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MODELOS

COMPORTAMENTAIS,
COGNITIVOS E
CONTEXTUAIS
FPCE-UC | 3º ano de LP, 2º semestre
Ana Allen Gomes e Maria do Céu Salvador
a.allen.gomes@fpce.uc.pt
MODELOS
COMPORTAMENTAIS
I – CONDICIONAMENTO CLÁSSICO
II – CONDICIONAMENTO OPERANTE
III – APRENDIZAGEM SOCIAL
II - CONDICIONAMENTO
OPERANTE
E. Thorndike (precursor) e a Lei do Efeito como
principal lei da aprendizagem
Interesse por R instrumentais do organismo (versus R
reflexas)
Ênfase no papel regulador das consequências das R
ou comportamentos

J. B. Skinner, o condicionamento operante e a


análise científica do comportamento
Skinner e os princípios do
condicionamento operante

A mente é aquilo que o corpo faz. É aquilo


que a pessoa faz. Por outras palavras, é o
comportamento, e é isto que os
comportamentalistas têm vindo a afirmar
por mais de meio século

(Skinner, 1987, p. 784 cit.por Gonçalves, 1990, p. 51)


Skinner e os princípios do condicionamento
operante

▪ O comportamento é fundamentalmente regulado pelas suas


consequências. Estas são tão ou mais importantes que os
estímulos que antecedem as respostas emitidas.
▪ A apresentação de um estímulo, só por si, não é suficiente
para desencadear uma resposta operante
▪ É através da associação desse estímulo a uma resposta seguida
de determinada consequência, que aquele adquire
propriedades discriminativas de incitamento da resposta , i.e.:
▪ Os estímulos antecedentes funcionam como sinais de
probabilidade para a ocorrência de determinadas
consequências (=> aumentando ou diminuindo a probabilidade
de emissão de uma resposta)
Skinner e os princípios do
condicionamento operante

Um conjunto de experiências sistemáticas e


controladas nos anos 30 /séc. XX com animais
(“caixa de Skinner”) permitiu formular
2 das principais leis do condicionamento operante:
(1) Quando um comportamento é seguido de uma
consequência reforçadora, aumenta a probabilidade
da sua ocorrência
(2) Quando um comportamento fortalecido por um
processo de condicionamento operante, deixa de
ser seguido de uma consequência reforçadora,
então a probabilidade da sua ocorrência diminui
[ou, como também se verificará, quando é seguido de uma
consequência punitiva]
Desenvolvimento da análise
operante do comportamento
1) os psicólogos deixam de centrar-se em respostas reflexas /
aprendizagem passiva (condicionamento clássico), para
privilegiarem respostas instrumentais aprendidas
2) as consequências das respostas emitidas passam a ser
consideradas como os principais fatores reguladores do
comportamento, da aprendizagem (influência darwiniana:
concebe-se que as consequências selecionam os
comportamentos/respostas emitidos)
3) através da manipulação sistemática de consequências, é
possível promover novas aprendizagens, assim como extinguir
aprendizagens – quer sejam comportamentos motores, quer
respostas verbais complexas
Conceitos fundamentais (1)

NOÇÃO DE CONTINGÊNCIA
= relação “if-then” / “se-então”

Se numa dada situação antecedente (S, E ou A) o indivíduo


(organismo ou O) emite uma dada resposta (comportamento B
ou resposta R), então terá uma determinada consequência
(consequência ou C)
(Silva et al., 2008, p. 52)

E–O–R–C
A–O–B–C
NOÇÃO DE CONTINGÊNCIA (cont.)
E–O–R–C
A–O–B–C

Antecedente operante:
Todo o acontecimento público (ex.: trovoada) ou privado (ex.:
imaginar um acidente) que ocorre imediatamente antes da emissão
do comportamento

Consequente operante:
Todo o acontecimento público (ex.: copo partido que se deixou cair)
ou privado (ex.: angústia) que ocorre imediatamente depois do
comportamento e é provocado por este

Conforme o comportamento aumenta ou diminui, fala-se em reforço,


punição ou extinção operante
As consequências podem ser: reforçador/reforço; punição
Conceitos fundamentais (2)

