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Estudo da personalidade – Tendências integradoras, elevado nível de interdisciplinaridade que conjuga mudança com estabilidade, assim
McAdams como com a influência dos contextos. Murray está no domínio da ação (doing) e Allport na integração das
Vida adulta dimensões dos traços.
Traços: comportamento determinado por traços estáveis que predispõem sujeitos a agir de determinada maneira;
McAdams Abordagens Situacional: comportamento determinado por situações e ambiente; abordagem interativa: comportamento
determinado por fatores pessoais e situacionais, assim como pela interação entre ambos.
Psicologia da personalidade é complexa, diversidade, pluralismo, alargamento de horizontes. Começou assim a
McAdams Pervin (Handbook 1990) aceitar-se o diálogo multidisciplinar, investiu-se nas diferentes facetas da pessoa complexa e total. Pervin
promoveu a produção de modelos integrativos, meta-modelos. Mais tarde Mischel propôs nova arrumação.
Propõe um modelo de arrumação, em que todas as teorias podem ser arrumadas em 3 níveis de análise: 1- traços
McAdams Contribuição McAdams disposicionais, 2- preocupações pessoais, 3- narrativas de vida. Estruturou o estudo da personalidade numa
organização coerente, holística e inteligível. 3 níveis permitem organizar o conhecimento acumulado na área.
Supera problemas como estabilidade e mudança, oposição pessoa-situação, abordagem ideográfica e nomotética,
McAdams Modelo de McAdams traços e motivos.
Define personalidade como a variação caraterística de uma pessoa no padrão geral da natureza. O que temos em
Teoria Integrativa do Desenvolvimento da
McAdams Personalidade (McAdams e Fox) comum é fruto da evolução da espécie, mas a personalidade desenvolve-se ao longo da vida de cada um. 2
percursos.
Três extratos de personalidade e seu desenvolvimento. So compreendemos uma pessoa num espaço e num tempo
(histórico e de vida). O espaço determina o que vamos ser naquele determinado tempo. Nível 1: ator social,
Teoria Integrativa do Desenvolvimento da
McAdams Personalidade (McAdams e Fox) evoluímos por conta das diferenças individuais que são importantes para a adaptação à vida de grupo,
sobrevivência. Nível 2. Pessoa como agente, que age. Nível 3: pessoa como autor, que decide, escreve e elabora a
concepção sobre si mesmo. O 1º nível é mais comprido que os outros.
Psicologia do estranho: usamos quando conhecemos alguém, de forma automática, evolutiva de proteção. Marca
Nível 1 McAdams Nível 1 disposicional da personalidade. O que temos à partida. Teorias com abordagem genética / biológica das
caraterísticas. Questões evolucionistas.
Dimensões da individualidade humana amplas, não condicionadas, consistentes, descontextualizados, lineares ou
Nível 1 McAdams Traços bipolares. Consistência no comportamento, pensamento e sentimento ao longo das situações e do tempo, e é a
estes níveis que podemos ter variabilidade nos traços.
Tipos são categoriais, físicos (Kretschmer e Sheldon), Humorais (SNC), Hipócrates, Psicológicos (Jung).
Nível 1 McAdams Tipos e Dimensões Abordagem dimensões (teoria das dimensões de Allport, Teoria de Cattel, propostas de Eyesink, McCrae e Costa).
Compreender estrutura dos traços do sujeito (estrutura da personalidade). Teorias descritivas. Historicamente são
Nível 1 McAdams
Abordagens divididas em Tipos (Abordagem categorial, como o DSM) e Traços (Abordagem dimensional). Colocar a pessoa em
Estruturais categoria, limita-a e reduz-lhe as possibilidades. Na abordagem dimensional, há operacionalização de testes de
personalidade.
Desde a antiguidade, variabilidade individual nos aspetos físicos é relacionada com variações no temperamento.
Hipócrates / galeno – 4 fluídos, ligação entre humores e elementos; Kretshmer: aspecto físico relaciona-se com
Nível 1 McAdams Tipologia personalidade – magros, esquizóide, alterações de pensamento e esquizofrenia; musculado, atlético, perturbação de
pensamento; gordo, pícnico, perturbações cíclicas; diaplásticos, caraterísticas físicas misturadas, emocionalidade instável.
Quadro Resumo Psicologia Personalidade 2021 / 2022 – Exame
Sheldon: tipos somáticos humanos a traços de personalidade e temperamento. Analisou milhares de corpos em
Harvard. Endomórfico: gordura, músculos subdesenvolvidos, sociável, amigável, carente de aprovação e afeto;
Nível 1 McAdams Tipologia (Cont) Mesomórfico: físico musculado, duro, retangular, direito, personalidade aventureira, poder, domínio, coragem,
assertividade, competitivo; Ectomórfico: físico magro, corpo delicado, jovem, cérebro grande, personalidade
prefere privacidade, introvertido, inibido, ansioso, artístico, intenso mentalmente, retraído emocionalmente.
Disposições herdadas, temperamento: nível de atividade, sociabilidade, emocionalidade, influenciam a
Nível 1 McAdams Buss e Plomin (1984) personalidade posterior. Com o surgimento da personalidade científica passa-se a falar de traços em vez de tipos.
Nível 1 McAdams Teoria dos Traços Personalidade é uma constelação de traços (Teoria de Cattel, Eysenck, Allport, Costa e McCrae).
Defendeu traços como tendências. Evidenciou a necessidade de saber o número de dimensões básicas, explorar os
Nível 1 McAdams Krahé (1992) determinantes genéticos dos traços, concetualizar como categorias socialmente definidas a partir das quais as
dimensões são construídas.
Tendências; Dimensões das diferenças individuais (gradação ao longo de um contínuo); Gerais (generalização
Caraterísticas dos comportamental); Padrões consistentes; Inferidos (através de vários comportamentos e não apenas de um);
Nível 1 McAdams
traços estilos emocionais, interpessoais, atitudinais e motivacionais; hierarquizados; Disposições cognitivo-dinâmicas
(há um componente cognitivo nos traços que dinamiza o comportamento).
Muitos traços têm origem biológica (extroversão, neuroticismo). Tipo é uma dimensão de ordem superior que
consiste em vários traços correlacionados (cume). Introvertidos são mais excitáveis (arousal cortical) perante os
Nível 1 McAdams Eysenk acontecimentos, aprendem as proibições sociais melhor, são mais sensíveis à dor, cansam-se mais, melhores a
matemática; a excitação aumenta a performance dos extrovertidos, são mais rápidos e menos cuidadosos,
melhores socialmente, mais excitáveis sexualmente e mais sugestionáveis.
Mais consensual. Empiracamente sustentado. Teoria que arruma melhor os traços5 os grandes factores que
Nível 1 McAdams Big Five englobam TODOS os traços de personalidade que existem. Conclusões a partir de análise factoriais, mantendo as
tradições sobre os conceitos.
Quantidade e intensidade das interações pessoais, sociabilidade, nível de atividade, necessidade de estimulação e
Nível 1 McAdams Extroversão capacidade de exprimir alegria. Acolhimento, Gregariedade, assertividade, atividade, procura de excitação,
emoções positivas.
Continuum desde a adaptação á instabilidade emocional. De calmos, relaxados, seguros e satisfeitos consigo
mesmo a descompensados emocionalmente, ideias irracionais, desejos e necessidades excessivas, coping
Nível 1 McAdams Neuroticismo desadequado. Ansiedade, hostilidade (para consigo), depressividade, autoconsciência, impulsividade,
vulnerabilidade.
Factor mais recente. Procura proactiva pela experiência de si próprio, tolerância e exploração do não familiar,
Nível 1 McAdams Abertura à Experiência curiosidade, criatividade, originalidade, gosto pelo não tradicional. Por outro lado, o convencional, programático,
sem inclinações artísticas nem analíticas. Fantasia; estética, sentimentos, ações, ideias, valores.
Grau de organização, persistência e motivação no comptoamento orientado para o objetivo. Pessoas de confiança
Nível 1 McAdams Conscienciosidade e escrupulosas, por outro lado preguiçosas e descuidadas. Não basta inteligência para ter conquistas na vida.
Competência, ordem, obediência / dever, luta pela realização, autodisciplina, deliberação (pensar antes de agir)
Qualidade de orientação interpessoal, desde a compaixão ao contrário em pensamentos, sentimentos e ações.
Sentimental, bondoso, de confiança, prestável a pouco amável, cínico, rude, desconfiado, vingativo, impiedoso,
Nível 1 McAdams Amabilidade manipulador. Amabilidade avalia a qualidade da relação, a extroversão a quantidade. Temos então: confiança,
retidão, altruísmo, complacência, modéstia, sensibilidade.
Mais relacionados com a relação c/ os outros: amabilidade e extroversão. Relação com a tarefa, conscienciosidade
e abertura à experiência; relação consigo próprio: neuroticismo. Longevidade: conscienciosidade.
Conservador e pouco amável: totalitarismo e tirania; conservador e amável: tradicional clássico; bem-estar – baixo
neuroticismo, alta extroversão; mais feliz: neuroticismo baixo, todos os outros factores altos. Relações íntimas
Nível 1 McAdams Curiosidades Big Five melhores com os amáveis, não neuróticos e a com os abertos à experiência. Grandes extrovertidos são infiéis.
Conscienciosidade e amabilidade ligam-se, de acordo com Freud, à Saíde psicológica através do amor e trabalho.
Big five não tem relação com psicopatologia nem causa-efeito (Widiger e Smith), mas afetam-se ao longo do
tempo e de forma complexa, no máximo há uma não adaptaç\eo de perfil de personalidade à realidade em que
se encontra.
Sua conjugação permite a preditividade do comportamento. Utilizados testes de personalidade. Factores são
Nível 1 McAdams Big Five independentes, introversão é diferente de timidez (autoconsciência)
Base biológica promove tendências básicas que levam a adaptações pela cultura, aspirações pessoais, atitudes
que se relacionam com o autoconceito / autoesquemas, levam a mudança de carreira, comportamento, etc que,
Nível 1 McAdams Crescimento e cultura por sua vez também sofrem alterações culturais e situacionais (Nível II). Mudança e estabilidade dos traços ao
longo da vida. Variam também com a cultura a nível de expressividade. Estabilidade aos 30 anos. Traço é tendência
e não determinante. Podem ser trabalhados em psicoterapia.
É ateórico, sem conceptualização por trás, apesar de surgir da investigação, dos dados. Pelo contrário a psicanálise
Nível 1 McAdams Crítica Big Five tem conceitos e explicação por trás. Modelo de McAdams também é conceptualização, organiza as teroias em
níveis para ter sentido.
Dá-se o nome de adaptações caraterísticas da personalidade: construtos de natureza motivacional, sociocognitiva
e desenvolvimental. Motivos, metas, planos, estratégias, valores, virtudes, projetos ligados com aspetos
Nível 2 McAdams Caraterísticas Nível 2 motivacionais, contextualizados no tempo, espaço ou papel. Agentes, pois fazem escolhas, planeiam a vida e
forjam a identidade.
Motivos (Joseph Nuttin: teoria da motivação humana, quese opõe à psicobiologia, em que as motivações
relacionam-se com as pessoas tendo em conta o projeto de vida de cada uma); motivos são esboços de
comportamento que preenchem dão direção, dinâmica e finalidade, tem em conta interação entre contexto e
sujeito); organismo e mundo são indissociáveis: personalidade constituída por esta relação, na qual são feitas
trocas e atualizado o repertório comportamental (Abreu); Unidades de nível médio: ênfase na ação pessoal, doing,
estão entre ação e consequência, nível das preocupações pessoais, domínio puramente cognitivo, projeto que
Nível 2 McAdams 9 caraterísticas Nível 2 antecede a ação, pessoa vista de dentro; Preocupações pessoais (pro-jactere, the person as viewed from the inside
(Weinberger), a personalidade é o conjunto de objetivos que organizam os pensamentos, sentimentos e ações das
pessoas (Norem); Unidades cognitivas: organizadas em torno das crenças dos sujeitos sobre si, mundo, projetos e
tarefas (Cantor e Zirkel); Para conhecermos uma pessoa temos de procurar informação sobre o que ela quer, faz,
para atingir, o que a preocupa, planos para o futuro, o que sente em relação à família, outros; O autor tem um
construto: objetivos pessoais, conjuntos extensos de ações que variam entre realizações diárias típicas de um fim
de semana e as paixões auto-definidas de uma vida. (Little)
Filosofia é que o bem-estar humano é contingente / dependente da persecução de projetos pessoais
Modelo Socioecológico fundamentais, o que exige aptidões internas de auto-regulação que permitem manter o compromisso com os
Nível 2 McAdams projetos.
- Little
Ciência do inconsciente. Teoria central é a relação de objeto. Tem a ver com a relação com o outro, sendo a relação
Nível 2 McAdams Psicanálise terapêutica fundamental, repara as relações precoces. Relação terapêutica é de afeto e dessa forma a pessoa em
sofrimento organiza-se e reconstrói-se.
Quadro Resumo Psicologia Personalidade 2021 / 2022 – Exame
Teoria mais abrangente da psicanálise! Abrange a totalidade dos aspetos da personalidade. Primeira teoria compreensiva
da personalidade. Nasce da relação clínica. Nasce da Observação clínica.
Nível 2 McAdams Frase de Freud “Vai haver uma época em que a biologia vai explicar a psique.”
Caraterísticas Estudo do inconsciente, processos inacessíveis, algo de nós é irracional. Método baseado na investigação para
Nível 2 McAdams tratamento de distúrbios neuróticos, perturbações sem causa física. Hipnose e associação livre acedem ao
psicanálise inconsciente.
Determinismo psíquico, não há descontinuidade na vida mental, nada ocorre ao acaso, tudo surge de cada
memória, pensamento, sentimento ou ação. Seres humanos movidos por motivos inconscientes e desagradáveis.
Nível 2 McAdams Conceitos Principais Pulsões e instintos: pressões, forças que incitam as pessoas à ação – aspetos físicos pelas necessidades, aspetos
mentais pelos desejos; vida e morte: líbido é energia para os instintos. Catexia: processo através do qual a energia
libidinal é investida na representação mental de uma pessoa (há pessoas que só investem num objeto.
Consciente (ciente em dado momento); pré-consciente (parte do inconsciente que se pode tornar consciente);
Nível 2 McAdams Tópica 1 inconsciente (nele concentram-se elementos instintivos que não são acessíveis à consciência e estão também as
fontes de energia psíquica: pulsões e instintos)
Id (princípio do prazer, eros e thanatos, líbido); ego (princípio da realidade, mediador entre id e superego);
Nível 2 McAdams Tópica 2 Superego (padrões morais da sociedade, voz da consciência, responsável pela culpa)
Origem da Do conflito entre a procura do prazer e as restrições a nível social (id vs superego). Para Freud, repressão é banir
Nível 2 McAdams pensamentos inaceitáveis, paixões do inconsciente, surge no sono e em lapsos. Quanto maior a repressão maior a
personalidade explosão. O inconsciente manifesta-se sempre.
Ansiedade que deriva do conflito é reduzida e direcionada pelos mecanismos de defesa do ego, que distorcem
Nível 2 McAdams Mecanismos de defesa ligeiramente a realidade. Neurótico é mentiroso por isso. Repressão; projeção; formação reativa (dar ênfase ao
oposto); racionalização; regressão; humor voltado para mim; altruísmo; sublimação.
Freud e Desenvolvimento Personalidade formada nos primeiros anos de vida e enraizada nos conflitos da infância. Fixação, tentativa de obter
Nível 2 McAdams prazer, em adulto, através de formas equivalentes às dos estádios anteriores, criando mais conflito interno. Ficar
Psicossexual estagnado num estádio, ao invés de abranger todos os elementos sem fixação.
Carl Jung (inconsciente colectivo – ideais gregos como a rivalidade, amor, ódio pelos pais), arquétipos, sombra,
individuação). Partes sombras quando reprimidas fazem panela de pressão e justifica a pedofilia na igreja. Processo
Autores Pós- de individuação: não parar de crescer na adolescência, mas continuar ao longo da vida. Karen Horney, fala de
Nível 2 McAdams segurança, o que é validade pelas neurociências. Moving toward, against ou away from the people. Alfred Adler,
Freudianos psicologia individual, estuda superioridade; Erikson, construção da identidade e defende uma perspetiva
desenvolvimental ao longo da vida, com conflitos associados; Wilhelm Reich, mudar as pessoas pelo trabalho
corporal.
Criticada porque o desenvolvimento não termina na infância, os lapsos podem estar relacionados com a memório,
Nível 2 McAdams
Avaliação da sonhos podem ter nada a ver com os desejos inconscientes. O que ficou para a posterioridade foi o conceito de
inconsciente, conflito id vs superego, mecanismos de defesa, estruturas da personalidade, importância do passado
Psicanálise e significado da relação.
Psicanálise e Mecanismos de defesa considerados processos cognitivos e de aprendizagem, mente influencia o cérebro e vice-
Nível 2 McAdams versa, implicit memory, retrieval error, evitamento cognitivo, esquema central executiva, tudo conceitos
neurociências freudianos. Confirmação que ego tem recursos limitados (PTSD).
Porque repetimos o que conhecemos. As aprendizagens anteriores dificultam as novas adaptações. O melhor
Nível 2 McAdams Resistir à mudança preditor do comportamento futuro é o comportamento do passado. Para mudar tem de haver confronto.
Psicanalista, marxista, defende que a repressão sexual era a fonte de muitos problemas psicológicos mas também
sociais. O prazer de viver e orgasmo são idênticos e os recalcamentos sexuais resultam no medo de viver. Funciton
Nível 2 McAdams Wilhelm Reich of the orgasmo, 1927. Pai das psicoterapias corporais, morreu na prisão. Deu mote ao movimento Make Love not
war, 1960.
Pessoas têm padrões consistentes de reação / comportamento (agressivo ou passivo) e uma atitude física (postura
e movimento corporal). Ser humano é uma totalidade, da qual não podemos retirar a expressividade corporal.
Nível 2 McAdams Ideia de Reich Para tratar as doenças físicas, temos de perceber os aspetos psicológicos, trazê-los à consciência e libertar a tensão.
Necessário o autoconhecimento.
Perda seria explicada pelo stress, que levaria a tensão mecânica e carga bioenergética e, posteriormente, a
Nível 2 McAdams Couraça Muscular descarga bioenergética e relaxamento mecânico, os equivalentes ao orgasmo (importantes para a saúde).
Discípulo de Reich. Criou a corrente bioenergética, substituindo o orgasmo, sendo assim melhor aceite. Para
Lowen, o que acontece na mente acontece no corpo. Assim era importante perceber a personalidade como um
Nível 2 McAdams Lowen todo (processos energéticos, corpo e palavra); libertar bloqueios energéticos (trabalhando a respiração e
movimentos que permitem a expressão emocional); integrar a história pessoal, através dos trabalhos analíticos
(psicologia) que acompanham o processo.
Incide na Autoconsciência (sensações do corpo e sentimentos); expressão de sentimentos; integração de ambos
Nível 2 McAdams Trabalho Loweniano através da auto-possessão, “o que necessita o corpo em termos de movimentos e o que isso o faz sentir.”
Grounding (enraizamento), exercícios que trazem para o chão; Surrender, profunda entrega a si mesmo, realçar
processos defensivos enraizados que impedem a vitalidade do organismo. Caminho para a saúde passa da reação
Nível 2 McAdams Técnicas par aa real-ação de rendição e redenção. A finalidade é a liberdade; Graciosidade, comparação com os animais
livres, implica energia, menos bloqueios, menos tensão, espiritualidade alcançada.
A person who doesn t́ breathe deeply reduces the life of his body. If he doesn’t move freely, he restricts the life of
Nível 2 McAdams Frase Lowen his body. If he doesn t́ feel fully, he narrows the life of his body. And if his self-expression ins constricted, he limits
the life of his body.
Nível 2 McAdams Psicologia Orientada para o corpo Defende atividade relaxada e deixar fluir, descontrair a alma e abordar tranquilamente qualquer tarefa.
Princípios da Psicoterapia Corpo tem papel significativo na psique das pessoas; mente e corpo são indissociáveis; fazer psicoterapia sem
Nível 2 McAdams referência ao corpo limita o potencial de atividades terapêuticas.
Corporal
Tudo o que vivemos repercute-se no presente. Psicoterapia gestalt traz-nos o mindfulness, enfoque no presente,
Nível 2 McAdams Perls - Terapia Gestalt trabalhar passado no presente, interação do organismo com o mundo (feedback diário regula o nosso
comportamento)
Influências da Psicanálise (sonhos); existencialismo (responsabilidade individual, o que cada um quer a nível de liberdade e
Nível 2 McAdams escolha); fenomenologia; Budismo Zen (aqui e agora); Psicodrama (dramatizar vivências passadas), Humanismo
Psicoterapia Gestalt (self, terapia não diretiva).
O corpo faz parte do que a pessoa é; seres humanos são entendidos dentro do sistema de que partem (perspetiva
Ideias de Frederick sistémica); aqui e agora; consciência da experiência presente; fé e compromisso para com a auto-cura e
Nível 2 McAdams recuperação dos laços do ser humano (humanismo), laura Perls.- dança moderna e importância do movimento.
Perls Ter consciência dos movimentos corporais e posturas traz doente de volta ao presente.
O impasse. Quando as interações entre sujeito e meio são bloqueadas. Na verdade temos tudo para respirar e
viver a vida, mas não o fazemos, auto-sabotamo-nos e morremos. Impasse e bebé azul.
Nível 2 McAdams Problema de Perls
Quadro Resumo Psicologia Personalidade 2021 / 2022 – Exame
Perls diz que mesmo que não sejamos responsáveis pelas circunstâncias, somos responsáveis pelo significado que
Nível 2 McAdams Perls e Existencialismo damos à nossa vida, na medida em que escolhemos as nossas atitudes para com cada situação. Existencialismo –
responsabilidade pessoal
Relação figura-fundo. Organizamos o que vemos numa figura em destaque no fundo, o que é importante e o que
Nível 2 McAdams Princípio 3 da gestalt não é importante no ambiente. Em relação à nossa vida, emoções e pensamentos, com treino podemos trabalhar
o foco, reduzir o foco na tristeza.
Não identifica necessidades e não cria opções e estratégias para combater e ir ao encontro das necessidades. Não
Nível 2 McAdams Neurótico dá conta, não tem consciência, responsabilidade pessoal e auto-regulação.
Nível 2 McAdams Corey Teh past is gone and the future has not yet arrived, only the present is significant.
Psycho Alma; Drama ação. Criado por Jacob Levy Moreno, tem o objetivo de ajudar as pessoas a tornarem-se co-
diretoras das próprias vidas, reescrever guiões, trazendo espontaneadade em substituição dos padrões habituais
Nível 2 McAdams Psicodrama e pensamentos automáticos. Ser criativo. O ego nasce dos papéis. Ter saúde mental é ter a possibilidade de ter
muitos papéis, alternativas, possibilidades, ser diferente.
Ser humano constrói a sua vida como uma série de histórias em curso, que ajudam a dor forma a
comportamentos, estabelecer identidade e a integrar os sujeitos na vida social moderna (McAdams). Identidade
Nível 3 McAdams Nível 3 narrativa, narrativa do self internalizada que integra o passado, presente percebido e futuro antecipado.
Proporciona assim sentimentos de unidade, propósito e significado, influenciando o crescimento pessoal,
desenvolvimento, coping e bem-estar. Moreno integra em nível 2 e 3.
Autor, o que escreve o guião (McAdams). Guião descreve como damos sentido a nós mesmos e à nossa vida e
Nível 3 McAdams Histórias de Vida como conseguimos criar “mesmidade”. Guião configura o self, providencia mesmidade (facto de ser o mesmo).
Dos primeiros a falar de desenvolvimento ao longo do ciclo de vida – Individuação: desenvolvimento humano com
Contributo de Carl procura por atualizar a tanscender. Utiliza arquétipos de narrativas místicas, histórias universais contadas por
Nível 3 McAdams todo o mundo (mil e uma noites), narrativas identitárias com imagos e em conflito, bem e mal, esperto e inocente,
Jung e o desafio desenvolvimental é reconciliá-los. Individuação é a procura de totalidade (Wholeness) através da
integração destes arquétipos.
Nível 3 McAdams Histórias, ouvir e ser ouvido A partir das narrativas e histórias, elaboramos internamente o que é dissonante e nos fere.
Grécia Antiga: Homem conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o Universo - Monte Pársano. Sócrates fez
Nível 3 McAdams Auto-Conhecimento desse lema a sua missão: o primeiro passo é reconhecer a própria ignorância; levar o homem a interrogar-se de
forma a reconhecer a insensatez e ignorância de si próprio e despertar assim a consciência; sei que nada sei.
Contraponto do Conceito de self diferente em diferentes culturas. Em algumas dá-se o nome de Jibun e o self japonês é um self-
Nível 3 McAdams part. Coletivismo (japonês) é diferente de individualismo, pois no coletivismo a conceção do eu não é separada do
Autoconhecimento social. A cultura pauta a diferença.
Identidade desdobra-se no I e no Me. O I refere-se ao sujeito, ser, eu íntimo, parte sólida constante, idem
Nível 3 McAdams
Identidade no (Ricouer); o me refere-se ao objeto, representação projetada, papel social, parte que se transforma no contacto
com o outro, IPSE. Para Miguel Goncalves, existem vários tipos de self: mónada ou contentor, social, narrativo
desdobramento (que também é social).
Potência do theatron é a objetivação da interioridade. A noção da importância de poder ser várias coisas, traz de
Nível 3 McAdams
Potência de volta a importância do teatro. A máscara faz parte da pessoa e usá-la é elementar na civilização (Sennett): O
homem é menos ele quando fala de si, mas com máscara dirá a verdade.
Theatron e insulto Insulto é quando dizemos tu és tal...o insulto mente apenas em relação à totalidade. Tu és tal é reduzir a pessoa
a um papel.
Defendido por autores. Alberto Caeiro e ignorância positiva. Quanto mais conheço e sou, mais preso e menos
Nível 3 McAdams
Autodesconhecimen flexível fico. O autodesconhecimento implica “eu sou possibilidades” e é isto que leva ao desenvolvimento
pessoal, de acordo com a perspetiva do self social.
to
Propõe encaixar as teorias nos diferentes níveis e articular esses níveis para podermos perceber a pessoa na
totalidade. Saber os traços dos indivíduos diz pouco sobre os desejos, vontades, metas futuras, o que está a fazer.
Conclusões Finais McAdams e Futuro Mas a natureza motivacional dos construtos permite aceder às metas formuladas e à forma como tudo se
transforma em comportamentos.
Para descrever uma pessoa precisamos de informação dos 3 níveis de análise da personalidade: Traços
disposicionais; motivos e metas; sentido de self (psicologia da pessoa, como autor autoconsciente da sua própria
Conclusões Finais 3 Níveis de McAdams narrativa de vida. Os traços esboçam o contorno da individualidade humana, adaptações caraterísticas preenchem
em detalhe esse individualidade. As identidades narrativas possibilitam os significados singulares culturalmente
alicerçados individualidade interage com a cultura.
Evolui de um modelo estrutural em que arruma as teorias para processos que regulam cada um dos níveis,
princípios explicativos do desenvolvimento da personalidade e relação com o contexto. Ciência passa a ser
Conclusões Finais Evolução do Modelo abrangente, processos distntios estudados multidisciplinarmente, dasde a biologia até á história económica e
teoria narrativa, o que implica construir PONTES entre os diferentes níveis (Little).
Perspetiva Contemporânea Personalidade é uma variação singular do indivíduo no desenho evolucionário geral da natureza humana,
Conclusões Finais expresso como um padrão em desenvolvimento de traços disposicionais, adaptações caraterísticas, histórias de
McAdams vida integradas complexamente e diferencialmente situadas na cultura.
1- evolução providencia um desenho geral de individualidade que pode sofrer variações socialmente; 2-
evoluímos tendo em conta as variações mais importantes para o grupo; 3- traços fornecem marcas disposicionais
e as adaptações caraterísticas traduzem muitos dos detalhes psicológicos contextualizados no tempo, situações
Conclusões Finais 5 Princípios de McAdams e papéis sociais: preocupações, estratégias e motivações são ativadas para responder às exigências sociais; 4-
histórias de vida integradoras refletem o modo como a pessoa dá sentido à sua vida como um todo; 5- a cultura
influencia tudo de diferentes modos, pois providencia regras para a expressão fenotípica e possibilita formas
legítimas de narrativas a partir das quais as pessoas dão sentido á sua vida.
Discordar do estudo da personalidade enquanto ciência, as grandes teorias não são conciliáveis, principalmente
Conclusões Finais
Crítica do Modelo de a interação entre evolução e cultura na determinação da personalidade (Wood e Joseph, 2007); Maddi (2007)
defende que a meta-teoria deveria ser mais clara a nível conceptual e facilitar o teste empírico, mas este só é
McAdams possível aplicado a teorias específicas. Outros dizem que as teorias opõem-se.
Bem-estar subjetivo e O bem-estar subjetivo relaciona-se com Hedanismo (Epicuro) e tem como componentes a satisfação com a vida,
Conclusões Finais afeto positivo e negativo; o bem-estar psicológico, eudaimonismo / Aristóteles, tem como dimensões aceitação
psicológico de si, domínio do medo, objetivos de vida, crescimento pessoal, relações positivas e autoomia.
Permite reconhecer que o ser humano é complexo, interagem múltiplas variáveis a vários níveis (como a
inteligência), devemos evitar o reducionismo, a escuta e o encontro são fundamentais para conhecer o outro.
Conclusões Finais Neurociências Quanto maior a idade, maior a complexidade. Conectar é a melhor forma de viver.
RESUMO PERSONALIIDADE 2021/2022
Persona = máscara de ator Cícero: para além de máscara, a palavra Persona era
atribuída a:
➔ conjunto de caraterísticas pessoais do ator, que
representam o que a pessoa realmente é
➔ forma pela qual a pessoa aparece aos outros e não
como realmente é = máscara
➔ Papel que a pessoa representa na vida = personagem
➔ Conjunto de qualidades indicativas da distinção e
dignidade que fazem do ator uma estrela
“A personalidade é uma organização dinâmica
dos sistemas psicofisiológicos que determinam a Allport, 1937
adaptação única do indivíduo ao mundo” 50 significados diferentes para o termo “personalidade”
(Hábitos, traços, motivos e valores)
“O elemento básico da religião dionisíaca é a
transformação. O homem arrebatado pelo
deus, transportado por seu reino por meio do Lesky
êxtase, é diferente do que era no mundo
quotidiano. Mas a transformação é também
aquilo de onde, e somente daí, pode surgir
a arte dramática”
Tragédia – finalidade é encantar fazendo o Catarse- descarga emocional
espectador sentir o drama do herói. No final do
espetáculo as pessoas ficam aliviadas e purificadas
“todo o mundo é um palco (em que as Shakespeare
personagens vão entrando e saindo”
Em diferentes alturas da nossa vida vestimos
diferentes trajes
“A ilusão mais perigosa de todas é a de que existe Paul Watzlawick
apenas uma realidade. Aquilo que existe de facto
são várias perspetivas diferentes da realidade, Obra: “a realidade é real”
algumas das quais contraditórias, mas todas
resultantes da comunicação e não reflexos de Teorias dependem:
verdades eternas e objetivas.” Época histórica→ são datadas
Significado→ as teorias são perspetivas que não
devem ser consideradas verdades absolutas
PERSONALIDADE → difícil de definir Considera aspetos biológicos, sociais e experiências
passadas
Vantagens : Desvantagens:
Alternativa Confusão
Riqueza Desacordo
Criatividade Implicações práticas
Abordagem interativa
Comportamento é determinado por fatores
pessoais e situacionais, bem como pela interação
entre ambos.
ESTABILIDADE: MANTER UM TRAÇO AO LONGO DO
A teoria dos traços defende a estabilidade e TEMPO
consistência dos traços e pressupõe uma CONSISTÊNCIA: MANTER UM TRAÇO AO LONGO DAS
influência genética. DIVERSAS SITUAÇÕES
Conferências de paz (1973) Mischel (1973) defendeu a posição interacionista
Ligação Fez emergir uma nova era na PP, em que os traços e
TRAÇOS Personologistas → situacionistas motivos enquanto unidades de análise predominantes
SITUAÇÃO perderam relevância a favor das cognições.
INTERACIONISMO A obra de Mischel esteve na base dos novos
NOVA ERA NA PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE desenvolvimentos ocorridos nos anos 80, no sentido da sua
Traços e motivos deram lugar às COGNIÇÕES → orientação cognitivo-motivacional
propostas por Endler e Magnusson
ABORDAGEM TERAPÊUTICA “eu ainda acredito que vai haver uma época em que a
Não existe evidencia empírica biologia vai estudar a psique”
CLIENTE DE REICH- ALEXANDER LOWEN Assim, Lowen deixa a advocacia e aborda o conceito de
Tinha uma disfunção sexual, foi ao psiquiatra e BIOENERGIA. Estuda não só a estrutura do ser humano
ficou curado. mas também os processos energéticos.
“o que acontece na mente acontece no corpo” Para compreender a personalidade como um todo…
É NECESSÁRIO COMPREENDER A • libertar os bloqueios energéticos, trabalhar com a
PERSONALIDADE COMO UM TODO. Lowen respiração e com movimentos que permitam a livre
expressão emocional
TRABALHO LOWENIANO • integrar a história pessoal através do fundamental
→ autoconsciência (o que estou a sentir?) trabalho analítico que acompanha todo o processo
→ expressão de sentimentos terapêutico
→ integração de ambos através da auto-
possessão- aquilo que acontece no corpo é muitas GROUNDING
vezes desresponsabilizado Enraizamento, sentimos que estamos enraizados, centrar a
nossa conexão com a terra.--> aquilo que é estável
“Cada pensamento que temos, cada palavra
SURRENDER
proferida, cada tremor emocional que
profunda entrega a si mesmo, relaxamento dos processos
sentimos tem o seu componente físico. Se
defensivos arraigados e que, mantendo a situação
descodificarmos esta linguagem corporal
traumática, impedem a vitalidade do organismo. O
subtil (que nunca mente), podemos compreender
caminho da doença à saúde passa de uma arcaica reação à
e mudar os nossos padrões de
real ação, da rendição à redenção
pensamento, mudar o nosso caráter e ganhar
controlo sobre o nosso destino.” Lowen
GRACIOSIDADE
encontrada nos animais livres: graça nos movimentos,
“A person who doesn´t breathe deeply reduces suavidade flexível que encanta
the life of his body. If he doesn´t move freely, he Aliveness: mais energia, menos bloqueios, menos tensão
restricts the life of his body…” •Relacionou isto com a Espiritualidade
PRINCIPIO FIGURA/FUNDO
-Psicologia da Gestalt (Köhler; Koffka; Qualquer componente do individuo é manifestação do seu
Wertheimer) Princípios organizadores e perceção todo
-Psicanálise (Freud; Jung; Reich) Trabalho com
sonhos (inconsciente) “Se há água na torneira porquê ir ao poço profundo?”
-Existencialismo (Sartre; Beauvoir; Camus) - Perls – vamos trabalhar com o que está presente.
