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INTRODUÇÃO A LACAN

Aline Souza Martins


HISTÓRIA BREVE
 1932 – Tese: “Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade” – Aimée
 1933 – “Motivos de um crime passional” – Irmãs Papin

 [1936] 1949 – “O estádio do espelho como formador da função do eu tal como nos é
revelado na experiência psicanalítica”
 1945 – Tempo Lógico e asserção da certeza antecipada um novo sofisma

 1946 – “Proposição sobre a causalidade psíquica”

 1947 – “A psiquiatria inglesa e a guerra”

 1949 – Introdução as funções da psicanálise em criminologia

 1953 – RSI + Retorno a Freud

 “A função da fala na experiência psicanalítica e relação do campo da psicanálise


com a linguagem”
 Seminário 1: Os escritos técnicos de Freud

 1963 – Excomunhão de Saint-Anne (Seminário: Nomes do pai)

 1964 – Começa a desenvolver seus próprios conceitos (Seminário XI: Os quatro


conceitos fundamentais da psicanálise: Inconsciente, repetição, transferência e
pulsão): $, objeto a, Outro...
PRINCIPAIS PONTOS
 Retorno a Freud
 Eu – Realidade psiquica x física

 RSI

 Linguística de Suassure: Significante/significado

 Tempo Lógico – mudança da técnica

 Estruturalismo de Lévi-Strauss

 Novos conceitos: desejo, Outro, outro, objeto a,


repetição, transferência (sujeito do suposto saber),
fantasia.
EU
 al. Ich; esp. yo; fr. moi; ing. ego
 Termo empregado na filosofia e na psicologia para designar a pessoa humana
como consciente de si e objeto do pensamento.
 A sede da consciência. O eu foi então delimitado num sistema chamado primeira
tópica*, que abrangia o consciente*, o pré-consciente* e o inconsciente*.
 A partir de 1920, o termo mudou de estatuto, sendo conceituado por Freud
como uma instância psíquica, no contexto de uma segunda tópica que abrangia
outras duas instâncias: o supereu* e o isso*. O eu tornou-se então, em grande
parte, inconsciente.

 Essa segunda tópica (eu/isso/supereu) deu origem a três leituras divergentes da


doutrina freudiana:
1) eu concebido como um pólo de defesa* ou de adaptação à realidade (Ego
Psychology*, annafreudismo*);
2) mergulha o eu no isso, divide-o num eu [moi] e num Eu [je] (sujeito*), este
determinado por um significante* (lacanismo*);
3) inclui o eu numa fenomenologia do si mesmo ou da relação de objeto*(Self
Psychology*, kleinismo*).
SIGNIFICANTE
 al. Signifikant; esp.; signifiante; fr. signifiant; ing.signifier
 Termo introduzido por Ferdinand de Saussure (1857-
1913), no quadro de sua teoria estrutural da língua, para
designar a parte do signo lingüístico que remete à
representação psíquica do som (ou imagem acústica), em
oposição à outra parte, ou significado, que remete ao
conceito.
 Retomado por Jacques Lacan* como um conceito central
em seu sistema de pensamento, o significante
transformou-se, em psicanálise*, no elemento
significativo do discurso (consciente ou inconsciente) que
determina os atos, as palavras e o destino do sujeito*, à
sua revelia e à maneira de uma nomeação simbólica.
SIGNIFICANTE
 Saussure

 Lacan

1) Metáfora – condensação
2) Metonimea – deslocamento
ESTRUTURALISMO
 Ferdinand de Saussure (1916), que se propunha a abordar qualquer língua como um sistema no qual
cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém
com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura.
 De um modo geral, o estruturalismo procura explorar as inter-relações (as "estruturas") através das
quais o significado é produzido dentro de uma cultura. Um uso secundário do estruturalismo tem sido
visto recentemente nafilosofia da matemática. De acordo com a teoria estrutural, os significados dentro
de uma cultura são produzidos e reproduzidos através de várias práticas, fenômenos e atividades que
servem como sistemas de significação. Um estruturalista estuda atividades tão diversas como rituais de
preparação e do servir de alimentos, rituais religiosos, jogos, textos (literários e não-literários) e outras
formas de entretenimento para descobrir as estruturas profundas pelas quais o significado é produzido e
reproduzido em uma cultura.
 Claude Lévi-Strauss , analisou fenômenos culturais incluindo mitologia, relações de família e
preparação de alimentos.
 Lévi-Strauss explicou que os antônimos estão na base da estrutura sócio-cultural. Em seus primeiros 
trabalhos demonstrou que os grupos familiares tribais eram geralmente encontrados em pares, ou em
grupos emparelhados nos quais ambos se opunham e se necessitavam ao mesmo tempo. Na 
Bacia Amazônica, por exemplo, duas grandes famílias construíam suas casas em dois semi-círculos
frente-a-frente, formando um grande círculo. Também mostrou que os mapas cognitivos, as maneiras
através das quais os povos categorizavam animais, árvores, e assim por diante, eram baseados em séries
de antônimos. Mais tarde, em seu trabalho mais popular, "O Cru e o Cozido", descreveu contos
populares amplamente dispersos da América do Sul tribal como inter-relacionados através de uma série
de transformações - como um antônimo aqui transformava-se em outro antônimo ali.
RSI – TÓPICA
REAL
 Termo empregado como substantivo por Jacques Lacan*,
introduzido em 1953 e extraído, simultaneamente, do
vocabulário da filosofia e do conceito freudiano de
realidade psíquica*, para designar uma realidade
fenomênica que é imanente à representação e impossível
de simbolizar.
 Utilizado no contexto de uma tópica*, o conceito de real é
inseparável dos outros dois componentes desta, o
imaginário* e o simbólico*, e forma com eles uma
estrutura.
 Designa a realidade própria da psicose* (delírio,
alucinação), na medida em que é composto dos
significantes* foracluídos (rejeitados) do simbólico.
“Os símbolos são mais reais do que aquilo que
simbolizam. O significante precede e determina
o significado.”
SIMBÓLICO Lacan

