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Recursos Hídricos
Recursos Hídricos
Com o objetivo de enriquecer o diagnóstico da Plataforma Ceará 2050 foram realizados estudos setoriais em temas específicos.
Os trabalhos, elaborados por estudiosos e pesquisadores em cada assunto, têm cunho autoral. O diagnóstico do Ceará 2050 foi
coordenado pelo Prof. PHD Jair do Amaral Filho e analisou os últimos 30 anos de desenvolvimento do estado. O estudo setorial
especial de Recursos Hídricos complementa a análise qualitativa desta temática a partir da visão do autor Francisco de Assis
Souza Filho.
Autor
Sumário
1 Introdução ...................................................................................................... 2
Oferta .................................................................................................... 22
Demanda ............................................................................................... 35
1 Introdução
A Segurança Hídrica é imperativa para promoção do desenvolvimento
sustentável. A garantia de água em quantidade e qualidade adequadas para os usos–
humanos, econômicos e ecossistêmico - e a prevenção e a resposta a eventos
hidrológicos extremos - secas e cheias - são condições básicas para o desenvolvimento
da sociedade, sendo as mesmas, também, dimensões intrínsecas à segurança hídrica.
As crises devido à escassez hídrica associada as secas marcaram os ciclos de
desenvolvimento do Ceará, estas produziram colapsos na produção econômica, nos
sistemas urbanos, na saúde entre outros setores, produzindo migrações e grande
sofrimento para as populações. Estes fatos encontram-se amplamente documentado nos
relatos de secas como as de 1877-78, 1887-90, 1915, 1919, 1932, 1958, 1970, 1981-83,
1998, 2012-2017. Estes impactos tornaram o Risco Hidrológico em Risco Sistêmico por
sua abrangência multisetorial, por sua severidade potencialmente catastrófica para a
qualidade de vida e o desenvolvimento econômico das populações humanas.
Mitigar os impactos destes eventos tem sido um desafio intergeracional aos
cearenses. A redução destes impactos requer o reconhecimento que os processos
associados aos recursos hídricos têm características sócio-naturais. Compreender a
ocorrência da água na natureza em sua variabilidade espacial e temporal, reconhecer os
riscos oriundos destes padrões de ocorrência para reduzir as vulnerabilidades sociais
advindas destes riscos deve ser o caminho a ser trilhado. Grosso modo, esta tem sido a
trajetória do último século.
O Ceará é um estado com baixa disponibilidade hídrica, devido à combinação de
uma série de fatores, sobretudo: baixos índices de precipitação (inferiores a 900 mm);
altas taxas de evaporação (superiores a 2.000mm); irregularidade do regime de
precipitação (secas frequentes e por vezes plurianuais); e um contexto hidrogeológico
desfavorável (80% do território sobre rocha cristalina, com camada de solo raso e
poucos recursos hídricos subterrâneos). Por isso a maior parte dos rios são naturalmente
intermitentes, ou seja, são corpos d’água que secam durante a estação seca. As vazões
que possam vir a serem encontradas neste período tem como origem a liberação de água
dos reservatórios (perenização). Os eventos de secas plurianuais impõem que estes
reservatórios transportem a água dos anos chuvosos para anos secos subsequentes, este
processo caracteriza a regularização plurianual dos reservatórios estratégicos no Estado.
A evaporação dos lagos dos reservatórios impõe perdas de água
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1. Secretária dos Recursos Hídricos (SRH), criada em 1987, responsável pela formulação da Política
Estadual de Recursos Hídricos. Cabe à SRH promover o aproveitamento racional e integrado das águas;
coordenar, gerenciar e operacionalizar estudos, pesquisas, programas, projetos, obras, produtos e serviços
referentes a recursos hídricos, e promover a articulação dos órgãos e entidades estaduais do setor com os
órgãos e entidades federais e municipais. A SRH compõe e coordena o Sistema Integrado de Gestão de
Recursos Hídricos - SIGERH, que visa implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos, bem como
planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos. São vinculadas à
SRH: a Cogerh, a Sohidra e a Funceme. Mais informações: www.srh.ce.gov.br/ .
2. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) foi criada em 1993 com o objetivo de
gerenciar a oferta dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos de domínio do Estado e da União por
delegação. É o único órgão gestor do Brasil que é uma companhia pública, com sede em Fortaleza e oito
gerências regionais. Atualmente, a COGERH tem como modelo a gestão por resultados, orientados por
objetivos estratégicos, que podem ser monitorados, em torno de seis principais eixos de atuação: i)
operação e manutenção da infraestrutura hídrica; ii) Monitoramento quantitativo e qualitativo dos
recursos hídricos; iii) Estudos e projetos; iv) Gestão participativa (com destaque para a alocação
negociada de água, através dos comitês de bacia); v) Implementação dos instrumentos de gestão; e iv)
Desenvolvimento institucional. O Ceará foi o primeiro a implementar a cobrança pelo uso da água bruta
no Brasil, em 1996, que constitui a principal receita para o funcionamento da COGERH e para financiar
os custos de monitoramento e operação e manutenção da infraestrutura hídrica; a cobrança aumentou
substancialmente ao longo do tempo, indo de R$ 268 mil em 1996 a R$ 104 milhões em 2016. Até o
início da cobrança pelo uso da água bruta, foram recursos do BIRD que possibilitaram o
desenvolvimento institucional da COGERH (PROURB e PROGERIRH). Mais informações:
https://portal.cogerh.com.br/
5. Os comitês de bacia e comissões gestoras no Ceará são organismos colegiados que tem
como atribuição principal a alocação negociada de água, descrita adiante. Os comitês são
criados por bacias hidrográficas, enquanto as comissões gestoras atuam em unidades
hidrológicas locais, tais como um vale perenizado e açudes. Esses organismos, juntamente
com o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, têm praticado o compartilhamento de
decisões sobre alocação de água, sobretudo em situações de escassez, com os organismos
governamentais responsáveis pela gestão de recursos hídricos.
9
missões estrangeiras. Tais estudos contribuíram para a elaboração dos Planos Diretores
de Bacias, os quais, no caso cearense, deram suporte ao Plano Diretor do Vale do Rio
Jaguaribe, sob assistência da Missão Francesa, e do Vale do Rio Curu, com apoio da
Missão de Israel (SILVA, 2004).
Em 1961 é inaugurado o Açude Orós, na cidade de mesmo nome, com a
perspectiva de acumular água para os períodos de seca. Contudo, este reservatório só
passa a contribuir com a perenização do Vale do Jaguaribe nos anos 1980 quando foi
instalada o dispositivo de liberação de água. Dessa forma, torna-se possível a instalação,
já no contexto da ditadura iniciada em 1964, dos primeiros perímetros públicos
irrigados. Os perímetros atendiam à necessidade de conter as tensões no campo, que se
acirravam com a organização dos trabalhadores em torno da luta pela terra e com a
migração para a capital do Estado, como também visavam o desenvolvimento da
agricultura irrigada, dadas as dificuldades da produção agrícola frente à escassez de
água.
Nas últimas décadas tem sido executada, com custos de implantação e operação
elevados, a ampliação das infraestruturas de transferência hídrica entre diferentes
regiões do território através de adutoras e canais. Atualmente, essa infraestrutura é
complementar aos leitos naturais, levando água onde a rede natural não leva. Observa-se
perdas significativas no transporte em leitos de rios (30 a 80% em alguns rios no
período seco), utiliza-se água para transportar água.
Além disso, a capacidade de regularização plurianual em diversas bacias
hidrográficas cearenses encontra-se próxima de seu limite máximo (Ex: Bacias
Metropolitanas, Curu, Médio e Baixo, Médio e Alto Jaguaribe, Salgado e Banabuiu,
Acarau).
