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Apontamentos Sistemas de
Memória - José Aniceto
2021/2022
Sistemas de Memória
Perspetiva Unitária vs. Sistemas Múltiplos
Perspetiva Unitária
Problemas decorrentes da perspetiva unitária
Perspetiva dos sistemas múltiplos de memória
Notas introdutórias:
Schacter e Tulvinh (1994) definem, pela negativa, um sistema de memória:
Sherry e Schacter (1987) propõem 4 propriedades para se distinguirem sistemas de
memória:
Critérios de Schacter e Tulving (1994)
Dissociações
Schacter e Tulvinh (1994): 5 sistemas de memória (11 subsistemas)
Problemas da perspetiva dos sistemas múltiplos de memória
Conclusão
Ponto de vista de Tulving e Schacter (1990)
Memória Sensorial
Tipos de memória sensorial mais estudados (e o mais recente)
Memória icónica (memória sensorial visual)
Exemplos de memória icónica
Funções da memória icónica

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Características da memória icónica
Sperling (1960)
Averbach e Coriell (1961)
Duração da Memória Icónica
Problemas relativos à distinção de uma memória sensorial visual
Memória Ecóica (memória sensorial auditiva)
Exemplos/funções da memória ecóica
Características da memória ecóica
Condições de atuação do efeito do sufixo
Effeito da modalidade
Efeito do sufixo
Outros resultados
Memória ecóica: escuta dicótica
Memória ecóica: escuta dicótica - atenção focalizada - tarefa de sombreamento
Resultados
Experiência de Darwin, Turvey e Crowder (1972): versão auditiva da tarefa de Sperling - “o
homem dos 3 ouvidos”
Outra técnica de estudo: Mismatch Negativity - medida electrofisiológica
Problemas relativos à distinção de uma memória sensorial auditiva
Memória Sensorial de Odores - olfativa
Experiência de Schab e Crowder (1995) Miles e Jenkins (2000)
Experiência de Miles e Jenkins (2000) com a técnica do sufixo
Resultados
Memória A Curto Prazo
Exemplos:
Amplitude/capacidade
G. Miller (1956)
H. A. Simon (1974)
Ericsson e Chase (1982) - SF
Cowan (2001)
Código (1)
Experência de Conrad (1964)
Experiência de Brandimonte et al. (1992)
Código (2)
Experiência da Wickens, Born e Allen (1963)
LIP - cálculo
Variáveis que influenciam a LIP
Duração da Memória a curto prazo
Estimativa baseada na técnica de Brown-Peterson (1959) e Peterson (1959)
Resultados
Esquecimento
Declínio vs. interferência - Keppel e Underwood (1962)

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Experiência de Waugh e Norman (1965) - tarefa de dígitos com um item de sonda
(probe)
Resultados
Recuperação
S. Sternberg (1966, 1969)
Paradigma de busca de Sternberg
Experiência de DeRosa e Tkacz (1976)
Resultados
Memória de Trabalho
Exemplos
Modelo Modal
A. Baddeley e G. Hitch (1974)
O que é a MT?
Baddeley e Hitch - método da tarefa dual
Resultados esperados
Resultados obtidos
Memória de Trabalho
Caso KF (descrito por Warrignton e Shallice, 1969)
MCP vs. MT
Modelos MT
Modelo de múltiplos componentes de Baddeley e Hitch (1974)
Sistemas de armazenamento
Sistemas de processamento
Executivo central
Ciclo fonológico
Bloco de esboços visuo-espaciais
Ciclo fonológico
Resultados experimentais favoráveis
Baddeley e cols (1975): investigaram o efeito do comprimento das palavras
considerando o tempo de pronunciação
Schweickert e Boruff (1986)
Papel Importante
Bloco de esboços visuo-espacial
Experiência de Baddeley, grant, Wight e Thomson (1973)
Resultado
Executivo Central
Span auditivo e de leitura
Span de contagem
Span (auditivo e de leitura) da MT
Span de processamento + armazenamento da MT
Modelo de MT (Baddeley, 2000)
Memória não declarativa - aprendizagem não associativa

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Exemplos de habituação - aprendizagem não associativa
Aprendizagem não-associativa
Aprendizagem associativa
Ocorrência de mudança no grau de resposta
Habituação
Sensibilização
Habituação
Habituação a curto prazo
Habituação a longo prazo
Memória não declarativa - Aprendizagem associativa básica
Condicionamento operante: aprendizagem sobre consequências
Skinner, em 1938, propôs
Condicionamento operante: o reforço é contingente à resposta
Diferenças entre condicionamento intrumental e condicionamento operante
1. Aparelhos laboratoriais
2. Procedimentos do condicionamento
3.
4.
Condicionamento Operante
Tipos e programas básicos de reforço intermitente
Programas IF
Programas IV
Programas RF
Programas RV
Outros programas de reforço intermitente
Programas induzidos pelo desempenho
Programas múltiplos e mistos
Programas tandem e em cadeia
Programas concorrentes
Comportamentos de escolha
Experiência de Herrnstein:
Resultados:
Lei de matching
Conclusão
Aprendizagem de probabilidades
Experiência de adivinhação da luz de Humphreys (1939)
Tarefa de previsão do tempo de Gluck & Bower, 1988
Outra interpretação (Estes, 1976) que envolve representação cognitiva
Resumo
Condicionamento Clássico
Exemplos de respostas adquiridas por condicionamento clássico
Aquisição

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Anexo
Bykov
Condicionamento da atividade eletrodérmica
Glicemia (nível de glicose no sangue)
Resposta do sistema imunitário - experiêcia de Ader (1985)
Resultados
Esquecimento
Extinção
Extinção silenciosa ou abaixo de zero
Sombreamento
Bloqueio - experiência de Kamin (1969)
Inibição Condicional - condicionamento inibitório
Teste de atraso ou retardamento
Teste de adição (ou de soma)
Contingência
Conceito de contingência ou de correlação entre EC-EI
Cálculo do valor da contingência (existem várias fórmulas):
Definição de ensaio sem EC
Sistema de representações percetivas
Efeito de priming
Memória Declarativa
Memória semântica: modelos de representação do conhecimento ou da organização
semântica
Esquemas
Outros modelos de representação do conhecimento ou da organização semântica
Modelos de comparação de atributos
Teoria de protótipos
Perspetiva dos exemplares
Redes semânticas hierárquicas - modelos de Collins e Quillan (1969)
Memória Episódica - Memória Prospetiva
Características das tarefas de MP
Características distintivas da MP relativamente à memória retrospectiva
Tipos de recordação/memória prospectiva (McDaniel & Einstein, 2007)
Planos na MP
Principais abordagens teóricas
Relação MP-MT
Memória Episódica - Memória Retrospectiva
Consciência auto-noética
Memória episódica vs. Memória semântica
Memória episódica - experiências tradicionais de laboratório
Curva de posição serial (CPS)
Explicação dos efeitos de posição serial

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Codificação e Recuperação
Memória Flashbulb ou Memórias Cintilantes
Memória flashbulb
Brown e Kulik (1977)
Estrutura canónica das memória flashbulb
Controvérsia
Método geral de estudo: avaliação dupla do tipo teste-reteste
Conway et al. (1994)
Neisser e Harsh (1992)
Neisser (1982; 2000)
Talarico e Rubin (2003)
Memórias flashbulb
4 explicações para as memórias flashbulb
Conclusão geral
Metamemória
Exemplo de tarefas de metamemória
Esquecimento
Curva do esquecimento de Ebbinghaus
Curva de retenção/esquecimento
Leis de Jost (1897)
Esquecimento: mecanismos
A informação que não conseguimos recordar continua ou sai da memória?
Experiência de Nelson (1971)
Manipulação crítica na experiência de Nelson

Sistemas de Memória
Designação oriunda da investigação sobre a organização da memória do cérebro, a
qual pressupõe que a memória se manifesta através de sistemas múltiplos. Apesar
desta ligação às neurociências, psicólogos como D. Schacter e E. Tulving
consideram que os sistemas de memória deveriam ser identificados, sobretudo,
com base em características de natureza psicológica.

Perspetiva Unitária vs. Sistemas Múltiplos


Perspetiva Unitária

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💡 Existe uma representação única (uma unidade comum) de um evento
num sistema de memória de grande extensão. Tarefas diferentes
permitem recuperar aspetos diferentes dessa representação.

Observam-se dissociações no desempenho de testes/tarefas porque pistas ou


instruções de recuperação diferentes permitem o acesso a características diferentes
de uma mesma e única representação do evento no armazém de memória.

Mesmo que um evento não possa ser recuperado explicitamente é bastante


provável poder-se recuperá-lo implicitamente.

Pessoas com défice mnésico podem conseguir recordar um evento experienciado


em tarefas de decisão lexical, identificação perceptiva ou completamento de
fragmentos.

Melton: memória a curto prazo (MCP) e memória a longo prazo


(MLP) fazem parte do mesmo sistema de memória, isto é, não
constituem sistemas de memória distintos.

Problemas decorrentes da perspetiva unitária


Simplificação de muitos processos complexos num único mecanismo.

Resultados de vários estudos apoiam a conceção segundo a qual a MCP e a


MLP seriam dois sistemas distintos (estão associados a níveis diferentes de
ativação cerebral em áreas corticais diferentes).

A taxa de decaimento é muito mais rápida na MCP do que na MLP (assim, a 1ª


seria considerada uma memória transitória enquanto a 2ª constituiria uma
memória permanente), resultado empírico que não é considerado em modelos
da perspetiva unitária.

Perspetiva dos sistemas múltiplos de memória

💡 Não existe uma representação única (uma unidade comum) de um


evento. O evento percebido é montado/construído por muitos sistemas
cerebrais em interação.

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Ex.: Considere um dado evento

A memória primária (de trabalho) permite fazer um esboço neurocognitivo do


evento, em que partes desse esboço são imediatamente acessíveis à
consciência e a informação nele contida pode ser usada na atividade mental
em curso.

O sistema de representações perceptivas codifica e armazena informação


estrutural dos estímulos (não o seu significado, o qual remete para o sistema
semântico) desse evento

O sistema semântico codifica e armazena informação proposicional sobre o


conhecimento de facto do evento.

O sistema episódico integra e regista informação relativa à experiência


pessoal/subjetiva do evento e informação espacial (onde) e temporal
(quando)

Tipos de informação diferentes respeitantes aos vários aspetos do evento são


armazenados em diferentes “locais de armazenamento” independentes. Estes locais
de armazenamento independentes correspondem a sistemas de memória e aos
seus subsistemas. Embora os diferentes sistemas e subsistemas de memória
também variem sem ser apenas com os locais de armazenamento.

Notas introdutórias:
Existem definições contraditórias de sistemas de memória

À medida que a investigação avança surgem alterações no sentido de tornar as


definições mais precisas

Falta de consenso quanto ao número exato de sistemas e quanto ao seu tipo

Schacter e Tulvinh (1994) definem, pela negativa, um sistema de


memória:
Não é um processo de memória, isto é, uma operação mnésica como a
codificação, repetição ou recuperação

Não é uma tarefa de memória (ex.: uma tarefa de reconhecimento não


pressupões um sistema de memória distinto de outros sistemas)

Memória explícita e implícita não constituem sistema de memória, mas trata-se


de uma diferenciação respeitante ao modo como a memória se expressa.

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Sherry e Schacter (1987) propõem 4 propriedades para se
distinguirem sistemas de memória:
Dissociações Funcionais

Uma VI com efeito numa tarefa que supostamente envolve um sistema de


memória não deverá ter efeito ou deverá ter efeito diferente numa tarefa que
se supõe envolver outro sistema

Bases Neurais diferentes

Um sistema deve estar associado a regiões cerebrais diferentes das de


outro sistema

Independência estocástica

O desempenho numa tarefa que envolve um sistema de memória não deve


correlacionar-se com o desempenho numa tarefa que envolva outro sistema

Incompatibilidade funcional

A função realizada por um sistema não deverá ser desempenhada por outro
sistema

Critérios de Schacter e Tulving (1994)


Operação de inclusão - classe

Um sistema de memória possibilita o desempenho de um nº vasto de


tarefas de uma determinada classe ou categoria, independentemente de
aspetos específicos das tarefas

Propriedades e relações

Um sistema de memória deve ser descrito por uma lista de características e


aspetos que determinam a sua identidade e as suas relações com outros
sistemas

As propriedades remetem para regras de operações, tipo de informação


processada, bases neurais e uma especificação da sua finalidade do p.
de v. evolutivo

um sistema de memória deve ter uma relação precisa com outros


sistemas

Dissociações convergentes

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Existirem múltiplas dissociações únicas ou duplas em várias tarefas,
materiais, técnicas e populações que convirjam para a mesma conclusão.

Apoio Empírico

Maioritariamente proveniente de casos com várias formas de dano cerebral,


nos quais se estudam padrões de défice

Dissociações
Únicas

Uma VI tem efeito num teste/tarefa (ou medidas), a outro teste/tarefa (ou
medidas) ou efeito apenas num teste/tarefa (ou medidas) e não noutro

Duplas

Uma VI provoca efeitos opostos em duas tarefas/testes (ou medidas)

Schacter e Tulvinh (1994): 5 sistemas de memória (11


subsistemas)
Procedimental (habilidades motoras, habilidades cognitivas, condicionamento
simples e aprendizagem associativa simples)

Representações percetivas (forma visual de palavras, forma auditivas de


palavras e descrição estrutural)

Memória primária (visual e auditivas)

Semântico (espacial e relacional)

Episódico

Problemas da perspetiva dos sistemas múltiplos de


memória
Desacordo sobre quais os sistemas de memória e os critérios para os definir

Para alguns autores a memória episódica e a memória semântica são


subsistemas e não sistemas distintos de memória

Para outros os sistemas de memória seriam numerosos e não apenas 5 como


propuseram Schacter e Tulving (1994)

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Faltam critérios para determinar que o nº de sistemas de memória é 5, como
propuseram Schacter e Tulving (1994)

Ex.: a evocação e o reconhecimento cumprem os critérios de Sherry e Schacter


(1987) para constituírem sistemas separados

A V. frequência das palavras provoca dissociações funcionais entre


evocação e reconhecimento

Em indivíduos amnésicos encontram-se dissociações neuropsicológicas


entre evocação e reconhecimento

Não observação de correlações no desempenho entre testes/tarefas de


evocação e reconhecimento

Demonstração de incompatibilidade funcional: o reconhecimento assegura


melhor a memória de odores ou do paladar - evocação

💡 Porém, atualmente, nenhum autor aponta a evocação e o reconhecimento


como sistemas de memória distintos

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A perspetiva de sistemas múltiplos não explica o declínio da memória nas
pessoas idosas saudáveis

ex.: há tarefas de memória episódica que quase não são afetadas pelo
envelhecimento (evocaçáo guiada e reconhecimento), mas o mesmo não
sucede com outras (evocação livre)

Quanto às dissociações

Estas podem ser observadas não apenas entre sistemas, mas também intra-
sistemas de memória

ex.: dissociações intra-sistemas

2 tarefas de memória semântica: variação na codificação de


interpretações semânticas, dos itens a serem recordados, em
participantes com a expectativa de lhes ser aplicado um teste de
evocação do que participantes com a expectativa de responder a um
teste de reconhecimento.

