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Mais além do Édipo

Jaqueline Moreira coelho


Mais além do Édipo
• Depois do Édipo não é contra o Édipo, também não é o anti-Édipo,
Depois do Édipo é o Édipo recolocado em seu lugar, o Édipo
freudiano, enquadrado, apreendido com seus limites. ( Miller p. 10)

• Sabemos onde Lacan desembocará: ele dirá que o pai é um sinthoma
e que o Édipo não poderia dar conta da sexualidade feminina (Miller,
p.10).
Seminário 06
• Contudo, esse seminário (6) é feito, diria eu, para ir além do édipo, na
direção da fantasia. (Miller, p.11)

• Lacan busca uma porta disfarçada para ir mais longe, na direção da


fantasia. E essa relação S<>a, essa relação afinal binária, com
múltiplos sentidos, lhe parece mais profunda que a triangulação ou
quadrangulação edipiana. (Miller, p. 11)
Seminário 06
• Poderiam dizer que o Édipo corta a teoria do desejo pela raiz. Que o Édipo,
quando nos referimos a ele para abordar a teoria do desejo, limita a teoria do
desejo ao desejo infantil, que é duplo, como o avesso e o direito: o desejo da
assassinato do pai e do gozo da mãe. Ao passo que o desejo teorizado por Lacan
é precisamente um desejo que não tem objeto próprio, cujo objeto é, eu o cito:
“o suporte de uma metonímia essencial”. (Miller, p. 11)

• A solução proposta por Lacan nesse seminário é afirmar que o desejo, como
metonímico – o que quer dizer essencialmente não edipiano -, é enquadrado,
regulado, indexado pela fantasia, ou seja, por uma relação permanente do sujeito
com um a. (Miller, p. 12)
Seminário 06 – mito x estrutura

• O essencial, e que ainda não está concluído no seminário 6, é a cisão


entre a estrutura e o mito. O mito, como dirá Lacan mais tarde, dá
uma forma épica à estrutura, mas, ao fazê-lo, ele, ao mesmo tempo, a
vela. (Miller, p.12) ele concluirá em dialética do desejo e subversão
do sujeito: o complexo de édipo é um mito, ao passo que o complexo
de castração, é para falar com propriedade, a estrutura. (Miller, p.12).
Mais além do édipo Seminário 06

• Hamlet X Édipo

• Lacan X Freud

• Aflora aqui, toda a ambiguidade da relação de Lacan com Freud: ele segue sua
indicação no sentido de olhar a propósito do Édipo do lado de Hamlet. Ele
obedece a sua indicação, mas, ao mesmo tempo, ao implementa sua análise de
Hamlet, não é exagerado dizer que ele suplanta seu mestre. (Miller, p. 13)
Seminário 6
• Variante / dissimetria
• Procrastinação / Ato
• Saber / Ignorância

• O pai morto sabe que foi traído e o diz ao filho, encarregando-o de


uma missão de vingança. (...) Ele sabe da desgraça do pai, sabe que a
traição apagou esse guerreiro tão bom, tão maravilhoso, exemplar,
etc. É sobre esse ponto que Lacan diz, a propósito de Hamlet: “o que
constitui o valor da peça”, é que ela nos dá acesso ao sentido do
símbolo S(A/)”. (Miller, 13)
Seminário 6
• “Em A, lugar da fala, o lugar em que repouso (...) o conjunto do
sistema dos significantes (...), falta alguma coisa (...). Este é, se assim
posso dizer, o grande segredo da psicanálise. O grande segredo é –
não há Outro do Outro” (Lacan, citado por Miller, na página 13)

• É preciso ressituar este famoso enunciado, “não há Outro do Outro”,


no lugar exato em que ele foi introduzido: no lugar onde se verifica
haver alguma coisa de podre, se assim posso dizer, não apenas no
reino da Dinamarca, mas também no rei da Dinamarca. (Miller, 13)
Percurso
• E o grande segredo que aparece para Lacan – o primeiro -, a partir de Hamlet, é
precisamente que não há Outro do Outro, a saber, o Outro é furado,
inconsistente. Ele, então, faz soltar a rolha do Nome-do-Pai. (Miller, p. 14)

• (...) a função do Nome-do-Pai é de manter junto, para cada sujeito, um a um.


