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A REPRESSÃO/Recalque – Freud, 1915.

Anallú G. Firme Lorenzon

O texto “A repressão”, 1915, compõe o conjunto de textos da metapsicologia


freudiana. A repressão é elencada pelo psicanalista como um dos possíveis
destinos instintuais. Na História do movimento Psicanalítico, 1914, afirma que a
teoria do recalque é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da
psicanálise. A pedra angular era a pedra fundamental utilizada nas antigas
construções, caracterizada por ser a primeira a ser assentada na esquina do
edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes. A partir da pedra
angular, eram definidas as colocações das outras pedras, alinhando toda a
construção. A pedra angular é o elemento essencial que dá existência àquilo
que se chama de fundamento da construção. Porque Freud aproxima a teoria
do recalque à pedra angular da psicanálise? Procuraremos perseguir no texto
freudiano “A repressão” uma possível resposta para este questionamento, que
suspeitamos estar relacionada ao fato do mecanismo da repressão estar na
origem da formação do inconsciente.

Na teoria freudiana, o excesso de estímulo é vivido pelo sujeito em formação


como algo avassalador, que conduz ao desamparo. Lidar com os estímulos,
tentando conseguir sua descarga impõe-se ao aparelho psíquico para evitar o
sentimento de desamparo (HANNS, Teoria Pulsional na clínica de Freud. P.
54). A atividade do aparelho psíquico esta regulada pelo Princípio do prazer: o
aparelho deve trabalhar no sentido de reduzir ao máximo os estímulos, uma
vez que a sensação do prazer é resultante da diminuição da excitação,
enquanto o desprazer é sentido pelo seu aumento.

O recém nascido é excessivamente imaturo, do ponto de vista psíquico e


orgânico. Ao nascer, não consegue se reconhecer como uma unidade, se
diferenciar do mundo, e lidar com os estímulos que lhe acometem com o
nascimento. Também não tem maturidade psíquica para diferenciar os
estímulos externos, cuja origem é o mundo exterior, dos internos, frutos do seu
próprio organismo. Este estado de completo desamparo começa a ser
superado quando o bebê percebe que existe uma espécie de estímulo do qual
é possível se safar por ações musculares de fuga, e atribui sua fonte ao mundo
externo. Por outro lado, também passa a reconhecer que existe outra espécie
de estímulo do qual não é possível desviar pela ação motora, identifica neles a
existência de um mundo interior, em constante excitação, do qual não é
possível se safar.

Na constituição do sujeito, a pulsão é primeva, anterior ao inconsciente, e ao


recalque. A Pulsão é o representante psíquico dos estímulos oriundos do
interior do corpo e que atingem a alma, como uma medida do trabalho imposto
à psique por sua ligação com o corpo (Os instintos e seus destinos, p.57).
Freud, em Os Instintos e seus destinos, de 1915, desenvolve os seguintes
termos em relação ao conceito de pulsão:

 Impulso: Elemento motor, exigência de trabalho, caráter impulsivo.


 Meta: Satisfação, que pode ser alcançada apensas pela supressão do estado de
excitação. (Pulsão inibida em sua finalidade, satisfação parcial)
 Objeto: O que através do qual ou pelo qual o instinto pode alcançar sua meta. Mais
variável. Fixação: se efetua com freqüência nos períodos iniciais do desenvolvimento
instintual e põe termo à mobilidade do instinto, ao se opor firmemente a dissolução do
laço (p.59).
 Fonte: Órgão ou parte do corpo do qual a pulsão se origina.

A origem da pulsão é o interior do próprio indivíduo. Ela atua como uma força
constante, movente, que exige satisfação e não permite fuga por meio de
ações motoras. Quais as possibilidades que o aparelho psíquico dispõe para
lidar com a exigência pulsional? Como o sujeito pode reduzir a tensão
constante, resultada da pulsão, para encontrar o prazer, enquanto alívio? Freud
enumera algumas possibilidades de destinos para a pulsão, que operam neste
sentido:

 Reversão ao contrário
 O voltar-se contra a própria pessoa
 A sublimação

Além dos três primeiros destinos, o recalque constitui uma tentativa do


aparelho psíquico de dar conta da pulsão. Em seus movimentos em direção à
consciência e a ação, as pulsões sexuais podem encontrar forças que atuem
no sentido de neutralizá-las, torná-las inoperantes, resistências que queiram
impedir sua ação. É importante salientar que na primeira linha do artigo o termo
resistência já aparece.

