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Modelos Dinâmicos

1. Em Psicologia os modelos são abstratos, concorda? (apontamentos)

Sim, a Psicologia recorre a modelos pois nunca conseguiu criar um modelo teórico que
funcionasse como protocolo de leitura geral.

Um modelo é sempre uma construção abstrata/de síntese e funciona como linguagem


matemática – pegamos em disciplinas, percebemos o que elas dizem e confrontamo-nos com esse
conhecimento.

Os modelos criam um corpo de conhecimento que deve permitir que retiremos consequências
quando se trata de intervir, tendo assim uma leitura epistemológica. Dão-nos instrumentos de leitura
para conseguirmos ajudar as pessoas.

2. A Psicanálise é uma ciência? Justifique.

Não, a Psicanálise é um modelo científico, ou seja, uma construção abstrata, erguida do


confronto de muitas disciplinas científicas, que pretende ligar a biologia, a sociologia, a antropologia, a
psicologia ou a psicopatologia, por exemplo, em conceitos que possam ser, simultaneamente, sintéticos,
precisos, válidos e úteis (um exemplo de um desses conceitos é o de inconsciente.
Segundo Freud, a Psicanálise não é considerada uma ciência pois não utiliza o método científico.

3. A Psicanálise é: (esboço para uma nova psicanálise, pág. 19/189/190)

a) modelo;

b) uma intervenção clínica;

c) uma abordagem epistemológica;

d) todas verdadeiras.

4. Tudo o que é produzido no Sistema Nervoso é consciência? Comente. (epunp, pág. 13/26/190-192)

Sim. O sistema nervoso é, de forma espontânea, associação geral, ambivalência, conflito,


sensibilidade, intuição e memória – pode ser compreendido como dois níveis de consciência, raramente
compatibilizados numa consciência alargada que se traduz numa atenção flutuante. A consciência é
sempre um todo, sendo que o que a torna lacunar é o isolamento do afeto.
Tudo o que se passa no sistema nervoso é consciência. Podemos dizer que convivem três
consciências em nós: uma sub-cortical, que produz e integra informação de formações
neuroanatómicas; outra cortical, que podemos utilizar para pensar em conjunto; e uma terceira
consciência (alargada) que resultará da comunhão e da síntese das duas primeiras. As três ligam-se e
integram todos os conteúdos que o sistema nervoso produz através da auto-organização cerebral.
Assim, podemos afirmar que o sistema nervoso é uma “força” clarividente que pensa antes da
intencionalidade de pensar. A consciência será a atividade mental de instituição da atividade nervosa. O
sistema nervoso, ao unir de forma continuada e espontânea todas as emoções em imagens mentais, não
as vai racionalizar, mas sim intuir.
5. Quais as disciplinas que surgiram com a Psicanálise?

Desenvolvimentos como a psicoterapia humanista/existencial, psicoterapia reichiana, dentre


diversas e tantas terapias existentes, foram, sem dúvida, influenciadas pela tradição psicanalítica,
embora tenham conferido uma visão particular para os conteúdos da psicologia clínica.
Uma das recentes tendências é a criação da neuropsicanálise segundo Soussumi.

6. Qual é a função dos mecanismos de defesa? (apontamentos, ego e mecanismos de defesa pág.37,
epunp pág.43/110)

Mecanismos de defesa são as ações psicológicas que têm por finalidade reduzir qualquer
manifestação que possa trazer angústia para o indivíduo.
Os mecanismos de defesa funcionam como uma “barreira”, pressupõem que sentimos tudo em
tempo real e que nunca estamos distraídos, mas sentimos que não podemos expressar o que estamos a
sentir/pensar – servem para reprimir e censurar.
Podem também vistos como “a proteção do ego contra as exigências pulsionais”. São sempre
formações de compromisso entre as tentativas de mentalização e os obstáculos que se erguem contra
ela.
As emoções podem ser vistas como o primeiro mecanismo de defesa do corpo e da mente, que
funcionam como área privilegiada na sua comunicação e que, perante a avaliação de sinais específicos,
conduzem a mudanças fisiológicas e desbloqueiam comportamentos.

7. “Sinónimo” de Recalcamento é:

a) repressão;

b) censura;

c) controle;

d) a e b verdadeiras;

e) todas verdadeiras.