REFORÇO
Positivo (+)
Negativo (-)

PUNIÇÃO
Positiva (+)
Negativa (-)

EXTINÇÃO OPERANTE
R1 = pedir
gentilmente
E
hiper
com a
R2 = pedir
mãe
sem
gentileza

R3 = grita; Obter o
faz birra chocolate que
estava a pedir
Reforço +
R1 = pedir
gentilmente
E
hiper
com a
R2 = pedir
mãe
sem
gentileza

R3 = grita; Obter o
faz birra chocolate que
estava a pedir
Reforço +
S/E R1 = não ,
amavelmente
No hiper com
uma criança a R2 = não , menos
fazer birra amavelmente

R3 = vou ceder consequência:


a criança para
subitamente a
birra

Reforço -
REFORÇO
“…consequência de um comportamento que tem como efeito
aumentar a frequência, duração ou intensidade desse
comportamento” (Gonçalves, 1990, p. 57)

“…quando numa relação de contingência aumenta a


frequência, a duração ou a intensidade (ou quando diminui o
tempo de latência) de uma resposta em função de ocorrências
prévias da referida contingência” (Silva et al., 2008, p. 52)

Reforço positivo [+]: quando a consequência consiste em


ganhar/obter ou aplicar algo
Reforço negativo [-]: quando a consequência consiste em
retirar, perder ou remover algo (a
resposta põe fim a algo aversivo)
PUNIÇÃO
“…consequência pela emissão de uma determinada resposta
operante, conduzindo (…) à diminuição da frequência, duração
ou intensidade desse comportamento” (Gonçalves, 1990, p. 57)

“…quando numa relação de contingência em que a


consequência é a obtenção/aplicação de algo ou a
remoção/perda de algo, diminui a frequência, a duração ou a
intensidade (ou aumente o tempo de latência) de uma
resposta” (Silva et al., 2008, p. 54)

Punição positiva [+]: a consequência consiste em obter ou


aplicar/apresentar algo

Punição negativa [-]: quando a consequência consiste em


retirar ou perder algo
EXTINÇÃO OPERANTE
Diminuição e extinção de um dado comportamento provocadas
pela omissão sistemática do reforço que o mantinha

“Diz-se que há extinção operante quando numa relação de


contingência diminui a frequência, a duração ou a intensidade
(ou aumente o tempo de latência) de uma resposta em virtude
da mesma deixar de ser seguida da consequência reforçadora”
(Silva et al., 2008, p. 53)

Atenção: EXTINÇÃO OPERTANTE ≠ PUNIÇÃO NEGATIVA

REFORÇO NEGATIVO ≠ PUNIÇÃO


Alguns exemplos

Comportamentos “indesejáveis”:

Ex. 1: de “birra” de criança (e de “cedência” do EE)

Ex. 2: de consumo de álcool


Psicopatologia, Condicionamento Clássico e
Condicionamento Operante
Teoria dos dois fatores explicativa das respostas de medo:

Assenta num modelo de duas fases (Mowrer, 1960)

1. O indivíduo adquire uma resposta de medo através do


emparelhamento entre um estímulo neutro e um estímulo
incondicionado aversivo (factor1) → COND. CLÁSSICO

2. A ansiedade que se desenvolve passa a funcionar como um


motivador do comportamento, fazendo com que o indivíduo
seja reforçado pela fuga ou evitamento do estímulo fóbico
(factor2) → COND. OPERANTE
Escola Americana
Início nos anos 50 e assenta nos modelos teóricos do
condicionamento operante (Skinner)

Radicalmente ambientalistas: consideram a maior parte dos


comportamentos humanos aprendidos; contestam o conceito
de distúrbio psiquiátrico e de comportamento anormal; os
sintomas resultavam APENAS da existência de contingências
inapropriadas;

Alargamento da intervenção clínica a áreas como o controlo do


peso, tabagismo, manejo do stress, dificuldades sociais e
interpessoais ligadas à saúde
CONDICIONAMENTO OPERANTE
E PSICOPATOLOGIA
Os comportamentos, sejam eles considerados patológicos ou
não, são aprendidos pelos mesmos mecanismos

