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História da Psicologia
Influências Filosóficas
HERMANN EBBINGHAUS (1850-1909)
Um Longo Passado
Uma Curta História
Doença Mental - Primórdios
Até ao século XIX
Psicanálise
SIGMUND FREUD (1856-1939)
Três episódios na vida de Freud
Psicanálise
Estudo Experimental da Inteligência
ALFRED BINET (1857-1911)
Binet e os E.U.A.
HENRY GODDARD (1866-1957)
LEWIS TERMAN (1877-1956)
Início da Psicologia na Alemanha - A Fundação e a Institucionalização da Psicologia
Científica
WILHELM WUNDT (1832-1920)
ESCOLA DE WURZBURG
OSWALD KÜLPE (1862-1915)
EDWARD TITCHENER (ver Estados Unidos)
GESTALT (PSICOLOGIA DA FORMA)
MAX WERTHEIMER (1880-1943)
KURT KOFFKA (1886-1941)
História da Psicologia 1
WOLFGANG KOHLER (1887-1967)
Os 4 princípios de Gestalt:
Os 7 fundamentos básicos da Psicologia da Gestalt (muito utilizados no design
ou na arquitetura) são:
Expansão da Psicologia nos E.U.A.
Psicologia nos Estados Unidos
Correntes da Psicologia nos E.U.A.
EDWARD TITCHENER (1867-1927)
ESTRUTURALISMO
FUNCIONALISMO
BEHAVIORISMO - JOHN WATSON (1878-1958)
BEHAVIORISMO - Fase inicial
BEHAVIORISMO - Após Watson
Notas (não avaliação)
Influências Filosóficas
A Psicologia tem um longo passado mas apenas uma curta
histórica.
Hermann Ebbinghaus
História da Psicologia 2
Comparando com ciências estabelecidas como astronomia,
anatomia, física, química e fisiologia, a psicologia tem de
facto uma “pequena história”.
Um Longo Passado
A noção de que o cérebro é um órgão de importância deverá ter dezenas de
milhares de anos na história da espécie humana, tal como o sugere a prática da
trepanação.
ANTES DO HOMO SAPIENS
Mammuthus Sungari; esta espécie viveu no norte da China, durante uma parte do plistoceno
História da Psicologia 3
Paranthropus Boisei Seixos talhados de tradição olduvaiense
História da Psicologia 4
Crânio de rapariga, trepanado com sílex 3500 a.C.
História da Psicologia 5
“A extração da pedra da folia” - Hieronymus Bosch (ca. 1488-1516) - alegoria
da tolice e da estupidez?
A trepanação continuou a ser praticada através dos tempos. Hipócrates, por
exemplo, deixou indicações precisas dos procedimentos a efetuar (Hipócrates
terá sido, nos tempos documentados, o primeiro autor a reconhecer que o
cérebro é o órgão da inteligência.
De igual modo, a noção de doença mental deverá ter milhares de anos na
história humana, ainda que não existam documentos que o possam comprovar.
História da Psicologia 6
Ilustração de trepanação, França
O “Papyrus Ebers” é um papiro egípcio com cerca de 3500 anos onde estão
registados conhecimento médicos da altura, através do uso de ervas. Entre as
mais de 700 fórmulas mágicas e remédios para várias doenças, existe uma
breve menção à depressão clínica.
As antigas civilizações do Egito, Grécia, Roma, Índia, China e Pérsia deixaram
escritos valiosos sobre o estudo da Psicologia, num ângulo filosófico ou pré-
científico. O chamado “papiro Edwin Smith”, por exemplo, é um texto médico
do antigo Egito que constitui o mais antigo tratado de cirurgia sobre o trauma (o
“Papiro Edwin Smith” foi assim nomeada devido ao nome do comerciante que o
comprou em 1862).
História da Psicologia 7
Papiro de Edwin Smith; pranchas 7 e 8
Este papiro contém uma das mais antigas descrições do cérebro, assim como
algumas especulações sobre as suas funções (é de notar que o papiro tem
uma natureza prática, racional e científica; e não mágica).
GRÉCIA E ROMA
Aristóteles
Platão
Tales de Mileto Hipócrates
História da Psicologia 8
desenvolveu princípios básicos da memória humana que são ainda hoje
fundamentais nas teorias contemporâneas.
PÉRSIA
Ahmed Ibn Sahl Al-Balkhi (850-934) foi dos primeiros a conceber a noção de
doença psicossomática. Ao discutir perturbações relacionadas com o corpo e
a mente, defendeu que “se (a psique) adoece, o corpo pode igualmente perder
a alegria de viver e pode eventualmente desenvolver uma doença física”.
Reconheceu, além disso, que o corpo ou a mente podem estar saudáveis ou
doentes, equilibrados ou não. Descreveu, por exemplo, que o desequilíbrio no
corpo pode resultar em febre, dores de cabeça e outras afeções corporais. Por
seu lado, o desequilíbrio da alma pode resultar em raiva, ansiedade, tristeza e
outros sintomas relacionados com a psique. Reconhecer ainda dois tipos de
(aquilo a que hoje se chama) “depressão”: uma causada por razões
conhecidas, como perda ou falência, que pode ser tratada psicologicamente, e
outra causada por razões desconhecidas, possivelmente de origem fisiológica,
História da Psicologia 9
que pode ser tratada através de Medicina física. Na sequência de Ahmed Ibn
Sahl Al-Balkhi, vários outros médicos muçulmanos medievais desenvolveram
práticas para tratar sujeitos que sofriam de várias “doenças da mente”.
Outros pensadores muçulmanos que discutiram matérias relacionadas com a
Psicologia:
História da Psicologia 10
Advancement of Learning” (1605) e “Novum Organum” (1620), Francis
Bacon advocou uma ciência geral sobre a Natureza e o Estado do Homem
no início da Revolução Científica. Ainda algumas experiências de um tipo
Psicológico estão documentadas antes de 1850, e ainda a pesquisa
empírica não experimental era escassa. Em Inglaterra, a palavra
“Psychology” era rara antes do início de 1800, quando o poeta-filósofo
Samuel Taylor Coleridge a importou da Alemanha (onde os filósofos já
usavam há muito tempo “Psychologie”). A significância desta ausência
deve ser sublinhado uma vez que, como mencionado anteriormente, a
Psicologia era tradicionalmente vista como uma emergência inicial do
“discurso reflexivo”, começada pelos antigos Gregos.
A linha de que as questões permanecem as mesmas, mas os métodos para
respondê-las mudam é insatisfatória, pois se esses pensadores anteriores
estivessem fizessem as mesmas perguntas que os psicólogos fazem, então
conceber os métodos empíricos óbvios de investigação, pelo menos para
alguns deles, teria sido fácil. Até em 1700 eles podiam ter submetido ratos a
labirintos, questionários, ver quando ensaios levava para aprender listas de
palavras ou inventar (albeit crude) instrumentos para medir os tempos de
reação - todos os métodos típicos da psicologia moderna. A razão pela
qual não o fizeram foi porque nem se quer estavam a fazer este tipo de
perguntas.
Isto não quer dizer uma completa falta de conexão histórica, apenas que os
seus predecessores não estavam a fazer o que os psicólogos começaram a
fazer no final do século XIX, ainda menos do que fazem hoje. Eles não
falharam a resposta das mesmas perguntas mas sim perguntavam
perguntas diferentes, sobre a natureza da virtude, as relações entre a alma
imortal (se é que existia) e o corpo, se todas as nossas ideias vinham de
uma experiência sensorial ou se de um sele evidente inato, que tipo de
substância a mente era, como dominar as paixões de alguém, como educar
crianças, como a personalidade era manifestada na cara.
Graham Richards, 2004
História da Psicologia 11
Gustav Theodor Fechner, 1801-1887
“Rodas dentadas”
História da Psicologia 12
mão e as penas na outra, repararás que os seus pesos são
bem diferentes, o chumbo parece mais pesado.
De facto, muitas pessoas diriam que é três vezes mais
pesado que as penas… A experiência dos objetos das tuas
mãos é uma experiência psicológica. Por outras palavras,
mesmo que os dois pesem o mesmo, o teu cérebro diz…
“Rodas dentadas”
História da Psicologia 13
Objeto impossível “blivet” (ou “poiuyt)
História da Psicologia 14
Os livros de psicologia normalmente descrevem os sucessos
dos psicólogos. Esta história da Psicologia, por outro lado,
descreve ambos os sucessos e os falhanços.
Há uns tempos, psicólogos proeminentes advogaram com
grande confiança e convicção respostas para a psicologia
que mais tarde se provaram erradas. Descrever os erros do
passado não é desacreditar, desmistificar ou diminuir
psicólogos do passado, é sim completar a história da
psicologia e, principalmente, alertar-nos para a nossa
falibilidade.
