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“A história das lutas pelo poder e,

consequentemente, as condições
reais do seu exercício e sustento
permanecem quase totalmente
escondidas. O conhecimento não faz
parte dele: isso não devemos
conhecer”.
A casa dos Loucos

A u l a : A l i n e S o u za M a r ti n s

BIBLIOGRAFIA
M i c ro F í s i c a d o Po d e r ( 1 9 7 9 )
M i c h e l Fo u c a u l t
LIVROS
Doença Mental e Psicologia (1954)

Michael Foucault História da loucura na idade clássica (1961)


Gênese e Estrutura da Antropologia de Kant
https://www.youtube.com/watch?v=BBJTeNTZtGU O Nascimento da clínica (1963)
As palavras e as coisas (1966)
Michel Foucault (1926-1980): filósofo francês e ativista que Arqueologia do saber (1969)
estudou: relações de poder, a relação entre o saber e o poder, a
história da loucura, a sexualidade, entre outros temas, A ordem do discurso (1970)
desenvolvendo um olhar crítico sobre a modernidade, refletindo
prioritariamente sobre o modo como se constituem os distintos Natureza Humana. Justiça vs. Poder: o debate entre Chomsky e Foucault (1971)
processos de subjetivação. Professor da cátedra História dos
Sistemas do Pensamento do Collége de France em 1970. Isso não é um cachimbo (1973)
Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão (org.) (1973)
Vigiar e punir (1975)
Microfísica do Poder (1979)
CURSOS
Aulas Sobre a Vontade de Saber (1970-1971) História da sexualidade (1976-2017): I - A vontade de saber (1976) II - O uso dos
Teorias e instituições penais (1971-1972) prazeres (1984) III - O Cuidado de Si (1984) IV - Os prazeres da carne (publicado em
A sociedade punitiva (1972-1973) francês em 2017)
O poder psiquiátrico (1973-1974) A Verdade e as Formas Jurídicas (1996) - trata-se de conjunto de conferências
Os anormais (1974-1975)
pronunciadas em 1973 no Brasil.
Em defesa da sociedade (1975-1976)
Segurança, território e população (1977-1978) Coleção Ditos e escritos (10 volumes com textos de diferentes anos. I - Problematização
Nascimento da biopolítica (1978-1979) do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise, II - Arqueologia das Ciências e História
Do governo dos vivos (1979-1980) dos Sistemas de Pensamento, III - Estética - Literatura e Pintura, Música e Cinema, IV -
Subjetividade e verdade (1980-1981)
Estratégia, Poder-Saber, V - Ética, Sexualidade, Política, VI - Repensar a Política, VII - Arte,
Maldizer, dizer verdadeiro (1981) - trata-se de curso ministrado em Louvain.
A hermenêutica do sujeito (1981-1982) Epistemologia, Filosofia e História da Medicina, VIII - Segurança, Penalidade e Prisão, IX -
O Governo de Si e dos Outros (1983) Genealogia da Ética Subjetividade e Sexualidade, X - Filosofia, Diagnóstico do Presente e
O Governo de Si e dos Outros: A Coragem da Verdade (1984) Verdade
O que é um autor? (1983)
Qu’est-ce que la critique suivi de La culture de soi (publicado em 2015 na França pela
HISTÓRIA DA LOUCURA