Toda o comportamento considerado psicopatológico pode


resumir-se a :
❖ défice de comportamentos desejáveis no reportório
comportamental do indivíduo
e/ou
❖ excesso de comportamentos indesejáveis no reportório
comportamental do indivíduo
CONDICIONAMENTO OPERANTE
E PSICOPATOLOGIA
LOGO, A INTERVENÇÃO PASSA POR:
↗ Promover comportamentos desejáveis no reportório
comportamental do indivíduo
↘ Diminuir / eliminar comportamentos indesejáveis no
reportório comportamental do indivíduo

O PRIMEIRO PASSO É A AVALIAÇÃO =


= ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO
i.e., identificando estímulos antecedentes, respostas e
consequências (A-O-B-C ou E-O-R-C-).
ESTRATÉGIAS OPERANTES
DE MODIFICAÇÃO DO
COMPORTAMENTO
ESTRATÉGIAS PARA FOMENTAR COMPORTAMENTOS (DESEJÁVEIS)

ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR COMPORTAMENTOS (INDESEJÁVEIS)

OUTRAS ESTRATÉGIAS OPERANTES


ESTRATÉGIAS PARA FOMENTAR
COMPORTAMENTOS
REFORÇO POSITIVO Tipos de reforços
• Consumíveis
• Itens
MOLDAGEM • Informação retro-ativa (feedback)
• Comportamentos de alta probabilidade
• Acontecimentos sociais
CHANNING • Auto-reforço

Escalas/tabelas de aplicação
• Reforço contínuo
PROMPTING • Reforço intermitente
- por taxa de resposta - fixa
- variável
(REFORÇO NEGATIVO) - período de tempo - fixo
- variável
REFORÇO POSITIVO - tipos :

→ Consumíveis – exs.: pastilhas elásticas, doces

Inconvenientes: disponibilidade; saciação; distratibilidade (entre outros)

→ Itens (atividades, bens materiais, etc) – ex.: ir ao cinema; passear; perfume;


dinheiro; andar de bicicleta

Sistemas de pontos ou fichas (Token Economy): cada item vale um certo nº de


pontos ou fichas (ex.: 10 pontos valem 1 bola de futebol; 50 pontos uma bicicleta)

→ Informação retroativa ou feedback


Informação-avaliação + informação-incentivo
Ex.1: muito bem, conseguiu reduzir o nº de cigarros para #/dia. Se continuar
assim, daqui a duas semanas conseguirá uma redução para # cigarros por dia.

Ex.2: muito bem, conseguiste fazer este exercício. Se continuares assim, vais
conseguir ter positiva no próximo teste.
REFORÇO POSITIVO - tipos de reforço:

→ Comportamentos de alta probabilidade

probabilidade ≠ frequência observada numa situação específica

Comportamentos de alta probabilidade referem-se às atividades a que o


indivíduo mais se dedica quando num determinado contexto (ex.: casa) pode
escolher livremente e tem acesso a várias possibilidades ( frequência
espontânea)

PRINCÍPIO DE PREMACK (1965):


Se há um comportamento A de baixa probabilidade que gostaríamos de
promover (ex.: estudar) e um comportamento B de alta probabilidade (ex.:
ver TV), se tornarmos o acesso ao comportamento B contingente à emissão
do comportamento A, a probabilidade deste aumentará.

(ou seja, o comportamento B, apreciado pelo indivíduo, é usado como


reforço do comportamento A)
REFORÇO POSITIVO - tipos de reforço:
→ Acontecimentos sociais
Acontecimentos mediados por outos.
Vantagens: não distraem e sempre acessíveis na perspetiva do “dispensador”

Atenção e aprovação social costumam ser poderosos reforçadores.

Exs.: “muito bem”; “isso mesmo”; “fixe”!; “concordo contigo!”; “ótimo”; “és o
maior”; “que máximo”; “gostei imenso do que fizeste” (verbais); sorriso, assentir
com a cabeça, piscar o olho, fazer sinal de ok com as mãos, abraçar, fazer uma
festa, “pancadinhas nas costas” (não verbais)

→ Auto-reforço
Administrados pelo indivíduo a si próprio. Devem ser sempre implementados.
Vantagem: indivíduo não depende de outros.