A disponibilidade de água subterrânea no Ceará é relativamente modesta
excetuando-se a região do Araripe, Apodi, faixa costeira e formação Serra Grande na
Ibiapaba. A disponibilidade em fraturas de rochas no cristalino é pequena não obstante
sua relevância para o abastecimento de populações rurais difusas e o abastecimento
emergência em períodos secos. A SOHIDRA tem desempenhado papel relevante na
construção de poços.
A deterioração da qualidade das águas em reservatórios, principalmente no
período seco, tem aderido este tema na agenda da política de água na última década.
Esta deterioração tem levado a impactos importantes no abastecimento urbano
associados a eutrofização, por exemplo. A COGERH vem monitorando a qualidade de
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Figura 1. Distribuição Espacial das Precipitações no Ceará. (a) médias dos totais anuais
no período 1981-2010 e (b) distribuição de 1990 a 2009.
Fonte: FUNCEME.
FIGURA QUADRO 2. Distribuição Espacial das Precipitações no Ceará. (a) médias dos totais anuais no período 1981-2010 e (b) distribuição de
1990 a 2009.
(b)
Fonte: FUNCEME.
16
1500
1400
1300
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Anos
17
2500
Precipitação Anual (mm)
2000
1500
1000
500
0
1840
1850
1860
1870
1880
1890
1900
1910
1920
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
Ano
l/s.ha. Sob esta hipótese poder-se-ia irrigar 70 mil hectares na década mais úmida e 20
mil hectares na década seca. A possibilidade de irrigar 3,5 vezes mais área é um
exemplo da relevância econômica da variabilidade decadal.
220
200
180
Afluências Iguatu
160
Média Movel (10 anos)
Polinômio
140
Vazão (m3/s)
120
100
80
60
40
20
0
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Figura 5. Desvios percentuais das vazões com relação as vazões médias do Século XX
para as afluências aos reservatórios: (a) Castanhão, (b) Orós, (c) Bananuiú e (d) Pacoti-
Riachão.
22
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Ano
rochas cristalinas, que ocupam setenta e três por cento (73%) da área do Estado. O
domínio sedimentar apresenta água em maior e melhor qualidade que a disponível no
domínio cristalino. A Figura 8 apresenta os principais aquíferos do Estado com os
valores percentuais de suas áreas de ocorrência conforme apresentado no Pacto da
Águas.
Figura 8. Mapa geológico esquemático do Ceará com a indicação dos principais
sistemas aquíferos e os percentuais das áreas de ocorrência.
(Aluviões – 2,9%)
Os Aluviões são aquíferos livres, com espessuras de até 5 metros. São representados por
sedimentos de granulometria muito fina, frequentemente intercalados com níveis argilosos e
orgânicos, derivados de uma ação erosiva sobre rochas sedimentares e migração de partículas das
zonas de mangue. Eles são, ainda hoje, os aquíferos mais utilizados pela população no interior
cearense.Eles podem ser de pequeno, médio e grande porte. Os poços que são implantados nas
aluviões de pequeno porte atingem vazões superiores a 10m³/h, na sua maioria. Enquanto que, as
aluviões de médio e grande porte geram vazões superiores a 50m³/h.
(Dunas/Barreiras – 10,0%)
Dunas/paleodunas se constituem os melhores potenciais hidrogeológicos ao longo do litoral
contribuindo substancialmente para o abastecimento de agua dessa região. São compostos por areias
pouco consolidadas e extremamente homogêneas, finas a médias, com diâmetro efetivo
predominando entre 0,15 a 0,25 mm e espessuras entre 10 - 25 metros.
A captação nesse tipo de aquífero é realizada por poços tubulares rasos, com profundidades
inferiores a 20 metros, que produzem vazão média de 6,0 m³/h, podendo alcançar até 16,0 m³/h.
Outro tipo de domínio hidrogeológico que ocorre ao longo do litoral é o Barreiras. Ele
possui uma espessura média entre 40 e 50 metros, representada por intercalações de níveis arenosos a
síltico-argilosos que condicionam a diferentes permeabilidades, tanto vertical quanto
horizontalmente. Com isso, sua potencialidade é baixa com vazão média de 2,8 m³/h.