Responsabilidade individual Poço profundo = inconsciente
-Fenomenologia (Jaspers; Heidegger; Kierkegaard)
- Todos os fenómenos são passíveis de ser “A intuição é a inteligência do organismo”
conhecidos “Every man is the builder of a temple called his body”
-Budismo Zen - Aqui e agora; yin-yang
Psicodrama (Moreno) - Dramatizar, no momento Nós, seres humanos, estamos – como organismo - sempre
presente, vivências passadas em relação com o meio.
-Humanismo (Rogers) - Self; terapia não-diretiva
Bebê ao nascer não consegue respirar sozinho e, ao
mesmo tempo, não recebe mais oxigênio da placenta. Está
diante de um impasse: ou morre ou aprende a respirar.
Boicotamos a regulação entre o organismo e o
meio, surge então, o impasse
O “bebé azul” – por ainda não conseguir respirar – é o
O boicote é uma interrupção
protótipo do impasse encontrado em toda a neurose
(PERLS)
Neurose = impasse
PRINCÍPIO FIGURA FUNDO Exemplo: alguém bateu com o carro, essa pessoa está
muito irritada com isso. Isso faz figura – todas as outras
coisas que estão a correr bem são fundo, ficam
desfocadas. Uma das formas de ajudar os clientes é
desfocar esse fundo e trazer outras coisas para figura.
“dar-se conta”→ O AWARENESS É CURATIVO O Neurótico carece de awareness, responsabilidade
pessoal e autorregulação. Não assumem as suas
O awareness identifica as nossas necessidades responsabilidades. Se nos tornamos conscientes
mais prementes e dá-nos opções (escolha) na (sensações, emoções, pensamentos) podemos integrar-
determinação do como ir de encontro às nossas tornarmo-nos pessoas inteiras.
necessidades.
“Here lies the man who bought laugher and joy into
psychiatry”- frase na campa de Moreno
Inconsciente coletivo comum a todos os humanos Arquétipos (elementos do inconsciente que representa
Jung experiências universais)
Contos de fadas existem em todo o mundo mas são
marcados pelas culturas
As narrativas identitárias podem conter muitos Todos nós temos um lado anima e um lado animus
imagos (imagens diferentes e em conflito) e Um lado feminino e um lado masculino
reconciliá-los representa um desafio Um lado sombra e um lado persona
desenvolvimental. Jung
Jung- individuação Procura da totalidade através da integração destes
arquétipos
Importância do autoconhecimento Sócrates- “conhece-te a ti mesmo”- missão de vida
• 1º passo da sabedoria é o reconhecimento da própria
ignorância
• levar os homens a interrogarem- se a si mesmos para
reconhecer a insensatez e a ignorância de si próprios e
assim conseguir despertar as suas consciências.
• “sei que nada sei”
A pessoa é sempre muito mais do que podemos “Toda a vida autêntica é um encontro”
captar. BUBER
Enquanto que no nível I indicamos que existe uma no nível II e III há uma enorme flexibilidade. No nível III
tendência para a estabilidade, ainda aprofundamos mais e dizemos que somos “infinitos”
de possibilidade.
McAdams pretendia que entendêssemos a Nivel 1 – traços disposicionais (a psicologia da pessoa
pessoa: para descrever uma pessoa necessitamos como um estranho, observada do exterior, actor social →
de informação, proveniente dos três níveis de HAVINGS
análise da personalidade: Nível 2 – motivos e metas (a psicologia da pessoa como
um agente intencional) → DOINGS
Pretendia interligar os 3 níveis Nível 3 – e o seu sentido de self (a psicologia da pessoa
como autor auto-consciente da sua própria narrativa de
vida) → BEINGS
Interação entre individualidade psicológica e a traços esboçam o contorno da individualidade humana e
cultura é muito evidente as adaptações características preenchem em detalhe essa
individualidade, as identidades narrativas, possibilitam
os significados singulares culturalmente alicerçados
McAdams propõe uma nova definição de
personalidade: interligação dos 3 níveis e importância da cultura
“Variação singular do indivíduo. No desenho
evolucionário geral da natureza humana, expressa críticas:
como um padrão em desenvolvimento de traços → É muito difícil validar empiricamente este modelo. É
disposicionais, adaptações características, histórias mais difícil verificar esta metateoria empiricamente do
de vida integradoras completamente e que muitas teorias da personalidade;
diferencialmente situadas na cultura” → Alguns dos princípios e conceitos usados por McAdams
necessitariam de ser aprofundados. Os modelos meta
organizadores são tentativas de compreender a
realidade que é o sujeito, não são perfeitos.
5 PRINCÍPIOS DE MCADAMS: 5 PRINCÍPIOS DE MCADAMS:
PRINCÍPIO 1 PRINCÍPIO 2 - grupo
A evolução providencia um desenho geral para a Os seres humanos evoluíram tendo em conta as variações
individualidade psicológica contra o qual que eram mais importantes para a vida em grupo,
variações socialmente consequentes nas vidas sintetizadas a um nível global em termos de diferenças
humanas podem ser concebidas. individuais em traços disposicionais.
PRINCÍPIO 5 - cultura
Por sua vez, a cultura influencia o
desenvolvimento dos traços, as adaptações
características e as narrativas de vida de diversos
modos (princípio 5) pois providencia as regras
para a expressão fenotípica dos traços, influencia o
conteúdo e o timing das adaptações características
e possibilita formas legítimas de narrativas nas
quais as pessoas dão sentido às suas vidas.
AVALIAÇÃO CRÍTICA AO MODELO:
Wood e Joseph (2007) discordam da possibilidade existem desacordos fundamentais relativos a pressupostos
do estudo da personalidade enquanto básicas que estão para lá da verificação empírica no que se
ciência, considerando que as grandes teorias da refere à forma como evolução e cultura interagem
personalidade não são suscetíveis de integração para determinar a personalidade
Maddi (2007) uma metateoria da personalidade deveria ser capaz de
proporcionar não só mais clareza conceptual, mas
facilitar o teste empírico.
McAdams começa a expandir a investigação para
interligar os diferentes níveis e para integrar Personalidade e neurociências
diferentes conceitos como bem-estar subjetivo e ‘It is increasingly easy to study psychologically relevant
bem-estar psicológico. individual differences using neuroscientific methods’
BEM-ESTAR SUBJETIVO BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
(Hedonismo de Epícuro): Se nos sentimos bem ou (Eudaimonismo de Aristóteles): Relativo ao
mal num determinado momento. desenvolvimento pessoal; alguém com bem-estar
Satisfação com a vida, afeto positivo, afeto psicológico tem objetivos de vida, relações positivas com
negativo os outros, é autónomo e aceita-se a si próprio
PADRÃO DE COMPARAÇÃO
avaliar quanta previsibilidade é que uma correlação do
tamanho admitido realmente representa. Para tal, é
necessário um padrão de comparação
O PODER DA SITUAÇÃO
Como se avalia o grau em que o comportamento é
afetado por uma variável situacional?
Uso do incentivo
Coeficiente de correlação- medida do efeito
Finder e Ozer:
Variáveis situacionais Variáveis de
personalidade
Determinantes importantes do comportamento
Asendorpf e Wilpers
quem está melhor classificado em ‘’traços comunais’’ –
traços que ajudam a ter uma melhor relação com os
outros – tendem a ser pessoas mais simpáticas.
Também se demonstrou que traços amplos, como a
sociabilidade e a timidez preveem quantos amigos é
provável que o sujeito em questão tenha e também a
forma como se relaciona com eles
PESSOAS E SITUAÇÕES
As pessoas diferem psicologicamente umas das outras
→Os traços de personalidade são a melhor forma para
descrever como as pessoas agem em geral
→As variáveis situacionais são cruciais para a forma
como as pessoas agem em situações específicas - Fleedson
PROFISSÕES E PASSATEMPOS
Mulheres voltadas para emoções e contactos
Homens voltados para fatores mais materiais.
Diferenças em relação à perceção do mundo que os
rodeia.
AUTOESTIMA
Na adolescência, autoestima mulheres > homens.
(ambas baixas)
✓ Autoestima na aparência é > mulheres
✓ Autoestima atlética é > homens.
COMPORTAMENTOS SEXUAIS E ATITUDES
Homens masturbam-se mais que as mulheres.
Homens têm maior impulso sexual.
HABILIDADES COGNITIVAS
Estereótipo de que as mulheres não são boas a
matemática é tão grande que por si só é suficiente para
diminuir o desempenho destas em tarefas que envolvam
matemática- “ameaça do estereótipo”
Desempenho em matemática é idêntico em ambos sexos
PSICANÁLISE DEPOIS DE FREUD E Após a morte de Freud → psicanalistas: fugir da ideia dos
DESENVOLVIMENTO instintos sexuais e agressivos
-------- foco nos aspetos interpessoais da vida
→→ anima e animus
A anima de um homem é a raiz do seu lado feminino
O animus da mulher é a base do seu lado masculino
Todos temos aspetos do sexo oposto
“Embora mulheres possam ter pouca confiança e PSICOLOGIA FEMININA E ANSIEDADE BÁSICA: HORNEY
enfatizar exageradamente seus relacionamentos Discordava da forma como Freud retratava as mulheres.
amorosos com os homens como uma fonte de Para ela, se algumas mulheres desejam ser homens é pelo
preenchimento, isso se deve à estrutura da fato de os enxergarem como seres com mais liberdade
sociedade, e não à estrutura dos corpos.” para perseguir suas próprias ambições e interesses, e não
Horney por invejarem seus órgãos genitais.
ESTUDO DE WINNICOTT………………………………………………….
Estudou como um objeto transicional ( peluche,
mantinha) conforta a criança na ausência de um adulto.
→→ estes objetos ajudam a criança a entrar no mundo
real, onde têm de enfrentar certos desafios sozinhas
OS GENES IMPORTAM
1ª lei da genética comportamental: “tudo é herdável”
A personalidade não deriva apenas de experiências,
existindo uma influência genética.
Sociedades coletivistas-
horizontais:
autoridade reduzida
valorização da liberdade
individual conjugada com
a obrigação de atender às
necessidades dos outros
Obrigações, deveres para Liberdade de escolha
com o grupo
Católico- sul da Europa Protestante- norte da
europa
Prosperam, têm mais
filhos e os seus genes
tornam-se mais
amplamente
representados no
genótipo das gerações
Sociedades verticais → assumem o indivíduo como uma
entidade diferente dos restantes
Sociedades horizontais → indivíduos são todos iguais
socialização
cultura
10 valores universais:
o poder, a realização, o hedonismo, o estímulo, a
autodireção, a compreensão, a benevolência, a tradição
a conformidade e a segurança
➔ etnocentrismo (tendência do
observador/investigador de julgar as diferenças
culturais com base na sua própria cultura)
AUTOEFICÁCIA
A ideia que temos das nossas capacidades pode ditar se
conseguimos ou não alcançar certos objetivos
SELVES POSSÍVEIS
As pessoas desejam futuros selves que satisfaçam as suas
necessidades em termos de autoestima, competência e
significado
Teoria da auto-discrepância
Self real # self ideal → depressão
Self real # self normativo → ansiedade
EXTROVERTIDOS:
➔ São melhores a formar relações interpessoais,
sentem-se mais satisfeitos e conseguem mantê-las
por mais tempo
➔ Não têm problemas em conhecer potenciais amigos
ou parceiros românticos
➔ São socialmente conectados
➔ No entanto, os seus relacionamentos poderão ser
superficiais e pouco desenvolvidos
AMABILIDADE:
➔ pessoas compassivas, amistosas, generosas,
prestáveis, confiam nos outros e têm uma visão
otimista perante a vida
➔ São mais simpáticas- relacionamentos satisfatórios,
próximos e positivos
➔ Pessoas pouco amáveis são argumentativas,
combativas e egocêntricas, têm relacionamentos
mais difíceis.
NEUROTICISMO:
➔ Vulneráveis ao stress, emocionalmente reativas,
melancólicas e dotadas de baixa autoestima
ABERTURA À EXPERIÊNCIA:
➔ Interesse pela arte, criativos, curiosos e despertos
para a beleza
➔ autoexpansão
➔ Pessoas com pontuação baixa: mais convencionais,
desconforto em relação à mudança
CONSCIENCIOSIDADE:
➔ Preferem comportamentos planeados e menos
espontâneos, são muito disciplinados
➔ Pode ajudar a manter relacionamentos pois diminui
os conflitos, incluindo a violência física e verbal
1
Índice
O que é a Personalidade?............................................................................................................................................ 3
Perspetiva Psicanalítica............................................................................................................................................. 34
AULAS PRÁTICAS....................................................................................................................................................... 57
2
O que é a Personalidade?
A personalidade são as máscaras que nós usamos. Estrela - aquilo que nos distingue. Quando falamos de
personalidade, estamos a falar de várias coisas.
O que é a Personalidade?
• Expandir-nos ou limitar-nos
• Ferramenta ou obstáculo
• O que somos, o que seremos e o que fomos
Personalidade vem do grego antigo, palavra máscara. Na Grécia o teatro teve o seu apogeu. A máscara amplia, projeta as
características. Os traços da máscara expressavam o que a pessoa era. Eram traços muito vincados, que representavam o protagonista
e eram percetíveis até do local mais distante do palco.
O ser humano sempre se questionou: “Quem sou eu?”. E nesse questionamento tem surgido várias tentativas de resposta, o que iremos
perceber ao longo desta unidade curricular. Nós somos muito diferentes, embora tenhamos muitas comunalidades (somos seres
humanos). Diversidade Interpessoal. O ser humano é uma construção que é uma obra de arte.
Persona:
• Ator conjunto de caraterísticas pessoais do ator- representam o que ele realmente é
• Máscara forma como a pessoa aparece aos outros (diferente do que realmente é)
• Personagem papel que a pessoa representa na vida
• Estrela. conjunto de qualidades indicativas de distinção que fazem do ator uma estrela
Cícero (filósofo da antiguidade clássica) disse que a palavra persona pode ser encarada de várias formas: Actor, máscara, personagem,
estrela.
1ª Conceção para Cícero era a de ator: a personalidade é o ator, aquele que está por trás da máscara. 2ª Conceção: A personalidade
não é o ator mas sim a máscara que tem (veremos teorias contemporâneas que irão defender isto). A 3ª conceção é que a personalidade
é o papel que eu assumo na vida, o papel social – conceções de personagem. A 4ª conceção: poderíamos configurar a personalidade
como uma estrela. A personalidade é o que distingue os indivíduos, apesar destes terem muitas comunidades.
Gordon Alport - um dos fundadores da psicologia da personalidade na déc de 1930. “encontrou 50 definições de personalidade”. A
personalidade é um dos determinantes do nosso comportamento.
O teatro nasce da religião! Da transformação (alteração do estado de consciência) pode surgir a arte dramática.
“O elemento básico da religião dionisíaca é a transformação. O homem arrebatado pelo deus, transportado
para seu reino por meio do êxtase, é diferente do que era no mundo quotidiano. Mas a transformação é
também aquilo de onde, e somente daí, pode surgir a arte dramática (...)” (Lesky, 1992).
3
Tragédia
• Linguagem é solene, carregada de emoções como compaixão, medo, piedade, angústia, terror.
• A finalidade é encantar fazendo o espetador sentir o drama do herói. No final do espetáculo, as
pessoas sentiam-se aliviadas e purificadas (catarse - descarga emocional provocada pelo drama
trágico).
• Dramaturgos Ésquilo, Sófocles e Eurípedes tornaram a tragédia uma arte.
Os primórdios do teatro nascem com as questões da mudança. Posso mudar as pessoas criando um setting (um contexto) que ajude
essa transformação. Catarse: acontece em contexto terapêutico, pode acontecer quando a pessoa se abre e desabafa.
Hipócrates
Era médico. Criou uma tipologia para categorizar as personalidades. Sanguíneo, colérico, fleumático e melancólico. Colocar as pessoas
dentro de “caixas”. Os modelos categoriais influenciaram a medicina até o séc XXI. Hoje há todo um movimento contra esta
categorização: todos nós humanos temos um pouco de tudo isto (modelos psicológicos). Ao longo de toda a história houve concessões
de elementos da fisiologia do indivíduo em combinação com elementos do
contexto. Hipócrates vai integrar na sua teoria elementos que têm a ver com
fluidos fisiológicos da pessoa com elementos do contexto, na tentativa de
arrumar/categorizar. Este é um primeiro esboço da “arrumação” da
realidade.
Primeira grande tipologia criada por Hipócrates. Disse que havia 4 tipos:
sanguíneo (personalidade mais alegre e ativa); fleumático (pessoa calma);
melancólico (pessoa mais depressiva, menos energia); colérico (mais raiva,
mais tensão muscular, etc). Foi criada esta categorização. Hipócrates vai
relacionar estas categorias da fisionomia dos indivíduos com aspetos dos
elementos de contexto (água, fogo, ar, terra). Este homem vai interligar na
sua teoria sobre estes 4 tipos com elementos fisiológicos das pessoas, os
elementos do contexto. Primeiro esboço da arrumação da realidade.
Ator?
Hipócrita: aquele que representa uma personagem. “Todo o mundo é um palco” Shakespeare
Ator é um hipócrita: a palavra hipócrita significa ator (era a palavra antiga): refere aquele que representa
uma personagem. O tempo vai passando e vamos ver grandes nomes/personagens que vão falar de uma
forma ou de outra da importância do teatro: “Todo o mundo é um palco, com entradas e saídas”
(Shakespeare) – ou seja, não existe outra vida, estamos sempre como personagens. Nascemos,
assumimos personagens e depois saímos de cenas. Nós estamos sempre, segundo este autor, a expressar
uma personagem durante toda a nossa existência. Shakespeare tinha uma capacidade descritiva
gigantesca: algumas personagens suas são criadas de tal forma que determinados conceitos só foram
descritos mais tarde na psiquiatria, como o ciúme mórbido.
Nós vivemos num palco. Toda a nossa vida é um palco com entradas e saídas. Nessas entradas e saídas
existe a comparação com o ser humano, que vai entrando e saindo de cena. Mas na perspetiva do
Shakespeare estamos sempre em personagem.
4
O que é a Personalidade?
Essa frase fala das teorias implícitas da personalidade e do desenvolvimento: todos os construtos que cada um de nós vai fazendo em
relação às vivências da sua história e da sua experiência (isto aplica-se à personalidade, mas também ao desenvolvimento). Há
definições de personalidade que incluem aspetos do corpo, contexto… por isso temos uma panóplia imensa de definições. Mas há uma
tentativa de arrumação e de classificação do domínio.
Gordon Allport
• Personality is the dynamic organization within the individual of those psychophysycal systems that
determine his unique adjustments to the environment.
Um dos autores criadores da área é o Gordon Allport, e vai definir a personalidade como “Personality is the dynamic organization (ideia
da forma como vamos lidar com a diversidade de elementos que compõem a personalidade) within the individual of those
psychophysical systems that determine his unique adjustments to the environment” – verifica-se o elemento de interação com o
ambiente. Assim, este representa os primórdios do estudo da personalidade como área da psicologia. Esta definição permanece atual,
dinâmica, sistemas psicofísicos, interação com o ambiente.
A confusão e o desacordo vão ter impacto na prática: há um certo bairrismo entre as diferentes teorias. Quando se vai para uma
intervenção (clínica, educacional…) leva-se sempre uma teoria implícita e ao defender esta teoria estamos a influenciar a forma como
nos relacionamos com os demais. Logo esta escolha de uma definição tem uma forte implicação na prática (“não há melhor prática
que uma boa teoria”). No entanto, estas multiperspetivas também trazem enormes vantagens!
O pano de fundo teórico influencia a nossa prática, portanto a confusão de diferentes definições sobre a personalidade acaba por
afetar-nos a todos.
Outra questão é que no início da psicologia da personalidade os autores que construíram as áreas viviam numa determinada época e
a necessidade da cientificação do domínio era enorme: a psicologia separava-se do domínio da filosofia e queria mostrar que era
científica: por isso defenderam-se unidades básicas do construto da personalidade, que seria a unidade/tijolo básico que permite
edificar uma pessoa específica e determinada (como nas outras disciplinas se defendiam as células ou os átomos).
Kimmel a certa altura disse que já “chegava” de haver tantas teorias e seria importante focar naquilo que é comum às diferentes
teorias, as comunalidades.
5
Unidades básicas da personalidade
• Todas as teorias falam da unicidade do indivíduo, aquilo que o distingue de todos os outros;
• Falam também de um conjunto de características estáveis e duradouras ao longo do tempo e das
situações;
• Estilo característico de ligação/interação entre o sujeito e o ambiente físico e social
6
• Estruturas interpretativas (psicologia dos construtos pessoais de Kelly; psicologia humanista de
Maslow; esquemas e guiões);
• Histórias interpessoais (sistema personológico de Henry Murray; teoria psicossocial do
desenvolvimento de Erik Erikson; psicologia individual de Alfred Adler; histórias de vida; narrativas).
Nota: NÃO é preciso saber isto de cor! Grande lista de tentativas de compreender e arrumar o domínio do
estudo da psicologia da personalidade.
7
8
Estudo da Psicologia da personalidade
Três níveis paralelos no estudo da Psicologia da Personalidade
• McAdams (1990, 1994, 1995) Propõe que todas as concessões podem ser arrumadas em três níveis
de análise da personalidade:
o 1- Traços disposicionais
o 2- Preocupações pessoais (personal concerns) são as teorias que se interessam com os papéis e com a
personagem
o 3- Narrativas de vida (mais cognitivistas, histórias que contamos sobre a nossa própria vida)
• Personalidade
• Temperamento
• Caráter
Temperamento: sistema duradouro e mais ou menos estável do comportamento afetivo (emoção) (Definição
clássica).
Tendências duradouras e percebidas muito cedo nos bebés e é essencialmente de base genética, inato (mas nunca determinístico).
Seria o precursor da personalidade (que aparece só entre os 16/18 anos).
Caráter: Sistema duradouro e mais ou menos estável do comportamento conativo (vontade - will).
Está mais ligado a aspetos culturais. Moral: saber o que é correto ou não e escolher como se comportar. (é um conceito quase não
usado). Quando temos vontade, temos moral. Quando uma pessoa tem caráter consegue comportar-se de acordo com determinados
domínios.
Qual a diferença entre temperamento e personalidade? Temperamento e caráter são conceitos mais clássicos. Mas, de forma
genérica, nos manuais clássicos o temperamento é um sistema duradouro e mais ou menos estável do comportamento afetivo
(emoção) – são os aspetos mais ligados com os nossos componentes hereditários. Ex: vamos ver um bebé recém-nascido e, ao chegar
lá, diz-se coisas do género: “que bebé tão simpático e ativo” – tem 24 horas, mas fala-se em temperamento e não em personalidade
da criança. Quando alguém nasce já tem tendências duradouras e isso é algo genético: predisposição que vai ser auxiliada com a nossa
interação com o meio. A investigação diz que a característica da interação com o meio quando esta for crescendo começamos a falar
de personalidade: o temperamento seria o precursor da personalidade. Se uma pessoa nasceu numa cultura mais restritiva vai-se
comportar aparentemente não como um extrovertido.
As definições originais de personalidade defendem uma identidade integradora. Encontra-se esta ideia desde os primórdios da
investigação na área, mas ao longo do tempo vai-se esquecendo destas totalidades integradas. Deve-se compreender a pessoa como
um todo! O enquadramento histórico é importantíssimo.
Personalidade
• Totalidade Integradora
As definições originais defendem uma TOTALIDADE INTEGRADORA. Nós integramos vários aspetos. Muitos autores no decurso do
estudo vão esquecendo esta ideia de totalidade integradora. E, mesmo hoje, há quem procure conhecer os indivíduos como partes
e não como totalidades e isso está errado.
9
O que é a personalidade? Cada indivíduo é:
Ou seja, cada um de nós é como todos os outros, mas também temos subgrupos em função de determinadas variáveis, mas também
somos únicos. Definições mais recentes valorizam aspetos mais interativos e dinâmicos da personalidade. Mas
o Allport, na sua definição, valorizava já isto.
Início da Psicologia da Personalidade - livros emblemáticos da área que partem da perspetiva que a
personalidade é uma totalidade integrada
• Allport (1937) - Personality: a Psychological interpretation. Propõe os Traços como unidade base.
• Murray (1938) - Explorations in Personality. Defende os Motivos como unidade base.
Portanto, ambos partem da ideia de que a personalidade é uma totalidade integrada, mas precisam de poder estudar isto de alguma
forma. Murray não defende os traços, mas os motivos e defende a personalidade como uma identidade integrada.
Os traços tornaram-se o construto central, mas entraram em CRISE.
Crise: Limitações da preditividade e consistência dos traços
A certa altura surge uma crise na área (uma guerra mesmo! artigos publicados a defender perspetivas opostas), em torno dos traços,
que se tinham tornado o construto principal da psicologia da personalidade: limitações da preditividade e consistência dos traços. Esta
crise gira em torno de várias ideias, como em torno do situacionistas, que que vão defender por contraponto às predisposições que dão
origem à personalidade (tendência a reagir de uma determinada maneira). Estes defendem não porque temos algo dentro de nós mas
dependendo do meio e do contexto. Walter Mischell extremou as suas ideias para ir contra as pessoas que tinham a ideia de traços
(várias crianças são colocadas em salas com um professor e estão a fazer o teste. Antes das crianças serem cotadas é-lhes passado um
teste de personalidade para saber quais os traços. Depois o “professor” sai da sala e vê se as pessoas copiam. Pensa-se que as pessoas
vão copiar mais ou menos em função da situação, e não a predisposição para nos comportamos de determinada maneira. Esta crise
também se deveu aos humanistas, como Rogers.
• Situacionistas: defendem que as nossas reações não se devem aos traços, mas aos contextos. Ex:
Walter Mischell “Assessment of Personality” 1968.
Surgimento dos situacionistas (investigadores que defendem, em contraponto às disposições que dariam origem á personalidade – que
temos algo em nós que nos dá a tendência a reagir de determinada maneira) defendem que reagimos não por consequência de traços,
mas porque estamos dentro de determinada situação / contexto. Walter Mischel extremou a posição, enquanto situacionista. Realizou
diversas experiências para defender a posição.
• Psicologia Humanista (anos 60: Rogers, Maslow, May). Crença na capacidade praticamente ilimitada
de mudança e crescimento pessoal.
Teve a sua força nos anos 60 (Rogers – estudou a importância da aceitação do outro na mudança). Diz que existe uma capacidade
praticamente ilimitada de mudança e de crescimento pessoal. O que parece contraditório aos traços.
Teorias dos estádios do desenvolvimento da personalidade ao longo do ciclo de vida (Erikson, por exemplo). Estas teorias implicam que
as pessoas mudem (se mudam de fase, então mudam... se ficam estáveis não podem avançar). Estas conceptualizações criaram uma
crise também na Psic. Personalidade como área científica.
10
Conferências de paz (1973):
• Personologistas / situacionistas
• Interacionismo (Mischel; 1973)
• Traços e Motivos, enquanto unidades predominantes, deram lugar às cognições - Endler e Magnusson
(1976)
Tentativa de conciliar essa divisão entre os personologistas/situacionistas. Mischel 1973 propõe o interacionismo! Traços e motivos,
enquanto unidades predominantes, deram lugar às cognições (Endler e Magnusson 1976). A partir dos anos 70, tudo se torna
interacionismo - entrou em todas as perspetivas: os conceitos cresceram em função de uma perspetiva interacionista! Surgimento do
cognitivismo, com grande impacto nas teorias da personalidade. Por outro lado, a partir dos anos 90 e na atualidade as teorias dos
traços estão muito vivas, conseguiram atualizar-se, porque abraçaram o cognitivismo e o interacionismo. Também há teorias
puramente cognitivistas.
O que vemos não é um desaparecimento de traços e dos motivos, mas que estes conceitos cresceram em função de uma perspetiva
interacionista, e eles próprios evoluíram, tendo também uma perspetiva cognitivista. Por um lado, surgem as cognições como uma
unidade. Assim, os conceitos conseguiram atualizar-se.
11
A Arte e Ciência da Personalidade (Dan P. McAdams)
Quando vamos para o encontro com alguém a ideia seria encarar a pessoa como uma obra de arte.
Para McAdams, seria a história de vida única da pessoa... Todos temos um caráter, caraterísticas que
nunca aconteceram antes e que nunca poderão ser reproduzidas futuramente. Todo o conjunto destas
variáveis tornarão a nossa vida algo precioso. O ser humano é precioso.
Comunalidades
Basicamente, na época contemporânea, os autores dão ouvidos às teorias evolucionistas e às neurociências. Nós somos humanos e, no
entanto, temos uma variabilidade imensa e a nossa criatividade tem a ver com essa variabilidade daquilo que nos torna humanos (o
que temos em comum é a nossa humanidade). Embora todos diferentes, únicos e preciosos, o que temos de comum é querermos ser
felizes, entre muitas coisas.
• Estudo da personalidade ao longo da vida adulta é caraterizado por tendências integradoras, por
elevado nível de interdisciplinaridade que conjuga ideias de mudança e estabilidade, tal como a
influência de diversos contextos.
• Recente (tem as suas raízes no Allport E Murray. Inteligência e a personalidade relacionada.)
o Allport (1961, 10) “a inteligência do João está relacionada com a sua dominância, com os seus
valores, com a sua consciência, com tudo o mais na sua personalidade”. (Integração das dimensões
da personalidade)
o Murray (1938, 3) “O que é que o impulsiona (ao homem)? Com que objetos ambientais e
instituições interage e como? Quais as ocorrênciasno seu corpo que estão envolvidas? Que
acontecimentos determinam o seu contentamento ou não? E finalmente, de que modo pode
ser a sua intencionalidade transformada?” (várias variáveis para entender o homem)
Estes slides são uma síntese da aula anterior. Falámos da corrente do Allport que veio enfatizar a importância dos traços. Depois
apareceram pessoas que vieram dizer que não, essa ideia da predisposição não tem sentido e por isso surgiram os situacionistas. Depois
veio a crise (Mischel) e uma nova perspetiva do desenvolvimento da personalidade (abordagem internacional e a partir daí tornámo-
nos integracionistas). Quando vamos para os motivos do Murray nós estamos no domínio da ação, do fazer. Porque a motivação é o
que nos leva à ação.
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Allport: frisou a importância dos traços - unidade básica da personalidade. Por contraponto surgiu a ideia da predisposição -
situacionistas (Mischell, perspetiva humanista, etc aula passada) A abordagem interacionista veio conciliar estas duas visões.
Anos 90...
Nos anos 90 do século 20, Pervin escreveu Handbook of Personality. A área da psicologia da personalidade é caraterizada pelo autor.
Esta ideia que é reforçada pelo Pervin veio fazer com que se aceitasse essa convenção. Por esta altura apareceu também a aceitação,
um assunto complexo que exige um estudo complexo. Começou a aceitar-se o diálogo interdisciplinar. O diálogo entre diferentes
disciplinas que não conversavam. A partir dos anos 90 começou a abordar-se isso, inclusivamente nos manuais (Investigação sobre a
Personalidade).
Vários autores têm vindo a desenvolver modelos com vista à integração de estruturas, processos e
desenvolvimento da personalidade num todo coerente
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Vários autores desenvolveram modelos com vista à integração de estruturas e processos de desenvolvimento da personalidade. Teorias
da personalidade foram produzidas a partir do século 20. Nos anos 90, foi promovida a construção de modelos que integram as
diferentes teorias. Todos os autores referidos na lista fizeram meta-modelos.
Mischel acaba por propor depois uma arrumação do domínio.
• Modelo capaz de “arrumar” o campo de estudo da personalidade no qual conviviam de forma dispersa
diversas unidades de análise da personalidade, muitas vezes tomadas como correntes de estudo
opostas, e ter conseguido estruturar o estudo da personalidade numa organização coerente, holística
e inteligível (compreensível).
• “O sistema de três níveis é, por conseguinte, um enquadramento conceptual para organizar o
conhecimento acumulado sobre a personalidade”
Propõe um sistema de 3 níveis, e considera que este é suficiente para organizar o conhecimento acumulado nesta área.
Segundo os autores (McAdams & Adler), este modelo é capaz de superar diversos problemas como:
• A estabilidade e mudança
• Oposição pessoa – situação (o que determina o meu comportamento é o que tenho à partida ou em função da influência
das circunstâncias)
• Abordagem idiográfica e nomotética (nomo vem de norma: são abordagens que utilizam grupos de pessoas –
abordam nomotética. Quando faço um estudo de caso, a abordagem é idiográfica, pois estuda mais de perto o indivíduo e a
circunstâncias)
• Traços e motivos
Por um lado, somos um ser biológico e pertencemos a este percurso da humanidade, mas simultaneamente temos nosso percurso
individual. Temos sempre estes dois percursos.
Componentes deste modelo: Só é possível compreender a pessoa num espaço e num tempo.
Cada um de nós está sempre num determinado espaço e isto determina como cada um de nós vai ser naquele determinado momento.
Outra variável é o tempo histórico e o tempo da nossa vida. Obs: as teorias contemporâneas são SEMPRE interacionistas.
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Os três níveis propostos por McAdams são:
• A pessoa como ator social – Evoluímos para nos darmos conta das diferenças individuais porque
estas são centrais para a adaptação à vida do grupo.
Começa no nascimento. Desde o nascimento somos atores e apresentamos uma caracterização social fundamental para nossa
sobrevivência enquanto indivíduos, já que somos seres sociais. Neste nível encontramos, dentro da análise das unidades básicas da
personalidade, os TRAÇOS. Alguns traços são mais adaptativos do que outros em determinada época/circunstância. (ser simpático ou
trabalhador é mais adaptativo, por exemplo!) Todas as diversas teorias dos traços (são muitas) e as teorias das predisposições
estariam neste nível.
• A pessoa como agente - o agente é aquele que age. Há muitas teorias interessantes neste nível.
• A pessoa como autor - aquele que decide, que escreve, que elabora a conceção sobre si próprio.
Neste nível há teorias muito diversas.
É fundamental perceber que por um lado somos um ser biológico que está no percurso da evolução, pertencemos ao percurso da
humanidade, mas por outro lado cada um tem o seu percurso individual. Estamos sempre dentro de dois percursos.
Nós vivemos em determinado tempo histórico. Viver em Portugal ou na China será sempre diferente. Estas variáveis não surgiam nas
teorias clássicas de uma forma tão clara. Para percebermos a pessoa, tenho de compreendê-la no espaço e no tempo. O tempo não é
só o histórico, mas também é o tempo de vida. Nascemos no início e morremos no fim do eixo X. São os 3 níveis propostos por McAdams.
O primeiro nível é o vermelho... a pessoa como ator social. É o mais comprido e inicia-se no nascimento. Desde o nascimento iremos
ser atores, todos nós apresentamos uma caraterização social que é fundamental para a nossa sobrevivência enquanto pessoas. Neste
primeiro nível vamos encontrar os “traços” (alguns mais adaptativos do que outros, em determinada época ou em determinada
circunstância). No 2ºnível, a pessoa como agente. O agente é o que está na ação. Temos aqui muitas teorias que iremos abordar. Por
fim temos a pessoa como autor. Autor é um termo empoderado, é o que decide, o que escreve, o que elabora a conceção sobre si
próprio, neste 3º nível abordaremos teorias muito diversas, algumas muito atuais, construtivistas, que irão colocar o indivíduo como
construtor, autor da sua própria personalidade. Enquanto no 1º nível existe de certa forma uma influência genética, no 3º nível é o
indivíduo o protagonista da construção da sua própria personalidade.
