Introdução do tradutor Freud assinala à palavra instinto alguns significados por ela assim mesmo traduzida. Ele não distinguia instinto (pulsão) de seu representante psíquico. Considerava a pulsão como sendo o próprio representante psíquico de forças somáticas. Depois, em sua obra, ele não considera mais o instinto como sendo o representante psíquico de impulsos somáticos, mas como sendo ele algo não psíquico. Ele viu uma solução na própria ambiguidade do conceito (conceito esse de fronteira entre o físico e o mental). Esse texto é uma tentativa dele de lidar com um assunto de forma abrangente. É relato mais claro de Freud a despeito das pulsões (ou instintos) e da forma como as mesmas atuavam. Uma reflexão que se subsegue levou-o a mudar seus conceitos sobre a classificação das pulsões. Ele se permite então distinguir um estímulo (força gerado de um impacto isolado) e pulsão, que atua sempre como constante. Vinte anos antes, Freud trazia essa distinção sob a nomenclatura de excitações endógenas e exógenas. Somente em "Três Ensaios" foi a libido estabelecida como sendo uma expressão de pulsão sexual. Freud introduziu a expressão pulsões do ego (Eu), identificando-os com as pulsões autopreservativas e também com a função repressiva. Delineou os instintos (pulsões) do ego (Eu) e instintos da libido. Foi em "Beyond the Pleasure Principle" que declarou que a libido narcisista era uma maniestação da força da ulsão sexual e que tinha de ser identificada com as "pulsões autopreservativas". Sustentava, ainda, entretanto, que havia instintos do ego e objetais que não eram libidinais, e foi aí que inaugurou sua hipótese da pulsão de morte (pulsões agressivas e destrutivas - os examinou como derivados do instinto de morte (pulsão de morte!!)). Freud Freud introduz esse texto afirmando que nenhuma ciência começa com conceitos básicos claros e bem definidos. O início da atividade científica consiste na descrição dos fenômenos, passando então a agrupá-los, classificá-los, e correlacioná-los. Afirma, ainda, que os conceitos básicos sob a forma de definições são constantemente alterados em seu conteúdo. Segundo ele, um conceito básico que também passa por isso é o de instinto (pulsão). Ele fala que fisiologicamente falando, um estímulo e o modelo do arco reflexo age segundo o qual um estímulo aplicado ao tecido vivo a partir de fora é descarregado por ação para fora. Ele permite então analisar a relação entre pulsão e estímulo, falando inicialmente que ambos os termos não podem ser igualados entre si. Ele vai então distinguir os estímulos pulsionais e os estímulos fisiológicos que atuam na mente. Um estímulo pulsional não surge do exterior, mas de dentro do próprio organismo. Uma pulsão não atua como força que imprime uma impacto momentâneo, mas sempre com um impacto constante. Haja visto que incide de dentro do organismo, não tem como fugir dele. Ele caracteriza o estimulo pulsional como sendo "necessidade", afirmando ser a satisfação a forma que virá a eliminá-la: isso pode ser alcançado apenas por uma alteração apropriada (adequada) da fonte interna de estimulação. Assim, Freud chega à natureza das pulsões, à sua origem em fontes de estimulação dentro do organismo e seu aparecimento como uma força constante. Deduziu que nenhuma ação de fuga prevalece contra as pulsões. Ele postulou isso de forma biológica, utilizando a questão de "finalidade" (conveniência): o sistema nervoso é que deve se livrar dos estímulos que lhe chegam, ou reduzí-los ao nível mais baixo possível - é ele quem domina os estímulos pulsionais que partem de dentro do organismo. Os mesmos, obrigam o SN a renunciar à sua intenção ideal de afastar os estímulos, pois mantêm um fluxo incessante e inevitável de estimulação. Esse processo de dominação dos estímulos se verifica com os sentimentos desagradáveis, que estão ligados a um aumento e aos sentimnetos agradáveis a uma diminuição do estímulo. Freud correlaciona os dois princípios (princípio da constância - princípio do Nirvana e princípio do prazer). Ao evitar o desprazer, somos tentados a identificar essa tendência com a tendência primária no sentido da inércia (evitar a excitação). Ele conclui afirmando que o princípio do prazer é uma modificação do princípio do Nirvana (atribuído à pulsão de morte = sua transformação no princípio do prazer se deve á influência da pulsão de vida/libido). Num ponto de vista biológico, uma pulsão é um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático. Freud vai permitir então tratar da sua pressão, finalidade, objeto e sua fonte. Por pressão de uma pulsão, ele compreendeu seu fator motor, a qtde de força/medida de exigência de trabalho que ela representa, sendo comum a todas as pulsões/instintos: seria sua essência. A finalidade, para ele, de uma pulsão seria sempre a satisfação, que só pode ser obtida se eliminando o estado de estimulação na fonte da pulsão. Embora a finalidade seja imutável, poderá haver diferentes caminhos que conduzirão à mesma finalidade última. O objeto de uma pulsão é a coisa em relação à qual ou através da qual a pulsão é capaz de atingir sua finalidade, e é o que há de mais variável em uma pulsão - uma ligação estreita da pulsão com seu objeto se distingue pelo termo "fixação", pondo fim á sua modalidade por meio de uma oposição ao desligamento. Por fonte de pulsão, Freud entendeu o processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, e cujo estímulo é representado na via mental por uma pulsão. Ele afirmou que embora as pulsões sejam inteiramente determinadas por sua origem numa fonte somática, na vida mental nós as conhecemos apenas por suas finalidades. Assim, sua fonte pode ser deduzida de sua finalidade! Segundo Freud, as pulsões que se originam no corpo e atuam na mente eram distinguidas por qualidades diferentes. Entretanto, percebeu que todos os instintos, ou melhor, pulsões, são qualitativamente semelhantes e devem o efeito que causam somente à quantidade de excitação que trazem em si. Ele então vai diferenciar dois grupos de pulsões: as pulsões (instintos) do ego (autoreservativos) e as pulsões sexuais. É a investigação psicanalítica das perturbações mentais que vai trazer um estud para ele melhor da vida pulsional. Resume falando que a pulsões sexuais são numerosas, emanam de uma grande variedade de fontes orgânicas, atuam em princípio independentemente um do outro e só alcançam uma síntese mais ou menos completa numa etapa posterior. A finalidade por cada qual uma pulsão luta é a consecução do prazer do órgão. Logo quando surgem, estão ligados às pulsões da autopreservação, dos quais gradativamente se separam. É também na sua escolha objetal, que seguem os caminhos indicados pelas pulsões do ego (Eu). Elas se distinguem por serem capazes de mudar prontamente de objetos: tais pulsões são capazes também de funções distantes de suas ações intencionais originais, ou seja, são capazes de sublimação. Freud então vai afirmar a pulsão pode se destinar à reversão a seu oposto; ao retorno em direção ao próprio eu (self) do indivíduo; à repressão e à sublimação, dando enfoque de análise maior às duas primeiras. Ele considerou essas vicissitudes como modalidades de defesa contra as pulsões. A reversão da pulsão a seu oposto transforma-se em dois processos diferentes: uma mudança da atividade para a passividade e uma reversão de seu conteúdo. Quanto à mudança da atividade para a passividade, Freud ilustra dois pares de opostos para exemplificar (sadismo-masoquismo e escopofilia-exibicionismo). Segundo ele, a reversão afeta APENAS A FINALIDADE das pulsões. A reversão do conteúdo encontra-se no exemplo da transformação do amor em ódio. O retorno de uma pulsão em direção ao próprio eu da pessoa se torna plausível pela reflexão de que o masoquismo é o sadismo que retorna ao próprio ego do individuo, e de que o exibicionismo abrange o olhar para o próprio corpo. A essência aqui é que a mudança