2 tarefas de memória episódica: numa tarefa de reconhecimento de


palavras, envolvendo verificação da categoria de pertença, a V.
frequência das palavras tem um efeito mínimo, mas numa tarefa de
reconhecimento de palavras requerendo decisão lexical o impacto
dessa V. é grande

Variação de dissociações neuropsicológicas

ex.: quando há divergência do grau de dificuldade das tarefas de


recuperação episódicas e semânticas, deixa de se registar a dissociação
neuropsicológica segundo a qual tarefas de recuperação episódica estão
associadas ao CPFD enquanto as tarefas de recuperação semântica
requerem o CPFE, isto é, nesta situação a recuperação semântica está
relacionada com a maior ativação do CPFD - recuperação episódica

Perspetiva dos sistemas múltiplos permite prever diferenças, mas sem


definir a priori a natureza exata das dissociações

ex.: a distinção entre memória episódica e semântica não permite


antecipar que o efeito leque (fan effect) é apenas observado
empiricamente em tarefas de memória episódica (e não em tarefas de
memória semântica)

isto é, se o resultado empírico fosse o oposto (efeito leque só em tarefas


de memória semântica) a distinção entre memória episódica e semântica

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continuaria a ser apoiada pela observação empírica

Conclusão
Ponto de vista de Tulving e Schacter (1990)
A existência de muitas similaridades entre tarefas que se supõem depender de
diferentes sistemas de memória constitui os denominados “efeitos paralelos”, os
quais teoricamente não teriam interesse. Obviamente são esperadas algumas
diferenças entre todas as formas de memória, caso contrário a designação geral
“memória” não se justifica.
A perspetiva dos sistemas múltiplos de memória requer mais investigação com o
objetivo de se estabelecer uma explicação teórica que permite prever quais as V.
que provocam dissociações entre sistemas mnésicos diferentes e se comportam de
modo paralelo

Memória Sensorial
Codifica informação para processamento subsequente noutros armazéns de
memória

Apenas retém informação sensorial (não o significado)

A permanência da informação é muito breve

Visual <1 seg (250-500 mseg.)

Acústica >1 seg (2-3 seg.)

Odores (30 seg. - 2 min.)

Háptica <1 seg

Sistema mnésico mais antigo

Tipos de memória sensorial mais estudados (e o


mais recente)
Memória icónica (designação Neisser, 1967)

Memória ecóica (designação Neisser, 1967)

Memória de odores (Schab & Crowder, 1995)

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Memória icónica (memória sensorial
visual)
A breve retenção de uma imagem de um estímulo visual além da cessação do
estímulo. Essa imagem icônica geralmente dura menos de um segundo. Em um
modelo de memória multistore, a memória icônica precede a memória de curto
prazo. Também chamada de memória sensorial visual.

💡 Rastros de luz: na memória icônica, você percebe uma luz brilhante em


movimento formando uma linha contínua por causa das imagens retidas
na memória sensorial por milissegundos.

Exemplos de memória icónica


Alguém que acorde de noite para beber água, acende a luz da cozinha e, quase
instantaneamente, a lâmpada funde-se e deixa-a às escuras. A pessoa pode ter
uma breve imagem de como era o compartimento, a partir do vislumbre que
conseguiu obter.

Alguém que está a conduzir à noite quando um coelho se atravessa à sua frente
na estrada. A pessoa pode visualizar imediatamente uma imagem do coelho a
atravessar a estrada iluminada pelos faróis.

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Funções da memória icónica
Integração temporal de informação visual - integrar informações visuais ao
longo de um fluxo contínuo de imagens

No córtex visual primário as respostas a um estímulo mais recente contêm


quantidades iguais de informações sobre o estímulo atual e o estímulo
anterior, tal estaria na base quer da integração (as duas imagens
componentes subsequentes, i.e., os ícones são relevantes se sobrepostos)
quer do efeito de máscara (os ícones são relevantes se isolados)

Deteção de mudanças numa cena visual - se duas cenas sucessivas forem


apresentadas sem um intervalo breve em branco (intervalo inter-estimulos ou
ISI), pode detetar-se facilmente uma mudança ou diferenças entre elas, mas se
as duas cenas forem apresentadas separadas por um ISI, observa-se uma
incapacidade para detetar diferenças (cegueira à mudança)

💡 Interpretação: supõe-se que o armazenamento da memória detalhada de


uma cena na memória icónica é apagado por cada ISI, o que torna a
memória inacessível e, consequentemente, diminui a capacidade de fazer
comparações entre cenas sucessivas.

💡 Lembrar: movimentos sacádicos dos olhos são movimentos rápidos que


ocorrem em aproximadamente 30 ms, cada fixação dura
aproximadamente 300 ms

Continuidade da experiência durante os movimentos sacádicos dos olhos

Embora se tenha considerado que a memória icónica possibilitaria a


continuidade fenoménica durante os movimentos sacádicos dos olhos, a
informação armazenada nesta memória seria apagada durante as sacadas;
um fenómeno semelhante ocorre durante o piscar dos olhos, quer
automático quer intencional: perturbação da informação armazenada na
memória icónica; não seria, portanto, este tipo de memória que contribuiria
para a memória trans-sacádica, mas a memória de informação entre
sacadas dependeria, em grande parte, da MCP visual

Características da memória icónica

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Capacidade

Estima-se que a quantidade de informação armazenada seria cerca de 75-


90% (técnicas de Sperling e Averbach)

Duração

Aproximadamente 1/4-1/2 seg. (250-500 ms.)

Conteúdo

Informação de natureza pré-categorial (processamento incide nas


características físicas da estimulação: cor, brilho, forma, posição espacial,
tamanho...)

Sperling (1960)
Paradigma ou técnica do relato parcial

Capacidade da memória icónica

Conteúdo da memória icónica

Duração da memória icónica

Responder 2 questões

Determinação do limite da capacidade de apreensão

Esclarecimento do sentido da frase proferida pelos participantes: “vi mais


itens do que aqueles que consegui dizer”

Técnica do relato total

Solicitar aos participantes que recordem todos os itens que consigam

Resultados: os participantes apenas referiam 4,5 itens (em média) para um


tempo de exposição de 50 mseg.

Hipóteses

Limitação sensorial

Limitação mnésica

Programa de investigação

Relato total variando o tempo de exposição (15-500 mseg.)

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Resultados obtidos: confirmação do valor de 4,5 letras (afastada a
hipótese da limitação sensorial

Relato parcial - após o desaparecimento dos itens

Som grave (250 Hz) - fila inferior

Som médio (650 Hz) - fila intermédia

Som agudo (2500 Hz) - fila superior

Resultados obtidos:

Recordação de quase todas as letras de uma fila

3/4 da informação recordada quando o som surgia 100 mseg após o


desaparecimento dos estímulos

amplitude média de apreensão = 9,1 itens (nº médio letras corretas X nº


filas)

Conclusão

Técnica do relato total subestima a amplitude de apreensão (os


participantes tinham razão: viam mais itens do que aqueles que
conseguiam relatar)

Corroborada a hipótese da limitação mnésica

Duração da memória icónica

Técnica do relato parcial

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Variação do intervalo temporal entre a apresentação dos estímulos e o
aparecimento do sinal sonoro

Intervalo = 1 seg.; nº média = 5 letras (5/12=44%) - valor próximo daquele


que foi obtido com a técnica do relato total

Conteúdo da memória icónica

Cartões com 4 letras e 4 dígitos (dispostos aleatoriamente em 2 filas


com 4 itens)

Técnicas do relato total e do relato parcial (2 tipos de som: um para o


relato das letras e outro para o relato dos dígitos

Resultados: relato parcial (4,5 itens) > relato total; diferença não
estatisticamente significativa

Estudos posteriores

Relato parcial > relato total SE selecionadas características físicas (aspetos


pré-categoriais) dos E

Localização espacial

Cor

Forma

Brilho

Dimensão

Direção do movimento

💡 Nota: existem resultados experienciais que contrariam este

A perda de informação da memória icónica resulta da passagem do tempo, mas o


dispositivo experiencial (utilização de campos pós-exposição claros ou iluminados
evita a entrada subsequente de E visuais) favorece tal interpretação.

O que acontece à memória icónica quando seguidamente se apresenta outro E


visual?

Averbach e Coriell (1961)


Técnica do relato parcial

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Cartões com 2 filas de 8 letras por linha

Tempo de exposição = 50 mseg.

Sinal visual: barra (acima ou abaixo da letra) e/ou circunferência (ocupando a


posição da letra e com um diâmetro que engloba a letra)

Intervalo de atraso de apresentação do sinal a indicar o início do relato da letra


assinalada = 0-500 mseg.

Resultados

Interpretação dos resultados

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Duração da Memória Icónica

Problemas relativos à distinção de uma memória sensorial


visual

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Memória Ecóica (memória sensorial
auditiva)
A retenção da informação auditiva por um breve período (2-3 segundos) após o
término do estímulo. Também chamada de memória sensorial auditiva.

A informação auditiva brevemente armazenada na memória ecóica - o som ecóico -


ressoa na mente e é repetido por um período temporal breve (2 a 3 segundos), logo

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após a apresentação de estímulos auditivos.

Exemplos/funções da memória ecóica


A memória ecóica regista cada nota ouvida, contribuindo para que, a um outro
nível, ocorra a conexão dos sons e o reconhecimento de que se trata de uma
música.

Relativamente à compreensão da linguagem, a memória ecóica regista cada


sílaba ou som, o que permite a ligação com as sílabas seguintes e possibilita o
reconhecimento, a um outro nível, de palavras e frases.

Características da memória ecóica

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Condições de atuação do efeito do sufixo
Quanto < o intervalo temporal entre o último item da lista e o sufixo maior a
interferência

Existência de semelhança física entre o sufico e os últimos itens da lista -


irrelevância do significado do sufixo

Effeito da modalidade Efeito do sufixo

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Tendência para que com uma Quando no fim da lista é apresentado
apresentação auditiva (em vez de auditivamente um item que não precisa
visual) os itens finais da lista sejam de ser lembrado, a memória do último
mais bem lembrados item que precisa de ser lembrado fica
prejudicada

Outros resultados
Experiência de Broadbent (1958): técnica da escuta dicótica

Versão auditiva da tarefa de Sperling: experiência de Darwin, Turvey e Crowder


(1972)

Memória ecóica: escuta dicótica


É apresentado uma lista de 3 números no ouvido direito e 3 números (diferentes) no
esquerdo. É pedido à pessoa para que se lembre da sequência.

Quando o ritmo de apresentação aumenta para 2 pares por segundo há recordação,


em primeiro, dos dígitos apresentados a um dos ouvidos e só depois dos dígitos
apresentados ao outro ouvido

Memória ecóica: escuta dicótica - atenção focalizada - tarefa de


sombreamento
São apresentadas auditivamente uma lista de palavras num ouvido, e outra no
outro.

Resultados
Reprodução apenas de uma das mensagens, aquela identificada pelo sinal

Se o sinal de chamada for redirecionado para a mensagem não esperada,


durante a reprodução dessa mensagem, vai haver recuperação dos últimos
itens antes da mudança de sinal e conservação transitória dos mesmos

Experiência de Darwin, Turvey e Crowder (1972):


versão auditiva da tarefa de Sperling - “o homem dos
3 ouvidos”
Necessidade de encontrar um equivalente auditivo para a disposição espacial no
ecrã e não simplesmente apresentar auditivamente em simultâneo os itens.

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itens dirigidos ao ouvido direito

itens dirigidos ao ouvido esquerdo

itens dirigidos a ambos os ouvidos, dando a sensação de estarem localizados


no meio da cabeça (3º ouvido)

Outra técnica de estudo: Mismatch Negativity -


medida electrofisiológica
Mediante o registo da ativação neural através de eletroencefalografia, esta tarefa
permite medir a memória sensorial auditiva independentemente da atenção

Supõe-se que o MMN traduz um processo automático de deteção de uma diferença


entre um estímulo de entrada e o traço mnésico sensorial de estímulos anteriores

💡 MMN - é o componente negativo de uma onda obtido pela subtração de


potenciais respostas relacionados com o evento de um estímulo frequente
pelas respostas a estímulos raros.

Problemas relativos à distinção de uma memória sensorial


auditiva
Resultados de experiências

Spoehr e Corin (1978) com efeito do sufixo

Campbell e Dodd (1980) com efeito da modalidade


Efeito de sufixo e da modalidade - situações de apresentação visual do material
com labialização por parte do experimentador (o experimentador
silenciosamente labializava o sufixo ou os itens da lista)

Gardiner e Gregg (1979) - tarefa de distração contínua + evocação livre

Efeito de sufixo e da modalidade - no caso da MLP - questionar a interpretação


destes efeitos em termos de um registo sensorial transitório

💡 Nota: se na experiência de Gardiner e Gregg, se substituir a tarefa de


evocação livre por evocação serial, o efeito da modalidade desaparece.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 27


Memória Sensorial de Odores - olfativa

💡 Problema: definição da VI nos estudos sobre a memória sensorial olfativa

💡 No dicionário da APA não aparece entrada para “memória olfativa”

Quando se deteta um cheiro, a sensação deste persiste durante períodos temporais


superiores às sensações produzidas por outros sentidos

Um odor não pode ser experienciado como um flash de forma análoga a um flash
de luz. Os odores difundem-se gradualmente pelo ar e a sensibilidade olfativa
humana não está circunscrita no espaço, ou seja, diferentemente dos sentidos da
visão e da audição, não se consegue obter coordenadas espaciais exatas das
fontes olfativas na ausência de outras pistas físicas

A memória olfativa está relacionada com a memória gustativa, ajuda a identificar


sabores porque moléculas do alimento que se mastiga entram no nariz. Sem cheiro,
apenas seriamos capazes de provar sabores básicos como o doce, salgado, etc.

Experiência de Schab e Crowder (1995) Miles e


Jenkins (2000)
Apresentação de séries com um nº pequeno de odores.

Após um intervalo de retenção curto é apresentado o odor teste

Duração: 30 segundos para uma exatidão elevada, a partir dos 2 minutos dá-se
uma diminuição do desempenho

A repetição elaborada permite melhorar esta memória sensorial

Experiência de Miles e Jenkins (2000) com a técnica


do sufixo
treinar participantes para reconhecer um conjunto de 6 odores - colocar um
frasco com cada odor sob o nariz do participante durante 1 segundo, com um
intervalo de 2 segundos entre cada item

No final da série - apresentação de um sufixo

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 28


Frasco com odor diferente (ex.: cheiro a gengibre)

Frasco sem odor, acompanhado do som da palavra “gengibre” (sufixo


auditivo)

Resultados
Para o sufixo auditivo existe efeito de recência. Para o sufixo olfativo existe efeito do
sufixo na memória de odores.

Memória A Curto Prazo


É a reprodução, reconhecimento ou recuperação de uma quantidade limitada de
material após um período de cerca de 10 a 30 segundos. A STM (short term
memory) é frequentemente teorizada como separada da memória de longo prazo, e
os dois são os componentes do modelo de memória de armazenamento duplo. A
STM é frequentemente testada em exames de inteligência ou neuropsicológicos.

Exemplos:
Lembrar-se de um número de telefone apenas durante o tempo necessário para
o discar/marcar

Lembrar-se do que ouviu dizer há 10 segundos atrás

Amplitude/capacidade

“O mágico nº7+/-2: alguns limites na nossa capacidade para


processar informação” - G. Miller (1956)

A análise de resultados obtidos com diferentes paradigmas levou à criação de


limites de processamento da informação:

Experiências sobre identificação absoluta (identificar sons que apenas diferem


na frequência (HZ)): quando o nº de itens atinge os 8 ou 9, os participantes são
incapazes de os identificar sem erro

Span ou amplitude da memória imediata/primária

Jacobs (1887): span da memória = nº de itens (geralmente dígitos) que


podem se repetidos imediatamente, segundo a ordem de apresentação,

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 29


50% da vezes

💡 Span da memória é de 7 +/- 2 itens

G. Miller (1956)
Como definir um item? - A recodificação da informação em agrupamentos ou
unidades significativas - chunk

H. A. Simon (1974)
Alargamento da ideia de chunk - O nº de chunks recordados é variável

Ericsson e Chase (1982) - SF


Span de dígitos normal - 7 dígitos

Após 200h de treino, o span é de 80-82 dígitos

Técnica usada por SF:

Partindo de uma sequência de dígitos em unidades de 3 ou 4 dígitos, relacionar


essas unidades (chunking) com tempos de corrida

Ex.: 3492 - 3min e 49,2 segundos

Limitações:

Basear-se sempre em unidades de 3 ou 4 dígitos

Não generalizável para o span de letras ou palavras

Não aplicável a sequências aleatórias de 0s e 1s

Cowan (2001)
“O mágico nº4 na memória a curto prazo: uma reconsideração
da capacidade de armazenamento mental”

O nº7 mágico é o resultado: nº mágico mais pequeno, + benefício da repetição


mental e dos processos de agrupamento que ocorrem na mente do indivíduo.

