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Psicologia nas relações


interpessoais
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Índice

Breve História da Psicologia ........................................................................................................................... 4


A psicologia no império romano .................................................................................................................... 6
A origem da psicologia científica ................................................................................................................... 9
A caracterização da psicologia ..................................................................................................................... 13
Objeto de estudo da psicologia ................................................................................................................... 15
As principais teorias da psicologia no século XX ......................................................................................... 16
A teoria do desenvolvimento humano de Jean Piaget ............................................................................... 20
Psicologia do desenvolvimento ................................................................................................................... 22
Temperamento, caráter e personalidade .................................................................................................... 26
Assistência e humanização .......................................................................................................................... 30
Relação da psicologia com a enfermagem .................................................................................................. 33
Comunicação ................................................................................................................................................ 36
Equipes e conflitos interpessoais ................................................................................................................. 39
Tipos de equipe ............................................................................................................................................ 41
Formação de equipes ................................................................................................................................... 43
Psicologia das relações ................................................................................................................................. 45
Psicossomática ............................................................................................................................................. 49
O mecanismo do adoecimento .................................................................................................................... 56
Espiritualidade x profissionais de saúde ..................................................................................................... 58
Fases do luto ................................................................................................................................................. 63
O cuidado de enfermagem com a dor, morte e sofrimento ....................................................................... 64
Percepções do enfermeiro ........................................................................................................................... 65
Reflexões sobre qualidade de vida .............................................................................................................. 69
Cuidados paliativos ...................................................................................................................................... 72
Enfermagem e sociedade ............................................................................................................................. 79
O perfil do profissional de enfermagem...................................................................................................... 80
Enfermagem, paciente e familiar................................................................................................................. 83
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Breve História da Psicologia

Toda e qualquer produção humana, uma cadeira, uma religião, um computador,


uma obra de arte, uma teoria científica, tem por trás de si a contribuição de
inúmeros homens, que, num tempo anterior ao presente, fizeram indagações,
realizaram descobertas, inventaram técnicas e desenvolveram ideias, isto é, por trás
de qualquer produção material ou espiritual, existe a História.
Para compreender a diversidade com que a Psicologia se apresenta hoje, é
indispensável recuperar sua história.
A história de sua construção está ligada, em cada momento histórico, às exigências
de conhecimento da humanidade, às demais áreas do conhecimento humano e aos
novos desafios colocados pela realidade econômica e social e pela insaciável
necessidade do homem de compreender a si mesmo.

A psicologia entre os gregos


A história do pensamento humano tem um momento áureo na Antiguidade, entre
os gregos, particularmente no período de 700 a.C. até a dominação romana, às
vésperas da era cristã.
É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma
Psicologia. O próprio termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de
logos, que significa razão. Portanto, etimologicamente, psicologia significa “estudo
da alma”.
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A alma ou espírito era concebida como a parte imaterial do ser humano e abarcaria
o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a
sensação e a percepção.
Sócrates (469-399 a.C.) fez os primeiros passos para a Psicologia na Antiguidade
ganhando consistência. Sua principal preocupação era com o limite que separa o
homem dos animais. Desta forma, postulava que a principal característica humana
era a razão.
Platão (427-347 a.C.), procurou definir um “lugar” para a razão no nosso próprio
corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça, onde se encontra a alma do homem.
A medula seria, portanto, o elemento de ligação da alma com o corpo. Este elemento
de ligação era necessário porque Platão concebia a alma separada do corpo. Quando
alguém morria, a matéria (o corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar
outro corpo.
Aristóteles (384-322 a.C), a psyché seria o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que
cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua psyché ou alma. Desta forma, os
vegetais, os animais e o homem teriam alma.
Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função de alimentação e
reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de
percepção e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a alma racional,
que tem a função pensante.
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A psicologia no império romano

Falar de Psicologia nesse período é relacioná-la ao conhecimento religioso, já que,


ao lado do poder econômico e político, a Igreja Católica também monopolizava o
saber e, consequentemente, o estudo do psiquismo.
Nesse sentido, dois grandes filósofos representam esse período: Santo Agostinho
(354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274).
Santo Agostinho, inspirado em Platão, também fazia uma cisão entre alma e corpo.
Entretanto, para ele, a alma não era somente a sede da razão, mas a prova de uma
manifestação divina no homem. A alma era imortal por ser o elemento que liga o
homem a Deus.
São Tomás de Aquino foi buscar em Aristóteles a distinção entre essência e
existência, e encontra argumentos racionais para justificar os dogmas da Igreja e
continua garantindo para ela o monopólio do estudo do psiquismo.