Nós devemos evitar a tendência de interpretar e avaliar as
contribuições dos psicólogos iniciais de acordo com os
padrões do presente.
David Hothersall History of Psychology
História da Psicologia 15
Ernst Heinrich Weber, 1795-1878
Wilhelm Wundt, 1832-1920
História da Psicologia 16
Trummerbeseitigung, 1950 (Leipzig após os bombardeamentos
Selo da Universidade de Heidelberga; S. Pedro, segurando uma chave, está rodeado por dois
cavaleiros ajoelhados com as armas dos eleitores palatinos
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Vista romântica do castelo de Heidelberga, Antiga Universidade de Heidelberga, ca.
1815 1900 (atual reitoria)
História da Psicologia 18
Bethlehem. No entanto Pinel teve o mérito de, desde logo, melhorar as
condições de vida dos doentes mentais institucionalizados, acabando com a
restrições físicas (por exemplo as correntes de ferro) e os abusos.
Não foi exatamente o primeiro a fazê-lo: oito anos antes, Vincenzio Chiarugi em
Itália tinha proibido o uso de correntes nos doentes mentais, mas as ações de
Pinel foram mais extensas, mais conhecidas e melhor documentadas, e teve,
para isso, que enfrentar uma série de obstáculos e resistências, desde logo o
conselho revolucionário da Comuna de Paris (que sarcasticamente lhe
perguntou se iria a seguir libertar os leões e os tigres no Jardim Zoológico).
História da Psicologia 19
arquivos historicamente preciosos da cidade de Paris foram perdidos para
sempre quando o edifício foi incendiado em maio de 1871. Uma reconstrução
do Hôtel de Ville, iniciada em 1874 e concluída uma década depois, fica no
mesmo sítio hoje.
Psicanálise
SIGMUND FREUD (1856-1939)
História da Psicologia 20
Três episódios na vida de Freud
1. Quando soldados nazis vieram a casa de Freud, a mulher pediu-lhes que
deixassem as espingardas no bengaleiro. Revistaram a casa, tendo
roubado uma quantia significativa de dinheiro. Comentário do Freud: “dear
me, I have never taken so much for a single visit”
Psicanálise
A Psicanálise é um caso único e paradoxal na Psicologia do século XX. Por um
lado, é o mais conhecido (o que não quer dizer que seja compreendido)
sistema teórica na Psicologia e o seu fundador é certamente uma das figuras
mais conhecidas a nível mundial (existem mais de 70 biografias escritas sobre
Freud).
História da Psicologia 21
Freud de 8 anos ao lado do seu pai Jakob
Mas, por outro lado, a Psicanálise tem muito pouco a ver com as outras
expressões ou movimentos da Psicologia. A Psicanálise está sobretudo
alinhada com a tradição germânica de conceber a mente como uma entidade
ativa, dinâmica e geradora de si mesma (e com a crença existente no século
XIX de níveis conscientes e inconscientes de atividade mental). Apesar disso
teve, tal como Freud, um impacto tremendo na Psicologia e a sua influência
refletiu-se em várias outras áreas do conhecimento — dar arte à literatura, da
cultura à filosofia.
História da Psicologia 22
Ao contrário da tradição inglesa, que via a mente como passiva, e da visão
sensacionalista francesa, segundo a qual a mente é um constructo
desnecessário, a tradição alemã, na senda de Leibniz e Kant, que enfatizaram a
atividade mental, concebe a mente como uma entidade ativa que se gera e que
se estrutura a si mesma, estruturando a experiência humana de modos
característicos. Consistente com essa tradição, e com a posição da Psicologia
da Gestalt, a Psicanálise foi firmemente alicerçada num modelo ativo dos
processos mentais (e com a crença existente no século XIX de níveis
conscientes e inconscientes de atividade mental) embora não tenha abraçado
o compromisso da Psicologia da Gestalt com o empiricismo.
Freud não procurou testar as suas hipóteses de forma rigorosa, através de
verificações independentes.
História da Psicologia 23
O sofá de Sigmund Freud
História da Psicologia 24
atitudes e criou um novo quadro conceptual para pensar o seu objeto de
estudo.
Aceite-se, contudo, arguendo, que não existe muitas vezes outra escolha.
Aceite-se que é por vezes necessário simplificar ou reduzir o tema em
estudo (sem desenvolver o tema, pode-se referir a título de exemplo o
reducionismo metodológico, uma estratégia que provou ser eficaz nos mais
de três séculos de história da Ciência moderna. Estratégia que, todavia,
deve estar sujeita a “vigilância permanente”, de modo a prevenir ou evitar
os excessos que tendem a ocorrer com a sua utilização). Seja por razões
de conveniência de exposição, seja, por exemplo, para conseguir desse
modo trazer um pouco de claridade a um tópico obscuro.
Aceite-se de igual modo, por razões que serão traçadas adiante, que a
matéria histórica em Psicologia é uma dessas matérias: complexa,
História da Psicologia 25
complicada e intrincada; mesmo não sendo particularmente extensa (aludo
às muito citadas palavras que Hermann Ebbinghaus utilizou para abrir o seu
popular manual Abriss der Psychologie (1908), observando ter a Psicologia
um longo passado ainda que a sua história (enquanto disciplina) fosse
curta. Esta proposição, que acabou tornando-se uma fórmula ou mesmo
um slogan da recém-criada disciplina científica, não deixa de captar um
paradoxo muito próprio da Psicologia e de outras ciências sociais e
humanas: o facto de, adaptando as palavras de Bachelard (1971), poderem
ser epistemologicamente consideradas como domínios de pensamento que
não rompem nitidamente com o conhecimento vulgar, tal como sucede com
as ciências físicas. O nascimento formal da Psicologia enquanto disciplina
científica é recente, tendendo a aceitar-se a data de 1879 como um marco
simbólico. Mas a psicologia popular já existia muito antes disso). Talvez
suceda o mesmo com a maioria das matérias históricas, quer em Ciência,
quer fora dela. Ou talvez a complexidade da matéria histórica, no caso
particular da Ciência, dependa estreitamente da complexidade e natureza
do ramo científico em causa; ou do âmbito ou vastidão (ou de quaisquer
outros traços distintivos relevantes) daquilo que estuda, fazendo com que,
por exemplo, a história de uma ciência que lida com fenómenos não-
lineares seja, ipso facto, mais complexa do que a história de uma ciência
ocupada com fenómenos lineares. Ou tralvez, ainda, existam dificuldades
que surgem ciclicamente, ou transitoriamente, em determinadas (mas não
em todas as) faces do desenvolvimento de cada ramo científico.
Aceite-se por fim, para efeitos práticos, que existe em Psicologia (enquanto
disciplina académica e enquanto prática) uma corrente principal e
dominante, tal como sucede ou já sucedeu noutros ramos da Ciência. Uma
corrente que apresentei de forma extensa noutro local (Urbano, 2007 —
apresentei com efeito na dissertação Da história e epistemologia da
Psicologia uma descrição circunstanciada de tal corrente. A sua existência,
a descrição dos seus principais traços (como ideologia, como sistema de
poder, como paradigma, etc.) e a história da sua ascensão à posição de
supremacia que ainda hoje ocupa, foram temas recorrentes dessa
dissertação e constituem aliás uma das suas principais teses. Dada a
complexidade do tema e dada a extensão dos argumentos que aí
apresentei, remeto pois para a sua leitura, tendo a consciência de que
estou a apelar à indulgência de quem lê este pequeno ensaio), e da qual
direi aqui, apenas, que pode ser descrita em termos brevíssimos como
sendo originária dos Estados Unidos da América e como tendo, a partir da
História da Psicologia 26
década de 1940, começando a tornar-se prevalente, primeiro na América,
depois na Europa e enfim um pouco por todo o mundo ocidental ou sujeito
à sua influência. Corrente essa que, de algum modo, se arrogou desde
então a autoridade para definir o rumo e o destino da Psicologia.
História da Psicologia 27
minorias que tendem a irromper no palco nesses momentos e que tudo
farão para conseguir tirar proveito imediato ou duradouro das
consequências (destruição, devastação, desordem, caos, anarquia). Da
simples mas selvática pilhagem, como se os escombros fossem presas
feitas ao inimigo; até ao mais ardiloso assalto e eventual conquista do
poder, tantas vezes caído ou ferido, ou dos seus despojos. As grandes
catástrofes naturais, tal como as grandes movimentações ou as revoluções
sociais mais violentas, têm a particularidade — por vezes muito dolorosa —
de gerar desordem e, nesse sentido, de criar um caleidoscópio de causas,
de condições, de puros acidentes até, que atraem aqueles e aquelas que
encontram aí oportunidades, quase sempre ilegítimas. Oportunidades de
fazer nascer novos poderes; ou de perpetuar ou de reforçar velhos
poderes. Perante, tantas vezes, a docilidade mais extraordinária da
multidões; talvez porque, tal como afirmou Tocqueville (1835, 1840), “[…]
quando um tempo calmo sucede a uma revolução violenta, os grandes
homens parecem desaparecer subitamente e as almas fecham-se em si
próprias” (p. 218).
