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SONTAG, 2007.

A doença como metáfora https://www.youtube.com/watch


?v=yiRYzpnAZKY&ab_channel=
Aids e suas metáforas BenSaunders
https://www.youtube.com/watch
?v=6WC5ncbR0zQ&ab_channel=
NYIHatNYU
(Sontag, 1984, pág. 7)

“ A doença é o lado sombrio da vida, uma espécie de


cidadania mais onerosa. Todas as pessoas vivas tem dupla
cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da
doença”
Doença como metáfora da mortalidade, da
fragilidade e vulnerabilidade do homem
Metáfora

❖ TUBERCULOSE X CANCER
❖ Metáforas para tuberculose?
❖ Metáforas para câncer?
❖ menti.com
❖ “consiste em dar a uma coisa o nome de outra...pensar é
sempre interpretar”
Câncer

Acordo
Mente-se ao canceroso
da
porque a doença é
sociedade
obscena (mau
moderna
presságio, repugnante
com a
aos sentidos)
morte
Afeta
qualquer
parte do
corpo
Cruel e Furtiva que consome o corpo
Câncer
❖ O câncer é uma enfermidade de crescimento (às vezes
visível; mais tipicamente, interno), de um crescimento
anormal, em última instância letal, que é medido,
incessante, pertinaz.
❖ Embora haja períodos em que o crescimento do tumor
seja freado (remissões), o câncer não produz contrastes
como os oximoros de comportamento — atividade febril,
resignação exaltada — tidos como típicos da tuberculose.
❖ O tuberculoso é pálido durante parte do tempo; a
palidez do paciente de câncer é imutável.
Tuberculose
No filme de
Bergman Gritos e
Sussurros o
Processo edificante que
tuberculoso é
atribuía significado à
apresentado como
morte
bonito e mais
Afeta os nobre
pulmões,
parte
superior e
mais nobre
do corpo

“Ladra de vidas”
Tuberculose

❖ A tuberculose torna o corpo transparente.


❖ As radiografias, que são o instrumento-padrão do diagnóstico,
permitem que a pessoa, não raro pela primeira vez, veja o interior do
próprio corpo — seja transparente para si mesma.
❖ Enquanto a tuberculose, desde o início, é entendida como pródiga em
sintomas visíveis (emagrecimento progressivo, tosse, fraqueza, febre) e
capaz de revelar-se de forma súbita e dramática (o sangue no lenço), no
caso do câncer os sintomas principais são tidos como tipicamente
invisíveis — até o último estágio, quando já é tarde demais.
Doenças da Paixão

Câncer é resultado de uma submissão emocional (Wilhem


Reich ) Repressão
do ódio e da
paixão

Tuberculose – febre é paixão interior


Romanização e moralização da
doença
INSERIR A
DOENÇA Responsabili
NO zar o doente
CAMPO
PSICOLÓG Controle da
ICO doença
Migração das metáforas da tuberculose para o
câncer

Descoberta do bacilo de Koch em 1881


Doença como metáfora para a crítica social
Tensão sujeito-sociedade

Cidade como causadora do câncer

Cidade como câncer


Final do Séc. XX

O Câncer deixa de ser a mais temida


das doenças
Metáforas para a doença

Formas de significação e ordenação da vida cotidiana


dentro de uma estrutura social estabelecida, resulta em
legitimação/reprodução de uma ordem estabelecida.
Campanhas de Saúde

Doença como algo que invade a sociedade, as tentativas de


reduzir a mortalidade causada por uma determinada
doença são chamadas de lutas e guerras.
Metáforas de guerra

Guerra - campanha
Contribuem para a estigmatização de certas doenças e, por
extensão, daqueles que estão doentes.
Limitações da medicina
CONTÁGIO

Carga moral e Tabu


Metáforas dão sentido próprio ao
adoecimento

Câncer X Doenças Cardíacas


Cólera X Varíola

Transformação e degradação
Como a AIDS é representada como metáfora?

❖ HIV: deu positivo

❖ https://www.youtube.com/watch?v=wrz1DFGtoys&t=85
4s&ab_channel=TVJusti%C3%A7aOficial
SIDA – corpo invadido por invasores
alienígenas

Como o câncer, não dá espaço para idealizações


românticas – a morte é iminente e a doença se espalha por
todo o corpo.