do objeto ocorre, mas a finalidade é imutável. Freud faz então uma análise mais sucinta a despeito dos opostos sadismo-masoquismo. Uma vez que sentir dor se transforma numa finalidade masoquista, a finalidade sádica de dor também pode aparecer: em ambos os casos, não é a dor que é possuída, mas a excitação sexual concomitante. A posse da dro é assim uma finalidade originalmente masoquista, que só se torna finalidade pulsional em alguém que era originalmente sádico. Ao analisar outro par de opostos no que tange perversão (escopofilia-exibicionismo), Freud verifica também que a finalidade ativa surge antes da passiva, de o que olhar precede o ser olhado. Para o início desse antagonismo, a pulsão escopofílica é auto-erótica; a pessoa possui um objeto, mas esse é parte do próprio corpo do sujeito: esse tipo de fase preliminar é ausente no sadismo, que desde o começo, é dirigido para um objeto estranho. Freud afirma podermos dividir a vida de cada pulsão numa série de ondas sucessivas isoladas, cada uma delas homogênea durante o período de tempo que dure. Ele conceitua ambivalência (oscilação entre amor e ódio) comoo fato de que no período posterior de desenvolvimento de um impulso pulsional, o seu oposto (passivo) pode ser observado ao lado dele. Segundo ele, essa ambivalência varia muito entre as pessoas, grupos e raças. A fase preliminar da pulsão escopofílica, na qual o próprio corpo do sujeito é o objeto da escopofilia, pode se dar uma formação narcisista. A pulsão escopofílica se desenvolve a partir daí, deixando para trás o narcisismo. A pulsão escopofílica passiva, fica no narcisismo. Da mesma forma, a transformação do sadismo em masoquismo acarreta num retorno ao objeto narcisista. As vicissitudes pulsionais (que consistem no fato de a pulsão retornar em direção ao próprio ego do sujeito e sofer reversão da atividade para a passividade) são dependentes da organização narcisista do ego. Estes são as pulsões sexuais que aparecem de forma ambivalente. As pulsões, de modo geral, têm atividades auto- eróticas, seu objeto é insignificante em comparação com o órgão que lhes serve de fonte. Nas pulsões auto- eróticas, a forma e a função do órgão determinam a atividade ou a passividade da finalidade pulsional. A mudança do conteúdo de uma pulsão em seu oposto só pode ser observada na transformação de amor em ódio: sua coexistência é exemplo de ambivalência de sentimento. Freud vai considerar o amor sendo toda a corrente sexual do sentimento. Para ele, o amor admite três antíteses: "amar-odiar"; "amar-ser-amado"; e o amor e ódio enquanto conjunto e oposto à condição de desinteresse e indiferença. A segunda antítese corresponde à transformação da atividade em passividade. A situação de amar-se a si próprio é considerada narcisismo. Esses vários opostos do amar é regido por três polaridades (sujeito (Eu) - objeto (mundo externo); prazer-desprazer; ativo-passivo). A ego-não-ego silencia estímulos externos, mas não estímulos pulsionais; a segunda antítese tá ligada a uma escala de sentimentos; a terceira representa a relação do Eu com o mundo externo que é passiva na medida em que o primeiro recebe estímulos do segundo, e ativa quando reage a eles. A antítese ativo-passivo funde-se à antítese masculino-feminino, mas não possui qualquer significado psicológico. Há uma situação psíquica primordial em que duas dessas antíteses coincidem. No início da vida, o ego (Eu) é catexizado com as pulsões, sendo capaz de satisfazê-los em si mesmo: tal condição é narcisista; a forma de se obter satisfação é auto-erótica. Nesse estágio, o mundo extero não é catexizado com interesse, sendo indiferente aos propósitos de satisfação. Freud vai então falar sobre as antíteses citadas do amor. Primeiro, ao definir o amar como uma relação do Ego com suas fontes de prazer, a situação na qual o Eu ama somente a si prórpio e é indiferente ao mundo externo, ilustra o primeiro dos opostos (indiferença). Na medida que o Eu