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RESUMO: Foucault há tempos tem despertado atenção dos estudiosos por sua
forma engenhosa de enxergar o mundo, descrevendo após suas viagens,
estudos e pesquisas seu pensamento em várias áreas do conhecimento
humano. Merecendo destaque sua contribuição sobre a forma como se
desenvolveu o Estado, tratando também sobre o Direito, Filosofia e uma análise
apurada da sociedade e seus problemas ao longo dos séculos. Em sua forma
peculiar de enxergar o tempo, o mundo, os povos e os relacionamentos
interpessoais, expunha com máxima clareza em suas aulas, conferências, de
maneira única possibilidades para pacificação dos conflitos existentes nestes
vários seguimentos. A proposta do desse artigo é demonstrar através do
pensamento de Michel Foucault, suas reflexões sobre o poder de disciplina na
sociedade e como isso tem sido usado pelo Estado como uma ferramenta de
controle.
Palavras-Chaves: Filosofia. Sociologia. Política, Controle. Discurso.
Introdução
Neste sentido o que de mais significativo ocorreu nestas últimas décadas, depois
da queda do Muro de Berlim, a chamada queda da “cortina de ferro”, o
inesquecível 11 de setembro de 2001, tem sido se assim pode se chamar, a
revolução no mundo árabe.
1. O controle
Ora, se o hospital era considerado “um espaço artificial”, assim dito pelos
próprios médicos da época, quando foi que ocorreu a mudança para enxergar
nessas instituições as soluções dos problemas? E por que, de uma forma bem
rígida passaram a tratar indiscriminadamente muitos problemas como vadiagem,
homossexualismo, prostituição, desemprego entre outros não relacionados à
“loucura”, nesses “espaços artificiais”?
3. O sistema de exclusão
[...] produzirá a luz do dia seu mal pela resistência que oporá à vontade reta
ao médico; por outro lado, a luta que se estabelece, a partir daí, se for bem
conduzida, deverá a vitória da vontade reta, submissão, à renúncia da
vontade perturbadora. Um processo, portanto, de oposição, de luta e de
dominação. (1997 p.49)
Luta dominação, vontade reta, vitória da vontade? Salta aos olhos que não está
mais se falando de tratamento com objetivo de uma possível cura, ou
descobertas para tal, mas sim de controlar a vontade para conseguir uma
dominação. É vital neste processo de dominar, de controlar, adentrar dentro da
capacidade mental de disciplina através do controle, para que mesmo àqueles
que fora destes estabelecimentos chamados de Instituições de Saúde pudessem
ser dominados e manobrados através de um poder dominante. O que antes era
um sonho distante, o controle da vontade, aparece de forma possível e viável
neste pseudotratamento ofertado pelo Estado.
Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições
que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o
poder. (2009: pag.10)
Assusta o fato que para haver sustentação na base legal tenha-se que buscar
apoio curvado a uma forma de segregação tão evidente, escancarada e torpe
como esta, os “loucos”.
4. Os “condenados”
Foucault não fica alheio a este movimento e percebe que há algo aí podendo
estar disponível para um construído de forma a atingir vários tecidos sociais.
Só que a disciplina não tem o condão de reabilitar, ela assume a função de levar
a um condicionamento, ausente de compreensão, de raciocínio e, por fim, um
questionamento, ao sair do ambiente disciplinador, como poderia se manter
disciplinado?
A disciplina tem por finalidade o controle da vontade. Desta forma, era quase
iminente à volta ao cárcere, uma vez que de volta à sociedade, sem aquele ritmo
disciplinador, em pouco tempo haveria maior probabilidade de volta à prática do
delito.
Assim, Foucault encontrou o porquê desse método não ter como funcionar fora
da prisão:
Mas se esta forma é apenas possível dentro da prisão, com pouca chance de
reabilitação, qual seria o propósito de manter uma instituição criminal que tivesse
como resposta o retorno do egresso? Haveria motivo para gastos altos num
modelo que, em sua forma primal, não resolveria o grande problema ali imposto?
Ou, ainda, estas prisões servem para algum propósito governamental?
5. O liberalismo
O Prof. Márcio Pugliesi em sua obra Teoria do Direito faz uma análise:
No fim do século XIX, as invenções tomam uma forma jamais vista, surge à
energia elétrica, o motor a explosão, e mais avanços na química e siderurgia,
construindo assim a Segunda Revolução Industrial. Sinalizando que o
capitalismo havia chegado sem pressa de sair do cenário mundial.
Não seria demais entender que para Foucault, poder é uma forma variável e
também instável do jogo a partir de forças definidoras das relações sociais,
participando de cada momento histórico concreto, usando a prática de discursos
específicos, com isto fica claro e se pode atingir o poder no campo da prática do
discurso.
Essa frase expõe de maneira clara o desejo de quem predica com objetivo a
alcançar uma função dentro da sociedade, usando de todos os meios discursivos
para angariar o seu desejo final de poder. Para isto, usará a palavra como meio,
não se importando com os efeitos causados na mente dos ouvintes mais tão
somente com seu propósito maior.
Em sua obra Teoria do Direito, o Dr. Márcio Pugliesi, trata de assunto
correspondente ao trazer a lume as funções da linguagem, falando
especificamente sobre função injuntiva, estreitando o assunto ora em relevo:
Dentro da linha apresentada pelo iminente professor Pugliesi, esta tem sido
claramente a linguagem usada nos discursos.
Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições
que o atingem revelam logo, rapidamente sua ligação com o desejo e com o
poder. (2009, p.10)
O controle exercido pelo discurso bem feito, realizado com propósitos e no
momento de maior clamor popular, como é dito não é “aparentemente bem
pouca coisa”, pois, pode mudar a ordem de uma sociedade, a história, um povo.
Considerações finais
Suas pesquisas levada a efeito há quase seis décadas tem despertado o debate
em torno de suas ideias de Governo, Estado, Direito, Escola, Instituições de
Saúde Mental, provocando um torvelinho de reações produzindo efeitos como
na questão dos sanatórios e suas mudanças tão necessárias. Outrossim, seus
escritos tem despertado a atenção de estudiosos tamanha sua acuidade em
tratar dos mais diversos temas.
Ao perquirir sobre o controle exercido pelo Estado, não estava de forma alguma
desconsiderando a necessidade de cuidado, segurança e manutenção da ordem
pública. Seu questionamento vai à direção no uso feito deste controle, por quem
assume a função de controlador. Neste ponto, a questão torna-se por demais
portentosas, uma vez ser ela detentora de direitos alcançados e inalienáveis,
como o direito a privacidade e intimidade, que se não bem definido até onde este
controle pode exercer seu poder, certamente ultrapassará estas garantias
conquistadas.
Michel Foucault não traz uma à solução e não é esse o papel de um pensador.
Ao apresentar os problemas decorrentes da aceitação tácita deste tipo de
controle, se busca chamar a atenção para os perigos existentes. Sua pretensão
é apoiar um debate, ideias que surjam com o advento dessas situações.
E qual deve ser o papel daqueles que vivem este controle? Quem sabe esta é a
pergunta importante a ser feita no momento em que o Direito a intimidade e
privacidade estão em xeque-mate. Poderemos conviver ad perpetuam sob este
controle? A dificuldade está posta.
Referências Bibliográficas
BECKER, Howard S. Outsiders Estudos de Sociologia do Desvio. Ed. Zahar, Rio
de Janeiro: 2009.
DROIT-, Roger Pol. Michel Foucault entrevistas. Ed. Graal. São Paulo: 2006.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Ed. Loyola. São Paulo: 2009.