2 - Da apropriação dos acontecimentos e da sua memória
Não é possível, por uma simples questão lógica, impedir ou estacar uma
marcha que por definição seja imparável — até ao seu esgotamento ou até
se exaurirem as condições que os permitiram. Uma tal marcha não é,
contudo, necessariamente caótica ou imprevisível, no seu desenrolar.
Razão pela qual, dependendo da sua natureza e de outras variáveis, não é
impossível alterar-lhe o andamento ou o rumo. Entre outros possíveis
exemplos, o conceito de “paisagem epigenética” de Conrad Waddington
ilustra como um conjunto de vales, num bloco ou maciço de montanhas,
permite canalizar ou conduzir processos — de desenvolvimento biológico,
no contexto original — que, tal como a metafórica bola no plano inclinado,
“procuram” uma forma de libertar a energia potencial armazenada; até
atingir um novo patamar de equilíbrio. Dito de outro modo: um
acontecimento (v.g. geológico, biológico, psicológico, social) não ocorre no
vácuo, onde não existem sulcos prévios, obstáculos ou acidentes. Antes
pelo contrário, mesmo a mais violenta ou cataclísmica das revoluções
sociais pode seguir, pelo menos parcialmente ou transitoriamente, um trilho
previamente traçado. Traçado nomeadamente pelas circunstâncias que, no
fundo, a fizeram eclodir.
História da Psicologia 28
Nesse sentido, enfrentar a marcha imparável dos acontecimentos pode não
ser um mero exercício de vaidade, de loucura, de total futilidade, inutilidade
ou vacuidade. Pode ser, e é muitas vezes, uma tentativa séria, real, de
apropriação — no imediato — dos próprios acontecimentos (mais
precisamente, da forma como são percebidos pelo senso comum. Uso aqui
alguma liberdade poética, essencialmente por uma questão de estilo e
conveniência de exposição), procurando aprisioná-los e domá-los,
tentando regular-lhes a marcha ou alterar-lhes o rumo. E a realidade parece
confirmar esta ideia, de tal modo não é raro constatar o quanto os sistemas
hegemónicos ou totalitários — entre outros oportunismos — procuram
enfrentar até mesmo esta classe extrema de acontecimentos, tantas vezes
com um ousadia e uma arrogância à altura do seu desejo de omnipotência.
Procurando, justamente, domá-los, regulando-lhes a marcha a alterando-
lhes o rumo.
Pode ser, também e por outro lado, uma tentativa também muito séria,
também muito real — e muito eficaz, aliás — de apropriação de um
passado (em rigor, e uma vez mais, da forma de o perceber) que
geralmente acaba de ocorrer e que, nalguns casos, poderá ter deixado a
vasta multidão num estado dócil; de entorpecimento e perplexidade, por
exemplo, perante acontecimento traumáticos. Desde que influencie
gravemente a comunidade, tal como é suposto suceder (por definição) com
todos os grandes acontecimentos, ficará registado ou impresso na sua
memória. A memória dessa comunidade é, por assim dizer, o rasto da sua
vivência, que vai ficando atrás de si. E o rasto do passado é uma tentação
demasiado grande para todos os oportunismos que depressa se
mobilizarão para conseguir tirar proveito das circunstâncias; sobretudo
num período de revolução, de mudança, de confusão, de caos, de dor. Não
é sobretudo por acaso que, por exemplo, na acalmia que se segue à
revolução violenta atrás aludida por Tocqueville, surgem do nada e de
forma persistente um número estranho de heróis, de heroínas e de
putativos gestos de heroísmo, que, não por acaso, tinham até aí passado
despercebidos. Pela mais simples, pela mais básica de todas as razões:
porque nunca existiram. Porque foram fabricados, criados ou grandemente
exagerados, para aproveitar a ocasião. Tal como as lendas e sagas que
irão, a partir daí, glorificá-los como meio deuses ou meias deusas, e
confirmar a sua morada no Olimpo.
O passado pode possuir (ou não) ainda uma parte da força do presente,
mas é em regra, à escala da memória humana, perigosamente dúctil. É
História da Psicologia 29
moldável com alguma facilidade. Neste como noutros casos, “a memória é
a vida, sempre trazida pelos grupos vivos e, por essa razão, ela está em
evolução permanente, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
inconsciente das suas deformações sucessivas, vulnerável a todas as
utilizações e manipulações, susceptível de longas latências e frequentes
revitalizações”. A memória, ainda neste caso, é mais do que isso: é história,
e nesse sentido remorso; é consciência histórica; é memória plural, e nesse
sentido memória histórica; é a imagem que cada um tem de si mesmo e
dos outros, individualmente ou em grupo. É uma força notável, não porque
através dela seja possível parar a marcha dos acontecimentos, mas pelo
seu poder instrumental para influenciar o modo como são percebidos (as
duas últimas frases condensam, de forma grosseira, algumas das
proposições apresentadas sinteticamente por Torgal (1989) na introdução a
História e ideologia, proposições que são desenvolvidas de diferentes
formas ao longo dessa obra, articuladas em torno da ideia base de que a
história tem uma relação profunda com a ideologia, ou as ideologias. O meu
intuito e o contexto em que o faço são muito diferentes, naturalmente; este
não é um artigo de História nem a história é a sua única ou principal razão
de ser. Mas defendo uma tese semelhante acerca da manipulação da
história, neste caso da Psicologia, como forma de obter e perpetuar o
poder, neste caso por parte daquilo a que se tem chamado a Psicologia
dominante).
História da Psicologia 30
3 - O caso particular da Psicologia
História da Psicologia 31
sobretudo, o seu papel aos comandos da própria disciplina; dando à
comunidade, incluindo as novas gerações, a ideia de que a história da
Psicologia é a narrativa de uma caminhada triunfal e que não vale, por
conseguinte, a pena questionar os destinos da disciplina.
Em parte para criar consensos em torno da sua suposta importância, em
parte para legitimar o seu poder mais do que discutível, a Psicologia
dominante reduz de forma teimosa a pluralidade da memória histórica de
toda a disciplina a um discurso linear e encomiástico à magnitude fabricada
dos seus (supostos) grandes vultos, assim como das suas supostas
grandes instituições. E no meio da sua narrativa mitológica, consagrada
pela sua historiografia oficial, surge em grande destaque, como um grande
feito, a aplicação dos testes para putativamente medir a inteligência aos
recrutas do exército americano, em vésperas de partir para a Grande
Guerra na Europa: os chamados “Army Alpha” e “Army Beta” — destinados
a recrutas alfabetizados, ou não. Episódio oficialmente comemorado como
o grande acontecimentos da década de 1910, mas que, para além de
constituir uma forma assaz óbvia de logro científico, apresenta nas suas
consequências algumas semelhanças inquietantes com um dos episódios
mais lúgubre da história da Ciência e, de um modo geral, da humanidade: o
“lysenkismo”.
Com efeito, o Immigration Restriction Act de 1924 (cf. v.g. Gould, 1981, p.
161) assim como — e sobretudo — a promoção da políticas eugénicas
fazem parte do conjunto dessas consequências, que vieram a tornar os
Estados Unidos o primeiro país do mundo a promulgar programas de
esterilização compulsiva (em 1897, no estado do Michigan) e,
possivelmente, o último no mundo ocidental a retirá-los — em 1981
decorreu a última intervenção, no estado do Oregon, embora o Oregon
Board of Eugenics, mais tarde apelidado Board of Social Protection, tenha
existido até 1983. Sem estar aqui a fazer um processo do passado, é
importante sublinhar que o Immigration Restriction Act teve a sua
fundamentação na teoria do QI hereditário que, por sua vez, foi
fundamentada pela aplicação desses supostos testes de inteligência ao
exército durante a Grande Guerra. Isto é, tal como nota ainda Gould (1981),
os resultados de tal aplicação, ainda que fraudulentos, proporcionaram os
elementos técnicos necessários para a institucionalização da própria
ideologia hereditarista (pp. 161 e 241). Sendo igual modo de sublinhar que,
em termos genéricos, as políticas eugénicas estão estreitamente ligadas a
Galton, por razões óbvias, aos seus seguidores (entre os quais pontifica o
História da Psicologia 32
seu protegido, Pearson) e continuadores (como Cyril Burt) e, de um modo
geral, ao seu paradigma, que, com algumas modificações, viria a constituir
o núcleo da correntes dominante da Psicologia (Thomas Leahey (1997),
cuja clássica e venerada história da Psicologia constituiu parcialmente uma
ode à psicologia americana, descreve as relações entre esses vários
autores, sem contudo comprometer a corrente dominante da Psicologia, da
seguinte forma: “Os galtonianos consideravam os imigrantes recentes e os
negros como Próspero considera Calivan em A Tempestade de
Shakespeare: "um demônio, um demônio nato, cuja natureza e criação
nunca podem aderir". Os testes do exército, disseram os galtonianos,
demonstraram a estupidez irremediável desses grupos, fixada nos genes,
que nenhuma educação poderia melhorar. Como a educação era incapaz
de melhorar a inteligência, a moralidade e a beleza dos americanos,
concluíram eles, algo teria que ser feito a respeito da estupidez, do imoral e
do feio, se os americanos não cometessem "suicídio racial".
