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LOUCURAS DISCRETAS:
UM SEMINÁRIO SOBRE AS CHAMADAS PSICOSES ORDINÁRIAS

GRACIELA BRODSKY
LOUCURAS DISCRETAS:
UM SEMINÁRIO SOBRE AS CHAMADAS PSICOSES ORDINÁRIAS

GRACIELA BRODSKY

B
sc~JPTUM
INDÍCIOS DA PSICOSE ORDINÁRIA
Graciela Brodsky: Para retomar a questão da pré-psicose, ima-
ginemos que, em vez disso, tratam-se dos habitantes da América na
época pré-colombiana, antes da chegada de Colombo na América.
Entende-se que não poderíamos falar de época pré-colombiana se
Colombo não tivesse chegado à América. Quando dizemos pré-psi-
cose é exatamente o mesmo: falamos disto porque a psicose chegou.
1fas não chamamos de psicose unicamente os fenômenos que se
produzem na psicose, mas uma estrutura que está desde o início.
Então, o termo pré-psicose faz equivaler psicose ao desencadea-
mento, e o pré-psicótico não seria psicótico. Ao passo que nosso
ponto de vista é que a psicose, com ou sem desencadeamento, está
lá desde sempre. Por isso, é um termo que carece de sentido por ser
incompatível com a clínica estrutural, e certamente foi por isso que
Lacan o abandonou.
O termo pré-psicose não esclarece em nada a questão da
psicose ordinária; ao contrário, obscurece-a. É melhor deixá-lo de
lado e considerar a psicose como estrutural. Não há pré-psicose, o
que não impede que se localizem na psicose distintos momentos. O
interesse para o clínico não é encontrar, depois do desencadeamento,
o que havia antes, como o fez Katan, mas encontrar, antes de desen-
cadeamento, indícios que permitam uma orientação no tratamento
numa direção e não em outra. É antecipatório e não retroativo, pois
o retroativo é muito interessante, porém tardio.
Comecemos pela parte descritiva. A partir dos anos 90, es-
pecificamente em 1997, estabelece-se, dentro da comunidade do
Campo Freudiano, um termo que não é o "desencadeamento", mas
o "desenganche". É um bom termo; embora em francês seja debran-
chement- como quando um galho ~e separa da árvore -, traduzimo-
lo por desenganche, que está muito bem, pois o desencadeamento
orienta cm relação à cadeia, é algo que se solta de uma cadeia, en-
quanto que o desenganche remete ao gancho que, por sua vez, re-
mete, em espanhol, ao ganchilo. Hacer ganchillo significa fazer crochê.
Isto orienta em. relação ao nó, pois o croché é um sistema de enoda-
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33
mento, de unir nós até formar um cachecol, uma rede. Então 1-filler,
de modo descritivo, propõe, em 1997, o termo desenganche.
Muitos anos depois, na retrospectiva sobre a psicose ordi-
nária que está na revista Quarto, Miller diz que é uma expressão bem
formada e que foi acompanhada de outros termos, sobre os quais
não valeria a pena deter-se demasiado, como pseudodesencadea-
mento, ncodcscncadeamento. O importante é que P~!II?-ite ao clínico __
or!~!ltar o_tratamento no sentido de preçisar o que mantinhª-º en-
ganche, e pensar cm um neoenganchc, um novo enganche. Na minha
época, quando se usavam meias, os pontos se desfiavam e era preciso
levá-las a uma senhora para "levantar o ponto", e assim a meia ficava
usável, embora não ficasse nova. Permanecia uma pequena cicatriz,
mas ficava passável para o uso diário. E~ta é -ª-ideia do enganche e
do }es~ngª11che: cncontra_r_o popto que se soltou e v<1ltar a tec&-lo,
embora não fique perfeito.
·-------o- marcó--zer~ disto é o caso apresentado na Conversação
de Arcachon por Jean-Pierre Deffieux, um dos diretores da Seção
Clínica de Bordeau, cujo título é "Um caso nem tão raro"29 O título
é importante porque dá precisão ao sentido de "ordinário", que sig-
nifica "nem tão raro". A partir deste caso, começa a elucubração
sobre a psicose ordinária, que está já incluída no próprio título: "nem
tão raro". É preciso lembrar que a Conversação de Arcachon tinha
como título "casos raros" e, naquela Jornada, Deffieux apresenta um
caso nem tão raro.
A partir daí, retomemos um problema que havia ficado nas
mãos dos kleinianos, dos bordelines da IPA, que não entrava muito
bem na nossa clínica - essencialmente binária - que reduzia os casos
nem tão raros a psicose ou a neurose. Desde então, começa a inves-
tigação dos casos que se colocam mais próximos da linha divisória
entre neurose e psicose e que obrigam a sair da clínica binária - ainda
que Miller esclareça que não era totalmente binária, pois havia neu-
rose, psicose e perversão. 1-fas, a_ verdadeira perversão, não a vemos
no consultório; o que mais vemos sao fantasma_s pe!v_et;~os-ern-neu-

