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AULA INTRODUTÓRIA

PSICOLOGIA COMUNITÁRIA E INSTITUCIONAL


PROFA. LAURA BELLUZZO DE CAMPOS SILVA
MICHEL FOUCAULT
Michel Foucault nasceu em Poitiers em 1926 e morreu em Paris em
1984. Foi professor nas Faculdades de Letras e Ciências Humanas de
Clermont Ferrand e Tunes e exerceu atividade docente no Collège de France.
Algumas de suas obras:
Maladie mentale et personalité - Doença mental e psicologia -1954.
Folie et deraison. Histoire de de la Folie à L’âge classique, História
da loucura – 1961.
O nascimento da clínica – 1963
Les mots et les choses, une archeologie des scientes humaines - As
palavras e as coisas -1966.
Arqueologia do saber - 1969
L’ordre du Discours - A ordem do discurso - 1971
Surveiller et Punir, Naisssance de la prison – Vigiar e Punir- 1975
Histoire de la sexualité: História da sexualidade. Obra publicada em
3 volumes:
La volonté de savoir –– A vontade de saber - 1976
L’Usage des Plaisirs – O uso do prazeres - 1984
La souci de soi –– O cuidado de si – 1984
Microfísica do poder - 1979
Recentemente vêm sendo publicadas pela Martins Fontes, as aulas que
Foucault ministrou no Collège de France:
Os Anormais - 2002
Em Defesa da Sociedade - 2005
O Poder Psiquiátrico - 2006 (Obs. este muito importante para ler
depois de História da Loucura e de Vigiar e Punir).
Nascimento da Biopolítica – 2008

FOUCAULT – DA ARQUEOLOGIA À GENEALOGIA


O livro "Vigiar e Punir" marca uma inflexão importante na obra de
Foucault, que é a passagem da fase arqueológica para a fase genealógica.
Este livro, e muito especialmente seus dois primeiros capítulos, trazem
uma passagem especial para compreendermos o lugar que os saberes sobre
o homem e dentre estes, a psicologia, ocupam na sociedade moderna, e, a
partir disso, compreendermos o que se passa na contemporaneidade.
Tendo visto e estudado os dois primeiros capítulos de Vigiar e Punir
no semestre retrasado nas aulas de Psicologia Geral e Contemporânea, antes
de retomar a continuidade dos capítulos em questão para o que nos interessa
na disciplina de Psicologia Comunitária e Institucional e abrir caminho para

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a compreensão da obra História da Loucura, é importante situar este livro
(HL) no contexto do pensamento de Foucault.
1. Da arqueologia à genealogia
(Fonte: Introdução de Roberto Machado ao livro de Michel Foucault
– Microfísica do poder, 1993, p. VII a XXIII)
A grande novidade metodológica trazida por Foucault no livro, “A
história da loucura”, de 1961, foi a de estudar todos os saberes sobre a
loucura, sem se preocupar em distinguir os chamados saberes pré-científicos
dos científicos. O objetivo da análise é estabelecer relações entre os saberes
que possibilitem individualizar formações discursivas. Saindo do âmbito da
história da psiquiatria, Foucault considera a própria psiquiatria como um
momento determinado de uma trajetória mais ampla, procurando
estabelecer suas diversas configurações arqueológicas.
Nesse sentido, o olhar do pesquisador se deslocou do lugar de um
saber posterior e superior (do que seria considerado ciência hoje, por
exemplo) para olhar as rupturas que ocorreram nos saberes sobre a loucura.
Além disso, não centrou suas análises apenas nos discursos sobre a
loucura, mas considerou também os espaços institucionais dedicados ao
controle do louco, observando uma heterogeneidade entre o discurso
(médico) sobre a loucura e o tratamento dado ao louco.
Articulando o saber médico com as práticas de internamento, foi
possível mostrar como a psiquiatria, em vez de ser quem descobriu a
essência da loucura e a libertou, é a radicalização de um processo de
dominação do louco que começou muito antes dela.
(comentário meu) Domina duplamente porque:
No plano do saber - ao considerar o louco como doente mental que
precisa ser tratado (para Pinel, fundador da psiquiatria, o pressuposto básico
da psiquiatria é o de que a doença mental é uma doença como outra
qualquer).
No plano da instituição – o louco deve ficar internado em um hospital
próprio para loucos – o ato de Pinel, ao mesmo tempo em que liberta os
loucos dos grilhões em nome da humanização do tratamento, confina-o no
hospital psiquiátrico, normatizando e disciplinando seu comportamento – o
tratamento moral proposto por Pinel.
Retomando Machado:
Em “O nascimento da clínica” (1963) e “As palavras e as coisas”
(1966), Foucault utilizou os mesmos instrumentos metodológicos, como: o
conceito de saber, o estabelecimento das descontinuidades, os critérios para
datação de períodos e suas regras de transformação, o projeto de inter-
relações conceituais, a articulação dos saberes com a estrutura social e a
crítica da idéia de progresso em história das ciências, entre outros.
Em “A arqueologia do saber”, de 1969, o autor retoma e explicita os
princípios formulados até então.