Nas situações em que a repetição mental ou o agrupamento não é possível, ou a


informação é apresentada demasiado depressa ou de forma imprevisível. Também

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 30


pode acontecer que os itens sejam demasiado longos para poderem ser repetidos
mental. Pode-se reter cerca de 3 ou 4 ideias independentes, em média (este nº
pode variar entre 2 a 6).

Código (1)
Experência de Conrad (1964)
Material: listas de letras. Algumas das letras eram fisicamente similares, mas
acusticamente diferentes (ex.: V e X). Outras letras eram fisicamente
dissemelhantes, mas acusticamente parecidas (ex.: V e C)

Procedimento: alguns participantes leram as letras em silêncio, outros ouviram-nas


a ser pronunciadas em voz alta.

Resultado: Independentemente da condição de estudo (ver ou ouvir pronunciar


letras), os erros cometidos na recordação decorriam, principalmente, da similaridade
acústica. Os participantes recordam o som dos itens a serem retidos recorrendo a
uma espécie de discurso interno- código principal da MCP = código de tipo acústico

Experiência de Brandimonte et al. (1992)


Procedimento geral: tarefa mental de transformação de uma imagem por subtração:
mentalmente, retirar uma parte de uma imagem de modo a identificar uma nova
figura no resto da imagem.
Ex.: Se uma corda de saltar (A) se subtrair a corda (B), as pegas da corda parecem
2 cones de gelado

Material: séries de figuras, apresentadas brevemente, que poderiam ser fáceis ou


difíceis de nomear

Procedimento: durante a aprendizagem/estudo das séries de figuras, metade dos


participantes tinha de dizer “la-la-la” em voz alta (supressão articulatória) e a outra
metade permaneceu em silêncio. Todos os participantes tinham de subtrair à 1ª
figura (todo) a 2ª figura (parte) e identificar a nova configuração depois da
apresentação breve de uma parte de cada figura estudada.

💡 Nota: durante a tarefa de subtração, as figuras (a completa e a parte) não


estavam presente - a subtração teria de ser feita mentalmente.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 31


Resultados: nos estímulos facilmente nomeáveis houve um aumento do
desempenho na tarefa de formação de novas imagens, quando a codificação inicial
foi acompanhada da supressão articulatória; nos estímulos difíceis de nomear, a
supressão articulatória não influenciava o desempenho na tarefa.
Interpretação: A capacidade para manipular imagens mentais visuais geradas pela
memória é influenciada pelo tipo de código (verbal ou visual) usado na
aprendizagem dos estímulos. Impedir (através da supressão articulatória) a
tendência para recodificar os estímulos visuais sob a forma verabl vai favorecer o
desempenho na tarefa de formação de imagens mentais visuais. Os resultados vêm
do efeito de sombreamento verbal (ex.: descrever, a partir da memória, a aparência
de uma face prejudica o seu reconhecimento subsequente)

💡 Existe um código visual na MCP

Código (2)
Vários investigadores referem a possibilidade de existir um código semântico
também na memória a curto prazo.
Os sujeitos automaticamente corrigem “não palavras” em frases com palavras
semanticamente corretas.

💡 Ex.: “a criança deu comida aos pavtos do lago” - esta frase é evocada
com a palavra semanticamente correta “patos”.

Experiência da Wickens, Born e Allen (1963)


Procedimento geral

Apresentação auditiva de um trigrama (de consoantes, dígitos ou palavras)

Seguidamente acende-se uma luz verde que indica ao participante que nomeie
as cores de um tambor giratório durante um intervalo de tempo variável, mas
breve

Após esse intervalo ocupado, surge uma luz vermelha a sinalizar o início da
evocação serial

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 32


Grupo de controlo - 4 ensaios com trigramas (de palavras) do mesmo tipo

Grupo experimental - 3 ensaios com trigramas (de palavras) do mesmo tipo + 1


ensaio com um trigrama (de palavras) diferente

Resultados

Grupo de controlo - diminuição do nível de evocação (aumento de interferência


proativa)

Grupos experimentais - aumento do nível de evocação no 4 ensaio (libertação da


interferência proativa)

💡 Evidências de codificação semântica de informação na memória a curto


prazo.

LIP - cálculo

Variáveis que influenciam a LIP


A LIP é maior quando a mudança de material se referre a:

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 33


Palavras - números

Diferente categoria taxonómica (ex.: árvores, animais)

Palavras avaliadas positivamente - palavras avaliadas negativamente (ex.: êxito


- doença

Género (masculino - feminino)

Idioma

Palavras com diferente frequência

A LIP é menor nas:

Alterações físicas (ex.: nº de sílabas ou fonemas; alteração da área de


exposição visual; figura - fundo; modalidade sensorial)

Alterações sintáticas (ex.: verbos - adjetivos e substantivos; tempo verbal;


número singular ou plural)

💡 Nota: além das variáveis manipuladas em laboratório, há situações da


vida quotidiana em que também se observa a LIP (ex.: mudança de
informação sobre assuntos de política para informação desportiva e vice-
versa, nos noticiários)

Duração da Memória a curto prazo


Estimativa baseada na técnica de Brown-Peterson (1959) e
Peterson (1959)
Paradigma de Brown-Peterson:

Trigrama de consoantes

Tarefa distrativa (contagem em sentido ivnerso durante um tempo breve e


variável)

Evocação serial do trigrama

💡 Tarefa distrativa = 3 segundos - 80% evocação correta; tarefa distrativa =


18 segundos - 7% a 10% evocação correta.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 34


Resultados
Evocação é afetada pela tarefa distrativa: quanto maior a duração da tarefa
distrativa, maior o prejuízo causado na evocação.

O traço mnésico deteriora-se em aproximadamente dentro de 20 segundos.

Esquecimento
Se for permitida a repetição mental do trigrama este pode ser retido indefinidamente

💡 Esquecimento - declínio do traço mnésico

💡 Interferência proativa: recordação de informação prévia causa prejuízo na


recordação de nova informação.

💡 Interferência retroativa: recordação de informação nova prejudica a


recordação de informação prévia.

Declínio vs. interferência - Keppel e Underwood (1962)


No paradigma Brown-Peterson, o esquecimento aumenta à medida que cresce o nº
de ensaios. No 1º ensaio do paradigma de Brown-Peterson não há decréscimo da
evocação.

Não há declínio, mas sim interferência proativa.

Experiência de Waugh e Norman (1965) - tarefa de dígitos com


um item de sonda (probe)
Séries de 16 dígitos apresentados sequencialmente

Participantes eram instruídos para não repetirem mentalmente os dígitos


apresentados

Participantes teriam que dizer qual o dígito subsequente à ocorrência prévia do


dígito final

Manipulação do ritmo de apresentação dos itens (variação do intervalo temporal


entre o item alvo e a evocação - fator chave = declínio

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 35


Manipulação do nº de itens interpolados (variação do nº de itens interferentes
entre o item alvo a evocação - fator chave = interferência

Resultados
Ritmo de apresentação - efeito pequeno e inconsciente

Nº de itens interpolados - quanto mais anterior o item sons, menor a probabilidade


de evocação correta do item seguinte

Recuperação
S. Sternberg (1966, 1969)
Técnica baseada na medição do tempo de resposta (TR)

Utilizou o reconhecimento (e não e evocação)

2 possibilidades de busca da informação

Paradigma de busca de Sternberg


Busca paralela

Busca Serial

Auto-terminada

Exaustiva

Experiência de DeRosa e Tkacz (1976)


Material: conjuntos positivos formados por 9 itens diferentes relativos a sequências
ordenadas de estímulos de vários tipos (ex.: saltador para a água, golfista...).
Procedimento geral: apresentação visual de conjuntos positivos com sequências
ordenadas (sequências similares ao padrão observado em situações reais) e
sequências desordenadas (sequências que sistematicamente se afastam da
ordenação usual)

Resultados
Sequências aleatórias - busca serial exaustiva
Sequências ordenadas - busca paralela

A busca serial exaustiva (resultado de Sternberg) apenas seria concordante com a


condição sequências desorganizadas - TR aumenta com a extensão do conjunto

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 36


positivo.
A busca não serial (paralela) para as sequências organizadas - TR independente da
extensão do conjunto positivo.

Memória de Trabalho
Exemplos
Manter na mente o endereço de uma pessoa enquanto ouve instruções sobre
como chegar lá

Ouvir uma sequência de eventos de uma história enquanto tenta entender o que
a história significa

Manter na mente uma fórmula e, ao mesmo, tempo, usar a fórmula para


resolver um problema matemático

Modelo Modal

A. Baddeley e G. Hitch (1974)


Substituíram a conceção “MCP indiferenciada, com capacidade limitada e sede do
efeito de recência” - conceção de memória de trabalho (memória operatória) como
um espaço mental complexo de trabalho

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 37


A MT refere-se não apenas à memória por si só, mas envolve também controlo e
regulação da ação cognitiva.

O que é a MT?
Refere-se aos mecanismos ou processos que estão envolvidos no controlo,
regulação e manutenção ativa de informação de tarefas relevantes para a cognição
complexa, na qual se incluem tarefas especializadas familiares e novas.

Consiste num conjunto de processos de mecanismos não sendo, portanto, um


“lugar” fixo ou uma caixa na arquitetura cognitiva.
Também não se trata de um sistema completamente unitário, uma vez que envolve
múltiplos códigos de representação e/ou subsistemas.
Os limites de capacidade da MT refletem diversos fatores e podem ser uma
propriedade emergente dos vários processos e mecanismos implicados.
A MT está intimamente ligada à MLP e os seus conteúdos consistem,
principalmente, em representações correntemente ativadas na MLP, mas podem
também estender-se a representações da MLP estreitamente relacionadas com
pistas ativadas de recuperação e que, por isso, pode ser rapidamente reativadas.

Baddeley e Hitch - método da tarefa dual


Execução de uma tarefa que absorve a maior parte da capacidade da MCP
enquanto são desempenhadas outras tarefas que também dependem da MCP

ex.: tarefa de amplitude da memória imediata (os participantes têm de manter


na MCP um determinado nº de dígitos, que repetem em voz alta) e tarefa de
compreensão da linguagem ou tarefa de raciocínio

Hipótese: grande sobrecarga da memória envolveria mais recursos mentais -


baixo desempenho na tarefa de raciocínio, por exemplo.

Span de dígitos - medida padrão da capacidade da MCP verbal. Qual o impacto do


span de dígitos concorrente com tarefas de compreensão da linguagem e de
raciocínio?

Resultados esperados
Afirmações mais complexas - tempo de resposta mais longo

Quanto maior o nº de dígitos para manter na memória - menor a rapidez de


resposta

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 38


Resultados obtidos
Tempo gasto na tarefa de raciocínio aumenta com o aumento da sobrecarga
mnésica associado à tarefa concorrente de amplitude da memória imediata

O efeito da sobrecarga não é catastrófico. Com a repetição concorrente de 8


dígitos, o aumento do tempo de resposta na tarefa de raciocínio é de apenas
35% aproximadamente. A taxa de erros permanece relativamente constante, à
volta de 5%.

Memória de Trabalho
A conceção segundo a qual existe apenas um armazém unitário cuja capacidade
seria completamente esgotada quando se atinge o limite da amplitude (span) da
memória imediata - não explica os resultados obtidos

Caso KF (descrito por Warrignton e Shallice, 1969)


MCP deficitária (aproximadamente 2 dígitos)

Desempenho muito baixo na tarefa de Brown-Peterson

Funcionamento cognitivo geral relativamente preservado

MCP vs. MT
A MCP pode ser pensada como uma parte da MT (MCP envolve apenas
armazenamento, a MT envolve ainda o processamento)

Modelos MT
MTLP (memória de peritos; Ericsson & Kintsch, 1999) - memória de trabalho como
memória a longo prazo ativada

Modelo de múltiplos componentes de Baddeley e


Hitch (1974)
Sistema executivo/diretivo central (central executive)

2 sistemas “escravos”

Ciclo fonológico

Quadro ou bloco de esboços visuo-espacial

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 39


Sistemas de armazenamento
Ciclo fonológico

Armazém fonológico passivo

Sistema ativo de repetição

Bloco de esboços visuo-espacial

Registo visual passivo

Sistema ativo de inscrição interna de natureza espacial

Sistemas de processamento
Executivo central

Responsável pela seleção de estratégias e integração de informação

Não armazena informação

Executivo central Ciclo fonológico


Componente atencional. Componente verbal
Sistema de atenção com capacidade Manipulação de informação baseada
limitada que controla os sistemas no discurso, envolve a repetição, a
“escravos” subsidiários e articula-os maior parte das vezes, através de
com a MLP discurso subvocal, do traço mnésico

Bloco de esboços visuo-espaciais


Componente visual, espacial e, provavelmente, quinestésico.

Associado à formação e manipulação de imagens visuais, permite o


armazenamento temporário da aparência de objetos e cenas.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 40


Ciclo fonológico
Componente da MT mais estudado inclui:

Armazém fonológico que mantém a informação durante 2 segundos


aproximadamente

Processo de controlo articulatório que permite

restaurar o traço mnésico no armazém fonológico, através de repetição


subvocal

Converter material escrito num código fonológico para ficar registado no


armazém fonológico

Resultados experimentais favoráveis


Efeito da similaridade acústica

Tendência para se cometerem erros que são fonologicamente semelhantes ao


item correto

Ex.: F em vez de S, D em vez de B

Dificuldade em recordar, na ordem correta, sequências de itens com


características acústicas parecidas

DBCTP mais difícil do que KWYLX

fá, já, má, dá - mais difícil de evocar

Explicação do efeito do discurso irrelevante

O discurso acede ao armazém a curto prazo baseado no discurso, apesar de se


tentar ignorá-lo e corrompe o traço mnésico

O ruído não entra neste armazém - filtro que permite a distinção entre ruído e
discurso

A observação de que a música instrumental teria apenas um efeito pequeno na


memória - Baddeley afirmar que este resultado seria importante para esclarecer
a natureza do processo de filtragem do som

Efeito do comprimento das palavras

Sequências de palavras mais curtas são mais fáceis de recordar; sequências de


palavras mais longas, independentemente do nº de palavras existente nas
sequências - o tempo de pronunciação influencia a capacidade do ciclo
fonológico.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 41


Explicação do efeito do comprimento das palavras

As palavras são repetidas subvocalmente

Quanto mais comprida for uma palavra, maior o tempo gasto na repetição das
sílabas que a compõem - aumento da possibilidade de evanescência do traço
mnésico das primeiras palavras.

Testar a explicação do efeito do comprimento das palavras

Supressão articulatória - impedimento da repetição subvocal mediante dizer


algo rapidamente;

Hipótese: impedimento da repetição subvocal - eliminação do efeito do


comprimento das palavras;

Experiência: durante a apresentação visual ou auditiva de palavras curtas e


longas era pedido para repetir, em voz alta, a palavra “the”;

Resultado: decréscimo considerável do desempenho mnésico desapareceu o


efeito do comprimento das palavras;

Outros resultados com a supressão articulatória

Eliminação do efeito da similaridade acústica (material apresentado


visualmente)

Eliminação do efeito do discurso irrelevante - o material apresentado


visualmente não é convertido num código fonológico, logo não é registado no
armazém fonológico

Baddeley e cols (1975): investigaram o efeito do comprimento


das palavras considerando o tempo de pronunciação
Controlaram o significado e a frequência das palavras

Verificaram que se uma sequência de palavras demorava menos tempo a ser


pronunciada, o desempenho mnésico aumentava para palavras mais curtas

💡 Efeito do comprimento das palavras baseado no tempo - as palavras


apenas diferiam quanto ao tempo de pronunciação.