A psicologia no renascimento
No século XVIII, com o Iluminismo, emergem novas concepções de conhecimento,
que tiveram impacto sobre o entendimento dos fenômenos psicológicos.
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O Iluminismo teve início por meio de um movimento cultural europeu do século XVII
e XVIII que buscava gerar mudanças políticas, econômicas e sociais na sociedade da
época. Para isso, os iluministas acreditavam na disseminação do conhecimento,
como forma de enaltecer a razão em detrimento do pensamento religioso.
O pensamento iluminista foi importante para o desenvolvimento da ciência e
do humanismo – que pregava a centralidade e racionalidade humana.
Esse período iluminista também dificultou o surgimento da psicologia enquanto
ciência, com os chamados vetos Comteano e Kantiano Augusto Comte, ele dizia que
só poderia ser objeto da ciência aquilo que for evidente, que não depender de uma
opinião ou de um ponto de vista.
Immanuel Kante dizia que o sujeito da experiência, aquele que está pensando, não
consegue compreender o sujeito transcendental, aquele que conduz o pensamento.
200 anos após a morte de São Tomás de Aquino, iniciou o período da Renascença.
Neste período, René Descartes (1596-1659), um dos filósofos que mais contribuiu
para o avanço da ciência, postula a separação entre mente (alma, espírito) e corpo,
afirmando que o homem possui uma substância material e uma substância
pensante, e que o corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina.
Esse dualismo mente-corpo torna possível o estudo do corpo humano morto, o que
era impensável nos séculos anteriores (o corpo era considerado sagrado pela Igreja,
por ser a sede da alma), e dessa forma possibilita o avanço da Anatomia e da
Fisiologia, que iria contribuir em muito para o progresso da própria Psicologia.
A partir do dualismo e avanço do estudo da anatomia e fisiologia humana, surge a
Psicofisiologia, ciência que busca descrever o funcionamento das engrenagem que
articulam corpo e mente.
Wilhelm Wundt (1832-1926) é considerado o pai da psicofisiologia por ter iniciado e
criado o primeiro laboratório de experimentos em psicofisiologia na Alemanha.
A psicofisiologia, inova ao utilizar o método experimental, que mais tarde acaba
sendo fundamental para o surgimento da psicologia cientifica.
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Inventado por Francis Bacon ( 1561 – 1626) o método experimental é baseado em


observação sistemática e minuciosa, mensuração, neutralidade, comparação e
testagem.
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A origem da psicologia científica

A Psicologia e o Misticismo
A Psicologia, como área da Ciência, vem se desenvolvendo na história desde 1875,
quando Wilhelm Wundt (1832-1926) criou o primeiro Laboratório de Experimentos
em Psicofisiologia, em Leipzig, na Alemanha.
Esse marco histórico significou o desligamento das ideias psicológicas de idéias
abstratas e espiritualistas, que defendiam a existência de uma alma nos homens, a
qual seria a sede da vida psíquica.
A partir daí, a história da Psicologia é de fortalecimento de seu vínculo com os
princípios e métodos científicos.
A ideia de um homem autônomo, capaz de se responsabilizar pelo seu próprio
desenvolvimento e pela sua vida, também vai se fortalecendo a partir desse
momento
Dentro do campo da psicologia há diversos outros denominados “subcampos” (ou
ramos da psicologia), dentre os quais podemos citar: psicologia infantil, psicologia
social, psicologia criminal, entre outras.
E ainda dentro da psicologia temos a chamada “psicologia científica.
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A psicologia científica, despojada da especulação e da metafísica, nasceu no século