Câncer GAY
Felix Gonzalez-Torres

https://www.youtube.com/
watch?v=37bSb-aQ4BM&a
b_channel=NationalPortrai
tGallery

Untitled (Portrait of Ross in L.A.), 1991

Felix Gonzalez-Torres
Felix Gonzalez-Torres Untitled (Blue Placebo), 1991
a arte deveria ser uma expressão colaborativa entre
espectador e artista. Nesta parceria, os espaços expositivos Felix Gonzalez-Torres
de museus e galerias deixam de ser exclusivamente de
1957, Guaimaro, Cuba – 1996, Nova York.
contemplação. O artista considera seus trabalhos como
propostas de vivências e negociações, em torno das quais, o
público pode compartilhar reflexões sobre arte, política,
identidade, sexualidade e coletividade.
Untitled (Blue Placebo), 1991
Quando perguntado a quem se dirigiam seus trabalhos, Felix
Gonzalez-Torres costumava afirmar que pensava, sem
sombra de dúvidas, em conteúdos que diziam respeito ao seu
companheiro Ross. Untitled (Blue Placebo)consiste em 130
quilos de balas de hortelã, enroladas em papel celofane azul,
equivalendo ao peso do artista e de seu companheiro.
Obra e espectador se unem numa performance que pretende
expurgar a dor da perda de seu companheiro, morto em
decorrência do vírus da Aids. Gonzalez-Torres transgride as
indicações rigorosas dos espaços expositivos e incentiva o
público a participar da obra, porque somente comendo as
balas a obra acontece. É como se cada pessoa que retirasse
uma bala levasse um pedaço do corpo do casal.
Modelo de causalidade única

Explicações para a origem da doença e


limitações científicas dentro do modelo
uni causal
❖ O medo da sexualidade é o novo registro, patrocinado pela doença, do universo
de medo no qual todos vivem agora. A fobia do câncer nos ensinou a temer o
meio ambiente poluente; agora temos medo de pessoas poluentes, conseqüência
inevitável da ansiedade causada pela aids.
❖ Medo da taça da comunhão na missa, medo da sala de cirurgia: medo do sangue
contaminado, seja o sangue de Cristo ou o do próximo.
❖ A vida — o sangue, os fluidos sexuais — é ela própria o veículo da
contaminação. Esses fluidos são potencialmente letais: melhor abster-se deles.
Algumas pessoas estão estocando seu próprio sangue, para uso futuro.
❖ O modelo de comportamento altruístico de nossa sociedade, a doação anônima
de sangue, foi comprometido, pois todos encaram com desconfiança o sangue
anônimo recebido.
❖ A aids não apenas tem o efeito infeliz de reforçar a visão moralista da
sexualidade, que caracteriza a sociedade americana, como também fortalece
ainda mais a cultura do interesse próprio, geralmente elogiada com o nome de
“individualismo”.
❖ O isolamento individual agora recebe mais um estímulo, pois passa a ser
considerado como simples medida de prudência.
Guardem os guerreiros
❖ O antiqüíssimo projeto, aparentemente inexorável, por meio do
qual as doenças adquirem significados (uma vez que passam a
representar os temores mais profundos) e estigmatizam suas
vítimas é sempre algo que vale a pena contestar, e sem dúvida
parece ter menos credibilidade no mundo moderno, entre as
pessoas que querem ser modernas — o processo está sendo
examinado agora. No caso desta doença, que produz tantos
sentimentos de culpa e vergonha, a tentativa de dissociá-la
desses significados, dessas metáforas, é particularmente
liberadora, até mesmo consoladora. Mas para afastar as
metáforas, não basta abster-se delas. É necessário desmascará-
las, criticá-las, atacá-las, desgastá-las .
RISCO DA METÁFORA MILITAR
❖ Nem todas as metáforas aplicadas às doenças e seus tratamentos são
igualmente ofensivas e deformantes. A metáfora que estou mais interessada em
aposentar, mais ainda depois do surgimento da aids, é a metáfora militar. Sua
utilização inversa — o modelo médico do bem-estar público — provavelmente
tem conseqüências ainda mais perigosas e extensas, pois ele não apenas fornece
uma justificativa persuasiva para o autoritarismo, como também aponta
implicitamente para a necessidade da repressão violenta por parte do Estado
(equivalente à remoção cirúrgica ou ao controle químico das partes indesejáveis
ou “doentes” do organismo político). Mas o efeito das imagens militares sobre
a conceituação da doença e da saúde está longe de ser irrelevante. Elas
provocam uma mobilização excessiva, uma representação exagerada, e dão
uma contribuição de peso para o processo de excomunhão e estigmatização do
doente.
❖ A idéia de medicina “total” é tão indesejável quanto a de guerra “total”. E a
crise criada pela aids também nada tem de “total”. Não estamos sendo
invadidos. O corpo não é um campo de batalha.
❖ Os doentes não são baixas inevitáveis, nem tampouco são inimigos. Nós — a
medicina, a sociedade — não estamos autorizados a combater por todo e
qualquer meio... Em relação a essa metáfora, a metáfora militar, eu diria,
Como o Covid-19 poderia ser representado como
metáfora?

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