(Apodi – 1,8%)
São um aquífero livre no qual a recarga se procede pela infiltração de aguas pluviais em
áreas de afloramento e pela transferência do Grupo Barreiras. A captação nesse tipo de domínio é
realizada por poços tubulares, com profundidades médias de 60 metros, que produzem vazões medias
superiores a 50,0m³/h, podendo alcançar até 200,0 m³/h. Vale ressaltar que:
a) As condições de solo, clima e topografia favorecem a agricultura irrigada o que leva ao
crescimento desordenado da irrigação. Isso pode levar a exaustão do aquífero como ocorreu em
Baraúnas-RN;
b) Existe o risco de contaminação devido ao uso indiscriminado de agrotóxicos;
c) É um aquífero extremamente vulnerável na área aflorante;
d) Verificou-se a existência de poços acima 300m (na área da Chapada do Apodi).
(Araripe – 4,2%)
É um domínio com uma diversificação litológica que se caracteriza por sequencias
alternadas de arenitos, siltitos, calcarios, argilitos e folhelhos, podendo alcançar uma espessura total
da ordem de 1.600m. Destaca-se o aquífero do Rio Batateira, Mauriti e o Missão Velha, cujas vazões,
em geral elevadas, podem atingir valores superiores a 250 m³/h. Tem-se, também, o Exu que libera
cerca de 140.000 m³/dia. Esses aquíferos são estudados por diversas instituições no Estado como: a
Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM); a COGERH; a FUNCEME; e a
Universidade Federal do Ceará.
(Parnaíba – 5,8%)
A Bacia Sedimentar do Parnaíba é a terceira maior do Brasil, contudo, no Ceará localiza-se apenas os
arenitos da formação Serra Grande. Estes podem alcançar uma espessura da ordem de 300 m.
Possuem um comportamento de aquífero fissural cujos poços tem profundidade de 67 m e vazões de
3,7m³/h. Nesse aquífero tem-se a preocupação com o: (i) O intenso desmatamento que reduz a
infiltração; e, (ii) O uso indiscriminado de agrotóxicos que aumenta o risco de contaminação.
(Cristalino – 72,9%)
O domínio do Cristalino tem fraca vocação aquífera, condicionada pela existência de zonas
fraturadas, abertas, interconectadas e associadas a fonte de recarga. Os poços têm profundidade
média de 50 a 60 metros, nível estático oscilando entre 10 e 20 metros, vazão média de 2 e 3 m³/h e
capacidade específica inferior a 1,0(m³/h)/m. A alimentação se dá pela infiltração pluviométrica,
drenagens influentes, lagoas, açudes e contribuição dos sistemas aquíferos sobrepostas.
Sua principal vantagem e a distribuição espacial, que possibilita o abastecimento da população
29
1994
NÚMERO DE POÇOS PERFURADOS.
1147
1111
774
592
405
349
336
304
294
282
267
263
261
238
232
214
197
197
169
161
157
147
137
127
93
89
90
47
41
28
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
ANO
Fonte: SOIDRA.
1200
1000
800
600
400
200
0
1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
ANO
transposta. Este segundo conflito pode ser mitigado frente a potencial associação entre
custos e a água alocada para cada um dos Estados.
Como reguladora do uso de recursos hídricos, a ANA emitiu outorga de direito
de uso ao Ministério da Integração Nacional (construtor da obra) no rio São Francisco
para a execução do PISF, com garantia de uma vazão de 26,4 m³/s para consumo
humano e dessedentação animal, mesmo em caso de secas na região. Essa vazão pode
chegar a alcançar a máxima instantânea de 127 m³/s quando a situação hídrica na bacia
do São Francisco estiver em melhores condições.
A Figura 13 mostra o traçado do PISF. O Eixo Norte é o que abastecerá o Ceará.