• Grécia Antiga: fenômeno físico


• Idade Média: a religiosidade se incumbia de explica-la e fomentar a piedade em relação aos
loucos.
• Renascimento: começa o processo de marginalização mais radical, a loucura foi concebida
como desrazão, e um barco chamado “Nau dos Loucos” levava-os para morrerem no mar.
• Idade Clássica: foi criado o Hospital Psiquiátrico como um asilo para abrigar essas pessoas.
• Modernidade: por volta de 1800 Pinel irá classificar o fenômeno como doença, ilusão, erro e
alienação,
• 2000: a discussão sobre a imputabilidade e a periculosidade do louco ganham destaque na
sociedade.
FOUCAULT 1994
Até 1650: “hospitaleira”
• Nessa época existiram loucos célebres que escreveram livros ao se ocuparam de divertir
as pessoas.
Séc. XVII: exclusão
• A loucura é despojada de sua linguagem e impedida de falar de si mesma.
• O louco passa a ser visto como um ser incapaz e que deve ser tutelado ou pelo Estado ou
por suas famílias.
Séc. XVIII: o louco reaparece na vida social.
• As casas de internamento - onde ficavam muitas pessoas excluídas e improdutivas como
os criminosos, os mendigos e as prostitutas – foram reformadas abrigando agora
somente os loucos.
• Por volta de 1973 Pinel começa um tratamento moral da loucura.
FOUCAULT 1994
Séc. XIX: as técnicas de fisiologia começam a ser usadas em um
contexto apenas repressivo e moral.
• Foram usadas duchas geladas como punição por erros ou para faze-
los confessarem que suas alucinações eram falsas e uma máquina que
girava o doente (por vezes até o desmaio) foi usada para fazer o louco
se arrepender dos sues delírios.
• Essas práticas, que se escondiam atrás de uma suposta
“medicalização” podem ser consideradas torturas.
• A partir deste momento a loucura deixou de ser
considerada um fenômeno global, relativo ao
mesmo tempo, por intermédio da imaginação e do
delírio, ao corpo à alma. No novo mundo asilar,
neste mundo da moral que castiga a loucura
FOUCAULT tornou-se um fato que concerne essencialmente a
alma humana, sua culpa e liberdade; ela inscreve-se
1994 doravante na dimensão da interioridade (...). Ela
está encerrada num sistema punitivo onde o louco,
minorizado, encontra-se incontestavelmente
aparentado com a criança, e onde a loucura,
culpabilizada, acha-se ordinariamente ligada ao
erro (Foucault, 1994, p.83-84).
História da loucura
https://www.youtube.com/watch?v=jrcyf-Uahy4
• Considera-se como homem o ser capaz de razão, reflexão e raciocínio. A partir
disto é importante que não se normatize o que é ser homem. O louco é dotado
de uma razão particular, uma reflexão própria e um tipo de raciocínio singular. É
preciso que a diferença não seja abolida e sim incentivada, o mundo não é de um
seleto grupo de pessoas “iguais”, mas sim de infinitos grupos de pessoas
diferentes: loucos, brancos, pretos, brasileiros, indianos, homossexuais,
prostitutas, mulheres, deficientes, ricos, pobres.... E se reconhecermos e
aceitarmos verdadeiramente o Outro, poderemos ser mais livres para aceitarmos
o que temos de diferente em nós também.
A grande internação

• 1° Momento: Do surgimento das instituições de internamento


• 1656 - fundação do Hospital Geral na França
• objetivo: recolher, alojar e alimentar os pobres de Paris.

• 2° Momento: A moralização da pobreza e da caridade


• Castigo e caridade: a miséria deve ser suprimida para que todos
cumpram sua função na sociedade.

• 3° Momento: O internamento como regulador da economia


• Imperativo ao trabalho – caça aos mendigos
A Casa “ Como podemos ver, esta grande
transformação dos procedimentos de saber

dos acompanha as mutações essenciais das


sociedades ocidentais: emergência de um
poder político sob a forma de Estado,

Loucos expansão das relações mercantis á escala


do globo, estabelecimento das grande
técnicas de produção” (FOUCAULT,
2006,p.117)
Normal e o patológico
• "se o normal se define mediante a execução de um projeto normativo, este, ao
mesmo tempo que engendra o anormal (o anormal é condicionado pelo normal),
é acionado por ele (o anormal é condição do normal). Em outras palavras, o
anormal é uma virtualidade inscrita no próprio processo de constituição do
normal e não um fato ou uma entidade autônoma que definiríamos pela
identificação de um conjunto de propriedades delimitadas e imutáveis. O anormal
é uma relação: ele só existe na e pela relação com o normal. Normal e anormal
são, portanto, termos inseparáveis. E é por isso que é tão difícil definir a loucura
em si mesma. “ (Frayser-Pereira, p.22)
• "que a verdade, como o relâmpago, não nos
espera onde temos a paciência de
emboscá−la e a habilidade de
surpreendê−la, mas que tem instantes
propícios, lugares privilegiados, não só para
VERDADE sair da sombra como para realmente se
produzir. Se existe uma geografia da
verdade, esta é a dos espaços onde reside, e
não simplesmente a dos lugares onde nos
colocamos para melhor observá−la”
(FOUCAULT, 1974, p. 190)
PRODUÇÃO DE VERDADE