8. Exemplo de um mecanismo de defesa e caracterize-o. (epunp, pág.110/111, apontamentos)

● Negação: Mecanismo associado à projeção, surge como uma forma de branquear qualquer
consciência que o próprio fará de um acontecimento doloroso, serve para “negar” uma
realidade menos agradável, para evitar ter consciência do que nos magoa em tempo real, para
lidarmos com isso mais tarde;
● Projeção: Representa o insucesso do recalcamento e representa um processo de clivagem no
sofrimento de uma pessoa de partes intoleráveis, projetadas sobre alguém, e controladas fora
do psiquismo – pegamos na dor e na culpa e colocamo-las noutra pessoa para nos aliviar
momentaneamente;
● Deslocamento: A representação de uma pulsão interdita é separada do seu afeto e é reportada
a uma outra representação, mais genérica, mais ligada à primeira por um elemento associativo –
é uma obra da censura onde um elemento do sonho a nível latente é substituído por um dos
seus fragmentos constituintes;
● Recalcamento: Processo ativo destinado a conservar fora da consciência as representações
inaceitáveis.

9. O isolamento do afeto é uma consequência dos mecanismos de defesa?

Sim. Os mecanismos de defesa surgem como uma proteção contra qualquer conteúdo mental
que o sujeito considere inaceitável por si mesmo ou pelos outros, o que o leva a censurá-lo e a retirá-lo
da sua consciência. O isolamento do afeto advém da repressão dos sentimentos e dos pensamentos,
quando a pessoa se nega a sentir e a pensar certos conteúdos, daí que se possa dizer que este é uma
consequência dos mecanismos de defesa, que impedem que o sujeito experiencie acontecimentos mais
dolorosos, não sentindo nada.
A natureza dos afetos tanto pode ser agradável como dolorosa ou mesmo traumática. Nos casos
dos últimos, isso basta para que os mecanismos de defesa entrem em ação e os reprimam/recalquem,
deixando-os isolados da nossa consciência.
Em situações de angústia, tendemos a racionalizá-las, levando-nos a isolar os afetos e, quanto
mais o fazemos, mais propensos estamos a situações de rutura.

10. A identificação e a projeção existem uma sem a outra?

Sim, são dois processos psíquicos diferentes. A identificação funciona como mecanismo de
defesa, quando um indivíduo diminui a sua angústia ao identificar-se características de outros
indivíduos, que possam ser consideradas mais desejáveis.
A projeção consiste no indivíduo retirar características de si mesmo que considera indesejáveis e
atribuí-las a outra pessoa, passando essas características a pertencer ao mundo exterior e não ao
próprio. Isto acontece quando o indivíduo não reconhece alguma característica como sua (por exemplo,
ser homossexual) e assim essas projeções tendem a deslocar-se em direção a objetos e pessoas cujas
qualidades e características são mais adequadas para encaixar o material deslocado. Isto pode
acontecer para se defender da angústia gerada por fracasso, culpa ou por defeitos.

11. Clivagem:

a) dupla personalidade;

b) desdobramento do EU;

c) consequência dos mecanismos de defesa

12. Identificação de um mecanismo que se faz à margem da projeção ou dos processos psíquicos?

A projeção é um mecanismo de defesa no qual o sujeito vai atribuir a objetos externos aspetos
psíquicos que lhe são próprios, mas não são reconhecidos como seus. Antes da projeção vem um
mecanismo de negação, ou seja, é uma forma de deslocamento que se dirige para fora e atribui a outras
pessoas os seus próprios traços e características.
A negação consiste na recusa do sujeito a aceitar a existência de uma situação demasiado
dolorosa para ser tolerada, ou seja, o indivíduo dá como inexistente um pensamento ou sentimento que
lhe iria causar grande sofrimento se ele o “aceitasse”.

13. Os mecanismos de defesa levam ao falso self, que leva à redução da autenticidade e
espontaneidade. Comente.

A não integração da informação (através de mecanismos de defesa) faz com que se crie um
espaço de ilusão e, quando esse espaço de ilusão adquire sentido de realidade, é construído um falso
self. O falso self é a porta de entrada para a psicopatologia – quanto mais nos tentamos afastar do que
sentimos, mais mal-entendidos criamos.
O falso self vai prejudicar a capacidade de imaginação e a consciência de um indivíduo em
relação à sua própria realidade, criando constrangimentos na capacidade de estabelecer e manter
relações inter-pessoais.
O falso self pode ser entendido como uma formação de compromisso entre barreiras obsessivas
e narcísicas. A não integração da informação leva à criação de uma nova realidade que vai desencadear
elevados níveis de stress, conduzindo a pânico, terror e perturbações da personalidade.
Sempre que o sofrimento é exuberante, desencadeia barreiras de defesas ou repressão que
conduzem à formação de sintomas e que, consequentemente, levam a estados/distúrbios
psicopatológicos. O falso self, por levar à repressão de conteúdos mentais, vai impedir a expressão
autêntica do sujeito, não deixando que este partilhe o que pensa/sente. Isto vai influenciar a sua
autenticidade e espontaneidade, pois irá estar a “esconder” parte de si, não se permitindo ser quem
verdadeiramente é.