Disposição significa aquilo que nós temos à partida. As teorias de nível 1 em grande parte estão muito interligadas com as teorias que
falam da origem genética/biológica de muitas destas características. McAdams refere este nível 1 como o nível do ter, ou seja, aquilo
que tenho à partida, o que tem muito a ver com os aspetos hereditários. Os traços são características que pertencem às teorias de nível
1: dimensões da individualidade humana amplas, não condicionadas, descontextualizadas, geralmente lineares e bipolares. O que quer
dizer dimensão? O conceito de dimensão tem um sentido implícito de gradação, temos uma variável que desenrola continuamente
num intervalo (pouco a muito, por exemplo). O pensamento psicológico em relação às variáveis de personalidade, em relação às
pessoas, é dimensional. Nível I tem a ver com questões evolucionistas, que o McAdams refere que nós evoluímos para nos darmos
conta das diferenças individuais porque estas são centrais para a adaptação à vida do grupo. Vimos isto na última aula: quem for
simpático ou amável mais facilmente é aceito socialmente. O MCAdams refere este nível 1 como sendo A marca disposicional da
personalidade.
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Os Traços de Personalidade
• Traços
o São entendidos como dimensões da individualidade humana amplas (abrangem várias coisas),
não condicionadas, consistentes, descontextualizadas, geralmente lineares e bipolares
(facilmente se pode abreviar a dimensão a 2 polos, ex: ele é extrovertido/introvertido, embora haja uma gradação)
(McAdams & Pals, 2006)
o Contribuem para a consistência no comportamento, pensamento e sentimento ao longo das
situações e do tempo - é a estes níveis que vemos variabilidade nos traços (McAdams & Olson,
2010).
Pequeno “parêntesis” por parte da professora para compreender a evolução das teorias de nível 1, que tratam dos traços:
• Abordagem estrutural (teorias descritivas) - vão tentar compreender a estrutura (Exemplo: quer-se estudar a estrutura
de traços de alguém/a sua estrutura de personalidade):
• Tipos(categoriais/análise categorial):
– físicos (biotipologias de Kretschmer e Sheldon),
– humorais (Hipócrates, padrões de resposta autónoma)
– psicológicos (Jung)
• Traços (dimensionais):
– teoria das disposições(Allport),
– teoria de Cattel (Cattel).
– propostas de Eysenck, de Costa e McCrae, e de Cloninger
(se dissermos que uma pessoa pertence ao tipo extrovertido estamos a sair da abordagem dimensional para uma abordagem mais
categorial. Muitas das teorias eram categoriais, e ainda se usa muito, como no DSM. O modelo médico coloca as pessoas em
categorias, tais como as psiquiátricas).
Abordagem estrutural: Parênteses para compreender a evolução das teorias dos traços (nível 1). Chamamos abordagens estruturais.
Estruturais significa que vão tentar compreender a estrutura, como estudamos a estrutura de traços do “André”? a partir de uma
abordagem estrutural. Estrutura de personalidade. Teorias descritivas da estrutura de uma pessoa no momento. Historicamente
podemos dividir a abordagem estrutural em duas grandes categorias: tipos e traços. Tipos: análise categorial. Muitos autores falam
de “tipo”. Aí estaremos a sair de uma abordagem dimensional para uma abordagem categorial. E muitas teorias clássicas eram
tipologias e categoriais. A abordagem categorial que ainda se usa muito está no DSM. Categorizações psiquiátricas são na
generalidade abordagens categoriais à pessoa, tal como o modelo médico (está doente ou não está doente). O problema de colocar
uma pessoa nas categorias é que estamos a limitá-la. E quando limitamos, estamos a reduzir as suas possibilidades. Quando digo que
a pessoa é X, por oposição a Y, estou a tornar o outro estranho. É fácil colocar alguém em categoria e dizer que não tem nada a comigo,
então a distância aumenta, o outro torna-se estranho. Há modelos psicológicos que são contra as teorias que mais colocam as pessoas
em categorias, e a favor de modelos mais dimensionais quanto aos distúrbios da personalidade e psicopatologia.
Nos tipos, algumas categorizações têm como base uma categoria física, humorais (em função da sua resposta do SNA) e psicológicos.
As pessoas com mais tendência para ter perturbações cancerígenas têm um determinado tipo de personalidade.
Abordagem mais dimensional: o interessante da abordagem dimensional é que todas as teorias dos traços vão ter como
operacionalização um teste da personalidade. Todas as grandes teorias da personalidade baseadas nos traços vão propor testes de
personalidade, e alguns deles vamos dar nas cadeiras de avaliação psicológica. Elas operacionalizam determinadas teorias. Todos
estes autores têm testes que se tornaram bastante famosos. Iremos abordar tudo isto. Mesmo quando as pessoas defendem uma
teoria mais complexa, estas vão utilizar uma abordagem categorial quando vão para o terreno recolher dados, pois vão aplicar testes,
baseados nas teorias dos traços.
Tipologias (Nota extra: ler na mesma! Mas esta parte não é tão importante como a anterior)
• Desde a antiguidade que a variabilidade individual nos aspetos morfológicos e físicos foi relacionada
com as variações no comportamento e no temperamento.
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Tipologias Iniciais
Por exemplo, as tipologias clássicas de Hipócrates / Galeno
As teorias iniciais (como Hipócrates e Galeno) faziam a ligação entre os humores e os elementos.
• Kretschmer, percebendo que nem todas as pessoas cabiam nas 3 categorias, criou pessoas
diaplásticas.
• Diaplásticos - grupo com características físicas misturadas, emocionalmente instáveis.
• Psicólogo Americano associou os tipos somáticos dos seres humanos aos traços
de personalidade e ao temperamento
• Formou-se em 1915 e teve encontros com Freud e com Jung e Kretschmer que
tinha iniciado o estudo científico da relação entre o físico e a personalidade.
William Sheldon fez investigação em Harvard sobre estas tipologias. E analisou e fez estudos de milhares
de corpos, fotografias, concluindo pela existência de 3 tipos (as mulheres são mais endomorfas, com
mais gorduras) – MAS esta simplificação em categorias tem as suas implicações).
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• Tipos Somáticos (Sheldon, 1942) No seu estudo original em Harvard, examinou milhares de
fotografias de homens nus, concluindo pela existência de 3 tipos:
Tipo Endomórfico:
• Físico:
o Tendência para gordura corporal
o Corpo macio
o Músculos subdesenvolvidos
o Formas redondas
o Sistema digestivo muito desenvolvido
• Personalidade:
o Sociável
o Amigável
o Necessidade de afeto e aprovação
o Amantes de comida
o Tolerantes
o Amantes do conforto
o Bom humor
o Relaxados
Tipo Mesomórfico
• Físico:
o Tendência para a musculatura
o Corpo duro
o Forma retangular
o Pele espessa
o Postura direita
• Personalidade:
o Aventureiro
o Desejo de poder e de dominar
o Coragem
o Indiferença em relação ao que os outros pensam
o Assertivo
o Gosto pela atividade física
o Competitivo
o Amante do risco
o Dominador
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Tipo Ectomórfico
• Físico
o Magro
o Corpo delicado
o Aparência jovem
o Alto
o Cérebro grande
• Personalidade
o Prefere a privacidade
o Introvertido
o Inibido
o Ansioso socialmente
o Artístico
o Intenso mentalmente
o Retraído emocionalmente
– Nível de atividade
– Sociabilidade
– Emocionalidade
Com o advento da psicologia da personalidade científica já não se fala em tipos, mas sim em traços. RELEMBRAR QUE Gordon
Allport propôs logo no início do aparecimento da área que a unidade base da personalidade seriam os traços.
– Raymond Cattell
– Hans Eysenck
– Gordon Allport
– Joy Paul Guilford
– Paul Costa e Robert McCrae.
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Mas como é que Allport chegou a esta ideia? Era um homem inteligente, questionou que tipos de traços, quantos são, como é que
aparecem... começou por refletir de que forma poderia saber isso. Pensou: temos como unidade básica os traços, mas “como são,
quantos são, como aparecem”? Assim esta autor reflete como saber quais são os traços da teoria dos traços, como por exemplo a
personalidade. Como saber quantos traços e como são?
Onde é que este autor poderia ver quais são os sítios de onde vêm os traços de personalidade? Allport pensou que todos os termos
sobre as pessoas estariam no dicionário, por isso utilizou o Oxford dictionary. Chegou a vários milhares de palavras que retirou do
dicionário. Depois foi ler os grandes autores que são descritivos (exímios) sobre a pessoas e a personalidade / comportamento humano
(Tolstoi, Shakespeare), chegou a milhares de coisas (Shakespeare encontra até características de personalidade que não estavam
registadas). Uma delas é a cristalização de uma ideia sobre o outro (Ex: “empresta-me isto” e a outra pessoa disse que não – podemos
chamá-la de egoísta?). Ou seja, as palavras vão cristalizar mais ideias, criando conceitos dos comportamentos, criando-se novas
palavras em função da necessidade de expressão de novas coisas ou conceitos, construídas em função do que muda. Claro que, se
queremos analisar alguém, não vamos analisar milhares de parâmetros de uma vez, e por isso usamos a linguagem. Exemplo: quando
dizemos “cadeira” é uma abstração que inclui todas as cadeiras. Para isso deve-se utilizar, por exemplo, as constelações de esquemas,
pois existem muitos termos que são interligados (Ex: alegre e contente). Allport utilizou uma técnica estatística que estava a aparecer
nessa altura: análise fatorial (técnica que permite ver os fatores que emergem a partir de uma grande diversidade de variáveis). Allport
colocou os milhares de conceitos dentro da análise e tirou os fatores emergentes e assim chegou a x fatores e quais são. Toda a história
do séc. XX da teoria dos traços são autores a utilizar análise fatorial, e a defender x fatores (o número depende dos autores). Há uma
certa luta em torno de quantos fatores são necessários para explicar a variabilidade interpessoal (ver Krahé).
• A exploração dos determinantes genéticos dos traços de personalidade. Origem? (é genética ou é social?
Há teorias que dizem que são essencialmente genéticos, em que só se pode falar de personalidade na idade adulta).
• A conceptualização dos traços como categorias socialmente definidas, a partir das quais as dimensões
da personalidade são construídas. Invenções?
Os construtivistas sociais acreditam que os traços também têm a ver com a devolução social sobre a própria pessoa, o feedback e a
confirmação que dão (Ex: alguém já definiu características minhas, tanto que podem mesmo dizer “Hoje nem pareces tu mesmo”. Já
criámos uma imagem social e já não nos conseguimos desvincular dessa imagem. É como se as nossas caraterísticas tivessem esta
devolução social ao longo do tempo).
• Tendências
É um padrão/predisposição para repetir numa determinada direção, ex: tenho tendência para gostar de bolos com frutas, logo tendo
a ir e vou nessa direção. Num determinante, o oposto de tendência, é mais uma obrigação instintiva: não tanto uma opção, mas algo
obrigatório/determinante. Aqui não falamos em determinantes, mas sim naquilo para o que as pessoas tendem, Exemplo: uma pessoa
tímida vai tender a ser tímida) Contra-traço/contra-fóbico é ir contra uma tendência (Ex: eu tenho problemas com isso, logo faço
aquilo).
(gradação ao longo de um período, ao longo de um continuum. Uma coisa é a minha potencialidade e outra é aquilo que sou.)
• Gerais (Porque não são um comportamento específico, mas uma generalização em função de vários comportamentos
específicos. Sou extrovertida, tenho muitos amigos e gosto de sair, ser ativa… são vários aspetos que me fazem estar dentro
deste traço).
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• Padrões consistentes
• Inferidos
(os traços são inferências de traços em função do comportamento, mas não devemos inferir um traço em função de apenas um
comportamento (pode ser uma exceção). Não é possível olhar para o cérebro e dizer “Ah, aquilo quer dizer exatamente que ele é
extrovertido”).
(sabe-se que as emoções têm uma grande base genética (sistema nervoso…). Os interpessoais são mais fortes de medir. Estilo
emocional (emoções têm uma grande base genética, está na nossa biologia), interpessoais (a ver com a relação, os mais fáceis de
inferir), experienciais (tem a ver com a experiência, como é que eu vivo isto? Alguém pode estar a ter ansiedade e não se nota. Isto é
a experiência do próprio indivíduo), atitudinais e motivacionais (é aquilo que me leva numa dada direção).
• Hierarquizados
(Há traços mais gerais e outros menos, exemplo: Extroversão é um grande fator, é um traço geral, e dentro dele está a socialização,
por exemplo).
• Disposições cognitivo-dinâmicas
Pirâmide de Eysenck
Hans Eysenck
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O Modelo dos Cinco Fatores
Pontos Importantes da matéria até aqui:
• Falámos dos modelos contemporâneas (meta modelos que tentam analisar a personalidade a partir das diferentes
perspetivas sobre o domínio). Estes meta modelos congregam as diferentes teorias. Meta modelos são importantes porque
organizam as teorias. Estamos a seguir agora o meta modelo de MacAdams: tem vários níveis e, entretanto, começámos a
dar o primeiro nível. Este primeiro nível basicamente é um nível que designamos por Psicologia do Estranho? Porque usamos
quando conhecemos alguém. É evidente que temos na nossa cabeça uma ideia sobre a outra pessoa a nível de personalidade.
Todos fazemos isto de forma automática, tem a ver com questões evolucionistas, de sobrevivência da espécie: perceber quais
são as pessoas de maior confiança, mais prestáveis, etc. este primeiro nível, que no fundo comporta todas as teorias em
que a personalidade é um conjunto de traços, é o que começámos a dar na aula anterior.
• Também falamos na aula anterior que das muitas teorias sobre a psicologia dos traços, ao longo do século XX apareceram
muitas propostas. Quantos traços são necessários para explicar a variabilidade interpessoal (somos profundamente diversos
e por isso fascinantes)? Primeiro é necessário saber quais são traços e o que são essas unidades base. Era necessário saber,
ter uma arrumação que permitisse começar a estudar mais a fundo essas mesmas caraterísticas de personalidade. E assim
era possível explicar a variabilidade interpessoal a nível de caraterísticas de personalidade.
• Na aula anterior vimos como Allport, preponente dos traços, começou a estudá-los. Quantos traços seriam necessários para
estudar a diversidade interpessoal? Allport foi ao dicionário para compreender e começar a estudar os traços de
personalidade. Depois de passar vários dias a tirar palavras do dicionário, chegou à conclusão de que havia vários milhares
de caraterísticas de personalidade (entretanto uma evolução do número em função da época histórica). No entanto não é
prático avaliar uma pessoa em 15000 parâmetros de personalidade, por exemplo. O mesmo acontece na medicina, existe
uma simplificação para se tornar operacionável. Como podemos fazer estudos em que as caraterísticas nos permitem
encaixar as pessoas em determinados conjuntos? Perante as imensas variáveis fez-se uma análise fatorial o que permitiu
criar agrupamentos, e foi assim que os diferentes teóricos começaram a propor modelos e teorias dos traços, e por isso a
resposta à questão quanto aos traços variou, pois a AF é uma técnica com uma determinada subjetividade.
Mas hoje vamos falar no modelo dos 5 fatores. É o mais consensual, é o modelo atual. Surge por dois autores americanos (Paul Costa
e Robert). Nos anos 90 deram-se conta que possivelmente eram 5 os grande fatores, os tais traços que aglutinam outros “fatorzinhos”
– a analise fatorial permitiu perceber isto.
Estes 5 fatores são operacionalizados através de alguns instrumentos famosos: Neopierre-> Neo Pi (personality inventory) erre (revise)
– este teste é o mais completo. Clássico, muito grande, para cobrir as escalas de 5 fatores, mas também as subescalas de cada tracinho.
História dos dois investigadores: um deles é clínico e o outro é um especialista mundial em estatística e matemática: desta forma, nesta
combinatória, conseguiram relançar de forma eficaz este modelo. Tudo através de analise estatística. Existem alguns institutos de
saúde nos EUA, que a partir do sec. XX começaram a fazer estudos longitudinais (ao longo do tempo). Estes dois investigadores quando
eram jovens entraram para um destes institutos e perceberam que havia décadas de dados de vários testes de personalidade mais
antigos. Começaram a fazer experiências estatísticas e começaram recorrentemente a descobrir os 5 fatores.
Quando olhamos para as palavras, os autores quiseram manter tradições sobre os conceitos (extroversão e neuroticismo: muito usados
por Jung e Freud respetivamente).
Extroversão:
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• Quantidade e a intensidade das interações interpessoais, a sociabilidade, o nível de atividade, a
necessidade de estimulação e a capacidade de exprimir alegria.
Uma pessoa pouco extrovertida não é obrigatoriamente introvertida. Existe um continuum de extroversão. Jung, no seu modelo, dizia:
um extrovertido é alguém para fora e o introvertido é alguém para dentro. Numa perspetiva desenvolvimental, dizia que no princípio
da idade adulta começamos por ser mais virados para fora e com o avançar da idade tornamo-nos mais virados para dentro. Segundo
Jung havia um aumento da introversão ao longo do ciclo de vida. Este conceito Jungiano é diferente do conceito que vamos falar aqui
hoje.
É importante perceber que tem a ver com a quantidade e intensidade das interações interpessoais. Tem a ver com aspetos de
sociabilidade, de nível de atividade, tem a ver com a necessidade de estimulação e com a capacidade de exprimir alegria (e outras
emoções positivas). Se olharmos bem para esta definição, autores defendem que se tivéssemos de dividir estas caraterísticas, seria por:
temos por um lado claramente aspetos de sociabilidade, e outro lado tem mais a ver com atividade (estimulação e aspetos dessa
direção). Autores defendem que extroversão tem duas componentes: questões relacionadas com o gosto pela interação social, mas
também os níveis de atividade.
(à parte: Todos temos os mesmos traços. Agora somos todos diferentes nas intensidades.
Temos a noção de que as pessoas são estáveis a nível dos traços, e se estão diferentes a nível de traços é porque aconteceu alguma
coisa. Mas quando passa essa situação, volta aos mesmo traços. Há uma expetativa de estabilidade nesses traços.)
Gregariedade: o gosto de estar em grupo, que varia entre todos nós. Há pessoas que têm imensos grupos e há pessoas que têm maior
preferência pelo individual. Nos traços de personalidade não há bem nem mal. O que sabemos é que ser assim ou assado pode
beneficiar-nos em alguma circunstância. Uma pessoa no extremo do gregário adora grupos, multidões, eventos com muito contacto
como concertos de rock.
Assertividade: traço muito importante nas áreas da psicologia, pois é uma característica da liderança. Uma pessoa assertiva é uma
pessoa ascendente, que está num grupo de pessoas, diz qualquer coisa e as pessoas escutam. São líderes naturais. Pessoas com
ascendente natural, uma afirmatividade.
Atividade: tem a ver com níveis de energia. Esta claramente é uma faceta que é visível em termos da tua formatação biológica. Há
umas que é mais claro que outras. São pessoas com muita energia, nunca se cansam nem adormecem, rapidez, tem a ver com esta
faceta. E há pessoas que são lentas, com pouca energia, etc. não quer dizer que as pessoas ativas façam mais e melhor.
Procura Excitação: tem a ver com o gosto pela excitação. Pelo gosto de realizar e vivenciar situações estimulantes. São as pessoas que
gostam de saltar de para-quedas, fazer coisas que deem excitação fisiológica. Como ir a um parque de diversões andar nas montanhas-
russas. O interessante é que podemos ter extroversão alta, mas o meu perfil a nível de extroversão é de uma determinada maneira. Na
perceção de um perfil de personalidade é importante criarmos constelações, ou seja, conjuntos de traços que nos permita perceber um
perfil específico. Também vemos procura de excitação em pessoas que gostam de chamar a atenção através da roupa, excentricidade.
Emoções Positivas: tem a ver com a capacidade de experienciar emoções positivas. Quem tem mais elevada experienciação de emoções
positivas e em maior quantidade que os que não têm essa faceta. As emoções positivas têm a ver com a capacidade de expressar
alegria, gratidão, bondade, perdão, confiança, etc. sair da cama aos saltos e grata com a vida tem a ver com a emocionalidade positiva.
Umas pessoas têm mais que as outras. Está um pouco na moda, pois que tem E6 elevado relaciona-se com a felicidade. É uma faceta
muito estudada quando queremos perceber se as pessoas estão bem.
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Neuroticismo
• Quantifica o contínuo que vai desde a adaptação à instabilidade emocional. Sujeitos calmos,
relaxados, resistentes, seguros, não emotivos e satisfeitos consigo, situam-se num pólo, e indivíduos
com propensão para a descompensação emocional, ideias irrealistas, desejos e necessidades
excessivas, e respostas de coping desadequadas, no outro.
Fator Neuroticismo – palavra clássica. Freudiana. Estrutura neurótica é a estrutura de todos nós, psicótica tem a ver com maior
perturbação e patologia. Freud dizia que as nossas estruturas seriam como diamantes. Os diamantes quando partem, partem pelas
zonas de fissura. Uma pessoa neurótica, se desenvolver uma determinada patologia, será de determinada ordem, mas nunca da ordem
da psicose. Ume estrutura neurótica nunca desenvolveria uma psicose, pelo mesmo lado que uma pessoa psicótica nunca desenvolveria
patologia dentro da ordem das neuroses. Mas este termo neuroticismo tem uma certa carga negativa socialmente. Relaciona-se com
instabilidade emocional. Pessoas com baixos níveis de neuroticismo são calmas, relaxadas, resistentes, seguras, não emotivas e
satisfeitas consigo próprias. E indivíduos com propensão para descompensação emocional: ideias irrealistas, desejos e necessidades
excessivas e respostas de coping desadequadas. É este continuo entre uma pessoa calma e uma pessoa exageradamente exacerbada
emocionalmente. Alguém com neuroticismo alto não dizemos que é doente, simplesmente tem estes traços numa pontuação elevada.
“Traços” do neuroticismo
Depressividade: não é depressão patologia. Mas depressão como traço de personalidade. Não há bem nem mal, com nas outras
caraterísticas da personalidade. Vida intrapsíquica mais atormentada. Todos temos um pouco.
Há 3 grandes conceções associadas a este termo: 1. Depressividade como traço de personalidade; 2- depressão reativa: quando
perdemos alguém-fazemos o luto; 3- a depressão como patologia.
Autoconsciência: devia ser vergonha, na opinião da professora. A pessoa está muito autocentrada. Nesta faceta o que vemos é
autocentração. Relaciona-se com a vergonha, olhar que é interno. Pessoas com este traço descentram-se muito do que está a
acontecer. Fantasia neurótica: geralmente catastrófica e geralmente mentirosa: não nos faz bem, idealização ou visão da realidade
de um ponto de vista catastrófico, que não é adequado ao que realmente iria acontecer, porque não se sabe. Confabulação interna que
não nos faz bem e é neurótica porque nos impede de viver a realidade de uma forma mais inteira.
Impulsividade: muitos dos comportamentos que não nos fazem bem têm a ver com estas questões. Não conseguir controlar os
impulsos, que advêm de uma ruminação neurótica. O problema do controlar tem a ver com o discurso interno e em aguentar a angústia.
Vulnerabilidade: ser vulnerável ao stress, à adversidade, acontecimentos negativos que acontecem. Uma pessoa que facilmente se
deixa atingir pelas circunstâncias mais stressantes.
Abertura à experiência
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Procura dinâmica e direcionada para a frente / para a ação. Gosto pelas experiências diversas. Curiosidade, criatividade, gosto não
tradicional. Por contraponto sem abertura à experiência são pessoas mais convencionais, pragmáticas, mais terra a terra, sem
inclinações artísticas nem analíticas.
Tanto o neuroticismo e extroversão já tinham tradição histórica, mas a abertura à experiência é algo assim mais recente, estudado há
menos tempo. Factor com muita relevância em termos de organização da carreira. Também a nível da escolha da psicoterapia, pessoas
com abertura à experiência estão mais predispostas para integrar outras terapias. Pessoas com abertura à experiência vão gostar mais
dos disparates da professora que as pessoas mais convencionais Abertura à experiência é a única condição que está relacionada com
a criatividade. E tem correlação com a inteligência.
Sentimentos: pessoas no topo deste traço têm a possibilidade de experienciar sentimentos e emoções muito diversas, pelo contrário,
sendo o traço baixo, sentem quase sempre a mesma coisa e não se interessa em explorar sentimentos. Pessoa aberta aos sentimentos
adoram sentir.
Abertura às ações: pessoas que são completamente disponíveis para experimentar coisas novas: restaurantes novos, atividades novas,
abertas a experimentar coisas novas.
Ideias: abertura a ideias vão gostar de saber novas teorias, gostam dessa análise teórica, pessoas fechadas a isto não gostam de
discutir ideias ou perceber novas ideias.
Valores: há pessoas que são aceitantes da diversidade de valores e formas de viver, são mais conservadoras. Outras são mais abertas
a novas perspetivas: coadopção, etc. É importante perceber que de uma maneira ou de outra tudo é correto. O que sabemos neste
momento é que os perfis de personalidade podem ter más ou boas consequências apenas em função da interação com a realidade. Por
exemplo ser aberto a experiências numa sociedade fechada, posso dar-me mal, por exemplo. O meu perfil de personalidade, se é
adequado ao contexto, pode promover a felicidade.
Relação entre abertura à experiência e abertura sensorial: pessoas que gostam de experimentar comidas diversas, pela abertura
sensorial relacionada com a abertura à experiência. A parte sensorial é fundamental na abertura à experiência.
Amabilidade
Retidão: como proceder de forma reta, honesta, fazer o que disse que
ia fazer. Altruísmo: gostar de fazer bem. Complacência: compreender a
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perspetiva do outro, tentar agradar. Modéstia: no seu polo oposto tem a arrogância, narcisismo. Sensibilidade: pessoa que se toca
Altruísmo, complacência, modéstia e sensibilidade. A amabilidade é o fator mais relacionado com aspetos humanos: humanidade,
interesse genuíno pelo outro.
Conscienciosidade
Tem vindo a ter grande relevância devido a estudos atuais. Tem a ver com a minha orientação para a tarefa (como estou nas tarefas
da minha vida). Temos pessoas organizadas, focadas e ambiciosas, focadas no objetivo, e no contraponto temos pessoas
desorganizadas, desleixadas e hedonista (mais centradas no prazer que na realização – colegas do secundário superinteligentes que
nem foram para o ensino superior. Se não tenho um perfil de
personalidade que me favoreça na direção para objetivos, a
inteligência não é suficiente para conseguir ter conquistas na vida).
Todas as pessoas que encontrarmos de sucesso têm de ser
conscienciosas, senão não conseguiriam organizar-se para o
sucesso.
Competência: relacionada com o conceito de autoestima. Ordem:
organização, capacidade de organizar a vida. Sem organização vai
ser difícil fazer um doutoramento, por exemplo. Obediência /
dever: seguir regras. Temos desde o que segue as regras todas até
ao que é completamente desobediente (passar todos os sinais
vermelho, etc.). Professora diz que não tem este traço muito
apurado. Luta pela realização: PESSOAS que são centradas numa
missão, num objetivo. Outros não. Autodisciplina: apesar de querer
viver em função do prazer, consigo dizer que não e ter a capacidade
de me conseguir orientar e aguentar a frustração em prol de um
objetivo. É contrário à impulsividade do neurótico, em que não
consegue resistir a uma tentação. Deliberação: Ponderar. Pensar
antes de agir.
Curiosidades:
• Fatores mais implicados na relação com os outros: Amabilidade e extroversão.
• Fatores mais relevantes para a minha relação com a tarefa: Conscienciosidade e Abertura à experiência.
• Fator que tem a ver com a relação comigo próprio: neuroticismo. É mais intrapsíquico. Por isso não se vê tão expressamente
nas minhas ações diretas.
• Quais os traços / fatores mais implicados na longevidade pessoal? (atenção: saber que todos os fatores são independentes.
São dimensões normais da personalidade). O que estamos a falar varia muito.
• R: A Conscienciosidade. A pessoa vai levar a cabo as prescrições em relação à saúde.
Estudos:
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discussões, divorcio, etc.), abertura à experiência. Grandes extrovertidos tendem a ter gosto pela
diversidade, tenderão mais facilmente a serem infiéis. Conscienciosidade.
A utilização destes fatores são muito importantes a nível de preditividade do comportamento. São utilizados nos testes de
personalidade. Se formos para psicologia forense, vamos utilizá-los. Se quisermos perceber uma personalidade pré-mórbida (antes de
ficar doente) vamos utilizar testes de personalidade. A conjugação de fatores dá-nos uma preditividade do comportamento.
Os fatores são independentes, o facto de alguém ser alguma coisa, isso não vai estar relacionado com outra coisa. Introversão
(preferir ler um livro à noite que ir gastar dinheiro na discoteca) é diferente de timidez (vergonha e neuroticismo).
Nota: Modelo de 5 fatores tem feito propostas de alteração da caracterização das doenças mentais do DSM para dimensões de
personalidade, propostas de estudo para compreensão das doenças ditas mentais. Perfis de personalidade estão desadequados em
função do seu meio e criam sofrimento: vai numa linha de psiquiatria cultural (defende que a doença mental tem a ver com a cultura,
também; a incidência da doença mental vai variando consoante o momento histórico e cultura).
McAdams considera que as teorias dos traços estão incluídas no nível 1, a pessoa como ator social. O modelo
dos 5 fatores e o mais consensual, mais estudado, abrangente e empiricamente sustentado. É a teoria que
arruma melhor os traços. Temos diversas teorias dos traços e o modelo dos 5 fatores é apenas uma dessas
teorias.
O interesse das teorias dos traços tem a ver com a preditividade do comportamento. E é por isso que são relevantes. Embora tenham
sido considerados o topo do iceberg do estudo da personalidade, no fundo o que encontramos é uma grande preditividade destes
modelos, que são operacionalizados através dos testes de personalidade, que usam traços na sua avaliação. Encontramos uma
relação entre os traços e todas as variáveis de interesse para o humano, desde a satisfação conjugal à escolha de carreira, e daí a sua
relevância. A sua relevância também resulta da componente histórica que falámos: a origem da palavra personalidade está
relacionada com uma conceção que tem a ver com a arrumação dos traços e a tentativa de encontrar uma estrutura da personalidade
(uma estrutura de arrumação de traços).
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Crítica:
Uma das grandes críticas ao modelo dos 5 fatores é que era ateórico (um modelo que surge da investigação, mas que verdadeiramente
não tinha uma conceptualização por trás). O inverso da Psicanálise, que é a grande teoria da personalidade, que conceptualmente
explica tudo. Enquanto o modelo dos 5 fatores nasce a partir de dados mas sem uma conceptualização teórica. O modelo de McAdams
é uma conceptualização (diz que os traços são de nível 1, ou 2 ou 3... e isso de certa maneira faz com que várias teorias tentem dar um
cabimento teórico a esse modelo). Os próprios autores do modelo dos cinco fatores também tentam fazê-lo:
O seguinte slide representa a tentativa de criar uma relação entre os 5 fatores e outras variáveis que sejam importantes para
perceber a personalidade.
Temperamento
Pode ser o Fator Abertura à experiência. Mas na extroversão há uma faceta: gosto pela
estimulação. Extrovertidos necessitam de estímulo: desde pessoas a adrenalina. Podemos
fazer um mesmo ato por razões diferentes.
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Quando o Shakespeare diz que todo o mundo é um
palco, no entanto, sabemos que somos atores, mas a
verdade é que não é em casa que somos os atores,
mas na nossa vida social. Somos seres sociais e
estamos sempre a assumir uma personagem em
função da nossa realidade social.
• Os domínios da conscienciosidade e da amabilidade ligam-se a dos aspetos que Freud destacou como
sendo essenciais para a saúde psicológica e para a maturidade: respetivamente o amor e o trabalho.
Os fatores do Big Five são da personalidade normal (não se enquadram dentro de uma categorização psiquiátrica). Mas há fatores
que estão mais ligados a caraterísticas psiquiátricas. Qual o fator que está relacionado com a psicopatologia? O neuroticismo. Está
ligado ao bem-estar subjetivo. As pessoas com neuroticismo dizem ser menos felizes, e está intercorrelacionada com doenças físicas,
doenças mentais e aparecimento de demência (e outras doenças degenerativas). No modelo dos Big Five nunca falamos em
perturbação, mas sim em não adaptação do perfil de personalidade à realidade em que se encontra.
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Modelo de McAdams (Nível 2)
As adaptações caraterísticas da personalidade – Nível 2
Nível 1 é o do ator e o que McAdams refere ser o nível do ter. Os traços, as caraterísticas, as disposições, aquilo que eu tenho à partida.
Quando entramos no nível 2 vamos para o nível do agente, aquele que age. Aquele que vai para ação. Este nível resume-se ao fazer
(enquanto o nível 1 é o que temos à partida). Perspetiva de que o que eu sou não são as caraterísticas que tenho mas o que ando a
fazer. Basicamente o que dizem estas teorias é que as pessoas são muito mais do que aquilo que andam a fazer. Mas as pessoas são
as suas ações. No entanto, para perceber uma ação, tenho de falar com a pessoa.
Aspetos fundamentais que definem o desenvolvimento da psicologia da personalidade no final do século XX:
Basicamente, na atualidade há tópicos que se mantêm: as teorias dos traços, as teorias dos motivos também, assim como o conceito
de interação e o conceito de psicanálise.
Motivos:
• Esboços de comportamento ou de relações concretas que preenchem ou concretizam esses esquemas
• Nuttin
• Direção
• Finalidade
• Dinâmico
Têm uma direção, finalidade e são dinâmicos. Contrastam com a estabilidade dos traços. Para compreendermos os motivos temos de
ter a noção de contexto, a interação entre o sujeito e o mundo. Perceber o enquadramento da pessoa.
Duas raparigas chegaram atrasadas à aula. Porquê? Podíamos estar um dia inteiro a supor os motivos. Há imensas razões. Por isso é
evidente que só saberemos se perguntarmos e ainda assim podem não querer dizer a verdade. Numa perspetiva de caraterização mais
ao nível dos traços, elas mostraram traços de fraca pontualidade. Mas isso não faz que elas tenham obrigatoriamente esse traço,
porque para ter teriam de o fazer de forma repetida... numa análise de nível 2, uma ação interliga-se com um objetivo, com uma razão,
com uma justificação e um determinado comportamento. Ao perguntar às meninas, respondem que pararam para ajudar outra
menina.
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Organismo e mundo são indissociáveis
• A personalidade não pode ser vista se não como constituída pela textura de relações do sujeito com
as situações de vida, com o seu "mundo próprio" (umwelt), mundo de objetos e de pessoas, com o
qual mantem um conjunto de trocas indispensáveis à atualização e desenvolvimento do repertorio de
respostas do organismo” (Abreu, 1982, p. 334 - 335).
As unidades de nível 2 aparecem muitas vezes na literatura denominadas por unidades de nível médio, pois, dentro de nós, estão entre
a ação (ajudar) e a consequência. No entanto temos o comportamento, a motivação do comportamento (ajudar) e também os valores
(bondade, ajudar os outros). Existe os valores, o objetivo e a ação. Estamos a falar do lado doing da personalidade (lado do fazer).