• CRISE NA DOENÇA : ”Momento em que a natureza profunda da doença sobe a


superfície” (p191)
• PROVA JUDICIÁRIA : litígio - de que lado Deus estava
• CONFISSÃO : justiça criminal e psiquiátrica
• "A verdade ai não é aquilo que é, mas aquilo que se dá: acontecimento. Ela não
é encontrada mas sim suscitada: produção em vez de apofântica. Ela não se dá
por mediação de instrumentos, mas sim provocada por rituais, atraída por
meio de ardis, apanhada segundo ocasiões: estratégia e não método”(p.192)
• "Mas, historicamente, bem antes de ser considerada um teste, a confissão era
a produção de uma verdade que se colocava no final de uma prova, e segundo
formas canônicas: confissão ritual, suplício, interrogatório” (p.192)
"A passagem da verdade/prova à
verdade/constatação é sem dúvida
um dos processos mais importantes
na história da verdade” (p.194)
Verdade/prova -
verdade/contestação 1) Inquérito - política, judiciária,
civil e religioso
2) Tecnologia - jurídico-político
3) Experimentação
1. Inquérito

Prova - poder/saber como ritual = Inquérito - poder/saber como processo administrativo

“De início, o estabelecimento e a generalização do procedimento do inquérito na prática


política e na prática judiciária, civil ou religiosa. Procedimento cujo resultado é determinado
pela concordância de vários indivíduos sobre um fato, um acontecimento, um costume, que
passam então a ser considerados como notórios, isto é, podendo e devendo ser
reconhecidos. Fatos conhecidos porque por todos reconhecíveis. A forma jurídico−política
do inquérito é correlata ao desenvolvimento do Estado e à lenta aparição, nos séculos XII e
XIII, de um novo tipo de poder político no elemento do feudalismo. A prova era um tipo de
poder/saber de característica essencialmente ritual. O inquérito é um tipo de poder/saber
essencialmente administrativo” (p.195)
2. Tecnologia

• "O segundo grande momento se situaria na época em que este


procedimento jurídico−político pôde se incorporar a uma tecnologia que
permitia um inquérito sobre a natureza. Tecnologia que não é mais aquela
dos instrumentos destinados à localização, aceleração e amadurecimento
da verdade, mas a dos instrumentos que devem apreendê−la” (p.197)
3. Experimentação

• "a química e a eletricidade permitiram que fenômenos fossem produzidos.


