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RESUMOS DA DISCIPLINA SAÚDE MENTAL (6AN) 2023.

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Professora: Edjelma Arantes dos Santos

Aula 01
Texto 01- SILVEIRA; SIMANKE. (2009). A psicologia em História da loucura de Foucault.
Fractal: Revista de Psicologia.v.21 – nº1, p23 -42, Jan/Abr.
Introdução (p.24 – 26)
Os autores colocam as contribuições da obra de Foucault à Psicologia enquanto ciência
e, através dela coloca o como a tão estudada por nós psique humana – bem como a
loucura – apesar de parecerem tão naturais às nossas essências são produzidas nas
relações de saber- fazer (fase arqueológica foucaultiana) e transmitidas (fase
genealógica foucaultiana) numa arqueogenealogia dos saberes que, além de “
escavar” e trazer as diferentes condições que possibilitam a validação de um
conhecimento como verdade ( epistemes), mostra também como essas construções
teórico- discursivas sobre a psique e a loucura são transmitidas e modificadas com o
tempo.
Como podemos perceber, o artigo foca na fase arqueológica, pois, mostra como as
condições históricas trazidas no livro de Michael Foucault - nos períodos do
renascimento, classicismo e modernidade - impactaram na história da Psicologia
enquanto ciência a partir da influência na construção de nosso objeto de estudo, dos
sujeitos bem como o que isso influencia nas nossas formas de subjetivar/ apreender
esse sujeito e objeto.
Na introdução, começa citando (ESCOBAR, 1984, P.75) Onde, de forma bem resumida
podemos afirmar que é nas relações entre pensamento e nas verdades construídas a
partir dele por nós, homens, nos construímos. É isso que o Foucault estuda em seus
livros: as correlações entre pensamento e verdades produzidas (sobre louco, ser de
desejo, doente etc.) são citadas ainda onde podemos ver tais estudos em algumas de
suas obras mais famosas. Logo, a partir disso, discursos sobre verdades são raros pois
requerem esforço de “análise de amplos momentos históricos”. Outra conclusão que se
pode chegar é a das várias possibilidades de discurso que os construtos tão estudados
e naturalizados por nós como : corpo, alma, psique podem comportar, logo, dos
poderes-saberes envolvidos nas suas construções.
Como o que entendemos como louco, por exemplo, ocupou vários lugares/sentidos
diferentes com o passar dos tempos e quais as relações de poder- saber que
permitiram tais constituições de louco? Como são ditadas as regras onde discursos
sobre esse louco entre outros construtos são produzidos, repetidos e fazem com que
coloquemos eles em diferentes lugares? É sobre esse percurso histórico que notamos
como os autores relacionam a obra de Foucault à Psicologia. Uma coisa é certa: que as
respostas a estes dois questionamentos interferem diretamente na validação de como
os tratamos/vemos/cuidamos dos ditos “loucos” e nas nossas relações de forma geral
com a saúde mental (nossas práticas sociais). Faz com que sejamos além de meros
reprodutores de técnicas e conhecimentos, mas, que pensemos de forma crítica tais
conhecimentos dados pela ciência de forma de aparência tão naturalizada.
Vale salientar que a fase arqueológica (também chamada no livro a ordem do discurso
pelo próprio Foucault de fase crítica) e a genealógica não são opostas: se
complementam. O que se “diz” da loucura desde o renascimento até a modernidade: é
isso que será focado nas partes que seguirão no artigo. Isso não é oposto ao que tais
dizeres validados pela ciência interferiram nas práticas e relações sociais nesse período
entendem? Isso tudo tem muito a nos convida a pensar, inclusive, em nossas práticas
no aqui-e- agora. Ando pensando sobre o que a psicologia me diz sobre psique, mente,
corpo, louco? Como esses dizeres afetam minhas práticas como futuro psicólogo e nas
minhas relações sociais em geral? Que relações de poder-saber noto no que estudo e
alimento (ou não) nos meus comportamentos? Garanto que são relações bem tensas –
não à toa esse pensamento de Foucault foi um dos influenciadores da reforma
Psiquiátrica em nosso país. Quais os mecanismos/ dispositivos de controle que
emergem dessas relações de poder-saber?
Bem... eis a importância desse texto. Vamos agora, de fato, ao resumo do passeio
histórico que os autores fazem nas partes seguintes após a introdução do artigo. É
onde colocam - com enfoque na FASE ARQUEOLÓGICA OU CRÍTICA:

 As regras que validam o que o saber psicológico traz (a ordem do discurso


produzido);
 Os dizeres apontados no livro história da loucura acerca de conceitos
importantes da ciência chamada Psicologia: pisque, o conceito de alma que era
válido na modernidade e corpo.
 As avaliações dessa pisque e suas implicações dentro da ciência psicológica
como ciência com espaço social crítico – o que tem a ver com as perguntas
feitas no final do último parágrafo que coloquei nesse resumo sobre a
introdução: que tratam de percepção, normalização/ naturalização, resistência
e construção histórica dos indivíduos e subjetividades. Isso afeta como vemos e
atendemos.
1. A loucura no Renascimento (P. 26 -28)
Sobre esta parte que compreende o pós- idade média, os autores colocam que o
Foucault começa a imaginar as epistemes que poderiam subsidiar um nascimento da
Psicologia nesse período – ciência que, se fundou em torno da construção do sujeito
louco e de todas as figuras associadas a este louco. Passávamos de um Teocentrismo
para o antropocentrismo nessa época.
Sabemos que nessa época não existia uma ciência psicologia mas, na obra história da
loucura o autor lança hipóteses de como poderia ser seu surgimento ali a partir de seu
trabalho arqueológico de escavar todo o contexto (epistemes) que poderiam
possibilitar o surgimento ali.
Logo, vê que o contexto do Renascimento impossibilitaria. Motivo: A loucura estava
dentro do “combo” de experiencias trágicas vividas pela humanidade nessa fase e que
ainda afirmava um homem pequeno e finito (ele morre em virtude de fome, guerras,
nas fatalidades, doenças etc.) diante da grandiosidade e infinitude do universo -
inclusive cita obras que retratam isso nas artes.
Só no passar do Século XVI desse período de renascença é que a loucura, com o
humanismo, foi saindo de uma concepção inicial de experiência trágica vivida no
mundo para ser submetida à razão sem roupagens transcendentais ou divinas. Uma
loucura originada de alguma razão nascia e tinha nos discursos origem no coração dos
homens a depender no que façam em termos de conduta – como consequência de
algum desvio, punição.
Com a superação da peste de lepra, a loucura junto à doença venérea vêm, no séc. XVII
possibilitando, seu estudo pelos preceitos médicos através dessa passagem da
compreensão do campo de um mistério para algo relacionado ao próprio homem. O
que permitiu a psicologização da loucura e sua patologização.
2. A loucura no Classicismo (P. 28 – 31)
Sobre esta parte do artigo já temos a descrição esta fase histórica que compreende os
séculos XVII e XVIII . traz a loucura como uma das coisas que irão substituir o vazio
deixado pela ausência dos leprosos nos hospitais; o internamento e banimento da
liberdade da loucura que se tinha em tempos anteriores, uma associação desta loucura
à desorganização familiar , perigo para o Estado e desordem social. Numa verdadeira
higienização social de doentes, prostitutas, homossexuais etc.
O internamento era “ castigo e terapia na purificação das almas e cura dos corpos.
Portanto, remédio moral mais do que ciência psicológica, na condenação de uma
conduta desregrada, mas não classificada como patologia. Em decorrência, há a
invenção de novos patamares éticos do que seja sexualidade, amor, sagrado e profano”
p.29.
O que antes era comportamento disperso e visto na sociedade foi descolado através do
internamento ao campo do que é desatino e desajuste moral podendo ser
patologizável- o que remetia a loucura aos questionamentos éticos das proibições
sexuais, das liberdades do pensamento e do coração. Isso alavancará a produção de
saberes psiquiátricos e psicológicos mais tarde. (vejam se já não lembra a história da
psicanálise, por exemplo).
É nesse momento histórico que, de forma rudimentar, a figura do médico especialista
que diagnostica a incapacidade e a necessidade da internação mediante a laudo – pois
antes a internação era feita a pedido de familiar, padre, polícia etc. Isso interferia no
campo do direito sobre a determinação de alienação das pessoas no auxílio de
magistrados nas decisões.
2.1 corpos, alma e loucura no Classicismo (P.31 – 34)