Especificamente, de acordo com os galtonianos, a raça inferior teria de ser
impedida de imigrar para a América e os americanos que já estão aqui, mas
amaldiçoados pela estupidez ou pela imoralidade, teriam de ser impedidos
de se reproduzir. Os galtonianos procuraram, portanto, restringir a
imigração a pessoas que consideravam o melhor tipo de pessoas e
implementar a eugenia negativa, impedindo a reprodução entre os piores
tipos de pessoas. Embora apenas ocasionalmente fossem líderes nas
políticas de imigração e eugenia, os psicólogos desempenharam um papel
importante no apoio aos objetivos galtonianos” (p. 358)).
Lysenko
História da Psicologia 33
brutal, na palavra de Joravsky (1970), da qual viria a resultar, de uma forma
ou de outra, a morte à fome de milhões de pessoas na antiga União
Soviética. Seriam necessárias muitas páginas para o fazer. Abra-se
contudo e apenas um parêntese breve nesta reflexão crítica acerca das
pequenas e grandes mistificações na história da Psicologia para o referir,
de modo somente superficial, desde logo naquilo que ele exemplifica de
totalmente errado na apropriação da Ciência pelo dogma e pelo
preconceito; ou ainda na subjugação do conhecimento científico (e da sua
busca) ao fanatismo e ao fundamentalismo; ou mesmo à utilização
completamente pervertida e fraudulenta da autoridade científica para
supostamente justificar e validar políticas sociais mais do que
simplesmente duvidosas — como o racismo, que tinha estado duas
décadas antes na base da aplicação dos (supostos) testes de inteligência
aos recrutas do exército dos Estados Unidos.
História da Psicologia 34
O episódio dos (supostos) testes de inteligência aplicados aos recrutas do
exército norte-americano não conheceu um apoio firme e aberto do poder
político, o que aliás seria ilógico de acontecer num país apesar de tudo
democrático, como já o eram os Estados Unidos da América no início do
século XX. Todavia, as semelhanças entre os dois casos são dignas de
reflexão. Até no facto de, num como noutro, o que era falso ter passado a
ser verdadeira; fossem as ideias absurdas de Lysenko sobre a
hereditariedade, fossem as ideias não menos absurdas de Robert Yerkes
ou de Henry Goddard, entre outros que se lhes seguiram, também sobre a
hereditariedade (da inteligência) ou sobre a eugenia ou sobre a suposta
psicologia das raças humanas.
5 - A aplicação em massa de (supostos) testes de inteligência
História da Psicologia 35
origem e não espelhando nenhuma estrutura natural e universal do ser e do
devir humanos, caso exista uma tal coisa.
Nesse sentido, o estudo da inteligência foi e continua a ser um presente
envenenado que um certo pragmatismo norte-americano ofereceu à
Psicologia, na sua ânsia aflita de tudo reificar e tudo reduzir a números, de
operacionalizar e quantificar todas as realidade, mesmo (ou sobretudo) as
pior compreendidas e mais imperfeitamente definidas. Acreditando, a partir
desse passe de mágica, que a realidade medida (a realidade estatística) é a
realidade “real” (neste caso, a realidade psicológica); e criando em seguida
uma série de tautologias, das quais a mais panglossiana deverá ser,
justamente, uma das mais repetidas no universo da Psicologia: a
inteligência é aquilo que os testes testam. Aliás, mais do que um presente
envenenado, foi — e continua sendo — um presente amaldiçoado, no
sentido em que, em grande medida, a Psicologia não pode viver com ele;
do mesmo modo que não pode passar sem ele. Até porque a mensuração
da inteligência tornou-se, e não apenas na América, uma indústria lucrativa.
A matéria é demasiado vasta, além de complexa e matizada por tonalidade
de difícil apreensão, para poder ser aqui tratada como aprofundamento que
merece. Direi, todavia, o básico. Por um lado, que grande parte do impulso
para estudar a inteligência dessa forma estreita (e preconceituosa e
dogmática) nos Estados Unidos foi iniciado por (apenas) um punhado de
nomes, ligados ao eugenismo e à suposta Psicologia da Raça e, não
obstante estas inclinações duvidosas, amplamente celebrados pela
historiografia instituída; tendo em particular muito ficado a dever aos
esforços prosélitos dos já citados Goddard e Yerkes. Sendo de notar, por
outro lado, que a apropriação desse acontecimento é em si mesmo uma
ironia: os testes aplicados talvez medissem, olhando para eles com alguma
indulgência, o grau de aculturação aos valores dominantes nos Estados
Unidos no início do século XX (não são necessários muitos exemplos para
perceber o quanto ambos os testes (”Alpha” e “Beta”) eram basicamente
testes de aculturação, ainda por cima culturalmente enviesados. No caso
do teste “Beta”, um teste com ilustrações (para os recrutas iletrados), era
necessário estar familiarizado com coisas como o fonógrafo ou a lâmpada
incandescente, o que de facto não acontecia com muitos imigrantes
recém-chegados à América. No caso do teste “Alpha”, perguntas como
“Velvet Joe appears in advertisements of: (tooth powder) (dry goods)
(tobacco) (soap)” ou “Christy Mathewson is famousa as a: (writer) (artist)
(baseball player) (comedian)” são suficientemente reveladoras. Tal como
História da Psicologia 36
refere Diane Paul (1995), os testes parecem sobretudo uma versão da
época do jogo Trivial Pursuit), mas não eram certamente uma forma de
medir a inteligência. Ou seja, tratou-se de um acontecimento inventado ou
prodigamente embelezado, o que é típico, tipicamente despolitizado, sem
conflitos, discórdias ou controvérsias. Um falso acontecimento ou, se se
preferir, uma mistificação, toda ela emanando, tal como o “lysenkismo”, de
uma ideologia, neste caso racista e eugenista. Um símbolo quase perfeito
da jactância e do modus operandi dessa clique ou corrente que ainda
domina a Psicologia enquanto prática, enquanto disciplina científica e
académica. Perante o torpor, a indiferença ou a docilidade mais
extraordinária da comunidade.
Gould (1981) consagrou uma parte importante do seu famoso The
mismeasure of man a uma rara leitura (a leitura feita por Stephen Gould é
rara no sentido de preciosa, mas também no sentido mais literal do termo,
uma vez que a extensa monografia de Robert Yerkes raramente foi lida: “Os
resultados do trabalho são um desastre vergonhoso, e não apenas por
causa do excesso de ambição ou da falta de realismo de Yerkes. Todos os
detalhes constam da monografia, mas quase ninguém a lê. O resumo
estatístico converteu-se numa poderosa arma social para os racistas e os
eugenistas; as suas raízes podres podiam ser detectadas no corpo
monografia, mas quem é que faz indagações para além da superfície
quando esta reflete uma ideia que coincide com a suas própria?”) crítica
desse episódio; tendo observado desde logo a esse respeito que a
“principal repercussão dos testes não proveio da pouco entusiástica
utilização que fez o exército dos resultados obtidos pelos indivíduos, mas
da propagada geral que rodeou o relatório de Yerkes sobre os dados
estatísticos finais” (p. 204). O próprio Yerkes reconheceu claramente que
“salvo poucas excepções, todas [as opiniões dos comandantes militares]
se revelaram contrárias ao trabalho dos psicólogos e levaram vários oficiais
do Estado-maior a concluir que o trabalho é de pouca, ou nenhuma,
utilidade para o exército e deveria ser interrompido” (Yerkes, R. M. (1921).
Psychological examinig in the United States army. Memoirs of the National
Academy of Sciences, 15, p. 43., como citado em Gould, 1981, pp. 210-211.).