Esta produção de fenômenos através da experimentação está no ponto
mais afastado da produção de verdade pela prova, pois são repetíveis,
podem e devem ser constatados, controlados e medidos. A
experimentação não passa de um inquérito sobre fatos artificialmente
provocados”(p.196)
• "Por muito tempo e ainda em boa parte nos nossos dias, a medicina,
a psiquiatria, a justiça penal, e a criminologia ficaram nos confins de
uma manifestação da verdade nas normas de conhecimento, e de
uma produção da verdade na forma da prova: esta tendendo sempre
a se esconder sob aquela e procurando através dela
justificar−se”(p.197)
HOSPITAL - PRODUÇÃO E CONTESTAÇÃO
DE VERDADES
• "Seja inicialmente o exemplo da medicina, com o espaço que lhe é
conexo, o hospital. Até pouco tempo o hospital foi um lugar ambíguo:
de constatação para uma verdade escondida e de prova para uma
verdade a ser produzida. Uma ação direta sobre a doença: não só lhe
permitir revelar a sua verdade aos olhos do médico mas também
produzi−la. O hospital como lugar de eclosão da verdadeira doença
(pp.197-198)
Problemas do pensamento médico
• Terapêutica consiste em suprimir o mal, reduzi-lo a inexistência
• Há doenças e modificação das doenças
• O que é uma doença normal?
• "Se quiséssemos fazer uma "etno−epistemologia" do personagem médico, deveríamos dizer que a
revolução de Pasteur o privou de seu papel sem dúvida milenar, na produção ritual e na prova da doença.
E o desaparecimento deste papel, certamente dramatizado pelo fato de que Pasteur não só e
simplesmente mostrou que não cabia ao médico ser o produtor da doença "na sua verdade", mas que por
ignorá−la tinha sido por milhares de vezes o propagador e o reprodutor da doença. O médico de hospital,
indo de leito em leito, era um dos agentes mais importantes do contágio. Pasteur golpeava assim os
médicos, neles causando uma formidável ferida narcísica que lhe foi dificilmente perdoada. As mãos do
médico, que deviam percorrer o corpo do doente, o palpar, o examinar, estas mãos que deviam descobrir a
doença, trazê−la à luz e mostrá−la, Pasteur as designou como portadoras do mal. O espaço hospitalar e o
saber do médico tinham tido até então o papel de produzir a verdade "critica", da doença. E eis que o
corpo do médico, o amontoamento hospitalar apareciam como produtores da realidade da
doença”(p.200)
LOUCURA
• A loucura, vontade perturbada, paixão pervertida, deve ai encontrar uma
vontade reta e paixões ortodoxas. Este afrontamento, este choque inevitável, e
a bem dizer desejável, produzirão dois efeitos: a vontade doente, que podia
muito bem permanecer inatingível pois não é expressa em nenhum delírio,
revelará abertamente seu mal pela resistência que opõe à vontade reta do
médico; e, por outro lado, a luta que a partir daí se instala, se for bem levada
deverá conduzir a vontade reta à vitória, e a vontade perturbada à submissão e
à renúncia. Um processo de oposição, de luta e de dominação. "Deve−se
aplicar um método perturbador, quebrar o espasmo pelo espasmo... Deve−se
subjugar todo o caráter de certos doentes, vencer suas pretensões, domar seus
arroubos, quebrar seu orgulho, ao passo que se deve excitar e encorajar os
outros". (P.203)
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO XIX
(PP.203-204)

• Lugar de diagnóstico
• classificação,
• retângulo botânico onde as espécies de doenças são divididas em compartimentos cuja disposição lembra uma vasta horta.
• Campo institucional onde se trata de vitória e de submissão.
• O grande médico do asilo − seja ele Leuret, Charcot ou Kraepelin − é ao mesmo tempo aquele que pode dizer a verdade da doença pelo saber
que dela tem, e aquele que pode produzir a doença em sua verdade e submetê−la, na realidade, pelo poder que sua vontade exerce sobre o
próprio doente.
• Técnicas: isolamento, interrogatório particular ou público, tratamentos−punições como a ducha, pregações morais, encorajamentos ou
repreensões, disciplina rigorosa, trabalho obrigatório, recompensa, relações preferenciais entre o médico e alguns de seus doentes, relações de
vassalagem, de posse, de domesticidade e às vezes de servidão entre doente e médico
• Tudo isto tinha por função fazer do personagem do médico o "mestre da loucura"; aquele que a faz se manifestar em sua verdade quando ela se
esconde, quando permanece soterrada e silenciosa, e aquele que a domina, a acalma e a absorve depois de a ter sabiamente desencadeado".
• Basaglia

• "a característica destas instituições (escola, usina, hospital) é uma


separação decidida entre aqueles que têm o poder e aqueles que não
o têm". Todas as grandes reformas, não só da prática psiquiátrica mas
do pensamento psiquiátrico, se situam em torno desta relação de
poder; são tentativas de deslocar a relação, mascará−Ia, eliminá−la e
anulá−la. No fundo, o conjunto da psiquiatria moderna é atravessado
pela anti−psiquiatria, se por isto se entende tudo aquilo que recoloca
em questão o papel do psiquiatra, antigamente encarregado de
produzir a verdade da doença no espaço hospitalar”(P.206)
DESPSIQUIATRIZAÇÃO

• "Primeiramente houve o movimento de "despsiquiatrização". E o que


aparece imediatamente após Charcot. E ai não se trata tanto de anular o
poder do médico quanto de deslocá−lo em nome de um saber mais exato, de
lhe dar um outro ponto de aplicação e novas medidas. Despsiquiatrizar a
medicina mental para restabelecer na suajusta eficácia um poder médico
que a imprudência (ou ignorância) de Charcot conduziu à produção abusiva
de doença, logo de falsas doenças” (PP.. 206-207)
Estratégias de Despsiquiatrização

• 1. Reduzir a doença a sua realidade estrita - os signos para diagnostica-la e trata-la.


