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Instituto de Ensino

Superior em Psicologia
e Educação

A PSICANÁLISE NA CLÍNICA COM BEBÊS E O DIÁLOGO COM A


NEUROCIÊNCIA

Psic. M.a. Karina Stagliano de Campos


A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM BEBÊS

BEBÊ: uma folha em branco????


A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM BEBÊS

Quando um psicanalista recebe um bebê com seus pais, a quem


ele se dirige?

- Escuta-se o bebê?
- Escuta-se a mãe?
- Ou o bebê na mãe? Ou o bebê no pai?
- Escuta-se o laço pai e mãe?

- Em cada caso, haverá um prioridade por onde começar


A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM BEBÊS

Trabalhar com bebês exige intervir nos primórdios da Constituição


Psíquica;

Há aberturas importantes a inscrições:


- Plasticidade neuronal;
- Permeabilidade a inscrições significantes
Como é o desenvolvimento em uma criança?

Pautamo-nos na maturação biológica?

Como um corpo biológico, prematuro e dependente


reverte-se em um ser capaz de transmitir uma
herança simbólica?

COMO UM BEBÊ SE TORNA HUMANO??

O QUE SE ESCUTA NA CLÍNICA COM BEBÊS E


CRIANÇAS PEQUENAS??
Constituição do sujeito – de qual sujeito estamos
falando??

“O EU NÃO É SENHOR EM SUA PRÓPRIA CASA” (FREUD, 1917,


p.295)

- Cógito cartesiano x Cógito freudiano

- Racional - Lugar de ocultamento


- Indivisível - Sujeito e Eu não se recobrem
- Cogito, ergo sum - Penso, logo sou
Constituição do sujeito – de qual sujeito estamos
falando??

O Sujeito se constitui por meio da


Concepção Sujeito adquire relação com o Outro, não “nasce” e
estatuto de conceito
não se “desenvolve”.

“o sujeito sobre o qual operamos em


Sem falta não há desejo e sem
psicanálise não pode ser outro que não o
desejo não há sujeito;
sujeito da ciência” (LACAN, 1998, p.873).
Constituição do sujeito – de qual sujeito
estamos falando??
● O SUJEITO é uma noção que não coincide com as noções de Eu ou de personalidade,
mas uma instância psíquica inconsciente. Constrói-se, desde o início da vida de uma
criança, a partir de um campo social pré-existente - a história de um povo, de uma
família, do desejo dos pais - mas também a partir dos encontros, intercorrências e
acasos que incidem na trajetória singular da criança. Do campo da cultura e da
linguagem virão as chaves de significação em torno das quais a criança deverá
construir para ela própria um lugar único. Desse processo, surgirá o sujeito psíquico,
aqui concebido como um elemento organizador do desenvolvimento da criança em
todas as suas vertentes - física, psicomotora, cognitiva e psíquica. (Kupfer,
Jerusalinsky, Bernardino, Wanderley, Rocha, Molina, Sales. Stellin, Pesaro, & Lerner,
2009, p. 50)
COMO PENSAR O DESENVOLVIMENTO?
COMO PENSAR O DESENVOLVIMENTO?

CRESCIMENTO: crescimento mensurável do organismo

MATURAÇÃO: do sistema nervoso

DESENVOLVIMENTO: sequência de aquisições instrumentais

CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA: momentos LÓGICOS constituição subjetiva


TEMPOS DA CONSTITUIÇÃO DO PSIQUISMO

● Não segue a temporalidade cronológica;

● Os tempos – Complexo de Édipo – não seguem uma ordenação


cronológica, mas de temporalidade lógica e a partir de cortes:

● 1º TEMPO ÉDIPO 2º TEMPO ÉDIPO 3º TEMPO ÉDIPO

ESTÁDIO
DO
ESPELHO
PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO DO PSIQUISMO
- ESTRUTURA DE REDE-

Linguagem/Simbólico Campo Familiar/ Transgeracional

Psiquismo Temporalidade Outro Primordial

Sujeito do ICS Tempos lógicos Projeto Desejante


Tempos da infância Antecipação Subjetiva
Condição Estruturante
○ Efeitos:
■ Alienação/Separação
■ Desmame
■ Fala
■ Eu corporal
DO QUE SE TRATA CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA??

● Passagem de infans Falasser (Parlêtre)

● Quando nasce, a criança é mergulhada em uma rede de


linguagem, de significantes que a precedem.
A IMPORTÂNCIA DO CAMPO DO SIMBÓLICO/ CAMPO
DO OUTRO

● Construído pelas gerações anteriores e pelas que irão advir;


● Corresponde à Transmissão simbólica, em uma rede de significantes
(matriz simbólica) que atravessa cada membro de uma mesma
família de maneira particular
● Quando uma criança nasce, já há uma história acontecendo.