A entrada das águas do PISF no Ceará será pela bacia do Rio Salgado afluente do
Jaguaribe. Tendo ponto de entrega mais próximo ao Castanhão próximo ao município
de Aurora. O reservatório Castanhão armazenará as águas da transposição. O Ceará
espera receber de 8-10 m3/s das águas traspostas. Esta vazão é menor do que a vazão
ofertada para a Região Metropolitana de Fortaleza e Pecém que em 2012 chegou a 12
m3/s.
transposições como foi proposto pelo Governo do Estado do Ceará no Cinturão das
Águas.
O conjunto de canais, tuneis, estações de bombeamento do Cinturão das Águas
disponibilizaria água para regiões das bacias hidrográficas do Alto Jaguaribe, Acaraú e
Curu entre outras. O custo estimado da obra é de oito bilhões de reais. O primeiro
trecho dela está em curso e transporta a água desde a chegada da transposição em Jati
até aproximadamente o divisor de água da Bacia do Salgado e do Alto Jaguaribe. A
viabilidade técnica, econômica e ambiental em seu conjunto e de cada trecho necessita
ser analisada em profundidade com vistas a definição de sua prioridade frente a recursos
financeiros escassos.
A Secretaria de Recursos Hídricos está desenvolvendo projeto de infraestrutura
denominado de Malha D’Água. Este projeto objetiva suprir água para todas as sedes
municipais e principais distritos de todos os municípios cearenses através da construção
de uma ampla rede de adutoras. Os mananciais que suprirão esta rede são os que
consigam proporcionar maior segurança hídrica aos sistemas de abastecimento. Esta
rede terá capilaridade que permitirá abastecer praticamente todos os distritos do estado
com adutoras complementares a rede principal. Economias de escala importantes na
rede de estações de tratamento de água serão alcançadas com este projeto. Redução nas
perdas de transporte em rios serão alcançadas por transportar-se água em ductos e não
em rios, esta água não perdida transforma-se em maior segurança hídrica para as
populações. Este projeto tem como grande desafio a operação deste sistema e o aumento
do custo da água de suprimento das populações.
Demanda
As demandas para recursos hídricos cresceram de forma importante nas últimas
décadas. Este crescimento está associado ao aumento das populações humanas e ao
desenvolvimento econômico, notadamente da irrigação e da indústria.
A população do Ceará cresceu de 4,36 milhões de habitantes no ano de 1970
para 8,45 milhões de habitantes no ano de 2010 (IBGE) e 9,02 estimado para 2017. A
distribuição espacial desta população é muito concentrada aproximadamente 45% estão
na Região Metropolitana de Fortaleza (19 municípios), estando 30% na Capital. O
suprimento de água desta população e economia requer a construção de complexo
sistema de abastecimento de água com contribuição importante do abastecimento vindo
de águas de transposição de bacias. Esta região realiza pressão sobre os recursos
36
(instalado em 1975) com 8.000 hectares são perímetros do construídos pelo DNOCS
que representam esta primeira fase da irrigação.
Figura 16. Evolução do consumo de água bruta (m3) do Estado do Ceará (2011 a 2015).
41
1.000.000.000,00
900.000.000,00
800.000.000,00
700.000.000,00
600.000.000,00
500.000.000,00
400.000.000,00
300.000.000,00
200.000.000,00
100.000.000,00
0,00
2011 2012 2013 2014 2015
Consumo (m3) 543.375.322,31 684.441.332,36 849.085.250,21 913.950.159,05 807.892.017,22
Balanço Hídrico
A análise do balanço hídrico concentrado em cada uma das doze regiões
hidrográficas do Ceará é realizada nesta seção. Os dados utilizados foram os dos
Cadernos das Bacias Hidrográficas do Pacto das Águas.
O Balanço concentrado por regiões hidrográficas apresenta problemas por
desprezar as variações espaciais e temporais da oferta hídrica. Este é um grave
inconveniente. Resolveu-se apresentá-lo como um indicador global que permitisse uma
primeira aproximação da relação entre oferta e demanda de água.
O balanço hídrico das regiões hidrográficas e do Ceará é apresentado na Tabela
6.