O termo alemão para o recalque é verdrängung, cujo sentido coloquial remete


a empurrar, desalojar, afastar algo e ocupar espaço, quase como “tirar algo de
cena”. No uso corriqueiro trata-se de manter afastado algo incômodo que
insiste em se manifestar ou ocupar a cena. Também pode ser empregado na
acepção concreta e física para descrever o deslocamento/afastamento de
massas ou corpos, o deslocamento de água quando da presença de um navio.
(HANNS, 1999)

No texto O Recalque, de 1915, Freud situa o mecanismo entre a fuga (apenas


cabível a um estímulo externo) e o juízo de valor, repúdio condenatório,
possível apenas em um momento posterior do desenvolvimento. No processo
de maturação do aparelho psíquico, o recalque não é um mecanismo primitivo.
Antes do mecanismo do recalque, o aparelho psíquico precisa ter passado pelo
penoso estágio de reconhecimento de um mundo interior e um exterior.
Também existem mecanismos mais complexos que o recalque, que demandam
uma consciência capaz de emitir juízo, ou seja, o reconhecimento da idéia em
questão e o seu repúdio por se tratar de algo que entra em conflito com os
princípios do sujeito.

Sendo a pulsão uma expressão das necessidades do organismo, e o prazer a


conseqüência de sua satisfação, por que o aparelho psíquico haveria de opor-
lhe resistência? Porque uma pulsão, cuja meta é a obtenção de prazer,
sucumbiria a este fim? A hipótese levantada pelo psicanalista é que para a
pulsão ser recalcada precisa produzir mais desprazer de que prazer. Mas como
conceber que a pulsão cause desprazer, uma vez que a satisfação pulsional é
sempre prazerosa? Em circunstâncias especiais, algum tipo de processo
transforma um prazer obtido a partir da satisfação de uma pulsão em
desprazer.

Exame de algumas outras configurações pulsionais: a dor e fome. Os exemplos


anteriores parecem sinalizar que o mecanismo do recalcamento não pode
incidir sobre algo avassalador e imperativo. Algo já presente na consciência e
imenso como a dor e a fome não são passíveis de entrar em estado de
recalque. (HANNS, 1999)

Deve-se ater a experiência clínica. Conforme a prática psicanalítica: a pulsão


que está submetida ao recalque poderia ter sido satisfeita e que tal satisfação
seria, em si, sempre prazerosa; porém, ela seria incompatível com outras
exigências e propósitos, e, desse modo, acabaria por gerar prazer em um lugar
e desprazer em outro. Condição para recalque: força do desprazer seja
superior ao do prazer.

A experiência com as neuroses de transferência mostram que o recalque não é


um mecanismo de defesa presente desde a origem. Ele só pode surgir quando
há uma nítida separação entre a atividade psíquica consciente e inconsciente.
Sua essência consiste apenas na ação de repelir algo para fora do consciente
e de mantê-lo afastado deste. Antes do desenvolvimento atingir este nível de
organização psíquica outros mecanismos se ocupavam da ação de rechaçar as
moções pulsionais, como, por exemplo, a transformação no contrário e o
redirecionamento contra a própria pessoa.

O inconsciente e o recalque estão tão intimamente correlacionados que


enquanto não houver uma melhor elucidação a respeito da estruturação das
instâncias psíquicas e sobre a diferenciação de consciente e inconsciente, não
será possível aprofundar a abordagem do recalque. Por ora, é possível apenas
reunir de forma descritiva algumas características do recalque, colhidas da
clínica.