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A partir dessa obra, veremos Foucault se enveredar por outra questão.
Se até então estivera interessado em saber como os saberes apareciam
e como eram formados, agora está interessado em saber porquê.
A mutação assinalada por livros como Vigiar e Punir, em 1975, e
a Vontade de Saber, de 1976, primeiro volume da História da
Sexualidade, foi a introdução nas análises históricas da questão do
poder como um instrumento de análise capaz de explicar a produção
dos saberes. (destacando portanto: este ponto marca a virada de sua
obra da arqueologia para a genealogia).
É preciso ter claro que Foucault não pretendeu fazer uma teoria sobre
o poder, considerando que todo saber é provisório, não fechado. Considerou
o poder como prática social historicamente constituída.
A obra de Foucault produz um importante deslocamento com relação
à ciência política que limita ao Estado o fundamental de sua investigação
sobre o poder. O que aparece como evidente em seus estudos é a existência
de formas de exercício do poder diferentes do Estado, a ele articuladas de
maneiras variadas e que são indispensáveis a sua sustentação e atuação
eficaz.
O que a obra visa é distinguir as grandes transformações do sistema
estatal, as mudanças de regime político ao nível dos mecanismos gerais e
dos efeitos de conjunto e a mecânica do poder que se expande por toda a
sociedade (...) investindo em instituições, tomando corpo em técnicas de
dominação. Poder este que intervém materialmente, atingindo a realidade
mais concreta dos indivíduos – o seu corpo – e que se situa ao nível do
próprio corpo social, e acima dele, penetrando na vida cotidiana e por isso
sendo caracterizado como micro-poder ou sub-poder.
O que Foucault chamou de microfísica do poder significa tanto um
deslocamento do espaço da análise quanto do nível em que esta se efetua,
dois aspectos intimamente relacionados, já que considerar o poder em suas
extremidades leva a investigar os procedimentos técnicos do poder que
realizam um controle detalhado, minucioso do corpo – gestos, atitudes,
comportamentos, hábitos, discursos.
Dessa definição decorre uma consequência política que é a de não se
achar que a resistência política passa pela destruição do aparelho do Estado,
pois esta não é suficiente para fazer desaparecer ou transformar a rede de
poderes que impera em uma sociedade.
Para isso Foucault partiu em busca do nível molecular de
exercício do poder, buscando desvelar os mecanismos e técnicas
infinitesimais de poder que estão intimamente relacionados com a
produção de determinados saberes – sobre o criminoso, a sexualidade,
a doença, a loucura, etc. – e analisar como esses micro-poderes se
relacionam com o nível mais geral do poder constituído pelo aparelho
de Estado.