Suposição: se a velocidade do ciclo articulatório correspondente à possibilidade


de repetição subvocal está correlacionada com a pronunciação manifestada,

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 42


então o span da memória (s) para o item verbal (i) é uma função linear do ritmo
de pronunciação (r) e da duração do traço mnésico (t).

s = rt | Permite calcular a duração do traço caso o s e r sejam conhecidos pelo


experimentador

Schweickert e Boruff (1986)


Previram que o traço mnésico duraria, em média, 1.6 segundos

Consistência deste resultado: o efeito do comprimento das palavras como


indicador mais importante do caráter transitório do armazenamento mnésico

Papel Importante
Aprendizagem da língua materna

Ritmo de aprendizagem de uma língua estrangeira

Aprendizagem da leitura

Aquisição de vocabulário

Bloco de esboços visuo-espacial


Armazenamento e manipulação de informação visual (ex.: imagens mentais) e
espacial (ex.: localizações). Tem os seus próprios recursos limitados (independentes
do ciclo fonológico)

Experiência de Baddeley, grant, Wight e Thomson (1973)


Visualização de letras maiúsculas e simultaneamente perseguição de um ponto
luminoso em movimento segundo uma trajetória circular.

Perante uma letra maiúscula (F) responder “sim” se os cantos dessa letra
pertencem ao topo ou à base e “não” quando não é esse o caso, ao mesmo tempo
que se segue, com um ponteiro, a trajetória de um ponto luminoso

Resultado
Participantes tinham grande dificuldade em seguir o ponto luminoso enquanto
visualizavam a letra.
Outra tarefa: perseguição de um ponto luminoso + tarefa de memória imediata
baseada em imagens mentais (imagery).

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Resultado: dificuldade em executar a tarefa baseada em imagens mentais, mas se
a tarefa de memória imediata fosse baseada em material suscetível de codificação
verbal essa dificuldade desaparecia.

Executivo Central
Componente mais complexo, mais difícil de estudar

Coordenação dos sistemas subsidiários da MT

Foca a atenção na informação relevante e inibe a que é irrelevante

Planeamento de sequências de tarefas para alcançar metas, programação de


processos em tarefas complexas, frequentemente comuta a atenção entre
diferentes partes

Atualiza e verifica os conteúdos para determinar o próximo passo numa


sequência de partes

Estratégias de codificação e de recuperação

Manipulação mental de material mantido no armazém fonológico e no registo


visual

Span auditivo e de leitura


Instruções: ler cada uma das frases em voz alta e fixar a última palavra de cada
frase, segundo a ordem de apresentação - recordar a última palavra de cada uma
das frases

Span de contagem
Procedimento: o participante deverá contar em voz alta, os itens alvo e dizer o total
dessa contagem. Após terminar uma série ou bloco, o participante deverá dizer, por
ordem, os resultados das contagens prévias.

Span (auditivo e de leitura) da MT


Existe variação do nº de palavras finais das frases que as pessoas conseguem
recordar (2-6).

O nº de palavras recordadas é considerado uma medida do “span” da MT, isto


é, a capacidade (span) para manter uma sobrecarga mnésica enquanto ocorre
processamento.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 44


Pressupõe um sistema único de caráter geral tanto para o processamento como
para o armazenamento.

Span de processamento + armazenamento da MT


Frequentemente designado “span da MT”.

Contrasta com o span de dígitos (este apenas envolve memorização).

Span da MT está correlacionado com outras medidas de aptidão mental - span


de dígitos apresenta uma correlação fraca com essas medidas de aptidão.

Span da MT proporciona uma medida geral da aptidão e não apenas da


linguagem - correlações elevadas com medidas de inteligência geral fluida ou
“g” (Kane & Engle, 2002)

Modelo de MT (Baddeley, 2000)

💡 Novo componente da MT: buffer episódico

Armazenamento transitório de representações multidimensionais (integração de


informação de várias modalidades)

Ligar informação de outros componentes da MT

Mantém informação integrada no tempo e no espaço

O modo principal de recuperação é o conhecimento consciente

É controlado pelo executivo central e interage com a MLP, tal como os outros
componentes

Explica como se consegue recordar informação quando se procede à supressão


articulatória

Auxilia a recordação serial

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 45


Em 2007 é acrescentado um 5º componente de MT - influência de variáveis de
natureza emocional na MT

💡 Hipótese do detetor gedónico - existe um sistema capaz de selecionar, no


buffer episódico, as associações positivas e negativas de um objeto ou
representação.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 46


Memória não declarativa - aprendizagem
não associativa
Exemplos de habituação - aprendizagem não
associativa
Os patos num lago pequeno de um parque têm medo das pessoas e voam para
longe quando estas se aproximam. Eles acostumam-se com as pessoas ao
longo do tempo, à medida que interagem com estas e à medida que elas lhes
dão comida.

Um indivíduo compra um relógio novo e inicialmente tem dificuldade em se


concentrar enquanto trabalha na sala por causa do tique-taque do relógio.
Alguns dias depois, a pessoa deixa de ter essa dificuldade devido à habituação

O cheiro de uma fábrica de chocolate inicialmente incomoda uma pessoa que


consegue um emprego perto. Um ano depois, o indivíduo nem se apercebe do
cheiro, a menos que pense nisso.

Aprendizagem não-associativa

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 47


Um processo no qual o comportamento do organismo perante um estímulo
específico muda ao longo do tempo na ausência de qualquer ligação evidente com
as suas consequências ou outros estímulos que induziriam a tal mudança. A
aprendizagem não associativa é baseada na frequência. Há duas formas principais:
a habituação e a sensitização

Aprendizagem associativa
O processo no qual se adquire informação nova ou reforçante a partir da formação
de vínculos ou conecções entre elementos. Nos diferentes tipos de teorias de
aprendizagem associativista, estes elementos podem ser estímulos e respostas,
representações mentais de eventos ou elementos nas suas redes neutras.

Ocorrência de mudança no grau de resposta


Habituação
Exemplo: tique-taque do relógio

Diminuição da resposta de um organismo a estimulação repetida

Quando o estímulo é rítmico

Estímulo de intensidade baixa e moderada

Pode ser a curto ou a longo prazo

Específica a um estímulo

Sensibilização
Aumento da resposta de um organismo a estimulação repetida

Quando o estímulo é aversivo

Estímulo de intensidade elevada (geralmente)

Temporária - com estimulação forte, os efeitos duram mais tempo

Não é muito específica a um estímulo (se um organismo fica num estado de


ativação, tal pode acontecer com outros estímulos

Habituação
A. Com a passagem do tempo, a
resposta diminui

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 48


B. Após um intervalo de descanso,
existe recuperação espontânea parcial

C. Se o tempo do intervalo de
descanso for suficiente, existe
recuperação espontânea completa

Habituação a curto prazo


Breves apresentações de um estímulo e intervalo curto entre apresentações -
ocorre rapidamente a habituação

Recuperação - duração do intervalo de descanso

Habituação a longo prazo


Intervalo mais longo entre apresentação do estímulo - mais efeitos a longo
prazo; menos recuperação

Memória não declarativa - Aprendizagem


associativa básica
Condicionamento operante: aprendizagem sobre
consequências
No condicionamento instrumental (termo proposto por Hilgard e Marquis) e operante
(denominação de Skinner) o procedimento a aplicar depende do comportamento
exibido (a resposta desempenha um papel decisivo. Ou seja, no condicionamento
instrumental o aparecimento do reforço depende da execução de um determinado
comportamento prévio.

Na caixa-problema (puzzle-box) de Thorndike ou nos diversos labirintos, a resposta


é instrumental relativamente ao resultado - apenas a execução da resposta
apropriada gera a obtenção do reforço.

Skinner, em 1938, propôs

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 49


A designação operante para respostas emitidas, isto é, que não se podem
depreender a partir da presença de um estímulo

O termo respondente, em Skinner determina as respostas que são deduzidas


ou compreendidas com base em estímulos conhecidos (ex.: a contração pupilar
provocada pela luz, ou o fechar da pálpebra desencadeado por uma lufada de
ar) - tipo de respostas característico no condicionamento clássico

Condicionamento operante: o reforço é contingente à resposta

💡 O aparecimento do estímulo reforçador depende da ocorrência da R

Nota 1: condicionamento instrumental (e operante) a R não se aparenta à resposta


ao reforço (ex.: pressionar uma alavanca é diferente da resposta salivar).
Nota 2: noção de resposta operante (ou simplesmente, operante) apresentada por
Skinner não exclui, absolutamente, a possibilidade de referência a um estímulo
prévio.

Nesta situação, a R é denominada operante discriminada e o E (estímulo


discriminativo) é concetualizado como:

Proporcionado apenas uma ocasião para a operante

Exercendo um controlo sobre a operante (controlo de estímulo) no contexto de


uma aprendizagem discriminativa

Diferenças entre condicionamento intrumental e


condicionamento operante
1. Aparelhos laboratoriais
No condicionamento operante, os aparelhos foram concebidos de tal modo que: a
execução da resposta pretendida requer um tempo consideravelmente curto; a
administração do reforço ocorre na proximidade do local de execução dessa
resposta.

Após uma sequência resposta-reforço, o animal poderá de imediato voltar a


responder - o dispositivo permite que uma determinada resposta seja
continuamente possível proporcionando um procedimento operante livre.

2. Procedimentos do condicionamento

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 50


Os ensaios discretos típicos do condicionamento instrumental raramente são
utilizados no condicionamento operante. A unidade ensaio dá lugar à sessão
experimental, definida por uma certa duração ou pela obtenção de um nº,
previamente fixado, de reforços.

💡 O animal permanece no aparelho laboratorial (cuja disponibilidade de


utilização é constante, como se referiu) durante toda a sessão.

Aplicação intermitente do reforço contrariamente ao que se passa no


condicionamento instrumental (neste caso cada resposta correta é seguida de
reforço) - rapidez com que são executadas as respostas operantes exigidas;
ausência de ensaios separados

Brevidade das respostas operantes - a medida das respostas = proporção ou o


ritmo de R

3.
Privilégio da análise de respostas de sujeitos individuais - exige a obtenção do nível
operante de resposta ou da linha-base da tarefa operante livre (free operant
baseline).

4.
O interesse nas variáveis que afetam a aquisição de operantes é secundário;
conhecimento daquelas que influenciam a manutenção do comportamento/resposta
operante.
A atenção é dirigida para os fatores implicados na execução de uma operante, após
se ter alcançado um nível estável ou a assímptota.

Para que uma determinada operante ocorra (por ex.: um rato pressionar uma
alavanca) é necessário proceder a um treino do animal.

Skinner comprovou a relevância da técnica de shaping de resposta ao ensinar


habilidades complexas aos animais (ex.: pombos a jogarem uma versão simplificada
de ping-pong) - esta técnica vem reforçar todas as respostas que gradualmente se
aproximam do comportamento pretendido.

Trata-se da aplicação contínua do reforço (abreviadamente designada reforço


contínuo) a respostas que sucessivamente permitem reduzir a distância à resposta
pretendida - procede-se a uma administração diferencial do reforço.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 51


Mas, uma vez adquirida, a resposta operante pode ser mantida mediante um regime
intermitente de reforço (sumariamente nomeado reforço intermitente)

Condicionamento Operante
Tipos e programas básicos de reforço intermitente
Distinguem-se, habitualmente, 4 programas básicos consoante o critério utilizado
(fixo ou variável) se refira: ao nº de respostas necessárias à obtenção do reforço; ao
tempo decorrido desde a distribuição do último reforço.

Nas curvas cumulativas de resposta que traduzem o desempenho assimptótico


típico nos 4 programas básicos skinnerianos observam-se os seguintes padrões.

Programas IF
Apresentam um aspeto recortado em
forma de concha: após a obtenção do
reforço, o ritmo de resposta é
consideravelmente lento; à medida que
se aproxima o momento de receber um
novo reforço, a taxa de resposta torna-
se positivamente acelerada.

Programas IV
O desempenho exibe um ritmo de
resposta uniforme e estável: utilizado
para a obtenção de linhas-base;
respostas treinada segundo este

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 52


programa são particularmente
resistentes à extinção.

Programas RF
Imediatamente após a apresentação do
reforço há uma pausa que Skinner
comparou à abulia: pausas pós-reforço
variam diretamente com o valor
escolhido da razão; seguindo-se um
período em que o ritmo de resposta é
abruptamente muito elevado e regular.

Programas RV
Produzem um ritmo de resposta:
uniforme; elevado - irrupções rápidas
de resposta tendem a alcançar o
reforço mais rapidamente e,
consequentemente, são
preferentemente reforçadas.

Nota 0: os gráficos anteriores mostram apenas uma parte do registo cumulativo de


respostas

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 53


Nota 1: a linearidade das curvas observadas nos programas IV e RV salientam o
caráter imprevisível do momento de obtenção do reforço

Nota 2: para taxas de reforço equivalentes, os ritmos de resposta verificados nos


programas de razão são cerca de 1.5 a 3 vezes superiores àqueles encontrados
nos programas de intervalo

Nota 3: a resistência à extinção é elevada para respostas mantidas com programas


de critério variável.

Outros programas de reforço intermitente


Existe grande variedade de programas de reforço, a maioria dos quais foi
investigada por Ferster e Skinner (1957). Como exemplo, ir-se-ão apenas referir

Programas induzidos pelos desempenhos (schedule-induced performances)

Programas múltiplos e mistos

Programas em cadeia (chain schedules) e tandem

Programas concorrentes

Programas induzidos pelo desempenho


Programas baseados no tempo inter-respostas segundo os quais se procede ao
reforço diferencial

De taxas baixas.

O reforço é apresentado apenas quando um intervalo longo inter-respostas


é observado (12 segundos entre duas respostas seguidas)

De taxas elevadas.

Considera-se um único tempo breve inter-respostas ou um conjunto de


tempos rápidos inter-respostas (20 respostas em 25 segundos)

Nos programas de reforço diferencial de taxas baixas - a taxa de resposta é


pequena e está relacionada com a duração fixada para o intervalo inter-respostas.

Nos programas de reforço diferencial de taxas elevadas - obter proporções grandes


de respostas.

Programas múltiplos e mistos


Programas múltiplos - apresentação sucessiva de dois ou mais programas,
correlacionados com estímulos diferentes

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 54


Exemplo: apresentação de uma luz verde associada a um programa IF=30
segundos e seguidamente de uma luz amarela associada a um programa
IV=30 segundos

Programas mistos

Programas tandem e em cadeia


Programas em cadeia - programas compostos (os programas tandem são
também programas compostos), nos quais apenas existe reforço quando
termina a sequência de programas componentes

Cada um dos componentes é também associado a um estímulo diferente

Exemplo: programa em cadeia IF=30seg - IF=2min, quando for emitida uma


resposta após um período temporal de 30 seg é dado início ao programa IF=2min; o
reforço é administrado quando surgir uma resposta decorrido um lapso de tempo
igual a 2 min.

Programas concorrentes
Duas ou mais respostas diferentes são possíveis, estando cada uma delas sujeita a
um programa próprio separado ou independente.

Existem dois métodos de especificação de programas concorrentes: procedimento


com duas chaves e procedimento de comutação da chave.

Comportamentos de escolha
No condicionamento operante, o comportamento de escolha é habitualmente
estudado recorrendo a programas concorrentes.

Responder implica sempre uma escolha entre possibilidades diferentes, no mínimo,


entre duas: responder ou não responder.