Yerkes não chegou a ser interrompido, devido às suas relações pessoais e
às suas diligências, mas prosseguiu sob uma nuvem de suspeita,
nomeadamente quanto aos seus próprios (ibidem, p. 211; p. 203). “Um [dos
oficiais] chegou à conclusão de que era preciso controlá-lo para que
“nenhum teórico… possa utilizá-lo como mero pretexto para a obtenção de
História da Psicologia 37
dados com visitas ao seu trabalho de investigação e ao futuro benefício da
raça humana” (cit. in Kevles, 1968, p. 577)” (ibidem, p. 203).
História da Psicologia 38
como houve alteração de resultados ou falsificação dos resumos
estatísticos, de modo a ultrapassar a óbvia inadequação do teste “Alpha”. E
estava numa posição privilegiada para testemunhar o desastre e ponderar
sobre as suas muitas deficiências e a fragilidade óbvia, ou nulidade, dos
seus resultados. O que não fez.
Nota Final
Apesar das suas várias limitações como historiador, Boring acabou sendo
transformado num ícone da historiografia instituída da Psicologia
dominante (que no fundo se limitou a continuar a via por ele traçada), e que
o celebrou sem vergonha a partir daí, reforçando desse modo a sua
suposta autoridade e dando início a um fenómeno cuja lógica circular é
insofismável. Em termos simples, ao influenciar toda a Psicologia
americana, o livro e a versão de Boring vieram, pela posição dominante que
essa mesma Psicologia viria a ocupar no mundo, influenciar toda a
Psicologia ocidental. Levando até a Europa a aprender a sua própria
história, ou a história da sua própria Psicologia, através daquilo que a
Psicologia dominante entendia, ou entendia entender — ou conseguia
entender — dessa mesma Psicologia. E que Boring, em grande parte, se
limitou a estenografar.
Há qualquer coisa de absurdo na forma laudatória como a literatura norte-
americana de introdução à disciplina se lhe refere, como o deão, na medida
em que alude literalmente à dignidade eclesiástica a que está inerente a
presidência do cabido. A dignidade de Boring como historiador é, no
mínimo, uma matéria de contenção. Contudo, o seu muito discutível
estatuto contribuiu para que a mistificação criada em torno da tão
celebrada aplicação dos testes “Army Alpha” e “Army Beta” acabasse por
ser perpetuada por quase toda a historiografia, oficial e não oficial, da
disciplina; quer nos Estados Unidos da América, quer no resto do mundo.
Tal episódio é, em vários sentidos, uma das maiores mistificações da
história e da historiografia da Psicologia Dominante, da Psicologia e da
Ciência, de um modo geral. Sendo, simultaneamente, uma das mais graves,
até porque a historiografia oficial cobriu com um véu de silêncio, quando
pelo contrário deveria ter denunciado, as feições mais sinistras de um
empreendimento várias vezes fraudulento que não disfarçava sequer os
preconceitos racistas de onde partia; os quais obviamente confirmou, à
custa de entorses e falsificações. As más consequências imediatas dessas
aplicação no desenvolvimento da Psicologia como Ciência nunca foram
História da Psicologia 39
contabilizadas. Mas são, contudo, pequenas quando comparadas com as
consequências da sua aplicação social. Tal como defende Gould (1981),
sintetizando o episódio e algumas das suas ramificações, “os caminhos da
destruição muitas vezes são indiretos, mas as ideias podem converter-se
em meios tão eficazes quantos os canhões e as bombas” (p. 244). Com
efeito, as ramificações sociais dessa mistificação são comparáveis, mesmo
que possam não ter tido a mesma gravidade, às do “lysenkismo”, uma das
mais sinistras mistificações da história da Ciência — ou, em rigor, da falsa
ciência. A promoção de políticas eugénicas, assim como a promulgação de
programas de esterilização compulsiva atrás referidas, são um exemplo
desumano de tais ramificações, num dos países onde menos de esperaria
vir a encontrá-las. Aliás, quando a questão das esterilizações compulsivas
foi levantada nos julgamentos de Nuremberga, vários nazis defenderam-se
afirmando que a inspiração viera dos Estados Unidos (para um panorama
geral das políticas eugénicas e de esterilização nos Estados Unidos, veja-
se por exemplo: In the name of eugenics: Genetics and the uses of human
heredity (Kevles, 1985)).
História da Psicologia 40
portanto não podem ser medidas como superfícies lineares o
são.
Alfred Binet - L’âme et le corps 1905
Alfred Binet
Alfred Binet (Alfredo Binetti) nasceu em 1857, de um pai médico e de uma mãe
pintora. Após ter terminado o secundário em Paris, iniciou estudos de direito
tendo-se graduado em 1878. Abandonou a advocacia seis anos depois de ter
começado iniciando estudos de medicina que não chegou a terminar.
Continuou a sua formação eclética assistindo as aulas de Psicofisiologia e de
Psiquiatria Clínica. Em 1884 iniciou estudos de ciências naturais na Sorbonne,
sob a orientação do seu sogro, professor de embriologia. Encorajado por
Théodule Ribot, resolve estudar psicologia, vindo a trabalhar com Charcot.
Torna-se diretor adjunto do laboratório de Psicologia Fisiológica da Sorbonne
e, no mesmo ano (1892), Théodore Simon, interno de Psiquiatria, contacta-o a
propósito de crianças anormais → iniciam uma colaboração.
História da Psicologia 41
escala servisse para eliminar crianças com dificuldades em nome de uma
ideologia elitista, pelo contrário, entendia que se deve criar para as crianças
com mais dificuldades uma estrutura de acolhimento que lhes permita integrar
o mais rapidamente possível as turmas normais. E nesse sentido, criou em
1905 um laboratório de Pedagogia, contudo, a sua escala irá dar origem a
interpretações naturalistas, simplistas e racistas, nomeadamente nos EUA. A
sua modificação por Lewis Terman fará dela um instrumento de seleção e de
elitismo.
Binet, um francês que caiu na Psicologia por acidente; texto por Stephen
Murdoch, 2007
Na passagem para o século XX, a inteligência foi salva por Alfred Binet, um
francês que caiu na Psicologia por acidente e que falhou, miseravelmente,
repetidamente, e publicamente até criar os exames que são a fundação dos
testes de inteligência de hoje. Aos 22 anos, Binet convalesceu na Biblioteca
Nacional de Paris depois de um colapso nervoso - o local ideal de
recuperação para um intelectual jovem e independente financeiramente. O
seu colapso emocional veio depois de anos de estudo trivial. Tal como
muitos homens e mulheres jovens que são confrontados com muitas
escolhas e insuficiente direcionamento, Binet tinha sido atraído
primeiramente para direito, um campo que prometia estabilidade e respeito,
ou pelo menos algo para fazer. Ele até ganhou a sua licença para praticar,
mas não se conseguiu puxar para trabalhar como advogado, concluindo
que direito era “a carreira dos homens que ainda não escolheram a sua
vocação”.
Binet deixou direito e entrou na escola de medicina, mas não conseguiu
tolerar o teatro de operações. Não era tanto o sangue e vísceras que o
perturbavam, mas sim as memórias de uma pai fisiologia sádico que o tinha
forçado a tocar num cadáver quando ele era apenas uma criança com a
intenção de “curar” o jovem Alfred da sua timidez.
Durante a sua recuperação na biblioteca, Binet ficou fascinado pela
psicologia. Aprendeu informalmente sobre o campo de estudo a ler e a
praticar (embora o seu praticar na altura fosse um desastre). Descobriu que
era extremamente mau na psicologia experimental - pelo menos
inicialmente. E os seus erros eram grandes, públicos e humilhantes.
Durante um período de 20 anos, publicou artigos baseados em
experiências mal arquitetadas que danificaram severamente a sua
reputação. Em particular, conduziu uma experiência pensamental que
História da Psicologia 42
envolvia uma mulher bonita e neurótica, um íman grande de ferraduras e
hipnose o que lhe trouxe chacota nos jornais sérios. […]
Surpreendentemente, fora a dificuldade profissional e pessoal, emergiu um
home que é considerado um gigante na história da psicologia. Como
resultado das suas experiências, Binet também se tornara cientificamente
mais rigoroso e mais conservador nas suas conclusões
Binet e os E.U.A.
(Henry Goddard ↔ Lewis Terman)
MORON
“Moron” (débil mental) foi cunhado em 1920 pelo psicólogo
Henry H. Goddard a partir da antiga palavra grega “moros”
que significava “dull” (chato) (oposto de oxy, que significava
“sharp” (inteligente)), e usou-o para descrever a pessoa
adulta com uma idade mental entre 8 e 12 anos na Escala de
Binet.
