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Fundamentos do Conhecimento Psicológico

AS ESCOLAS
PSICOLÓGICAS: O
PROJETO DA
PSICOLOGIA COMO
CIÊNCIA
João Rodrigues
Contexto histórico da Psicologia.
• A desconfiança/atitude suspeita em relação ao
indivíduo.

Tentativa de estudar o
Busca pela disciplina do processo de conhecimento
método

Filosofia e fisiologia
Influência da anatomia e da
fisiologia
Antiguidade:
Hipócrates (Séc V e IV a.C.) e Galeno (Séculos I e II d.C.) noção de causas
naturais para as perturbações, ênfase no cérebro como centro de atividades
intelectuais, e investigação da anatomia com o estabelecimento do dualismo
entre causas físicas e mentais do adoecimento

Idade Média:
Caráter espiritual do adoecimento "mental"; estudo de "loucuras coletivas" e
introdução de métodos purgativos para as "curas".

Renascimento e Transição para a Modernidade


Desenvolvimento da medicina com a construção do modelo asilar
(institucionalização)
Gradual humanização e "cientificização" dos tratamentos
Influência da anatomia e da
fisiologia
“Desde o renascimento nota-se um reflexo cada vez mais
intenso [nas questões de ordem psicológica] das ciências, que
de forma crescente, se separam da filosofia.... Os progressos
da anatomia e fisiologia aceleraram-se no século XIX de tal
forma que não podiam deixar de influir profundamente na
psicologia moderna. O estudo do cérebro chegou a
refinamentos extraordinários, sempre em relação cada vez
mais nuançada com as funções psíquicas correspondentes. O
estudo do sistema nervoso, graças à histologia, o estudo
experimental das funções sensoriais, em conexão com os
desenvolvimentos da física, tomaram impulso enorme,
acrescentando-se a isso os progressos da patologia mental.”
(Rosenfeld, 1993, p. 91-92)
Influência da anatomia e da
fisiologia
“A evolução inicial da fisiologia indica os tipos de técnicas de
pesquisa e as descobertas que fundamentaram a abordagem
científica da investigação psicológica da mente. Enquanto os
filósofos abriam o caminho para o ataque experimental da
mente, os fisiologistas realizavam experiências para investigar
os mecanismos que estão por trás dos fenômenos mentais. O
passo seguinte era a aplicação do método experimental na
mente propriamente dita. (...) Os fisiologistas estavam
definindo a estrutura e a função dos sentidos. Era chegada a
hora de estudar e quantificar esse portão de entrada para a
mente: a experiência mentalística e subjetiva da sensação. As
técnicas disponíveis para investigação do corpo passaram a
ser aperfeiçoadas para a exploração da mente. A psicologia
experimental estava pronta para começar.” (Schultz e
Schultz, 2005, p.63)
Friedrich Wilhelm Bessel (1784 - 1846)
• Astrônomo procurou estudar os erros de medições

(1) Os astrônomos devem levar em consideração a natureza humana do


observador, já que as características e percepções pessoais necessariamente
influenciam as observações.
(2) Se a astronomia deve levar em conta o papel do observador humano,
certamente ele é importante também nas outras ciências que dependem a dos
métodos de observação. (Schultz e Schultz, 2005, p.57)
Fisiologistas.
• Johannes Mueller (1801 - 1858)
Defensor do método experimental, Desenvolveu a teoria da energia
específica (Cada nervo possuía uma energia própria) que impulsionou uma
série de estudos.

 Marshall Hall (1790 - 1857)


Um pioneiro no estudo do comportamento reflexo, observou que animais
decapitados continuavam a se “mover” (quando estimulados)

 Gustav Fritsch e Eduard Hitzig (1870)


Aprimoraram nosso conhecimento sobre a localização cerebral de funções
motoras e comportamentais, estimulando pequenas regiões com
eletricidade, na superfície do cérebro de cães acordados.
Franz Josef Gall. (1758-1828)

1- Destruição;
• Dissecava cérebros de animais e seres humanos 2-Amabilidade;
3-Filoprogenitura;
4- Devoção;
mortos. 5- Habitabilidade;
6-Combatividade;
• Constatou a existência de substancia branca e 7-Discrição;
8-Avidez;
acinzentada, bem como as fibras nervosas que ligavam 9-Construtividade.

os hemisférios direito e esquerdo do cérebro.