Este nível 2 também é conhecido pelo nível das preocupações pessoais. Preocupação vem de pré-ocupar (a mente). Estamos num
domínio cognitivo. Estamos num projeto que antecede a ação. Concetualização virada par ao futuro. Pessoa vista por dentro
(Imensas teorias)
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Para conhecermos uma pessoa...
• ...podemos procurar obter informação sobre o que ela quer, o que faz para atingir o que quer, o que
é que a preocupa, em que é que está ‘metida’, quais os seus planos para o futuro, o que sente em
relação aos filhos, mulher ou marido, patrão, os seus planos, objetivos, táticas, estratégias...”.
McAdams (1998, p. 304)
Se quero conhecer tenho de saber o que motiva, o que interessa, o que é relevante para cada um. Aquilo que procurávamos há 10
anos hoje é completamente diferente. O que significa que quando estamos no nível 2 mudamos mais: o que para mim é central, o que
pretendo é muito mais mutável a nível de vida, porque os nossos objetivos variam ao longo da nossa existência, assim como os nossos
traços. É evidente que as variáveis de nível 2 também estão interligadas com as variáveis de nível 1. É o que se pretende nesta época
contemporânea: ligar o sujeito nos diferentes níveis. Mesmo as pessoas relevantes para nós, há 10 anos eram pessoas diferentes das
que são hoje.
Como quero a minha vida no futuro? A forma como formulo os meus objetivos, a clareza, se são exequíveis, se são organizados sob
prioridades, é fundamental em termos de sucesso e em termos de bem-estar. Esta projeção é fundamental para me organizar e me
estruturar mentalmente.
Passamos o dia a fazer projetos simples: podem ir desde tarefas pequenas até projetos enormes ou
grandes missões (como mudar a sociedade ocidental, etc.). nós temos objetivos que basicamente são
missões de vida e também objetivos pequenos e curtos.
Modelo socioecológico
A proposição essencial é que o bem-estar tem relação com os nosso projetos, nossas ambições e ficar bem. O bem-estar humano
depende da persecução de seguirmos projetos pessoais que são fundamentais para nós. Se para mim é importante dançar, e se de isso
depende o meu bem-estar tenho de regular e tornar exequível. Se tenho isso como essencial é necessária uma autorregulação que
permite a continuidade com o projeto e disso depende o meu bem-estar. Basicamente quer dizer que se queremos ser felizes temos de
saber os nossos objetivos e procurar levá-los a cabo.
O que sabemos quando conhecemos uma pessoa? É fundamental o que a motiva. O que a move.
Todas estas questões estão interligadas com o nível 2. O que nos faz sair da cama de manhã... o que nos move? Qual o projeto e
objetivo? Ao longo da história da psicologia várias pessoas deram resposta ao que nos leva par aa ação. Hull, Spence... somos movidos
pelas necessidades psicológicas.
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• Necessidades fisiológicas (como, fome, sexo...Hull & Spence);
• Comportamentalistas (ratos e pombos)
• Freud (Eros / sexo e Thanatos / agressão)
• Carl Jung (individuação)
• Humanismo (Rogers e Maslow): autoatualização, conexão espiritual, desenvolvimento pessoal
• Henry Murray: há vários motivos (listou 20 necessidades psicológicas)
O Freud terá falado de EROS e Thanatos: pulsão de vida e pulsão de morte e isso levar-nos-ia à ação. Para Jung, o processo de
individualização, nascemos dependentes e todo o processo de crescimento é um professo de individualização e de me tornar mais
pessoa.
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Perspetiva Psicanalítica
Clivagem, bom ou mau, tem a ver com a fase do nosso desenvolvimento psico-
cognitivo. Alguém maduro não fala em bem e mal, fala em maldade e bondade.
Todas estas pulsões estão dentro de nós, de acordo com Freud. Muitas vezes o
problema com a Psicanálise é a linguagem, que é metafórica, simbólica.
Perspetiva Psicanalítica
• Teoria da personalidade e abordagem terapêutica
• Primeira teoria compreensiva da personalidade
A teoria FREUDIANA nasce da relação clínica do Freud com os seus pacientes. É um fisiologista, médico, que fazia investigação. Frase
que disse: “Eu ainda acredito que vai haver uma época em que a biologia vai explicar a psique”. A teoria que propõe nasce da
observação clínica.
Psicanálise tem muitas definições e esta é uma delas. Freud trouxe para a ciência psicológica uma teoria que tem muito impacto na
cultura mundial. Uma das razões é o estudo do inconsciente: estudo dos processos inacessíveis. Historicamente, estamos numa altura
do racionalismo e Freud vem dizer que há uma parte de nós que não é nada racional, é inconsciente. Isto surge como uma bomba
atómica. Neste momento esta ideia já está incluída em todas as abordagens clínicas, inclusivamente na TCC.
• Um procedimento para a investigação de processos mentais que são quase inacessíveis por qualquer
outro modo
• Um método (baseado nessa investigação) para o tratamento de distúrbios neuróticos
• Perturbações nervosas não tinham necessariamente causa física.
A relação terapêutica de Freud começa com a pessoa deitada no divã, com Freud atrás. A razão é
simples, não quer ser um elemento distrator. Freud queria criar este ambiente propicio para que a
pessoa pudesse aceder ao seu inconsciente. Como médico começou a perceber que existiam muitas
perturbações nervosas, principalmente nas mulheres. Falou muito da histeria, e atribuiu às
mulheres porque têm útero, mas esta também tinha muito a ver com o momento cultural da época.
Começou a perceber que muitas perturbações não tinham uma causa física, e o caso da histeria era
claro.
o Segundo Charcot, era possível aliviar sintomas histéricos com sugestão hipnótica.
o Freud percebeu que na histeria os pacientes exibem sintomas que são anatomicamente
inviáveis.
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O que é a Psicanálise?
• Ciência do Inconsciente
• Teoria central da relação de objeto
Na linguagem psicanalítica, a relação de objeto tem a ver com a minha relação com o outro. basicamente esta frase diz que a psicanálise
é o estudo da relação. O que interessa é que percebamos que neste momento, em qualquer área crítica, nós damos ênfase à relação.
É uma ideia Freudiana. Antes de Rogers, quem veio a defender a importância da relação foi Freud, que defendia que a relação
terapêutica seria fundamental. De certa maneira quando um paciente vem fazer terapia tem toda uma história de décadas de
disfunções relacionais, e a relação terapêutica é um refazer dessas relações precoces. Por isso a importância da relação. No fundo a
relação terapêutica é uma relação amorosa a nível de afeto. É desta forma que a pessoa em situação de sofrimento pode organizar-se
e reconstruir-se.
• Determinismo Psíquico:
o Não há descontinuidade na vida mental. Os processos mentais não ocorrem ao acaso. Há uma
pausa para cada memória revivida, cada pensamento, sentimento ou ação.
o Seres humanos não são motivados apenas pelos seus pensamentos conscientes, mas, em
grande parte, por motivos inconscientes e desagradáveis.
Nós somos obviamente seres sociais e vamos recalcar as emoções desagradáveis sobretudo no enquadramento em uma determinada
sociedade.
• Pulsões ou instintos:
o São pressões, forças propulsoras que incitam pessoas à ação, que dirigem o organismo para
determinados fins
§ Aspetos físicos dos instintos correspondem às necessidades
§ Aspetos mentais dos instintos podem ser denominados de desejos
o Impulsos básicos: pulsões de vida e pulsões de morte.
§ Líbido: energia aproveitável para os instintos de vida. (Sexualidade, para a OMS é energia.
Conceito Freudiano)
§ Catexia: processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é vinculada a, ou
investida na representação mental de uma pessoa, ideia ou coisa.
Com esta ideia de Catexia, Freud vai falar quando algumas pessoas investem esta energia libidinal apenas em um só objeto. Outra ideia
muito importante da teoria Freudiana, que acaba por ser explorada pelos psicanalistas seguintes pegam na seguinte ideia: todo o facto
mental (representação mental) baseia-se na relação. Para perceber isto basta compreender a relação precoce. Quando o bebé nasce,
a sua capacidade de aprender a elaborar, falar, e outros vai basear-se na relação. O bebé desenvolve-se cognitivamente baseado na
relação com as suas referências principais. A capacidade de pensar baseia-se não estabelecimento original da relação amorosa com as
figuras parentais.
Quando mais tarde, por alguma razão, sofro mentalmente, para a psicanalise esse sofrimento terá a ver com o
que aconteceu com o percurso relacional sobretudo na infância. Perspetiva freudiana. Freud disse que toda a
minha capacidade cognitiva vai surgir em torno da relação e da lenta frustração dessa mesma relação. O bebé
nasce, tem as necessidades básicas e estabelece uma relação com a mãe. Cresce porque a mãe vai lentamente
frustrando as suas necessidades, criando maior exigência, preparando-o para a vida. É esta frustração incutida
ao bebé que possibilita o conhecimento. Este baseia-se na frustração das nossas necessidades.
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Estrutura da personalidade (aqui estamos no nível 1 de McAdams)
Aqui temos uma figura clássica que diz que grande parte da nossa vida mental seria inconsciente (id). A vida é como um iceberg. Grande
parte está escondida.
Primeira Tópica
Segunda tópica
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• Superego
o Internalização dos padrões morais da sociedade
o Voz da consciência, focalizada na forma como nos devemos comportar
o Responsável pela culpa
Freud designou consciente, sub e inconsciente de 1ª tópica e id, ego e superego de 2ª tópica. Ego: Consciente: tudo em que estamos
cientes em qualquer momento… Superego pré-consciente; id: inconsciente – partes instintivas como a agressividade, a sexualidade,
etc. 2ª tópica: ID (impulsos mais instintivos, mais presentes à nascença. Não distingue entre fantasia e a realidade; opera de acordo
com o princípio do prazer; as fontes de energia é o eros e thanatus, duas forças que significam amor e morte; líbido que é a anergia de
vida, energia sexual). Ego (desenvolve-se a partir do id na infância; entende a realidade e a lógica; mediador entre ego e superego
(internalização dos padrões morais da sociedade).
A personalidade vai surgir do conflito entre a procura de prazer e as restrições a nível social. Conflito entre
id e superego.
O Freud inclui o conceito de repressão: banirmos os pensamentos inaceitáveis para o inconsciente. Só que o que vai acontecer, de
acordo com Freud, quanto mais repressão mais possível é a explosão e isso acontece através dos lapsos, que surgem de várias formas.
Há sempre uma parte de nós em que o inconsciente se vai expressar.
Para conseguir viver em sociedade, vamos usar mecanismos de defesa para controlar toda a impulsividade.
• Processos mentais inconscientes empregues pelo ego para reduzir a ansiedade.
• Quando perdemos controlo sobre a guerra interna, o resultado é a Ansiedade.
o Ego protege-se a si próprio via Mecanismos de Defesa: reduzem / redirecionam a ansiedade,
distorcendo a realidade
Ego funciona como árbitro para meter paz no conflito. Freud disse que
tínhamos duas grandes estruturas psíquicas: neuróticas e psicóticas. Estas
estruturas são como diamantes. Estes têm arestas. Os diamantes partem de
acordo com as suas fissuras. Se temos uma fissura neurótica e esta é sujeita
a grande atrocidade, esta estrutura tenderá a partir pelas suas fissuras e
surgem assim perturbações de ansiedade, fobias, histerias. Se a pessoa tem
uma estrutura psicótica, vão aparecer perturbações da ordem da psicose:
esquizofrenia, paranoia, etc. isto na perspetiva Freudiana. Quando
perdemos controlo contra a guerra interna o resultado é ansiedade. Os
mecanismos de defesa vai reduzir esta energia e redirecionar a ansiedade
distorcendo ligeiramente a realidade. Neste sentido, outros autores dizem
que todo o neurótico é um mentiroso. Tem a ver com esta distorção da
realidade enquanto mecanismo de defesa. Arranjar justificação que retira
peso ao que a pessoa está a sentir.
Mecanismos de Defesa do Eu
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Posso usar cada um deles em determinada fase do ciclo de vida. Regressão: usada mais na infância ou em pessoas com alguma
perturbação psicológica. É muito comum quando nasce um irmão a criança volta a urinar à noite e faz mais birras, coloca-se numa fase
anterior ao seu estádio de desenvolvimento. Na adolescência, usa-se o acting out muito. Revolta em forma de raiva, gritar, partir
coisas, expressão para fora. O mecanismo de defesa mais maduro é o humor virado para mim. Rir-me de mim próprio. Por exemplo
ir dar uma frequência e esquecer-me dos slides, posso ficar bloqueada ou usar o humor. Este suaviza a situação. Mas a sublimação e o
altruísmo também são estratégias adequadas. Sublimação: morre uma pessoa e uso a dor para expressar uma obra de arte em forma
de pintura. Altruísmo: se me aconteceu isto, então vou ajudar os outros.
Mecanismos de defesa são inconscientes.
Desenvolvimento da personalidade
• A personalidade é formada nos primeiros anos de vida e enraizada nos conflitos da infância
o Cinco estádios do desenvolvimento, cada um associado a uma zona erógena particular
o Fixação — tentativa de obter prazer, em adulto, através de formas equivalentes à dos estádios
anteriores
Freud disse que a personalidade desenvolve-se e é formada na infância e enraizada a partir desses conflitos.
Esta divisão em estádios foi bastante polémica na altura. Ele chamou fases psicossexuais (para Freud a sexualidade não é restrita à
genitalidade). Disse que a vivência da criança entre os 0 e os 18 meses está centrada na boca (Fase oral). Entre os 18 e 36 tem a ver
com aspetos da eliminação (Fase Anal). Entre os 3 e 6 anos entraria na fase fálica, genital, onde apareceria o complexo de Electra e
Édipo, o que teria a ver com a identificação e identidade de género. Depois até a puberdade a sexualidade está adormecida (na escola
primária) e as crianças estão centradas no adquirir conhecimento. De certa maneira é como se houvesse uma pausa na sexualidade
(Fase de Latência). E depois em diante teríamos sentimentos sexuais pelos outros (Fase Genital). Esta sexualidade adormecida aparece
muito nos contos de fada.
Uma fixação num destes estádios vai fazer com que a pessoa na idade adulta tenha alguma problemática relacionada com as
aprendizagens nestas fases, criando mais conflito interno. Freud referiu que nós, em termos mentais, devíamos abranger todos estes
elementos sem fixação em um deles.
Depois de Freud, alguns discípulos vão propor pequenos ajustes e refinamentos relativamente à teoria original. Carl Jung: Discípulo
preferido de Freud, mas passou a ser dissidente em vários aspetos. Um deles foi que o Freud falou apenas no inconsciente individual,
mas Jung disse que haveria um inconsciente coletivo (todos nós temos acesso aos grandes ideais base dos mitos gregos porque estão
dentro do nosso inconsciente coletivo; rivalidade, amor e o ódio pelos pais, está tudo dentro do nosso inconsciente coletivo). Jung dizia
que as partes recalcadas podiam tornar-se partes sombra, que se não são trazidas à consciência e integradas podem ser extremamente
perigosas. Por exemplo, a pedofilia na igreja. Que sentido tem, se são pessoas que têm defendido o amor. Tudo está relacionado com
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o recalcamento, a sexualidade é altamente reprimida e provoca um efeito de panela de pressão, uma sombra como menciona Jung.
Quando há muito contenção, depois também há muita perversão e expressão dessa conflitualidade. Depois Jung aponta a questões de
individuação, diz que não é verdade que paramos de crescer na adolescência, mas passamos toda a vida a crescer e em processo de
individuação, tornarmo-nos mais indivíduos, mais em nós mesmos. O processo desenvolvimental continuaria para além da
adolescência.
• Karen Horney - segurança (Moving toward, against, or away from other people)
Karen Horney – na sua obra fala da importância da segurança. As neurociências têm redescoberto a importância da segurança para o
sistema nervoso não ficar sobre ameaça. Quando sinto algo ameaçador, o que acontece é que o nosso SNC se ativa, pois toda a energia
do corpo está a ser levada par a sobrevivência e fecho a capacidade de conexão. Na psicoterapia se não me sinto em segurança, não
consigo mudar e aprender.
Erikson falou da construção da identidade. Vai defender uma perspetiva desenvolvimental ao longo do ciclo de vida. Vamos desenvolver
ao longo de toda a vida a nossa identidade. Não temos só conflitos na primeira infância, mas ao longo de todo o ciclo de vida.
Wilhelm Reich: se queremos mudar as pessoas não podemos apenas trabalhar com elas a nível verbal, temos de trazer também o
trabalho corporal.
O que nos ficou na atualidade? O inconsciente; noção de conflito interno; existência de defesas; estrutura de personalidade;
importância do passado; importância do significado- somos seres simbólicos e damos significado às coisas. O que não faz sentido:
desenvolvimento não termina na infância; lapsos podem estar relacionados com a memória; sonhos podem não ser desejos
inconscientes.
Psicanálise e neurociências?
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• Confirmação, por exemplo, (Gailliot, Schmeichel and Baumeister 2006) da hipótese de Freud de que
o ego tem recursos limitados
Ego ter recursos limitados: por mais que o nosso ego seja fortalecido em função das nossas vivências há um momento em que não
aguenta se houver muita pressão. O ego tem recursos limitados ( guerras mundiais e PTSD).
O sucesso de Freud pode ser julgado não só pelo interesse e debate sobre aspectos da Teoria Psicanalítica,
mas principalmente por suas ideias que se tornaram parte da cultura ocidental.
Não há ninguém que não fale do inconsciente, que não tente interpretar os sonhos, são tudo ideias freudianos que não existiam na
nossa cultura antes de Freud.
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A mudança: resistimos
Resistimos à mudança porque repetimos o que conhecemos – a nossa adaptabilidade é limitada pelo hábito
e aprendizagens anteriores; O melhor preditor do comportamento futuro é o comportamento passado.
Mas… se me quero desenvolver tenho de me confrontar.
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Wilhelm Reich 1897 – 1957
- Psicanalista e marxista austríaco que defendeu que a repressão sexual era a fonte de muitos problemas
psicológicos e sociais;
- O prazer de viver e o prazer do orgasmo são idênticos. Medo de viver;
- “Function of the Orgasm” (1927).
Considerado o pai das psicoterapias corporais, começou como aluno de Freud e tem obras fascinantes, com
muito impacto em várias escolas posteriores atuais. Reich associa a certa altura questões da psicanálise e do
marxismo. A repressão sexual, para além de fonte de problemas psicológicos, era para ele também fonte de
problemas sociais. Chegou a ser presidente da sociedade de psicanálise e acabou expulso por suas ideias
marxistas radicais. Foi expulso também do partido comunista por misturar psicanálise às ideias políticas. Foi
expulso de vários países e foi parar nos países nórdicos, onde fez escola com vários discípulos. Para ele, o
prazer de viver era igual ao prazer do orgasmo. Acreditava que por causa do recalcamento das pulsões
sexuais nós teríamos medo de viver.
Reich foi preso nos EUA no começo do século XX por espalhar panfletos sobre a importância do orgasmo, e
morreu na prisão.
Tornou-se herói dos estudantes radicais nos anos 60 nos EUA – o mote do movimento hippie “Make love not
war” baseia-se de certa maneira no trabalho de Reich.
Caráter
As pessoas têm padrões consistentes de reação, e isso é no fundo o equivalente a um estilo comportamental (ex: mais agressivo, mais
tímido ou mais extrovertido) e uma atitude física (uma postura e um movimento corporal).
Totalidade
Vem advogar que nós somos uma totalidade e não podemos retirar a expressividade corporal da equação.
Dor de costas: para tratar/perceber os aspetos psicológicos e o stress subjacente, temos de trazê-los à
consciência, e assim libertar a tensão. Liberar-se da dor necessita do auto-conhecimento e da possibilidade de
resolver as causas.
Reich vem advogar que podemos ter um enquadramento psicanalítico para o que está a
acontecer com nosso paciente, mas métodos apenas verbais serão limitados, porque o
inconsciente é corporal (no sentido em que tudo que está reprimido - nossos conflitos
intrapsíquicos - estariam impressos, memorizados, no nosso corpo). Aliás, as teorias mais
contemporâneas do stress, mais relacionadas com as neurociências, têm vindo a confirmar
este aspeto, ou seja, a nossa memória do trauma, sobretudo quando acontece na infância,
está no nosso corpo, e é necessário envolver os aspetos corporais e biológicos no trabalho.
Reich, ao falar que perante o stress ou algum conflito a intenção fica no nosso corpo, defendeu
a divisão dos segmentos a serem trabalhados a partir das queixas clínicas dos doentes. Há
uma equivalência interessante destes segmentos com os chakras da yoga.
- Tensão mecânica;
- Carga bioenergética;
- Descarga bioenergética;
- Relaxamento mecânico
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Em função do stress existencial, acumulamos tensão mecânica que se converteria numa carga bioenergética, e a descarga
bioenergética e relaxamento mecânico são necessários para a saúde: por isso ele dava tanta importância ao orgasmo. Reich estudou
estes temas inclusivamente em laboratório.
Bioenergia
Alexander Lowen era um advogado que teve problemas de foro sexual, tendo ido consultar Reich em Nova
Iorque. Ficou fascinado com ele, curou-se e tornou-se discípulo de Reich. Criou uma corrente própria derivada
de suas ideias, mudou um pouco os termos (falou em bioenergética ao invés de orgasmos) e foi mais facilmente
aceite.
Se eu quero compreender a pessoa como um todo, tenho de compreender o todo: processos energéticos, o corpo e a palavra. Quando
as coisas não fluem de forma natural, temos de libertar os bloqueios: trabalhar a respiração e os movimentos (hoje em dia há imensos
estudos que mostram a relação entre o padrão respiratório e a psicopatologia). A respiração é o único processo fisiológico sobre o qual
temos controle direto. Inspiração: trazer energia, vitalidade, força e alegria. Origem da palavra “inspirar”: in spiritus.
Os livros do Lowen contêm vários exercícios direcionados à libertação da expressão emocional.
Trabalho Loweniano
- Autoconsciência (sensações e sentimentos): dar-se conta de como está cada parte do corpo, sensações neste momento.
- Expressão desses sentimentos: como nos movemos e nos expressamos.
- Integração de ambos através da auto possessão: oque o corpo está a precisar em termos de movimento e o que isto nos
faz sentir.
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Grounding: enraizamento. O não andar enraizado tipicamente dá origem a várias patologias, no extremo,
as pessoas com esquizofrenia e todos os estados dissociativos estão desenraizadas. Quem “fica muito dentro da
sua cabeça”. Fundamental fazer exercícios que nos tragam para o corpo.
Surrender:
- Profunda entrega a si mesmo, relaxamento dos processos defensivos arraigados e que,
mantendo a situação traumática, impedem a vitalidade do organismo. O caminho da
doença à saúde passa de uma arcaica re-ação à real ação, da rendição à redenção.
Tem a ver com ultrapassar as resistências, mas nenhum “forte” ou “guerreiro” retira seu escudo sem se sentir seguro – é um
processo. E a finalidade é a liberdade.
Essas escolas trabalham muito o desbloqueio.
Graciosidade:
- Animais livres: graça nos movimentos, suavidade flexível que encanta;
- Aliveness: mais energia, menos bloqueios, menos tensão;
- Espiritualidade.
Apanágio de todos os seres saudáveis: a graciosidade. Aliveness: vitalidade, alegria no viver, liberdade. A partir disto, acederíamos à
espiritualidade.
“A person who doesn´t breathe deeply reduces the life of his body. If he doesn’t move freely, he restricts the
life of his body. If he doesn´t feel fully, he narrows the life of his body. And if his self-expression ins
constricted, he limits the life of his body.” – Alexander Lowen.
Tai chi: mnemónicas dos movimentos do kung fu. A luta é muito mais eficaz se conseguem fazer de forma fluida e relaxada.
A técnica de Alexander encoraja a calma e a abordagem descontraída a qualquer tarefa.
A aparência do nosso corpo é resultado da nossa genética combinado à nossa história pessoal. A má postura denota abandono
pessoal e depressão.
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Terapia Gestalt
Personalidade
- Tudo o que vivemos repercute-se no nosso presente;
- Somos corpo e este constitui a base bioquímica de todas as nossas emoções e sentimentos e regista todas
as nossas experiências;
- Somos conduta, e esta representa o feedback ambiental diário.
Frederik Perls: pai da psicoterapia Gestalt. A psicoterapia Gestalt é importante porque é ela que traz para a
psicoterapia, sobretudo através de Perls, conceitos que hoje são dados como adquiridos e compõem basicamente o
mindfulness: a ênfase ao presente, trabalhar o passado no presente; somos corpo e somos
conduta/comportamento: interação com o organismo com o mundo (feedbak ambiental diário que regula nosso
comportamento).
A Psicoterapia Gestalt é influenciada pela psicologia da Gestalt (psicologia da forma) e por outras correntes e suas seguintes
características:
• Seres humanos entendidos dentro do sistema de que parte: é de certa maneira o primórdio de uma perspectiva
sistémica.
• here-and-now;
• awareness of present experience;
• faith and commitment to the self-healing and regenerating forces of the human being (“third force”
or humanistic approaches);
• Laura Perls did not derive her emphasis on body posture etc. from Reich (as did Fritz who was
analyzed by Reich) but from modern dance: importância do movimento;
• Becoming aware of bodily movements and postures brings clients rapidly into the present.
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“Se há água na torneira, por que ir ao poço profundo?” (Perls) Representa a separação da abordagem
psicanalítica, ou seja, vamos trabalhar com o que está no presente, o resto não vale à pena.
“Every man is the builder of a temple called his body.” (Henry David Thoureau)
Segundo Perls, nós somos um organismo em interação com o seu meio, e de certa maneira são fundamentais as interações. Se elas
ficam bloqueadas, temos um impasse:
Boicotamos a regulação entre o organismo e o meio: surge então o impasse. O bebé ao nascer não consegue
respirar sozinho e, ao mesmo tempo, não recebe mais oxigénio da placenta. Está diante de um impasse: ou
morre ou aprende a respirar. O “bebé azul” - por ainda não conseguir respirar - é o protótipo do impasse
encontrado em toda neurose (Perls, 1977). Eu tenho tudo para conseguir respirar, ou seja, eu tenho tudo para viver a vida
sendo feliz, mas há uma espécie de auto-sabotagem, ou auto-bloqueio, uma incapacidade de me deixar ir o percurso natural da
existência.
Interrupções
Consciência e responsabilidade
Mesmo que não sejamos responsáveis pelas nossas circunstâncias, somos responsáveis pelo significado que
damos à nossa vida na medida em que escolhemos as nossas atitudes e comportamento para com essa
situação. Perls é um existencialista, que chama muito a responsabilidade para a pessoa.
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Gestalt: Princípio 3
Esta identificação das nossas necessidades e daquilo que nos acontece dá-nos escolhas, opções, para que possamos ir ao encontro
daquilo que precisamos e queremos. O neurótico (de certa maneira é aquele que se ilude) carece desta consciência, dessa
responsabilidade pessoal, e consequentemente desta capacidade de auto-regulação.
Se nos tornamos conscientes (de nós mesmos e nossas sensações, emoções, pensamentos), podemos nos
integrar (tornarmo-nos pessoas inteiras).
Encontro agora
“The past is gone and the future has not yet arrived, only the present is
significant” (Corey, 1996).
Não é à toa que o presente (momento) e o presente (no sentido de prenda) são a mesma
palavra.
O que a professora quer é que fiquemos com uma ideia de que certos autores seguiram ideias e conceções sobre “quem somos” de uma
forma diferente. O Moreno, pai do psicodrama, que é trazer as coisas do mundo interno para a ação, para o “palco” da vida, e vamos
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enfim trabalhar essa realidade aqui “em cima da mesa”. Este acrescento do corpo em movimento, por exemplo do Lowen: a extensão
das ações que vou realizando e dos personagens que vou sendo na vida. Eu sou tudo aquilo que ando a fazer, todas estas personagens.
Psicodrama
• Tem como objetivo ajudar as pessoas a tornarem-se co-diretores das suas próprias vidas, a reescrever
guiões, trazendo a espontaneidade em substituição aos padrões habituais ou pelo pensamento
automático. Nós agimos de forma muito automática, e Moreno sugere que possamos ser mais criativos e responder mais
em sintonia com aquilo que somos ao invés de apenas repetir padrões enrijecidos.
• O ego nasce dos papéis. A personalidade, o nosso eu, nasce dos nossos papéis. Teoria dos papéis:
Saúde mental é a possibilidade de termos muitos papéis: possibilidades, alternativas, fazer coisas
diferentes - isto é o que promove saúde mental.
• ”Here lies the man who bought laughter and joy into psychiatry” - Frase na campa de Moreno.
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As narrativas integradoras - nível 3
• Seres humanos constroem as suas próprias vidas como uma série de histórias em curso;
• Essas histórias de vida ajudam a dar forma a comportamentos, a estabelecer identidade e a integrar
os indivíduos na vida social moderna (Mc Adams, 1985);
• A identidade narrativa é uma narrativa do self internalizada e em evolução que integra o passado
reconstruído, o presente tal como é percebido e o futuro antecipado (McAdams, 2009);
• Dessa forma, proporciona à vida de cada pessoa sentimentos de unidade, propósito e significado
(McAdams, 2009);
• Influenciando o crescimento pessoal, o desenvolvimento, o coping e o bem-estar (McAdams & Pals,
2006).
Alguns autores têm teorias tão abrangentes que incluem mais de um nível. O Moreno tem aspetos de nível 2 e 3.
O que é característico do nível 3? São teorias que trazem as narrativas e que falam da personalidade como uma narrativa de vida
integradora, ou seja, basicamente os seres humanos constroem suas vidas por uma série de histórias em curso. Nós passamos a vida a
contar histórias.
A nossa identidade é uma identidade narrativa: é nosso eu internalizado, e integra, segunda McAdams, o passado reconstruído (quando
contamos histórias de quando éramos pequeninos, por exemplo - é uma reconstrução do passado) com o presente e o futuro antecipado
(o que eu antevejo que vai ser a minha vida - que é fundamental).
Verdadeiramente e intuitivamente sabemos que é através disso que damos unidade, propósito e significado à nossa vida. Os pacientes
com transtorno dissociativo ou com psicose, de certa maneira, quebram este sentimento de unidade, o que causa um enorme
sofrimento. A professora acha que uma das principais razões que levam as pessoas à psicoterapia é o tentar atribuir sentido às coisas
que estão a acontecer, porque de certa forma parece que “não encaixam” na narrativa pessoal.
McAdams chama de AUTOR, aquele que escreve o guião. Permite percebermos como é que nós damos coerência a nós mesmos, como
é que nós damos sentido às nossas vidas, e como conseguimos criar esse sentido de “mesmidade”.
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Mil e uma noites (rei Shahryar e Shahzeman e a virgem Sheherazade), em que as histórias, além de
encantarem, podem libertar da morte e curar.
Contar histórias é importante, pois tem a ver com aspetos fundamentais: quando somos ouvidos sentimo-nos importantes e
acrescentados; falar também implica na elaboração daquilo que se fala e ajuda no processo de integração e elaboração da nossa
narrativa. Ouvir aos outros também nos acrescenta.
O rei estava profundamente mal por ter sido traído, e decidiu toda noite estar com uma nova virgem e matar essa virgem. Até que a
virgem Sheherazade pede pra contar-lhe uma história e ele adormece a ouvir. Todas as noites ele queria que ela continuasse a história,
e assim não a matou. No fim de mil e uma noites a ouvir sua história, ele estava curado e apaixonou-se por ela.
É preciso muito tempo para reparar a tristeza, fazer o luto, mas mais do que isso: a percebemos a importância das narrativas para a
elaboração interna das coisas dissonantes e que nos ferem.
Auto-conhecimento: Na Grécia antiga. Estudamos e fomos inspirados pela importância desta ideia do auto-
conhecimento. “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.” - Inscrição no oráculo
de Delfos (monte Párnaso), atribuída aos Sete Sábios (650 a.C. - 550 a.C.)
Nossa cultura foi influenciada por essa frase. As pessoas pediam ao oráculo que dissessem desse um esclarecimento quando chegavam
com um problema. O monte Párnaso é um lugar de rara beleza natural onde as pessoas relaxavam, tomavam banhos e ouviam músicas
bonitas. Era um lugar curador onde a pessoa ficava e era observada. No final sim, a pessoa voltava ao oráculo, mas já sabiam o que a
pessoa devia ouvir para resolver o seu problema (ela já estaria preparada). Em termos de abordagem é extremamente interessante e
representa a capacidade do auto-conhecimento para a resolução dos problemas.
“Conhece-te a ti mesmo”
Esta noção do “conhece-te a ti mesmo” traz a ideia de que existe um” eu” e um “não eu”.
Um conceito muito caro aos humanistas é o do eu real e o eu ideal, e basicamente o sofrimento da nossa vida existe devido às
discrepâncias ou incongruência entre o que eu sou e o que eu gostaria de ser. Todos estes conceitos vão surgir em diferentes teorias:
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Introspeção
Auto-avaliação (auto-estima)
Ao estudar diferentes culturas, vemos que as coisas não são tão lineares:
Existem sociedades que não têm a conceção do eu separada do coletivo/social. Assim percebemos que a nossa conceção de
individualidade, de eu ou de personalidade é pautada pela nossa cultura.
Identidade no desdobramento
Self Social - todas as concessão de self neste momento são sociais. Mais recentemente aparecem os selves narrativos (que são sociais
também) - aparece a noção da importância da integração das nossas partes.
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Ideia de multiplicidade:
Tu és tal…
Insulto
Quando alguém diz “tu és (qualquer coisa)”, está a reduzir a pessoa àquilo. A ofensa está
na redução a um papel, por ser apenas insuficiente, por isso mente em relação apenas à
totalidade. Ela é aquilo, mas não só, e nem sempre.
Por isso, na atualidade as conceções de self são narrativas e de certa maneira vão trazer
sentido a essa confusão que pode ser a mente humana. Autores nesta área vão defender
não o auto-conhecimento da antiguidade clássica, mas o auto-desconhecimento.
Auto-desconhecimento
Isto quer dizer que, quando de certa maneira eu conheço e sou, aquilo que acontece é eu ficar preso, menos flexível. O auto-
desconhecimento implica que “eu sou possibilidades”.
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Whitman, ao falar sobre o self
Tudo isto ganha sentido porque nós vivemos numa relação. Não só somos seres sociais como ganhamos sentido existencial no
verdadeiro encontro. Até nosso sistema imunitário ganha força no encontro.
… pode dizer pouco sobre os seus desejos, sobre aquilo que ele tem vontade de fazer, sobre a forma como
antecipa suas metas futuras, ou sobre o que está a tentar fazer e que obstáculos ou facilidades se lhe deparam
nessa demanda. A natureza motivacional dos construtos permite aceder às metas pessoais que as pessoas
formulam e perseguem e às formas como essas metas se transformam em comportamentos (McAdams,
2009).
Isso é basicamente o que McAdams propõe como o futuro no estudo da personalidade. Encaixar as teorias nos diferentes níveis e depois
articular esses níveis, para podermos perceber a pessoa na sua totalidade.