A quantificação das demandas hídricas para os diversos usos foi compilada pelo
na Tabela 4. A demanda total por água no Ceará é estimada em 49 m 3/s (1,55 bilhões de
metros cúbicos por ano), sendo 57% da demanda para a irrigação, 24% demanda urbana
e 19% demanda industrial. O valor desta demanda é maior que o valor máximo
registrado em 2014 pela COGERH (0,9 bilhões de metros cúbicos por ano). Isto ocorre
devido ao fato do valor desta demanda já está incorporada toda a demanda dos
perímetros de irrigação em fase de implantação (Tabuleiros de Russas e Baixo Acaraú),
assim como, outras demandas consideradas plenas.
A oferta de água superficial com garantia de 90% é de 128 m 3/s (4,02 bilhões de
metros cúbicos por ano) e a de água subterrânea é de 12 m 3/s (0,37 bilhões de metros
cúbicos por ano). A garantia de 90% em frequência significa que em 9 de cada 10 anos
é possível retirar a vazão garantida, no outro ano a vazão é menor que a garantida
42
podendo ser zero, ou seja, colapso do sistema. O cálculo desta garantia é feito
simulando o reservatório em uma série temporal com aproximadamente 100 anos de
afluências, nestas simulações observa-se usualmente que as falhas de abastecimento se
concentram em durações de secas maiores que um ano. Esta disponibilidade funciona
como número de referência, pois o operador do sistema para evitar o potencial colapso
impõe restrições mais severas que as que definiram a regra de operação para o cálculo
da vazão com garantia de 90%. Observa-se então que 128 m3/s seria a demanda que
poderia ser suprida em anos regulares, em períodos de seca prolongada a demanda seria
bem menor que está podendo haver colapso do sistema. Faz-se está observação para
evitar um falso otimismo que os números da oferta poderiam produzir.
As Regiões Hidrográficas Metropolitanas e Baixo Jaguaribe aparecem em
situação de maior estresse hídrico. Estas bacias, assim como, Banabuiú recebem águas
do Médio Jaguaribe. A bacia do Acaraú também está em situação de estresse. Observa a
bacia do Alto Jaguaribe em situação confortável, no entanto este conforto é aparente já
que a parcela significativa da oferta localiza-se no Reservatório Orós, no exutório desta
região hidrográfica. Outra situação é da bacia do Curu que necessita ter seu balanço
hídrico melhor detalhado espacialmente em função da escassez prolongada que tem
observado em seu vale perenizado.
43
Tabela 6: Balanço Hídrico Concentrado das Regiões Hidrográficas do Ceará utilizando as informações do Pacto das Águas.
44
dupla função de ofertar água e ser demandador de água coloca algumas vezes esta
instituição em posição delicada para arbitrar conflitos de água em que participe outros
usuários.
A descrição da Política Nacional de Recursos Hídricos e da Política Estadual de
Recursos Hídricos é realizada me maiores detalhes a seguir. Em função de sua
relevância dedicou-se um item ao Financiamento da Política Estadual de Recursos
Hídricos.
Esta constituição aprofunda o domínio público nas águas. As águas passam a ser
bens da União ou dos Estados. O regime da dupla dominialidade. São águas da União
conforme o Artigo 20 em seu parágrafo III:
“os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de
limites com outros países, ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos
marginais e as praias fluviais”
O Artigo 26 em seu parágrafo I define como bens dos estados
“as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e
em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as
decorrentes de obras da União”
O Ceará por sua configuração geográfica tem todos os rios exceto o Poti-Longar
com nascente e foz no Estado. O que possibilitaria uma gestão exclusivamente estadual
das águas superficiais e subterrâneas no Estado se não fosse o comando constitucional
“ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União”. Este
comando constitui impõe que as águas nos lagos dos reservatórios construídos pelo
DNOCS são de domínio da União, cabendo a União sua gestão e outorga. Tendo
atualmente a ANA como responsável pela outorga desta água.
Produziu-se desta forma situação complexa onde a água no rio a montante de um
reservatório do DNOCS é de domínio estadual, a água no lago do reservatório é de
domínio da União e a água a jusante do reservatório é novamente de domínio estadual.