XIX. Com a psicofísica, que visa medir o mental de forma quantitativa e procura
estabelecer uma ligação entre o físico e o psicológico (já que a mente e o corpo estão
sempre interagindo), a psicologia passou a fazer parte das ciências objetivas.
Seu status de ciência é obtido à medida que se “liberta” da Filosofia.
Sob os novos padrões de produção de conhecimento, passaram a:
• definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a
consciência);
• delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de
conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;
• formular métodos de estudo desse objeto;
• formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na área.
O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha do final do século 19. Wundt, Weber
e Fechner trabalharam juntos na Universidade de Leipzig.
Seguiram para aquele país muitos estudiosos dessa nova ciência, como o inglês
Edward B. Titchner e o americano William James.
Embora a Psicologia científica tenha nascido na Alemanha, é nos Estados Unidos que
ela encontra campo para um rápido crescimento, resultado do grande avanço
econômico que colocou os Estados Unidos na vanguarda do sistema capitalista.
É ali que surgem as primeiras abordagens ou escolas em Psicologia, as quais deram
origem às inúmeras teorias que existem atualmente.
Essas abordagens são:
• o Funcionalismo, de William James (1842-1910)
• o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927)
• o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949)

O funcionalismo
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O Funcionalismo é considerado como a primeira sistematização genuinamente


americana de conhecimentos em Psicologia.
Desse modo, para W. James, importa responder “o que fazem os homens” e “por
que o fazem”.
Para responder a isto, W. James elege a consciência como o centro de suas
preocupações e busca a compreensão de seu funcionamento, na medida em que o
homem a usa para adaptar-se ao meio.

O estruturalismo
O Estruturalismo está preocupado com a compreensão do mesmo fenômeno que o
Funcionalismo: a consciência.
Diferentemente de James, Titchner irá estudá-la em seus aspectos estruturais, isto
é, os estados elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso
central.

O associacionismo
O principal representante do Associacionismo é Edward L. Thorndike, e sua
importância está em ter sido o formulador de uma primeira teoria de aprendizagem
na Psicologia.
O termo associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por
um processo de associação das ideias — das mais simples às mais complexas. Assim,
para aprender um conteúdo complexo, a pessoa precisaria primeiro aprender as
ideias mais simples, que estariam associadas àquele conteúdo.
Psicologia do senso comum X Psicologia como ciência
A psicologia usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia
do senso comum. O senso comum é um conhecimento herdado, tradicional não é
científico nem filosófico.
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A definição da psicologia como ciência vem após o entendimento conceitual do que


é Ciência.
Ciência é um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade,
expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa.
A forma de conhecimento da ciência supera em muito o conhecimento espontâneo
do senso comum.
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A caracterização da psicologia

Ciência e senso comum


Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo,
quando falamos do poder de persuasão do vendedor, dizemos que ele usa de
“psicologia” para vender seu produto; quando nos referimos à jovem estudante que
usa seu poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de “psicologia”; e
quando procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a ouvir nossos
problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as pessoas.
Será essa a psicologia dos psicólogos?
Certamente não. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é
denominada de psicologia do senso comum mas nem por isso deixa de ser uma
psicologia.

O senso comum: conhecimento da realidade


Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a
vida do cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos
sentimos vivos, que sentimos a realidade.
Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano é chamado
de senso comum. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e
erros, a nossa vida no dia-a-dia seria muito complicada.
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Senso comum: uma visão-de-mundo


Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba
por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos
pelos outros setores da produção do saber humano. O senso comum mistura e
recicla esses outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de
teoria simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo.
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Objeto de estudo da psicologia

Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá: “O objeto de


estudo da Psicologia é o comportamento humano”. Se a palavra for dada a um
psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de estudo da Psicologia é o inconsciente”.
Outros dirão que é a consciência humana, e outros, ainda, a personalidade.

A psicologia é uma ciência biopsicossocial


Para a psicologia o indivíduo é compreendido como um todo – corpo – mente-
espírito.
Atualmente a sociedade começa a se preocupar com o papel das emoções na vida
do indivíduo, o poder da mente em sua vida; importância de compreender melhor
nossos comportamentos e emoções. Quanto mais controle de nossas emoções, mais
saberemos controlar e lidar com o sentimento.
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As principais teorias da psicologia no século XX