é auto-erótico, não precisa do mundo externo, mas por causa das exp sofridas pelas pulsões autopreservativas, ele assimila objetos daquele mundo, começando a sentir estímulos desagradáveis estímulos pulsionais internos. A partir do momento que os obj apresentados são fontes de prazer, ele os toma para si próprio, expelindo o que é desprazeroso. Assim, o ego (Eu) da realidade, que diferenciou o interno e o externo, se transforma num ego de prazer purificado (prazer acima de tudo). Aqui, o sujeito do ego (Eu) coincide com o prazer, e o mundo externo com o prazer (anteriormente o que era indiferente). Durante o narcisismo primário, o objeto aparece, o segundo oposto ao amar, o odiar, se desenvolve. Aqui, Freud lembra que assim como o par de opostos amor-indiferença reflete a polaridade Eu-mundo externo, assim também a antítese amor-ódio reflete a polaridade prazer-desprazer, ligada à primeira polaridade: quando a fase narcisista cede lugar à fase objetal, o prazer/desprazer significam relações entre o ego(Eu)/objeto. O obj sendo fonte de sensações agradáveis, mais perto do ego ele ficará (diremos que vamos amar esse objeto); inversamente ocorre de forma contrária. Emergentemente, segundo ele, uma pulsão ama o objeto no sentido que ele luta por propositos de satisfação, mas dizer que uma pulsão odeia um objeto é estranho. Assim, as relações de amor e ódio não podem ser utilizadas para as relações entre as pulsões e seus objetos, mas podem ser usadas para as relações entre ego (Eu) total e os objetos. Assim, "amar" desloca-se cada vez mais para a relação de prazer entre o ego (Eu) e objeto, e se fixa a objetos sexuais de forma estrita. Uma pulsão sexual isolada ama o seu objeto, mas deve-se considerar a relação Ego-objeto sexual como o caso mais apropriado de amor (a palavra só pode ser utilizada assim após uma síntese de todas as pulsões que compõem a sexualidade sob os órgãos genitais e a serviço da função reprodutora). Com relação ao ódio, cabe cita a relação de desprazer. O ego (Eu) odeia os objetos que são desprazerosos: os protótipos da relação de ódio se originam não na vida sexual, mas na luta do Eu para se preservar. Freud resume então afirmando que o amor deriva da capacidade do Eu de satisfazer auto-eroticamente alguns impulsos pulsionais pela obtenção do prazer do órgão. É, assim, originalmente, narcisista, passando então para objetos, expressando esforço para que eles se tornem fontes de prazer. Tornar-se vinculado à atividade das pulsões sexuais e quando elas estiverem sintetizadas, haverá o impulso sexual como um todo. No final da fase anal, a luta pelo obj aparece na forma de ànsia de dominar, para a qual o dano do objeto é indiferente. O amor nessa fase quase não diferencia do ódio. Apenas depois da organização genital que o amor vira oposto do ódio. Esse ódio, enquanto relação com objetos, é mais antigo que o amor. Como uma reação do desprazer eliciado por obj, ele possui permanentemente uma relaçao íntima com as pulsões autopreservativas. Ao tratar das origens e relações do amor, Freud pontua que fica fácil compreender o amor ambivalente (acompanhado de impulsos de ódio contra o mesmo objeto). O ódio mesclado tem como fonte as pulsões de auto-preservação. Ao adquirir caráter erótico, o ódio assegura a continuidade da sua relação com o amor. Freud termina pontuando esse texto tratando da terceira antítese do amar que é a transformação do amar em ser amado (atuação da polaridade da atividade e da passividade, cabendo o mesmo julgamento dado aos casos de escopofilia e sadismo). Resumidamente, ele afirma que o traço importante dos destinos sofridos pelas pulsões está na sujeição dos impulsos pulsionais às influências das três grandes polaridades que dominam a vida mental.
O Novo Livro Do Pesquisador Psi e Escritor Charles Tart demonstra os avanços sutis na área das pesquisas psíquicas dos últimos anos e demonstra o quão infantil é a visão de mundo mecanicista ainda imperante.