A Agência Nacional de Águas delegou para a Secretaria de Recursos Hídricos a outorga
das águas da União no Estado do Ceará resolvendo as dificuldades operacionais
oriundas da dupla dominialidade sobre águas de um mesmo curso fluvial.
A Constituição Federal definiu em seu Artigo 21 Parágrafo XIX que compete a
União “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir
critérios de outorga de direitos de seu uso”. Nasce neste dispositivo constitucional o
Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos que será regulamentado
pela Lei Federal 9433 de 8 de janeiro de 1997. A Lei 9433 é composta de três títulos: (i)
Política Nacional de Recursos Hídricos, (ii) Sistema Nacional de Gestão dos Recursos
Hídricos e (iii)Infrações e Penalidades.
Os objetivos e fundamentos da política nacional de recursos hídricos com grifo
nosso é apresentado no Quadro 2. Nos termos da Lei a água é definida como um bem
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público do ponto de vista jurídico dotado de valor econômico que deve satisfazer aos
múltiplos usos da água, não obstante ter o uso humano e a dessedentação animal como
prioritário; o processo de gerenciamento deve ser descentralizado e participativo e
utilizar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.
Os instrumentos de gestão dos recursos hídricos são: (i) Planos de Recursos
Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes da água; (iii) a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; (iv) a
cobrança pelo uso de recursos hídricos; (v) o Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos. Todos estes instrumentos de gestão excetuando o (ii) vem sendo aplicado no
Ceará. O enquadramento de águas de rios intermitentes e de reservatórios localizados
nestes rios é um problema teórico e prático em aberto. A Lei do Ceará como
posteriormente descrita adota estes instrumentos e adiciona outros como a Fiscalização
do uso da água.
O Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos hídricos (SINGREH) foi
criado tendo como função entre outras coordenar a política nacional de recursos hídricos
e arbitrar administrativamente os conflitos relativos aos recursos hídricos. O
planejamento, regulação, controle e cobrança pelo uso da água fazer parte das
atribuições do sistema.
O SINGREH é constituído instâncias de participação e organismos responsáveis
pela regulação e operação do sistema, compõem-no: (i) Conselho Nacional de Recursos
Hídricos; (ii) a Agência Nacional de Águas; (iii) os Conselhos de Recursos Hídricos dos
Estados e do Distrito Federal; (iv) Comitês de Bacia Hidrográfica; (v) os órgãos dos
poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências
se relacionem com a gestão de recursos hídricos; (vi) as Agências de Água.
As Agências de Água a que se refere a lei são organismos que apoiam o
gerenciamento de recursos hídricos em uma ou mais bacias hidrográficas, são
propriamente Agências de Bacia ou Regiões Hidrográfica, estando o seu domínio
operacional associado a um ou mais comitês de bacia.
48
A Agência Nacional de Água foi criada pela Lei Federal 9.984 foi criada com
finalidades regulatórias e operacionais na implementação, em sua esfera de atribuições,
da Política Nacional de Recursos Hídricos. Esta forte característica operacional
diferencia esta agência de suas congêneres, tais como, ANATEL e ANEEL.
Entre as XXII atribuições da ANA definidas no Artigo 4 de sua lei de criação
encontra-se a outorga de uso das águas de domínio da união. Os reservatórios
construídos pelo DNOCS no Ceará têm sua água outorgada pela ANA, por exemplo.
As resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e as resoluções da
Diretoria Colegiada da ANA constituem parte relevante do aparato normativo
infralegal.
49
400.000.000
350.000.000
300.000.000
250.000.000
200.000.000
150.000.000
100.000.000
50.000.000
0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Ano
Dados: Karine Machado Campos Fontenele (Dissertação de mestrado, 2013, atualizados
pela autora para 2016).
58
Figura 18. Evolução do valor arrecadado (R$) com a cobrança de água bruta no Estado
do Ceará (2011 a 2015).