Herrnstein (1961) - lei de matching que estabelece uma relação entre as taxas de
resposta e de reforço

Experiência de Herrnstein:
Vários pombos foram colocados em situações com programas concorrentes IV IV

2 chaves de resposta, simultaneamente disponíveis;

Associadas a programas de IV diferentes - pombos teriam então que escolher


entre as chaves

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 55


Resultados:
De acordo com o senso comum, esperava-se que os pombos preferissem o
programa com a taxa de reforço mais vantajosa. Mas, Herrnstein verificou que os
animais repartiam as suas respostas de acordo com a possibilidade destas serem
reforçadas - as respostas para cada uma fas chaves condiziam com a frequência
relativa de reforços dispensados por cada uma delas.

Lei de matching
Exemplo: programa a - IV=1 min, programa b - IV=2min aplicados durante uma
sessão de 1 hora.

Se a taxa de respostas do animal for estável para ambos os programas, durante 1


hora no programa a o nº de reforços obtido será o dobro relativamente ao programa
b.

No IV=1 serão dispensados 60 reforços numa hora contra 30 (60min/2)


administrados no programa IV=2.

Assim 60/(60+30) = 0,67

Herrnstein nas suas experiências observou que o quociente entre o nº de respostas


para a chave a e o nº total de respostas era também 0,67. 1 horas, os pombos
passariam 67% do tempo a responder à chave a.

Conclusão
Perante 2 programas desiguais quanto à frequência do reforço - os animais não
escolhem simplesmente aquele que, isoladamente, lhes é mais favorável, mas
distribuem as suas respostas por ambos de acordo com a proporção de reforços
disponíveis em cada um deles.

A repartição das respostas obedece a um princípio: a frequência relativa de


resposta a uma chave/programa equivale à frequência relativa do reforço
dispensado pelo programa associado a essa chave.

A lei de matching - predizer a repartição das operantes, bastando para tal conhecer
as taxas de reforço.

De acordo com a lei de matching: programas concorrentes IV IV - preferência


parcial (ou não exclusiva); programas concorrentes RV RV - preferência exclusiva,
por um dos programas.

Mas esta lei não permite prever qual dos programas RV será escolhido pelos
sujeitos. A preferência exclusiva por qualquer deles satisfaz a equação de matching.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 56


Se o sujeito responder sempre a qualquer um dos programas RV receberá 100% do
reforço disponibilizado pelo programa escolhido e, por isso, a equação é verificada.
No caso dos programas concorrentes IV IV, enquanto o sujeito está a responder a
um dos programas, a probabilidade de receber reforço no outro programa IV vai
aumentando, em determinados momentos.

Princípio de melhoramento (melioration) - o sujeito investe maior quantidade de


tempo e/ou de esforço na melhor alternativa. No caso dos programas concorrentes
RV RV, o sujeito lege aquele que apresetna a razão/proporção reforço: resposta
mais favorável (programa cujo o valor de razão é mais pequeno).

O princípio de melhoramento permite prever:

a preferência exclusiva pelo melhor dos programas RV (comportamento


observado empiricamente)

o comportamento de matching quando se trata de escolher entre dois


programas IV (os sujeitos mudam a sua resposta para a alternativa que no
momento oferece uma proporção.

Aprendizagem de probabilidades

💡 Um princípio de comportamento de escolha no qual a probabilidade da


resposta tende a aproximar-se da probabilidade do reforço.

Experiência de adivinhação da luz de Humphreys (1939)


2 lâmpadas são aleatoriamente acesas, por exemplo, a do lado esquerdo em 80%
dos ensaios e a do lado direito em 20% e o participante (que desconhece esta
informação) tenta prever qual das duas lâmpadas irá acender-se em cada ensaio

Resultados

As pessoas tipicamente começam por distribuir os seus palpites de forma


aproximadamente igualmente entre as duas opções.

A seguir aumentam a frequência de escolher a lâmpada que fica iluminada com


mais frequência e, finalmente, depois de muitos ensaios, geralmente utilizam
uma estratégia de correspondência não ótima de escolher 80% à esquerda e
20% à direita.

Esta estratégia de correspondência produz uma probabilidade de (.8)(.8) +


(.2)(.2) de estar correto, o que traduz 68% de adivinhações corretas.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 57


Tal não é uma estratégia ótima porque a estratégia de escolher só a lâmpada
mais frequentemente iluminada em cada ensaio produz 80% de palpites
corretos.

Tarefa de previsão do tempo de Gluck & Bower, 1988


Material:

4 cartas de Tarot + regra probabilística baseada nas cartas individuais, em que


cada carta é um preditor parcialmente correto do tempo.

Procedimento:

São apresentadas 1, 2 ou 3 das cartas em cada ensaio e o indivíduo tem de


adivinhar se o tempo será chuva ou sol;

O experimentador manipula a situação de modo que a probabilidade de uma


dada carta ou combinação de cartas signifique chuva seja <1 (por exemplo,
uma carta sol em 57% das vezes e chuva em 43% das vezes;

O indivíduo é informado, em cada ensaio, se a sua resposta é “correta” ou


“errada”

Resultados:

Início, os participantes adivinham chuva ou sol ao acaso em cada ensaio, mas com
muitos ensaios de prática, melhora significativamente as suas previsões do tempo.
Porém, os indivíduos desconhecem que estão a melhorar, isto é, não conseguem
estabelecer o que está a reger as suas respostas com êxito.

O indivíduo não pode simplesmente memorizar as relações entre as cartas e o


tempo (chuva ou sol) porque essas relações são consideravelmente menos que
perfeitas.

Os participantes com Parkinson com lesão no estriado não conseguem melhorar o


seu desempenho nesta tarefa. Amnésicos com lesão no hipocampo e no LMT
conseguem melhorar o seu desempenho com o decorrer dos ensaios.

Outra interpretação (Estes, 1976) que envolve representação


cognitiva
Problema:

Como é que a informação sobre probabilidades é representada no sistema


mnésico?

Memória episódica:

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 58


O comportamento preditivo permite fazer uma comparação do novo padrão de
estimulação com vários esquemas armazenados na memória, esperando-se que o
resultado da situação presente seja o mesmo que o da situação + similar
representada na memória.

Memória categorial (semântica)

= representações das frequências relativas de classes ou categorias na memória.

Resultados

Comportamento preditivo permite fazer uma combinação da aprendizagem de


frequências categoriais e da tentativa de aprender padrões sequenciais que
conduzam à predição eficiente.

Base do comportamento preditivo:

Não seria uma estimação de probabilidades, mas um registo na memória


das frequências passadas dos eventos e, nesse registo, a informação sobre
as frequências dos estímulos envolve um compromisso (trade-off) com a
informação sobre a probabilidade de vários estímulos conduzirem a
resultados de ganhos ou de perdas.

Participante é extremamente eficiente a adquirir informação sobre frequências


relativas de eventos.

Em determinadas circunstâncias, a informação adquirida pelo indivíduo leva-se


a fazer juízos que parecem refletir diferenças nas probabilidades dos eventos
com grande fidelidade.

Noutras circunstâncias ligeiramente diferentes (a operação igualmente eficiente


do mesmo processo de aprendizagem conduz a) juízos de probabilidades dos
eventos amplamente em desacordo com as probabilidades reais.

O compromisso (trade-off) entre frequência do estímulo e probabilidade do


resultado observado em várias experiências parece indicar

indivíduo confunde familiaridade de um estímulo com a probabilidade de


que esse estímulo conduza a um resultado ganhador

Mas a frequência do estímulo, por si só, não influencia a probabilidade de


escolha - os efeitos observados são atribuídos à ineficácia ou enviesamento
no processo de codificação dos eventos na memória

O indivíduo categoriza os eventos envolvidos na tarefa e depois aprende as


frequências relativas dentro das classes/categorias. No entanto, devido à falta de

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 59


treino adequado ou à limitação da capacidade mnésica - o indivíduo nem sempre
leva o processo de categorização suficientemente por diante para ter um
desempenho ótimo numa dada tarefa.

Aprendizagem de probabilidades = derivada da aprendizagem de frequências, em


que o aprendiz traduz o pedido de predições baseado em probabilidades num
pedido de juízos de frequências relativas.

O termo “aprendizagem de probabilidades” seria, num certo sentido, impróprio. A


aprendizagem de probabilidade ≠ processo básico ou unitário ou manifestação
direta da capacidade de perceber a estrutura estatística da sequência de eventos. A
aprendizagem de probabilidades = tipo de situação problema, mais do que um tipo
de aprendizagem.

Resumo
Aprendizagem de probabilidades permite aprendizagem de frequências

Indivíduo categoriza os eventos e forma representações na memória sobre as


frequências relativa de categorias de eventos

Consoante as exigências da tarefa, as respostas preditivas são

Reflexo direto dos juízos de frequências relativas

Regem-se por estratégias que envolvem um nível de codificação adicional


das categorias de eventos

Condicionamento Clássico
Exemplos de respostas adquiridas por condicionamento
clássico
Respostas autonómicas

Salivação

Atividade eletrodérmica; resposta galvânica da pele

Resposta do sistema imunitário

Glicemia

Secreção da bílis

Estímulos incondicionais

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 60


Alimento

Choque elétrico ou ruído estrondoso

Ciclofosfamida

Insulina

Substância ácida

Um tipo de aprendizagem no qual inicialmente, um estímulo neutro - estímulo


condicionado - quando junto com um estímulo que provoca uma resposta reflexa -
estímulo incondicionado - forma uma resposta condicionada. Também chamado de
condicionamento Pavloviano

Aquisição
EI - estímulo incondicional

RI - resposta incondicional

EN - estímulo neutro

RO - reação de orientação

EC - estímulo condicional

RC - resposta condicional

Protocolo experimental pavloviano


Antes do condicionamento

EI apresentado isoladamente (ex.: carne) - RI (salivação)

EN exibido sozinho (som) - RO temporária (olhar em direção à fonte sonora -


habituação)

Ensaios de condicionamento

EN + EI - salivação

Após o estabelecimento do condicionamento

EC desacompanhado do EI - RC (salivação)

Técnicas/procedimentos ulteriores

Supressão condicional (resposta emocional condicionada ou condicionamento


do medo)

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 61


Autoshaping

Condicionamento aversivo alimentar (toxicose condicional)

Supressão condicional ou resposta emocional condicionada ou


condicionamento do medo

Historicamente, a origem desta técnica remonta ao condicionamento do medo:


experiência de Watson (1924) com uma criança de 11 meses (conhecida por
pequeno Alberto).

Sistematização atual foi efetuada por Estes e Skinner (1941).

1ª fase: obtenção de uma linha-base uniforme de resposta - treino do indivíduo


(ex.: rato é treinado para pressionar uma alavanca) para que o débito de
resposta instrumental (resposta para obter o alimento) seja, em média,
constante durante a sessão.

2ª fase: apresenta-se EC (luz) e logo a seguir o EI (choque elétrico)

Resultado: após vários ensaios com o par EC+EI - supressão da resposta (da
pressão da alavanca) durante a apresentação de EC

Média: razão de supressão

A = nº de respostas durante a exposição de EC, durante um certo intervalo


de tempo

B = nº de respostas sem ocorrência do EC (pré-EC), durante um intervalo


de tempo igual ao utilizado para A

💡 Quanto menor o valor da razão de supressão, + forte é o


condicionamento de supressão.

Autoshaping (Brown e Jenkins, 1968)


Comportamento ocorrido quando o reforço é apresentado independentemente da
resposta exibida. Caixa de Skinner (um pombo), quando se ilumina a chave de
resposta (disco de plástico translúcido), surge o alimento (grão de milho).

💡 Nota: não é necessária a execução de uma resposta específica por parte


do pombo esfomeado; esperar pela iluminação da chave permite comer o
milho.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 62


Resultado:

Após um nº suficiente de emparelhamentos chave iluminado + alimento -


pombos bicam a chave iluminada (embora esta resposta não seja
necessária para obter comida)

Observou-se ainda que os pombos, nestas condições, não só bicam a chave


iluminada - fenómeno de autoshaping - como também permanecem
próximos da chave durante quase todo o tempo que estão na caixa de
Skinner

Aproximação e contacto com um E que sinaliza o EI - sign-tracking

Condicionamento aversivo alimentar (Garcia et al., 1968)

Ingestão de um substância (EC - solução sacarina) + indução de um estado de


doença (EI - injeção de cloreto de lítio, irradiação X, rotação rápida do corpo) = R
aversiva do sabor (sacarina)

💡 Nota: esta técnica pôs em causa ideias estabelecidas sobre o


condicionamento clássico.

Necessidade de repetição EC+EI = RC (frequentemente, basta uma única


apresentação do par EC+EI)

Caráter necessário do ISI (intervalo interestímulos) ser breve (+/- 0,5 seg.) -
podem utilizar-se intervalos EC-EI com duração de horas

Generalização da aquisição

Aquisição de uma RC - modificação nos efeitos de outros estímulos parecidos


ao EC.

Determinados estímulos que nunca foram reforçados - RC desde que tenham


similitudes com um EC.

Gradiente de generalização: relação entre a força da RC e a diferença da


magnitude de outros estímulos relativamente ao EC.

Generalização semântica

Razran (1939)

Apresentação de palavras (EC) enquanto os sujeitos estavam a comer -


style, urn, freeze, surf

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Teste da RC (salivação) para

Palavras homófonas - stile, earn, frieze, serf

Palavras sinónimas - fashion, vase, chill, wave

Salivação com as palavras homófonas, mas esta foi superior no caso das
palavras sinónimas - generalização para o som e o significado

Discriminação condicional

Treino discriminativo:

EC+ é emparelhado com o EI

EC- é apresentado na ausência do EI

Pavlov (1927)

EC+ objeto era rodado segundo os ponteiros do relógio

EC- objeto era rodado no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio

💡 Cães aprenderam a salivar apenas ao EC+

Neurose experimental (Changuer-Krestovnikova)

Circunferência iluminada + EI (alimento)

Elipse (eixos 2:1) + EI

Discriminação - RC só para a circunferência

Transformações sucessivas dos eixos da elipse até a elipse para se parecer


cada vez mais com a circunferência

Semieixos 9:8 - discriminação incompleta e temporária

Mais tarde não existia nenhuma das discriminações anteriores e o animal


ficou num estado de hiperexcitação (muito agitado e ladrava muito)

Condicionamento indireto - pré-condicionamento sensorial

som + luz e EI, vários ensaios

som + EI, vários ensaios até som - RC

luz (apresentada isoladamente) - RC

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💡 Nota: a luz nunca foi emparelhada com EI.

Os sujeitos aprenderam uma associação entre 2 estímulos sensoriais antes da


introdução do EI. A aprendizagem que ocorre na fase 1 não é externamente
observável.

Condicionamento de 2ª ordem - experiência de Pavlov

Som do metrónomo (EC1) + EI (comida), vários ensaios - até o som do


metrónomo (EC1) levar a RC

Som do metrónomo (EC1) + quadrado negro (EC2), vários ensaios

Só quadrado negro (EC2) - EC

Relação com o pré-condicionamento sensorial

pré-condicionamento sensorial: inversão da ordem das etapas de treino

Pré-condicionamento sensorial: EC2 apresentado sem EI

O condicionamento de 2ª ordem tem um papel importante na aprendizagem


quotidiana, é mais fácil de estabelecer com determinadas respostas (ex.: medo e a
resposta palpebral) e a RC é enfraquecida com a ordem n+1.