A Psicologia enquanto um ramo da Filosofia estudava a alma. A Psicologia científica


nasce quando, de acordo com os padrões de ciência do século 19, Wundt preconiza
a Psicologia “sem alma”.
O conhecimento tido como científico passa então a ser aquele produzido em
laboratórios, com o uso de instrumentos de observação e medição. Essa Psicologia
científica, que se constituiu de três escolas — Associacionismo, Estruturalismo e
Funcionalismo —, foi substituída, no século 20, por novas teorias.
As três mais importantes tendências teóricas da Psicologia neste século são
consideradas por inúmeros autores como sendo o Behaviorismo, a Gestalt e a
Psicanálise.
O Behaviorismo, que nasce com Watson e tem um desenvolvimento grande nos
Estados Unidos, em função de suas aplicações práticas, tornou-se importante por
ter definido o fato psicológico, de modo concreto, a partir da noção de
comportamento.
A Gestalt, que tem seu berço na Europa, surge como uma negação da fragmentação
das ações e processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia científica
do século 19, postulando a necessidade de se compreender o homem como uma
totalidade.
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Psicanálise, que nasce com Freud, na Áustria, a partir da prática médica, recupera
para a Psicologia a importância da afetividade e postula o inconsciente como objeto
de estudo, quebrando a tradição da Psicologia como ciência da consciência e da
razão.
Enquanto área de conhecimento, a psicologia está relacionada com os diferentes
fatores de natureza política, social, cultural e científica, pois para compreender o ser
humano é necessário conhecer o meio em que ele está inserido, sua problemática,
valores, tradições e história. Não devemos esquecer o fato de que o ser humano está
em permanente movimento.
Psicologia do desenvolvimento
Esta área de conhecimento estuda o desenvolvimento do ser humano em todos os
seus aspectos: físico motor, intelectual, afetivo-emocional e social — desde o
nascimento até idade adulta, isto é, a idade em que todos estes aspectos atingem o
seu mais completo grau de maturidade e estabilidade.

Jean Piaget produziu uma das mais importantes teorias sobre o desenvolvimento
humano.

O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento


orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza
pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de
organização da atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando até o
momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um
estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e
relações sociais.

A importância do estudo do desenvolvimento humano

A criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta características


próprias de sua idade. Compreender isso é compreender a importância do estudo
do desenvolvimento humano. Estudar o desenvolvimento humano significa
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conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer


as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação
dos comportamentos.

Os fatores que influenciam o desenvolvimento humano

Vários fatores indissociados e em permanente interação afetam todos os aspectos


do desenvolvimento.

Hereditariedade: a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou


não se desenvolver. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da
inteligência. No entanto, a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu
potencial, dependendo das condições do meio que encontra.

Crescimento orgânico: refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a


estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio
do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma
criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a quando esta
criança estava no berço com alguns dias de vida.

Maturação neurofisiológica: é o que torna possível determinado padrão de


comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa
maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um
desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. Observe como ela
segura o lápis.

Meio: o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de


comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito
intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a
média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer
com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua
experiência de vida
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O desenvolvimento humano deve ser entendido como uma globalidade, mas, para
efeito de estudo, tem sido abordado a partir de quatro aspectos básicos:

Aspecto físico-motor: refere-se ao crescimento orgânico, à maturação


neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio
corpo. Exemplo: a criança leva a Chupeta à boca ou consegue tomar a mamadeira
sozinha, por volta dos 7 meses, porque já coordena os movimentos das mãos.

Aspecto intelectual: é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, a


criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está
embaixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada
ou salário.

Aspecto afetivo-emocional: é o modo particular de o indivíduo integrar as suas


experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplos: a vergonha
que sentimos em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo
querido.

Aspecto social: é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que
envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é
possível observar algumas que espontaneamente buscam outras para brincar, e
algumas que permanecem sozinhas.

Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que esses


quatro aspectos são indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes,
isto é, estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. A
Psicanálise, por exemplo, estuda o desenvolvimento a partir do aspecto
afetivoemocional, isto é, do desenvolvimento da sexualidade. Jean Piaget enfatiza o
desenvolvimento intelectual.
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A teoria do desenvolvimento humano de Jean Piaget

Este autor divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o


aparecimento de novas qualidades do pensamento, o que, por sua vez, interfere no
desenvolvimento global.

✓ 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)


✓ 2° período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
✓ 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
✓ 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo
consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas
fases ou períodos, nessa seqüência, porém o início e o término de cada uma delas
dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais,
sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma
rígida.