100000000
90000000
Figura 19. Participação dos setores usuários no total arrecadado pela COGERH (ano
base 2014).
59
destes recursos será destinada para o projeto Malha d’água que tem por objetivo
garantira água para todas as sedes municipais e maiores distritos de água do Ceará. Este
deverá ser o principal projeto de infraestrutura de recursos hídricos no Ceará na próxima
década.
GERENCIAMENTO DAS ÁGUAS GOVERNANÇA DAS ÁGUAS ÁGUA E OUTRAS POLÍTICAS PÚBLICAS
• Monitoramento Quali-Quantitativo da Oferta da Água • Fortalecimento Institucional do Sigerh • Água e Saneamento Básico
• Monitoramento Quantitativo da Demanda de Água • Sustentabilidade Financeira do Sigerh • Água e o Setor Industrial
• Regulação de Usos da Água • Fortalecimento dos Organismos Colegiados do Sigerh • Água e o Setor Agropecuário
• Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos • Programa Educativo “ Cidadão do Semiárido” • Água e Meio Ambiente
• Programa de Segurança, Recuperação e Manutenção de
Barragens Estaduais e Federais
• Gestão das Águas Subterrâneas
• Aprimoramento do Processo de Alocação Negociada de Água
• Diversificaçãoda Matriz Hídrica do Ceará
• Forças
o Capacidade de financiamento das ações de operação do sistema através
da cobrança pelo uso da água
o Planejamento do sistema, não obstante ter ocorrido um lapso temporal
significativo de fragilidade do mesmo
o Gestão participativa nos organismos de bacia consolidado
o Processo de Alocação de Água Negociada
o Relação entre órgão de gestão Estadual (SRH e COGERH) e o órgão
Federal (ANA) que mitigam o conflito da dupla dominialidade
o Infraestrutura de estocagem de água (reservatórios)
o Capacidade organizacional da COGERH na operação do sistema
hidráulico
o Sistema de monitoramento da COGERH
o Sistema de Segurança de Barragens da COGERH
o Descentralização operacional da gestão dos recursos Hídricos (gerencias
regionais da COGERH)
o Capacidade técnica da FUNCEME em fornecer conhecimentos e
informações sobre o clima (previsão climática probabilística), meio
ambiente e recursos hídricos
o Capacidade técnica da SOHIDRA na construção de infraestrutura
hidráulica
• Fraquezas
o Altas perdas no transporte de água bruta em calhas do rio
o Baixa qualidade da água nos reservatórios principalmente em períodos
secos (eutrofização e salinização)
o Ausência de Planejamento proativo de secas
o Ausência de Planejamento de Cheias
o Muito baixa eficiência do uso da água em diversos perímetros irrigados
o Baixa eficiência do uso da água em cidades
o Envelhecimento do quadro técnico da SOHIDRA e FUNCEME
o Insuficiência de quadros técnicos na SRH
o Relação com o DNOCS (detentor do patrimônio das infraestruturas) que
flua entre momentos de ampla colaboração e momentos de tensão
notadamente em torno do tema da cobrança
• Oportunidades
o Reconhecimento nacional e internacional das conquistas do Sistema
Estadual de Recursos Hídricos
o Utilização da marca que o Ceará tem no tema água para promover
negócios e riqueza para o Estado
o Inovações tecnológicas disruptivas associadas a quarta revolução
industrial que possibilitara ciclo de desenvolvimento que o Ceará poderá
ser produtor de tecnologias da água
• Ameaças
62
que há elevada disponibilidade hídrica, como a década de 2000, quando diminuem não
apenas os conflitos, mas a intensidade das ações do estado.
67
Figura 22. Linha do Tempo dos principais Eventos assoiciados a Gestão de Recursos Hídricos no Ceará.
68
ANEXO I: Mapas
75
JABURU I Parnaíba Tianguá 100 Acude Jaburu Feijao carioca, milho e hortalicas
JABURU II Parnaíba Crateús 95 Acude Jaburu II Milho, feijao, algodao, alem de rizicultura