● ANSERMET: FUTURO ANTERIOR


○ Histórias e lendas familiares que participam
da constituição do sujeito mesmo sendo
inacessível a este, aberto e faltoso.
A IMPORTÂNCIA DO CAMPO DO SIMBÓLICO/ CAMPO DO
OUTRO
● Rede Familiar, Linguagem e
Cultural
● Norteiam as bases do
Psiquismo da criança
● Família: constelação singular
ANTECIPAÇÃO SUBJETIVA

● A criança existe muito antes de seu nascimento no psiquismo dos pais;


● Há um mito, uma história familiar que já está acontecendo antes mesmo
de seu nascimento;
● Essa criança, antes de falar, é falada;
● Para que seja possível a existência de uma sujeito de desejo nesse corpo
que nasce, é fundamental um PROJETO DESEJANTE;
● Toda criança deve ser ADOTADA para que se torne filho e seja possível
construir um laço de filiação;
Quando começa uma gestação?

○ O que está sendo gerado em


uma gravidez??

A Virgem e o Menino com Santa Ana


Leonardo da Vinci, c. 1510
O PAPEL DA TRASNSGERACIONALIDADE

● FREUD:
○ 1913 – Totem e Tabu: continuidade psíquica e sentimento de culpa
○ 1914 – Introdução ao Narcisismo: filhos são herdeiros dos desejos não realizados dos pais

● IDENTIFICAÇÃO:
○ Pré-história do sujeito
○ Modelos parentais

● Lacan:
○ transmissões a partir do imaginário (estádio do espelho), ou seja, desde o estádio do espelho,
sendo inscritas a partir da linguagem e que constituirá a matriz simbólica. Trata-se de inscrições
discursivas – inconscientes – que já estão aí e escapam ao sujeito falante.

○ a transmissão não se sustenta a partir da identificação bruta com o objeto, mas da transmissão da
cadeia de significantes: transmissão simbólica
O PAPEL DA TRASNSGERACIONALIDADE

● A criança só pode apropriar-se dos significantes fundamentais:


filiação, nomeação e sexuação a partir de seu posicionamento na
cadeia transgeracional, ou seja, a partir do lugar de onde é
reconhecida pelos pais;

● Ao falarmos em significantes transgeracionais, referimo-nos à


transmissão simbólica, ou seja, à linguagem que atravessa gerações,
inserindo marcas no sujeito do inconsciente fazendo com que esse
sujeito posicione-se no discurso a partir de um lugar no qual vai se
relacionar com o outro.
O PAPEL DA TRASNSGERACIONALIDADE

Significantes transgeracionais são inscrições


que estão no campo do real, sem significação.
Muitas vezes trazendo mal - estar onde algo não
pode ser verbalizado

“Na pré-história da criança, e não apenas na sua


primeira infância, encontram-se as primeiras
balizas sobre as quais vai se inscrever sua
história de sujeito” (HAMAD, 2001, p.136)
TRANSMISSÃO TRANSGERACIONAL

● Do campo do simbólico e cultural a cada vez,


a cada filho (singular);
● Inacessível;
● Maternidade;
● Paternidade
● Profissão;
● Religião;
● Valores;
● Ética;
DESENVOLVIMENTO INFANTIL

● “Ao falar de desenvolvimento é preciso distinguir entre as

articulações que constituem o sujeito e os instrumentos de


que esse se vale para realizar seus intercâmbios com o meio
ambiente. Falamos, então, de aspectos estruturais e
instrumentais do desenvolvimento (Coriat & Jerusalinsky,
1987)”.
ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Aspectos Estruturais:

Aparelho biológico (SNC);

Sujeito Psíquico;

Sujeito Cognitivo;
ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Aspectos Fala e
Psicomotricidade Linguagem
Instrumentais

Brincar Socialização Aprendizagem

Atividades de
Vida Diária
(AVD’s)
SOCIAL

A. E. A. I.

SNC Psicomotricidade
Brincar
Sujeito Psíquico Aprendizagem
Fala e Linguagem
Sujeito AVD’S
Cognitivo Socialização
E NO BEBÊ?????
SOCIAL

A. E.

A. I.
OPERAÇÕES
CONSTITUINTES
DO SUJEITO
PSÍQUICO
Engaste da Função Materna
Suposição de Sujeito (SS);

Estabelecimento da Demanda (ED);

Alternância Presença-ausência (PA);