'·ta:.. 34
róg~_o.u_suplê~~r-\ce!SaS...L.,.tn..2_Sicóticos. Mas já tínhamos uma
clínica de três dimensões se levarmos cm
conta a perversão. Com
efeito, na famosa classificação de Pierre Skriabinne, diferencia-se neu-
rose, psicose e perversão a partir dos mecanismos de defesa de
Freud. Quer dizer, considera-se que há na clínica freudiana - que
não se baseia na psiquiatria, embora dela empreste seus termos -
uma diferenciação a partir dos mecanismos de defesa. Assim,
Skriabinne não emprega os termos neurose, psicose e perversão pro-
positadamente, e utiliza os termos em alemão correspondentes aos
mecanismos de defesa: TTerdrdngunJ!, para o recalque na neurose,
T édeulun,g para a denegação na perversão e Ténvetfun,_!!, para a foraclu-
são na psicose.
Então, podemos ler o caso de Deffiuex:

Apresentado a Freud, B. poderia ser considerado como afetado por


neurose narcísica. Com Bergeret, sem dúvida seu lugar estaria na cate-
goria borderline. Tivesse ele encontrado a psiquiatria americana adepta
do DSM I\: seria classificado provavelmente nos distúrbios do humor.
l' m analista da lnternational P[rchoan/ytic Association embora deixando de
-/~ ·j é v- ' lado a classificação estrutural para não comprometer a escuta, teria po-
r·Í ( <lido entendê-lo como histérico.
<:i l·( E o analista lacaniano? Isso ainda depende de qual o momento do en-
sino de Jacques Lacan onde ele buscaria apoio. Se ele se apoiasse uni-
camente no ensino de Lacan dos anos 50, sobre a clínica do N orne-do-Pai,
não seria garantido que ele aí encontrasse o caminho certo.
É bem mais a uma clínica do sintoma que deverá recorrer, para fazer
deste caso um caso nem-tão-raro e assim encontrar com certeza o seu
justo lugar.
Muitos casos não classificados, ou mal classificados, atualmente, lÜzem
respeito a essa clínica à espera de polimento, após as preciosas contri-
buiçôes teóricas de Jacques Lacan, nos anos 70, e de Jacqucs-Alain
Miller, em seguida em seu Curso, repetidas vezes.
Esta clínica do sintoma em nada vem contradizer a barreira estrutural
neurose-psicose estabelecida pelo doutor I ,acan nos anos 50. Pelo con-
trário, ela permite dispor do lado das psicoses toda uma categoria de
sujeitos até então classificados cm todas aquelas categoria que acabei
de citar, excetuada a psicose.

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Estamos porém nos referindo a uma psicose igual àquelas bem conhe-
cidas nossas, paranoia delirante e/ ou com alucinações, e esquizofrenia
dissociada? Não deveríamos criar um novo termo? São tão tÜferentes
estes sujeitos! Certamente não, se de fato está se falando em termos de
estrutura, tal como Lacan a definiu no fim de seu ensino - a estrutura
dos nós R.S.I. Estes sujeitos acharam um modo de enlaçar sintomático
que se mantém geralmente bastante bem, até por toda a vida, e sem o
apoio do !'some-do-Pai. Estes sujeitos trazem uma verdadeira subversão
à clínica da psicose, ao retirar dela toda referência a qualquer noção de
déficit, mesmo significativa.
Acrescentamos que uma clínica do sintoma não é uma clínica dos sin-
tomas, que sempre foi, a justo título refutada por Lacan.
Em compensação, conseguir distin!,>uÍr, a partir da fenomenolot,ria clí-
nica, os critérios da amarração sintomática l'sDP 30 daqueles que depen-
dem de outros tipos clínicos de dar o nó, é uma aposta importante para
o futuro da clínica analítica. Isto vem também subverter a hierarquia
1das estruturas. Não seria tão, ou até, legitimo empenhar-se em demons-
trar em quê um sujeito neurótico é neurótico, do que se contentar em
procurar em que ele não o é?
Estes sujeitos, freqüentemente, trazem uma queixa, um sofrimento, que
eles dirigem ao analista para que este os alivie. Seu discurso pode, du-
rante tempo bem longo, passar por um discurso de neurótico. Ficar
1pendurado no Outro é suficiente para lhes permitir identificações aos