• Buscava descobrir se as propriedades cerebrais tinham
relação com o formato da cabeça.
• Se bem desenvolvida gerava protuberância se mal
se observava afundamento.
A Influência da Biologia

“A tentativa constante de transformar a psicologia em


ciência exata, segundo o modelo das ciências
naturais, exprimiu-se no princípio da ‘redução’.
Procurava-se mostrar que os processos psíquicos não
eram ‘nada senão’ isto ou aquilo...” (Rosenfeld, 1993,
p. 98)
• Reflexos;
• Secreções da matéria;
• Combinação de átomos sensoriais;
• Fusões químicas.
A Influência da Biologia
Spencer e o Darwinismo Social: Se a sobrevivência do mais apto operar
livremente, apenas os melhores sobreviveriam levando o ser humano à uma
evolução inevitável

“A população, as organizações e a sociedade deveriam ter liberdade para se


desenvolver por conta própria, utilizando-se de meios próprios, do mesmo
modo que as demais espécies vivas se desenvolviam e adaptavam-se
livremente ao ambiente natural. Qualquer auxílio do Estado interfere no
processo evolutivo natural. As pessoas, os programas, a economia, ou as
instituições que não se adaptassem eram consideradas inaptas para
sobreviver e deveriam perecer (...) para melhoria de toda a sociedade. (...)
Essa mensagem era compatível com o espírito individualista americano (...).”
(Schultz e Schultz, 2005, p.153).
O “nascimento” da
Psicologia
O SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA.

Por quê na Alemanha?

 Ernst Weber (1795 - 1878).


Lecionou anatomia e fisiologia (Universidade de Leipzig)

Limiar entre dois pontos

Principais Conceitos: Diferença mínima


perceptível. (pesos)
 Gustav Theodor Fechner. (1801 - 1887)
Aluno de Weber em Leipzig, Brilhante físico e matemático.
Após acidente com lentes coloridas e experiência com o sol
sofreu de depressão. Realizou dietas, e estipulou rotina de
atividades que o reestabeleceram. Essas experiências o
estimularam a estudar as sensações e os temas
psicológicos.

Principais conceitos:

Relação Quantitativa entre Mente e Corpo


(O efeito da intensidade do estímulo é proporcional à intensidade da sensação existente – “sinos”)

Dimensão mental Dimensão Física


 Gustav Theodor Fechner. (1801 - 1887)

Dimensão mental Dimensão Física

Mudança da sensação Depende Quantidade de estímulo

Possibilidade de relação numérica (quantitativa) entre mente e corpo.

Limiar absoluto
Limiar terminal
Limiar diferencial
O “nascimento”
da Psicologia
Apesar da existência de outros
projetos pela construção de uma
ciência psicológica, Wundt (1832 –
1920) e James (1842 – 1910)
elaboraram de maneira
sistemática o projeto da psicologia
científica.

• Concepções diferentes;
• Multiplicação de acepções;
• Psicologia: conhecimento plural.
“A história da psicologia é capítulo de
história das ideias. As obras de Wundt e
James são expressões culturais de ideias
emblemáticas do século XIX. Século esse
marcado, entre outras, pela ideia de
evolução, pela transição do fixismo ao
evolucionismo, pela transição da concepção
estática à concepção dinâmica da natureza,
em contínua transformação (cf. Baumer,
1990 [1971]). O século xix também foi
marcado pela ideia de devir, pela transição
do ser ao devir, pela transição da concepção
associada com noções de substância,
permanência, verdades imutáveis, mundo
fechado, à concepção de eventos,
ocorrências, processos, impermanências,
verdades mutáveis, universo infinito
(Baumer), transição essa que é retroativa aos
séculos xvi e xvii (cf. Koyré, 1986; Baumer,
1990)”(Abib, 2009, p. 203)
Epistemologia e História da ciência psicológica