História da Psicologia 43
Henry Goddard
História da Psicologia 44
Mas ficou acima de tudo conhecido pelo seu estudo “The Kallikak family: a
study in the heredity of feeble-mendedness”
História da Psicologia 45
O suposto “lado mau” da família Kallikak
Goddard estudou o suposto “lado mau” dessa família, em oposição àquilo que
ele considerava o “lado bom”: o “lado mau” corresponderia ao filho que Martin
Kallikak teve de uma relação pontual com a empregada de uma taberna, e sua
descendência; o “lado bom” corresponderia aos sete filhos (e sua
descendência) que teve do casamento com uma mulher de “boas famílias”
(quaker); o próprio Goddard era filho de pais quakers, devotos e evangélicos, e
frequentou escolas quaker.
No suposto “lado mau” a família, entre 480 descendentes, Goddard terá
encontrado apenas 46 pessoas “normais”. Das restantes, 143 seriam
indubitavelmente deficientes mentais, 36 seriam filhos ilegítimos, 33 seriam
pessoas “sexualmente imorais”, 24 seriam alcoólicos e 3 seriam epilépticos.
Entre esses descendentes, haveria ainda ladrões de cavalos, pobres,
condenados, prostitutas, criminosos e donos de casas de má reputação; a
“ralé” da sociedade.
História da Psicologia 46
tarde. Isso não o impediu de publicitar aquilo que ele considerava uma ameaça
genética ao povo americano (também não impediu que tenha dado origem a
numerosos outros estudos do mesmo teor) e de recomendar a esterilização
compulsiva de pessoas com (suposta) deficiência mental ou de ser consultor
psicológica da “eugenics section” da American Breeders’ Association,
colaborando no relatório para a eliminação de “pessoas com defeitos” da
população dos Estados Unidos da América. Esse comité recomendou em 1914
que as “classes com defeitos” fossem eliminadas da população humana
através de esterilização; incluindo-se em tais classes os deficientes mentais,
os pobres, os criminosos, os epilépticos e os loucos, entre outros. Comité que
teve igualmente o parecer favorável de Robert Yerkes, Edward Lee Thorndike e
Lewis Terman, que eram considerados nos EUA os psicólogos mais eminentes
da época. O estado do Indiana aprovou em 1907 as primeiras leis estaduais
sobre esterilização de “criminosos confirmados, idiotas, imbecis e violadores”.
Nas duas décadas seguintes, outros 20 estados norte-americanos aprovaram
leis similares, permitindo esterilizações eugénicas. Quando a lei alemã sobre
esterilização foi aprovada em 1933, o editorial da revista americana Eugenical
News congratulou-se
História da Psicologia 47
Apenas os Dobbes e a Carrie apareceram, porque a sua mãe já estava
presa em Lynchburg e o seu pai morto.
História da Psicologia 48
nessa ocasião que se interessou pelos testes mentais, o que o levou a ter que
escolher outro orientador, pois Hall desaprovava os testes mentais.
Questões de saúde levaram-no a ir para a Califórnia, onde foi professor de
liceu da (atual) California State University e da Universidade de Stanford, onde
permaneceu até ao fim da sua carreira. Foi na Universidade de Stanford que
Terman começou a investigar a escala Binet-Simon, estudo o que o levou
posteriormente a apresentar várias revisões da escala original. Publicou em
1916 a primeira revisão (Stanford Revision of the Binet-Simon scale) tendo
apresentado novas revisões em 1937 e 1960.
História da Psicologia 49
parte igualmente John Watson, James Cattel, Stanley Hall e Edward Thorndike.
Decidiram concentrar-se no desenvolvimento de método de exame psicológico
adaptados às necessidade militares. A convite de Goddard, um grupo de
psicólogos (incluindo Terman e Yerkes) reuniu-se em Vineland e, numa questão
de poucos meses, desenvolveram dois testes de aplicação coletiva que vieram
a ser conhecidos como “Army alpha” e “Army beta”. Estes testes foram a ponta
visível de uma das maiores falsificações da história da Ciência.
História da Psicologia 50
Weber
Wundt
Fechner
Leipzig
Titchener
Universidade de Wurzburg
História da Psicologia 51
Psicologia da Gestalt → também denominada Gestaltismo,
Guestaltismo, Configuracionismo ou Psicologia da Forma, é uma escola
de Psicologia do início do século XX da Áustria e Alemanha; teoria da
percepção que rejeita princípios básicos da psicologia elementalista e
estruturalista de Wundt e Titchener; fundada por wertheimer, Kohler e
Koffka
Kohler
Koffka
Wertheimer
História da Psicologia 52
Kulpe (1862-1915)
Wundt (1832-1920)
História da Psicologia 53
explicados em termos de estados e processos fisiológicos,
mas sim porque acreditava que a psicologia científica
deveria aproveitar os métodos experimentais que se tinham
provado tão bem sucedidos no desenvolvimento da fisiologia
alemã do século XIX
John D. Greenwood - A conceptual history of psychology
História da Psicologia 54
Nasceu na pequena aldeia de Neckarau, perto de Mannheim (no principado
alemão de Baden). Filho de um pastor luterano, ambas as suas famílias de
origem (materna e paterna) foram intelectualmente proeminentes. Incluindo,
nomeadamente, dois presidentes da Universidade de Heidelberga.
Apesar disso, terá tido uma infância triste e solitária. O seu único companheiro
de brincadeiras, por quem se sentia responsável, sofria de uma deficiência
mental ligeira. Talvez por isso, tenha sido toda a vida uma pessoa tímida e
reservada.
História da Psicologia 55
Depois de ter passado pela Universidade de Berlim, voltou a Heidelberg, onde
foi assistente de Von Helmholtz no recém-criado Instituto de Fisiologia. Essa
posição foi um desapontamento para ele, pois tinha a seu cargo sobretudo dar
aulas e não investigar. Apesar disso, conseguiu criar uma disciplina de
Antropologia, a que hoje se chamaria de Psicologia Social, em 1859: viria a
dedicar uma grande obra (em dez volumes) a esse tema nas últimas décadas
da sua vida.
Wundt conceptualizou a psicologia como se situando entre as ciências naturais
e as ciências sociais. Entendia também que, sempre que possível, a nova
ciência devia utilizar os métodos de pesquisa experimental das ciências físicas.
No entanto, nem todas as áreas da Psicologia poderiam ser estudadas dessa
forma. Assim, Wundt dividiu o estudo da Psicologia Científica em 3 áreas ou
ramos: 1) como ciência experimental indutiva; 2) como estudo da linguagem,
dos mitos, da estética, da religião e dos costumes sociais, ou seja, dos
processos mentais superiores ou das suas produções (uma vez que esses
processos não podem ser manipulados ou controlados, não podem ser
estudados experimentalmente - nesse caso, devem ser abordados através de
registos históricos e literários e de observações naturalísticas); 3) como
integração dos conhecimentos empíricos da Psicologia com os das outras
ciências (a esta terceira subdivisão, Wundt chamou “metafísica científica” que
deveria evoluir para o objetivo ideal da ciência - uma teoria coerente de todo o
Universo - nesse sentido, a Psicologia deveria ser uma ciência de base ou uma
ciência preliminar daquela que seria a ciência que iria integrar as ciências
físicas e sociais).
História da Psicologia 56
universidade no verão de 1876. A sala (prometida a Wundt
em 1875) estava localizada numa estrutura despretensiosa
chamada edifício Konvikt, que tinha sido construída para ser
uma cafeteria para estudantes pobres.
John D. Greenwood - A conceptual history of psychology
Estabelecendo-se em 1879 como data da sua criação, uma vez que foi no
outono desse ano que se iniciou a realização de algumas experiências de
Psicologia Experimental. Na verdade, o laboratório só foi reconhecido pela
própria Universidade no ano de 1883, em parte porque Wundt ameaçou aceitar
um convite para o levar para a Universidade Breslau. O estabelecimento desse
laboratório foi um ato de coragem, pois Wundt teve que enfrentar a oposição
de vários colegas (que questionavam a legitimidade da Psicologia como ciência
experimental). Wundt teve igualmente que enfrentar a oposição vigorosa de
muitas vozes da filosofia. O laboratório cresceu em tamanhos e importância ao
longo dos anos, tendo vindo a chamar-se “Instituto de Psicologia” e a ocupar
um edifício concebido expressamente para se efetuar pesquisa Psicológica
(edifício que veio a ser destruído durante um “Raid” aéreo na noite de 4 de
dezembro de 1943, por forças armadas anglo-americanas).
