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A psicologia

 Etimologicamente, ‘psicologia’ deriva dos termos gregos psyché (alma ou


mente) e logos (estudo, compreensão);
 O seu objeto de estudo é o comportamento e os processos mentais;
 O seu objetivo é explicar e prever os comportamentos humanos, facilitando
mudanças positivas para as pessoas.

1.Conceções diferentes sobre o ser humano – dicotomias.


 Inato vs. adquirido – oposição entre os aspetos ligados à natureza e à
hereditariedade e os aspetos relacionados com o ambiente e a experiência;
 Estabilidade vs. mudança – oposição entre a continuidade e os aspetos
quantitativos das aquisições e a descontinuidade e os aspetos qualitativos;
 Continuidade vs. Descontinuidade;
 Interno vs. Externo;
 Individual vs. Social.

2.Autores da história da psicologia


2.1. Wilhelm Wundt – associacionismo.
 Procurou estudar o funcionamento da consciência humana em laboratório,
através do método da introspeção controlada;
 Abandonou a conceção tradicional de que a Psicologia seria o estudo da alma,
concebe a Psicologia como o estudo da mente;
 Para compreender a mente, a Psicologia deve centrar-se no estudo da
consciência e dos elementos que a constituem: os elementos simples que
constituem a mente são as sensações;
 Wundt acreditava que ao compreender o processo de associação das
sensações, estaria a compreender a estrutura da consciência, uma parte
significativa da estrutura da mente – a sua conceção é o estruturalismo;
 Para entendermos os sentimentos, as emoções e a memória, teríamos de
partir das sensações, compreendermos como elas se associam;
 Propôs o método introspetivo: o sujeito da introspeção observava-se a si
próprio e descrevia o que se passava na sua consciência, quando submetido a
determinados estímulos;
 Os sujeitos alvo do processo experimental teriam de relatar as suas sensações
de acordo com parâmetros previamente estabelecidos, como a dimensão, a
intensidade e a duração. Por esta razão, Wundt apelidou este método de
introspeção controlada.
2.2. John Watson – behaviorismo.
 Atribui à Psicologia o mesmo rigor das outras ciências: a investigação parte de
observações e o seu método é rigoroso;
 Watson propõe o método experimental, para estudar o que é observável: o
comportamento;
 O estudo do comportamento observável implica uma compreensão profunda
da relação estabelecida entre estímulos (E) e resposta (R );
 Os estímulos são o conjunto de excitações que afetam o organismo,
conduzindo-o a uma modificação do seu estado físico ou psicológico, a essa
modificação chama-se resposta. Os estímulos podem ser internos ou externos;
 O objetivo de Watson era compreender as leis do comportamento, pois assim
poderíamos prever, alterar e condicionar comportamentos. Compreender estas
leis seria o objeto da Psicologia. Esta conceção é denominada de behaviorismo
ou comportamentalismo;
 Nesta conceção, as influências genéticas ou hereditárias, ou ainda as
características da personalidade, são totalmente subalternizadas face à
influência determinante do meio ambiente;
 Os comportamentalistas concebem a relação entre os estímulos e as
respostas de forma mecânica, como que acreditando que determinados
estímulos produzem invariavelmente determinadas respostas. A fórmula
comportamentalista mostra claramente como o comportamento, expresso
numa ou mais respostas, resulta de uma situação, de um conjunto de
estímulos.

Avaliação da conceção comportamentalista:


 O comportamentalismo de Watson traz à Psicologia a objetividade de que esta
necessitava para se constituir enquanto ciência. Abandonar o estudo dos
processos mentais, que têm uma grande dose de subjetividade, permitiu à
Psicologia aplicar a metodologia experimental, tal como as demais ciências da
natureza;

2.3. Sigmund Freud – psicanálise.


Freud e o inconsciente:
 Recentrou o objeto da psicologia na mente;
 A sua teoria era revolucionária para a época, pois explicava a personalidade
humana a partir dos processos mentais inconscientes e dava à líbido (desejo
sexual) um papel central no desenvolvimento humano;
 Concebeu o desenvolvimento psíquico do ser humano, a construção da
personalidade e a motivação dos nossos comportamentos como estando
determinados pelo inconsciente;
 Para explicar a mente criou dois modelos: o modelo topográfico e o modelo
estrutural.