Exs.: auto-verbalizações, atividades, objetos ou prémios que o indivíduo


administra a si próprio (tais como: dizer para consigo “Boa!”; permitir-se ir ao
cinema; programar um fim de semana)
REFORÇO - escalas/tabelas de reforço:

→ Por frequência de resposta


• Ratio fixo - ex.: RF administrado de 4 em 4 respostas
• Ratio variável – ex.: RF administrado à 2ª, 8ª, 12ª, 15ª, 20ª R,
etc (nº de respostas variável em torno de média=4)
(ex.: garfadas/colheradas)

→ Por intervalo de resposta


• Intervalo fixo - ex.: RF administrado de 5 em 5 minutos
• Intervalo variável – ex.: RF administrado ao 3º min, 8º min, 15º
min, … (variações em torno de uma média de 5 min)
(ex.: fazer os deveres)
REGRAS PARA O USO ADEQUADO DO REFORÇO
→ definição para cada caso do menu de reforços
Recursos: observar o indivíduo; entrevistar o indivíduo; entrevistas pessoas significativas
Notar: O reforço é idiossincrático. Só é reforço o que for altamente valorizado pela pessoa.

→ Dispor de vários reforços para o mesmo comportamento

→ Aplicação imediata, ou seja, de modo contingente à emissão do comportamento


(de outro modo, não é reforço operante!)

→ Contínuo na fases de aquisição do comportamento. Mais tarde passar para


escala de reforço intermitente e variável, para prevenir saciação e extinção
operante do comportamento

→ Para fomentar um comportamento inexistente ou raro no indivíduo,


disponibilizar pequenas doses e frequentemente funciona melhor do que
grandes prémios/recompensas de quando em quando

→ É indispensável ser-se consistente


ESTRATÉGIAS PARA REFORÇAR APROXIMAÇÕES AO
COMPORTAMENTO-ALVO

SHAPING (MOLDAGEM)
Reforço de comportamentos com alguma semelhança ao comportamento-alvo
(ex.: reforçar uma criança que se vestiu sozinha, mesmo que tenha a camisola
ao contrário). Por passos sucessivos, vão-se reforçando comportamentos cada
vez mais aproximados.

CHAINING (tem a ver com encadeamento; aplicável a


comportamentos complexos, que envolvem
sequência/etapas/passos)
O reforço é administrado após a execução de cada segmento definido. Os
segmentos começam com 1 ou 2 passos; o nº de passos vai sendo aumentado
gradualmente. Primeiro usa-se RF contínuo de um dado segmento. Após
estabilização, este passa a RF intermitente e prossegue-se para o próximo
segmento (com mais passos), aplicando RF contínuo após o último passo - e
assim sucessivamente
Cont. da aula anterior
PROMPTING

Pistas que indicam os passos progressivos do comportamento

Prompts: pistas ou incitamentos, como instruções, gestos, verbalizações

Curtos, simples, claros e facultados de modo amável

Dá-se a passagem do controlo do comportamento das consequências para os


seus estímulos antecedentes discriminativos

(REFORÇO NEGATIVO)
Como envolve colocar a pessoa numa situação de estimulação aversiva (a
cessar imediatamente após o comportamento apropriado), em princípio só
deve ser usado na aquisição de respostas adaptativas de evitamento (ex.:
deixar hábitos de consumo) (cf. Gonçalves, 1990)
ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR/ELIMINAR
COMPORTAMENTOS
Extinção operante
Saciação
Supercorrecção - restitutiva e por prática positiva
Custo de resposta
Time out (from positive reinforcement)
Estimulação aversiva [punição positiva]
Reforço diferencial de outro comportamento
Reforço diferencial de um comportamento incompatível
Reforço diferencial de um comportamento com baixa taxa de
ocorrência
Regra de Ouro

Nunca aplicar técnicas para diminuir a frequência,


duração ou intensidade de um comportamento, sem
utilizar primeiro e, depois, simultaneamente, técnicas
para aumentar comportamentos desejáveis
alternativos
EXTINÇÃO OPERANTE

Enquanto técnica terapêutica ou de modificação de


comportamento, consiste na retirada sistemática do(s) reforço(s)
que mantêm determinado comportamento problemático.

