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O EGO E OS SEUS MECANISMOS DE DEFESA

Júnior César de Sousa1

Resumo: A personalidade como se sabe é constituída por três sistemas característicos: o Id, o Ego e o Super-ego.
Cada qual desempenha uma função específica tendo propriedades inerentes e que refletem diretamente no
comportamento humano. Neste trabalho, nos deteremos sobre a exposição sobre o Ego e seus mecanismos de
defesa: repressão, negação, racionalização, intelectualização, formação reativa, projeção, deslocamento,
compensação, isolamento, regressão e fixação. Mecanismos estes, que ajudam o Ego a amenizar suas tensões
oriundas de um diagnóstico de ansiedade.

Palavras-Chave: Ego. Mecanismos de defesa. Freud

1. EGO

Desenvolvido a partir do Id, o Ego apresenta-se como um processo psíquico em parte


inconsciente, sendo considerado a parte organizada do id. O Ego é a estrutura mental que faz
a transição entre o mundo interno (realidade subjetiva_ Id) e o mundo externo (realidade
objetiva) distinguindo o mental do concreto. Com efeito, age segundo o principio da
realidade, isto é, suspende o prazer temporariamente (retardamento e amenização), até
encontrar o objeto o qual saciará o desejo manifesto do Id. Freud nos diz que “para o ego, a
percepção desempenha o papel que no Id, cabe ao instinto. O ego representa o que pode ser
chamado de razão e senso comum, em contraste com o Id, que contém as paixões.” (1996b, p.
38-39)

A função que o Ego, então, é enfrentar a necessidade de reduzir a tensão e aumentar o prazer,
tendo que de controlar ou regular os impulsos do Id de modo que o individuo possa buscar
soluções menos imediatas e mais realistas. Podemos dizer que o Ego age conforme o
executivo da psique, uma vez que vive em constante tensão: de um lado é pressionado a
satisfazer os impulsos do id, do outro é reprimido pelo superego, integrando as exigências do
id, do super-ego e do meio externo. Ressalta-se ainda que o Ego depende da existência do Id e
dele é que provem a sua força, garantindo saúde, segurança, capacidade reprodutiva e
sanidade da personalidade. Com efeito, não há como o Ego existir por si mesmo.

1
Graduado em Matemática pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora_CES-JF e graduando em Filosofia
pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida_FAM
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2. MECANISMOS DE DEFESA DO EGO

Por vezes o Ego é obrigado a tomar algumas medidas para diminuir a tensão provocada pela
ansiedade. A ansiedade pode se desenvolver quando a ameaça a alguma parte do corpo ou da
psique muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada (sinais de perigo e
insegurança). Suas causas podem estar relacionadas à perda de um objeto desejado, perda do
amor, perda de identidade – medo de castração, perda de auto - estima – desaprovação do
superego. 2
Freud nos diz que “o primeiro determinante da ansiedade, que o próprio ego
introduz, é a perda de percepção do objeto”. (1996a, p. 165). A própria ansiedade leva a
pessoa a criar condições internas para solucionar o problema da tensão causada seja pelo
medo ou pela tensão. Para saná-la podemos ou lidar diretamente com a situação ou distorcer a
realidade, por meio dos mecanismos de defesa, os quais abordaremos a seguir.

2.1 Repressão

Este mecanismo de defesa ocorre quando se afasta ou expulsa determinada coisa da


consciência, especialmente aquelas ocasionadas por experiências dolorosas. Porém, as
repressões podem desencadear disfunções orgânicas como nos afirma Hall e Lindzey (1971):

Uma pessoa pode tornar-se sexualmente incapaz em virtude do medo do impulso


sexual, ou pode adquirir artrite como consequencia da repressão de sentimentos de
hostilidade. [...] O filho que reprimiu sentimentos de hostilidade em relação ao pai,
via de regra, manifesta estes sentimentos contra outros símbolos de autoridade. ( p.
65).

Sabe-se que o conteúdo reprimido continua a exercer força dinâmica (apaga a lembrança, não
a emoção do que foi causado). Com efeito, muito dos medos sentidos pelos adultos são
consequencias de possíveis repressões na fase infantil. Este mecanismo de defesa procura
distorcer a realidade evitando-a.

2.2. Negação

2
CARLOS, José Carlos. Notas de aula do 3º período de bacharelado do curso de Filosofia, 2013
3

Consiste na não aceitação de uma realidade incomoda ou de qualquer fato que perturbe o ego.
Para não encarar a situação que lhe causa constrangimento, a pessoa nega a realidade. Este
mecanismo de defesa procura distorcer a realidade excluindo-a.

2.3. Racionalização

A racionalização é um processo no qual a pessoa elabora motivos (desculpas) logicamente


consistentes e aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. É uma espécie de justificação
para atos que não se justificam. Este mecanismo de defesa procura distorcer a realidade
redefinido-a.