OPERAÇÕES CONSTITUINTES
Alteridade/Função Paterna (FP) DO
SUJEITO PSÍQUICO
OPERAÇÕES CONSTITUINTES DO SUJEITO PSÍQUICO

SUPOSIÇÃO DE SUJEITO:

Ainda que várias reações apresentadas pelo


bebê são involuntárias, próprias de seu
aparato orgânico em desenvolvimento, a
mãe toma tais reações como produções
do bebê, supõe ali um bebê desejante.
OPERAÇÕES CONSTITUINTES DO SUJEITO PSÍQUICO

ESTABELECIMENTO DA DEMANDA:

Refere-se à suposição, pela mãe, de que as


diferentes produções de seu bebê são um
pedido que ele dirige a ela e esta se coloca em
posição de responder a esse apelo. Dessa
maneira, a mãe traduz em palavras as ações do
bebê, dando para estas um sentido.
OPERAÇÕES CONSTITUINTES DO SUJEITO
PSÍQUICO

Implica que a mãe não se


mostre sempre presente
ALTERNÂNCIA nos cuidados com o filho e
PRESENÇA-AUSÊNCIA: nem sempre ausente. Há
que se ter uma alternância
de ambos os aspectos.
OPERAÇÕES CONSTITUINTES DO SUJEITO PSÍQUICO

ALTERIDADE (FUNÇÃO PATERNA):

Em suas manifestações e reações, importa que o bebê refira-se


não ao seu próprio corpo, mas sim a uma ordem simbólica, não
ficando apenas em um circuito de satisfação. Há a manifestação
da lei.

É a ausência materna que proporciona à criança condição para


sua entrada no simbólico, uma vez que, a mãe não estando
presente, a criança pode simbolizá-la.
CIRCUITO
PULSIONAL

CIRCUITO
PULSIONAL
3 TEMPOS DO CIRCUITO PULSIONAL

Necessidade Demanda Desejo

● 1° - o bebê busca o objeto oral (seio, mamadeira)

● 2º - é marcado pela capacidade auto-erótica do bebê (que chupa seu dedo ou a


chupeta)

● 3º - o bebê se assujeita a um Outro, o sujeito se experimenta como objeto de


satisfação para o Outro, como se ele se satisfizesse em ser aquele que satisfaz o
Outro – ex. estendendo barriguinha, para que a mãe faça cócegas– que se torna
sujeito da sua pulsão.
OS 3 REGISTROS DA PULSÃO

1) ORALIDADE: estatuto simbólico das trocas alimentares

2) ESPECULARIDADE: olhar

3) PULSÃO INVOCANTE: voz


OS SINAIS DE SOFRIMENTO PRECOCE

● Sinais positivos

○ processos psíquicos subjacentes estão funcionando


como o previsto;

Sinais de Sofrimento

○ Série Barulhenta: sinais que sempre alertam os mais


próximos

○ Série Silenciosa: sinais que passam frequentemente


despercebido
ORALIDADE

Sinais positivos: Sinais de sofrimento:

• prazer compartilhado e na justa • Série barulhenta: “recusas


medida alimentares ( há uma dimensão
simbólica na recusa)
• Série silenciosa: preenchimento
passivo: os bebê se deixam
literalmente preencher, sem
apetite e nem prazer, não importa
quando e nem quem, sem
nenhum investimento na relação.
ESPECULARIDADE

Sinais positivos: Sinais de sofrimento:

• direcionamento do olhar, • Série barulhenta:


resultando no diálogo olho a evitamento seletivo do olhar
olho • Série silenciosa: não-
fixação do olhar (olhar fixo
no teto, olhar fixo em um
ponto luminoso, sensação
que nos dá de sermos
transparentes)
PULSÃO INVOCANTE

Sinais Positivos: Sinais de sofrimento:

• diversificação da paleta • Série barulhenta: gritos


sonora (voz, modulações da sem visar nenhuma
prosódia, traços do comunicação
investimento libidinal); • Série silenciosa: cessação
do apelo corresponde ao
abandono, pelo bebê, de
toda tentativa de se fazer
escutar pelo Outro.
SONO

Sinais positivos:
ritmicidade, há uma alternância de intervalos
suficientemente diferenciados, com
passagens pacíficas de uns aos outros.

Sinais de sofrimento:
• Série barulhenta: “Distúrbios do Sono”
• Série silenciosa: hipersonia e insônia calma
REGISTRO TÔNICO-POSTURAL

Sinais positivos: bom


ajustamento corporal

Sinais de sofrimento:

• Série barulhenta: atrasos psicomotores


• Série Silenciosa: balanceio

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