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AUTISMO INFANTIL:
TERAPIA COMPORTAMENTAL
MARGARIDA H. WINDHOLZ
É preciso ter presente, também, que não se está tratando com um grupo
homogêneo. Embora apresentem caraterísticas específicas em comum, descritas em
capítulos anteriores, há grandes diferenças individuais entre as pessoas com autismo,
quanto a nível de desenvolvimento e habilidades aprendidas, problemas de conduta,
prejuizos orgânicos. Seus ambientes familiares são distintos, tanto do ponto de vista
sócio-econômico e cultural, como quanto à capacidade de seus membros enfrentarem o
problema de ter um filho com autismo.
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Os termos “terapia comportamental” e “análise comportamental aplicada”, bem como
“terapeuta comportamental”, “analista do comportamento” e “psicólogo”, serão
utilizados de forma intercambiável neste texto.
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Foge do escopo deste capítulo uma descrição e discussão detalhada dos princípios e
procedimentos básicos da análise comportamental, para o que consulta a livros e textos,
como os de Ferster e colaboradores (1977), Cooper, Heron e Heward, 1987; Matos
(1992); Catania (1992) é sugerida.
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mostra que preocupações e queixas de pais, e que mereceriam ser objeto de atenção,
muitas vezes são minimizadas por aqueles que deveriam ser os primeiros a identificar
crianças de risco, ou seja os pediatras (Gauderer, 1993).
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O terapeuta comportamental parte de um modelo psicológico e não médico para sua
atuação frente aos mais diversos problemas clínicos, julgando inadequada a tendência
de considerar todos os desvios da assim chamada normalidade - muito mais um
conceito social e cultural - como “doença”, o indivíduo como “paciente” e a “terapia” um
procedimento especificamente “médico”.
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valiação constante de sua própria atuação clínica, para verificar o quanto as metas e os
objetivos fixados estão sendo atingidos.
Fases do tratamento
1. a avaliação comportamental
2. a seleção de metas e objetivos
3. a elaboração de programas de tratamento
4. a intervenção propriamente dita.
1. Avaliação comportamental
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Apesar da orientação mais empirica e de conceitos operacionais, adotados nas últimas
edições dos manuais diagnósticos DSM-III-R (1987) e DSM-IV (1994), o uso dos critérios
estabelecidos nos mesmos para um diagnóstico diferencial de autismo, por si só, ainda
apresenta muitos pontos de dúvidas e não se constitue, de maneira nenhuma, em uma
ponte que ofereça condições para começar um atendimento.
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Como ele funciona no seu ambiente (ocupa-se sozinho, tem brinquedos preferidos,
apresenta birras frequentes, ritos característicos, reage diferentemente a diferentes
pessoas)?
Qual a função para ele de certos comportamentos que, ao leigo, parecem pouco
funcionais?
Rodrigo, o mais velho de dois filhos do casal S., tinha cinco anos e três
meses de idade, quando o vimos pela primeira vez. Era uma criança
fisicamente bem desenvolvida, sem nenhum indício externo dos
sérios problemas que apresentava. Sua alimentação consistia de leite,
dado em mamadeira ou mingaus, bolachas, doces e chocolate.
Rejeitava em geral alimentos “básicos”, mostrando de vez em quando
preferencias peculiares por um ou outro alimento. Frente aos demais
apresentava ânsia de vômito. Ainda não tinha controle esfincteriano,
usando fraldas. Não estabelecia contato visual olho-a-olho, não
tomando conhecimento das psicólogas na sala. Bastante verbal, sua
linguagem, na maioria das vezes, não era funcional e frequentemente
incompreensível. Apresentava ecolalias imediatas e retardadas,
repetindo palavras e jingles de propaganda da televisão, com
entonação característica, “puxando” a última vogal, ao mesmo tempo
em que balançava seu corpo. Quando queria algo, pegava a mão do
adulto, apontando com o dedo. Tinha aprendido a ler por si, sendo
que sua leitura constituia-se basicamente de anúncios de jornal e
listas telefônicas.
Para que sua mãe pudesse ocupar-se com os afazeres da casa, dava-lhe
jornais e revistas e o colocava num chiqueirinho, para que estivesse
ocupado e não fugisse, em virtude de sua irriquietação e falta de
noção de perigo e limites. Fazia birras homéricas quando não era
atendido logo nos mais diversos lugares, rua, ônibus, em casa ou na
clínica, quando lá não encontrava logo as listas telefônicas.
Apresentava movimentos estereotipados, batia a cabeça no encosto
da cama, o que muito preocupava a mãe. Dirigia-se sempre apenas a
uma das duas psicólogas presentes, aquela que o recebia na porta,
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Qual a função para ele de certos comportamentos que, ao leigo, parecem pouco
funcionais?
Nesta fase o terapeuta deve prever em que ambientes terá que intervir e
que pessoas serão envolvidas, onde atuar diretamente ou através de mediadores, pais,
professores, outros profissionais, em situação individual ou grupal.
Prover uma sequência progressiva de comportamentos mais fáceis para outros mais
complexos, que levarão do comportamento inicial ao comportamento terminal.
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No livro “Passo a Passo, Seu Caminho. Guia Curricular para o Ensino de Habilidades
Básicas” (Windholz, 1988), encontra-se uma descrição detalhada de todos os passos
para a elaboração de programas.
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1 Dias
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Figura 1
No. de colheradas ingeridas por Rodrigo,
durante a linha de base, tratamento, e seguimento
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Visto o desgaste grande que o educador sofre no seu trabalho, ele necessita de apoio
da direção e, possivelmente, de um suporte terapêutico.
O registro e a análise dos dados são condições fundamentais para que ele e outros
profissionais envolvidos possam avaliar se há progresso na direção desejada, que
problemas surgem, que medidas devem ser tomadas. É preciso ir mais devagar, mais
depressa, fazer modificações? Através dos dados permite-se que o educador esteja
atento e seja flexível, para estar sempre sob controle do comportamento do seu
educando, de suas características e necessidades.
“ Acho que, mais do que a sorte que vocês tiveram de encontrar tantas
pessoas disponíveis a colaborar ou a crença grande que vocês tiveram
no seu trabalho, o que houve foi um rearranjo social. É como se a
gente fosse encaixar uma pecinha que não cabia num quebra-cabeças
e, ao invés de recortar a peça, vocês conseguiram a modificação das
outras peças, para deixar o espaço certo para ela. Foi muito bonito.”
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Depoimento de Celma Cenamo em “Estudo longitudinal de um autista: Depoimentos de
pessoas que acompanharam seu caminho” (Windholz, 1992).
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