Para descrever uma pessoa necessitamos de informação proveniente dos três níveis de análise da
personalidade:
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Os traços esboçam o contorno da individualidade humana (nível 1) e as adaptações características (nível 2)
preenchem em detalhe essa individualidade; As identidades narrativas (nível 3) possibilitam os significados
singulares culturalmente alicerçados; Ou seja: a interação entre a individualidade psicológica e a cultura é
muito evidente (McAdams & Pals, 2006).
Numa perspetiva mais contemporânea de McAdams, a Personalidade é uma “variação singular do indivíduo
no desenho evolucionário geral da natureza humana, expressa como um padrão em desenvolvimento de
traços disposicionais, adaptações características, histórias de vida integradoras complexamente e
diferencialmente situadas na cultura” (McAdams & Pals, 2006).
• A evolução providencia um desenho geral para a individualidade psicológica contra o qual variações
socialmente consequentes nas vidas humanas podem ser concebidas (princípio 1).
• Os seres humanos evoluíram tendo em conta as variações que eram mais importantes para a vida em grupo,
sintetizadas a um nível global em termos de diferenças individuais em traços disposicionais (princípio 2).
• As histórias de vida integradoras refletem o modo como a pessoa dá sentido à sua vida como um todo
(princípio 4). A construção psicossocial de uma identidade narrativa impele a personalidade das tendências
globais (traços disposicionais) e das respostas específicas às exigências da vida diária (adaptações
características) para o desafio de dar sentido à própria vida num mundo complexo.
• Por sua vez, a cultura influencia o desenvolvimento dos traços, as adaptações características e as narrativas
de vida de diversos modos (princípio 5) pois providencia as regras para a expressão fenotípica dos traços,
influencia o conteúdo e o `timing´ das adaptações características e possibilita formas legítimas de narrativas
nas quais as pessoas dão sentido às suas vidas.
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Não devemos nos esquecer daquele quadro/gráfico em que falamos da importância das questões da temporalidade, mas também das
questões culturais - a importância da integração de todos estes componentes no tempo e no lugar.
• Maddi (2007) uma meta-teoria da personalidade deveria ser capaz de proporcionar não só mais clareza
conceptual, mas facilitar o teste empírico. E este úl,mo aspecto é muito mais concretizável no seio da
especificidade das diferentes teorias existentes do que no seio da meta-teoria proposta
Estes autores acreditam que é muito difícil integrar teorias tão diferentes, pois algumas têm pressupostos basicamente opostos uns
aos outros. Também acham que falta o teste empírico.
o modelo tem evoluído desde que foi concebido pelo autor (McAdams, 1995, 1996, 2004, 2014…
e tem vindo a ser relacionado com variáveis pertinentes atuais: o estudo do bem-estar e da qualidade de vida. O bem-estar interliga-
se com o modelo de McAdams.
Bem-estar subjetivo: deriva do hedonismo de Epicuro, tem a ver com estar satisfeito ou não com a avaliação subjetiva que faço da
minha vida;
Bem-estar psicológico: tem uma perspetiva eudaimónica (Aristóteles) e tem a ver com aspetos mais desenvolvimentais e mais ligado
aos valores das pessoas.
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Modelo que integra todos estes componentes: aspetos de nível 1 a combinarem-se com diferentes outras variáveis e com o bem-
estar. Modelo de Brian:
Personalidade e Neurociências
As neurociências têm se interessado pelas teorias, modelos e construtos do estudo da personalidade. Com os métodos
das neurociências é fácil estudar as diferenças entre as diferentes personalidades.
• ‘It is increasingly easy to study psychologically relevant individual differences using neuroscientific methods’.
(in Personality Pssychology. Corr & Mattheus)
• McNaughton N, Smillie LD. (2018) Some Metatheoretical Principles for Personality Neuroscience. Personality
Neuroscience. Vol 1: e11, 1–13. doi: 10.1017/ pen.2018.9
Personalidade é complexa e com vários níveis tanto mais complexa com o avançar da idade
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AULAS PRÁTICAS
Traços da personalidade, situações e comportamento
Assim, agimos de forma diferente consoante os locais a que vamos – na igreja de uma forma, numa festa de outra. Tudo isto
parte de regras e costumes (Snyder & Ickes, 1985, citado por Funder, 2016). Então, já que as situações em que nos encontramos são
importantes, é possível entender que a personalidade nem tanto, pois, tendo em conta que talvez o comportamento humano seja
inconsistente e apto a mudar de acordo com as situações, há pouca utilidade em caracterizá-lo em termo de traços gerais de
personalidade.
Mas, se isto for verdade, estaremos basicamente a afirmar que os testes de personalidade pouco
servem e, assim, considerar que traços de personalidade não existem, visto que as pessoas mudam quem são
conforme as pessoas com quem se relacionam e as situações em que se encontram. Afinal, somos todos iguais
(Funder, 2016).
Apresentou-se esta ideia a duas turmas de psicologia: A primeira turma contava com alunos dos 18-22 anos e, quando exposta esta
ideia, a aceitação da mesma foi imediata. Já na segunda turma, na qual os alunos eram mais velhos, estes questionaram o professor,
mostrando uma forte inclinação para discordância de tal afirmação. A razão para tal diferença, em aceitar ou não essa afirmação,
parte da diferença de idade. Pessoas mais velhas tendem a ser mais ela mesmas, independentemente da situação em que se
encontram, do que pessoas mais novas, que possuem uma maior necessidade de se adaptar, modificando mais vezes a sua
personalidade de acordo com o local e pessoas em seu redor. Então, estudantes que ainda dependem financeiramente dos seus pais e
que ainda não estabeleceram os seus objetivos de carreira tendem a concordar mais facilmente com a ideia de que diferenças
individuais pouco importam porque a forma como as pessoas agem depende unicamente da situação em que se encontram. A sua
personalidade está, ainda, a desenvolver- se. Muitos estudos sugerem ainda que a consistência da personalidade está ligada à
maturidade e à saúde mental na sua generalidade, pois pessoas mais consistentes aparentam ser menos neuróticas, mais controladas,
mais maduras e mais positivas nos seus relacionamentos com os outros (Roberts, Waton, e Viechtbauer, 2006; citado por Funder, 2016).
Mischel afirmava que o comportamento é algo inconsistente de uma situação para a outra para permitir
que as diferenças individuais sejam caracterizadas com precisão em termos de traços gerais de
personalidade (Mischel, 1991, citado por Funder, 2016).
• Críticas mencionam três questões (Funder, 2016):
o A personalidade de um indivíduo transcende a situação imediata e fornece um guia
consistente para suas ações, ou o que uma pessoa faz depende totalmente da situação
em que se encontra no momento?
o Como as nossas intuições quotidianas nos dizem que as pessoas têm personalidades
consistentes, esta pergunta leva a uma segunda questão: as intuições comuns sobre as
pessoas são fundamentalmente falhas?
o A terceira questão aprofunda ainda mais: porque é que os psicólogos continuam a discutir
sobre a consistência da personalidade, ano após ano, década após década?
Situacionismo
• Vertente que acredita que o comportamento se altera consoante as situações em que nos
encontramos.
• As situações são mais importantes do que os traços de personalidade na determinação do
comportamento
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• Não apenas a prática profissional de avaliação de personalidade é uma perda de tempo, mas
também as intuições quotidianas que fazemos em relação aos outros são fundamentalmente
erradas.
As palavras que caracteristicamente usamos para descrever os outros não são legitimamente descritivas, porque tendemos a vê-los
como sendo mais consistentes em todas as situações do que realmente são. Na verdade, as pessoas que acreditam que a personalidade
é importante comentem o ‘’erro fundamental de atribuição’’.
Previsibilidade
• Pode ser usada, ou não, para prever o comportamento de alguém, caso conheçamos as características
da pessoa.
• Situacionistas argumentam, que esta capacidade, como já dissemos anteriormente, é limitada, uma
vez que não há nenhuma característica que possamos usar de modo a prever um comportamento de
maneira precisa (Funder, 2016)
• Na literatura de pesquisa, a previsibilidade e a consistência são indexadas pelo coeficiente de
correlação, que é um número que varia de +1 a -1, e indexa a associação ou relacionamento entre
duas variáveis. Caso a correlação seja positiva, isso significa que à medida que uma variável
aumenta, a outra também aumenta. Se for negativa, significa que à medida que uma variável
aumenta, a outra diminui – se tivermos como exemplo a pontuação da variável ‘’timidez’’ de alguém,
quanto mais alta esta pontuação, a menos festas a pessoa deve ir). Se a correlação for 0, significa que
as duas variáveis não estão sequer relacionadas.
Desta forma, Mischel argumenta que as correlações entre personalidade e comportamento, ou entre comportamento numa situação
e comportamento noutra situação, raramente ultrapassam 0,3, estimativa esta que mais tarde foi revista por Nisbett, que a aumentou
para 0,4. Os traços de personalidade não são importantes para prever o comportamento de alguém (Funder, 2016).
Assim, concluiu-se que a personalidade não existia, baseando em duas premissas (Funder, 2016)
• A de que os situacionistas estão certos e que 0,4 é o limite superior para a previsibilidade de um
determinado comportamento partindo de variáveis de personalidade ou comportamento noutras
situações;
• A premissa de que um limite de 0,4 é um limite baixo.
3 sujestões:
• Foi então sugerido que fossem avaliados comportamentos da vida real e não no laboratório, já que
a personalidade tem uma probabilidade maior de ser relevante em situações reais e vividas (Allport,
1961, citado por Funder, 2016).
• Uma segunda sugestão para futuras pesquisas relaciona-se com a possibilidade de umas pessoas
serem mais consistentes do que outras: estudos concluíram que os sujeitos que se apresentaram
como consistentes eram mais previsíveis do que as menos consistentes, e que pessoas com maior
auto-monitorização mudam de comportamento mais facilmente, ou seja, o seu comportamento é
mais difícil de prever (Bem e Allen, 1974; Snyder, 1987, citados por Funder, 2016).
• A última sugestão de melhoria é o foco em tendências comportamentais gerais em vez de situações
individuais – às vezes tendemos a ser mais agressivos, outras menos. Assim, o nosso nível de
agressividade é algo muito mais fácil de prever do que aquilo que nós faríamos, ou não, numa situação
em particular.
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Todas as sugestões têm como objetivo prever tendências comportamentais, ao invés de atos isolados. Ainda assim, seguir
todas estas sugestões é difícil, pois os comportamentos da vida real não são fáceis de avaliar, as diferenças individuais na consistência
podem por vezes ser demasiado subtis e difíceis de medir, assim como a previsão de tendências comportamentais exige que o
investigador observe imensos comportamentos (Chaplin, 1991, citado por Funder, 2016). Deste modo, não há pesquisa suficiente que
permita provar que a consistência comportamental costuma ser mais alta do que os 0,4 que os situacionistas admitem (Funder, 2016).
Se, de inicio, se concluísse que uma correlação de 0,4 não era pequena, o limite deixaria de ser tão
preocupante e, assim, essa critica situacionista perdia força em grande parte. Deste modo, é importante
avaliar quanta previsibilidade é que uma correlação do tamanho admitido realmente representa. Para tal, é
necessário um padrão de comparação – absoluto ou relativo (Funder, 2016).
Para avaliar esta correlação, em relação a um padrão absoluto, calcularíamos o total de previsões
corretas e incorretas que uma medição de traço como este grau de validade geraria num contexto hipotético.
Para o relativo, comparamos este grau de previsibilidade para traços de personalidade com a precisão de
outros métodos usados para prever o comportamento. Uma avaliação absoluta de 0,40 foi então obtida e
verificou-se que essa correlação significa uma previsão de comportamento com base numa pontuação de
traços de personalidade é provável que seja correto 70% do tempo.
O poder da situação
• Como é que se avalia em que grau é que o comportamento é afetado por uma variável situacional?
Segundo Funder, os situacionistas não parecem preocupados em medir as variáveis situacionais de uma forma que indique
precisamente como, ou em que grau, as situações afetam o comportamento sendo que, segundo o autor, não há necessidade dos
situacionistas serem vagos sobre quais os aspetos das situações que podem afetar o comportamento. Um corpo de pesquisa psicológica
permite que os efeitos das situações sejam calculados. Os dados das pesquisas, quase todos, são adquiridos pelos estudos de psicologia
social experimental (Aronson, 1972, citado por Funder, 2016)
Atualmente, a grande questão é: quão grandes são os efeitos situacionais em comparação com os efeitos
das variáveis de personalidade?
Não há duvida de que mudamos o nosso comportamento consoante as situações. A noção de ‘’personality consistency’’ não significa,
no entanto, que nos comportemos da mesma forma o tempo todo – o conceito de personalidade envolve diferenças individuais, tal
como foi visto no início do capítulo, e são estas diferenças no comportamento que são mantidas entre situações. No geral, somos
mais faladores numa festa do que num contexto mais sério. No entanto, é importante realçar que as pessoas mais faladoras na festa,
vão também ser, provavelmente, as mais faladoras no outro contexto (Funder, 2016).
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• O número de vezes que um participante olhava nos olhos do seu parceiro parecia depender
criticamente de quem era o parceiro.
• Alguns comportamentos eram fortemente influenciados tanto pela pessoa como pela situação.
• A quantidade total de conversa foi consistente, mas a situação teve também uma forte influência.
Por outro lado, é possível verificar que a quantidade de ‘’behavioral variance’’ devido à situação estava negativamente
relacionada com a quantidade de variância devida à pessoa (gráfico de dispersão). Assim, à medida que o efeito da situação se torna
mais forte, o efeito da pessoa tende a ficar mais fraco, e vice-versa.
• Conclusão do estudo: As situações têm uma influência importante no comportamento, mas, ainda
assim, tendemos a ser consistentes. No entanto, seria ir demasiado longe se concluíssemos, a
partir dos dados, que as pessoas são, de facto, mais importantes do que as situações, ainda que
os resultados para aí apontem.
Personalidade e Vida
Pessoas e situações
É importante reforçar que as pessoas se diferenciam entre si a nível psicológico, que os traços de personalidade existem. Tendo isso em
conta, é ainda relevante ter em conta o papel relativo dos traços de personalidade e das situações. Desse modo, as variáveis situacionais
são cruciais para a forma como as pessoas agirão em circunstâncias específicas.
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• Assim os traços de personalidade são a melhor forma de descrever como as pessoas agem em geral
(Fleeson, 2001, citado por Funder, 2016).
Cada pessoa relaciona-se de forma diferente em cada relação que cria e agimos de forma diferente em cada uma delas. Cada
relação apresenta uma situação diferente e reagimos em conformidade com ela. Um bom exemplo disto é no regime de trabalho. Cada
trabalho é uma situação diferente com as suas próprias exigências.
• No entanto, Borman e Penner (2001, citado por Funder, 2016) observaram que alguns aspetos de um
bom desempenho no trabalho são gerais, tais como:
o desempenho de cidadania. Este padrão é previsto através de características como a consciência.
• Economistas passaram a reconhecer a importância de alguns traços de personalidade, como a
motivação, persistência e autocontrolo
A relação e a forma como as pessoas se relacionam com os seus parceiros, os requisitos que surgem para cada trabalho e a
forma como as pessoas desenvolvem as suas competências e lidam com as suas finanças são fatores importantes e que determinam
como a vida se desenvolve.
Interacionismo
Vimos que as pessoas mantêm a sua personalidade mesmo quando adaptam o seu comportamento a situações particulares.
Se este ponto se tornar totalmente compreendido e amplamente aceito, então a psicologia pode oferecer mais algumas lições:
reconhecer a influência das condições sociais nos resultados da vida não torna a responsabilidade pessoal irrelevante (Funder, 2016)
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Género e personalidade
• De que modo a pertença a determinado género é importante para a personalidade?
• Personalidade: padrão habitual de comportamentos, de sentimentos e pensamentos de um
indivíduo (Twenge & Campbell, 2017).
Sexo Vs Género
• Sexo: refere-se a machos e fêmeas como duas categorias biológicas baseadas em cromossomas,
genitais e características sexuais secundárias.
• Género refere-se aos papéis e comportamentos causados por biologia, cultura ou ambos, como
capacidades cognitivas, comportamento sexual, comprimento do cabelo, roupa e preferências por
trabalhos, isto é, aquilo que se associa como fazendo parte de um determinado sexo.
• A identidade de género diz respeito ao modo como a pessoa se identifica, podendo identificar-se
como homem, mulher ou como transgénero.
• Transgénero é alguém cuja identidade de género e sexo biológico não são iguais, como quando um
homem sente psicologicamente que deveria ser mulher e vice-versa.
• Cisgénero é alguém em que as dimensões biológicas e psicológicas correspondem.
• Na origem dos papéis de género, há diferenças hormonais no útero que evidenciam que questões
sobre determinados traços de personalidade como a agressividade se devem à biologia.
• Esta explicação biológica é iniciada por um único gene, conhecido como fator determinante do
testículo (TDF) ou SRY.
• Os papéis exercidos por homens e mulheres na sociedade são frequentemente baseados em fatores
biológicos, sem serem biológicos em si.
Por exemplo, o fato das mulheres assumirem o papel de coletoras deveu-se provavelmente à maior facilidade em combinar essa tarefa
com a gestação, a amamentação e criar filhos. Assim, o papel social foi sendo enraizado de forma a ser culturalmente fomentado
(Eagly, citado por Twenge & Campbell, 2017; Wood & Eagly, citado por Twenge & Campbell, 2017).
• À medida que a cultura muda, as diferenças sexuais também, no que diz respeito aos papéis de
género.
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• É mais aceitável nos dias de hoje que o homem apresente traços de cuidador e assuma profissões que
eram tradicionalmente associadas à mulher, por exemplo, enfermeiro.
• Já as mulheres eram culturalmente consideradas demasiado agradáveis em termos de personalidade
para serem médicas e advogadas, e atualmente assumem estas posições profissionais (Twenge &
Campbell, 2017).
• Enquanto há características que diferem entre homens e mulheres devido a fatores basicamente
genéticos, outras são puramente culturais.
o No entanto, a maioria das diferenças entre os sexos é causada por uma interação complexa
entre genética, biologia, papéis sociais e cultura (Twenge & Campbell, 2017).
• Proposto por Robert R. McCrae e Paul T. Costa (1992), compreende diversas dimensões:
o O neuroticismo, que corresponde à tendência de experienciar emoções negativas como
preocupação e raiva;
o A extroversão – a quantidade e intensidade das interações interpessoais. Tem a ver com
aspetos de sociabilidade, de nível de atividade, necessidade de estimulação e com a
capacidade de exprimir emoções positivas.
o A agradabilidade relaciona-se com a tendência para ser compassivo e dar-se bem com as
pessoas;
o A conscienciosidade caracteriza alguém como sendo organizado, ambicioso e com
autodisciplina e, por fim
o A abertura à experiência verifica-se como estando presente nos casos em que os indivíduos
expressam interesse em explorar atividades, ideias, crenças novas (Twenge & Campbell,
2017).
Liderança
• As mulheres são geralmente menos impulsivas, menos agressivas, menos assertivas, menos propícias
a tirar vantagem sexual de alguém e preocupam-se mais do que os homens por, geralmente,
apresentarem neuroticismo
63
• As mulheres poderosas, ou com traços de personalidade forte, são julgadas mais severamente do que
homens com o mesmo poder ou dominância.
• Apesar da conceção tradicional (estereótipo) de que homens são melhores líderes, a performance das
mulheres em posições de liderança é ligeiramente maior (Eagly et al., citado por Twenge & Campbell,
2017), sendo também avaliadas mais positivamente por terceiros, como colegas, chefes e
empregados.
“Masculinidade" e "feminilidade"
• Papéis de género variam entre entre os sexos, isto é, entre homem e mulher, assim como entre o
próprio sexo - homem/homem; mulher/mulher (Twenge & Campbell, 2017).
• Traços de personalidade estereotipicamente masculinos envolvem principalmente
instrumentalidade ou tomada de ação, semelhante ao traço de assertividade dentro da extroversão.
• Traços de personalidade estereotipicamente femininos envolvem primeiramente expressividade e
traços de carinho e cuidado, o que vai ao encontro do fator de agradabilidade do modelo dos cinco
fatores.
O PAQ serve para medir o tipo de personalidade de género do indivíduo em termos de assertividade e cuidado, o que não significa em
momento algum medir a orientação sexual. Os resultados da utilização desta escala indicam que as pontuações das mulheres em traços
masculinos têm vindo a aumentar, sugerindo que diferenças sexuais nestes traços de personalidade têm origem nos papéis culturais
da mulher, progressivamente mais voltados para o trabalho (Twenge & Campbell, 2017).
Profissões e passatempos
Autoestima
• Homens são mais propensos a dizer que tiveram relações sexuais com alguém que acabaram de
conhecer, comparativamente às mulheres
• Homens apresentam igualmente um impulso sexual mais forte comparativamente às mulheres
64
• Os homens masturbam-se mais que as mulheres
Habilidades cognitivas
65
A Psicanálise depois de Freud
A teoria psicanalítica é baseada em algumas ideias-chave:
• Determinismo psíquico
• Estrutura interna de três partes da mente (id, ego e superego)
• Conflito psíquico
• Energia mental (Funder, 2016, pp. 354-356).
O determinismo psíquico é a suposição de que tudo o que acontece na mente de uma pessoa e, portanto, tudo o que uma pessoa pensa
e faz, também tem uma causa específica. A teoria psicanalítica divide a estrutura interna da mente em três partes: id, ego e superego.
O id corresponde à parte irracional e emocional da mente, o ego à parte racional da mente, que anseia prazer e o superego à parte
moral da mente. A mente é dividida em partes distintas e independentes, então pode entrar em conflito consigo mesma. A principal
tarefa do ego é encontrar um meio-termo entre as demandas de motivação e moralidade (superego) e as coisas que a pessoa deseja
ao mesmo tempo (id). A energia mental ou psíquica, também conhecida como libido é a energia gasta por alguém a fazer algo, como
tirar da memória pensamentos desconfortáveis. Não estando disponível para outros propósitos, como ter ideias novas e criativas. O
princípio da conservação de energia se aplica à mente assim como ao mundo físico.
Este capítulo do livro de Funder (2016) vai então servir para mostrar de forma resumida, algumas das maneiras em que as teorias de
Freud foram alteradas desde a sua morte até ao presente.
Interpretar Freud
Freud escreveu centenas de artigos e livros num período de tempo de mais de seis décadas, e nessas seis décadas mudou de ideias
inúmeras vezes, o que faz com que tentar interpretar as suas palavras não seja uma tarefa nada fácil. É ainda mais difícil interpretar
a sua teoria de forma que faça sentido hoje em dia, sendo que já tem quase um século. Muitos psicólogos e historiadores tentaram
fazer isto, o que resultou numa variedade gigante de resultados, causados por uma mistura daquilo que Freud disse, daquilo que cada
pessoa acha que ele disse ou daquilo que acham que ele devia ter dito, e até misturados com ideias mais recentes. Quanto mais alguém
tenta interpretar e ajustar as ideias de Freud adicionando outras ideias ou até as suas próprias, mais essa pessoa se torna um
psicanalista ativo (Funder, 2016, p. 393).
• Anna Freud, Carl Jung, Alfred Adler e Erik Erikson são alguns dos nomes importantes, mas existem
mais. A maioria deles usou os mesmos métodos de Freud.
Viam pacientes, estudavam-se a si próprios, estudavam bastante a história e a literatura e tiravam conclusões.
• O problema deste método é que, na prática, revelava ter falhas, por exemplo:
o Enquanto Jung defendia que os seus casos e introspeção levaram à conclusão A, Freud
argumentava que não, que os casos dele e a sua introspeção levaram à conclusão B, e a
discussão continuava.
66
o Mesmo que alguém conseguisse criar uma experiência para resolver o assunto, seria em vão,
pois nem Freud nem Jung, nem qualquer um dos teóricos clássicos, aceitaria (Funder, 2016
p. 394).
De acordo com Funder (2016, p. 395) a psicologia do ego parece-se menos com a psicanálise clássica
e mais com a psicologia dominante, porque em vez de se concentrar na sexualidade, no conflito psíquico e
no inconsciente, concentra-se na perceção, memória, aprendizagem e pensamento racional e consciente.
• Desde muito jovem, o a psicologia do ego esforça-se para entender como o indivíduo está separado
do mundo e da mãe; mais tarde, o ego debate-se com questões como:
o Como se relacionar com a sociedade;
o Alcançar autonomia pessoal;
o Valorizar a autonomia dos outros.
Pelos padrões psicoterapêuticos modernos, Freud desinteressava-se pela vida diária de seus pacientes, estava mais interessado no seu
relacionamento com a sua mãe durante a infância (Funder, 2016, p.395).
• Alfred Adler (1870–1937) foi o primeiro a entrar em conflito com Freud, achava que este se
concentrava demasiado no sexo como motivador do pensamento e do comportamento.
• Segundo Adler, o interesse social, ou o desejo de se relacionar positiva e produtivamente com outras
pessoas tem a mesma ou mais importância (Adler, 1939, citado por Funder, 2016, p. 396).
• Adler afirmou que os indivíduos são motivados a alcançar igualdade ou superioridade sobre outras
pessoas para compensar como os mesmos se sentiram na infância. Esse conceito chama-se
inferioridade orgânica e implica que alguém que se sentiu fisicamente fraco em criança lutará por
força física em adulto, que aquele que se sentia estúpido tornar-se-á um adulto obcecado em ser mais
inteligente que os restantes. Não é relevante se a criança realmente era fraca fisicamente ou pouco
inteligente, apenas importa como ela se sentia (Funder, 2016, p. 396).
• Uma maneira que os adultos possuem de compensar o passado é tornarem-se poderosos por se terem
sentido inadequados ou inferiores na infância. Adler denominou esse tipo de comportamento
supercompensação de protesto masculino, sendo também aplicado em mulheres. Os meninos
aprendem a ideia de que os homens deveriam ser o género poderoso e dominante, no entanto, a
pessoa mais poderosa das suas vidas é a mãe. Esta aprendizagem fez com que alguns rapazes
desenvolvessem um forte desejo de provar a sua masculinidade e poder. O protesto masculino é
uma resposta aos sentimentos de inferioridade (Funder, 2016, p. 396).
67
• A rivalidade entre Carl Jung (1875-1961) e Freud foi mais dramática do que a de Adler porque Freud
tinha grandes esperanças nele. Jung e Freud mantiveram contacto por muitos anos, escreveram várias
cartas e viajaram para a América juntos. Mas, as teorias de Jung afastaram-se cada vez mais das de
Freud.
Jung acreditava que todos usam os quatro tipos de pensamento, mas o tipo que predomina varia de pessoa para pessoa. Um teste
moderno de personalidade, o Myers-Briggs Type Indicator (MBTI; Myers, 1962), é usado para determinar o tipo de pensamento mais
usado por cada pessoa (Funder, 2016, p. 398). Jung acreditava que o ideal seria alguém alcançar um equilíbrio entre os quatro tipos de
pensamento, embora reconheça que seja raro. A diferença entre Jung e Freud pode ser definida em termos junguianos, Freud enfatizava
o pensamento racional, enquanto Jung tinha um estilo mais intuitivo (Funder, 2016, p. 398).
68
o Além disso, são muitas vezes contraditórias, como o sentimento de precisar ser amado por
todos e ao mesmo tempo sentir que é necessário dominar todos ao seu redor. Esse modo de
pensar e agir pode gerar comportamentos autodestrutivos e problemas de relacionamento
(p. 399).
A criança desenvolverá um senso de correto e errado que é derivado de ensinamentos dos adultos, mas também é verdadeiro
ao desenvolvimento do senso de self da criança. Este desenvolvimento leva a uma moralidade adulta baseada em princípios, na qual
as regras morais são aplicadas com flexibilidade e sabedoria, ao invés de uma pseudomoralidade meramente conformista em que
regras rígidas são seguidas cegamente e sem exceção (p. 401).
69
Portanto, o progresso de uma pessoa no esquema de Erikson (citado por Funder, 2016, p. 402) não está de
acordo com a maturação física ou genital, mas sim com as tarefas desenvolvimentais necessárias em
diferentes fases da vida.
Uma das partes mais importantes nas nossas vidas são os relacionamentos, só sendo possível o relacionamento com outras pessoas
devido às imagens que temos delas nas nossas mentes, mesmo que essas imagens nem sempre correspondam à realidade. Assim, em
termos psicanalíticos, pessoas emocionalmente importantes são chamadas de objetos e a análise das relações interpessoais é chamada
de teoria das relações de objeto (Funder, 2016, p. 402).
o Melanie Klein foi uma importante teórica que se dedicou a investigar os relacionamentos entre pais
e filhos. Tal como defende na teoria das relações de objeto (Klein, 1964, citado por Funder, 2016, pp.
402-403), é comum encontrar-se 4 temas principais:
o No primeiro tema defende-se que todo o relacionamento contém elementos de satisfação e
frustração, prazer e dor. Uma ótima maneira de compreender melhor este tema é analisando
a relação entre o bebé e o peito da mãe. Para o bebé o primeiro objeto importante é o peito
da mãe, sendo este uma fonte de calor, conforto e nutrição, o que faz com que ele adore o
peito. No entanto, mamar pode se tornar frustrante quando o peito não está cheio, o que faz
com que o bebé odeie o peito.
o No segundo tema é analisada a mistura de amor e ódio, as pessoas importantes nas nossas
vidas podem dar-nos amor, carinho e apoio, o que faz com que as amemos, mas ao mesmo
tempo podem criticar-nos e frustrar-nos o que faz com que de certa forma as odiemos. As
pessoas não estão nitidamente divididas em uma parte boa e em outra má, sendo um todo
indivisível, tornando o sentimento de amor-ódio algo contraditório e até mesmo irracional.
No entanto, esta situação é inevitável pois o amor nunca é isento de mágoa.
o O terceiro é um dos mais complexos temas que trata a distinção entre as partes do objeto de
amor e a pessoa inteira (como um todo). Pegando novamente no exemplo do bebé, o que
realmente lhe interessa e atrai não é a mãe como um todo, mas sim o peito da mãe e o
conforto que esse lhe traz. O mesmo se aplica a adultos, é possível gostar do corpo, sentido
de humor ou até mesmo da situação financeira de um parceiro, mas isso não é o mesmo que
amar o parceiro (Usar os atributos de uma pessoa para seu próprio prazer é muito diferente
de amar a pessoa como um todo).
o O último tema estuda até que ponto a psique está ciente e é perturbada por esses
sentimentos contraditórios. Os sentimentos em relações podem tornar-se algo confuso e
complicado e o bebé pode sentir diversos sentimentos em relação ao peito da mãe. Apesar
de o bebé adorar o peito, ele também sente raiva pois nunca parece ser o suficiente, sente
inveja porque deseja o peito para si o tempo todo, medo de perder o peito da mãe, etc.
Melanie Klein desenvolveu as suas teorias baseadas no seu trabalho direto com crianças de tenra idade. Uma das inovações
mais usadas foi usar o brincar para comunicar e diagnosticar crianças. Fornecendo uma grande variedade de brinquedos e observando
as crianças a brincar, conseguia perceber algumas expressões simbólicas como medo, amor raiva, etc. (Funder, 2016, p. 404).
DW. Winnicott
o Desenvolveu uma teoria a qual chamou de Niffle. Esta teoria estuda como um objeto transicional
(mantinha, peluche, etc.), aao qual a criança atribui um significado emocionalmente especial, a
conforta na falta de companhia de um adulto.
o Estes objetos especiais ajudam as crianças a lidar com a entrada no mundo real, onde têm de enfrentar
certos desafios sozinhas. Mas tal como as crianças, a maior parte dos adultos ainda têm apego
emocional a diversos objetos que representam pessoas importantes em suas vidas (fotos, lembranças,
etc.) (Funder, 2016, p. 405).
70
Para onde foram todos os neo-freudianos?
o As suas abordagens gerais, baseadas na observação informal, experiência clínica e perceção pessoal,
são práticas do passado.
o As práticas de um futuro próximo, são a condução experimental e pesquisa correlacional para
confirmar, refutar ou alterar cientificamente as ideias psicanalíticas usando os tipos de evidências
científicas que a psicologia moderna geralmente emprega (p. 406).
Teoria da vinculação
• O conceito de transferência de Freud refere-se a aplicar padrões de comportamento e emoções
antigos em relações com alguém novo.
• Esse conceito evoluiu para aquilo a que chamamos de teoria da vinculação.
• Esta teoria foca-se nos padrões dos relacionamentos que as pessoas estabelecem com os outros e que
se repetem de forma constante ao longo da vida e com diferentes parceiros, como demonstrado em
diversos estudos em laboratórios (Andersen baum, 1994; Andersen e berk, 1998, citado em Funder
2016, pp. 409-410).
• Para Westen, um corajoso pesquisador e de grande relevância na modernidade, qualquer pesquisa é
pelo menos "um pouco" psicanalítica, consciente ou não.
71
• Se nem tudo correr bem, a criança começa a desenvolver expectativas sobre os cuidadores, como
eles devem reagir e, por sua vez, como espera sentir-se e comportar-se (o self) (Funder, 2016, p.
410).
• Se uma criança não receber a quantidade de carinho e cuidado necessário, conclui que não é digna
de amor. Essa inferência não é lógica, visto que a criança não pode ser culpada pela negligência do
cuidador. O apego é um sistema altamente evoluído de regulação entre o cuidador e a criança, sendo
um processo que requer interação social para o desenvolvimento emocional saudável (Bowlby,
1969/1982, citado por Funder 2016, p. 410).
Mary Ainsworth
• Acreditava que tanto a separação da criança quanto o reencontro podem ser bastante informativos,
dando indicação do tipo de relacionamento, interação e vínculo, que essa criança desenvolveu.
• Realizou experiências com crianças e observou-as. Desenvolveu uma experiência denominada de
situação estranha, para avaliar o comportamento da separação e reunião entre crianças e mães.
• Classificou as crianças em três tipos, dependendo da expectativa que eles tiveram face aos cuidadores
primários, geralmente a mãe ou o pai (Sroufe, Carlson & Shulman, 1993, citado por Funder, 2016, p.
411):
o Crianças ansiosas/ambivalentes vêm de relacionamentos nos quais os comportamentos dos
seus cuidadores são inconsistentes ou caóticos. Manifestam ansiedade mesmo antes da
separação e hesitam entre a aproximação e o afastamento no momento da reunião. São
crianças suscetíveis de serem vítimas nas escolas, apegando-se a outras crianças de tal forma
que se vêm rejeitadas e levam a mais sentimentos de raiva e insegurança.
o Crianças evitativas vêm de lares onde foram rejeitadas, onde suas mães tendem a não gostar
de contatos corporais. Na situação de um abraço, os seus batimentos cardíacos aumentam e
sentem-se desconfortáveis. Tendem a ser crianças hostis na escola e, mais tarde, desenvolvem
uma autoconfiança raivosa, um comportamento frio e distante.
o Crianças seguras atraem cuidadores e amigos. As crianças que tiveram carinho e amor, são
mais calmas e têm a certeza do apoio do cuidador. Essa atitude positiva transfere-se para
outros relacionamentos.