Período sensório-motor (o recém-nascido e o lactente — 0 a 2 anos)

Neste período, a criança conquista, através da percepção e dos movimentos,


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todo o universo que a cerca.

Período pré-operatório (a 1ª infância — 2 a 7 anos)

Neste período, o que de mais importante acontece é o aparecimento da linguagem,


que irá acarretar modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da criança.

Período das operações concretas (a infância propriamente dita — 7a 11 ou 12 anos)

O desenvolvimento mental, caracterizado no período anterior pelo egocentrismo


intelectual e social, é superado neste período pelo início da construção lógica, isto
é, a capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de
pontos de vista diferentes.

Período das operações formais (a adolescência — 11 ou 12 anos em diante)

Neste período, ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento


formal, abstrato, isto é, o adolescente realiza as operações no plano das ideias, sem
necessitar de manipulação ou referências concretas, como no período anterior. É
capaz de lidar cora conceitos como liberdade, justiça etc.

Se compararmos os maiores teóricos do desenvolvimento humano, podemos dizer,


correndo algum risco de sermos simplistas, que Piaget apresenta uma tendência
hiperconstrutivista em sua teoria, com ênfase no papel estruturante do sujeito.
Maturação, experiências físicas, transmissões sociais e culturais e equilibração são
fatores desenvolvidos na teoria de Piaget.
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Psicologia do desenvolvimento

Afetividade
São nossos afetos que dão à especial conduta de cada um e as nossas vidas. Eles se
expressam nos desejos, sonhos, fantasias, expectativas, nas palavras, nos gestos, no
que fazemos e pensamos. É o que nos faz viver.

Por que os profissionais precisam falar da vida afetiva?

O estudo da razão tem sido privilegiado no interesse dos homens, principalmente


na ciência, pois os afetos têm sido vistos como deformadores do conhecimento
objetivo.

A vida afetiva, ou os afetos, abarca muitos estados pertencentes à gama prazer-


desprazer, como, por exemplo, a angústia em seus diferentes aspectos — a dor, o
luto, a gratidão, a despersonalização — os afetos que sustentam o temor do
aniquilamento e a afânise.

Ao procurarmos compreender a vida afetiva, é importante adotarmos a


terminologia adequada por tratar-se de uma área de estudo repleta de nuances.
Portanto, se até o século 19 usavam-se, indiscriminadamente, termos como emoção
e sentimento, hoje, no estudo da vida afetiva, já fazemos uma distinção mais precisa
entre esses termos:

• a emoção: estado agudo e transitório. Exemplo: a ira.

• o sentimento: estado mais atenuado e durável. Exemplo: a gratidão, a lealdade.

Os afetos
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Os afetos podem ser produzidos fora do indivíduo, isto é, a partir de um estímulo


externo — do meio físico ou social — ao qual se atribui um significado com
tonalidade afetiva: agradável ou desagradável, por exemplo. A origem dos afetos
pode também nascer, surgir do interior do indivíduo. Os afetos ajudam-nos a avaliar
as situações, servem de critério de valoração positiva ou negativa para as situações
de nossa vida; eles preparam nossas ações, ou seja, participam ativamente da
percepção que temos das situações vividas e do planejamento de nossas reações ao
meio. Essa função é caracterizada como função adaptativa.

As emoções

As emoções são expressões afetivas acompanhadas de reações intensas e breves do


organismo, em resposta a um acontecimento inesperado ou, às vezes, a um
acontecimento muito aguardado.

Durante muito tempo, acreditou-se no coração como o lugar da emoção, talvez pelo
fato de, ao manifestar-se, vir freqüentemente acompanhada de fortes batimentos
cardíacos. Por isso, até hoje desenhamos corações para dizer que estamos
apaixonados.

Assim, passamos a associar reações do organismo às emoções, as quais podemos


distinguir. Por exemplo, distinguimos o choro de tristeza do choro de alegria; o riso
de alegria do riso de nervoso.

As emoções são muitas: surpresa, raiva, nojo, medo, vergonha, tristeza, desprezo,
alegria, paixão, atração física — ora são mais difusas, ora mais conscientes; às vezes
encobertas, às vezes não. As emoções, estão ligadas diretamente à vida afetiva, aos
afetos básicos de amor e ódio, entre outros.