Recalque original (primário): Consiste em interditar ao representante psíquico


da pulsão a entrada e admissão no consciente. Esse recalque estabelece
então uma fixação, e a partir daí o representante em questão substituirá
inalterado e a pulsão permanecerá a ele enlaçada. No recalque primário é
barrada a entrada no consciente do representante psíquico da pulsão, a idéia
representante de determinado montante pulsional seria impedida de chegar a
consciência. Este acontecimento geraria uma fixação, a partir deste momento,
o representante da pulsão permaneceria inalterado no inconsciente.
O elemento recalcado não sofreria a ação do pensamento consciente e,
portanto, não seria questionado ou modificado, permanecendo sempre igual,
sendo isso o que constitui a chamada fixação. É por meio do recalque que
certos elementos são retirados da vida consciente, sendo mantidos no
inconsciente, onde não sofrem as interações que os fariam evoluir.
Permanecem ativos, porém congelados no tempo, sem sofrer a erosão da
realidade e do aprendizado.

“A noção de fixação encontra-se constantemente na doutrina psicanalítica para


explicar este dado manifesto da experiência: o neurótico, ou mais geralmente
todo ser humano, está marcado por experiência infantis, mantém-se ligado, de
forma mais ou menos disfarçada, a modos de satisfação, a tipos arcaicos de
objeto ou de relação; o tratamento psicanalítico confirma a influência e a
repetição das experiências passadas, bem como a resistência do sujeito a
libertar-se delas.” (Laplanche & Pontalis, 1991, p. 190).

Segunda etapa do recalque: representações derivadas do representante


recalcado ou ainda a àquelas cadeias de pensamentos que, provindo de outros
lugares, acabam desenvolvendo relações associativas com esse
representante. Devido a essa ligação, tais representações sofrem o mesmo
destino do recalcado original.

O núcleo originalmente recalcado se encontra fixado num ponto do


inconsciente, enquanto os representantes derivados estão submetidos a um
movimento dinâmico e se encontram na cadeia de pensamentos do sistema
Pré-consciente/Consciente.

Aprendizado social: recalcar cada vez mais.

Amnésia infantil: "o que tenho em mente é a amnésia peculiar que, no caso da
maioria das pessoas, embora não em todas, oculta os inícios mais precoces de
sua infância até seu sexto ou oitavo ano (...) podemos nos convencer mediante
um exame psicológico de outras pessoas, de que as mesmas impressões que
esquecemos deixaram, não obstante, os mais profundos traços em nossas
mentes e tiveram um efeito determinante sobre a totalidade de nosso
desenvolvimento subseqüente. Portanto, não há que se falar de qualquer
abolição real das impressões da infância mas antes de uma amnésia
semelhante àquela que os neuróticos exibem em relação a eventos ulteriores,
e cuja essência consiste em simplesmente afastar estas impressões da
consciência, ou seja, em reprimi-las." (“Três Ensaios sobre a Teoria da
Sexualidade”, Freud , 1905 b, p. 178-9).

Além do movimento de repulsão do consciente para o inconsciente, é


importante salientar que no recalque há o movimento de atração que o
recalcado original exerce sobre tudo que consegue estabelecer conexão.
Existe algo antes recalcado pronto para acolher o que foi repelido pelo
consciente.

O recalque só perturba a relação com o sistema psíquico do consciente. O


recalque não impede o representante pulsional de continuar existindo no
inconsciente, de continuar a se organizar, a formar novas representações
derivadas e estabelecer ligações. O representante pulsional se desenvolve de
forma mais desimpedida e com maior riqueza quando, por meio do recalque, é
retirado da influência do consciente. O representante pulsinal sem as limitações
do consciente, encontra formas de expressão extremas. Ao serem
apresentadas ao neurótico parecerão estranhas, assustadoras,
extraordinariamente fortes e perigosas. Esta força pulsional enganosa é
resultado do desdobramento desinibido da representação na fantasia e do
acúmulo quando a satisfação foi impedida.

Quanto mais distante do originalmente recalcado mais próximo da consciência:


O recalque não mantém afastada da consciência todas as representações
derivadas do recalcado original. Quanto mais afastados do recalcado original
mais próximo as representações estão da consciência (incorporação de
deformações, interpelação de uma quantidade de elos intermediários).