: modelos sociais que dependem <lo funcionamento edipiano. Isto porém


/ não basta para justificar uma neurose, e por isso é útil prender-se aos
ínfimos detalhes clínicos que podem chamar a atenção para o lado da
, psicose.
Esses detalhes não concernem os distúrbios <la linguagem, mas os efei-
tos clínicos a mínima de algo destoante na amarração R.S.I. Por exemplo,
num sujeito, uma premência do imaginário, próxima <le uma fixação
simbólica bem leve ou então uma relação <le estranheza entre o eu e o
corpo. Ou ainda, num outro, a exercício desenfreado da pulsão, desco-
nectada de toda tomada na dialética de discurso. Muitos outros exem-
plos poderiam ser dados.
O sujeito não deixará entrever o que faz a singularidade de suas amar-
rações sintomáticas a não ser que o analista o estimule nisso, se o acom-
panha nesse desvendamcnto.
Se o analista acredita na neurose deste sujeito, ele manterá "sua vesti-
menta" de neurótico; no melhor, nada vai acontecer, não sendo possível
nenhum domínio sobre o inconsciente; no pior, uma interpretação irá

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tocar desastradamente na amarração precária que o analista descobrirá
então.
Para expor o caso presente, decidimos nos limitar a duas visadas: mos-
trar nas primeiras entrevistas o que permitiu ao analista a psicose; indi-
car brevemente o que foi possível assinalar das tentativas de amarraçôes
sintomáticas do sujeito, e entre elas, a expressão discreta de uma metá-
fora delirante.
B. tem 36 anos, vem de uma família numerosa da alta burguesia do
norte da Europa. O pai é industrial. Ele me é dirigido por um colega,
com o diagnóstico de neurose histérica. ] á na primeira entrevista, ele
se mostra simpático, encantador, bem à vontade - na segunda sessão,
ele se apresenta ao porteiro pelo seu prenome - e ao mesmo tempo
usando ostensivamente os modos de polidez.
Ele se apresenta com uma queixa repetida. Não tem vontade nenhuma,
é incapaz, está parado na vida, não deseja nada, não se decide sobre
nada, "cuida dos negócios correntes" etc. No seu discurso volta sempre:
"falta-me energia".
Desde a idade de 17 anos, quando numa cabeçada boba interrompeu
seus estudos - alguns anos depois, fez o seu bacharelado como candi-
dato independente, e teve brilhante sucesso -, ele montou três modestas
empresas, onde sempre trabalhou sozinho, a última sendo uma empresa
artesanal de marcenaria. Seu pai acompanhava sempre de perto seus
negócios. No total, suas empresas funcionaram bem.
Ele decidiu, em maio de 93, cessar a atividade, logo depois de lhe terem
feito numa revista de decoração, um artigo elo6>Íoso. Já há muitos anos,
ele queria "romper com a sociedade de consumo" e com o comporta-
mento rígido e social de preservação social num país do Terceiro
Mundo. Obteve em 94 um diploma de ecologia, tendo sido o primeiro
de sua turma.
Em março de 94, outra reviravolta, desta vez, de caráter afetivo. Ele ti-
vera, até então, muitas aventuras femininas: "'.As mulheres se interessa-
vam por mim", dizia ele, mas cada ve:,; que havia a menor questão de
compromisso, ele as largava imediatamente. Em março de 94, quando
acabara de deixar uma mulher jovem, ele fa:,; um encontro homossexual
apaixonado, que vai durar três anos. Para superar esta separação, ele se
mete numa construção muito difícil, que ele rapidamente leva a bom
cabo, trabalhando fora do comum. Ele admite ter tido na vida atração
por homens, com alguma regularidade, mas a moral paterna o tinha im-
pedido até então. A partir desse momento ele só teve aventuras com
homens, múltiplas e efêmeras.

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Desde 95, nada dá certo. Inscreveu-se na faculdade para continuar seu
cursos, mas não aprende nada, e custa-lhe seguir os cursos. Está à toa
na vida, vive com o R.,_\fl. Não está isolado socialmente, sai muito, passa
as noites nos clubes. Liga-se facilmente, mas são ligações efêmeras e
bem superficiais.
Ao chegarmos ao fim da primeira entrevista, já não estou muito con-
vencido de uma neurose, pois, de um lado, choca-me o paradoxo entre
sua imediata familiaridade, e sua polidez acentuada de jovem bem edu-
cado, de outro lado, seu laço social me parece bem mínimo, seu enga-
jamento afetivo, em uma vida profissional artesanal sob a dependência
<lo pai, com mudanças cujas causas não se percebe bem, a não ser uma
certa instabilidade. Também é de surpreender a radicalidade com a qual
ele rompe brutalmente com a férula do pai aos 35 anos, quase cortando
a partir daí todos os vínculos familiares.
Enquanto minha atenção é voltada para estes poucos elementos que
nada têm de decisivo, tendo constatado sua magreza e pensado, desde
sua entrada rto consultório, numa eventual dimensão depressiva, cu lhe
pergunto se teve sempre esse peso. Ele responde pela negativa, em toda
sua juventude ele cuidava da disciplina do corpo, foi campeão de nata-
ção na adolescência, e em 1990, brutalmente, cm três semanas, perdeu
doze quilos. Embora eu tenha insistido, com perguntas objetivas, ele
não ptide explicar esse brutal emagrecimento, aliás o mesmo acontece
com os médicos por ele consultados.
Aí eu paro a primeira sessão, muito interessado no funcionamento
desse corpo que, ele, não obedece a ninguém.
Vou portanto orientar as entrevistas segi.úntcs a partir de minhas primeiras
dúvidas sobre a estrutura. Estas dúvidas vão condu7.i-lo a fazer transpa-
recer mais a particularidade de seus modos de enlaçamento R.S.I.
Quando do começo do segundo encontro, eu lhe faço reparar que os
seus dois momentos marcantes desses últimos anos, aconteceram, os
dois, em março.
Ele aí então, depois de uma breve hesitação, evoca uma lembrança "a
qual ele nunca pensa" e da qual lembrou-se pela primeira vez no mo-
mento da separação dolorosa do primeiro homem que ele encontrou:
era na primavera, ele tinha 8 anos e se dirigia a um treino de natação;
um homem ofereceu conduzi-lo cm sua bicicleta, e B. aceitou sem he-
sitar; este homem o levou a um terreno arborizado e lá lhe bateu em
todo o corpo com um bordão, depois, sacou uma faca e quis lhe cortar
o sexo; B. conseguiu então escapar. Dois comentários desta cena, longe
de evocar o trauma da cena primitiva no neurótico, só fazem aumentar