Condições de eficácia: para além de ser necessário identificar todas as fontes


de reforço, é IMPRESCINDÍVEL A SUA APLICAÇÃO SISTEMÁTICA

De outro modo, o comportamento fica sujeito a reforço intermitente, logo,


resistente à extinção

Atenção/ limitação: inicialmente ocorre subida do comportamento-problema,


pelo que a técnica não poderá ser usada em caso de comportamentos
potencialmente perigosos
SACIAÇÃO

Consiste em facultar uma enorme abundância de reforços de


modo a que estes percam o seu valor reforçador, de modo a que
então o comportamento diminua

Condições de eficácia: reforços suscetíveis de saciação

Atenção/ limitação: inicialmente ocorre subida do comportamento-problema,


pelo que a técnica não poderá ser usada em caso de comportamentos
potencialmente perigosos

=> Na prática pode ser inviável aplicar esta estratégia


SUPER-CORREÇÃO RESTITUTIVA E PRÁTICA POSITIVA
Aplicável caso o comportamento-alvo gere prejuízo ao próprio
ou aos outros, consiste, logo após a emissão do comportamento
indesejável, na correção dos seus efeitos negativos (sobre o
próprio ou outros)

Condição: é necessário identificar as consequências negativas ou


prejuízos, assim como definir modos de as corrigir

É essencial que a resposta de restituição ou correção seja


emitida o mais rapidamente possível, após a realização do
comportamento-problema

É importante que a resposta de correção/restituição seja útil


para a pessoa que emitiu o comportamento indesejável.
SUPER-CORREÇÃO: RESTITUTIVA / POR PRÁTICA POSITIVA

→ Supercorrecção restitutiva
Após o comportamento desadequado, a pessoa terá que fazer
alguma coisa para corrigir ou compensar o sucedido, de modo a
obter-se uma situação melhor do que a original

Ex.: se partir alguma coisa, limpar os cacos e ir comprar outra

→ Prática positiva
Repetição continuada do comportamento correto após a emissão
de comportamentos disfuncionais. Normalmente trata-se de
executar o comportamento oposto àquele que se pretende
diminuir.

Ex.: para corrigir erros numa cópia, escrever um determinado nº


de vezes as palavras corretamente.
A técnica geral designa-se por OVERCORRECTION, que em português costuma traduzir-se por
“super-correção”
2 modalidades:

→ super-correção Restitutiva (restitution overcorrection)


→ super-correção por Prática positiva (positive practice overcorrection)

Ambas são parte da mesmas “técnica geral” que, em rigor, pode ser designada simplesmente
por“SUPER-CORREÇÃO”.

Devido a confusão terminológica, alguns autores optam por falar somente em “super-
correção” sem sequer discriminar modalidades; outros decidem empregar determinados
termos de modo indistinto (caso de Gonçalves, por exemplo, que opta por designar a técnica
por “super-correcção / prática positiva”, à semelhança da terminologia que usámos no topo
dos diapositivos apresentados na aula).

Em suma, a utilização do termo SUPER-CORREÇÃO é correta e aplicável a qualquer das


modalidades de super-correção (seja restitutiva, seja por prática positiva)
TRECHO PARA CONSOLIDAR AS DEFINIÇÕES DADAS NA AULA COM EXEMPLOS ADICIONAIS:

(cit. in Axelrod, Brantner & Meddock, 1978)

Foxx e Azrin (1973) definiram 2 tipos de super-correção:

→ supercorreção restitutiva (definição em português apresentada nos diapositivos da aula)

Ex.: uma criança, após o comportamento de cuspir no chão, tem de limpar a área
onde cuspiu, bem como o resto do chão.