2.4. Intelectualização

É a tentativa de substituir uma razão genuína, instintiva, por uma fictícia, socialmente
aceitável, isto é, para tentar afastar-se de uma situação estressante a pessoa se utiliza de
discursos puramente abstratos. Segundo o verbete do dicionário Infopédia temos que a
Intelectualização é:

uma forma de transferência através da qual impulsos de origem emocional[...]são evi


tados e substituídos por discursos intelectuais e por conceitos complexos da ordem d
o racional. É umafuga do mundo das emoções para o refúgio do mundo das palavras
e das teorias, de forma a evitar a emoção queorigina sofrimento, realizando, assim, u
ma tradução para linguagem intelectual, dos seus processos pulsionais. (2003)

2.5. Formação reativa

Outro mecanismo de defesa é a formação reativa. Este mecanismo tende a substituir


comportamentos e sentimentos que são totalmente opostos ao desejo real. É uma inversão
clara e inconsciente do desejo e manifestada de maneira acentuada, “é extravagante em sua
manifestação – a pessoas protesta com veemência – e vem marcada com a compulsividade.”
(1971, p. 66). Exemplo: moralismo puritano, sentimentos contrários: “não suporto fulano”,
mas na verdade designa que ele a ama) Este mecanismo de defesa procura distorcer a
realidade invertendo-a.
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2.6 Projeção

A projeção consiste na atribuição a outrem (pessoa, animal ou objeto) às qualidades


sentimentos ou intenções que se originam em si próprio. “A projeção, via de regra, serve a um
duplo propósito. Reduz a ansiedade pela substituição de um perigo maior por outro menor e
habilita a pessoa a externar seus impulsos sob o disfarce de defender-se contra seus inimigos.”
(idem)

2.7. Deslocamento

Este mecanismo de defesa do Ego procura redirecionar um motivo que não pode ser
gratificado. Neste mecanismo fica evidenciado as generalizações proveniente de situações mal
resolvidas, por exemplo, uma pessoa pode ter tido uma experiência negativa com um
psicólogo, então passa a estender esta experiência aos demais psicólogos (generalização).

2.8 Compensação

É um mecanismo que leva a pessoa a criar compensações para suas frustrações, suas
qualidades e defeitos. Exemplo: uma pessoa que não tem habilidade musical se consola
porque é importante socialmente. Não é inteligente, mas se acha bonita.

2.9. Fantasia

Neste mecanismo de defesa, o sujeito cria uma realidade mental paralela a realidade objetiva,
onde pode ser o que quiser e ter todos os seus desejos correspondidos; neste tipo de
virtualidade o individuo pode ser vários personagens (máscaras) que na vida real não poderia
ser. Este tipo de defesa do Ego ocorre justamente para amenizar desejos que não são possíveis
de concretizar na realidade. Algumas pessoas tendem a criar protótipos perfeitos, seja de si,
dos outros e das coisas, hiperbolizando ou reduzindo.
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2.10. Isolamento

Consiste no ato de dividir uma determinada situação, de modo a restar pouca ou nenhuma
reação emocional ligada ao acontecimento, mantém a lembrança do fato e não registra (apaga)
a emoção. Por exemplo, uma pessoa sofre um acidente de carro e algum passageiro morre. O
inconsciente pode, por intermédio do trauma momentâneo, apagar os sentimentos que trariam
à tona a carga emotiva do acidente, e desta forma se mostrar apática ao fato posteriormente
relatado, ou seja, a pessoas isola um pensamento dos demais a fim de evitar, por exemplo, o
sofrimento. Este mecanismo de defesa procura distorcer a realidade dividindo-a.

2.11. Fixação

A fixação ocorre quando uma pessoa não progride normalmente de uma fase do
desenvolvimento psicossexual para outra, mas permanece muito envolvido numa fase
particular (oral, anal, fálica, latência, genital) podendo ocasionar futuramente em desvios da
personalidade. 3

2.12. Regressão

Por fim, a Regressão consiste numa espécie de retorno a um nível de desenvolvimento


anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil, onde o nível de prazer é
considerado maior e mais imediato e consequentemente o nível de ansiedade é baixo ou
inexistente. É muito comum a expressão regressiva no cotidiano. “Uma mulher recém-casada,
que tem dificuldade de relacionamento com o marido, pode retornar à segurança do lar
paterno, ou o homem que perdeu o emprego pode procurar abrigo na bebida.” (HALL;
LINDZEY, 1971, P. 66). Este mecanismo de defesa procura escapar da realidade e amenizar a
ansiedade.

3
Conforme abordado no artigo “Considerações acerca da percepção freudiana da sexualidade infantil :
do nascimento à fase da fálica” do mesmo autor do presente texto..
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3. Considerações finais

Ao término deste trabalho podemos perceber a importante contribuição do Ego ao


desenvolvimento da personalidade do ser humano e sua grande contribuição executiva no
sistema psíquico. A partir dele vimos a relevância dos mecanismos de defesa, fortemente
desencadeados por quadros de ansiedade e tão manifesto em nós, podendo até ocasionar
desvios na personalidade. Por fim, este trabalho, escrito de maneira simples, não vem esgotar
o assunto, mas ao contrário, tornar sua compreensão mais compreensível e consequentemente
mais popular

Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Ansiedade, Dor e Luto. In: ______. Obras completas de Sigmund Freud Vol XX:
um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, análise leiga e outros trabalhos (1925-
1926). Tradução Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996a. p. 164-167.[edição standart
brasileira; traduzido do alemão e do inglês]

FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. In: ______. Obras completas de Sigmund Freud Vol XIX: o Ego e o
ID e outros trabalho (1923-1925)s. Tradução Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996 b. p. 33-
40.[edição standart brasileira; traduzido do alemão e do inglês]

HALL, Calvin.S.; LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade.Tradução Lauro Bretones. São


Paulo: Herder. 1971.

INTELECTUALIZAÇÃO. In Infopédia . Porto: Porto Editora, 2003. Disponível em : <


http://www.infopedia.pt/$intelectualizacao>. Acesso em 15 abril 2013.

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