História da Psicologia 57
Wundt não se limitou a fundar a Psicologia científica: formou pessoalmente
uma coorte substancial da primeira geração de Psicólogos.
ESCOLA DE WURZBURG
O programa da Psicologia Experimental de Wundt em Leipzig foi uma força
dominante na Alemanha por muitos anos, mas não foi o único programa de
Psicologia baseada em laboratório, no final do século XIX e início do século XX.
Houve outras universidade alemãs que criaram institutos de Psicologia e os
seus programas vieram a rivalizar (e até ultrapassar) o programa de Wundt.
Houve igualmente outros nomes importantes na fundação e institucionalização
da Psicologia Científica na Alemanha, como por exemplo, Hermann
Ebbinghaus, Georg Ellias Muller, Franz Brentano ou Carl Stumpf. O mais
História da Psicologia 58
proeminente terá no entanto sido Oswald Kulpe, que se doutorou com Wundt e
foi seu assistente.
História da Psicologia 59
Edward Bradford Titchener (1867-1927)
Sobre este autor, ver o Módulo “Estados Unidos” (Expansão da Psicologia nos
E.U.A.)
História da Psicologia 60
💡 Funcionalismo
Behaviorismo
É uma abordagem sistemática para a explicação do comportamento
dos seres humanos e animais. Para o behaviorismo, comportamento é
tudo aquilo que um organismo - humano ou animal - faz ou produz,
incluindo ações privadas, como sentir ou pensar (causas,
manutenção e perda de comportamentos).
Estruturalismo
História da Psicologia 61
Max Wertheimer nasceu em Praga (império austro-húngaro) numa família judia
germanófona. A mãe, apaixonada por música e literatura europeia, encoraja-o
a aprender piano e violino. Em 1898, inscreve-se na faculdade de direito de
Praga, mas interessa-se rapidamente por outras matérias, como a fisiologia, as
artes e a filosofia. Acaba por escolher a filosofia e tem como professor
Christian Von Ehrenfels, que foi o primeiro pensador a formular a ideia de
“Gestalt”.
Tendo partido em 1902 para Berlim, vem a ser aluno de Carl Stumpf. É nessa
altura que aprofunda os seus conhecimentos de música e se apaixona pela
Psicologia Experimental, embora vá terminar a sua tese na Universidade de
Wurzburg. Foi expulso da Universidade (em 26 de abril de 1933) e da
Alemanha.
História da Psicologia 62
Kurt Koffka nasceu e estudou Psicologia em Berlim, tendo terminado a sua tese
em 1908 sob a orientação de Carl Stumpf. Foi assistente de Johannes Von
Kries na Universidade de Freiburg e de Oswald Kulpe na Universidade de
Wurzburg (Oswald Kulpe, formado por Wundt e também orientador de
Wertheimer, irá animar a chamada “escola de Wurzburg”, rival da escola de
Wundt). Após a saída de Kulpe, irá para a Universidade de Frankfurt, onde
participa nas experiências de Max Wertheimer. Em 1927, emigra para os
estados unidos, tornando-se professor no Smith College.
História da Psicologia 63
As suas experiências (hoje consideradas clássicas) com Chimpanzés
mostraram por exemplo que eles eram capazes de empilhar caixotes para
alcançar alimentos. Comprovado que estes grandes primatas têm condições
para resolver problemas relativamente complexos, aproximando-se portanto da
inteligência humana. Tais pesquisas enfatizam que não só a percepção
humana, mas também as nossas formas de pensar e agir, funcionam, com
frequência, de acordo com os pressupostos da Gestalt da reorganização
perceptiva. Observou por exemplo que o ato cognitivo corresponde a uma
restruturação do conhecimento anterior (informações disponíveis na memória),
tal como posteriormente veio a ser defendido pelos construtivistas na esteira
de Jean Piaget. As suas observações nesta matéria foram publicadas em 1917
em Intelligenzprufungen An Anthropoiden.
Tendo regressado à Alemanha em 1920, ensinando na Universidade de Berlim
até 1935 e tendo publicado em 1929 a obra Gestalt Psychology. A chegada ao
poder nos Nazis, que ele critica abertamente devido às suas políticas racistas,
obriga-o a abandonar definitivamente a Alemanha. Instala-se nos Estados
Unidos em 1935, tornando-se professor no Swarthmore College (Pensilvânia)
até 1955. Torna-se nessa altura membro do Institute For Advanced Study de
Princeton, vindo depois a ser professor no Dartmouth College. Recebeu o
“Distinguished Scientific Contribution Award” da American Psychological
Association, da qual será posteriormente o presidente.
Os 4 princípios de Gestalt:
História da Psicologia 64
Segundo a Psicologia da Gestalt existem quatro princípios a ter em conta para
a percepção de objetos e formas: 1) tendência para a estruturação; 2)
segregação figura-fundo; 3) pregnância ou boa forma; 4) constância
perceptiva
História da Psicologia 65
3. Unidade - um elemento encerra-se em si mesmo; vários elementos podem
ser percebidos como um todo;
8. Lei da simetria
História da Psicologia 66
A lei da simetria diz que a mente percebe objetos como sendo simétrico e a
formar um ponto concêntrico. É perceptivamente agradável dividir objetos
num número par de partes simétricas. Portanto, quando dois elementos
simétricos estão desconectados, a mente perceptivamente conecta-os
para formar uma forma coerente. Semelhanças entre objetos simétricos
aumenta probabilidade dos objetos serem agrupados para formarem um
objeto simétrico combinado. Por exemplo, a figura da lei da simetria mostra
a configuração de parêntesis retos e curvos. Quando a imagem é
percebido, tendemos a observar 3 pares de parêntesis simétricos em vez
de 6 parêntesis individuais.
História da Psicologia 67
estavam desorganizadas. Em novembro de 1918, motins por Berlim levaram ao
armistício (partes envolvidas em conflito armado concordam em parar de lutar)
e para a fundação, depois de mais motins sangrentos, da República de Weimar.
Esta república passou por 21 mudanças de governo de 1919 a 1933, acabando
com a eleição de Adolf Hitler. A fome era comum e a inflação foi para níveis
difíceis de compreender. Em agosto de 1922, 400 marcos alemães (moeda)
compravam um dólar dos Estados Unidos. Em agosto de 1923 o rácio é de 1
milhão de marcos para 1 dólar e em novembro era 4,2 triliões de marcos para 1
dólar. Bancos pagavam saques de dinheiro a peso. — David Hothersal, história
da Psicologia
Kurt Lewin
História da Psicologia 68
rebentou, Lewin voluntariou-se, tendo passado 4 anos nas trincheiras
tendo sido condecorado com a “cruz de ferro”, antes de ser ferido em 1918.
Após a sua desmobilização, voltou para o Instituto de Psicologia de Berlim,
como colega de Wertheimer e Kohler; sendo amigo de Koffka. Em 1921 foi
nomeado como Privatdozent da universidade, atraindo muitos alunos às
suas aulas. Formava com os seus alunos um grupo coeso, encontrando-se
com frequência com ele no café sueco, para discussões informais.
Foi Pioneiro:
Do desenvolvimento Organizacional
Da Psicologia Aplicada
História da Psicologia 69
A psicologia primeiro era uma disciplina académica na
Alemanha porque a Alemanha desenvolveu o sistema
moderno universitário que permitiu a Wundt e os seus
colegas criarem uma psicologia experimental assente no
sucesso anterior da psicologia experimental.
Contudo, a psicologia foi desenvolvida mais rapidamente
institucionalmente na América do que na Alemanha. Pelo fim
do século XIX, a psicologia Americana já tinha uma
organização profissional ativa, a Associação Psicológica
Americana (APA), fundada em 1982; jornais dedicados à
psicologia geral, experimental e aplicada; e a presença
académica substancial no sistema Americano universitário.
História da Psicologia 70
EDWARD TITCHENER (1867-1927)
Edward Titchener
História da Psicologia 71
Edwin Boring - A history of psychology in autobiography
Após ter obtido o seu doutoramento, foi para a Universidade de Cornell, nos
Estados Unidos, onde se celebrizou por ser um suposto seguidor fiel de
Wundt. Na verdade, aquilo que apresentou nos estados Unidos foi a sua versão
das ideias de Wundt e da Psicologia (Wundt não aprovou sequer as traduções
para inglês dos seus “princípios”, feitas por Titchener) que ficou conhecida
como “Estruturalismo”
ESTRUTURALISMO
Wundt procurou estabelecer no seu laboratório uma base verdadeiramente
científica para a nova ciência da Psicologia. Nesse sentido, realizava
experiência para obter dados sistemáticos e objetivos que poderiam ser
replicados por outros pesquisadores de modo a permanecer fiel ao seu ideal
científico, Wundt dedicou-se principalmente ao estudo de reações simples a
estímulos realizados sob condições controladas, contudo, essa era apenas
uma das subdivisões da Psicologia, na visão de Wundt. Esse seu método de
trabalho viria a ser denominado de estruturalismo por Titchener que o divulgou,
adulterando-o nos Estados Unidos. O alvo do seu estudo era a estrutura
consciente da mente e do comportamento, sobretudo as sensações. Um dos
métodos utilizados por Titchener era a introspeção: nela o indivíduo explora
sistematicamente os seus próprios pensamentos e sensações a fim de obter
informações sobre determinadas experiências sensoriais. A tónica do trabalho
era, mais do que compreender o que é a mente, conhecer o “como” e o
“porquê” do seu funcionamento.