→ Super-correção por prática positiva (definição em português apresentada nos diapositivos


da aula)
Ex.: uma criança que escorrega da cadeira para o chão terá de praticar
repetidamente o comportamento apropriado de sentar-se corretamente
CUSTO DE RESPOSTA (~ PUNIÇÃO NEGATIVA)
Consiste em retirar um reforço contingentemente à emissão de
um comportamento indesejável

(em termos práticos, retira-se ao indivíduo algo que possui, algo que está
a fazer, que faz habitualmente ou que ganhou previamente - exs:

interromper uma atividade agradável; não ver TV nesse dia como de


costume; não comer sobremesa; não ir ao intervalo; devolver pontos
ganhos anteriormente

• Usa-se, frequentemente, em programas de Token Economy (em


combinação, portanto, com reforço)

• Não se aplica se a quantidade de reforços valorizada pelo


indivíduo for muito reduzida (não se aplica a um deprimido).
CUSTO DE RESPOSTA

Atenção:

i. crianças que perdem pontos depois do esforço para ganharem


podem tornar-se agressivas ou frustradas, o que poderá provocar
uma diminuição na motivação para continuar

ii. pode ser usado para diminuir comportamentos inapropriados,


mas não para facilitar o desenvolvimento de novos
comportamentos alternativos ao comportamento inapropriado.
TIME-OUT
(from positive reinforcement)

• Consiste em retirar à pessoa a oportunidade de receber reforços


positivos durante um período delimitado de tempo,
contingentemente à emissão de um comportamento inapropriado

• Consiste em retirar a pessoa do local/lugar onde realizou o


comportamento-alvo indesejável, de modo a permanecer algum
tempo num outro local livre de reforços (área neutra).
TIME-OUT
Regras práticas e processo de aplicação:

→ Definir um espaço/local específico, que seja neutro (ou seja,


nem com potenciais reforços, nem com punições). Ex.: um
corredor; uma divisão sem nada de interessante, bem iluminada.
→ Pode ser utilizado eficaz/ em casa, escola, e até em situações
públicas (sociais)
→ Não tem como objetivo retirar a pessoa de uma determinada
situação por períodos de tempo longos. Quanto tempo? Em
crianças, as recomendações vão no sentido de 1-2 minutos por
cada ano de idade.
→ A pessoa deve estar informada dos comportamentos pelos quais
está a ser punida.
TIME-OUT
Regras práticas e processo de aplicação (cont.):

→ Os adultos devem fazê-lo de forma firme e consistente, evitando


descontrolo emocional
→ Depois da criança sair do Time-out pede-se que desempenhe o
comportamento adequado*. Os pais devem evitar manifestações
de ativação e expressão emocional intensa.
→No início da aplicação da estratégia operante deve-se esperar
uma exacerbação dos problemas comportamentais apresentados.

* Ou : uma condição de saída do time-out é a pessoa / a criança demonstrar um


comportamento apropriado no(s) último(s) minuto(s)
A concluir na próxima aula
TIME-OUT

Ex.: aluno na sala de aula a perturbar colegas, a atirar


aviões e a dar “calduços” nos colegas

Prof. dirige calma mas firmemente o aluno para uma sala


de 3x2 m, de paredes de cor neutra lisa, sem mobiliário
nem brinquedos, janela alta, ampla, proporcionando boa
iluminação, mas a que não tem acesso. Permanecerá aí
até parar de fazer birra durante 2 mins seguidos
(comportamento adequado).

(in Silva et al., 2008)


TIME-OUT

• Inclui quatro componentes operantes (Gambrill, 1977):


1. Custo de resposta (remoção do reforço positivo)
2. Punição positiva (isolamento social contingente)
3. Extinção operante (não há reforço + na sala)
4. Reforço negativo (alívio da aversão no momento de saída do time-out)

[e quiçá reforço positivo: contacto e proximidade social ao regressar aos locais habituais]
(ESTIMULAÇÃO AVERSIVA  punição positiva)
Aplicação de um estímulo aversivo em consequência da emissão de
um comportamento indesejável (ex.: repreensão)

Condições: aplicação imediata, apenas 1 vez por emissão do


comportamento, contínua até à supressão daquela emissão do
comportamento, usando estímulos de intensidade média.
ALGUMAS ADVERTÊNCIAS E NOTAS FINAIS SOBRE O USO DE
PUNIÇÃO
Limitações e desvantagens:

• Não ensina comportamentos alternativos (apenas indica o que não fazer)