Modelo topográfico:
 Neste modelo compara a mente humana a um iceberg. A parte visível é o
consciente, a parte submersa perto da linha de água é o pré-consciente e a
parte submersa, profunda, é o inconsciente;
 O consciente é a parte da mente humana a que temos espontaneamente
acesso no estado de vigília, ou seja, as perceções, as emoções, os sentimentos,
os afetos e os pensamentos;
 O pré-consciente faz a ligação entre o inconsciente e o consciente e nele
residem memórias que não estão acessíveis diretamente ao consciente. Para
que os conteúdos do inconsciente se tornem conscientes, têm de passar pelo
pré-consciente;
 O inconsciente corresponde à maior parte do iceberg e tem uma grande
importância nos nossos comportamentos. É constituído por elementos
inacessíveis ao consciente, tais como os desejos, as pulsões sexuais e
agressivas, os traumas de infância e os conteúdos recalcados.

Modelo estrutural:
 Segundo este modelo, a mente é constituída pelo id, pelo ego e pelo superego;
 O ser humano já nasce com o id. É composto essencialmente pelas pulsões
básicas de carácter biológico, como comer e beber, e pelas pulsões de caráter
agressivo e sexual. O princípio do id é o princípio do prazer. Este atua sobre o
ego, incitando-o irracionalmente a realizar as suas necessidades;
 O ego é formado a partir do id, durante o primeiro ano de vida. No entanto, o
seu princípio é o princípio da realidade, isto é, limita a sua esfera de ação
àquilo que a realidade permite. Assim, o ego tenta satisfazer o id respeitando
as possibilidades reais, controlando os impulsos do id;
 O superego é formado por volta dos 5/6 anos de idade. É composto pelas
normas morais da sociedade, interiorizadas através da idealização de
determinadas figuras, nomeadamente a do pai, e funciona como uma espécie
de controlador do ego contra as indicações do id, precavendo comportamentos
desadequados por parte do ego e punindo-o quando este cede ao id, não
cumprindo as suas determinações. O superego está na base de todos os
comportamentos morais.

Psicanálise:
 Freud explicava a existência ou não de distúrbios psíquicos nos indivíduos seria
o resultado de como a mente resolvia, de forma equilibrada ou não, o conflito
entre o princípio do prazer e o princípio da realidade, entre o inconsciente e o
consciente;
 Desenvolve o método psicanalítico, que tinha como finalidade compreender a
mente e a natureza dos distúrbios psíquicos, e o seu principal objetivo era o
tratamento da paciente.

Procedimentos do método psicanalítico:


 Associação livre – consiste em induzir o paciente a relatar tudo o que surge na
consciência de maneira que acabem por surgir recordações relevantes.
 Interpretação de sonhos – Através da análise do conteúdo manifesto dos
sonhos, o conteúdo simbólico de que o paciente se recorda, o psicanalista
interpreta o sentido latente, isto é, o conteúdo oculto do sonho, inconsciente,
que pode, por exemplo, estar relacionado com desejos sexuais ou pulsões
agressivas. O sonho é uma realização (disfarçada) de um desejo (suprimido ou
reprimido).
 Análise de atos falhados – Segundo a psicanálise, os lapsos (por exemplo,
esquecimentos, falhas de linguagem ou audição) são atos falhados
inconscientemente como forma de manifestar desejos recalcados. Por
exemplo, quando uma pessoa se esquece de realizar uma tarefa que lhe é
muito desagradável, segundo a psicanálise, o esquecimento tem uma
motivação inconsciente.
 Processo de transferência inerente à relação psicanalista/paciente – Consiste
na transferência, do paciente para o psicanalista, dos sentimentos e das
emoções, positivas ou negativas, que o paciente sentiu pelas pessoas que lhe
eram, ou são, importantes (pais, irmãos, amigos). Deste modo sentirá um alívio
emocional relativamente às situações não resolvidas, nomeadamente as da
infância. Freud considerava que as vivências emocionais teriam de estar
presentes no processo terapêutico, caso contrário este teria pouco valor.