14. Em que medida a projeção ajuda a entender o instrumento clínico da contratransferência.

Quando a projeção está presente, o paciente pode muitas vezes associar características que não
reconhece como suas no analista. Quando estas características são negativas e vistas como inaceitáveis
ou indesejáveis pelo indivíduo, e se este as reconhece como descritivas do analista, isto irá influenciar a
sua atitude para com o mesmo.
A contratransferência consiste numa ressonância em tempo real, onde o analista tem uma
reação adequada à maneira como a pessoa fala/como se veste/como o trata. É extremamente
importante que o analista identifique e interprete as suas reações/sentimentos em tempo real, pois só
se o fizer será capaz de legendar também os sentimentos do sujeito. Se o analista tentar bloquear as
reações emocionais que o individuo desperta nele, poderá correr o risco de cometer enviesamentos,
pois deixa de estar sincronizado com o paciente.
Um dos níveis da contratransferência é a projeção de um “mau objeto”, onde o paciente replica
no analista relações das quais foi vítima, acabando o analista por recriar essas mesmas situações, devido
às reações que o paciente desperta. Este é um dos exemplos em que a projeção poderá ajudar a
entender a contratransferência – é necessário ter em consideração que, muitas vezes, o que os
indivíduos projetam para o analista são coisas que não aceitam em si mesmos, o que irá afetar a
compreensão das suas atitudes e dos seus sintomas.

15. A noção do objeto interno leva à dimensão representacional e simbólica das relações
significativas.
Os objetos internos representam a forma como vivemos (num nível primitivo) e aquilo a que
podemos chamar “estados mentais” (num nível mais amadurecido). Os objetos internos são o aparelho
de pensar. A identidade representa uma construção pessoal, cuja base são as relações pessoais
(interpessoais) significativas, ditas “relação objeto”, que constroem o pensamento e que permitem que
cada um de nós, em relação a elas, vá para além do enigma esfíngico e afirme “penso porque existo, e
existo porque fui amado; sem isso não seria reconhecido”. Desta forma, é possível representar e atribuir
significado às relações significativas.

16. A síntese e multiplicação dos objetos internos leva à identificação. Verdadeiro ou falso?

Verdadeiro. Os objetos internos são entendidos como representações psíquicas de outras


pessoas que influenciam as reações. perceções, os estados afetivos do individuo bem como as suas
reações comportamentais externas. A multiplicação dos objetos internos, assim como a sua síntese,
formam a “identidade”, conferindo-lhe uma função esquelética de tonicidade psíquica.
Dito de outra forma, é através de um conjunto de objetos internos bem sintetizados que o
processo psicológico da identificação acontece, pela assimilação de aspetos, propriedades e/ou
atributos de outras pessoas e transformando-se assim, total ou parcialmente. no modelo que essas
mesmas pessoas fornecem.

17. Quais são os três recursos saudáveis da personalidade que o individuo pode mobilizar?

● Inteligência (quanto mais inteligente for uma pessoa, mais fácil será de tratar);

● Imaginação e capacidade de síntese (quanto mais solta, melhor);

● Organização familiar/rede de amigos (melhor prognóstico – trabalho + rede de amigos).

18. Em que consiste a psicopatologia compreensiva.

A psicopatologia compreensiva baseia-se na compreensão dos sintomas do paciente e no


impacto que têm no mesmo. A psicopatologia compreensiva tenta compreender porque é que as
pessoas são como são e o que as levou a ser assim.

A psicologia descritiva, por outro lado, consiste na observação dos comportamentos e dos
sintomas (diagnóstico e extinção de sintomas e sinais, raciocínios mais profundos).

19. A angústia de fragmentação na psicose é….

A angústia de fragmentação, comum a todas as estruturas psicóticas, extrai a sua especificidade


num temor de fragmentação ligado à impossibilidade sentida de constituir um verdadeiro ego,
suficientemente autónomo e unificado. Corresponde a uma angústia em que o sentimento de que o
objeto se perdeu constitui agora uma ameaça imediata de fragmentação, ao passo que, na época
anterior (ainda não psicótica) a angústia incidia sobre o risco de perda do objeto e a simples depressão
consecutiva.