Durante a prática da psicanálise é solicitado que o paciente produza as


representações derivadas do recalcado, que possam, pela distância e
deformação, chegar até o consciente. As idéias espontâneas, enunciadas com
a suspensão da intencionalidade e crítica, são representações derivadas e
distorcidas. É a partir delas que podemos construir uma tradução consciente
para o representante recalcado. Quando o paciente chega a uma cadeia de
pensamentos cuja relação com o recalcado se manifesta mais intensamente,
volta-se a repetir a tentativa do recalque. Os sintomas neuróticos são derivados
do recalcado que, por meio dessas formações somáticas, afinal conquistaram o
acesso a consciência que antes lhe era negado.

Fator econômico do recalque: Não é possível apontar ao certo o grau de


deformação e afastamento necessário para manter uma representação
recalcado. Trata-se de não ultrapassar certa intensidade de investimento no
inconsciente, a qual, se for ultrapassada, fará com que o material inconsciente
irrompa e verta até atingir a satisfação. Se o investimento pulsional for intenso
serão rompidas todas as barreiras e ele chegará à consciência e à ação. Se o
investimento for fraco ele consegue permanecer represado pelo recalque. O
recalque trabalha de forma altamente individual. Um pouco menos ou mais de
distorção pode alterar completamente o resultado. Os objetos preferidos das
pessoas, bem como seus ideais, se originam das mesmas percepções e
experiências que os objetos por elas mais execrados, e mais, que
originalmente tais objetos se diferenciavam uns dos outros apenas por meio de
pequenas alterações. (Diferença entre o cirurgião e o serial killer, ambos
demonstram grande interesse em retirar parte do corpo de outras pessoas???)
Fetichismo: o representante pulsional original é decomposto em duas partes,
uma sofre o recalque e a outra a idealização.

Chiste: Modificação nas condições de prazer-desprazer. Técnicas especiais


cujo propósito é gerar alterações no jogo de forças psíquicas, de modo a
transformar o que geraria desprazer em algo prazeroso. Quando este
mecanismo entra em ação suspende-se, temporariamente, o recalque de um
representante pulsional.

Mobilidade: Não é um evento único de efeito duradouro, não ocorre como se o


alvo tivesse sido abatido e agora estivesse morto. O recalcado exerce uma
pressão constante em direção ao consciente, a qual precisa ser equilibrada por
meio de uma contrapressão incessante. Portanto, a manutenção de um
recalque pressupõe um dispêndio de força constante, ao passo que a
suspensão do recalque significa, em termos econômicos, poupar esse
dispêndio de forças. O recalque implica em um gasto permanente de energia.
No sono o recalque é recolhido, o que tornam possíveis as elaborações dos
sonhos. Ao despertar o investimento do recalque se faz presente, novamente.

O recalque é um mecanismo de limiar e incide sobre uma moção pulsional


representada pela idéia (representação) a qual, investida de relativa baixa
carga energética, ainda pode ser mantida em xeque num estado de
recalcamento. É, portanto, a insipiente manifestação da pulsão que sofre
recalcamento não a somação de estímulos pulsionais que avassaladoramente
acumulados tornariam imperativos (HANNS, 1999).

Parcela quantitativa da pulsão: Freud decompõe a pulsão em dois


componentes: representação (idéia) e quantidade de afeto, ele corresponde à
pulsão, na medida em que se desprendeu da representação e encontra
expressão, de acordo com sua magnitude, em processos que se fazem
perceber à sensação na forma de afetos. Em relação à representação da
pulsão que sofre o recalque, se ela estiver no consciente seu destino será
desaparecer do consciente, caso ela estivesse prestes a tornar-se consciente,
seu destino será ser mantida afastada da consciência. Já a quantidade de
afeto têm três possíveis destinos: a pulsão pode ser totalmente reprimida de
maneira que nada mais dela possa ser encontrado, ou surge como afeto com
determinado colorido qualitativo, ou é transformada em medo/angústia. Novo
destino da pulsão – transformação das energias psíquicas das pulsões em
afetos.

A finalidade do recalque é a evitação do desprazer. Um recalque que não


consiga impedir que surjam sensações de desprazer e medo é um recalque
que fracassou. São estes os tipos de recalque que merecem o maior interesse,
uma vez que os bem sucedidos escapam ao alcance do estudo.