• Wilhelm Wundt (1832 - 1920): tentativa de


afastamento da Psicologia moderna do dualismo
cartesiano e de metafísicas materialista e
espiritualista.
• Proposta: interpretar a experiência psicológica a
partir da própria experiência.
• Psicologia: ciência empírica que deduz processos
psíquicos de outros processos psíquicos;
• Objetivo: “descobrir as leis que governam tais relações e
combinações [da consciência]”
 Wilhelm Wundt (1832 - 1920)
• Principais Conceitos:

Voluntarismo

Referência à volição – “Vontade” De organizar elementos


básicos da mente em processos de cognição superiores
(Sensação e percepção – aprendizagem e memória)

Experiência Mediata

Oferece informações relacionadas a propriedades além dos


elementos da experiência.

Experiência Imediata

Não sofre influência de interpretação pessoal, se pauta no


perceber algo como a cor vermelha, nós percebemos a cor.
 Wilhelm Wundt (1832 - 1920)

• Método:
Introspecção - somente o indivíduo que passa pela experiência é
capaz de observá-la.

Auto-exame (percepção
interna) Inovação – aplicar controle experimental rigoroso e
preciso no processo.

Observar e relatar pensamentos e sentimentos pessoais.

Observadores devem ser capazes de determinar quando o


procedimento se introduz.
Devem estar em estado de prontidão e alerta.
As condições devem ser adequadas para várias repetições.
As condições devem estar adequadas para variação das situações
experimentais (controle da manipulação do estímulo)
Epistemologia e História da ciência psicológica

• Wilhelm Wundt (1832 - 1920):


• O produto das combinações psíquicas não é a mera
soma dos elementos: impossibilidade de determinar
previamente resultados futuros.
• Possível, “retrocedendo”, encontrar as condições
favoráveis a um resultados final.
• Psicólogo como “historiador psicológico”;
• Psicologia empírica: fisiológica;
• Próxima às ciências da natureza.
• Princípios criativos resultantes: próximos às ciências da
cultura.
• Causalidade psíquica ≠ Causalidade física.
• Psicologia como ciência intermediária.
Epistemologia e História da ciência psicológica

• William James (1842 – 1910): apelo para tornar a


psicologia uma ciência natural.
• Proposta: romper com concepções metafísicas em
nome do “homem prático”.
• “[interessado em] melhorar as ideias, disposições e condutas
de indivíduos sob sua responsabilidade”
• Psicologia: esperança de uma ciência.
• Objetivo: descrever e examinar fatos mentais em relação
com o ambiente físico e com as atividades dos hemisférios
cerebrais e do corpo.
Epistemologia e História da ciência psicológica

• James (1842 – 1910):


• Vida mental: teleológica – nossos modos de sentir e
pensar são como são por sua utilidade em modelar
nossas relações com o mundo.
• Objetivo último da Psicologia: previsão e controle
práticos;
• Auxiliar os homens na solução de seus problemas práticos;
• Função pedagógica e tecnológica.
Em suma
• Para James, a Psicologia
deveria se tornar ciência
natural visando previsão e
controle práticos;
• Para Wundt a psicologia
deveria ser uma ciência
empírica intermediária que
opera por deduções
retrogressivas.
Em suma
“As concepções de ciência de Wundt
e James não são suficientes para
conferir unidade à psicologia
nascente. Nem a crítica às psicologias
filosóficas, a crítica à psicologia
racional (James, 1962) ou
espiritualista (Wundt, 1922), a crítica
à psicologia empírica de Locke
(Wundt, 1922), a crítica à psicologia
empírica de Hume (James, 1950
[1890]), as concepções de psicologia
científica de Wundt e James, são
suficientes para conferir unidade à
psicologia moderna. Ou, mais
especificamente, como projeto
científico, já no seu ponto de
partida, a psicologia é plural.” (Abib,
2009, p. 199)

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