Os sentimentos

Os afetos básicos (amor e ódio), além de manifestarem-se como emoções, podem


expressar-se como sentimentos.
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Os sentimentos diferem das emoções por serem mais duradouros, menos


“explosivos” e por não virem acompanhados de reações orgânicas intensas.

O importante é compreender que a vida afetiva — emoções e sentimentos —


compõe o homem e constitui um aspecto de fundamental importância na vida
psíquica. As emoções e os sentimentos são como alimentos de nosso psiquismo e
estão presentes em todas as manifestações de nossa vida.

Identidade

Para compreender esse processo de produção do sujeito, que lhe permite


apresentar-se ao mundo e reconhecer-se como alguém único, a Psicologia construiu
o conceito de identidade.

Este conceito, tem várias compreensões e utiliza contribuições de outras áreas do


conhecimento.

Segundo o psicanalista André Green, o conceito de identidade agrupa várias idéias,


como a noção de permanência, de manutenção de pontos de referência que não
mudam com o passar do tempo, como o nome de uma pessoa, suas relações de
parentesco, sua nacionalidade. São aspectos que, geralmente, as pessoas carregam
a vida toda. Assim, o termo identidade aplica-se à delimitação que permite a
distinção de uma unidade.

É importante destacar que a identidade é um processo de construção permanente,


em contínua transformação — desde antes de nascer até a morte, e neste processo
de mudança, o novo — quem sou, agora — mistura-se com o velho — quem fui
ontem, quando era adolescente, criança! E isto que dá o fio da história de cada um.

Identidade e crise

há situações em que esse processo de mudança contínuo ocorre de modo intenso,


confuso e, muitas vezes, angustiante e doloroso. Falamos, então, em crise de
identidade.
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São momentos, períodos importantíssimos da vida de uma pessoa em que ela


procura, com maior ou menor grau de consciência dessa crise, redefinir ou ratificar
seu modo de ser e estar no mundo. Sua identidade: para si e para os outros.

Um caso exemplar de crise de identidade, em função inclusive de seu caráter


inexorável, e que pode ser vivida com mais ou menos sofrimento, é a adolescência.
Este período de vida marca a passagem da infância para a juventude quando,
independentemente da vontade do indivíduo, grandes mudanças ocorrem em todos
os níveis: o corpo transforma-se, o funcionamento bioquímico altera-se, a
capacidade intelectual realiza-se com maior flexibilidade

Portanto dentro do desenvolvimento humano, existem as descobertas, as relações


de afetividades em seus inúmeros sentimentos e dentro desses sentimentos
permeia a identificação de cada um, mediante a mudanças e aprendizados que são
gradativos e minuciosos de cada indivíduo, devendo assim respeitar cada processo.
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Temperamento, caráter e personalidade

Temperamento, caráter e personalidade são palavras utilizadas desde a antiguidade


com muita frequência, porém, seus significados quase são confusos e complexos
e/ou utilizados de forma errônea.

Há cerca de 2500 anos, Hipócrates, considerado o pai da Medicina, classificou o


temperamento da espécie humana em quatro tipos básicos:

✓ Sanguíneo: típico de pessoas de humor variado;


✓ Melancólico: característico de pessoas tristes e sonhadoras;
✓ Colérico: peculiar de pessoas cujo humor se caracteriza por um desejo forte e
sentimentos impulsivos, com predominância da bile;
✓ Fleumático: encontrado em pessoas lentas e apáticas, de sangue frio.

A palavra temperamento tem sua origem do latim (temperamentum = medida).


Representa a peculiaridade e intensidade individual dos afetos psíquicos e da
estrutura dominante de humor e motivação.

São vários os sistemas básicos que tentam explicar a essência do temperamento,


porém, dois deles se destacam mais. O primeiro, chamado de sistema humoral, têm
um interesse histórico e liga o estado do organismo com a proporção dos líquidos e
humores que circulam pelo organismo. Daí surgiu a classificação dos
temperamentos sangüíneo, colérico, fleumático e melancólico.
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O segundo sistema, denominado constitucional, se sustenta nas diferentes


compleições do organismo e em sua estrutura física. Essa tipologia representa uma
abordagem ao estudo da relação entre as características físicas e as psicológicas.

