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Contemporary Journal
2(7): 1684-1710, 2022
ISSN: 2447-0961
Artigo
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1. Introdução
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A experiência da loucura parte de uma proporção que é transgressora a racionalidade
excludente e unitária, de modo que a loucura experiencia o pensamento do transcendental
ao não se submeter às vontades silenciadoras da racionalidade que carrega um primado de
positividade culturalmente e socialmente mais favorável, construído e consolidado através
da ideia de uma progressão constante, acentuada por uma fabricação da normalidade
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De todas as naves satíricas, a Nau dos Loucos foi a única a ter uma existência real para
além da criação representativa da arte. Ela existiu a base de uma composição ética e social,
transgredindo o imaginário.
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Vale ressaltar a relação mútua da loucura com a água, ou seja, o sujeito vive um embarque
à deriva da Nau dos loucos em oposição a racionalidade (positividade) que impõe em certa
medida uma obscuridade.
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Tal simbologia utilizada diz respeito a uma forma de governo, a uma instituição que em
seu tecido e estrutura sobressai o controle e as práticas de elaboração do conforme, ou
melhor, cada sujeito deve tornar-se o que se deve ser. Nessa perspectiva, um sujeito dócil,
útil e autônomo/livre, pois só é possível governar sujeitos livres.
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Foucault abre um leque para uma discussão que neste texto nos é algo
muito caro, que é a investigação de como o olhar médico se institucionalizou
e se efetivou dentro do espaço social para ratificar uma vigilância global e
individualizante, separando os sujeitos que deviam ser observados e
enquadrados. Contudo, os temas e dispositivos de vigilância se inscrevem na
arquitetura, ou melhor, no espaço das instituições: “trata-se de utilizar a
organização do espaço para alcançar objetivos econômico-políticos5”
(FOUCAULT, 2018, p. 321). Logo, o espaço se especifica e se torna funcional:
se faz, portanto, uma história dos espaços, uma história dos poderes
(FOUCAULT, 2018, p. 322).
Trata-se aqui neste contexto da medicina enquanto prática médica, e
a história como um instinto social infalível e puro por assim acrescentar
estabilidade no “progresso”, quando, na verdade, foi uma criação para
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Expressão cunhada por Michel Foucault (2018) em referência ao espaço como arte de
construir e manifestar o poder e a força.
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Antipsiquiatria neste contexto se opõe às formas conservadoras de poder ao transferir ao
“doente” o poder de produzir sua própria loucura, sua linguagem e a verdade dessa loucura
ao invés de reduzi-la como se fosse um discurso vazio, pois está para além.
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Discussão encontrada no Microfísica do poder (2018) em que a partir do séc. XVI se
desenvolve inúmeros tratados como arte de governar, com muitas pistas para se pensar a
problemática em torno do governo de si mesmo, das almas e das condutas.
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4. À guisa de conclusão
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O que muda é o lócus, não se medicaliza mais somente dentro dos muros dos hospitais
psiquiátricos, mas esse processo se faz até em céu aberto.
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