
Em relação à qualidade do ar comprimi- consumo (MAMEDE FILHO, 2012).
do, vale evitar que o mesmo seja conta-
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da, principalmente quando diversos apa- dem ter certeza que o meio ambiente e
relhos elétricos são ligados numa mesma as futuras gerações serão muito gratas,
tomada; pois do nosso uso racional e consciente
de hoje depende e muito uma vida com
inspecionar periodicamente as ins-
qualidade para os nossos descendentes.
talações elétricas, substituindo imedia-
tamente os condutores elétricos desgas-
tados;
REFERÊNCIAS