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minhas dúvidas sobre a estrutura. Ele diz destas bordoadas: "Nem sei
se doeu muito". Regressando a sua casa, ele conta tudo ao pai, "que
não o acreditou". Esta falta de afeto, totalmente discordante, virá es-
clarecer o emagrecimento inexplicado. Ao que ele diz, a posição ado-
tada pelo pai, nesse momento particular, combina com a atitude por
'ele assumida cm geral, que se pode resumir em duas palavras: pai le,gistador.
ele sabe o que convém para seu filho, mas não atende a seu apelo.
Os dois momentos, de março 93 e março 94, logo me pareceram ter li-
gações com esta cena de primavera nos seus 8 anos:
- em março 93 ele rompe com a vida profissional e social ditada por
seu pai; depois de uma revista de decoração ter acreditado nele - o sig-
nificante 111adeim da primeira cena, "num terreno arborizado" e o bordão
provavelmente terão uma ligação com a escolha do artesanato de ma-
deira que ele fará mais tarde;
- em março 94, nessa nova ruptura com a moral sexual do pai, a cena
do encontro com o homem o remete precisamente às circunstâncias
da cena infantil; ele vem da praia, atravessa uma floresta, de automóvel,
pega o homem numa parada. Mais tarde, no decurso das entrevistas,
fica-se sabendo que sua relação sexual com o homem era baseada es-
sencialmente sobre o exibicionismo, misturado a jogos sádicos.
Diante da importância dos laços que me aparecem entre essas três
cenas - primavera de seus 8 anos, primavera 93 e primavera 94 - eu
lhe peço que me narre esta cena infantil o mais precisamente possível.
Ele me conta que, quando começou a ser batido por aquele homem,
ele tem lembrança de ter abandonado seu corpo, de distanciar-se dele,
de desaparecer: "Em dado momento vi um meninozinho, era eu, foi aí
que eu fugi. O abandono de seu corpo como vestimenta velha, vem
confirmar o "nem seii se doeu muito", e relembrar de maneira impres-
sionante a história de Joyce, menino, batido por um de seus colegas.
A partir deste segundo encontro com B., fiquei com a quase certeza de
não estar diante de um neurótico. A orientação que pude depois im-
primir às entrevistas lhe permitiu entregar pouco a pouco o que lhe
permitia agüentar-se na vida, sem o amparo da metáfora paterna.
Até os 35 anos ele teve dois apoios, a regra paterna, e o artesanato, que
tinha para ele muita importância: a preocupação de fazer bem e belo.
Acrescento que ele praticamente nunca fala de sua mãe, e sobretudo,
que ele descreve uma família de treze filhos, na qual nunca os pais es-
tavam juntos.
Nas entrevistas ele nos fará conhecer um outro apoio essencial em sua
vida. Sua sexualidade está basicamente fundamentada na exibição de