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Outro ponto importante das investigações de Foucault é não
considerar pertinentes para essas análises a distinção entre ciência e
ideologia. Foucault não pensa a ciência como um conhecimento em que o
sujeito vence as limitações de suas condições particulares e se instala na
neutralidade objetiva do universal e na ideologia como um conhecimento em
que o sujeito tem sua relação com a verdade perturbada, obscurecida pelas
condições de existência. Ele não faz essa separação porque, para ele “todo
conhecimento, seja ele, científico ou ideológico, só pode existir a partir de
condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito
quanto os domínios de saber.
O fundamental da análise é que não há poder sem constituição de
um campo de saber e que todo saber constitui novas relações de poder.
É assim que o hospital não é apenas local de cura, máquina de
curar, mas também instrumento de produção, acúmulo e transmissão
do saber. Do mesmo modo que a escola está na origem da pedagogia, a
prisão da criminologia e o hospício da psiquiatria.

Definição de Genealogia
Em “Em defesa da sociedade”, (publicado no Brasil em 2005, e
proferido como aula no Collége de France, em 1976)) Foucault (p.13,14)
ao propor uma definição ainda provisória de genealogia afirma:
“Nessa atividade, que se pode, pois, dizer genealógica, vocês vêem
que na verdade, não se trata de forma alguma de opor à unidade abstrata da
teoria a multiplicidade concreta dos fatos; não se trata de forma alguma de
desqualificar o especulativo para lhe opor, na forma de um cientificismo
qualquer, o rigor dos conhecimentos bem estabelecidos. Portanto, não é um
empirismo que perpassa o projeto genealógico; não é tampouco um
positivismo, no sentido comum do termo, que o segue. Trata-se, na verdade,
de fazer que intervenham saberes locais, descontínuos, desqualificados, não
legitimados, contra a instância teórica unitária que pretenderia filtrá-los,
hierarquizá-los, ordená–los em nome de um conhecimento verdadeiro, em
nome dos direitos de uma ciência que seria possuída por alguns. As
genealogias não são, portanto, retornos positivistas a uma forma de ciência
mais atenta ou mais exata. As genealogias são, muito exatamente,
anticiências. Não que elas reivindiquem o direito lírico à ignorância e ao não-
saber, não que se tratasse da recusa de saber ou de pôr em jogo, do pôr em
destaque os prestígios de uma experiência imediata, ainda não captada pelo
saber. Não é disso que se trata. Trata-se da insurreição dos saberes. Não tanto
contra os conteúdos, os métodos ou os conceitos de uma ciência, mas de uma
insurreição sobretudo e acima de tudo contra os efeitos centralizadores de
poder que são vinculados à instituição e ao funcionamento de um discurso
científico organizado no interior uma sociedade como a nossa. E se essa
institucionalização do discurso toma corpo numa universidade ou, de um