• Modelamento da agressão

• Reações emocionais aumentadas ou negativas

• Respostas de evitamento

• Pode fazer diminuir qualidade da relação com o agente punitivo

• Em geral os efeitos são temporários

• Pode interferir com o processo de aprendizagem caso gere ansiedade


excessiva
… SOBRE O USO DE PUNIÇÃO

Regras a que deve obedecer


→ Tal como o reforço, a aplicação tem de ser imediata, contingente à emissão da
R
→ É essencial ser consistente (i.e., caso se decida aplicar técnicas de punição, tem
de se punir sempre que ocorra comportamento-alvo inapropriado)
→ Não é negociável, mas:
▪ deve explicar-se a razão da punição e
▪ pode ser precedida de aviso prévio
→ Intensidade e duração adequadas (nem insignificantes, nem
desproporcionadas)
→ Só se pune uma vez cada emissão de resposta indesejável
→ É dirigida a comportamentos (nunca à pessoa)
→ Nunca deve ser usada para tentar ensinar novos comportamentos
→ Tem de ser combinada com o reforço de comportamentos apropriados
(alternativos ou outros)
(Bernstein & Nasch, 2008, p.188)
REFORÇO DIFERENCIAL DE OUTRO COMPORTAMENTO
Consiste em reforçar um comportamento alternativo ao
comportamento-alvo disfuncional, e a este não se presta atenção.
Não tem contra-indicações.

REFORÇO DIFERENCIAL DE UM COMPORTAMENTO


INCOMPATÍVEL
Consiste no reforço diferencial de um comportamento incompatível
(antagónico) ao comportamento-alvo disfuncional

Ex: criança que grita e de vez em quando fala baixinho. Reforça-se


apenas quando fala baixinho
REFORÇO DIFERENCIAL DE UM COMPORTAMENTO COM
BAIXA TAXA DE OCORRÊNCIA

•Consiste no reforço pela não emissão de mais do que um certo


número de comportamento-problema num determinado espaço
de tempo

(Ex.1, crianças: levantar-se do lugar menos que X vezes)


(Ex. 2, adultos: baixar o nº de cigarros consumidos)
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA MÍNIMA RECOMENDADA
Gonçalves, Ó (1999). Psicoterapias comportamentais. Coimbra: Quarteto.
Cap. : CONDICIONAMENTO OPERANTE. [disponibilizado no uc teacher / uc student]

English language reference (if needed):


Martin, G. & Pear, J. (2019). Behavior Modification: What It Is and How To Do It. New York, NY: Routledge.
Chapter 6. [cf. uc teacher / uc student]

EXEMPLOS DE OUTRAS REFERÊNCIAS EM PORTUGUÊS POTENCIALMENTE ÚTEIS


SOBRE COND. CLÁSSICO E OPERANTE
Nogueira, J. (2013). Aprendizagem: Modelos comportamentais. In F. H. Veiga (Coord.). Psicologia da
Educação. Teoria, investigação e aplicação. Envolvimento dos alunos na escola (pp. 177-218).
Lisboa: Climepsi.
Silva, C. F. (2007). Teorias da aprendizagem. Para uma educação baseada na evidência. Lisboa:
Universidade Aberta.
Silva, C. F., Nossa, P. N. S., Silvério, J. M. & Ferreira, A. J. (2008). Incidentes críticos na sala de aula: Análise
Comportamental Aplicada (ACA) (2ª ed.) Coimbra: Quarteto. [Secção sobre aprendizagem
operante (ponto 2.2.]
Existem numerosos recursos on-line sobre o
Fundação B. F. Skinner trabalho e vida de Skinner. Alguns exemplos:
http://www.bfskinner.org/

Discurso legendado em português de Skinner, em 1990, na APA Annual Convention, por ocasião
de mais uma distinção pelo seu trabalho:
https://www.youtube.com/watch?v=Bf-GKbcSFNo

Um brevíssimo resumo da sua vida durante a infância e juventude:


https://www.youtube.com/watch?v=Sf6oEPvHz58

VÍDEO DE 2 MINUTOS QUE RESUME O IMPACTO DE SKINNER


https://www.youtube.com/watch?v=tqabCNrenZo

BREVE DOCUMENTÁRIO DA BBC sobre o trabalho de Skinner


https://www.youtube.com/watch?v=T-d6jypCsUw

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