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seu corpo nu, e do corpo do outro, seja homem ou mulher. Quando
tinha 12 anos, houve intervenção da polícia, porque ele exibia seu sexo,
andando de bicicleta no parque da cidade. Continuou a fazer isso na
bicicleta, e depois no automóvel.
Dos 15 aos 25 anos ele fazia regularmente sessões de fotos de seu
corpo nu no espelho, que ele mesmo revelava. Isto terminava sempre
com uma masturbação.
Esta prática perversa manifestamente lhe serve para emendar o llJ!,O com
o corpo e não deixa de ter ligação com a tentativa de secção do pênis
aos 7 anos.
A partir de 95 pode-se dizer que ele foi parcialmente largado, devido
ao corte da regra paterna e ao fim daquele, paixão amorosa narcísica,
baseada no exibicionismo, que ele havia estabelecido, um ano apc'is a
ruptura com o pai.
Vê-se agora aparecerem duas amarrações novas: inscrição sobre o
corpo de um fenômeno psicossomático; e uma metáfora delirante dis-
creta.
Com efeito, é muito mais freqüente do que se pensa, que uma metáfora
delirante oriente a vida, pensamentos, atos e laços de um sujeito aos
outros, sem chamar atenção, e sem que pareça a alguém como patoló-
gico.
Isto não deixa de evocar a função do fantasma na pantomima do sujeito
neurótico.
Disso B. fornece um belo exemplo, que não posso aqui desenvolver. A
frase capital de seu delírio foi mencionada na primeira sessão: "Falta-
mc energia". Esta frase suporta uma metáfora delirante cósmica, que
aos poucos ele irá devagar, e da qual não tardará que cu seja o centro
na figura de "Déf(icr)ieu". li.
B. não volta ao consultório. Ele me remete um cartão de Boas Festas
no Natal, no qual ele me participa discreta - e alusivamente dali, como
ficamos na reconciliação com nossa "centelha da vida". Ele leva o que
se chama vida normal (DEFFIEUX, 1998, 13-18)
o v° Í'.
IÍ'ti ' ,,,<
~ r,iJ 1'"' Deffieux diz que desafiar Deus é uma construção que se
apoia na escrita do nome do analista, Deffieux.
O que predomina neste caso é certo exercício da pulsão,
ainda que não se possa dizê-la desenfreada, como em alguns casos.
O ponto central é o estranhamento entre o eu e o corpo, presente
no acontecimento aos oito anos, quando ele apanha. Esta referência
• ·o.(
40
, , , ,ca Joyce. Sabem que Joyce apanha na escola e diz que seu corpo
1, ,1 l'mbora. Há dois episódios na vida de Joyce: ele tem uma afecção
, 111 um olho que não trata e por isso o perde; e uma segunda doença,

1.1111 hém não tratada, que o leva à morte precocemente.

No caso apresentado por Deffiux, nunca houve um desen-


' .,dcamento da psicose. Além da falta de dor, quando o corpo é ex-
1ll'rimentado como alheio, chama a atenção que alguém brilhante,
•,, ·m dificuldades de outra ordem, deixe suas atividades nas quais era
11 niito bem sucedido. Mesmo ganhando o primeiro lugar nos estudos,

.d iandona-os, bem como seu trabalho com a marcenaria, apesar de


·,, ·r reconhecido em uma revista de decoração. Ao contrário de Schreber
desencadeia-se a psicose quando da sua nomeação como chefe do
'l 'ribunal -, neste caso, ele se desengancha, retira-se no momento de
•;cr nomeado, sem causas aparentes que pudessem explicar o fato.
Isto coloca a questão de identificar quais indícios Deffiuex
1>crcebe nas duas primeiras entrevistas que o levam a suspeitar do
diagnóstico de psicose. Entende-se que a psicose ordinária é uma
psicose. 1\fantemos nossa distinção estrutural: nunca será uma neu-
n ise, nem outra coisa, senão uma psicose. i\fas, em vez de situarmo-
11< >s no desencadeamento e olharmos retrospectivamente procurando

, >s indícios da psicose, coloquemo-nos antes do desencadeamento


para buscar tais indícios.
Para insistir na perspectiva estrutural que não abandona-
mos, na Conversação de Arcachon é perguntado a Miller se haveria
uma continuidade entre neurose e psicose. Ele responde: "Não é exa-
tamente assim. A questão é mais a respeito de uma gradação no ~e_-
te.rior do grande capítJJlo d~ psic.us..e."31 E se em algum momento
l ,acan pôde dizer que todo mundo delira - e, então, poderíamos pen-
sar que a neurose forma parte da psicose e que somos todos psicó-
ticos à maneira kleiniana -, minha resposta é que Lacan o diz com
fins irônicos.
Na busca dos indícios anteriores ao desencadeamento,
Miller dá uma perspectiva pragmática da psicose ordinária, dizendo

41
que é ':!.!TIª questão de intensidade dentro do próprio cam~si-
~ - Indica-o com o início de um parágrafo de "Uma questão pre-
liminar...", dizendo que"[...] se trata aí je uma desordem p r ~ a