História da Psicologia 72
Reducionismo: pretende reduzir a complexidade da experiência humana a
simples sensações.
FUNCIONALISMO
Enquanto que o Estruturalismo e a Psicologia da Gestalt foram importadas da
Alemanha, o Funcionalismo é considerada a primeira escola americana de
Psicologia. O funcionalismo é uma escola americana na sua origem, na sua
abordagem e na sua “personalidade” (o chamado pragmatismo americano, de
William James e de Charles Sanders Peirce, serviu-lhe de pano de fundo).
História da Psicologia 73
💡 William James
William James (janeiro 11, 1842-agosto 26, 1910) foi um filósofo e
psicólogo americano, e o primeiro educador a oferecer um curso de
psicologia nos Estados Unidos.
História da Psicologia 74
(baseada parcialmente em Wundt). A mente consciente seria, para James, um
constante fluxo, em constante interação com o meio ambiente, por isso a sua
atenção estava mais voltada para a função dos processos mentais
conscientes.
História da Psicologia 75
permitir que se sentem ao colo. Se não tiver alternativa, dê-
lhes um único beijo na testa quando elas disserem boa noite.
Dê-lhes a mão pela manhã, passe a mão pelas suas cabeças
quando elas se saírem extraordinariamente bem numa tarefa
difícil. Experimente. Numa semana vai descobrir como é fácil
ser perfeitamente objetivo com o seu filho, sem perder a
ternura. Vai ficar bastante envergonhado com o modo
sentimental e piegas com que o tem tratado até agora.
John Watson - Psychological care of the infant and child
(1928)
História da Psicologia 76
💡 Mariette Hartley
História da Psicologia 77
O próprio Watson, contudo, descreveu-se na sua autobiografia, como um
jovem cruel, violento, preguiçoso e insubordinado. Era um estudante fraco, em
constantes problemas com as autoridades, escolares e civis. Foi preso duas
vezes: por disparar uma arma e por se envolver em lutas com negros; uma
atividade que ele considerou ser um dos seus passatempos favoritos (a prisão
de um jovem branco por violência nos estados rurais do sul, no século XIX, era
rara; o comportamento de Watson devia ser extremo). Depois de várias
peripécias, Watson conseguiu matricular-se na Universidade de Chicago. Oito
anos depois, conseguia um lugar de professor na Universidade de Johns
Hopkins, após uma ascensão meteórica que havia de ser seguida de uma
queda igualmente muito rápida.
Behaviorismo inicial
História da Psicologia 78
comportamento observável e quantificável tem, por si só, significado, em
vez de simplesmente servir como uma manifestação de eventos mentais
subjacentes. Este movimento foi formalmente iniciado por um psicólogo
americano, John Broadus Watson (1878-1958), no seu famoso artigo,
“Psicologia como um comportamentalista a vê”, publicado em 1913. Watson
propôs uma separação radical das formulação existentes da psicologia
definindo que a direção apropriada para o desenvolvimento da psicologia
não é o estudo da consciência interior. De facto, ele dispensou o conceito
de alguns estados mentais não físicos da consciência e considerou-os um
pseudoproblema para a ciência. No seu lugar, Watson defendeu o evidente
o observável como o único e legítimo assunto que importa para a
verdadeira ciência da Psicologia.
Watson foi muito bem sucedido a iniciar o redirecionamento do
desenvolvimento da psicologia. Embora Watson possa ter sido o porta-voz
para um movimento revolucionário definindo a extensão da psicologia,
deve ser reconhecido que o sucesso subsequente do movimento
behaviorista é melhor caracterizado como evolucionário em vez de
revolucionário. Comportamentalismo, especificamente nos Estados Unidos,
tem mudado gradualmente da definição inicial de Watson para uma que
acompanha a reflexologia objetiva de Sechenov para os problemas
psiquiátricos, e em 1907 ele fundou o St. Petersburg Psychoneurological
Institute.
História da Psicologia 79
sensacionalista francesa, que tinha reduzido os conteúdos mentais às
sensações, tinha já estabelecido uma versão preliminar do behaviorismo. No
entanto, Watson foi melhor sucedido na mudança do estudo dos “estados e
conteúdos da consciência” para o estudo do comportamento. Essa mudança
ficou a dever-se em parte e indiretamente a Charles Darwin, cujas observações
meticulosas para fundamentar os princípios da seleção natural, sublinharam a
importância do valor adaptativo do comportamento. O behaviorismo de Watson
teve a sorte de estar no sítio certo, no momento certo, tendo acabado por
funcionar como catalisador de várias tradições que eram, já de si mesmas,
convergentes. Depois de Watson, o behaviorismo dos Estados Unidos foi
dominado por quatro nomes: Edwin Guthrie, Clark Hull, Edward Tolman e B.F.
Skinner.
História da Psicologia 80
Devemos ser conscientes do que está a acontecer à psicologia europeia
durante este período. Embora os modelos psicológicos baseados em
assunções ativas da consciência - como Gestalt, psicanálise e
fenomenologia - fossem movimentos Europeus, a agitação criada pelos
eventos voláteis no século XX na Europa resultou na exploração destas
visões para a América. Para além de trazerem morte e destruição, as
guerras mundiais destruir completamente a atividade intelectual. Não foi
por acaso que uma das primeiras revisões do behaviorismo watsoniano
coincidiu com a emigração dos líderes do movimento Gestalt, que fugiram
do anti-intelectualismo e do antissemitismo que se seguiram à tomada de
poder por Hitler em 1933. Depois dos líderes das propostas Europeias para
a formulação da psicologia fugirem para os Estados Unidos, as suas visões
modificaram o behaviorismo existente para várias extensões
História da Psicologia 81
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) foi um psicólogo americano, behaviorista, autor,
inventor e filósofo social. Foi professor de psicologia na Universidade de Harvard de 1958 até
se reformar em 1974.
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💡 Debby Skinner
História da Psicologia 83
no através do vidro e guardam para si as suas
doenças da idade escolar”.
Enfim, “uma vantagem que não se deve desprezar é
a de que o isolamento sonoro também protege a
família do bebé”. Quer dizer, se os pais não
conseguirem descobrir por que é que o bebé chora,
“não há razão para que a família e talvez a vizinhança
também tenham de sofrer”. Com este dispositivo
instalado universalmente, os senhorios deixariam de
recusar famílias com bebés.
Frederick B. Skinner - “Baby in a box”, 1945
O declínio do Behaviorismo
História da Psicologia 84
melhores sobre como tais resultados podem ser neurologicamente
implementados. A superioridade da nova Psicologia Cognitiva a lidar com a
organização de comportamentos complexos desferiu aos behaviorismo um
golpe muito prejudicial.
A segunda dificuldade veio das nova pesquisa etológica no comportamento
animal por pessoas como Konrad Lorenz e Nico Tinbergen, que levantaram
a questão ambientalismo doutrinário do behaviorismo. Enquanto os
teoristas iniciais dos instintos tinha lidados com instintos como a agressão,
fome e sexo, a nova geração deu ao conceito de instinto um significado
muito mais específico. No auge da nova etologia era óbvio que o
behaviorismo tinha sido seriamente mal interpretado ao colocar a sua fé no
rato branco.
História da Psicologia 85
💡 O Modelo-Padrão
https://www.youtube.com/watch?v=CuQHSKLXu2c&ab_channe
l=TED
História da Psicologia 86
tendências, habilidades, vocações e raça dos seus
ancestrais.
John Watson
História da Psicologia 87
Notas (não avaliação)
Em termos epistemológicos, muitos dos conceitos da Psicologia Dominante
não resistem a um exame crítico, não têm fundamentação nem estatuto
científico; são por vezes pseudo-soluções para pseudo-problemas,
suportados por uma rede nomológica discutível, sem maior fundamentação
que a lógica circular que a sustenta; nalguns casos, são jargão vazio e
mistificação, expressos nos mais elevados níveis de erudição.
História da Psicologia 88