Avaliação da teoria:
 Freud revolucionou o objeto e o método da psicologia, bem como a própria
conceção do ser humano;
 Ao introduzir o inconsciente como objeto de estudo da psicologia, demarca-se
da conceção que Wundt tinha sobre a mente e demarca-se do
comportamentalismo;
 Revoluciona o modo como concebemos o ser humano, isto é, substituiu uma
conceção do ser humano como ser racional e consciente por uma conceção do
ser humano dividido entre esta natureza, racional e consciente, e uma natureza
pulsional e instintiva;

2.4. Carl Rogers – humanismo.


Rogers e a importância da pessoa:
 Constatou que o ser humano tem uma tendência para a saúde e para o bem-
estar, tende naturalmente para uma «orientação positiva», para se desenvolver
enquanto pessoa;
 Concluiu que o sucesso das terapêuticas residia, em grande medida, na relação
interpessoal estabelecida entre pacientes e terapeutas. Constatou, também,
que os pacientes tinham uma perceção muito mais objetiva dos fatores que os
ajudavam na sua recuperação, do que os próprios terapeutas;
 As suas investigações levaram-no a concluir que existem três condições sem as
quais não existe um ambiente facilitador do desenvolvimento pessoal e que,
quando se verificam em simultâneo, são suficientes para garantir tal
desenvolvimento: desenvolvimento pessoal e sucesso terapêutico; relação
paciente terapeuta; sucesso nas aprendizagens; relação entre alunos e
professores; relações na família e relações no trabalho.

Condições que garantem o desenvolvimento pessoal:


 A empatia – implica sermos capazes de, afetiva e compreensivelmente, nos
colocarmos no lugar do outro;
 A aceitação incondicional positiva – aceitar o outro tal como ele é, sem o
julgarmos e sem qualquer processo de negociação ou compromisso;
 A congruência – implica sermos autênticos e honestos. Para isso, temos de
aceitar profundamente o que somos, para que existam mudanças na forma de
nos relacionarmos com o outro.
Avaliação da teoria:
 A teoria de Rogers tem uma grande importância, pois traz para a psicologia
uma conceção humanista;
 O ser humano é visto como um processo dinâmico e nunca acabado;
 O ser humano tem uma grande capacidade de autorrealização;
 Esta conceção teve um grande impacto sobre a pedagogia, colocando a relação
interpessoal no centro das aprendizagens;

Esta teoria é criticada por ser demasiado otimista relativamente ao ser humano e por
subestimar os conflitos sociais.

2.5. Jean Piaget – interacionismo.


Jean Piaget considera que é o sujeito que constrói o seu desenvolvimento
cognitivo, através das suas ações.
Piaget e as relações entre a ação e o pensamento:
 Há uma estreita relação entre ação e pensamento;
 Já nascemos com capacidades inatas, como a sucção, que nos permite
alimentar;
 A partir dos primeiros meses de vida começamos a imitar gestos, através de
uma imitação imediata do que está a acontecer;
 Numa fase posterior, a criança, é capaz de uma imitação diferida, imitando o
que viu acontecer, usando o conteúdo de experiências anteriores;
 Exemplo: bater palmas – num primeiro momento imitamos o que estamos a
ver, posteriormente já o fazemos sem ninguém por perto, para imitar;
 Isto implica que, para imitar ações passadas a criança tem de representá-las
mentalmente. O que significa que constrói representações da realidade;
 Para além da interiorização dos objetos, representados por imagens mentais, a
criança interioriza também os esquemas de ação. Esta ação interiorizada é o
pensamento.

Questão do conhecimento para Piaget:


 Define-se como epistemologista genético (cientista do desenvolvimento do
conhecimento humano);
 É interacionista, pois defende que o ser humano, sempre que interage com o meio
que o rodeia, atua sobre o seu potencial inato, transformando-o em conhecimento. “É
através destas interações que o desenvolvimento cognitivo se constrói e te tornas
inteligente.”;
 Para Piaget, falar em inteligência era o mesmo que falar em adaptação. Ao mesmo
tempo, falar em adaptação implicava outros três conceitos: assimilação, acomodação
e equilibração;
 A assimilação é a incorporação de um elemento do meio exterior nos esquemas do
sujeito. O sujeito age no sentido de se apropriar do objeto; A acomodação é a
transformação dos esquemas ou estruturas do sujeito em função do elemento
exterior. O sujeito age no sentido de se transformar; Em conjunto, a assimilação e a
acomodação permitem a adaptação, isto é, a modificação dos processos mentais e do
comportamento para melhor equilíbrio entre o indivíduo e o meio; Por sua vez, a
equilibração permite a autorregulação entre as estruturas e o meio e entre o
conhecido e a novidade (equilíbrio entre a assimilação e a acomodação) – ver
esquema da página 283;
 Para além de interacionista, a abordagem de Piaget é também construtivista, já que
pressupõe que a construção da inteligência ocorre por estádios e que o sujeito
desempenha um papel ativo neste processo.