----
na junção mais íntima da scntimen~ida no sujeito J. ..]."32
Então, que tipo de desordem é essa? Como localizar isto
que não é nem um delírio, nem uma alucinação, nem um neologismo,
ou seja, nenhum dos indícios prévios a um desencadeamento que
tradicionalmente buscávamos para dizer que se tratava de uma psi-
cose?
Há uma intervenção de ;i\,1iller33 que interroga a respeito de
como se criou, dentro do campo psicanalítico e na Orientação La-
caniana, a ideia de que o neologismo seria o transtorno a procurar,
necessariamente, na psicose. Pode haver ou não um neologismo, mas
considerá-lo como o indício do transtorno na linguagem que asse-
gura a psicose é uma leitura equivocada, em determinado contexto
do ensino de Lacan, que é preciso afastar. Transtorno de linguagem
não equivale a neologismo.
Miller34 desdobra essa desordem, que seria o indício, em
três fenômenos, aos quais acrescenta um quarto, que não desenvolve
naquele momento. É uma síntese que ele faz na conversação com os
anglo-fônicos, onde recolhe o que considera permanecer das Con-
versações de Arcachon e Antibes. Trata-se de um~desordem na ma-
nei~como o sujeito sente:
a) o mundo que o rodeia;
b) o corpo;
e) as ideias;
d) a sexualidade.
Em relação ao primeiro ponto, 1fi!Ier §!a da exterioridade
social em dois aspectos: ou o sujeito fica solto, separado do OutrQ_
social, como no desenganche, ou demasiado identificado ao Out~?
s,~~1ã1 1 como no caso do pa~nte_g~faz tudo 2ara ter o status social.
Quando falamos de desenganche, de que falamos? De um desengan-
che em relação ao Outro ou cm relação a uma argola do nó? Quando

42
:\liller fala do desenganche está se referindo ao desenganche do
1 >11lt<;-social. Na falta do enganche com o Outro, que tipo de iden~
11 I icação tem o sujeito com uma função social? - pergunta 11iller35 •
Podem-se ver duas maneiras, a partir das quais temos um
111dício de que algo está afetado. A primeira delas é uma relação ne-
i•,ativa, o que conhecemos como desenganche ou desconexão, que
1 ·aracteriza o caso de Deffiucx. Apesar de ter um bom laço com os

· e ,utros, há um desenganche de dois pilares que funcionaram bem até

l't1tão, o laço ao estudo e o laço com o trabalho, que se desconecta.


Tenho uma paciente a quem vejo regularmente há alguns
anos. Durante muitos anos exerceu suas tarefas de médica relativa-
mente bem; num dado momento, começa a apresentar problemas
de insatisfação com seu marido e um amor por um amigo do casal.
:\s sessões com o analista anterior giravam em torno disto, do can-
saço com seu marido e do enamoramento por esse amigo do casal.
O analista, um pouco cansado das idas e vindas, disse-lhe que era
preciso tomar uma decisão. Se ele não a aborda, ela pode abordá-lo
e lhe dizer que algo acontece entre eles. Ela então se dirige ao amigo
e se declara, perguntando por que não iniciam algo, já que teriam
uma atração mútua irresistível. Ele não entende do que ela está fa-
lando, nunca a viu senão como a mulher de seu amigo, e recusa seu
pedido. Ela volta à análise totalmente desconsolada pelo fracasso de
· sua tentativa. Quer tentar uma segunda vez e o analista lhe diz que
não, que agora é a vez dele. Pouco tempo depois, decide separar-se
do marido, posteriormente deixa sua análise e, mais tarde, abandona
toda sua atividade profissional. Como me conhecia pela EOL, vem
me ver alguns anos depois. Separada, vive só, deixou de trabalhar e
fala do amor como um momento completamente decisivo em sua
vida, desse amor pelo homem que, por covardia, não se animou a
vivê-lo.
Esse desencanto amoroso vem acompanhado de outro de-
sencanto. Seus filhos começam a praticar a religião como nunca o fi-
zeram, fato que ela não pode aceitar. O casamento de seu filho maior

43
ocorre numa cerimônia religiosa muito ortodoxa, dentro da religião
judaica, em cuja festa homens e mulheres não podiam estar no
mesmo salão. Ela então teve de dançar na cozinha.
O desencanto amoroso e o fato de ter de dançar com as
mulheres na cozinha são os dois acontecimentos mais importantes
na sua vida, que remetem a uma cena infantil. Seus pais a deixam
num acampamento de férias e partem de viagem a Europa. Ela se
lembra do sentimento de abandono e de perda de toda referência
nessa cena infan.til, de tal modo que qualquer coisa que acontece na
sua vida e nas conversas comigo remetem a essa cena infantil de
abandono e de ter perdido totalmente o laço com o outro. Ela foi
deixada, por ocasião desta viagem dos pais, com suas irmãs, primos,
mas nada disso conta para ela, senão o sentimento de ter ficado solta
no mundo.
Tinha um pai famoso, não pelo melhor, mas por ser um fa-
moso estelionatário. É alguém que, durante toda a infância dela, apa-
recia nos jornais e, de tempos em tempos, era preso, voltava a sair
da cadeia, e andava sempre nos mais altos níveis sociais. Seu sobre-
nome é conhecido por toda uma geração. Seu casamento foi com
um escrivão - ou seja, com alguém que reconhece uma assinatura
como verdadeira, a encarnação de que a lei e a verdade existem. Con-
sidero que seja uma psicose. Nada me faz pensar por que deixou sua
profissão; nunca mais voltou a ser algo, abandonou sua profissão há
quinze anos. É bonita, veste-se nas melhores lojas da cidade onde
vive, frequenta a academia de ginástica e vem ver-me duas vezes por
semana. Isto é tudo que faz. Nem com a medicina, nem com a arte,
ela não voltou a se enganchar com nada. O que lhe preocupa é não
fazer nada. J\finha estratégia tem sido refazer o casamento, sustentá-
lo de todas as maneiras possíveis, de modo que ela voltou a viver
com seu marido; continua queixando-se dele, sonha com um amor
que a libere do casamento. Mas se vê que tudo que a libera desse
homem que encarna a lei, entra na dimensão do abandono na colônia
de férias e da dança na cozinha quando fora excluída de tudo.