• Segundo os estudos de Ainsworth, os adultos evitantes são relativamente mais desinteressados em
relacionamentos românticos, também sofrem menos quando os relacionamentos acabam, gostam
de trabalhar sozinhos, usam o trabalho para se desligar das suas emoções e descrevem seus pais de
maneira fria ou simples.
• Em contrapartida, os adultos ansioso-ambivalentes desenvolvem sentimentos de frustração com os
parceiros, devido a serem pegajosos, por vezes muito ciumentos e inseguros, obcecados pela sua vida
amorosa, com baixa autoestima e descrevem os seus pais como inconsistentes e injustos.
• Já os adultos seguros são mais propícios a relacionamentos saudáveis, relacionamentos longos, uma
autoestima saudável, leais com seus parceiros e descrevem os seus pais em termos positivos, mas
realistas (Funder, 2016, pp. 412- 413).
Psicanálise em perspetiva
• Contribuição de Drew Westen foi de muita importância para alcançar um acordo com a psicanálise.
• Westen concluiu que pelo menos cinco proposições neo-freudianas foram firmemente
estabelecidas:
o 1. Grande parte da vida mental, incluindo pensamentos, sentimentos e motivos, é
inconsciente, e é por isso que as pessoas às vezes se comportam de maneiras que não
entendem.
o 2. A mente faz muitas coisas ao mesmo tempo e por isso pode estar em conflito consigo
mesma. Por exemplo, não é incomum querer duas coisas contraditórias ao mesmo tempo, e
os desejos concorrentes não são necessariamente conscientes.
72
o 3. Os eventos da infância moldam a personalidade do adulto, especialmente no que diz
respeito aos estilos de relações sociais (por exemplo, apego).
o 4. Relacionamentos formados com outras pessoas significativas — como seus pais —
estabelecem padrões que se repetem ao longo da vida com novas pessoas.
o 5. O desenvolvimento psicológico envolve passar de um estado não regulamentado, imaturo
e egocêntrico para um estado mais regulamentado e maduro, no qual as relações se tornam
cada vez mais importantes. Nem todos na psicologia acreditam nessas cinco conclusões, ou
mesmo consideram todas relevantes para a psicanálise.
73
A Herança da Personalidade: Genética Comportamental e Psicologia
Evolutiva
Este capítulo refere-se ao próprio fundamento da personalidade, e para isso considera 2 abordagens
diferentes quanto às raízes biológicas da Personalidade:
• 1a - Genética comportamental, que aborda como as características são passadas de Pais para filhos e
partilhadas por parentes biológicos, e também é abordado como a herança interage com a
experiência.
• 2a - Psicologia evolutiva - refere-se aos padrões de comportamento que caracterizam todos os seres
humanos e que podem ter a sua origem no valor da sobrevivência ao longo da história, remontando
a centenas de milhares de anos. (Funder, 2016, p.301, 302)
Genética Comportamental
Controvérsia
• A área da genética comportamental foi controversa desde o início devido à sua associação com
algumas ideias manifestas ao longo da história:
o A eugenia - a crença de que com algumas práticas de reprodução seletiva era possível
melhorar as características genéticas de uma população, o que levou à exclusão de grupos
indesejáveis para impedir a sua reprodução e por outro a criação de bancos de esperma que
permitissem a reprodução de pessoas com determinadas características.
o A clonagem que se refere à produção de um ser humano igual a outro, tanto física como
psicologicamente.
o A ideia controversa de que a pesquisa sobre as bases genéticas do comportamento pode levar
a pensar que características como inteligência, pobreza, criminalidade, são originárias dos
nossos genes e não da interação com o meio onde está inserido.
Cálculo da hereditariedade
• Parte-se da ideia simples de que pessoas geneticamente mais próximas são mais semelhantes em
determinadas características que parentes genéticos mais afastados.
• Para esta explicação foram analisados gémeos monozigóticos (MZ) e gémeos dizigóticos (DZ).
Os gémeos monozigóticos nascem de um único óvulo fertilizado e portanto são geneticamente idênticos. Os gémeos dizigóticos nascem
de dois óvulos fertilizados por 2 espermatozóides diferentes e portanto embora nasçam ao mesmo tempo são geneticamente
equivalentes a qualquer outro irmão dos mesmos pais.
No caso dos gémeos monozigóticos o material genético é semelhante na sua totalidade No caso dos gémeos dizigóticos é apenas
semelhante 50%, em média, dos genes que correspondem a 1% do material genético variável entre indivíduos. Entre pais para filhos a
média também é 50%.
74
• A genética comportamental estuda as diferenças individuais. Para as suas pesquisas os geneticistas
procuram encontrar vários gémeos, MZ, DZ e também gémeos que foram separados à nascença, e
utilizam de auto relatos, questionários de Personalidade e com menos frequência observam gémeos
em ambiente de laboratório de forma a avaliarem o grau em que se comportam de forma semelhante.
(Borkenau, Riemann, Angleitner, & Spinath, 2001).
• Ao medir o coeficiente de correlação entre os gémeos, verifica-se que quando uma característica é
influenciada por genes nos gémeos MZ a pontuação desta característica é superior relativamente aos
gémeos DZ. Logo podemos concluir que parentes mais próximos são mais parecidos em determinada
característica herdada geneticamente do que parentes mais distantes.
• O coeficiente de Hereditariedade, reflete o grau em que a variação de um atributo na população se
deve à variação genética.
No caso de gémeos, o cálculo é fácil na medida em que gémeos MZ compartilham em média duas vezes mais
genes variáveis que os gémeos DZ, mas não são apenas os gémeos a compartilharem genes, o mesmo
acontece entre outros parentes próximos e também mais distantes, alguns exemplos:
• Filhos biológicos compartilham em média 50% dos genes variáveis com cada um dos seus pais.
• Nos filhos adotivos o material genético partilhado em relação aos pais adotivos é igual a qualquer
outra pessoa.
• Irmãos completos partilham em média 50% do material genético variável. Meios-irmãos
compartilham em média entre si 25% material genético variável.
• Primos de 1o grau compartilham em média 12,5% genes que variam.
Os estudos sobre hereditariedade realizados com gémeos dizem-nos que os genes individuais e o ambiente agem de forma
independente para formar a personalidade, e neste caso poderíamos dizer que os gémeos DZ são metade semelhantes geneticamente
em relação aos gémeos MZ, mas verifica-se que não é tão simples assim. Irá ser falado mais à frente que os genes operam de maneira
diferente dependendo de outros genes que estão presentes, e expressam-se de maneira diferente em ambientes diferentes, o que
explica as diferenças entre pessoas da mesma família, por exemplo entre irmãos, que vivem experiências diferentes ou crescem em
outro contexto social.
• Podemos assim concluir que os resultados de estudos sobre hereditariedade entre gémeos podem
ser muito altos, mas estudos feitos sobre outras relações familiares podem ser muito baixas. (Funder,
2016, p.303,304,305,306)
75
• Existem exceções do alcance do ambiente familiar como ADHD ou a extroversão (Borkenau et al.,
2001, p.655).
• Sobram duas implicações:
o Primeiramente, a conclusão de que o ambiente familiar partilhado não é importante para o
desenvolvimento da personalidade foi baseado em informação limitada. Isto porque a
investigação foi maioritariamente feita através de questionários, onde os resultados variam
dos obtidos por observação direta.
o Finalmente, a investigação da personalidade deve envolver diversos tipos de informação, uma
vez que conclusões retiradas de informação limitada podem ser um risco.
Podemos dar um exemplo adicionando a uma tabela de dados existentes de um estudo de gémeos o valor do número de braços de
cada gémeo, que assumimos que é 2. No fim, todos os valores da tabela serão 2. Ao utilizar estes dados no cálculo da hereditariedade,
vamos chegar a uma divisão por zero, o que não tem definição matemática, ou seja, o cálculo vai ser impossível. Ora, isto significa que
o número de braços não é influenciado geneticamente? O problema aqui é que, na população geral, os indivíduos que possuem apenas
um braço sofreram, na sua maioria, um acidente ou algo do género, o que significa que o resultado é ambiental e não genético.
Genética Molecular
• O campo da genética molecular tem vindo a recorrer a métodos da biologia molecular.
• Investigações focadas no ADN procuram perceber a influência dos genes nos acontecimentos ao
longo da nossa vida.
• Uma investigação explorou a associação entre o gene DRD4 ao controlo emocional e
comportamental.
o Este gene é responsável pelos recetores de dopamina, ou seja, a parte do sistema cerebral
responsiva à recompensa, estando a baixa quantidade de dopamina associada a
comportamentos perigosos. As diferentes formas deste gene estão associadas à busca de
sensações (Benjamin et al., 1996; Blum et al., 1996) e também à impulsividade (Munafó,
Yalcin, Willis-Owen, & Flint, 2008), entre outras.
• O gene 5-HTT, por sua vez, está associado à serotonina, que, quando em baixas quantidades, é
responsável por uma variedade de desordens emocionais.
o Este gene tem dois alelos, o “curto” e o “longo”, estando o curto associado a uma maior
pontuação na escala de neuroticismo (Canli & Lesch, 2007). O gene em questão mostra-se
importante na regulação do grau a que a amígdala e o córtex pré-frontal trabalham juntos, o
que nos fornece uma pista sobre a estrutura cerebral da depressão (Heinz et al., 2004).
O alelo curto é prevalente na população asiática, o que pode explicar a tendência cultural para a cooperação, no entanto, não é
justificação suficiente, uma vez que o seu efeito é mínimo (Plomin & Crabbe, 2000). Na verdade, a chance de encontrar um singular
gene com um efeito simples, direto e de fácil compreensão num traço de personalidade é virtualmente nula. Novas descobertas
sugerem a existência de uma ligação entre um gene, um neurotransmissor, um traço de personalidade e um aspeto importante da
inteligência.
76
Interações gene-ambiente
• Os genes não levam ninguém a fazer nada, tal como saber a planta de nossa casa não influencia o que
fazemos dentro dela. (Funder, 2016)
• Estes mesmos genes, quando em interação com um certo ambiente, influenciam os nossos traços
psicológicos e a nossa personalidade. (Funder, 2016)
• Esta interação ocorre a vários níveis.
Dando o exemplo do QI, para melhor ilustrar esta afirmação: num ambiente com estimulação intelectual e a oportunidade de educação
será expectável que o QI de um indivíduo seja próximo do seu potencial genético, enquanto que um indivíduo sem essas oportunidades
ficará aquém das expectativas genéticas. (Funder, 2016). Ou, por exemplo, um rapaz mais baixo que o normal poderá ser gozado por
essa sua característica, o que poderá levar a alterações a longo prazo na sua personalidade. Estas alterações devem-se, em parte, aos
seus genes, visto que a altura é geneticamente influenciada, mas apenas se verificam devido à interação de hereditariedade com o
ambiente social. (Funder, 2016)
• Dito isto, é importante saber que o mesmo ambiente pode promover bons resultados para uns e
maus resultados para outros, dependendo da predisposição genética de cada um. Enquanto um rapaz
pode, a longo prazo, contrair uma ansiedade social devido a esta interação, outro poderá, de alguma
forma, usá-la como fonte de confiança e inspiração. (Funder, 2016)
Epigenética
• O estudo da epigenética mostra que, mesmo a nível biológico, o efeito de um gene no comportamento
poderá depender de mais do que o gene em si. (Funder, 2016)
Um estudo realizado em ratos mostrou que ratos geneticamente idênticos que exploraram o seu ambiente cresceram mais células
cerebrais do que ratos que não o fizeram. Ainda que todos os ratos tivessem o mesmo potencial genético, apenas aqueles que se
preocuparam em conhecer o seu ambiente conseguiram desenvolver o seu potencial, o que constitui um exemplo perfeito de como a
experiência pode afetar a biologia. E não há motivos para acreditar que estes mecanismos sejam diferentes em humanos. (Funder,
2016). Como outro exemplo, estudos recentes mostraram que o stress social pode ativar a expressão de genes que levam a
vulnerabilidades, depressão e doenças inflamatórias. (Funder, 2016)
• A conclusão a que chegamos é que transações entre genes e o ambiente podem ir em ambas as
direções e reforçar ou contra atuar-se a si próprias. (Funder, 2016)
• Talvez o estudo da epigenética possa, com o tempo, ajudar-nos a encontrar ambientes onde as nossas
personalidades e habilidades levem a bons resultados, através do estudo da predisposição genética
de cada um. (Funder, 2016)
As notícias mais significantes do estudo da genética comportamental têm uma influência importante no estudo da personalidade.
(Funder, 2016)
• No entanto, para a genética comportamental a parte mais fácil chegou ao fim. Os próximos passos
necessitarão de melhor entendimento na relação gene - ambiente e na exploração de genes
associados às mesmas. (Funder, 2016)
• Ainda assim, o resultado mais expectável será que todos os traços de personalidade sejam associados
a diferentes genes, os quais terão um efeito nos mesmos maior ou menor, dependendo do ambiente
a que estamos sujeitos. (Funder, 2016)
Evolução e comportamento
• A abordagem evolucionista da personalidade pressupõe que os padrões de comportamento humano
se desenvolveram, porque foram úteis ou necessários para a sobrevivência evolutiva da espécie.
77
Quanto mais uma tendência comportamental ajuda um indivíduo a sobreviver e a ter descendentes, mais provável será que a tendência
apareça nas gerações subsequentes (Funder, 2016, p.320).
• Relativamente ao comportamento agressivo ele foi estudado, por Lorenz (1966), que referiu nos seus
estudos, que a agressividade apesar, de ser por vezes prejudicial, pode ter desempenhado um papel
protetivo, na defesa da propriedade individual, e ter, contribuído para se obter uma posição de
dominância no grupo social, conduzindo a um estatuto mais elevado (Lorenz, 1966 citado por
Funder, 2016).
• Quanto ao altruísmo, ou seja, a tendência para ajudar e/ou proteger as pessoas próximas, ela parece
garantir a própria sobrevivência e contribuir para perpetuação de genes na geração seguinte,
denominando-se por aptidão inclusiva (Richard Dawkins, 1976, citado por Funder, 2016).
• A teoria evolucionista também procurou explicar a importância da auto-estima, salientando que esta
serve para graduar a nossa aceitação pelos outros. Esta capacidade revela-se de grande importância,
dado o caráter social do ser humano, de tal forma, que a ausência desta motivação social traduz-se
em maiores dificuldades de sobrevivência (Leary, 1999, citado por Funder, 2016).
• A depressão desempenha um papel importante dado que produz respostas adaptativas, que
conduzem a ações comportamentais importantes para garantir a sobrevivência (Funder, 2016, p.322).
Apontam alguns autores, que na história da espécie, as reações relacionadas com a depressão, quer fosse ela proveniente de uma
perda social, com reações de choro, dor e procura de apoio social, ou proveniente de um fracasso, em que se podia desenvolver
pessimismo, fadiga, culpa; vergonha, possam ter promovido respostas importantes para sobrevivência (Matthew Keller &
Randolph, 2006, citados por Funder, 2016).
• Os autores apontam que a dor, evidencia que algo tem de ser modificado e o choro pode ser uma
forma de procurar apoio, por seu lado, o pessimismo e cansaço permitem evitar que se despendesse
energia em situações infrutíferas (Matthew Keller & Randolph 2006, citado por Funder, 2016, p.322).
• A psicologia evolucionista tem-se debruçado bastante sobre os comportamentos de busca de
companheiro, e na diferença que se verifica entre homens e mulheres, em vários itens desse
comportamento (Funder, 2016, p.323).
o Em muitas culturas, e na América do Norte, os homens são mais orientados a dar mais valor
à atratividade física, enquanto as mulheres valorizam mais a segurança económica dos seus
potenciais parceiros (DM Buss, 1989, citado por Funder, 2016).
o Segundo a perspetiva evolucionista, estas diferenças decorrem da necessidade de ter
descendência saudável. Sendo, que cada sexo contribui e procura esse objetivo de forma
diferente.
o Como as mulheres desempenham um papel essencial: geram e amamentam os filhos, tornam
características biológicas como a sua a juventude e saúde física essenciais. Dai, esse requisito
ser tido em conta na procura de parceira, pelo sexo masculino (DM Buss, 1989, citado por
Funder, 2016).
o Já o sexo feminino, segundo a teoria evolucionista, procura um parceiro que possa abastecer
a prole gerada, dado que as contribuições biológicas dos homens na reprodução serem
mínimas (DM Buss, 1989, citado por Funder, 2016). São apontadas também por outros
autores, o papel que a cultura tem no incremento das disparidades entre géneros (Zentner &
Mistura, 2012, citados por Funder, 2016).
No domínio das estratégias que permitem estabelecer e manter relacionamentos, de acordo com a teoria evolucionista, os homens
desejam ter mais parceiras sexuais do que as mulheres, e são menos fiéis e exigentes com as mulheres com quem se casarão. As
mulheres, em contraste, são mais seletivas na escolha dos seus parceiros sexuais, parecem ter mais desejos de monogamia e de ter
relacionamentos estáveis (Haselton, 2002,citado por Funder, 2016). Vários autores apontam, que uma vez formada uma relação
estável, ambos os parceiros têm interesse em mantê-la, havendo semelhanças de comportamentos entre os géneros.
78
As diferenças entre os indivíduos
• Para a Psicologia Evolucionista, as diferenças individuais são extremamente importantes e essenciais,
é através destas que a evolução é possível.
• Se fossemos todos iguais, a propagação selectiva dos genes de indivíduos mais bem-sucedidos de
gerações anteriores não faria sentido, nem ocorreria e as espécies não evoluíam. (Funder, 2016, p.
331)
• Esta diversidade também é essencial na adaptação às mudanças de condições, por vezes,
características que pensamos que são irrelevantes podem tornar-se vitais para a nossa sobrevivência
ou o contrário, traços que são adaptativos numa situação podem ser prejudiciais noutra. (Funder,
2016, p. 331)
A reprodução das espécies é um exemplo de um processo que também pode variar de acordo com as mudanças nos ambientes.
• A psicologia evolucionista explica as diferenças individuais de três maneiras básicas (DM Buss &
Greiling, 1999, citados por Funder, 2016):
o Os padrões de comportamento evoluem como reações a experiências ambientais específicas;
o as pessoas podem ter desenvolvido várias estratégias comportamentais possíveis, mas usam
aquela que faz mais sentido, dadas as suas outras características;
o Alguns comportamentos influenciados biologicamente podem depender da frequência, ou
seja, ajustam-se de acordo com o quão comuns são na população em geral.
79
A contribuição da Teoria Evolucionista
• Uma das contribuições mais importantes da teoria da evolução pode ser a de que os psicólogos agora
são obrigados a considerar a forma como os padrões de comportamento que descobrem podem ter
sido adaptativos às espécies ao longo da história evolutiva. (Funder, 2016, p. 339)
“... Determina de onde o indivíduo começa, mas o caminho que se traça a partir daí depende de muitos factores, e é fundamentalmente
dependente do indivíduo, do ambiente no qual habita e as influências que irá receber.”
A Biologia substituirá a Psicologia?
Sendo assim, as duas ciências devem atuar em conjunto para o melhor entendimento do comportamento
dos seres humanos, cada uma levando em conta diferentes perspectivas, que juntas aumentam o nosso
entendimento a respeito do funcionamento mental e corporal. (Funder, 2016 p.341)
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Variações culturais na personalidade: Sociabilidade, Emoção e Motivação
Culturas coletivistas VS Individualistas
• Enquanto culturas coletivistas são mais sociáveis, em contraposição as culturas individualistas não
despendem tanto tempo socialmente.
• Acresce-se que culturas coletivistas, divergem quanto às culturas individualistas por: em contexto de
grandes ajuntamentos de pessoas serem mais tímidas, contudo apresentam um círculo de relações
afetivas notoriamente mais próximo.
• As culturas antecedentes divergem na sua experiência emocional. Culturas individualistas tendem a
experienciar mais raiva, enquanto culturas coletivistas experienciam maioritariamente mais emoções
vinculadas com a simpatia.
• É de notar que, nas culturas coletivistas há uma clara importância exacerbada ao esforço e nutrição
de uma boa convivência social, em detrimento de aspetos exclusivos ao indivíduo. Dá-se uma clara
preferência entre a vivência inter-dependente do que a autónoma e ato- suficiente.
CONSISTÊNCIA COMPORTAMENTAL
• Numa cultura individualista (ex:Norte da América) acredita-se que a consistência comportamental é
fundamental para a associação com doenças mentais.
• Já nas culturas coletivistas (ex:Coreia) as inconsistências comportamentais não são alarmantes, nem
conduzem a qualquer tipo de extrapolação sobre o estado mental de outrem.
• Em culturas individualistas o comportamento e experiência emocional é mais consistente entre
diversos contextos.
• Contudo, para efeitos de consistência emocional há uma equivalente contribuição dos aspetos
diversos da personalidade do indivíduo na determinação desta consistência, do que propriamente
cultural: uma pessoa nitidamente alegre (independentemente da sua cultura) responde mais vezes às
diferentes circunstâncias com alegria.
VERTICALIDADE E COMPAIXÃO
• A verticalidade e horizontalidade, postuladas por Harry Triandi, são qualidades atribuíveis às
diferentes sociedades.
• Sociedades verticais assumem o indivíduo como uma entidade fundamentalmente diferente dos
restantes. Em contraposição, Sociedades horizontais tendem a perspetivar todos os indivíduos como
essencialmente iguais.
• Daqui se depreende, que sociedades coletivistas-verticais tendem a impor autoridades fortes nos
seus membros, enquanto que em sociedades coletivistas-horizontais haverá mais tendência a uma
autoridade mais reduzida, contudo apresentam um forte sentido ético proporcionador de valores
como a igualdade, solidariedade, altruísmo...
• Numa sociedade individualista-vertical é expectável haver autoridade mais forte mas haverá mais
liberdade simultaneamente. Já numa sociedade individualista-horizontal há a valorização da
liberdade individual conjugada com a obrigação de atender às necessidades dos demais.
• A compaixão é definida como a consciência de emoções dolorosas enquanto sentimentos
vinculados aos cuidados e gestos afetivos são extrapolados para o self. Esta está intimamente
relacionado com a internalização da cultura budista entre sociedades.
81
• Deste modo, pretende-se vincar que devíamos atender maioritariamente à vasta variedade de
indivíduos no planeta.
• Culturas de face emergem em sociedades que têm hierarquias estáveis baseadas na cooperação. As
pessoas que integram estas culturas são notoriamente mais motivadas para proteger as imagens
sociais dos demais, tendo uma maior atenção na comunicação a fim de evitar certas situações.
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o Note-se que as diferenças provenientes do sexo de pertença verificaram-se ser mais
acentuadas e significativas em países maiores como os USA, Bélgica, França...
PENSAMENTO
• De certo modo, parece seguro inferir que, devido às variações de traços comportamentais entre
culturas, o pensamento associado ao comportamento, também deve ser diferente.
PENSAMENTO INDEPENDENTE
• Quando comparados com os americanos, os asiáticos, caracteristicamente formulam e expressam
pontos de vista originais e independentes.
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• Um estudo mostrou que o pensamento dos americanos de origem asiática (asian americans) é
interrompido quando tentam falar em simultâneo, enquanto este efeito não se verifica em
americanos descendentes de europeus.
VALORES
• As pessoas têm preocupações profundas acerca do que está certo e errado, e podem não só ficar
surpreendidas, mas também chateadas e zangadas quando descobrem que outras pessoas não
compartilham dos mesmos pontos de vista.
• Assim, um desafio particular é o de tentar compreender como é que valores básicos e óbvios podem
variar entre culturas.
• Os valores são metas que toda a gente, em toda a parte, quer alcançar, e os 10 valores universais
possíveis são o poder, a realização, o hedonismo, o estímulo, a autodireção, a compreensão, a
benevolência, a tradição a conformidade e a segurança.
• Schwartz e Sagiv afirmam que os valores podem ser organizados em duas dimensões:
o uma é a abertura para a mudança
o a outra é a “self-transcendence–self-enhancement dimension”
• A esperança da procura pelos valores universais passa, não só por encontrar uma lista fixa dos
mesmos, mas também de perceber como é que esses valores se relacionam uns com os outros e
como é que se aplicam a decisões, comportamentos e prioridades culturais.
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direção coletivista também podem empurrar os indivíduos na mesma direção: os coletivistas
prosperam, têm mais filhos e seus os genes (por exemplo, um gene que aumenta a tendência do
evitamento do conflito interpessoal) torna-se mais amplamente representado no genótipo ao longo
de gerações. Esta mudança gradual na genética pode, por sua vez, ajudar a consolidar as diferenças
culturais ainda mais profundamente.
Por exemplo, é fácil observar que os chineses geralmente parecem menos extrovertidos do que os americanos. Eles falam com
menos frequência e mais baixo, entre outras diferenças. No entanto, a cultura chinesa tende a conter os sentimentos e considera
sua exibição pública inadequada. Assim, é possível que um americano extrovertido ria duas vezes mais e aparente ter sentimentos
mais fortes do que um chinês extrovertido quando os dois sentem o mesmo.
• Outra investigação recente sugere que a cultura pode influenciar mais como uma pessoa quer se
sentir do que como ela realmente se sente.
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O self, o que sabemos sobre nós próprios
O eu (I) e o me (Me)
• O me é considerado um objeto que pode ser observado e descrito, enquanto o eu apenas faz as
observações e descrições. De acordo com alguns filósofos, o eu pode ser chamado de self ontológico
e o me de self epistemológico.
• Assim sendo, o me é um conjunto de juízos que podemos fazer acerca de nós próprios e, em
contrapartida, o eu é a entidade que está presente na nossa cabeça, ou até mesmo a alma, que
experiencia a vida e toma as decisões
Mesmo que essa diferenciação seja essencial, estes dois conceitos podem ser, naturalmente, confundidos na prática (Funder, 2016, p.
586). Por exemplo, quando nos olhamos ao espelho, aquilo que estamos a observar é o me e quem faz a observação é o eu (Hilgard,
1949 citado por Funder, 2016). Apesar do eu ser importante para a personalidade, uma vez que as pessoas se diferenciam ao nível da
autoconsciência, o facto de este ainda não estar bem consolidado a nível prático faz com que os estudos recentes se foquem mais no
componente do self sobre o qual se pode falar e descrever mais facilmente, o me. Klein (2012, citado por Funder, 2016) ainda sugere
que o eu pode nem ser acessível à investigação científica convencional.
O self declarativo
• O self declarativo pode ser dividido em dois tipos de conhecimento:
o Um que consiste na opinião geral sobre se nos consideramos bons ou maus, dignos ou
indignos, ou entre eles; este tipo de conhecimento designa-se autoestima.
o Por outro lado, a opinião detalhada é onde está contido tudo o que sabemos ou pensamos
saber sobre as nossas características e capacidades e que tanto pode estar certa como errada;
já este tipo é designado por autoconhecimento (Funder, 2016, p. 588).
Autoestima
• Algumas pesquisas mostraram que certos indicadores da baixa autoestima são a insatisfação com a
vida, falta de esperança, depressão (Crocker & Wolfe, 2001; Orth, Robins, & Roberts, 2008, citados
por Funder, 2016), solidão (Cutrona, 1982, citado por Funder 2016) e a delinquência (Donnellan,
Trzesniewski, Robins, Moffitt , & Caspi, 2005; Trzesniewski et al., 2006, citados por Funder, 2016).
86
• Orth et al. (2012, citados por Funder, 2016) afirmam que baixa autoestima pode causar depressão,
baixa satisfação ao nível dos relacionamentos e relativamente à carreira profissional.
• Efetivamente, as alterações nos níveis de autoestima e a necessidade de a manter elevada poderão
estar relacionadas com raízes evolutivas (Leary, citado por Funder, 2016).
Por exemplo, ao falhar perante um grupo social (Denissen, Penke, Schmitt, & van Aken, 2008; Leary, 1999, citados por Funder, 2016),
a nossa autoestima pode sofrer alterações. De facto, baixos níveis de autoestima podem ser um sinal de rejeição social, desencadeando
uma mudança no nosso comportamento com vista a restabelecer a nossa reputação. Pelo contrário, altos níveis de autoestima são, na
maior parte das vezes, indicadores de sucesso e aceitação (Funder, 2016, p. 588). No entanto, é preciso ter em consideração que certas
tentativas de aumentar a autoestima podem vir a ser prejudiciais, causando um efeito boomerang e deixando a pessoa a sentir-se
ainda pior (J. V. Wood, Perunovic, & Lee, 2009, citados por Funder, 2016).
Portanto, é possível um indivíduo ter um comportamento arrogante, abusivo ou até criminal, apenas por ter uma autoestima
demasiado elevada (Baumeister, Smart, & Boden, 1996; Colvin, Block, & Funder, 1995, citados por Funder, 2016). O traço de narcisismo,
em casos extremos, pode ser considerado uma perturbação de personalidade (Funder, 2016, p. 589). Para além disso, o narcisismo está
associado a uma autoestima elevada, uma vez que esta é instável e frágil (Vazire & Funder, 2006; Zeigler-Hill, 2006 citados por Funder,
2016), sendo que uma autoestima instável pode ser pior do que uma autoestima baixa (Kernis, Lakey, & Heppner, 2008, citados por
Funder, 2016).
• Desta forma, o aumento da autoestima não deve apenas passar por tentar fazer com que as outras
pessoas se sintam melhores com elas próprias (Swann, Chang-Schneider, & McClarty, 2007 citados
por Funder, 2016), mas sim por conquistas que verdadeiramente a aumentem (DuBois & Flay, 2004;
Haney & Durlak, 1998 citados por Funder, 2016). Concluindo, tendo em conta a nossa opinião sobre
nós próprios, o mais importante acaba por ser o nível de precisão (Funder, 2016, p. 589).
Autoesquema
• Segundo Markus (1977, citado por Funder, 2016), alguns psicólogos afirmam que o self declarativo
pode estar situado numa estrutura cognitiva designada autoesquema.
• O autoesquema consiste nas ideias do self organizadas num sistema coerente. Pode ser também
considerado um sistema de memórias onde vamos buscar informação relevante sobre a nossa
personalidade (Funder, 2016, p. 590).
• O autoesquema pode ser identificado usando dados S (self-report data – dados de autorrelato),
dados B ( behavioral observations – observações comportamentais) ou ambos (Funder, 2016, p.
590).
Deste modo, foi realizado um estudo em que vários estudantes tinham de se autoavaliar relativamente a certos traços e,
posteriormente, tinham que dizer o quão importante esses traços eram para eles (Markus, 1977, citado por Funder, 2016). Se, por
exemplo, nos resultados, os dados S indicassem que o estudante se tinha autoavaliado como extremamente sociável e tivesse
avaliado a sociabilidade como importante, então este seria esquemático para esse traço (Funder, 2016, p. 590). Este estudo
também utilizou dados B que eram tempos de reação. Os participantes tinham de ler adjetivos num ecrã e carregar num de dois
botões (a um foi atribuído a designação “eu” e ao outro “eu não”) o mais rapidamente possível, consoante acreditassem se tinham
ou não essa característica. Os resultados mostraram que os sujeitos esquemáticos responderam mais depressa que os não
esquemáticos para os traços relevantes (Fuhrman & Funder, 1995; Markus, 1977, citados por Funder, 2016).
• Assim sendo, esta pesquisa tem duas implicações: uma metodológica e outra associada à autovisão.
o Relativamente à primeira, pode-se dizer que o facto de uma pessoa ser esquemática para um
dado traço e obter uma alta avaliação nele usando um inventário de personalidade
convencional como o CPI (California Psychological Inventory; Gough, 1968, citado por Funder,
2016), quer dizer que isso parece ter as mesmas implicações para o tempo de resposta e
outras indicações de processamento cognitivo, ou seja, podem ser a mesma coisa (Funder,
2016, p. 590).
87
o No caso da segunda, a autovisão, caracterizada como esquema ou traço, pode ter
consequências relevantes para o processamento de informação.
A ideia que temos sobre nós próprios não depende da nossa memória em relação a coisas específicas, uma vez que estes tipos de
autoconhecimento existem independentemente nos diferentes setores do cérebro.
Autorreferência e memória
• No que diz respeito à memória, Funder (2016) relembra a existência de uma teoria antiga que sugere
que o exercício de repetir algo continuamente na nossa cabeça é suficiente para mover a informação
para a memória a longo prazo (MLP).
• Contudo, um estudo posterior demonstrou que a técnica mais eficaz para armazenar as informações
na memória a longo prazo é fazendo com que estas passem por um processo de elaboração.
Quanto mais complexo e longo for o processamento de determinada informação, mais facilmente esta acede à memória a longo prazo
(Craik & Tulving, 1975; Craik & Watkins, 1973, citados por Funder, 2016).
• Como várias pesquisas já comprovaram, a forma mais eficaz de nos relembrarmos de algo é pensando
numa maneira específica de isso se relacionar connosco (C. Symons & Johnson, 1997, citados por
Funder, 2016), uma vez que o autoesquema está bem desenvolvido e é utilizado com frequência
(Funder, 2016, p. 593).
• Heatherton, Macrae, & Kelley (2004, citados por Funder, 2016) introduzem o efeito de
autorreferência que consiste no aperfeiçoamento da memória a longo prazo baseada na maneira
que certa informação se relaciona connosco, sendo que a área cerebral especializada neste processo
é o córtex frontal.
o Deste modo, este efeito explica como as nossas memórias com maior significado
permanecem connosco durante um longo período de tempo (Funder, 2016, p. 594).
• Além disso, Qi & Zhu (2002, citados por Funder, 2016) averiguaram que o efeito de autorreferência
difere consoante o tipo de cultura (individualista ou coletivista). Por exemplo, na China, onde a
cultura é coletivista, a informação, no que toca ao self, sobre um determinado indivíduo envolve
também a informação sobre os seus pais.
Autoeficácia
• A ideia que temos das nossas capacidades pode ditar se conseguimos ou não alcançar certos
objetivos (Bandura, citado por Funder, 2016).
Por vezes, no secundário dois alunos podem ter exatamente as mesmas aptidões académicas e ser igualmente estudiosos e aplicados.
Um deles pode ir, de facto, para a Universidade e o outro não, apenas porque revela uma atitude negativa e pensa que não irá conseguir
ser bem-sucedido. Logo, verifica-se aqui uma diferença a nível do self e não a nível das capacidades dos indivíduos
• O autoconceito é algo relevante, até porque se pode tornar-se perigoso em certas circunstâncias,
nomeadamente em contextos de persuasão.
Efetivamente, membros de certos grupos sociais ou de certas classes económicas são diminuídos pela sociedade e pelos media, uma
vez que estes os ensinam, por exemplo, que este “tipo” de pessoas não deve ir para a universidade e que se o querem fazer, têm de se
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melhorar primeiro. As consequências deste tipo de atitudes podem ser devastadoras, já que esses indivíduos acabam por desistir dos
seus objetivos ou procurar maneiras não tão construtivas e corretas de se sentirem bemsucedidos na vida. Logo, não se deve
estereotipar estes grupos como preguiçosos, malsucedidos ou até mesmo criminosos (Funder, 2016, p. 595).