Jean Piaget, com base na observação naturalista, considerou a existência


de 4 estádios de desenvolvimento cognitivo:
 sensório-motor, do nascimento até aos 2 anos;
 pré-operatório, dos 2 aos 7 anos;
 operário concreto, dos 7 aos 11 anos;
 operário formal, dos 11 aos 15 anos.

[ver quadro da página 284 do manual]

 A inteligência desenvolve-se progressivamente ao longo do tempo. Em cada um dos


estádios ocorrem aquisições relevantes e a cada estádio correspondem estruturas ou
esquemas mentais distintos. [ler texto da página 285 e responder às perguntas]

Explicação dos estádios de desenvolvimento cognitivo


Estádio sensório-motor:
 o conceito mais importante é o de objeto permanente ou permanência do objeto. A
criança procura um objeto escondido, pois ganha a noção que os objetos continuam a
existir, quando fora da sua vista, isto ocorre por volta dos 9 meses;
 A inteligência prática, que marca a 1ª etapa do desenvolvimento cognitivo, dá
progressivamente lugar à inteligência representativa.

Estádio pré-operatório:
 Emerge a função simbólica. Com o auxílio das imagens, dos símbolos e dos signos, a
criança adquire o prazer de falar e o seu pensamento torna-se profundamente
intuitivo, livre e imaginativo;
 Nesta fase a criança encontra-se centrada em si mesma. Esta centração tem
repercussões na perceção do mundo físico e das relações sociais, traduzindo-se em
características como o egocentrismo. A sua compreensão do mundo é rudimentar.
Acredita que todos os fenómenos exteriores dependem de si, como o sol pôr-se,
porque estava cansada, ou o vento começar a soprar, porque está com calor;
 No estádio pré-operatório, a criança já é capaz de pensar e representar
simbolicamente o mundo, mas ainda é incapaz de realizar operações. Responde aos
problemas que lhe são colocados única e exclusivamente com base na aparência, na
perceção imediata do mundo. [ver imagem da página 286 e quadro da página 287 –
ilustram como a criança se deixa iludir pela aparência, não realizando operações
concretas]

Estádio das operações concretas:


 A criança adquire a reversibilidade, que é a capacidade mental para fazer e desfazer
uma operação anteriormente realizada. Desenvolve-se a noção de conservação da
matéria sólida e líquida, logo depois, também, a conservação do volume e do peso.
 Estádio das operações formais:
 No decurso da adolescência, os jovens desenvolvem a capacidade de pensar de modo
puramente abstrato, formal e lógico;
 Desenvolvem o raciocínio hipotético-dedutivo, tornando possível complexas reflexões
filosóficas, matemáticas e científicas e a elaboração de teorias sobre todas as coisas;
 Percebe, enfim, que diferentes pessoas podem ter diferentes pontos de vista sobre os
mesmos assuntos. Ainda assim, o jovem, adota um egocentrismo intelectual, julgando
que as suas opiniões e pontos de vista são melhores do que os dos outros, sendo
pouco recetivo a críticas, culpabilizando facilmente os outros e julgando as figuras de
autoridade.

Conclusões sobre Piaget:


 Atribui um papel ativo ao indivíduo no seu desenvolvimento, enfatizando a
importância dos processos de assimilação, de acomodação e de equilibração. Adotou,
assim, uma posição face às dicotomias inato (fatores biológicos) e adquirido (fatores
ambientais) e interno (processos mentais) e externo (comportamento);
 No que toca à dicotomia continuidade versus descontinuidade, coloca o enfoque na
descontinuidade, através dos vários estádios. O desenvolvimento é,
fundamentalmente, um processo qualitativo, que implica mudança, ou seja, processos
de acomodação e de transformação de esquemas. Há descontinuidade e mudanças
qualitativas entre os estádios. Mas, isto não exclui a descontinuidade, pois, dentro de
cada estádio, há momentos de relativa estabilidade.

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