• 2. Intensificar a loucura pela psicanálise
• FORMAS DE PODER
• "A antipsiquiatria vem então se opor a estas duas grandes formas de despsiquiatrização,
todas as duas conservadoras do poder (…) E se trata de transferir para o próprio doente o
poder de produzir a sua loucura e a verdade de sua loucura ao invés de procurar reduzi−Ia a
nada. A partir daí creio que se pode compreender o que está em jogo na antipsiquiatria, e
que não é absolutamente o valor de verdade da psiquiatria em termos de conhecimento, de
precisão do diagnóstico ou de eficácia terapêutica”(p.208)
• "Deve−se impedir que a obediência hospitalar escarneça da autoridade
médica e que neste lugar de cumplicidade e de obscuros saberes
coletivos a ciência soberana do médico seja envolvida em mecanismos
que ela própria teria involuntariamente produzido.
• Logo, regra do encontro privado, do contrato livre entre o médico e o
doente, regra de limitação de todos os efeitos da relação apenas ao nível
do discurso − "só lhe peço uma coisa que é dizer, mas dizer efetivamente,

CRÍTICA À tudo o que passa pela sua cabeça". Regra da liberdade discursiva − "você
não vai poder mais se gabar de enganar o médico, pois você não vai
responder a perguntas; você dirá tudo o que lhe vem à cabeça sem que

PSICANÁLI tente mesmo me perguntar o que penso disto, e se você quiser me


enganar infringindo esta regra, não serei enganado realmente.

SE
• E você que terá caído no ardil já que terá perturbado a produção da
verdade e só terá acrescentado algumas sessões à soma que me deve".
Regra do divã, que só dá realidade aos efeitos produzidos neste lugar
privilegiado e durante esta hora singular, em que o poder do médico é
exercido, poder que não pode ser apanhado em nenhum efeito
retroativo já que se retirou inteiramente no silêncio e na invisibilidade”
(p. 208)
• Transferência
• Pagamento
1. garantir a segurança pessoal dos loucos e de suas famílias;

2. liberá−los das influências externas;

Asilo:
necessidade 3. vencer suas resistências pessoais;

do 4. submetê−los a um regime médico;

isolamento
(Esquirol) 5. impor−lhes novos hábitos intelectuais e morais.

"Como se poder ver tudo é questão de poder: dominar o poder do louco,


neutralizar os poderes que de fora possam se exercer sobre eles, estabelecer
um poder terapêutico e de adestramento, de “ortopedia””(p.210)
Consequências
• "aumenta tão vertiginosamente quanto diminui o poder do doente;
este, pelo simples fato de estar internado, passa a ser um cidadão
sem direitos, abandonado à arbitrariedade dos médicos e
enfermeiros, os quais podem fazer dele o que bem entendem, sem
que haja possibilidade de apelo””(p.210)
• Ora, aquilo que estava logo de início implicado nestas relações de
poder, era o direito absoluto da não−loucura sobre a loucura. Direito
transcrito em termos de competência exercendo−se sobre uma
ignorância, de bom senso no acesso à realidade corrigindo erros
(ilusões, alucinações, fantasmas), de normalidade se impondo à
desordem e ao desvio. (p.210)
• "A desmedicalização da loucura é correlata deste questionamento
primordial do poder na prática anti−psiquiátrica. A oposição entre
esta e a despsiquiatrizaçào, que me parece caracterizar tanto a
psicanálise quanto a psicofarmocologia pode ser medida pelo fato de
que ambas relevam preferencialmente de uma medicalização
excessiva da loucura. E no mesmo instante se encontra aberto o
problema da eventual libertação da loucura em relação a esta forma
singular de poder−saber que é o conhecimento. E possível que a
produção da verdade da loucura possa se efetuar em formas que não
sejam as da relação de conhecimento? Problema fictício, dirão,
pergunta que só tem seu lugar numa utopia. De fato, ela se coloca
concretamente todos os dias a propósito do papel do médico, do
sujeito” (p.212)

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