Selves possíveis
Provavelmente a pessoa que somos não é a única que podemos ser. O self que projetamos para o nosso futuro pode afetar os nossos
objetivos de vida (Funder, 2016, p. 595). Era requerido que os participantes, tanto homens como mulheres, imaginassem o seu futuro
possível self casado com filhos ou com um parceiro classificado como “dono de casa” ou como a pessoa que contribuía com os recursos,
o “fornecedor”. Os resultados demonstraram que as pessoas que se imaginavam a si mesmas como donas de casa, independentemente
do género, preferiam um parceiro mais velho que fosse o fornecedor. Assim, ficou demonstrado que as escolhas de parceiros eram
feitas de acordo com os selves possíveis futuros de cada indivíduo.
• As pessoas desejam futuros selves que satisfaçam as suas necessidades em termos de autoestima,
competência e significado (Funder, 2016, p. 595).
• Contudo, não queremos que os nossos futuros selves mudem muito, queremos uma certa
continuidade, de modo a manter uma identidade ao longo do tempo (Vignoles, Manzi, Regalia,
Scabini, & Jemmolo, 2008, citados por Funder, 2016).
Teoria da auto-discrepância
• De acordo com a teoria da auto-discrepância, temos dois tipos diferentes de selves, sendo que os
nossos sentimentos e atitudes são determinados pela diferença entre cada um destes e o nosso self
real (Higgins, Bond, Klein, & Strauman, 1986; Higgins, Roney, Crowe, & Hymes, 1994, citados por
Funder, 2016).
o Um destes selves designa-se self ideal e corresponde àquilo que achamos que poderíamos ser
o O outro chama-se self normativo e diz respeito àquilo que deveríamos ser. No entanto, é
provável que ambos estes selves sejam irrealistas (Funder, 2016, p. 596).
• As discrepâncias entre estes dois tipos de selves e o self real originam diferentes consequências.
Quando há diferenças elevadas entre o self ideal e o self normal, tornamo-nos depressivos. Por sua
vez, quando há diferenças entre o self normativo e o self real, tornamo-nos ansiosos (Funder, 2016,
p. 596).
• O self ideal baseia-se na procura de recompensas e prazer e assemelha-se ao “sistema Go” (sistema
de ativação comportamental) (Gray, citado por Funder, 2016) representa o estado onde conseguimos
as recompensas que pretendíamos obter.
• Já o self normativo baseia- se num sistema de punições, assemelhando-se ao “sistema Stop” (sistema
de inibição comportamental) (Gray, citado por Funder, 2016); representa o estado em que não há
punições ou quaisquer outros maus eventos.
• De facto, todos temos os dois tipos de objetivos associados aos dois tipos de selves, mas nunca
ninguém atinge o estado final desejado (Funder, 2016, p. 596). Contudo, o que Higgins (1997, citado
por Funder, 2016) queria dizer era que cada indivíduo organiza estes objetivos de forma diferente.
Um indivíduo que primeiro procure recompensas e falhe, vai sentir-se triste. Pelo contrário, um
indivíduo que se foque em evitar ser punido e falhe, vai sentir-se ansioso.
Autoconhecimento preciso
• O autoconhecimento preciso tem sido considerado um indício de saúde mental (Jahoda, 1958;
Rogers, 1961, citados por Funder, 2016) por dois motivos:
o Em primeiro lugar, pessoas saudáveis, seguras e que veem o mundo como ele é, sem a
necessidade de o distorcer, são consideradas mais precisas.
o Em segundo lugar, é mais fácil tomarmos melhores decisões em relação a várias problemáticas
importantes se tivermos um autoconhecimento preciso (Vogt & Colvin, 2005, citados por
Funder, 2016).
• O processo para obter autoconhecimento preciso é delineado pelo Modelo de Precisão Realística
(Realistic Accuracy Model - RAM; Funder, 1995, 2003). Segundo este modelo, podemos adquirir
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conhecimento preciso sobre a personalidade de qualquer um através de um processo composto por
4 estágios:
o Primeiro, a pessoa tem que fazer algo de relevante para determinado traço ser sujeito a uma
avaliação.
o Segundo, a informação tem de estar disponível ao avaliador.
o Em terceiro lugar, o avaliador tem de detetar essa informação.
o Por último, o avaliador deve utilizar a informação corretamente.
Assim sendo, conhecemo-nos tal como conhecemos os outros: observando as nossas ações e retirando conclusões delas (Bem, 1972,
citado por Funder, 2016). Porém esta tarefa pode ser difícil e pode mudar ao longo do tempo. A nitidez do autoconceito aumenta entre
o início da vida adulta e a meia-idade, uma vez que nessa altura vamos acumulando experiências e diminui à medida que envelhecemos,
devido às mudanças físicas, mentais e a nível dos papéis sociais (Lodi-Smith & Roberts, 2010, citados por Funder, 2016).
Por vezes, conhecermo-nos a nós próprios revela-se uma tarefa mais complicada do que conhecermos outra pessoa. No entanto, cada
um de nós tem uma melhor perceção acerca da experiência emocional do que qualquer outro (Spain et al, 2000, citados por Funder,
2016).
• Kolar et al. (1996, citado por Funder, 2016) concluiu, a partir de um estudo, que as avaliações de
personalidade efetuadas por conhecidos próximos previram o comportamento com maior precisão
do que as avaliações dos próprios sujeitos.
• Outro estudo mais recente revelou, ao analisar o dia a dia de determinados sujeitos, resultados
semelhantes ao nível da avaliação do self, que conhecidos dos sujeitos eram tão precisos quanto os
próprios (Vazire & Mehl, 2008, citados por Funder, 2016) e, por vezes, a precisão até era maior
quando se tratava de traços visíveis e desejáveis (Vazire, 2010, citado por Funder, 2016).
Isto acontece porque é difícil atendermos ao self. Por norma, planeamos as nossas ações com base nas situações com as quais nos
confrontamos. Vemos apenas o que fazemos e não o que os outros fariam na mesma situação.
• Em termos de RAM, o problema centra-se nos estágios de relevância e deteção; pelo contrário,
avaliamos melhor os traços de personalidade quando vemos alguém de fora, uma vez que estamos
numa melhor posição para ver o que essa faria no nosso lugar.
• A oportunidade ideal para verificar diferenças nas personalidades de indivíduos é comparar os seus
comportamentos quando estes estão colocados na mesma situação (Funder, 2016, p. 598).
Ross, Greene & House (1977, citados por Funder, 2016) sugerem que um dos maiores equívocos que muitas pessoas têm sobre o seu
próprio comportamento é dizerem que a sua resposta é a mais natural numa determinada situação, sendo, portanto, o que outra
pessoa também faria: Efeito de Falso Consenso. Como observadores externos conseguimos ver os padrões crónicos de comportamento
de outros indivíduos, sendo possível observar não apenas as pressões momentâneas que os afetam, como também o que outras pessoas
responderiam, de forma mais construtiva, a circunstâncias semelhantes (Kolar et al., 1996, citados por Funder, 2016).
• Em certas ocasiões, é possível colocarmo-nos na posição do observador externo para analisar o nosso
próprio comportamento.
Isto acontece, por exemplo, quando utilizamos a memória para examinar comportamentos passados e ver como as nossas ações se
encaixam num padrão que, naquele momento, nos é invisível e perceber como estas seriam diferentes das de outras pessoas na mesma
circunstância.
• Funder (2016) afirma que o objetivo da psicoterapia é tentar fazer com que o sujeito ganhe uma visão
mais abrangente do seu próprio comportamento a fim de descobrir os seus pontos fortes e fracos.
Melhorar o autoconhecimento
• Há três formas básicas de melhorar o autoconhecimento.
o Uma primeira, segundo a qual utilizamos a introspeção para examinar a própria mente e
compreender quem somos;
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o uma segunda que consiste em procurar feedback (avaliação) de outras pessoas, que pode ser
uma fonte importante de informação sobre como realmente somos;
o e por último, podemos observar o próprio comportamento e tentar tirar conclusões dessas
observações da mesma forma que qualquer outra pessoa, observando os mesmos
comportamentos, faria.
• Segundo Funder (2016), em termos de RAM, a introspeção seria incluída no estágio da utilização, que
enfatiza a importância da memória precisa e da avaliação honesta do comportamento podendo esta
tornar-se mais fácil com o passar do tempo.
• Outras estratégias poderão consistir em procurar estar mindful (consciente no momento), pensar
sobre si mesmo de forma não avaliativa e prestar muita atenção à experiência atual (Carlson, 2013,
citado por Funder, 2016).
• Nos estágios da disponibilidade e da deteção, destacam-se as informações provenientes de outras
pessoas sobre como cada um de nós é. A dificuldade da deteção pode estar associada à leitura de
indicadores subtis e não-verbais vindos das alegações de outras pessoas relativamente a nós
(Funder, 2016, p. 602).
• Algumas das implicações mais importantes do RAM para o autoconhecimento encontram-se no
primeiro estágio, a relevância. Tal como quando conhecemos novas pessoas, podemos também nos
avaliar com base no que nos observámos a fazer, o que é limitado pelas situações que vivenciámos e
até mesmo pelas restrições que possamos ter imposto a nós mesmos. A forma como podemos
aprender mais acerca de nós mesmos pode ser estimulada indo a novos sítios, conhecendo novas
pessoas e experienciando novas coisas (Funder, 2016, p. 602).
Funder (2016) afirma que o autoconhecimento também pode ser limitado pela família ou pela cultura, que podem restringir
a auto expressão individual dos jovens a um nível significativo. Desta forma, ser nós próprios constitui a melhor estratégia para
melhorar o autoconhecimento no que toca à escolha ocupacional, relacionamento e muitas outras áreas. Vamos ser sempre
influenciados por aqueles que nos rodeiam e pelos objetivos que estes traçam para nós, mas é mais provável que encontremos aquilo
com o qual nos identificamos analisando os nossos interesses e testando habilidades. Portanto, faremos escolhas mais sábias se
tivermos como base o autoconhecimento preciso (Funder, 2016, p. 602)
O self procedimental
• O self procedimental é composto pelos aspetos do que fazemos, das nossas ações, e o conhecimento
acerca disso constitui o conhecimento procedimental (Funder, 2016, p. 602).
• Segundo Funder (2016), o conhecimento procedimental está relacionado com a maneira como
fazemos determinadas coisas, ou seja, é o chamado “saber como”.
Normalmente, não estamos conscientes deste tipo de conhecimento e não o sabemos explicar a outros, como é o caso, por exemplo,
de andar de bicicleta. Na maioria das vezes, aprendemos este tipo de habilidades fazendo-as ou simplesmente observando, sendo que
obter feedback também ajuda.
• O self procedimental é composto pelos comportamentos através dos quais exprimimos quem
pensamos ser, muitas vezes de forma inconsciente (Cantor, 1990; Langer, 1992, 1994, citados por
Funder, 2016). O trabalho do self procedimental é automático e feito inconscientemente (Funder,
2016, p. 603).
Selves relacionais
• O autoesquema relacional, um componente do self procedimental, baseia-se nas nossas experiências
passadas que direcionam o modo como nos relacionamos com as pessoas importantes nas nossas
vidas (Baldwin, 1999, citado por Funder, 2016).
Provavelmente, cada um de nós desenvolveu padrões específicos na maneira como interagimos como os nossos pais. Podemos até
esquecê-los eventualmente, mas quando voltamos a interagir com eles, esses padrões voltam a emergir.
91
• No entanto, há uma espécie de tendência para nos opormos a estes padrões, de modo a
apresentarmo-nos como diferentes da pessoa que éramos no passado (Andersen & Chen, 2002,
citados por Funder, 2016).
• Contudo, a maioria dos nossos padrões de relacionamento com outras pessoas são difíceis de alterar,
uma vez que estão bastante enraizados (Funder, 2016, p. 604). A teoria do Apego (Mikulincer &
Shaver, 2003; Sroufe et al., 1993, citados por Funder, 2016) e a teoria do self relacional (Andersen &
Chen, 2002, citados por Funder, 2016) concordam que muitos dos modelos que utilizamos para nos
relacionarmos com os outros são definidos cedo na vida.
Efetivamente, quando conhecemos novas pessoas podemos responder-lhes tal como respondemos, no passado, a outras que se
assemelham a estas (Andersen & Baum, 1994; Zhang & Hazan, 2002, citados por Funder, 2016).
Selves implícitos
• Enquanto que o autoesquema é algo consciente e que pode ser medido através de questionários
(dados S), os selves relacionais e outros aspetos implícitos do autoconceito são inconscientes
(Greenwald et al., 2002, citados por Funder, 2016).
• De modo a medir estes aspetos implícitos, foi inventado o método IAT (Implicit Association Test – TAI,
Teste de Associação Implícita; Greenwald et al., 1998, citados por Funder, 2016).
O IAT é uma medida de tempos de reação de uma tarefa onde os participantes apenas têm que pressionar num de dois botões o mais
rapidamente possível, de acordo com a resposta que querem dar (Funder, 2016, p. 604). Verificou-se que, numa determinada tarefa,
quando duas categorias estão associadas e partilham o mesmo botão, o sujeito responde mais depressa do que quando essas mesmas
categorias não se associam ou são opostas (Funder, 2016, p. 605).
• Podemos ter atitudes e sentimentos sobre nós mesmos ou sobre outros aspetos que são
inconscientes, mas que influenciam igualmente o nosso comportamento e as nossas emoções
(Funder, 2016, p. 606).
Há muitas diferenças no que toca ao ensino do conhecimento declarativo e do procedimental. O conhecimento declarativo pode ser
adquirido através da leitura ou da ida a palestras, por exemplo, e é necessário que a pessoa que está a ensinar seja boa nessa matéria.
• No entanto, não é necessário que um indivíduo seja perito quando a tarefa envolve conhecimento
procedimental, uma vez que é apenas necessária prática e feedback (Funder, 2016, p. 607).
• Efetivamente, segundo Funder (2016), um estilo de respostas mal-adaptativas tem como base
experiências negativas anteriores, não tendo sido criado apenas num dia. Para desfazer a
aprendizagem destas experiências não basta exortação verbal ou força de vontade. A pessoa terá que
alterar os seus comportamentos lentamente de forma a reunir novas experiências compensatórias
que gerarão, mais tarde, um novo estilo comportamental mais adequado e isto poderá ser feito com
a eventual ajuda de um profissional (Funder, 2016, p. 607).
De acordo com Funder (2016), nem todos os padrões de transferência ou de perceção característica e de comportamento são mal-
adaptativos. O facto de termos um autoconceito forte, implícito ou explícito, e que seja difícil de alterar não é necessariamente um
sinal de que há algo de errado em nós.
Quantos selves?
• Os selves ativos na memória de trabalho que afetam o comportamento de forma consciente ou
inconsciente, dependem de onde e com quem estamos no momento (Markus & Kunda, 1986, citados
por Funder, 2016).
92
• Autoconceito de trabalho é a denominação para essa mudança constante do self (Markus & Kunda,
1986, citados por Funder, 2016). As diferentes pessoas com quem estamos são uma das causas desta
mudança (Andersen & Chen, 2022; Ogilvie & Ashmore, 1991, citados por Funder, 2016).
• Logo, somos constituídos por um conjunto de selves e não apenas por um, segundo a teoria do
autoconceito de trabalho (Funder, 2016, p. 608).
No entanto, podem ser encontrados certos problemas nesta interpretação, nomeadamente o facto de que a imagem de um único self
coerente é vista como um indício de saúde mental.
• Kernis & Goldman (2006, citados por Funder, 2016) referem que os indivíduos se sentem autênticos
e confortáveis quando agem de acordo com quem pensam que são, em consonância com os nossos
traços de personalidade e, quando o fazemos, há maior probabilidade de termos um melhor
ajustamento psicológico (Sherman, Nave, & Funder, 2012, citados por Funder, 2016).
• Pelo contrário, quando não temos a certeza de quem somos ou quando sentimos que a nossa
identidade está numa mudança constante, podemos estar perante algum sintoma de uma doença
mental, como a perturbação da personalidade borderline (Funder, 2016, p. 608).
Segundo Funder (2016), uma pessoa pode sentir sofrimento quando não tem a perceção de um único self ao longo de diferentes
situações do quotidiano; isto acontece particularmente quando alguém se encontra numa fase da vida com muitas transições, por
exemplo, a fase da adolescência.
• De facto, Bleidorn & Ködding (2013, citados por Funder, 2016) declaram que demasiada diferenciação
do autoconceito está relacionada a pobre ajustamento psicológico. Por sua vez, pessoas consistentes
tendem a apresentar o mesmo self em diferentes circunstâncias e são avaliadas pelos outros como
estáveis, organizadas e saudáveis psicologicamente (Colvin, 1993b, citado por Funder, 2016).
Para além disso, Bandura (1999, citado por Funder, 2016) acredita que os psicólogos deveriam rejeitar a noção de múltiplos selves,
porque isso já seria matéria relacionada com a filosofia; iríamos ter um self que decidiria qual dos outros selves usar num determinado
momento e talvez outro que decidiria quem iria tomar essa primeira decisão e assim sucessivamente. Adicionalmente, assim que uma
pessoa se começasse a dividir em vários selves não teria a capacidade de saber quando parar.
• Logo, tendo em conta estes problemas que surgem associados à ideia de múltiplos selves, podemos
inferir que cada um de nós é, no fundo, apenas uma pessoa que interpreta as diferentes experiências
e que decide como agir a seguir.
À medida que o tempo passa e conforme as diferentes situações, as aparências externas, as atitudes e os comportamentos alteram-se,
porém, o único self que experiencia tudo isto permanece no mesmo local, enquanto observa ou talvez até comanda. A sensação de
sermos a mesma pessoa perdura ao longo da vida e está intacta mesmo tendo sofrido um dano cerebral, uma perda de memória ou
até esquizofrenia (Funder, 2016, p. 610). O eu é inalterado e o me é mudado (James, 1890, citado por Funder, 2016).
93
Previsão da personalidade: Como entender a personalidade de alguém?
DÁ gostino & Skloot(2019) referem que é fácil obter informações de pessoas que não conhecemos, por exemplo, saber a sua profissão,
quem são os seus amigos, se é casada e tem filhos, quais são os seus hobbies. Porém, é incorreto afirmar que somos conhecedores da
sua personalidade pois cada indivíduo tem as suas crenças,motivações e opiniões e estes atributos não são inferidos facilmente. Isto só
é possível através do contacto interpessoal.
Equação da empatia
• Cada um de nós tem uma ideia mental de como o mundo funciona que influencia os nossos
comportamentos, os nossos pensamentos e sentimentos e que não é acessível logo nas primeiras
interações que estabelecemos com os outros, o que por vezes dificulta a comunicação.
• Apesar disto, é possível recorrer a vários “ingredientes” de uma fórmula, que consiste num exercício
mental, chamada a “Equação da Empatia”. O quê? Porquê? e Como?. Consiste em, antes de
interagirmos, perguntamo-nos:
o O que alguém pretende da interação?
o O porquê dessa pessoa pretender algo?
o Como quer interagir?
• Esta equação fornece-nos um mapa mental de como podemos regular a nossa interação com alguém
com quem lidamos diariamente e permite perceber o que os outros esperam da interação.
• Este método é menos apropriado quando desconhecemos a respostas às perguntas que se fazem, pois
isso requer uma interação regular. (D'Agostino & Skloot, 2019).
Obter este tipo de informação não é algo linear. Psicólogos e filósofos têm estudado formas de conseguir obter estes dados de
personalidade através da observação clínica e da investigação académica (D'Agostino & Skloot, 2019).
É importante notar que nenhum destes modelos é uma fórmula perfeita, mas que constituem uma grande contribuição para o estudo
de personalidade de uma forma objetiva e sem julgamentos, podendo auxiliar na forma como lidamos com os outros (D'Agostino &
Skloot, 2019).
Myers-Briggs
• O Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) é provavelmente a avaliação de personalidade mais conhecida.
Este modelo tem quatro bifurcações que representam as diferenças entre as pessoas através de uma
dimensão específica da personalidade, tais como:
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§ Introversão (I) e Extroversão (E)
§ Intuição (N) e sensoriamento (S)
§ Sentir (F) e pensar (T)
§ Perceção (P) e julgamento (J)
• O MBTI foi desenvolvido a partir de observação clínica, em vez de pesquisa controlada. Embora o
modelo seja popular e tenha ajudado a alimentar o aumento da consciência do público em geral sobre
os tipos de personalidade, tem sido criticado por várias falhas notáveis, incluindo:
o Cada traço de personalidade é representado como um ``ou ́ ́ binário, em vez de uma
distribuição normal, que é como os traços estão realmente espelhados por uma população;
o Há evidências de que algumas das diferenças de características não são, na verdade,
mutuamente exclusivas.
Eneagrama
• O Eneagrama é um modelo de personalidade com raízes que remontam a mais de mil anos atrás, mas
que recentemente explodiu em popularidade.
• O modelo de Eneagrama consiste em nove (9) tipos que tenta descrever motivações profundas,
medos e motivações emocionais por trás de nossas ações, ao invés de simplesmente identificar
traços comportamentais.
• Por faltar o nível de evidência empírica e o rigor do modelo dos Cinco Grandes, o Eneagrama não
usado com tanta frequência para o estudo científico da personalidade (D A
́ gostino & Skloot, 2019),
mas amplamente usado no auto-desenvolvimento, aconselhamento e coaching de relacionamento
(D A
́ gostino & Skloot, 2019).
DISC
• O DISC é um modelo de personalidade de “quatro fatores”.
• Este modelo assemelha-se a muitos outros modelos que existem há mais de 2.000 anos, desde que
Hipócrates descreveu os “quatro temperamentos” (D A
́ gostino & Skloot, 2019).
• O modelo observa quatro padrões primários de comportamento que estão uniformemente
distribuídos entre a população. Cada padrão tem um conjunto de características que são
frequentemente agrupadas, mesmo que possam parecer não relacionadas, como:
§ Dominância (D)
§ Influência (I)
§ Estabilidade (S)
§ Conscienciosidade (C)
Modelos de personalidade de quatro fatores surgiram a partir da observação clínica, também validados pela pesquisa científica.
Estudos têm mostrado correlações entre modelos de personalidade de quatro e cinco fatores, especificamente ao longo dos traços de
Consciência, Extroversão e Amabilidade.O teste DISC tem sido usado por profissionais de diversas áreas, por causa da sua simplicidade
(D A
́ gostino & Skloot, 2019).
95
• Essas informações ajudam numa melhor comunicação durante uma conversa. Procura-se identificar
tipos de personalidade da forma mais conveniente, ou o mais rápido possível.
• O primeiro objetivo é a precisão e, em seguida, todos os benefícios vêm depois disso (D A
́ gostino &
Skloot, 2019).
Conveniência significa obter um perfil de personalidade mais rápido, gerando-o com menos dados, ou não precisar de outras pessoas
para participar. Os três métodos primários para identificar a personalidade de alguém são avaliações, análise de amostras de texto e
análise de atributos(D'Agostino and Skloot, 2019).
Avaliações
• As avaliações tradicionais ao estilo de questionário ainda são a medida mais confiável e precisa da
personalidade.
Quando alguém completa uma avaliação de personalidade numa plataforma como a Crystal, pode colocar o seu perfil à disposição de
qualquer pessoa que precise. Um resultado de avaliação da validade e confiável pode ser considerado o padrão ouro para entender o
seu arquétipo de personalidade até que evidências adicionais provem o contrário (D'Agostino and Skloot, 2019).
• Dá-se então prioridade a este método em situações com decisões importantes a serem tomadas e
em que o sujeito está disposto a preencher um questionário, onde será depois disponibilizado o
resultado do perfil do indivíduo que pode ser acessível para quem ele quiser( D'Agostino and Skloot,
2019).
E, neste tipo de situações, a personalidade AI pode-nos ajudar a fazer previsões sem que a pessoa complete uma avaliação (D'Agostino
and Skloot, 2019).
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Análises de amostras de Texto
• A análise de amostras de texto é uma técnica que utiliza o processamento de linguagem natural (PNL)
e aprendizagem de máquina (ML) para ver o tipo de personalidade de alguém. Isto acontece através
da análise de texto não estruturado.
• Com uma amostra de texto suficiente pode ser previsto o tipo de personalidade de alguém com
grande nível de precisão (D'Agostino and Skloot, 2019).
• O processamento de linguagem abrange muitas aplicações, como transcrição de voz para texto,
análise de sentimentos, identidade do autor e outros, na Personality AÍ usamos especificamente para
detetar o tipo de personalidade da pessoa que escreveu a amostra de texto.
• Detetamos tipos de personalidade através da análise de n-grama (usando grupos de uma, duas e três
palavras, conhecidos como unigramas, bigramas e trigramas. Alguns n-gramas dizem pouco sobre o
autor da amostra de texto, outros n-gramas, no entanto, têm fortes correlações com a personalidade,
e podem dizer muito sobre a pessoa. (D`Agostino and Skloot, 2019)
O preconceito social altera a forma como nos apresentamos. Assim ,a precisão resume-se a ter um grande volume de dados limpos e
fiáveis para analisarmos. Há situações em que não temos dados suficientes e por isso temos que procurar outros métodos (D'Agostino
and Skloot, 2019).
Análise de Atributos
• Esta técnica analisa os atributos de uma pessoa de um modo mais estruturado, de maneira a
conseguirmos prever a sua personalidade (D Á gostino & Skloot, 2019).
• As informações que podemos conseguir obter podem ser sobre;
• Cargos de trabalho anteriores e atuais ;
• Setor em que a pessoa trabalhou;
• Locais onde a pessoa viveu;
• A escola que a pessoa frequentou
• Interesses que a pessoa tem ;
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Na tabela abaixo, O título de trabalho “Fundador” tem uma correlação muito forte com o tipo de
Personalidade.
Milhares de Fundadores realizaram uma Avaliação de Personalidade no Crystal. 15% tinha o arquétipo de DI, ou iniciador .O
padrão CS, ou editor, representou apenas 1% dos entrevistados. Se esta profissão fosse distribuída uniformemente pelos traços de
personalidade, cada tipo pontuaria 6.25% da amostra . Esta análise para o cálculo da personalidade em que um determinado
“fundador” tenha um arquétipo de personalidade particular ( ou pelo menos obter um arquétipo de personalidade particular ou obter
uma melhor estimativa ) . Com 15% do tamanho amostra podemos inferir que qualquer “fundador” tem duas vezes mais probabilidade
ser um iniciador ( DI) , e 80% menos probabilidade de ser editor (CS)(D`Agostino and Skloot, 2019).
Por exemplo, fazendo uma análise do país. (Tabela 15-4). Se não conhecemos o país de alguém, não podemos fazer uma previsão
precisa da sua personalidade. No entanto países diferentes têm culturas, normas sociais e expectativas comportamentais diferentes e,
quando combinamos isto com outros atributos sobre uma pessoa, podemos retirar conclusões mais assertivas. Neste exemplo,
podemos observar que a população de entrevistados do Canadá inclina-se para os arquétipos de personalidade D e D / I. O importante
é saber que há uma diferença significativa quando comparamos as pessoas do Canadá com a população global. Isto pode ser motivado
por variações culturais, diferenças no viés da desejabilidade social e outros fatores (D ́Agostino & Skloot, 2019).
Como os tamanhos das amostras são tão grandes e diversificados, "país" tende a ser um atributo muito mais fraco do que um atributo
mais poderoso como "cargo". Atributos como "indústria", "empregadores" e "interesses" ficam num patamar intermédio.Quando
temos um grande conjunto de atributos sobre uma pessoa, o Personality AI compara os atributos a um conjunto maior de dados. Faz
cálculos de probabilidade instantaneamente e combina os resultados numa nova previsão de personalidade. Este estilo de análise de
personalidade pode produzir grandes variações de precisão, dependendo de quantos ou poucos dados temos disponíveis. Com muitas
informações sobre uma pessoa, podemos obter um resultado mais confiável. Com apenas alguns atributos, é mais difícil isso acontecer.
No entanto, a análise de atributos tem o enorme benefício de permitir realizar previsões instantâneas de personalidade para um grande
grupo de pessoas. Para profissionais que precisam se comunicar com grandes listas de pessoas ao mesmo tempo (profissionais de
marketing, representantes de desenvolvimento de negócios etc.), pode ser um método poderoso para melhorar as campanhas de e-
mail, as chamadas para a ação e o sucesso do cliente. Também pode ser usado para compreender as tendências gerais de personalidade
dentro de um grupo de pessoas para criar pessoas .(D`Agostino and Skloot, 2019).
Assim, para uma IA de Personalidade funcionar devidamente e com precisão tem de ter em conta todas estas mudanças e fatores, com
modelos psicológicos tão flexíveis como os das pessoas que representam. A ciência à volta da personalidade baseia-se muito na
observação de padrões e encontrar correlações numa população. Se se encontrarem correlações suficientes consegue-se construir um
modelo de aprendizagem virtual que pode ser utilizado para prever perfis de personalidade. Quanto mais informações houver sobre a
população, melhores são as previsões (D'Agostino and Skloot, 2019).
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• Quanto mais informação se captar da população, mais confiantes são as previsões e podem
encontrar-se outros padrões que reforcem as previsões. As IAs de Personalidade fazem o mesmo.
• A Crystal utiliza as respostas de questionários que procede a todos os utilizadores para estar
constantemente a melhorar o seu mecanismo de aprendizagem e assim fazer melhores
previsões(D'Agostino and Skloot, 2019).
• Tal como uma previsão de personalidade de alguém funciona melhor com observações feitas por
múltiplas pessoas em vez de uma só, a IA Crystal utiliza o feedback dos seus utilizadores para
melhorar a sua performance. Estes feedbacks utilizam formatos como:
• Classificações gerais de precisão
• Percepção específica de traços.
• Percepção específica de comportamentos.
• Percepção específica de situações.
Quando se tem a observação de uma só pessoa acerca de um tipo de personalidade, a previsão não é tão precisa quanto à de se tiveres
observações de várias pessoas. O feedback da Crystal consegue controlar este ponto muito bem pois utiliza o feedback de colegas,
amigos, outros utilizadores e até da própria pessoa (D'Agostino and Skloot, 2019). Este constante feedback é bastante importante para
perceber e acompanhar as mudanças de personalidade de uma pessoa ao longo do tempo e consegue uma confiança maior que
qualquer outro método (D'Agostino and Skloot, 2019)
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Aprender a ser: comportamentalismo e aprendizagem social
“Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o meu próprio mundo específico para as
criar, e eu garanto que levarei qualquer uma ao acaso e a treinarei para se tornar qualquer tipo de especialista
que eu possa selecionar - médico, advogado, artista, comerciante, chefe e sim, até mendigo e ladrão,
independentemente dos seus talentos, propensão, tendências, vocações, e raça dos seus antepassados.”
Watson, 1930
Estas ideias podem ser reduzidas a uma só: o comportamento muda em resultado da experiência. A
este processo chamamos de aprendizagem e as abordagens da personalidade baseadas na aprendizagem
tentam explicar todos os fenómenos.
Existem dois tipos de abordagem: o comportamentalismo e as teorias de aprendizagem social.
Os psicólogos aplicaram a ideia de aprendizagem a situações complexas conseguindo, desta forma, criar teorias acerca da
base da personalidade e do comportamento e uma tecnologia eficiente para a modificação de comportamento. Além disso, construíram
também uma abordagem que assenta na objetividade científica (Funder, 2016).
Esta conquista da objetividade e dos valores científicos atrai muitos psicólogos, uma vez que acreditam que a psicologia não
deve ser arte nem literatura, mas antes ciência. Consideram, então, que a psicologia não deve tratar dos fenómenos invisíveis dentro
da mente, mas sim daquilo que é observável. Desta forma, os comportamentalistas começam a estudar como é que o comportamento
é um resultado direto do seu meio, particularmente das recompensas e dos castigos que o meio contém. Para os comportamentalistas
a situação é mais determinante para o comportamento do que as pessoas.
1) Comportamentalismo
• O objetivo do comportamentalismo é a análise funcional que mapeia exatamente como o
comportamento é uma função da situação do meio.
A psicologia é o estudo da mente e, muitas vezes, vemos isto como uma tentativa de “entrar dentro da cabeça” das pessoas.
Muitos psicólogos têm este interesse: estudar o que não se vê na mente. Porém, ao contrário desses psicólogos, John Watson e Skinner
acreditavam que, para compreendermos uma pessoa, devemos recorrer ao exterior, e não ao interior, e foi por isso que começaram a
estudar o comportamento. Podemos então definir os comportamentalistas através deste slogan “nós só conseguimos saber o que
vemos, e nós conseguimos ver tudo aquilo que precisamos de saber”. Deste modo, para os comportamentalistas todo o conhecimento
é obtido através da observação e, portanto, a introspeção não faz sentido, uma vez que ninguém a consegue verificar. Assim sendo, a
única maneira válida de saber sobre alguém é através da observação do seu comportamento. Neste sentido, a personalidade para
os comportamentalistas não é nada mais do que a soma de tudo o que uma pessoa faz. Estes não consideram traços, conflitos
inconscientes, processos psicodinâmicos ou coisas que não possam ser diretamente observadas.
100
O associacionismo explica-nos como a aprendizagem acontece e alega que duas coisas (incluindo
ideias), se forem repetidamente experienciadas no tempo, passam a ser associadas mentalmente pelos
indivíduos como se apenas de uma única coisa se tratasse. Por exemplo, nas trovoadas vemos o trovão e
esperamos pelo barulho que lhe é característico.
O hedonismo e o utilitarismo, em conjunto com o associacionismo e o empirismo, formam o núcleo
da explicação comportamentalista. A personalidade vem da experiência e consiste nas associações resultantes
entre ideias simples. Já o hedonismo traz uma peça principal ao puzzle: a motivação (Funder, 2016).
O hedonismo diz que as pessoas aprendem por duas razões: para procurar prazer e para fugir da dor,
pelo que são estas as motivações que explicam os mecanismos de recompensa e de castigo no modo como
formam o comportamento. Contudo, existe um problema no hedonismo: o facto de as pessoas estarem
sempre à procura do prazer pode levar a comportamentos que não são bem vistos, como por exemplo roubar.
Neste caso, roubar comida ou bens materiais traria prazer ao sujeito, visto que ia sentir prazer na comida ou
nos bens que roubou, pelo que é nesta medida que entra o utilitarismo. O utilitarismo define-se como “o que
é melhor para a sociedade é aquilo que trará mais felicidade para o maior número de pessoas”. É precisamente
esta ideia que faz com que o ato de roubar seja um comportamento mau, uma vez que apesar de dar prazer
e felicidade ao ladrão, provoca infelicidade para quem é roubado e para a sua família.