Composto serial (serial compound conditioning; Kehoe et al., 1979)

Apresentação sequencial EC1 + EC2 + EI

EC1 e EC2 provocam RC

2 condicionamentos indiretos

pré-condicionamento sensorial: EC1-EC2 e EC2-EI

condicionamento de 2ª ordem: EC2-EI e EC1-EC2

Interferência

Pré-exposição ao EC

Aquisição da RC poderá ser + demorada com a pré-exposição ao EC


(apresentações repetidas do EC sem emparelhamento com o EI)

Eficácia do EC é diminuída

Efeito de interferência com a pré-exposição do EC utilizado como procedimento


de avaliação da influência da repetição de um E

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Determinar o atraso da aprendizagem (Rescorla)

Resistência ao reforço (Hearst)

Pré-exposição ao EI

Aquisição da RC poderá ser + demorada com a pré-exposição ao EI


(apresentações repetidas do EI sem o EC)

O contexto em que ocorrem eventos significativos pode tornar-se EC

Durante a fase de treino (pré-exposição ao EI), o contexto funciona como


EC, preditor da ocorrência do EI, nessa situação, mas sem indicar quando
vai aparecer o EI

Um EC discreto é um melhor preditor do momento em que vai surgir o EI

O condicionamento relativo ao contexto atrasa a aprendizagem com o EC


discreto, a qual ocorrerá porque esse EC proporciona mais informação sobre o
aparecimento do EI

Anexo
Bykov
Administração de ácido (EI) no estômago - secreção da bílis do fígado (RI ao
excesso de acidez estomacal)

Som (EN) + administração de ácido (EI) no estômago

Sem (EC) - secreção da bílis

Condicionamento da atividade eletrodérmica


Choque elétrico/ruído branco (EI) - resposta de sudação ( alteração da atividade
pré-secretória da membrana celular das glândulas sudoríparas) - aumento da
condutância da pele à passagem da corrente elétrica.

EI aumenta a condutância da pele

círculo vermelho (EN) + EI (vários ensaios)

círculo vermelho (EC) aumenta a condutância da pele

💡 Para igual intensidade do EI (choque elétrico), se o sujeito for ansioso, o


condicionamento é mais rápido.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 66


💡 Nota: esta resposta não é completamente independente do controlo
superior (pode ser influenciada por atitudes do sujeito, por exemplo,
induzidas pelas instruções do experimentador ou por aquelas que o
sujeito dá a si próprio).

Glicemia (nível de glicose no sangue)


Insulina (EI) diminui a glicose (RI)

Solução salina (EN) + insulina

Solução salina (EC) aumenta a glicose

💡 Nota: a insulina diminui a glicose cujo nível no sangue fica abaixo do nível
ótimo o que vai desencadear uma resposta compensatória de aumento da
glicose (para que o equilíbrio do organismo se restabeleça).

Problema de identificação do EI e da RI

EI = diminuição da glicose

RI = resposta compensatória (aumento da glicose)

Resposta do sistema imunitário - experiêcia de Ader (1985)


Substância que nunca tinha sido saboreada (EN) por um grupo de ratos

Injeção de ciclofosfamida (EI) - supressão da resposta imunitária (RI)

Mais tarde, após a eliminação da ciclofosfamida do organismo, metade do ratos


foram inoculados com germes e a outra metade foi submetida a uma
reexposição ao “novo” + inoculação de germes

Resultados
O grupo 1 teve uma reação normal do sistema imunitário (resposta de combate ao
germes). O grupo 2 teve uma resposta imunitária fraca - supressão da resposta
imunitária (RC).
O novo sabor (EC) desencadeia uma resposta que incondicionalmente era
provocada pela ciclofosfamida.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 67


Esquecimento
Extinção
Apresentação do EC sem EI

Apresentação do EC e do EI segundo uma relação de independência entre eles


(correlação nula entre o EC e o EI)

Extinção silenciosa ou abaixo de zero


Apresentação do EC sozinho mesmo após não ser observável a RC

Menor recuperação espontânea nas situações em que não existem


apresentações adicionais do EC sozinho

Sombreamento
Emparelhamento de 2 ENs+EI (repetidas vezes)

Apresentação isolada de cada um deles

Se existir discrepância entre o poder de cada um dos ECs - RC

Então um dos ECs sombreou a aprendizagem com o outro EC

Numa situação laboratorial, EC manipulado tem uma capacidade superior para


desencadear a RC - restantes estímulos do contexto (variante de
sombreamento)

Bloqueio - experiência de Kamin (1969)


Grupo 1 (ratos)

1ª fase - ruido + EI (choque elétrico, vários ensaios

2ª fase - ruído + luz + EI (choque elétrico), vários ensaios

Fase de teste - luz desencadeia RC

Grupo 2 (ratos)

Ruido + luz + EI (choque elétrico), vários ensaios

Luz desencadeia RC

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💡 O 1º EC bloqueou, na 2ª fase, o estabelecimento do condicionamento
com o 2º EC.

Inibição Condicional - condicionamento inibitório


Terminologia pavloviana

EC emparelhado com EI - condicionamento excitatório

EC na ausência do EI - condicionamento inibitório

Ulteriormente o condicionamento inibitório é o processo que se opõe àquele que


ocorre no condicionamento excitatório

A inibição condicional é antagónica da excitação condicional - a inibição é


medida por comparação com uma linha-base de resposta estabelecida por
excitação condicional.

💡 Nota: a inibição condicional não deve ser confundida com a simples


ausênsia da RC

Há testes específicos para detetar a existência de inibição condicional


(premissas desses testes?)

Um E é um inibidor condicional, se contraria a RC desencadeada por um E


excitatório

Para um E ser inibidor condicional deverá existir alfo para inibir - excitação
produzida durante o emparelhamento repetida EC-EI (teste de atraso) e E
excitatório condicional (teste de adição)

Um E é um inibidor condicional se “passar” am ambos os testes de inibição

💡 Nota: um E pode “passar” no teste de atraso e não ser um inibidor porque


a aquisição + lenta da RC pode ser devido a fatores como a desatenção
ou inibição externa.

Desatenção: se o sujeito perceber, no decurso da experiência, que o EC não é


acompanhado do EI, o E não adquire excitação nem inibição

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 69


Inibição externa: diminuição temporária da RC provocada pela presença de um
E distrativo (E nunca apresentado num dado contexto) que acompanha o
excitador condicional.

Recentemente foi posta em causa a ideia segundo a qual a inibição é o


simétrico da excitação:

Rescorla (1985): a inibição é antagónica da facilitação sendo ambas formas


de modulação do limiar de ativação da representação do EI.

No condicionamento existe um único processo simples, a excitação, que


consiste na formação de associações entre as representações do EC e do
EI e sobre este processo atuam a facilitação e a inibição.

Teste de atraso ou retardamento


1º procedimento para tornar um E inibidor

2º desfazer o condicionamento inibitório tornando-o de tipo excitatório (isto é, o E


inibitório é repetidamente emparelhado com EI)

Se existir inibição condicional, esta operação será mais lenta - situação cujo
tratamento deixou o E neutro

O ritmo de aquisição de uma RC excitatória será retardado se EC for um inibidor


condicional

Teste de adição (ou de soma)


Princípio:
Um E inibidor condicional deverá ser capaz de contrariar os efeitos de um E
excitador conhecido - os efeitos assemelham-se a uma soma algébrica de valores
positivos e negativos.

Um EC inibidor potencialmente inibidor é apresentado conjuntamente com um


EC excitatório

Se se observar, com este composto, uma RC com menor magnitude (RC


observada com um EC excitatório sozinho ou emparelhado com um E
neutro) então esse EC vai ser um inibidor condicional

Contingência

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 70


Contiguidade temporal EC-EI não é condição necessário nem
suficiente para o estabelecimento do condicionamento.

Pavlov: variável-chave na aprendizagem associativa - nº de vezes que o EC era


emparelhado com o EI

Princípio do emparelhamento: à medida que o nº de pares EC-EI aumenta,


a força da associação EC e EI também aumenta - EC torna-se um sinal
mais confiável de que o EI irá ocorrer.

Década de 1960, surge uma teoria alternativa proposta por Robert A. Rescorla:
a Teoria da Contingência

Rescorla: tal como Pavlov, para a aprendizagem associativa ocorrer, o EC tem


de ser um preditor útil do EI, mas o que torna um EC um preditor útil não é
simplesmente o nº de emparelhamentos EC-EI - contingência entre o EC e o EI

Genericamente, “contingente” significa “condicional”

Se o EC é emparelhado com o EI, então o EI é contingente (condicional) ao EC,


isto é, o EI é previsível a partir do EC, mas podem existir relações mais
complexas: as contingências variam tanto em grau quanto em direção

Contingência positiva: EC sinaliza um aumenta na probabilidade de ocorrer


o EI (em comparação com antes do E se tornar EC)

Contingência negativa: EC sinaliza uma diminuição na probabilidade de


ocorrer o EI (em comparação com antes do E se tornar EC)

Conceito de contingência ou de correlação entre EC-EI


O valor preditivo (ou de sinal) do EC depende da sua contingência/correlação com o
EI

Se o EI acompanhado do EC em todos (ou quase todos) os ensaios, então


ambos os estímulos estão correlacionados positivamente

Se o EI tende a não ser emparelhado com o EC em cada ensaio, então ambos


os estímulos estão correlacionados negativamente

Se o nº de ensaios de apresentação emparelhada EC-EI = nº de ensaios em


que apenas um deles é exibido então há correlação nula entre os estímulos

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 71


Quando há uma correlação nula entre o EI e EC, o EC não possui qualquer valor
preditivo, não há contingência entre EC e EI e não se observa a aquisição de uma
RC ou esta tem uma forma diminuta.

Contingência positiva - condicionamento excitatório

Contingência negativa - condicionamento inibitório

Cálculo do valor da contingência (existem várias fórmulas):


Medida derivada de 2 probabilidades condicionais

1º p(EI|EC) - probabilidade condicional de EI na ocorrência de EC (ou proporção de


ensaios em que o EC é reforçado)

nº de ensaios de EI acompanhado de EC/ nº total de ensaios com EC

2º p(EI|EC) - probabilidade condicional de EI dado EC ausente (ou proporção de


ensaios em que EI surge sem EC)

nº de ensaios de EI desacompanhado de EC/ nº total de ensaios sem EC

Definição de ensaio sem EC


Procedimento: começar por dividir a duração da sessão experimental pela duração
do EC e depois subtrair o nº de ensaios com o EC

Ex.: sessão de condicionamento de 40 segundos na qual o EC dura 2 segundos


sendo apresentado 4 vezes; 40/2=20 intervalos (de 2 segundos cada); dos 20
intervalos, em 4 será apresentado o EC e em 16 não

espaço pavloviano de contingência

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 72


Sistema de representações percetivas

💡 Sistema de memória cuja função é identificar objetos e palavras


permitindo um reconhecimento rápido de estímulos já apresentados. As
perceções são especificamente reconhecidas como anteriormente
experienciadas (ex.: uma palavra como vista e como ouvida). o PRS
(sistema de representações percetivas) não reconhece o significado dos
estímulos, isso é tarefa da memória semântica.

Este sistema de memória foi teorizado por Tulving e Schacter (1990) e pensa-se
que explica os efeitos de priming percetivo do objeto ou da palavra. Segundo os
autores, esse sistema está envolvido na identificação perceptiva de objetos e
palavras, mas sem referência ao seu significado. O sistema deve funcionar em
estreita colaboração com a memória semântica.

SRP (sistema de representações percetivas) - sistema de memória que possibilita a


melhoria na identificação ou processamento de um estímulo como resultado de ter
sido observado anteriormente.

SRP - sistema com funcionamento implícito, isto é, que pode operar sem
consciência

Frequentemente, o tipo de aprendizagem mediado pelo SRP é referido como


priming de repetição. Sobre os efeitos comportamentais do SRP observados após
uma única repetição de um estímulo: a sua duração é longa (Cave, 1997: os efeitos
comportamentais do SRP podem ser observados até 48 semanas após a
apresentação de um único estímulo, p.ex. uma imagem) e são induzidos quando os
dois estímulos são diferentes, mas percetivamente semelhantes (resultado
relevante para a literatura sobre categorização).

Efeito de priming
É um fenómeno de memória. Um efeito que mostra a influência do processamento
de estímulo na performance de uma tarefa subsequente.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 73


💡 Priming - vantagem observada (em termos de precisão ou de latência) na
resposta a um estímulo alvo, quando o mesmo estímulo relacionado é
apresentado antes desse alvo.

O priming é o tratamento prévio do estímulo mediante apresentação (consciente ou


subliminar) de informação. Existe priming quando a exposição prévia a informação
produz uma melhoria no desempenho (menos erros e mais rapidez).

Tipos de tratamento prévio do estímulo alvo

tratamento de natureza lexical

tarefas de decisão lexical (um conjunto de letras é ou não uma palavra)

tarefas de completamento de palavras

tratamento percetivo

tarefas de identificação de palavras ou de figuras

tratamento semântico ou conceptual

tarefas de verificação de categoria de pertença

Exemplo

1º É apresentada uma lista de palavras

Intervalo

2º Os participantes completam puzzles de palavras, não sabendo que se traa de


um tipo de prova de memória (completamento de fragmentos de palavras ou
completamento de início de palavras)

Priming semântico

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 74


Envolve a ativação de conceitos armazenados na memória semântica. O significado
do estímulo de priming influencia a codificação ou recuperação.

Se uma palavra não relacionada com “vermelho” (ex.: papel) é apresentada


antes de “vermelho”, demora-se mais tempo a dizer “vermelho”.

Se uma palavra relacionada com “vermelho” é apresentada antes, demora-se


menos tempo a dizer “vermelho”.

Interpretação: é-se mais rápido a dizer “vermelho” após a palavra cereja do que da
palavra papel porque a ativação de cereja propaga-se a vermelho e, assim,
vermelho já tem um avanço (fica com vantagem) quando a palavra vermelho é, de
facto, apresentada.

Memória Declarativa
Memória semântica: modelos de representação do
conhecimento ou da organização semântica
A memória semântica é o conhecimento geral do mundo sem referência a contextos
espaciotemporais: palavras e o seu significado; factos; categorias (uma baleia é um
cetáceo); esquemas.

Esquemas

💡 Esquemas: representações do conhecimento, construídas a partir da


integração de experiências similares ao longo do tempo, que permitem
prever características de atividades que se repetem (festas de
aniversário) e ambientes (consultórios).

Os esquemas quando usados (codificação de estímulos e reconstrução da


recordação no momento da recuperação) compreendem um núcleo fixo e um
componente variável.

Exemplo

No esquema respeitante à atividade de compras numa loja, a componente


relativamente fixa é a troca de dinheiro e de bens, a parte variável é a quantidade
de dinheiro e os bens concretos.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 75


Os esquemas podem encaixar-se uns nos outros (não se trata de blocos de
conhecimento mutuamente exclusivos) a aplicar-se a todos os níveis de abstração.
Também representam conhecimento mais do que definições: não são regras
abstratas, mas dizem respeito a conhecimento declarativo sobre as situações,
procedimental e especializado relativo a domínios específicos de atividades. São
instrumentos ativos (dinâmicos) de reconhecimento.

Outros modelos de representação do conhecimento ou da


organização semântica
Teorias de organização dos conceitos:

atributos

protótipos

exemplares

redes semânticas hierárquicas

redes semânticas

Modelos de comparação de atributos


O significado de um conceito está contido num feixe de atributos semânticos e é
necessário examinar os atributos de um item para determinar se se trata de um
conceito particular.

Modelo de Smith, Shoben e Ripps 81974): 2 tipos de atributos

Atributos definidores (atributos centrais partilhados por todos os membros de


uma categoria) - ex.: categoria cão, tem 4 patas, uma cauda é coberta de pelo.

Atributos característicos (atributos não essenciais que se podem aplicar à


maioria dos membros da categorias - ex.: categoria cão, ser cuidado como
animal de estimação, ir passear com trela, ladrar.

Numa tarefa de verificação de proposições pode ocorrer 2 fases:

1ª - comparar os 2 tipos de atributos dos objetos

2ª - comparar apenas os atributos definidores

Exemplo: o pisco é uma ave

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 76


1º - comparar os atributos definidores e característicos de pisco e de ave -
responder sim se existir um nº suficientemente elevado de atributos em comum

Se o grau de sobreposição não bastar para desencadear uma resposta sim rápida,
então

2º - examinar sistematicamente os atributos definidores críticos (fase+lenta) se


ocorrer uma correspondência - resposta sim, caso contrário, resposta não.