·-~ 44
Ninguém poderia dizer que é uma psicose, eu também não!
{ :, >tn uma precaução diagnóstica, noto coisas estranhas: é muito cau-
1l'losa em relação a que ninguém descubra o nome do seu médico, o
l11gar de sua academia, pois as pessoas são muito invejosas e podem
, ·, ,locar mau-olhado. É um pequeno traço paranoico de suspeita do
, 1utro. Preocupa-se muito em ser assaltada, roubada; não dá seu en-
, lcreço, seu e-mail e não responde nunca ao telefone. Quando chega
e I marido, recolhe todas as mensagens acumuladas no dia. Trou.xe-

me uma longa investigação sobre a origem de seu sobrenome, que é


nobre, o que dá uma dimensão megalômana, mas que compensa a
falta radical desse pai. Portanto, os fenômenos são: a megalomania,
a paranoia, a exaltação amorosa, e seu ponto de amarração é esse
homem que encarna uma lei.
Se alguém me perguntasse se penso que uma psicose vai
desencadear-se, duvidaria. Penso que ocorreu um desenganche no
episódio com o Sr. G., o amigo pelo qual se enamorou. Ela mesma
o diz: há um antes e depois do Sr. G. A partir daí, nada mais se sus-
tentou em sua vida e um dia disse: vou ver Jacques-Alain :Miller. Seu
marido a levou a Europa, Miller a escutou e disse que ela deveria
ficar tranqüila, que já fora longe demais em muitas coisas e que tinha
de preservar duas: seu marido e a mim. Veio muito desencantada,
pois esperava que J\liller a tomasse em análise. Ele não a tomou. Sua
interpretação, o marido e a analista, permite entender que ao menos
duas pessoas pensam em uma psicose, e que ela se sustenta apenas
em dois pés. Não há três, são apenas dois pilares e não há nenhuma
outra coisa possível. Tentei tudo que vocês possam imaginar, desde
a arte, o turismo, as viagens, interesso-me por cada coisa que traz,
mas nada dura. Porém, vem regularmente, duas vezes por semana, e
diz que tinha muita necessidade de vir. E começa a falar de algo sem
se entender aonde vai e passa a outra coisa ...
Não foi por um contexto transferencial que ela procurou
i\1iller, mas por uma pendência que ficara para trás. Ela fala, como
se fosse ontem, de acontecimentos que ocorreram há vinte anos. O

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tempo ficou detido para ela. Tem a ideia de que, no momento da
crise de 1998 no Campo Freudiano, deveria ter deixado sua análise
para continuá-la com 1\1iller; não o fez e isto explicaria tudo que lhe
aconteceu depois.
Trago isto como exemplo clínico do que considero ser um
caso no qual o sentimento mais íntimo da junção da vida para um
sujeito tem a forma de desenganche do laço social.
O segundo ponto, dentre os indícios da psicose ordinária
destacado por 1\filler36, refere-se à ex.~rioridade corporal. Ele indica
qu~ aqui se verific~<:!._gue diúaLacan;_o corpu..e....oü.ur.r.o. T_!ata-se
do desCnganche do corpo como Outr~. Para todo sujeito o corpo é
Outro e é preciso inventar uma maneira de se dar bem com esse
corpo. A maneira obsessiva é discipliná-lo; a histérica consiste em
não se dar bem com o corpo que sempre fala à sua maneira. Esta
exterioridade do corpo é a do caso apresentado por Deffieux: no
momento em que é golpeado, vê um menino que sai correndo pelo
campo. O sujeito_ vai embora, fica o corpo e o eu e s ~ ~ o
s!= desfaz (::~Q s_uj.eito._s_~__vê obrigado a ~~~ntar laços a r t i ~ r a
apropriar-se novamente do corpo.
"· - Há um caso, que escutei em supervisão, de uma mulher
obesa que, ao longo dos 14 anos com a analista, usa o mesmo suéter,
uma capa suja, gasta, enorme. A função deste suéter é desviar o olhar
para que ela não seja vista como mulher, pois as mulheres são uin
conjunto ao qual ela não pertence, não porque se considere um
homem, mas porque as mulheres são essas que aparecem na Tv, que
exibem tudo - o traseiro, os seios - e a única coisa que fazem é bus-
car homens para transar. Este não é seu mundo, mas é o mundo das
outras que querem atrair o olhar. Enquanto da, vestindo essa roupa,
consegue não ser olhada, e assim o gozo fica à distância. O suéter
constitui uma barreira em relação a um olhar libidinal, pois ela é vista
como dejeto. No entanto, não se importa em ser olhada como dejeto;
ao contrário, é o olhar de desejo que a perturba. É uma das formas
com a qual se arranja para fazer um laço com o corpo, afastando o