 Termo extraído da antropologia.


 Sistema de representação baseado na linguagem, isto é, em
signos e significações que determinam o sujeito à sua revelia,
permitindo-lhe referir-se a ele, consciente e
inconscientemente, ao exercer sua faculdade de
simbolização.
 Utilizado em 1953 no quadro de uma tópica*, o conceito de
simbólico é inseparável dos de imaginário* e real*,
formando os três uma estrutura.
 Ordem (ou função simbólica) a que o sujeito está ligado
quanto a própria psicanálise*, na medida em que ela se
fundamenta na eficácia de um tratamento que se apóia na
fala.
 Marcel Mauss e Levi-Strauss
IMAGINÁRIO
 Termo derivado do latim imago* (imagem) e empregado
como substantivo na filosofia e na psicologia para
designar aquilo que se relaciona com a imaginação, isto
é, com a faculdade de representar coisas em
pensamento, independentemente da realidade.
 Utilizado por Jacques Lacan* a partir de 1936,

o termo é correlato da expressão estádio do espelho* e


designa uma relação dual com a imagem do semelhante.
 Associado ao real* e ao simbólico* no âmbito de uma
tópica, a partir de 1953, o imaginário se define, no
sentido lacaniano, como o lugar do eu* por excelência,
com seus fenômenos de ilusão, captação e engodo.
TEMPO LÓGICO –
DILEMA DOS 3 PRISIONEIROS
 Um diretor de uma prisão escolhe três prisioneiros e lhes diz que o vencedor de um jogo de apinhação poderá ganhar a liberdade.
Explica que há cinco discos: três brancos e dois pretos. Depois de colado um disco nas costas de cada um dos três prisioneiros,
eles deverão descobrir qual disco corresponde ao seu, e o primeiro a sair da cela com a resposta será o vencedor. O diretor então,
sem que eles saibam, cola um disco branco em cada um. Depois de um tempo, saem os três juntos, pois a resposta do enigma
dependerá do tempo de raciocínio de cada um, mas hipoteticamente os três podem sair ao mesmo tempo, pois ambos têm
condições de fazê-lo. Mas, como se trata de um raciocínio lógico, digamos que quem sai primeiro é o prisioneiro (A). Ele se
explica: penso que, se eu (A) fosse preto, transpondo-me para o lugar dos outros (B) e (C), ao me ver preto e supor que também
fosse preto, evidenciaria para o terceiro que ele seria branco, já que só existem dois discos pretos. Como ninguém saiu com essa
evidência, deduzo que não sou preto, sou branco. Trata-se de um sujeito de pura lógica. O que determina a conclusão de (A) é o
tempo de parada de (B) e (C).

 O instante de olhar : A primeira evidência do raciocínio é o momento de fulguração em que o tempo é igual a zero. Essa
combinação corresponde a um sujeito impessoal, estando diante de dois pretos, sabe-se que é branco. Aqui, ainda não há um
raciocínio ou subjetivação, apenas a constatação do que se pode ver.

O tempo de compreender: Tempo de formulação de uma hipótese e de meditação ao colocar-se no lugar dos outros e raciocinar.
Se eu fosse preto, os outros se reconheceriam como brancos. Esse tempo é incomensurável. Sobre isso, Lacan acrescenta:
“Mas, desse tempo assim objetivado em seu sentido, como medir o limite? O tempo de compreender pode reduzir-se ao instante do
olhar, mas esse olhar, em seu instante, pode incluir todo tempo necessário para compreender. Assim, a objetividade desse tempo
vacila com seu limite” (Lacan, 1998a, p. 205). 