Problemas do modelos de comparação de atributos

Dificuldade em especificar os atributos necessários

Efeitos de tipicidade

Alguns itens são melhores exemplos de um conceito do que outros (um


pisco é mais típico do que um pinguim)

Teoria de protótipos
Representação abstrata de uma categoria contendo atributos salientes, que são
verdadeiros na maior parte dos exemplos: atributos característicos que descrevem
que membros de um conceito são parecidos.

Permite ter em conta conceitos imprecisos, isto é, que não podem ser facilmente
definidos (ex.: juntar água até a massa do pão ficar com a consistência certa). Para
categorizar, basta comparar com o protótipo (representação abstrata).

Perspetiva dos exemplares


Múltiplos exemplos expressam a ideia daquilo que o conceito representa, em vez de
um protótipo único.

Exemplo

Conceito “legume”: ervilha, cenoura ou feijão

A fava é legume? Quanto mais similar a um membro conhecido da categoria um


exemplar específico for, mais rapidamente será categorizado.

Esta teoria é parecida à dos protótipos porque a representação não é uma


definição. Por outro lado, a representação não é abstrata (consiste em descrições
do exemplos específicos).

💡 Para categorizar, compara-se com exemplos armazenados.

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Redes semânticas hierárquicas - modelos de Collins e Quillan
(1969)
A memória semântica está organizada como uma rede de conceitos
interconectados

Cada conceito é representado por um nodo e a este está associado um certo nº


de propriedades

Os conceitos estão ligados entre si por caminhos ou vias (pathways)

Algumas ligações entre conceitos estão sobre-ordenadas a outras ligações (ex.:


animal encontra-se num nível superior, na classificação relativamente a ave) e
outras são sub-ordenadas de outras (ex.: canário está sub-ordenado a ave).

A ativação de um conceito propaga-se a nodos interligados.

Devido a “economia” cognitiva, as propriedades que se aplicam a um conjunto de


conceitos são armazenadas no nível mais elevado, ao qual são geralmente
aplicadas

ex.: uma vez que a maioria das aves pode voar, esta propriedade está ligada à
categoria geral (supra-ordenada) “ave” e não a cada exemplo de ave voadora

No caso das aves que não voam, esta propriedade está representada no modo
relevante a essa ave particular.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 78


Exemplo: verificar a proposição “um canário é um animal”

A propagação da ativação dos nodos “canário” e “animal” para quando um nodo


recebe ativação de 2 direções diferentes, isto é, fecha-se uma rota que une os 2
nodos inicialmente ativados

Se não houver fecho da rota, a resposta rápida será não.

Em seguida, examina-se a natureza das relações respeitantes à rota entre ambos


os nodos

No exemplos trata-se de 2 relações de subconjuntos (é-um) que são


congruentes com o enunciado da proposição inicial, uma vez que são transitivas
(um canário é uma ave e uma ave é um animal - um canário é um animal -
proposição verdadeira): a resposta é “sim”.

Hipótese: quanto maior a distância entre as rotas ou ligações, + tempo gasto na


verificação de proposições.

Problemas com o modelo de Collins e Quillan

Efeitos de tipicidade (TR variável: para as aves menos típicas demora-se + tempo
do que para aves mais típicas)

Quantas ligações separam?

Um canário é uma ave?

Um pisco é uma ave?

Uma galinha é uma ave?

Uma avestruz é uma ave?

Redes semânticas a partir de 1975

Deixou de haver hierarquia

Desapareceu o critério de economia cognitiva

As ligações variam em extensão para ter em conta os efeitos de tipicidade

Inclui a propagação da ativação (embora com algumas alterações, p.ex.:


diminuição da sua eficácia quando maior a distância do nodo ativador)

Memória Episódica - Memória Prospetiva


A MP diz respeito à recordação de executar ações antecipadamente planeadas ou
recordação de intenções: supõe a recordação de um plano de ação (o que fazer) e

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 79


ainda o lembrar-se de executá-lo

💡 Nota: da recordação de um plano não decorre forçosamente a sua


implementação; é necessário considerar fatores como a motivação, traços
de personalidade, nível de ansiedade, fadiga, doença, natureza das
tarefas concorrentes

A recordação prospetiva envolve a memória de trabalho e também a memória


retrospetiva. A separação entre MP e retrospectiva não é completa (Baddeley &
Wilkins, 1984).

Ao recordar que se tem de ir pagar a conta da eletricidade também se recorda


restrospetivamente onde estarão a fatura e o cartão de débito, como é que este
último se utiliza, qual o local onde se pode ir pagar, etc.

Características das tarefas de MP


A execução de uma ação intencionada não pode ser imediata - há um intervalo
entre a formação da intenção e a sua concretização num determinado momento
futuro.

Intercalam-se no decurso de outra atividade (interrupção de uma atividade ou


rotina diária) - a intenção formada não é mantida na memória de trabalho pois é
necessário executar durante um período temporal relativamente longo outra
atividade - tarefas de MP são diferentes das tarefas de vigilância.

O período para o início da concretização da ação intencionada é restrito - um


período circunscrito para a implementação da ação intencionada

O prazo para a execução da resposta é também limitado - nem todas as tarefas


que envolvam intenções são de MP, se a ação intencionada é para se
concretizar num espaço temporal longo (ex.: envelhecer com qualidade)

Uma intenção ou plano formado conscientemente

Características distintivas da MP relativamente à memória


retrospectiva
Na MP, frequentemente, os planos são autogerads e não requerem
aprendizagem inicial, o que torna a fase de codificação diferente relativamente à
memória retrospetiva.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 80


A quantidade de informação que é necessário recuperar, na maior parte das
tarefas de MP, é menor comparativamente com o que se passa nas tarefas de
memória retrospetiva (ex.: basta apenas recordar que se tem que pagar a conta
de eletricidade, ou telefonar para um amigo).

Ao esquecimento prospetivo está frequentemente associada uma dimensão de


civilidade/cortesia, que muitas vezes causas embaraço nas relações
interpessoais, diferentemente do que sucede com o esquecimento retrospetivo,
considerado a este respeito como mais neutral.

A relação entre o desempenho em tarefas de MP e de memória retrospectiva


em adultos normais é de natureza dissociativa

Ex.: efeito do professor distraído: indivíduos com resultados elevados numa


tarefa de evocação de listas de palavras não relacionadas (memória
retrospectiva), diferentemente dos outros indivíduos, tinham um
desempenho menos exato (atrasavam-se mais) na tarefa simulada de tomar
comprimidos, 4 vezes por dia, às horas prescritas (MP).

Hitch e Ferguson (1991) estudaram a MP e retrospectiva de filmes


solicitando a cinéfilos que evocassem nomes de filmes já vistos e nomes de
filmes que tencionavam ir ver futuramente. Resultados:

Observação do efeito de recência habitual no caso da recordação


retrospetiva e o efeito de proximidade na recordação prospetiva, isto é,
taxa de recordação mais elevada para os nomes de filmes que iriam ser
vistos dentro em breve.

Existência de uma relação inversa da recordação, tanto de nomes de


filmes vistos como a ir ver, com o nº total de filmes considerados

Tipos de recordação/memória prospectiva (McDaniel & Einstein,


2007)
Baseada em acontecimentos (ex.: esclarecer um assunto com um amigo na
próxima vez que o encontrar)

Baseada no tempo - num dado momento e dentro de um intervalo de tempo


fixado (ex.: tomar um medicamente de 8 em 8 horas ou fazer exercício às 17)

Baseada em atividades (ex.: comprar pão depois de fazer as compras na


peixaria) - forma mais simples de tarefas de memória prospetiva, dada a
presença de uma pista externa e não requerem a interrupção de uma tarefa em
curso

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 81


Planos na MP
Conteúdo do plano:

Origem: imposto pelo próprio sujeito ou por outrem

Grau de rotina: habitual ou implicar ações novas/alterações em atividades


familiares (ex.: executar uma ação familiar num momento diferente)

Nível de integração: uma única ação isolada ou fazer parte de uma cadeia mais
ou menos complexa

Grau de formulação: específico e pormenorizado (ex.: ir a uma determinada loja


comprar uma certa marca de azeite) ou vago e mais genérico

Planos cujo conteúdo é novo e estão integrados num conjunto de planos inter-
relacionados apresentam probabilidade de recordação mais elevada. Planos novos
extremamente prioritários, baseados em eventos e que constituem parte de uma
cadeia são mais facilmente recordados.

Tempo do plano (Ellis, 1988)

Pulse

Plano prospectivo que inclui a especificação do tempo exacto em que deve


ser implementado (ex.: às 9h de 2ª feira)

Estes planos são melhor recordados, considerados mais importantes e


envolvem, com mais frequência, a utilização de auxiliares de memória (ex.:
agenda)

Step

Plano prospetivo que apresenta uma determinação menos precisa quanto


ao tempo em que deve ser executado (ex.: antes da loja encerrar, neste
caso trata-se de um período temporal mais lato)

Pistas de recuperação

Focais

Tarefa prospetiva está relacionada com a informação para se desempenhar


a tarefa atual ou em curso - a recuperação da MP seria espontânea

Não focais

A tarefa prospetiva não está relacionada com o processamento exigido pela


tarefa em curso - características da tarefa prospetiva não seriam ativadas
pela tarefa atual

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 82


Principais abordagens teóricas
Natureza da representação mnésica prospetiva

Vários investigadores partilham a ideia da existência de múltiplas


representações (imagens visuais, proposições ou representações verbais,
modelos mentais ou modelos operatórios acerca do real, procedimentos ou
representações motoras), embora não haja acordo quando se trata de
especificar esse modelo híbrido.

Nível de representação mnésica/codificação prospetiva - relacionado com o


êxito e fracasso em tarefas de MP

Pistas específicas poderão não desencadear a ativação de representações de


nível mais elevado, mais gerais

Ex.: a possibilidade de um evento externo particular ativar uma intenção do


tipo “dar uma festa” (representação de nível mais elevado) tem menor
probabilidade de êxito do que intenções mais específicas, de nível mais
baixo, do tipo “comprar os bolos” ou “convidar a pessoa X”

Goschke e Kuhl (1993)

Após a leitura de frases que descreveriam atividades simples, em que algumas das
ações descritas seriam executadas mais tarde e outras deveriam ser recordadas,
registou-se um reconhecimento mais elevado (mais rápido) para as palavras
provenientes das frases que deveriam ser executadas relativamente àquelas que
pertenciam ao material a ser recordado - “efeito de superioridade da intenção”.

Interpretação: aumento do nível de persistência da ativação no caso das intenções


(a persistência da ativação para executar um ato seria mais elevada do que para
somente recordar). Contudo, a ligação cognição-ação, ou a natureza da passagem
entre representação cognitiva da ação e comportamente observável, não está
completamento esclarecida.

Relação MP-MT
O componente executivo central da MT, parece desempenhar um papel importante
na programação, controlo e monitorização de ações.

Ponto de vista compatível com a conceção de Sistema Atencional Supervisor, o qual


assegura a elaboração de um plano de ação e o seu desenrolar e a interrupção e
revisão do plano original quando este se revela inadequado no contexto atual.

Memória Episódica - Memória Retrospectiva

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A memória episódica é uma memória de eventos específicos que inclui a referência
tempo e local em que estes ocorreram. Viagem temporal consciente no passado
subjetivo do indivíduo; reviver o passado - consciência auto-noética.

Consciência auto-noética
Não acompanha o uso de qualquer outra capacidade baseada na memória -
característica única da memória episódica.

A partir da memória episódica, não se tem apenas uma memória, mas recorda-
se algo sobre o contexto em que a informação recordada foi aprendida

A partir da memória semântica não nos lembramos do contexto da


aprendizagem inicial - consciência noética

Memória procedimental - anoética

Memória episódica vs. Memória semântica


Semântica

Memória estruturada de factos, conceitos, significado de palavras e de coisas

Memória abstrata e generalizada (não ligada a locais, tempo ou eventos


específicos)

Episódica

Memória serial, biográfica de eventos

Memória ligada a eventos autobiográficos específicos

Sentido subjetivo do “ser aí”

Memória episódica - experiências tradicionais de laboratório


Geralmente, experiências tradicionais de laboratório, solicita-se que seja recordado
o material anteriormente apresentado mediante testes: evocação livre ou serial;
evocação guiada; reconhecimento.

Dos 3 “W” apenas é, manifestamente, considerado um “what” (o quê). A


característica “recollective experience”, isto é, a recordação consciente e vívida de
um episódio passado também poderá estar omissa.

Curva de posição serial (CPS)


Apresentação sequencial de uma
lista cujo nº de itens é maior ou

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 84


igual a 9 (MLP)

Tarefa de evocação serial ou de


evocação livre

Evocação livre (modalidades visual


e auditiva de apresentação do
material)

Efeito de recência > efeito de


primazia

Explicação dos efeitos de posição serial


Tarefa de evocação livre

Ausência de constrangimento externo quanto ao modo de evocação - uso da


seguinte estratégia: começar por recordar os itens ainda mais disponíveis na MCP
(últimos itens da lista estudada, o que economiza o esforço necessário à
elaboração, “transferência” e recuperação da MLP dos últimos itens) e recordar
itens “transferidos” para a MLP cuja recuperação não é imediata.

Possibilidade de repetição mental e declínio na memória: quanto + itens forem


apresentados, <possibilidade de recordação de itens subsequentes; 1º itens (podem
ser repetidos mais vezes), >possibilidade de transferência para a MLP.

Experiência de Rundus e Atkinson (1970) - medir o nº de repetições de cada item:


listas com 20 substantivos comuns, apresentadas com um ritmo de 5 segundos por
palavra; participantes deveriam repetir, em voz alta, os itens que quisessem.

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 85


resultados da experiência de Rundus e Arkinson (1970)

O adiamento da tarefa de evocação (aumento do intervalo temporal entre a


apresentação do último item e o início da evocação) ocupado com uma tarefa
distractiva (impedimento da repetição mental dos itens)

Não afetar o efeito de primazia

Eliminar o efeito de recência

Experiência de Glanzer e Cunits (1966)

Lista de 15 itens

3 condições:

Grupo de controlo: tarefa de evocação livre imediata

Grupo exp. I: tarefa distractiva (contar na ordem inversa, em voz alta)


durante 10 segundos + tarefa de evocação livre (diferida)

Grupo exp. ll: tarefa distrativa = durante 30 segundos + tarefa de


evocação livre (diferida)

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Interpretação dos resultados da experiência de Glanzer e Cunitz (1966)

Últimos itens: os dígitos da tarefa distractiva ocuparam a MCP - dificultando a


repetição dos últimos itens da lista 8nem todos puderam “transitar” para a MLP)

Primeiros itens: efeito de primazia permanece inalterado - durante a tarefa


distrativa os 1º itens já teriam sido “transferidos” para a MLP

Duração da tarefa distrativa - estimar o tempo de permanência da informação


da MCP

Duração da MCP = valor do intervalo distrativo a partir do qual o efeito de


recência é eliminado (à volta dos 30 segundos)

Continuação da explicação dos efeitos de posição serial

Variáveis que afetam exclusivamente a primazia

Familiaridade do material menos as palavras mais comuns são mais


facilmente recordada do que as palavras raras, apenas quando colocadas
no início da lista

Velocidade de apresentação dos itens: ritmo mais lento favorece a repetição


mental e a organização da informação - melhor recordação apenas dos 1º
itens

Extensão ou comprimento das listas de material - as listas mais longas são


mais difíceis de recordar, mas tal não se verifica para os últimos itens das
listas.