Real; Simbólico e Imaginário, e de lhe permitir fazer consistir uma realidade sem
existência, mas onde pode, no entanto, se desenvolver no laço social no campo
dos discursos; (Skriabine, p. 104)
• O Outro é fraco, tanto quanto o sujeito. Não há Outro que seja ao mesmo
tempo completo e consistente. Isso diz respeito à estrutura mesma do
significante, que é diferencial, excluindo a referência absoluta. (Skriabine,
p. 104)

• O Outro não existindo, não há garantia última: o significante que garantiria


o Outro falta ao Outro. Deus não poderia garantir o Pai. Não há Nome-do-
Pai, a menos que cada sujeito invente e ponha em jogo aquilo que aí
caberia para ele. Dito de outra maneira, não se tem outra escolha senão a
de prescindir-se dele (do Nome-do-Pai como garantia que não existe) com
a condição de servir-se dele (de colocar em jogo sua função); (Skriabine, p.
104)
• No seminário seguinte, o seminário 7, ele mostrará que o lugar
principal é ocupado não pelo Nome-do-Pai, mas pelo que ele chama
de a Coisa, a saber: o gozo. A Coisa vem no lugar do Nome do Pai, que
acabara de ser destronado. (Miller, p. 14)
Percurso
• O seminário 9: a identificação isolará a função idealizadora do significante e trabalhará o
conceito de sujeito barrado. (Miller, p. 15)

• O seminário 10: a angústia, exporá a lista completa dos objetos a: aos objetos de Freud,
Lacan acrescenta o olhar e a voz. (Miller, p. 15)

• Por fim, ele preverá explicar, no seminário 11, as consequências da página 353 do
seminário 6, ou seja, explicar que não há Outro do Outro significa que não há o Nome-
do-Pai e que, no máximo, há nomes-do-pai. Aqui ele considera que a mordaça posta em
sua boca tinha sentido. E, com efeito, ele nunca retomou a questão como tivera a
intenção de fazê-lo. (Miller, p. 15)
Nomes do Pai

• Seja como for, ele resolveu cancelar seu seminário e nunca mais fazer
outro sobre o mesmo tema. Nos anos seguintes, reiterou por diversas
vezes que não havia dado seu seminário sobre os nomes-do-pai e que
nunca o daria, porque acreditava que as pessoas não estavam
preparadas para ouvir o que ele tinha a dizer, ou talvez porque
ninguém merecesse frequentar tal seminário. (Miller, para ler o
seminário 11)
Nomes do Pai
• A transição do Nome do Pai, no singular, aos Nomes do Pai, no
plural, presente no título do Seminário interrompido por Lacan,
em novembro de 1963, designa a passagem da religião à lógica,
do Nome do Pai da religião aos Nomes do Pai como operação
lógica. A interrupção do Seminário dá margem à interpretação de
um castigo por ter tocado no pai construído por Freud,
evidenciando a ruptura com uma certa tradição religiosa.
(Harari, tradição e nome do pai)

Multiplicar o Nome do Pai significa que o Pai é um Nome do Pai
entre outros... (Harari)
• A expressão Nome do Pai se menciona já cedo seminário sobre o
nome dos lobos, que Lacan ditou entre 51 e 52 e se formaliza como
significante ao largo das anos 50, operando na metáfora paterna – a
partir de substituir o desejo da mãe e fazer lugar, assim, à significação
fálica – uma vez que sua foraclusão entregue a esse primeiro Lacan a
razão de estrutura da psicose. (Schejtman p. 165)
• Logo, pode encontrar-se já sua pluralização e em seu ensino posterior,
desde os 60: a que conduz Lacan do nome do pai aos nomes do pai.
Ainda que, é preciso indicá-lo, sem abandonar o singular, cujas
aparições se constatam, ao lado do plural, até nos seminários dos
anos 70. (Schejtman p. 165)

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