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modo geral, num aparelho pedagógico, se essa institucionalização dos
discursos científicos toma corpo numa rede teórico-comercial como a
psicanálise, ou num aparelho político, com todas as suas aferências, como
no caso do marxismo, no fundo pouco importa. É exatamente contra os
efeitos de poder próprios de um discurso considerado científico que a
genealogia deve travar combate”.
Retomemos agora, do livro Vigiar e punir o capítulo que trata do
Panoptismo ( Capítulo III de Vigiar e punir - da página 173 à 199)
capítulo que se inicia com a descrição das medidas que se tomava
quando se declarava a existência da peste em uma cidade.
“ Em primeiro lugar, um policiamento espacial estrito: fechamento,
claro, da cidade e da terra, proibição de sair sob pena de morte, fim de todos
os animais errantes; divisão da cidade em quarteirões diversos onde se
estabelece o poder de um intendente. Cada rua é colocada sob a autoridade
de um síndico; ele a vigia, se a deixar será punido de morte. No dia
designado, ordena-se a todos que se fechem em suas casas: proibido sair sob
pena de morte. O próprio síndico vem fechar por fora, a porta de cada casa;
leva a chave que entrega ao intendente do quarteirão; este a conserva até o
fim da quarentena. Cada família terá feito suas provisões, mas para o vinho
e o pão, se terá preparado entre a rua e o interior das casas canais de madeira
que permitem fazer chegar a cada um sua ração, sem que haja comunicação
entre os fornecedores e os habitantes; para a carne, o peixe e as verduras,
utilizam-se roldanas e cestas. Se for absolutamente necessário sair das casas,
tal se fará por turnos, e evitando-se qualquer encontro. Só circulam os
intendentes, os síndicos, os soldados da guarda e também entre as casas
infectadas, de um cadáver ao outro, os “corvos”, que tanto faz abandonar `a
morte: “é gente vil, que leva os doentes, enterra os mortos, limpa e faz muitos
ofícios vis e abjetos”. Espaço recortado, imóvel, fixado. Cada qual se prende
a seu lugar. E caso se mexa, corre perigo de vida, por contágio ou punição.”
(1983, p. 173).
Essa vigilância se apóia num sistema de registro permanente:
- relatórios dos síndicos aos intendentes
- registro detalhados das condições de cada indivíduo: nome, idade,
sexo.
- tudo é anotado durante as visitas: mortes, doenças, reclamações,
irregularidades e repassado aos intendentes e magistrados.
Cinco ou seis dias depois do começo da quarentena procede-se à
purificação das casas uma por uma, manda-se sair as pessoas e se borrifa
perfume, fechando-se a casa até que se consuma todo o perfume.
Esse espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde
os indivíduos estão inseridos em um lugar fixo, e onde os menores
movimentos são controlados e onde todos os acontecimentos são registrados
mediante um trabalho ininterrupto de escrita liga a periferia ao centro e

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constitui um modelo compacto do dispositivo disciplinar: contra a peste
que é mistura, a disciplina faz valer seu poder que é o de análise.
A peste como forma real, e, ao mesmo tempo, imaginária, da desordem
tem na disciplina o correlato médico e político. Atrás dos dispositivos
disciplinares, lê-se o terror dos contágios da peste, das revoltas, dos crimes,
da vagabundagem, das deserções, das pessoas que aparecem e desaparecem,
vivem e morrem na desordem.
Se a lepra suscitou modelos de exclusão que originaram o modelo
do Grande Fechamento; a peste suscitou esquemas disciplinares.
O sonho político presente no fechamento do leproso é o de uma
comunidade pura, enquanto que no caso da peste é o de uma sociedade
disciplinar - é a utopia da cidade perfeitamente governada.
São esquemas diferentes, mas não incompatíveis: é próprio do século
XIX ter aplicado ao espaço da exclusão antes destinado ao leproso, a
técnica de poder própria do esquadrinhamento disciplinar:
" tratar os leprosos como pestilentos, projetar recortes finos da
disciplina sobre o espaço confuso do internamento, trabalhá-lo com os
métodos de repartição analítica do poder: isso é o que foi feito pelo poder
disciplinar desde o começo do século XIX: o asilo psiquiátrico, a
penitenciária, a casa de correção, os estabelecimentos de educação vigiada e
os hospitais.
Marcação: louco-não louco; normal - anormal.
“O panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição.
O princípio é conhecido na periferia uma construção em anel; no
centro uma torre; está é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face
interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma
atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para
o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior,
permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigi
na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado,
um operário ou um escolar. Pelo efeito de contraluz, pode-se perceber da
torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas
cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que
cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente
visível. O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem
ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da
masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz
e esconder – só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena
luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente
protegia, A visibilidade é uma armadilha. “ (1983, p. 177).
Efeito mais importante do panóptico, que deriva de sua própria
arquitetura:

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Induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade
que assegura o funcionamento automático do poder, fazendo com que a
vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo que seja descontínua em
sua ação. Além disso, o panóptico pode ser utilizado para fazer experiências
sobre o comportamento dos indivíduos, para treinar e retreinar: permite
testar medicamentos, formas de recuperação de detentos, métodos
pedagógicos, técnicas de formação de trabalhadores, etc. Funciona como
uma espécie de laboratório do poder.
Duas imagens, portanto, da disciplina.
A disciplina - bloco: a instituição fechada, toda voltada para funções
negativas: fazer parar o mal, romper as comunicações, suspender o tempo.
A disciplina - mecanismo: um dispositivo funcional que deve
melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido e eficiente.
Generalização disciplinar - a extensão progressiva dos dispositivos de
disciplina ao longo dos séculos XVIII e XIX levou à formação do que se
poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar.
Multiplicação das instituições de disciplina. Mas essa extensão das
instituições disciplinares não passa do aspecto mais visível de diversos
processos mais profundos:
1. A inversão funcional das disciplinas - inicialmente lhes cabia
neutralizar os perigos, mas pouco a pouco passa a ter o papel positivo de
aumentar a utilidade possível dos indivíduos.
No exército, nas oficinas, as disciplinas passam a funcionar cada vez
mais como poder que torna os indivíduos mais úteis.
2. A ramificação dos mecanismos disciplinares: enquanto os
estabelecimentos de disciplina se multiplicam, seus mecanismos têm certa
tendência a se espalhar e circular livremente:
Exemplos: a escola cristã não vigia apenas as crianças, mas seus pais.
O hospital não vigia apenas os hábitos higiênicos de seus doentes,
mas de toda a comunidade. Grupos filantrópicos, religiosos geram visitas
para conhecimento de como vivem os pobres.
3. A estatização dos mecanismos da disciplina: organização do
aparelho policial: sistema de vigilância permanente.
Porém é preciso tomar cuidado para não identificar a disciplina com
uma instituição ou um aparelho: ela é um tipo de poder. Uma tecnologia, que
pode ficar ou não a cargo de instituições especializadas ou ser usada por
instituições que dela se servem para um fim determinado.
A formação da sociedade disciplinar está ligada a um certo número de
processos históricos no interior dos quais tem lugar:
1. As disciplinas são técnicas para assegurar a ordenação das
multiplicidades humanas - tornam o exercício do poder o menos custoso
possível, fazendo crescer, ao mesmo tempo, a docilidade e a utilidade dos
indivíduos. (corresponde a um período de crescimento demográfico, luta

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contra o nomadismo e corresponde ainda a um período de crescimento da
máquina produtiva).
2. Modalidade panóptica do poder - o crescimento e a ascensão ao
poder da burguesia como classe dominante se faz mediante um quadro legal
e jurídico formalmente igualitário, representativo, mas que, para funcionar,
depende do poder disciplinar que atua em seu subsolo. As disciplinas
fornecem a garantia da submissão das forças e dos corpos. As Luzes que
descobriram as liberdades inventaram também as disciplinas.
3 - Relação poder/saber nas instituições disciplinares – “ Tomados
um a um, a maior parte desses processos têm uma longa história atrás de si.
Mas o ponto da novidade no século XVIII, é que, compondo-se e
regularizando-se eles atingem o nível a partir do qual formação de saber e
majoração de poder se reforçam regularmente segundo um processo circular.
As disciplinas atravessam então o limiar “tecnológico” . O hospital primeiro,
depois a escola, mais tard ainda a oficina, não foram simplesmente “postos
em ordem” pelas disciplinas; tornaram-se graças e elas, aparelhos tais que
qualquer mecanismo de objetivaçãopode valer neles como instrumento de
sujeição, e qualquer crescimento de poder dá neles lugar a conhecimentos
possíveis; foi a partir desse laço, próprio dos sistemas tecnológicos que se
puderam formar no elemento disciplinar a medicina clínica, a psiquiatria, a
psicologia da criança, a psicopedagogia, a racionalização do trabalho. Duplo
processo, portanto: arrancada epistemológica a partir de um afinamento das
relações de poder; multiplicação dos efeitos de poder graças à formação e à
acumulação de novos conhecimentos”. (1983, p. 196).

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