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Determinado tipo de lesões cerebrais - amnésia

Persistência do efeito de recência, apesar da execução de tarefas distrativas


concorrentes e contínuas ou intercalares

Ex.1- tarefa distrativa concorrente com o estudo material: experiência de


Murdocl (1965)

Apresentação auditiva de uma lista de itens e separação das cartas de um


baralho pelos participantes

Após o último item da lista - tarefa de evocação livre

Resultado: diminuição do efeito de primazia quando a tarefa de separação


das cartas era mais exigente; igual efeito de recência

Ex.2- tarefa distrativa concorrente com a tarefa de evocação livre: experiência


de Baddeley e Hitch (1997)

Apresentação auditiva de uma lista de palavras não relacionadas

Após o último item da lista, a tarefa de amplitude de memória imediata de


dígitos apresentados auditivamente e a tarefa de evocação livre

Resultado: diminuição do efeito de primazia e igual efeito de recência

Baddeley: resultado + importante contra o modelo modal

Ex.3- tarefa distrativa contínua ou intercalar: experiência de Bjork e Whitten


(1974)

Após cada um dos itens de uma lista, execução de uma tarefa distrativa
durante 2 segundos

Após o último item da lista, a tarefa distrativa com duração de 30 segundos


e a seguir tarefa de evocação livre

Resultado: efeito de recência significativo (apesar dos resultados de


Glanzer e Cunitz com a evocação livre diferida)

Comparação dos resultados da experiência de Bjork e Whitten (1974)

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 88


Interpretação dos resultados da experiência de Bjork e Whitten (1974)

Os últimos itens da lista, antes da tarefa distrativa, poderiam ter transitado para
MLP - efeito de “recência a longo prazo”

Este efeito não é completamente incompatível com o modelo modal

Necessário estudar se este efeito de “recência a longo prazo” tem a mesma


natureza (resulta dos mesmos processos e estratégias) do efeito de recência (a
curto prazo) obtido em tarefas de apresentação contínua dos itens a recordar
(ex.: exp. de Glanzer e Cunitz)

O efeito de recência não se deve a uma MCP com as características definidas


pelo modelo modal (as distinções entre MCP e MLP são questionáveis)

Codificação e Recuperação
Hipótese/princípio da codificação específica

A recuperação da informação depende do grau de sobreposição entre as


características do contexto de recuperação e aquelas que estiveram presentes
quando se formou o traço mnésico (Tulving & Thomson, 1973)

Permite explicar as relações típicas entre o desempenho nas tarefas de


evocação, evocação guiada e reconhecimento.

Relações típicas entre o desempenho nas tarefas de evocação, evocação


guiada e reconhecimento

Apontamentos Sistemas de Memória - José Aniceto 2021/2022 89


Efeito da tranferência de processamento apropriado - Morris, Bransford &
Franks (1977)

Material apresentado auditivamente:

Lista de frases, nas quais faltava uma palavra

Lista de palavras

2 condições de processamento: semântico vs. rima

Semântico: julgar se uma palavra alvo completava ou não a frase

Ex.: o ___ tem um motor; a palavra alvo é navio

Rima: julgar se uma palavra alvo rimava ou não com um outra

Ex.: ___ rima com legal; palavra alvo é fatal

Desenho da experiência de Morris et al. (1977)

2 tarefas de orientação (fator intra-participantes)

Tarefa de completamento de frases

Tarefa de rimas

2 tipos de teste (fator inter-participantes)

Reconhecimento do tipo sim/não (com palavras) - ex.: de palavras


apresentadas no teste como navio, fata, etc.

Tarefa de reconhecimento de rimas (se a palavra apresentada no teste


rimava com uma da lista estudada) - ex.: de palavras apresentadas no teste

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como lavradio (que rima com navio), inaugural (que rima com fatal), etc.

Resultados obtidos da investigação de Morris et al. (1977)

Transferência de processamento apropriado

O desempenho de uma dada tarefa de memória depende de como é que o


material foi processado durante a codificação.

A informação será melhor recordada na medida em que os processos de


codificação possam ser transferidos (correspondam) para a recuperação

Diferença com o princípio da codificação específica: enfatizar como


determinante da recuperação a sobreposição entre codificação e recuperação

Diferença no princípio de transferência de processamento apropriado (> ênfase


na codificação - como receber informação na memória) e no princípio de
codificação específica (> ênfase na recuperação - como obter informação da
memória)

Memória Flashbulb ou Memórias Cintilantes


Memória flashbulb
Designação proposta por R. Brown e J. Kulik, em 1977, num artigo publicado na
revista Cognition

Recordação invulgarmente vívida de acontecimentos importantes, dramáticos,


surpreendentes, que provocaram uma emoção intensa e também de ocasiões em
que a pessoa ouviu falar e/ou viu imagens destes pela 1ª vez.

Exemplos

Assassinato do presidente John F. Kennedy (EUA, 1963)

Revolução dos cravos (Portugal, 25 de abril de 1974)

Desastre da mave espacial Challenger (EUA, 1996)

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Atentado terrorista às torres gémeas do World Trade Center (EUA, 11 de
setembro de 2001)

Brown e Kulik (1977)


nº = 80 participantes

Tarefa: recordar as circunstâncias de quando ouviram, pela 1ª vez, que o


presidente Kennedy tinha sido assassinado (caso se lembrassem desse evento
ocorrido 13 anos antes): onde é que a pessoa estava, quem estava com ela, o
que fazia nesse momento…

Conclusão: trata-se de um tipo especial de recordação sujeita a pouco


esquecimento e inclui não só as características do acontecimento, mas também
as circunstâncias em que este foi conhecido.

💡 Mecanismo especial responsável por este tipo de recordações


particularmente vívidas e detalhadas - Mecanismo “Now Print” - criam-se
recordações como uma fotografia que resiste ao esbatimento

Tal mecanismo seria desencadeado por níveis elevados de emoção, surpresa e


consequências do acontecimento.

Estrutura canónica das memória flashbulb


As pessoas recordam:

Local (onde é que estavam)

Atividade (o que estavam a fazer)

Fonte (quem lhes contou)

Afeto (o que sentiram)

Consequências (o que sucedeu a seguir)

Controvérsia
Serão as memória flashbulb realmente exatas?

Será a sua exatidão mais elevada em comparação com memória não flashbulb?

Brown e Kulik (1977) não sabiam se as memória eram ou não rigorosas, pois não
houve uma avaliação independente da exatidão.

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Método geral de estudo: avaliação dupla do tipo teste-reteste

Exemplo de um questionário

Conway et al. (1994)


Compararam, em indivíduos do Reino Unido e dos EUA, a recordação do dia 22 de
novembro de 1990 em que a 1ª Ministra Britânica, Margaret Thatcher, resignou.

Resultado: a recordação deste evento era mais exata e mais duradoura nos
participantes do Reino Unido.

Interpretação: o envolvimento pessoal e as consequências percebidas, decorrentes


do acontecimento, parecem influenciar a criação de memórias flashbulb.

Neisser e Harsh (1992)


Pouco tempo após a explosão da Challenger aplicaram um questionário a
estudantes universitários sobre este acidente e como é que tinham ouvido a notícia.

Resultado: a maioria dos estudantes recordava-se exatamente do que estava a


fazer nessa altura, por quem tinha sido informado sobre este acidente e ainda
outros factos.

2 anos e meio mais tarde, os estudantes voltaram a ser interrogados.

Resultado: cerca de 25% lembrava-se de ter anteriormente respondido ao


questionário; apenas 3 em 44 participantes recordavam perfeitamente as condições

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em que tinham ouvido a notícia do desastre; quase ausência de relação entre a
exatidão da recordação e o grau de confiança dos participantes no seu relato.

Neisser (1982; 2000)


Hipótese de reconstrução/hipótese da repetição da narrativa

As memórias flashbulb não seriam necessariamente verdadeiras ou exatas


porque resultariam de reconstruções sucessivas.

As memórias flashbulb seriam memórias usuais preservadas devido à repetição


frequente do relato do evento.

Talarico e Rubin (2003)


Um grupo de estudantes respondeu a um conjunto de questões no dia seguinte ao
atentado de 11 de setembro ao World Trade Center. Também foram colocadas
questões semelhantes acerca de um acontecimento da vida dos participantes que
tivesse ocorrido dias antes do referido atentado. Alguns dos participantes foram
novamente interrogados 1 ou 6 ou 32 semanas mais tarde.

Resultados:

À medida que o tempo passa, os participantes recordam menos detalhes e


cometem mais erros, tanto na recordação flashbulb como na recordação episódica
usual. A crença dos participantes na exatidão da sua memória manteve-se
consideravelmente elevada, ao longo dos 32 meses, no caso da recordação
flashbulb, mas sofreu um decréscimo no caso da recordação episódica normal. Este
resultado foi também observado no que diz respeito à vivacidade.

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Memórias flashbulb
Exemplo
Quanto tempo passou entre o embate do primeiro avião e a queda de ambas as
torres?

20 min

45 min

70 min

95 min

120 min

11 semanas após o 11 de setembro, as pessoas não sabiam. A média era de 60


minutos, mas a resposta correta seria 120 minutos.

4 explicações para as memórias flashbulb


Quantidade de exposição

Repetição da história

Intenção

Resposta fisiológica

Quantidade de Expoisção
Os grandes acontecimentos são discutidos durante dias seguidos nas notícias e em
vários locais onde as pessoas se encontram (ex.: cafés, escritórios…). A maior
exposição pode levar a uma maior recordação.

Mas isto não explica porque é que as circunstâncias em que as pessoas ouviram
falar, pela primeira vez, dos acontecimentos (não referidas nas notícias) são tão
bem recordadas.
Repetição da história (Neisser, 1982)

Quantas mais vezes uma história é contada, melhor é a sua recordação. As próprias
pessoas ligam-se à história.

Intenção (Weaver, 1993)


Se se quer lembrar de um acontecimento importante então, deliberadamente, tem-
se a intenção de o recordar. Não é necessariamente supor a existência de um
“flash” ou de uma emoção especial.

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Resposta fisiológica (Pillemer, 1984)

Determinadas regiões cerebrais, relacionadas com as respostas emocionais, ficam


ativadas quando se ouvem notícias importantes. Esta ativação, de algum modo,
ajudaria a consolidar a memória. Trata-se de um mecanismo adaptativo - é
importante recordar-se de acontecimentos emocionais.

Quanto mais intensa for a reação fisiológica, mais forte seria a memória flashbulb.

Conclusão geral
Apesar da controvérsia, Medin, Ross e Markman (2005) afirmaram que embora as
memórias flashbulb sejam sentidas como diferentes das restantes memórias
episódicas, não existe prova objetiva de que assim é. Afirmaram também que
poderá existir um mecanismo especial, que implique que acontecimentos com
consequências importantes sejam menos vulneráveis ao esquecimento, parece ir ao
encontro de uma regulação adaptativa, mas é necessário prosseguir com os
estudos.

Metamemória
Refere-se ao conhecimento, perceções e crenças que as pessoas têm acerca do
funcionamento, desenvolvimento e capacidades da sua própria memória e também
do sistema mnésico humano.

Exemplo de tarefas de metamemória


Juízos de confiança - grau de confiança do indivíduo na sua recordação

Juízos sobre o sentimento de conhecer (FOK) - estado de conhecimento que


pode dizer respeito a

ter a certeza de que não se sabe algo (decisão sobre a ignorância ou


“conhecimento do desconhecimento”)

confiança de que um item poderá ser recordao se existirem pistas ou


intervalos temporais de recordação adequados

certeza de que se sabe a resposta correta

Procedimento RJR (Evocação Juízo Reconhecimento; pode ser usado para


estudar o sentimento de conhecer

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Para cada item não recuperado durante a fase de evocação (Recall), os
participantes avaliam (Judgment) a probabilidade de serem capazes de
reconhecer o item correto entre um conjunto de alternativas (Recognition).

Estas avaliações são comparadas com o desempenho subsequente num


teste de reconhecimento.

Juízos de aprendizagem - avaliação, por parte do indivíduo, do grau em que a


informação a ser aprendida foi adquirida

Juízos de facilidade de aprendizagem - previsão do indivíduo acerca de quão


fácil será adquirir e reter determinada informação, antes de qualquer alternativa
de aprender.

Juízos recordar/saber (Remember/Know, Tulving, 1985) - referem-se ao


sentimento de conhecimento consciente que a pessoa pode ter durante a
recuperação.

Juízo “recordar” - envolve uma viagem mental no tempo de modo a reviver-


se um acontecimento passado (ex.: a apresentação de um item da lista);
trata-se de recuperação mnésica consciente e que envolve esforço.

Juízo “saber” - refere-se também ao conhecimento de experiências


passadas, mas não implica a revivência mental; a pessoas apenas “sabe”
que determinado acontecimento ocorreu anteriormente; trata-se de
recuperação mnésica não consciente ou automática.

Utilizam-se geralmente em tarefas de reconhecimento (Respostas “sim”)

Esquecimento

💡 Falha em recordar-se de material previamente apreendido. Vários


processos e teorias tem sido propostos ao longo da história do estudo do
esquecimento, incluindo a teoria do declínio e a teoria da interferência.
Esquecer é um fenómeno tipicamente normal, mas também pode ser
patológico, como a amnésia.

Curva do esquecimento de Ebbinghaus


No início, a taxa de esquecimento é
muito elevada, mas depois torna-se

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relativamente baixa.
Material: sílabas do tipo CVC

Método da economia

Curva de retenção/esquecimento
Material: conceitos e nomes respeitantes a uma unidade curricular da licenciatura
em Psicologia (PARP) da FPCEUC.

Quase 2 anos mais tarde, o


grupo de participantes com
resultado inicial no
reconhecimento abaixo da
média obteve um
desempenho mnésico
significativamente superior
ao do grupo de controlo, no
que se refere a conceitos

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Leis de Jost (1897)
Dadas duas associações (ou dois traços mnésicos) com a mesma força, mas de
idade diferente, a mais antiga beneficia mais com uma nova repetição. O exercício
seria tanto mais útil a uma associação quanto mais antiga esta fosse.

Dadas suas associações com a mesma força, mas de idade diferente, a mais antiga
terá declínio mais lento com a passagem do tempo.

Esquecimento: mecanismos
Teoria do declínio (a memória vai-se perdendo com a passagem do tempo). A
capacidade de recuperar um item da MLP perde eficácia ao longo do tempo.
O ritmo do declínio depende do nível/profundidade da codificação ocorrida e das
circunstâncias em que ocorre a recuperação da informação.
Teoria da interferência a partir de outra informação adquirida - (i) degradação o traço
mnésico ou (ii) défice da pista de recuperação*:

Interferência proativa: dificuldade/dano na recuperação devido à recordação


prévia de material

Interferência retroativa: dificuldade/dano na recuperação devido a recordação


de informação mais recente ou posterior

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💡 *ex.: sobrecarga da pista que bloqueia a recuperação (situações de
aprendizagem de pares associados).

Distintividade relativa - a recuperação depende do grau em que um item se


destaca de outros itens.

Discriminação - a recuperação depende da existência de condições (pistas) que


permitam a diferenciação entre o traço mnésico alvo e outros traços
competidores.

Inibição - enfraquece ou desconecta a ligação entre um item e a sua pista de


recuperação ou causa demora na recuperação desse item tornando o traço mnésico
temporariamente indisponível (supressão) e causando um diferente bloqueio da
recuperação que ocorre devido a uma sobrecarga da pista de recuperação.
Disponibilidade sem acessibilidade - disponibilidade da pista de recuperação:

Não recordar a informação não é necessariamente devido a uma falha na


codificação ou à perda de informação durante a retenção (indisponibilidade) -
informação perdida na memória é diferente de informação perdida da memória

Fracasso da recuperação pode resultar do facto de que, embora a informação


esteja disponível na memória, pode não estar acessível para a recuperação

A informação que não conseguimos recordar


continua ou sai da memória?
Experiência de Nelson (1971)

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Manipulação crítica na experiência de Nelson
Se os participantes esqueceram 38-vestido e 77-tesoura, p. ex., então
reaprenderiam em igual medida os mesmo pares como pares mudados

Resultado superior na condição mesmos pares - existe alguma recordação dos itens
“esquecidos”, caso contrário ambos os grupos teriam = desempenho mnésico.

💡 Esquecimento é como se fosse “extinção”?

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