Atualmente, o que mais se aceita a respeito do temperamento é que certas


características são decorrentes de processos fisiológicos do sistema linfático, bem
como a ação endócrina de certos hormônios. Assim, pode-se explicar a genética e a
interferência do meio sobre o temperamento de cada pessoa. Então, podemos
definir temperamento como sendo uma disposição inata e particular de cada
pessoa, pronta a reagir aos estímulos ambientais; é a maneira interna de ser e agir
de uma pessoa, geneticamente determinado; é o aspecto somático da
personalidade.

Personalidade: A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento


psicoafetivo pelas quais passa a criança desde a gestação. Para a sua formação
incluem tanto os elementos geneticamente herdados (temperamento) como
também os adquiridos do meio ambiente no qual a criança está inserida.

São várias as teorias que versam sobre personalidade tanto quanto as controvérsias,
temas de discussões presentes em toda história da filosofia, psicologia, sociologia,
antropologia e medicina geral, que vão sendo internalizados em seu psiquismo para
formar a personalidade. Uma das escolas de grande destaque no estudo da
personalidade, foi a psicanálise de S. Freud, que sustenta que os processos do
inconsciente dirigem grande parte do comportamento das pessoas.

Podemos dizer que a personalidade é formada por dois fatores básicos:

Hereditários: são os fatores que estão determinados desde a concepção do bebê. É


a estatura, cor dos olhos, da pele, temperamento, reflexos musculares e vários
outros. É aquilo que o bebê recebe de herança genética de seus pais.
28

Ambientais: São aqueles que também exercem uma grande influência porque dizem
respeito à cultura, hábitos familiares, grupos sociais, escola, responsabilidade, moral
e ética, etc. São experiências vividas pela criança que irão lhe dar suporte e
contribuir para a formação de sua personalidade.

Cinco características que diferenciam o temperamento da personalidade:

✓ O temperamento é biologicamente determinado e a personalidade é um


produto do ambiente social.

✓ Características temperamentais podem ser identificadas já cedo, na infância,


ao passo que a personalidade é moldada durante os períodos do
desenvolvimento infantil.

✓ Diferenças individuais com características temperamentais como ansiedade,


extroversão-introversão, também são observados em animais, ao passo que
personalidade é a prerrogativa de seres humanos.

✓ O temperamento apresenta aspectos estilísticos. A personalidade contém


aspectos do comportamento.

✓ Ao contrário do temperamento, a personalidade se refere à função de


integrativa do comportamento humano.

Assim, em linhas gerais podemos definir personalidade como sendo o conjunto de


elementos temperamentais que foram herdados durante a gestação e de elementos
adquiridos do meio durante as etapas do desenvolvimento, que formam o mundo
interno psíquico de uma pessoa.

Caráter

Conceito de caráter emergiu do campo da filosofia e tornou-se objeto de


investigação científica. O termo caráter é originário do grego “charakter” e refere-
se a sinal, marca, ao instrumento que grava. Aplicado esse termo à personalidade,
29

denota aqueles aspectos que foram gravados, inscritos no psiquismo e no corpo de


cada indivíduo durante o seu desenvolvimento

O caráter é o conjunto de reações e hábitos de comportamento que vão sendo


adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo individual de cada pessoa.
Portanto, o caráter é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu
padrão consistente de respostas para várias situações.

Incluem aqui as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez,


agressividade e assim por diante) e as atitudes físicas (postura, hábitos de
manutenção e movimentação do corpo). Em outras palavras, o caráter é a forma
com que a pessoa se mostra ao mundo, com seu temperamento e sua
personalidade; é a expressão do temperamento e da personalidade por meio das
atitudes de uma pessoa.

É por meio do caráter que a personalidade e o temperamento do indivíduo se


manifestam. Portanto, conhecer o caráter de uma pessoa significa conhecer os
traços essenciais que determinam o conjunto de seus atos. A formação e o tipo de
caráter de uma pessoa serão determinados por vários fatores. O primeiro desses
fatores, diz respeito ao momento em que ocorre a frustração, ou seja, a etapa em
que a criança estiver atravessando em seu desenvolvimento.
30

Assistência e humanização

A Enfermagem é essencialmente cuidado ao outro ser humano, no entanto, a


sobrecarga imposta pelo cotidiano do trabalho, transforma a assistência em uma
forma mecanizada e tecnicista e não-reflexiva. Este comportamento também afeta
as relações de trabalho da enfermagem influenciando negativamente no
atendimento com qualidade.