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corpo como objeto do desejo. Ela inventa um semblante, o sem-
blante de vestir esse suéter.
O terceiro ponto é o que :Miller chama de exterioridade sub-
jetiva, que dá conta de todos os fenômenos de vazio, de vacuid~d-~ ~-
de relação perturbada com as ide.ias.. O caso que tenho para transmitir
é de um paciente meu que vem ver-me há pelo menos dezessete anos,
de quem não sei nada, absolutamente nada de sua histc'>ria nem do
c.1ue faz. Apenas sei que tem um problema: ele não pode falar. Há
dezessete anos me diz: "Oi, como você está?" "Bem, e voct:? Conte-
me." - lhe digo. "l\fas como posso contar se não posso falar." Temos
este mesmo diálogo há dezessete anos, interrompido apenas se ele
fala de \X'alter Benjamim, da filosofia, da arte, da música, de <.Jualquer
coisa, mas é completamente impossível obter uma só palavra na qual
ele esteja implicado como sujeito. Por exemplo, ele só pode falar sem
substantivos. Trata-se de um fenômeno de linguagem. Por exemplo:
"As coisas são difíceis." "Que coisas?" "O mundo". Ou um pouco
mais: "Todos sabem como o mundo está difícil". "O que é?" I ~m
algum momento apresentei-o como um caso de autismo. () que
tenho são coisas escritas por ele, maravilhosas, onde tudo isto desa-
parece. Ele escreve sobre sua vida, anedotas, tudo o que poderia exis-
tir na fala, mas que não está. Creio que é um caso onde a
exterioridade subjetiva, o vazio, está colocada em primeiro lugar.
Com isto, concluo este seminário sem ainda avançar sobre
as consequências teóricas que podemos extrair desse subconjunto
do conjunto da psicose, que chamamos psicose ordinária, e que se
caracteriza por tais indícios. Quero trabalhar da próxima vez tais con-
sequências, para retomar a discussão com Rômulo, de que a psicose
ordinária quando considerada do ponto de vista do seminário O
sinthoma, desde Joyce, não é uma psicose que captamos em um tempo
prévio ao desencadeamento. Ao contrário, a psicose ordinária tem
um modo de enodamento que não implica o desencadeamento. Esta
é minha ideia, meu delírio pessoal. É uma psicose que não desenca-
deou nem vai desencadear.

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Em um comunicado que circulou pela internet, Rômulo faz
a seguinte objeção, impossível de responder: "Se, como diz Graciela,
uma psicose ordinária é uma psicose que não desencadeia, somente
podemos dizer que é uma psicose ordinária após o sujeito morrer!"
(risos). É um argumento tão irrefutável... - o que na filosofia seco-
nhece como o argumento do cético. Este é o argumento de Hume
que diz: efetivamente, pensa-se que amanhã será de dia, mas ninguém
diz que amanhã voltará a sair o sol. É simplesmente uma questão de
hábito, mas não há nada que permita afirmar que, porque hoje saiu
o sol, amanhã sairá novamente. R com esse argumento, que é do cé-
tico, derruba-se o princípio de causalidade. Para Hume, não existe o
princípio de causalidade senão como metafísica; é apenas hábito. Efe-
tivamente, como saber se não vai desencadear até que se morra? E
podemos ser extremos: se tivesse vivido um pouco mais ... (risos), se
o sujeito morre aos 103 anos, como ter certeza que aos 104 anos não
teria desencadeado (risos)?
Estamos em um terreno impossível que só permite uma
elucubração teórica; não permite passar à prática, pois o argumento
de Rômulo é irrefutável! Vou apresentar meu delírio ao lado desta
~-
'~objeção fundamental para a hipótese: o que chamamos psicose or-
dinária é uma psicose que consegue uma amarração tão estável como
a da _ne~!<?§~_.flli!§_§_çm a Nome oo~Ea.i.,.-Cüill.Q esse home_?l~ªor-
dinário que foi Joyce - para mim, o paradigma da psicose ordinária.
Mas, se vejo a questão a partir de RSI, é necessária outra perspectiva.
A teoria dos nós, que Lacan construiu como pôde, fornece duas pers-
pectivas da psicose ordinária, que dependem da função do sinthoma
e do Nome-do-Pai. l:"ma vez descrito o fenômeno, como o fiz hoje,
posto o problema, iµiciarei a próxima reunião a partir disto.
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Segundo seminário
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São Paulo, 25 de julho de 2009
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