Ainda no classicismo, podemos notar nessa parte que, a partir do rompimento com a
moral, a ciência psicológica surge mesmo que incipiente (penumbra conceitual). A alma
e sua qualidade de ser não – palpável tão inatingida em termos de classificações -
ainda estava influenciada fortemente pelo imaginário ético da sociedade nessa época o
que dificultava discursos objetivos sobre ela e a loucura que emergia desta alma.
Dizeres num espaço terapêutico construído nessa época em que havia o louco
(acometido por esse mal) e a figura do médico que cura temos a formação de dizeres
entre os psiquiatras mais materialistas que reduziam a loucura ora a uma realidade
eminentemente da alma ou do corpo onde “alma e corpo estão juntos”.
A loucura seria possibilitada por 3 estruturas: 1. eventos externos ou alguma condição
orgânica que, em relações de causalidade modificaria estados de humor,
comportamentos etc. 2. Paixões (internas) e suas influencias nas movimentações
desordenadas do espírito e provocando predisposições perturbadoras do corpo.3.
comportamentos alucinados e delirantes (oriundos da persistência de uma ou das duas
estruturas anteriores).
“a loucura é a fragmentação da articulação corpo-alma, afetada pelas paixões
descontroladas, no desequilíbrio das causalidades mecânicas (estrutura 1), na
construção da conduta irracional e de um campo de irrealidade.” P.34.
2.2 Figuras da loucura no Classicismo (P. 34 – 37)
Finalizando o período do classicismo como referência, o artigo traz nessa parte traz a
demência como manifestação mais típica da loucura em seu efeito afastador da razão.
A demência seria a perturbação do cérebro, do espírito ou de ambos. Nessa época,
surgem também outras categorias que demarcaram as manifestações patológicas
como: estupidez, histeria, melancolia, frenesi. Tais categorizações articularam melhor
os discursos dos indivíduos divergentes e seus adoecimentos e proporcionaram
tratamentos para os diversos tipos de loucuras.
No entanto, apesar da separação dos dizeres sobre a loucura da moral, a psicologia
ainda não se estabeleceria ali. O psicológico só surge quando, no século XIX, se
estabelece a distinção de atribuições onde a psiquiatria/ medicina ficaria responsável
pelas causalidades orgânicas da doença e à psicologia o espaço moral e de
culpabilidade ou não do sujeito.
3. Loucura e saberes Psis na modernidade (P. 37 -40)
Nesta parte, os autores tomam como referência o período da história chamado de
modernidade caracterizado por uma primazia da razão. Já havia , nesse período
anterior da revolução francesa, a ideia de não massificar diagnósticos e adequar o
período de internamento à gravidade dos casos – diminuindo o tempo de
internamento nos casos mais leves. Ao redor do judiciário se coloca quem é ofensivo
ou não, quem é inimputável ou não.
Pela primeira vez o internamento foi questionado da forma que vinha sendo usado e a
loucura sendo ponderada e ressignificada. Não foi uma libertação dos loucos mas uma
objetificação do conceito de liberdade ( são coisas diferentes).
A psicologia surge de uma moral cotidiana burguesa com suas exigências e estatização
de costumes, opressões. Logo, a psicologia vinha colocando diferenças entre os loucos
curáveis, os perigosos num espectro. E trouxe críticas à sociedade burguesa - o que
abriu caminho para Freud e seus estudos.
A loucura saia de relações de poder-saber que a colocaram no lugar do não-ser
homem e do esquecimento dessa sua condição para o afastamento/alienação de si
(dentro da realidade da doença cristalizada pelo saber médico).
Essa alienação é que produz o homem psicológico – o que coloca tais explicações como
construções e não como uma aproximação da “natureza” destes homens.

CONCLUSÕES DOS AUTORES DO ARTIGO😊


(P. 40 -41)
Por fim – e não menos importante – o artigo conclui com tudo o que foi colocado até
aqui de forma sucinta é que os estudos arqueológicos de Foucault são de suma
importância para desconstrução e reflexão da noção de psique como algo que se
manifesta através dos corpos e da alma dos homens como algo natural: foi construído.
Temos que sempre levar em consideração a produção histórica de saberes (epistemes).

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