101
• No condicionamento operante, através de experiências, um indivíduo reproduz um evento
que considera positivo ao mesmo tempo que descarta o negativo. No início de séc. XX, Edward Thorndike
realizou uma experiência com gatos famintos dentro de um “puzzle box”, com o intuito de explicar a lei do
efeito. Nesta experiência, os gatos escapavam se puxassem um fio ou pressionassem uma barra e, quando
saíam, do outro lado da caixa encontravam comida. Thorndike voltava a colocar os gatos dentro da caixa e
verificou que estes conseguiam sair cada vez mais depressa, à medida que o número de tentativas
aumentava. Skinner veio distinguir o primeiro tipo de aprendizagem como condicionamento respondente,
em que a resposta era passiva e sem impacto próprio. Já o segundo tipo de aprendizagem, Skinner definiu
como condicionamento operante, em que há uma adaptação do indivíduo ao seu meio. Uma das técnicas de
condicionamento operante que Skinner inventou foi um dispositivo que ficou conhecido como a “caixa de
Skinner”, parecida com a de Thorndike, mas mais simples, verificando que se aprende com a experiência,
por meio do condicionamento operante. As causas do comportamento das pessoas podem ter razões muito
simples, das quais podem não ter conhecimento. Inventam até razões elaboradas para as suas ações que
pouco ou nada têm a ver com as causas reais, mas não nos deixemos levar demasiado por isso. A mente
humana tem muitos processos que ocasionalmente produzem erros, mas que normalmente levam a
resultados corretos. Porém, na maioria das circunstâncias sabemos por que razão fazemos determinadas
coisas. Em parte, isto deve-se ao facto de as recompensas normalmente não estarem tão escondidas. Por
exemplo, o salário que leva muitas pessoas a trabalhar é um reforço eficaz e óbvio.
1.3 Punição
As pessoas têm os mesmos objetivos: iniciar alguns comportamentos (1); manter alguns
comportamentos (2); prevenir alguns comportamentos (3).
Funder (2016) afirma que:
A tática habitual para atingir os objetivos 1 e 2 é a recompensa. Para atingir o objetivo 3, tudo o que
tem de se fazer é encontrar uma resposta que seja incompatível com aquela de que se está a tentar livrar e
recompensar essa resposta incompatível. Por exemplo, a nossa sociedade parece mais interessada em punir
o consumo de drogas do que em oferecer alternativas gratificantes.
Contudo, há certos comportamentos que não conseguimos prevenir e, assim, surge a punição. A
punição é uma técnica de modificação de comportamento cujo objetivo é diminuir ou extinguir a repetição de
um comportamento. O castigo funciona bem quando é bem feito (Funder, 2016).
Uma forma de ver como funciona ou não o castigo é examinar as regras para a sua aplicação correta.
A análise comportamentalista clássica diz que são cinco os princípios mais importantes:
1. Disponibilidade de Alternativas: Uma resposta alternativa ao comportamento que está a ser
punido deve estar disponível. Esta resposta alternativa não deve ser punida e deve ser recompensada.
2. Especificidade Comportamental e Situacional: Ser claro sobre o comportamento que está a
punir e as circunstâncias em que o mesmo será e não será punido.
3. Calendarização e Consistência: Para ser eficaz uma punição tem de ser aplicada
imediatamente após o comportamento que se deseja evitar, sempre que esse comportamento ocorrer. Caso
contrário, a pessoa (ou animal) a ser punida pode não compreender qual o comportamento que é proibido.
Se o elemento for punido, mas não compreender porquê, o resultado será uma inibição geral em vez de uma
mudança de comportamento específica.
4. Condicionamento de estímulos secundários de punição: Pode-se diminuir o uso efetivo da
punição condicionando-lhe estímulos secundários.
5. Evitar mensagens mistas: Por vezes, depois de castigar uma criança o pai sente- se tão culpado
que pega na criança para um carinho. Isto é um erro. A criança pode começar a comportar-se mal só para
receber o abraço que se segue ao castigo. Castigue se tiver de castigar, mas não misture a sua mensagem.
Uma variante deste problema ocorre quando a criança aprende a jogar de um dos pais contra o outro. Isto
pode produzir o mesmo resultado contraproducente. Funder (2016) refere que a punição tem vários perigos,
ou seja, o castigo irá contra- atacar, a menos que sejam seguidas todas as diretrizes que acabam de ser
enunciadas.
Normalmente, não são. Um castigador tem de ser extremamente cuidadoso, por várias razões:
102
1. Punição desperta emoções: O primeiro e talvez o mais importante perigo do castigo é que cria
emoção. No castigador pode despertar excitação, satisfação e ainda mais impulsos agressivos; o castigador
pode deixar-se levar. As emoções também são despertadas na pessoa punida. Por definição, um castigo é
aversivo, o que significa que a pessoa punida sente dor, desconforto, humilhação, ou alguma combinação
destes. O castigo também costuma despertar medo e ódio pelo punidor, um desejo de fuga e, possivelmente,
autocontentamento. Estas emoções poderosas não são conducentes a um pensamento claro.
2. É difícil ser consistente: O castigo tende a variar com o humor do punidor, o que é uma das
razões pelas quais raramente é aplicado de forma consistente.
3. É difícil medir a severidade do castigo: É preciso saber não dizer palavras muito fortes ou
castigos físicos excessivos, pois isso pode causar mais angústia psicológica do que o punidor imagina e pode
provocar desejos de fuga ou vingança que agravam a situação.
4. O castigo ensina o abuso de poder: Especificamente, ensina que as pessoas grandes e
poderosas podem magoar pessoas mais pequenas e menos poderosas. Como resultado, a pessoa punida pode
pensar: “mal posso esperar para ser grande e poderoso para poder castigar também!”.
5. A punição motiva a ocultação: A punição tem um determinado potencial, uma vez que tem
boas razões para ocultar comportamentos que podem ser punidos.
A punição, usada corretamente, pode ser uma técnica eficaz para o controlo comportamental. Esta
requer que as próprias emoções e necessidades pessoais do punidor não afetem as suas ações (Funder, 2016).
103
2.1 Teoria da aprendizagem social de Rotter
A teoria de Rotter dá especial importância à tomada de decisões e ao papel das expectativas.
A teoria do valor da expectativa alega que as decisões comportamentais são determinadas não só
pela presença ou tamanho dos reforços, mas também pelas crenças sobre os resultados prováveis do
comportamento. A expectativa para um comportamento é a crença, ou probabilidade subjetiva, de um
indivíduo sobre a possibilidade de um comportamento atingir o seu objetivo.
As expectativas são tidas como crenças que podem estar certas ou erradas, isto é, não é importante
saber se um determinado comportamento vai ou não trazer sucesso, porque se existir a crença de que vai
resultar então vai haver uma tentativa e vice-versa.
A principal diferença entre a teoria de Rotter e o comportamentalismo clássico é que a visão clássica
se centra em recompensas e punições reais, enquanto a aprendizagem social de Rotter se centra em crenças
enfatizadas.
Podemos distinguir dois tipos de expectativas: específicas e gerais. Uma expectativa específica é a
crença de que um determinado comportamento, num determinado momento e lugar, levará a um resultado
específico. As expectativas gerais são crenças de que alguma ação pode fazer a diferença no resultado final –
locus de controlo. Este locus de controlo pode ser interno, quando as pessoas pensam que o que fazem afeta
o que lhes acontece (elevadas expectativas gerais); e externo, quando as pessoas pensam que o que fazem
não fará muita diferença (baixas expectativas gerais).
104
comportamento. Contudo, também pode ter resultados positivos, como por exemplo um estudante que quer
ser bem-sucedido na escola deve observar de perto alunos bem-sucedidos e fazer o que eles fazem.
A terceira inovação da teoria da aprendizagem social de Bandura é o determinismo recíproco –
“análise de como as pessoas concebem os seus ambientes”. As versões clássicas do comportamentalismo
defendem que os indivíduos são passivos no ambiente que os envolvem, ao contrário de Bandura que diz que
as pessoas não estão simplesmente colocadas no ambiente dentro da sua vida. O ambiente social que cada
um de nós escolhe é muito poderoso e tem várias implicações na nossa vida. Um segundo elemento de
determinismo recíproco é o facto de as situações sociais mudarem nas nossas vidas porque estamos em
determinado sítio. O terceiro aspeto do determinismo recíproco diz que um “sistema do self” se desenvolve e
tem os seus próprios efeitos no comportamento, independentemente do ambiente. Watson e Skinner
evidenciaram como o ambiente molda o comportamento e Bandura descreveu como o comportamento molda
o ambiente. São, portanto, poucas as coisas que nos influenciam que nós não influenciamos de volta (Funder,
2016).
3) Sistema de personalidade cognitivo-afetivo
Os teóricos da aprendizagem social cognitiva ressalvaram que as pessoas não se limitam apenas a
comportar, observar ou esperar, também pensam. Walter Mischel desenvolveu uma versão cognitiva explícita
da teoria da aprendizagem social. Esta abordagem combina duas ideias importantes. A primeira é a ideia
fenomenológica de que a interpretação ou construção do indivíduo sobre o mundo é muito importante, ou
seja, entender os pensamentos de uma pessoa é entendê-la completamente. A segunda ideia é uma visão do
sistema cognitivo que descreve o pensamento como um processo simultâneo de múltiplas vias que se
intercetam ocasionalmente. A combinação destas duas ideias é a teoria do sistema de personalidade
cognitivo-afetivo.
Mischel fez também algumas experiências no que diz respeito ao atraso da gratificação por parte da
criança e, baseando-se nessas experiências, retirou algumas dicas sobre como ajudar as crianças a adiar a
gratificação. Para além disso, no ponto de vista dos fenomenologistas, os resultados dessa experiência
mostram que o que está na cabeça das crianças, e não o que está na sua frente, determina a sua capacidade
de adiar a gratificação.
Passados vinte e dois anos, houve progressos na psicologia cognitiva e na vinculação da cognição à
personalidade. Mischel (e o seu aluno Yuichi Shoda) publicaram uma nova versão da teoria, que conta com
cinco variáveis de pessoa (uma a mais do que a versão anterior). A nova variável dizia respeito a afetos ou
sentimentos e emoções. Segundo o autor, esta foi adicionada porque em 1995 a pesquisa deixou “claro que
os afetos e emoções influenciam profundamente o processamento de informações sociais e o comportamento
de enfrentamento”.
105
3.3 Se e então
Outro aspeto fundamental da teoria da personalidade de Mischel é a ideia do que ele chama de
contingências se... então. As variáveis de personalidade resumidas na secção anterior combinam-se em cada
indivíduo para produzir um repertório de ações desencadeadas por situações de estímulo particulares. Por
exemplo, uma pessoa quando é insultada pode simplesmente ir embora. Outra pessoa, com um padrão
diferente de se...então, pode responder com um murro no nariz. O padrão de contingências de cada indivíduo
é único e compreende a sua assinatura comportamental.
O objetivo de Mischel trata-se de contingências se...então para substituir traços de personalidade
como unidades essenciais para compreender as diferenças de personalidade. A principal vantagem do
se...então é sua especificidade. Uma característica como a dominância, por exemplo, fornece apenas uma
orientação geral para prever o que uma pessoa dominante pode fazer. É possível que a mesma pessoa que
domina uma reunião se relacione de maneira muito diferente com a sua família. Uma noção de traço de
dominância, em contraste, pressupõe que uma pessoa que é dominante numa situação provavelmente exibirá
o traço também noutras situações. A ideia do Mischel sobre contingências se...então tem o potencial de
integrar conceções de traços de personalidade com conceções de aprendizagem social e conceções cognitivas,
por reescrever características como padrões de comportamento específicos. Por exemplo, se uma pessoa
amigável encontra um estranho provavelmente iniciará uma conversa, mas, por sua vez, se uma pessoa tímida
estiver numa reunião social, provavelmente será sensível a qualquer sinal de rejeição. Por vezes, os traços de
personalidade são muito amplos e vagos para fornecer a maneira mais útil de pensar sobre o comportamento.
5) Comportamentalismo e personalidade
As teorias clássicas de John Watson, e mais tarde de BF Skinner, começaram com o princípio de que
toda a psicologia necessária eram estímulos e respostas, reforços e punições. Essa abordagem esclareceu os
principais processos de aprendizagem, mas com o tempo tornou-se cada vez mais evidente que a simplicidade
atraente do comportamentalismo era demasiado simples. Como Albert Einstein teria dito: "Torne tudo o mais
simples possível, mas não mais simples." Para explicar toda a gama de comportamento humano e até animal,
psicólogos inclinados ao comportamento acharam necessário adicionar conceitos como a perceção, o
pensamento e a estratégia. Walter Mischel, o mais recente e mais cognitivo dos teóricos da aprendizagem
106
social, integrou a pesquisa de descobertas sobre as causas do comportamento e de como as pessoas pensam,
culminando na sua ideia de se... então como modelo de personalidade.
No entanto, as ideias mais recentes de Mischel remontam a algumas raízes ancestrais profundas. A
teoria E-R de John Watson descreveu a personalidade como uma questão de estímulo e resposta, mesmo
Walter Mischel não sendo um verdadeiro Watsoniano. No entanto, a sua reconceitualização da personalidade,
que a vê como um repertório idiossincrático de respostas aprendidas se...então que não têm nenhuma
conexão necessária entre si, assemelham-se de uma forma estranha à conceptualização E-R que Watson
propôs há quase um século. Se...então e estímulo-resposta: Walter Mischel e John Watson. Em suma, os
princípios fundamentais do comportamentalismo continuam a influenciar a psicologia da personalidade
moderna.
107
Personalidade e relações interpessoais
Vinculação: os blocos de construção dos relacionamentos
Vinculação na infância
• A personalidade diz respeito ao caráter e conjunto de traços salientes relativamente estáveis do
indivíduo que o diferencia dos restantes (Mund et al., 2016). Esta é central nas relações interpessoais,
predizendo o tipo de pessoas que queremos como amigas e com quem preferencialmente nos
relacionamos (Twenge & Campbell, 2017).
• As primeiras relações de vinculação com o cuidador predizem as ligações na vida adulta (Twenge &
Campbell, 2017). A teoria da vinculação (Bowlby, 1969, citado por Twenge & Campbell, 2017) explora
as relações precoces e a maneira como estas moldam a nossa personalidade bem como as nossas
relações adultas, amorosas e/ou amistosas, pois a forma como nos relacionamos com os nossos pais
influencia a forma como nos relacionamos com os nossos parceiros românticos (Hazan & Shaver, 1987,
citado por Twenge & Campbell, 2017).
o Este fenómeno ficou evidente na experiência com macacos desenvolvida por Harlow (1959,
citado por Twenge & Campbell, 2017) em que se usaram duas estruturas com caras (mães-
macaco), uma apenas com arame e que fornecia alimento, e outra, forrada adicionalmente
com tecido e que não fornecia alimento. Os resultados desta experiência permitiram observar
que os macacos deixados com a mãe de arame desenvolveram problemas sociais acentuados,
tornando-se agressivos ou sobressaltados quando confrontados com novas situações, como
consequência da ausência de conforto e segurança. Por outro lado, os macacos com mãe de
tecido mostraram adaptar-se melhor a novas situações decorrentes da sensação de segurança
e proteção. Percebeu-se ainda que embora a estrutura de arame fornecesse alimento, o
macaco mantinha a sua preferência pela estrutura de tecido.
• Aplicando estas observações aos humanos, estes parecem desenvolver ‘estratégias de sobrevivência’
adaptadas ao ambiente em que vivem, denominando-se ‘os três estilos primários de vinculação’:
o seguro - advém de uma relação com o cuidador pautada por conforto, afeto e segurança;
o ansioso - resulta da interação com um cuidador depressivo ou que abusa de substâncias
ilícitas, traduzindo-se numa pessoa amedrontada pela ideia de que a outra pessoa não a ame
de volta ou que a abandone;
o e de evitamento - consequência de ter um cuidador constantemente indisponível, física e
emocionalmente ou abusivo, levando a que a criança aprenda a lidar com os problemas
sozinha sem procurar o apoio do cuidador (Twenge & Campbell, 2017).
Há umas décadas, os tipos de vinculação das crianças eram originalmente estudados através de um paradigma chamado ‘situação
estranha’ (Ainsworth & Wittig,1969), no qual as crianças de um ano e as respetivas mães iriam a um laboratório e conheciam outro
adulto. Depois, as mães sairiam do espaço. Quase todos os bebés choravam ou ficavam chateados quando as suas mães se iam embora,
mas reagiam de forma diferente quando elas voltavam: os bebés com ligação segura sorriam e ficavam felizes quando as suas mães
voltavam; os bebés ansiosos continuavam a chorar quando as suas mães voltavam e eram difíceis de acalmar; finalmente, os bebés
com ligação de evitamento olhavam de lado para as suas mães e recusavam a sua presença (Ainsworth & Bell, 1970, citado por Twenge
& Campbell, 2017).
108
O estudo de Carvallo e Gabriel (2006, citado por Twenge & Campbell, 2017) observou alguns casais a despedirem-se no aeroporto e
mediu os tipos de ligação. Homens com ligação à base do evitamento tinham menos probabilidade de procurar contacto com o parceiro
(como abraçar ou dar as mãos), enquanto homens e mulheres ansiosas tinham mais probabilidade de ficar chateados – por exemplo,
chorar abertamente.
• No entanto, pessoas com ligação de evitamento podem não desprezar verdadeiramente relações.
Num estudo, pessoas com esse tipo de ligação ficavam ainda mais agradadas ao serem aceites pelos outros do que pessoas seguras e
ansiosas (Carvallo & Gabriel, 2006, citado por Twenge & Campbell).
• Os tipos de ligação na fase adulta relacionam-se com os cinco grandes traços de personalidade – os
‘Big Five’.
o Adultos altamente ansiosos são mais propensos para terem uma alta pontuação de
neuroticismo e uma baixa pontuação em conscienciosidade.
o As ligações entre traços de personalidade e tipos de ligação de evitamento não são tão fortes,
mas pessoas que tenham um tipo de ligação de evitamento forte tendem a ter uma baixa
pontuação para a extroversão e conscienciosidade (Noftle & Shaver, 2006, citado por Twenge
& Campbell, 2017).
Eis a pergunta: os tipos de ligação podem mudar? Aparentemente, podem. Permanecer numa relação estável, positiva pode aumentar
a segurança na ligação. Por exemplo, um estudo descobriu que pessoas ansiosas que tinham um casamento estável e confiável, eram
menos ansiosas (Fuller & Finchman, 1995, citado por Twenge & Campbell,2017). Além disso, mostrou-se que os tipos de ligação podem
também levar a problemas quando as relações acabam: entre os casais que se divorciavam, aqueles com um tipo de ligação ansioso
ou à base do evitamento, sofriam mais (Birnbaum et al., 1987, citado por Twenge & Campbell,2017).
Como é que os traços dos ‘Big Five’ nos permitem prever as relações interpessoais?
• Existe uma estreita relação entre os ‘Big Five’ e as relações interpessoais de longo- prazo.
o A extroversão é a mais ampla das cinco dimensões e diz respeito às emoções positivas, ao
nível de energia e à tendência hábil para as relações interpessoais (Hills & Argyle, 2001, citado
por Twenge & Campbell, 2017; Shefhout et al., 2010, citado por Twenge & Campbell, 2017).
Um indivíduo com pontuações elevadas nesta dimensão é habitualmente afável, bastante social e é capaz de se afirmar perante uma
dada situação. Em oposição, um indivíduo com pontuações baixas é introvertido, reservado, tímido e tem tendência para a submissão
(Twenge & Campbell, 2017).
o Segundo Hills e Argyle, as pessoas extrovertidas são boas a formar relações interpessoais.
o Outros autores verificaram ainda que os extrovertidos:
§ se sentem mais satisfeitos com as suas relações interpessoais, conseguem mantê-
las em elevado número (Stokes, 1985, citado por Twenge & Campbell, 2017; White
et al., 2004, citado por Twenge & Campbell, 2017)
§ não têm problema em conhecer potenciais amigos ou parceiros românticos
§ são socialmente conectados e parecem conhecer toda a gente.
§ No entanto, como alertam Schmitt e Shackelford (2008, citado por Twenge &
Campbell, 2017), os seus relacionamentos poderão ser superficiais ou pouco
envolvidos.
109
o A amabilidade refere-se à forma como cooperamos, cuidamos ou somos compassivos com os
outros, demonstrando preocupação pela harmonia social (Donnellan et al., 2004, citado por
Twenge & Campbell, 2017; White et al., 2004, citado por Twenge & Campbell, 2017).
§ Pessoas que pontuam de forma elevada para este fator são habitualmente
compassivas, amistosas, generosas, prestáveis, confiam nos outros e têm uma visão
otimista perante a vida e as outras pessoas.
§ Por outro lado, pessoas que pontuam pouco para este fator são argumentativos,
combativos e egocêntricos, colocando o seu próprio interesse acima das boas
relações interpessoais. Em geral, são pouco cooperantes e bastante desconfiados
(Twenge & Campbell, 2017).
§ As pessoas amáveis são simpáticas, e esta é uma das características mais importantes
para que as relações interpessoais sejam bem-sucedidas. Assim, pessoas amáveis têm
geralmente relacionamentos satisfatórios, próximos e positivos (Donnellan et al.,
2004, citado por Twenge & Campbell, 2017; White et al., 2004, citado por Twenge &
Campbell, 2017). Devido às características mais argumentativas e de indiferença,
pessoas que sejam menos amáveis têm relacionamentos mais difíceis.
o O neuroticismo está relacionado com emoções negativas, como a preocupação, a raiva e uma
certa instabilidade emocional (Donnellan et al., 2004, citado por Twenge & Campbell, 2017;
White et al., 2004, citado por Twenge & Campbell, 2017).
§ Pessoas com pontuações elevadas para este fator são geralmente vulneráveis ao
stress, ansiosas, emocionalmente reativas, melancólicas e dotadas de baixa
autoestima.
§ Normalmente estas emoções negativas persistem por períodos relativamente
longos.
§ Por outro lado, pessoas com baixa pontuação para este fator apresentam maior
estabilidade emocional e são menos reativas, são calmas, de fácil trato, otimistas e,
geralmente, têm uma boa autoestima (Twenge & Campbell, 2017).
Em geral, pessoas com elevados níveis de neuroticismo têm relacionamentos instáveis. O facto de serem ansiosas relativamente ao
curso das relações, faz com que estes se tornem demasiado desafiantes, causando problemas aos seus parceiros (Donnellan et al.,
2004, citado por Twenge & Campbell, 2017; Potthoff et al., 1995, citado por Twenge & Campbell, 2017; White et al., 2004, citado por
Twenge & Campbell, 2017). Além disso, estas pessoas têm tendência para estados depressivos, precisam frequentemente que lhes
elevem o espírito, implicando ter de lidar muitas vezes com uma forte componente negativa. Esta situação poderá resultar num
afastamento do outro (Twenge & Campbell, 2017).
o A abertura para a experiência está relacionada com o interesse para experimentar novas
atividades, novas ideias, sistemas de valores e crenças (Twenge & Campbell, 2017).
o Pessoas com pontuação elevada para este fator têm um elevado interesse pela arte, são
criativas, intelectualmente curiosas e despertas para a beleza. Pessoas com uma
pontuação baixa para este fator são mais convencionais, têm maior dificuldade e mais
desconforto em relação à mudança, normalmente apreciam a rotina e possuem uma
noção do certo e do errado bastante apurada (Twenge & Campbell, 2017).
o Elevadas pontuações para a abertura à experiência estão relacionadas com a
autoexpansão, que se caracteriza por um desejo de se expandir relativamente a traços,
qualidades e habilidades do outro (Aron et al., 1991, citado por Twenge & Campbell,
2017).
Por esta razão, estas pessoas gostam de explorar diferentes e novos tipos de relacionamentos, sendo atraídas pelo lado mais exótico
da outra, como por exemplo, com uma nova língua, religião ou cultura (Twenge & Campbell, 2017). Outra forma de expandir o seu
relacionamento, é ter novas experiências com o seu parceiro, pois teoricamente, a satisfação e a aproximação um pelo outro deverá
aumentar, tal como demonstrado por Reissman et al. (1993, citado por Twenge & Campbell, 2017) que verificaram que casais que
tinham experienciado corridas de três pernas ou escaladas por percursos estranhos em conjunto se sentiam mais satisfeitos com os
seus relacionamentos.
110
o A conscienciosidade relaciona-se com o grau de concentração (Twenge & Campbell, 2017). Em
geral, pessoas com elevada conscienciosidade apresentam grande motivação, são disciplinadas e
organizadas no seu dia-a-dia, focadas nos seus objetivos, comprometidas, ambiciosas,
confiáveis e apresentam um elevado autocontrolo.
o Estas pessoas preferem comportamentos planeados e menos espontâneos.
o Em oposição, pessoas com baixos resultados para este fator são indisciplinados, mais
distraídas, apresentam baixa motivação e são impulsivas (Twenge & Campbell, 2017).
o A conscienciosidade pode ajudar a manter relacionamentos, pois diminui os conflitos,
incluindo a violência física e verbal (Bogg & Roberts, 2004, citado por Twenge &
Campbell, 2017; Jensen-Campbell & Malcolm, 2007, citado por Twenge & Campbell,
2017).
De facto, faz sentido que pessoas que tenham o mesmo tipo de atitudes em relação à religião, política, género, como cuidar e educar
uma criança, tenham relacionamentos mais suaves, pois haverá com certeza menos assuntos a debater e a argumentar.
• No entanto, segundo outros estudos, o cenário é diferente quando se fala de personalidade, ou seja,
personalidades muito semelhantes tendem a ter relacionamentos menos satisfatórios, tal como
demonstrado pelo estudo realizado por Shiota e Levenson (2007, citado por Twenge & Campbell,
2017) com parceiros casados.
• Noutro estudo, desenvolvido por Dyrenforth et al. (2010, citado por Twenge & Campbell, 2017) não
se observou uma relação entre uma personalidade correspondente e a satisfação interpessoal.
Verificou-se inclusivamente um caso particular de personalidade – dominante – em que os opostos de facto eram mais atraídos, pois a
probabilidade de conflitos entre duas personalidades dominantes é bastante elevada (Dryer & Horowitz, 1997, citado por Twenge &
Campbell, 2017; Tiedens & Fragale, 2003, citado por Twenge & Campbell, 2017).
111
reagem com menor agressividade mesmo quando são insultadas (Richardson et al., 1998, citado por
Twenge & Campbell, 2017).
• A empatia tem sido relacionada com o perdão (Fincham et al., 2002, citado por Twenge & Campbell,
2017), particularmente em homens (Toussaint & Webb, 2005, citado por Twenge & Campbell, 2017).
• Quando, além de sentir uma preocupação, o indivíduo sente vontade de agir e ajudar a melhorar a
situação do outro, experiencia a compaixão. Assim, a compaixão está ligada à prestação de apoio,
sobretudo quando a pessoa sabe que pode ajudar, considera que o outro merece ser apoiado, e não
tem nenhum custo emocional por estar a ajudar (Goetz et al., 2010, citado por Twenge & Campbell,
2017).
• Finalmente, o autocontrolo permite tomar decisões prudentes, mesmo em situações de conflito, e
(re)agir tendo como princípio o bem do parceiro e o bem da relação. As pessoas com um alto grau de
autocontrolo são menos propensas a envolverem-se em comportamentos de relacionamentos
negativos, tais como a infidelidade ou o abuso físico
• Parece que o autocontrolo está positivamente relacionado com o sucesso relacional (Twenge &
Campbell, 2017).
• O autocontrolo pode ser trabalhado através de práticas de mindfulness (Tang et al., 2007, citado por
Twenge & Campbell, 2017) e através do cuidado com a sua própria saúde física e mental (Baumeister
et al., 1994, citado por Twenge & Campbell, 2017).
Psicopatia
• A psicopatia é caracterizada por um comportamento impulsivo e pela ausência de empatia.
• Indivíduos com elevados níveis de psicopatia tendem a não ser afetados pelo sofrimento do outro.
• Podem, igualmente, assumir cargos e posições profissionais de enorme sucesso devido ao facto de
tomarem decisões difíceis com foco no crescimento de negócios sem receio de prejudicar terceiros
(Babiak & Hare, 2007, citado por Twenge & Campbell, 2017).
Maquiavelismo
• O maquiavelismo remete para uma tendência em manipular e explorar o outro e para a ausência de
empatia.
• Esta caraterística inclui indivíduos enganosos e manipuladores, dispostos a tudo para vencer, ter
sucesso ou permanecer no poder. Habitualmente, ignoram a moralidade convenciona e não têm
emoções (Christie & Geis, 1970, 2002, citado por Twenge & Campbell, 2017).
Narcisismo
• O narcisismo é caraterizado por um senso de grandiosidade e por falta de empatia.
• Refere-se frequentemente a indivíduos que apenas se preocupam com eles próprios e com uma forte
necessidade de preservação da sua autoimagem.
112
Segundo Campbell et al. (2002, citado por Twenge & Campbell, 2017), e Jonason e Kavanaugh (2006, citado por Twenge &
Campbell, 2017), as pessoas com traços da tríade negra são mais propensas a fingir um forte grau de interesse romântico, ao
mesmo tempo que apresentam comportamentos de manipulação, mentira e engano. Estes indivíduos podem tornar-se mais
atraentes, confiantes e charmosos ao realçarem a sua aparência, tal como mostra o estudo de Holtzman e Strube (2013, citado
por Twenge & Campbell, 2017), que examinou a relação entre a atratividade física e traços da tríade negra.
• Embora estes atributos físicos se demonstrem úteis para iniciar uma relação, a verdade é que os
relacionamentos são conhecidos pela sua curta duração, por abordagens mais pragmáticas, maior
tendência ao envolvimento em situações de furto conjugal (roubar o parceiro do outro) e uma maior
ocorrência de ambientes de conflito e drama (Twenge & Campbell, 2017).
Surge, então, a questão: sendo os traços desta tríade geralmente nocivos para os relacionamentos, será que não deveriam desaparecer
do perfil da personalidade humana e ser substituídos por traços mais positivos? Os autores realçam que, no processo evolutivo da
espécie humana, essas caraterísticas sempre se revelaram úteis (Twenge & Campbell, 2017).
O primeiro impacto é atraente, doce e sedutor; contudo, após algum tempo emerge a sensação de vazio e culpa, remetendo para um
relacionamento instável e distante (Campbell, 2005, citado por Twenge & Campbell, 2017).
Relacionamentos online
• A internet - e o mundo virtual em geral - veio permitir estabelecer e manter novas formas de contacto
e relacionamentos à distância, nomeadamente de amizade e amor romântico (Twenge & Campbell,
2017). Mas, atualmente, o assunto mais discutido é o namoro virtual.
Namoro virtual
• À medida que a idade cronológica avança, estabelecer uma relação amorosa torna-se uma tarefa mais
complexa. As particularidades das diferentes etapas de vida e a diversidade de contextos em que os
indivíduos se encontram inseridos contribuem para a crescente procura de parceiros online,
nomeadamente em aplicações virtuais de namoro.
• Segundo Finkel et al. (2012, citado por Twenge & Campbell, 2017), esta solução popular apresenta
três vantagens:
o i) concentram um grande número de potenciais parceiros onde estão incluídas fotos e breves
descrições;
o ii) facilitam o estabelecimento de comunicação, contrariamente ao sistema tradicional cara-
a-cara;
o iii) a ferramenta de compatibilidade de personalidade oferecida por essas aplicações virtuais.
Estas aplicações de encontros/namoro online estabelecem combinações de potenciais
parceiros românticos, a partir da semelhança e complementaridade da personalidade
autorelatada. Outros, a partir das suas diferenças.
• Não existem evidências concretas de que relações entre indivíduos com traços de personalidades
semelhantes sejam, de facto, bem-sucedidas. Na verdade, segundo os estudos realizados por
Dyrenforth et al. (2010, citado por Twenge & Campbell, 2017) e Finkel (2012, citado por Twenge &
Campbell, 2017), casais com traços de personalidade semelhantes não são necessariamente mais
felizes ou satisfeitos nos seus relacionamentos, contrariamente ao que acontece com valores e
crenças aproximadas.
• O interesse pelas relações online e a combinação de perfis/personalidade não é recente. Os resultados
de um estudo - Computer Dance Study - conduzido por Walster et al. (1966, citado por Twenge &
113
Campbell, 2017) mostraram que a atratividade física, - conceito que remete para a atração sexual ou
desejabilidade-, teve maior impacto que os traços de personalidade. Apesar dos resultados sugerirem
uma certa correlação com a sociabilidade, autoestima elevada e extroversão, estes não foram
suficientemente relevantes como os efeitos da aparência.
• Contudo, investigações recentes revelam que em interações imediatas e de curta duração a aparência
física é importante para as primeiras impressões (Hunt et al., in press, citado por Twenge & Campbell,
2017); no entanto, a personalidade ganha e apresenta maior relevo a longo prazo.
Uma vez que a atratividade constitui um elemento tão relevante, como emerge o namoro online por alguém que não se conhece
fisicamente? As explicações mais comuns passam por os indivíduos acreditarem que o parceiro é exatamente como se apresenta nas
fotografias e pela existência de encontros virtuais, a partir de videochamadas, que transitam para presenciais quando existe interesse
mútuo (Twenge & Campbell, 2017).
Conclusão
• Conclui-se que a personalidade e os relacionamentos se encontram intimamente ligados, e ambos
se influenciam: a personalidade molda o relacionamento e o relacionamento molda a personalidade
(Twenge & Campbell, 2017).
Embora tenhamos consciência do tipo de relacionamentos e pessoas que desejamos, muitas vezes podemos ser seduzidos por indivíduos
com personalidades sombrias e egoístas, escondidas atrás de traços cativantes como a extroversão e o charme (Twenge & Campbell,
2017).
• Questionamo-nos sobre qual será o tipo de pessoa para um relacionamento bem-sucedido a longo
prazo. Eventualmente indivíduos com estilos de ligação de apego seguro, afabilidade, consciência,
empatia, compaixão e autocontrolo, baixos níveis de neuroticismo e de traços da tríade sombria
(Twenge & Campbell, 2017).
• Relacionamentos bem-sucedidos ocorrem entre parceiros de diferentes tipos de personalidade, uma
vez que para a estabilidade e a durabilidade de uma relação existem inúmeros outros aspetos a ter
em consideração. Contudo, a eficácia da compatibilidade de personalidades para constituir
relacionamentos bem-sucedidos é ainda desconhecida (Twenge & Campbell, 2017).
• As redes sociais e aplicações de namoro online, apresentam inúmeros efeitos positivos e negativos
na personalidade, e estão a mudar a forma como as pessoas se relacionam e mantêm as suas
relações. No entanto ainda é algo recente e carece de mais investigação (Twenge & Campbell, 2017).
Conceitos importantes
• Personalidade: entende-se caráter e conjunto de traços salientes relativamente estáveis de um
indivíduo que o diferencia dos restantes (Mund et al., 2016).
o A personalidade ou temperamento tem várias facetas que influenciam as nossas atitudes e
comportamento desde as primeiras fases de vida.
114
• Relacionamento romântico constitui um forte laço interpessoal (distinto das relações familiares e de
amizade) que tem por base a paixão, intimidade e o compromisso como elemento central (Döring,
2002). Para Collins (2003), estas são interações voluntárias duradouras mutuamente reconhecidas.
• Relação social desenvolve-se entre duas pessoas que mantenham contacto de forma consistente,
comunicando assíncrona ou sincronamente.
Atualmente, uma relação mediada por equipamentos eletrónicos, sobretudo, em rede, tem o nome de relacionamento online. Estes
distinguem-se dos relacionamentos ‘convencionais’, onde o contacto acontece predominantemente cara a cara.
Apesar de se tornar cada vez mais evidente que a internet se tornou um meio facilitador da formação de novos relacionamentos, a
rapidez com que os se transformam em romance e por quanto tempo, mantém-se aberto a conjeturas (Malta, 2007).
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