20. O que é o inconsciente:


a) prevalência de dimensão instintiva no individuo;

b) metáfora (…) de forma racional, (…) recalcamento;

c) antítese da consciência;

d) todas verdadeiras.

21. Depois da avaliação clínica, o diagnóstico deve conter:

a) aconselhamento psicológico;

b) intervenção psicoterapêutica;

c) identificação dos recursos saudáveis a mobilizar;

d) exposição dos motivos pelos quais os sintomas se estruturam;

22. A psicoterapia deve remover sintomas? Explica pf (epunp, pág. 112)

Os sintomas em psicopatologia significam tanto como a febre. A sua remoção não deve ser
tomada como o essencial de uma estratégia da psicologia clínica, porque isso aumentaria o risco de
descompensação do sofrimento que sustêm. Eles representam um conjunto de sinais de saúde do
psiquismo que, em consequência da falha dos recursos vitais ou das relações significativas duma pessoa,
se organizam duma forma mais ou menos acidental, encapsulando o sofrimento num sintoma ou numa
queixa. Por isso, devem ter-se em conta os sintomas, perceber o que os provoca e tratar a sua causa.

23. A angústia e a fragmentação na psicose representam…

A distinção entre a neurose, a psicose e as perturbações borderline remete para a angústia,


porque o que o paciente teme não é a fragmentação (angústia psicótica), uma vez que, apesar de
surgirem distorções na relação entre si e o outro, não confunde o mundo interior e exterior. De igual
modo, também não tem lugar aqui uma angústia associada ao tremor de uma punição, a sentimentos de
insucesso ou culpabilidade (angústia neurótica), mas antes um sentimento ou medo de abandono.
Consequentemente, o que distingue as perturbações borderline da angústia psicótica e neurótica é o
facto de constituírem uma angústia de perda de objeto.
A principal angústia na psicose é a de fragmentação.

24. O que entende por psicoterapia de orientação psicanalítica?

A psicoterapia psicanalítica é o corpo de técnicas que utiliza métodos psicológicos para o


tratamento de estados mentais patológicos e doenças psicossomáticas, propiciando uma melhor
perceção de si mesmo e da sua situação interior, bem como uma compreensão da sua história e a
conquista de uma experiência relacional diferente que permite retomar o desenvolvimento que ficou
suspenso.

25. Deve incluir a definição de objetivos e uma estratégia de intervenção prévia à intervenção?
26. A angústia e a depressão estão presentes em todos os quadros clínicos. Verdadeiro ou falso.

Falso – a angústia e a depressão são elas próprias quadros clínicos. (esboço para uma nova psicanálise,
pág. 174)

Verdadeiro – já não entendo nada (esboço para uma nova psicanálise, pág.172/173)

27. A consciência é preservada em quadros psicopatológicos?

Sim. Todos têm momentos lúcidos, não está sempre doente (ex: não há ninguém esquizofrénico
a 100%). A psicose, por exemplo, é consequência de um sofrimento enorme e duradouro, sendo errado
pensar que os indivíduos não sofrem – estes precisam de configurar os pensamentos que fugiam da sua
consciência, para conseguirem simplificar as coisas.
Todas as pessoas necessitam de ter consciência para que se lhes possa ser diagnosticado
qualquer quadro clínico. Podem não possuir insight sobre a sua situação, mas têm que estar
conscientes, têm que estar “acordadas”. A consciência pode variar de forma qualitativa e quantitativa
dentro de cada paciente, mas tem que estar sempre presente.

28. Faz sentido o diagnóstico pressupor explicações sobre os motivos por que os sintomas se
estruturam. Verdadeiro ou falso

Verdadeiro. As pessoas procuram uma resposta aos “porquês” e um esclarecimento de questões


práticas, pelo que fazemos a avaliação num contexto de queixas/motivos e tentamos encontrar
correlações entre os vários motivos para o pedido de ajuda – temos uma hipótese de diagnóstico.

Devemos tentar perceber como é que o sintoma se criou, sendo que este serve para aplacar a
descompensação, mas também inibe os comportamentos saudáveis das pessoas.

29. Faz sentido existir tópicos e um esquema de intervenção clínica antes de iniciar a intervenção. Sim
ou não?

Sim.

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