 O momento de concluir: Nesse terceiro tempo, encontramos a função da pressa, já que é preciso concluir em certa urgência,
antes que os outros o ultrapassem. É como se a resposta já chegasse com certo atraso. Esse tempo é o prosseguimento do tempo
de compreender e figura uma certeza antecipada, pois só é possível se verificar nela mesma. Como afirma Erik Porge (1994, p.
84), "A certeza está ligada a uma lógica de ação; mais ainda, ela é antecipada por essa ação, ato de concluir". Nesse caso,
evidenciamos uma pressa no advento de uma verdade, diferentemente da pressa contida na aceleração que ressaltamos no
movimento da cultura em relação ao consumo.
NOVOS CONCEITOS
OUTRO
 l. Andere (der); esp. otro; fr. Autre; ing. other
 Termo utilizado por Jacques Lacan* para designar um
lugar simbólico — o significante*, a lei, a linguagem, o
inconsciente, ou, ainda, Deus — que determina o
sujeito*, ora de maneira externa a ele, ora de maneira
intra-subjetiva em sua relação com o desejo*.
 Pode ser simplesmente escrito com maiúscula, opondo-se
então a um outro com letra minúscula, definido como
outro imaginário ou lugar da alteridade especular.
 Mas pode também receber a grafia grande Outro ou
grande A, opondo-se então quer ao pequeno outro, quer
ao pequeno a, definido como objeto (pequeno) a*.
OBJETO A
 objeto (pequeno) a
 Termo introduzido por Jacques Lacan*, em 1960, para
designar o objeto desejado pelo sujeito* e que se furta a
ele a ponto de ser não representável, ou de se tornar
um “resto” não simbolizável. Nessas condições, ele
aparece apenas como uma “falhaa-ser”, ou então de
forma fragmentada, através de quatro objetos parciais
desligados do corpo: o seio, objeto da sucção, as fezes
(matéria fecal), objeto da excreção, e a voz e o olhar,
objetos do próprio desejo*.
DESEJO
 Termo empregado em filosofia, psicanálise* e psicologia para designar, ao
mesmo tempo, a propensão, o anseio, a necessidade, a cobiça ou o apetite, isto
é, qualquer forma de movimento em direção a um objeto cuja atração
espiritual ou sexual é sentida pela alma e pelo corpo.
 Sigmund Freud: a propensão e a realização da propensão. Nesse sentido, o
desejo é a realização de um anseio ou voto (Wunsch) inconsciente.
 Lacan: conceituou a idéia de desejo em psicanálise a partir da tradição
filosófica, para dela fazer a expressão de uma cobiça ou apetite que tendem a
se satisfazer no absoluto, isto é, fora de qualquer realização de um anseio ou de
uma propensão.

Necessidade, de natureza biológica, satisfaz-se com um objeto real (o alimento),


ao passo que o desejo (Begierde inconsciente) nasce da distância entre a
demanda e a necessidade. Ele incide sobre uma fantasia, isto é, sobre um outro
imaginário. Portanto, é desejo do desejo do outro, na medida em que busca ser
reconhecido em caráter absoluto por ele, ao preço de uma luta de morte, que
Lacan identifica com a famosa dialética hegeliana do senhor e do escravo.
FANTASIA
 Realidade psíquica
 Vida imaginária do sujeito e a maneira como este representa para
si mesmo sua história ou a história de suas origens: fala-se então
de fantasia originária.
 Além da diversidade das fantasias de cada sujeito, Lacan postula a
existência de uma estrutura teórica geral, a fantasia fundamental,
cuja “travessia” pelo paciente assinala a eficácia da análise,
materializada num remanejamento das defesas e numa modificação
de sua relação com o gozo
 Resposta a pergunta “Que queres?” (Che vuoi?): O matema S◊a
exprime a relação genérica e de forma variável, porém nunca
simétrica, entre o sujeito do inconsciente, sujeito barrado, dividido
pelo significante que o constitui, e o objeto (pequeno) a, objeto
inapreensível do desejo, que remete a uma falta, a um vazio do lado
do Outro..
GOZO
 Inicialmente ligado ao prazer sexual.
 o conceito de gozo implica a idéia de uma transgressão
da lei: desafio, submissão ou escárnio.
 O gozo, portanto, participa da perversão*, teorizada por
Lacan como um dos componentes estruturais do
funcionamento psíquico, distinto das perversões
sexuais.
 Posteriormente, o gozo foi repensado por Lacan no
âmbito de uma teoria da identidade sexual, expressa em
fórmulas da sexuação* que levaram a distinguir o gozo
fálico do gozo feminino (ou gozo dito suplementar).

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