O mecanismo do recalque só se torna acessível quando parte-se dos seus


efeitos: as formações substitutivas. O mecanismo de formação substitutiva
coincide com o mecanismo do recalque? Não é o próprio recalque que cria
formações substitutivas e sintomas, mas que estes últimos são indícios de um
retorno do recalcado e devem seu surgimento a processos inteiramente
diferentes. O que faz o recalcado chegar a consciência enquanto formação
substitutiva ou sintoma não é o mecanismo de atuação do recalque. Em
relação a esta questão o psicanalista antecipa: 1) o mecanismo do recalque de
fato não coincide com o mecanismo ou mecanismos da formação substitutiva,
2) que existem diversos mecanismos de formação substitutivas muito
diferentes entre si, 3)que ao menos uma coisa é comum aos diversos
mecanismos de recalque: o investimento da energia é recolhido.

Freud vai mostrar, através de exemplos, como os conceitos até então utilizados
podem ser aplicados ao estudo do recalque:

Histeria de angústia: A moção pulsional que foi submetida ao recalque era uma
atitude libidinal da criança em relação ao pai, pareada com o medo que tinha
dele. Depois do recalque essa moção desapareceu da consciência, o pai não
mais apareceu nela como objeto da libido. Em lugar correspondente ao do pai,
encontra-se agora, como substituto, um animal mais ou menos adequado para
servir de objeto de medo. A formação substitutiva da parcela representacional
produziu-se pela via de um deslocamento. Esse deslocamento ocorreu ao
longo de uma cadeia cujas conexões obedecem a certas determinações.
Quanto a parcela quantitativa, esta não desapareceu, mas se converteu em
medo. O resultado é o medo do lobo no lugar de uma demanda amorosa em
relação ao pai.

O recalque neste caso é totalmente fracassado, uma vez que apesar de


remover e substituir a representação frustra em evitar o desprazer. O trabalho
da neurose não para. O que se segue é a formação de uma tentativa de fuga, a
fobia propriamente dita, a qual consiste em uma quantidade de evitações que
devem impedir a liberação de medo. Evita situações com a finalidade de evitar
a angústia.

Histeria de conversão O recalque pode levar a um total desaparecimento da


quantidade de afeto. Charcot: a bela indiferença das histéricas. O conteúdo
representacional do representante pulsional foi retirado por completo da
consciência; no lugar deste, como formação substitutiva – e ao mesmo tempo
como sintoma-, encontra-se uma inervação ultraforte- em casos típicos,
somática- e que pode ser ora de natureza sensória ora motora. Essa inervação
ultraforte pode assumir a forma de inibição ou excitação. Num exame mais
detido, o local ultra-inervado revela-se como uma parcela do próprio
representante pulsional recalcado, a qual, como por condensação, atraiu todo o
investimento para si.

Neurose obsessivo-compulsiva Pressupõe uma agressão, por intermédio do


qual um anseio sádico entrou no lugar de um amoroso. Este impulso hostil
contra a pessoa amada que está submetido ao recalque. Na primeira fase do
recalque o sucesso é completo, o conteúdo representacional desaparece junto
com o afeto. Como formação substitutiva ocorre uma alteração do eu e o
aumento da conscienciosidade (zelo, cuidado). A formação substitutiva aqui
não coincide com a formação do sintoma. O recalque utiliza-se da formação
reativa para alcançar seu objetivo, intensificando um oposto. Neste caso, o
recalque e a formação substitutiva coicidem, porém se distinguem temporal e
conceitualmente da formação de sintoma. Poreém o sucesso do recalque é
passageiro. O afeto desaparecido retorna como medo social, em medo da
própria consciência moral e na forma de uma repreensão impiedosa. A
representação rechaçada é constantemente substituída por deslocamento para
algo menor, ou indiferente, portanto ocorre uma substituição por deslocamento.
O fracasso do fator afetivo, quantitativo, utiliza-se do mesmo mecanismo de
fuga por evitações e proibições utilizado pela fobia histérica. A representação,
no entanto, é mantida recalcada no inconsciente, com esse afastamento se
garante o impedimento da ação. Deste modo, o trabalho do recalque na
neurose obsessiva resulta numa luta sem êxito e sem fim.

O texto termina expondo a incompletude e a necessidade de aprofundamento


sobre o recalque e a formação do sintoma.

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