Humanizar significa tornar humano. Em sentido estrito, mas situado no contexto


presente, significa tratar os usuários e familiares como gente, respeitá-los como
sujeitos de uma dignidade especial e senti-los como pessoas potencialmente iguais
a nós próprios, ou seja, simplesmente respeitar a pessoalidade e a dignidade
inerentes aos seres humanos.

Hoje, mais que nunca, o humanismo está orientado para o respeito aos direitos
humanos e sua efetivação para todas as pessoas, sem exclusão de qualquer uma.

• É necessário o investimento em ambiência, para oferecer um acolhimento


tanto para o usuário como para o funcionário, traduzindo em mudanças
pensando na melhoria do ambiente e na qualidade de vida dos servidores e
usuários;

• Implantação nas instituições de mudanças que propiciem um ambiente mais


favorável para o funcionário como também para os usuários;

• Criação de um ambiente humanizado aos cidadãos e servidores das unidades


de saúde;
31

• Oferecimento de conforto ao cidadão e um atendimento humanizado e com


qualidade;

• Melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde;

• Favorecer uma maior interação e aproximação dos profissionais de saúde com


a comunidade contribuindo para a cura de doenças enquanto oferece ao
cidadão educação para prevenção de doenças.

Acolhimento

O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma


atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e
assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas mais
adequadas aos usuários.

Características do Acolhimento:

• Proporcionar maior Resolubilidade;

• Verificar a real necessidade do paciente;

• Identificar Riscos;

• Humanizar a Assistência;

• Abordagem Integral;

Importância Para Enfermagem

• Participação do Enfermeiro em todas as etapas da assistência;

• Maior conhecimento da situação real do paciente;

• Melhor Aplicabilidade da SAE;

• Maior atuação e valorização do enfermeiro na equipe Multidisciplinar;

• Desmistificação do papel de “Enfermeiro Burocrata” ;


32

• Maior respeito e credibilidade do paciente com o enfermeiro.


33

Relação da psicologia com a enfermagem

Há duas correntes na área da saúde que se deve conhecer para responder esta
questão: a primeira que trata o doente como um paciente passivo e vê a doença
como um fator único que pode ser retirada com medicamentos e procedimentos e
a segunda corrente que percebe que além de apresentar sintomas da doença, o
paciente possui problemas sociais, econômicos, pessoais, psicológicos que se
influenciam e que contribui para o surgimento de novas doenças.

Humanização
A Humanização e o Cuidado de Enfermagem

A enfermagem é uma ciência, cujo a essência e especificidade é o cuidar do ser


humano, individualmente, na família ou na comunidade de modo integral e holístico.
A humanização nos cuidados de enfermagem, expandem-se pela ética, pela relação
enfermeiro-paciente e o respeito ao direito dos doentes.

Os cuidados de enfermagem são baseados em uma visão holística do ser humano,


baseando a relação com o outro através do toque, comunicação e cuidado físico.
Esses aspectos são fundamentais para relação enfermeiro –paciente pois com esses
pequenos gestos é possível criar uma relação muito próxima e de confiança.

A Enfermagem Como Agente De Humanização


34

Para que o profissional de saúde seja um agente de humanização é necessário


possuir uma identidade pessoal dinâmica e se manter em constante atualização, que
apresentem valores e crenças, mas que sejam capazes de se adaptarem a diversas
situações que possam surgir, desenvolvendo assim suas capacidades intelectuais, o
relacionamento interpessoal com a pessoa doente e respeitando seu quadro de
valores e crenças individuais.

Desenvolvimento pessoal

Habilidade pessoal

É a habilidade de se relacionar consigo mesmo. Reconhecer um sentimento


enquanto ele ocorre é a chave da inteligência emocional. A falta de habilidade de
reconhecer nossos verdadeiros sentimentos deixa-nos a mercê de nossas próprias
emoções (resultado de como vemos e julgamos determinados fatos). Cada emoção
prepara o corpo para um determinado tipo de resposta.

O autoconhecimento emocional é saber reconhecer um sentimento enquanto ele


ocorre, conseguindo assim maior controle de nossas emoções (seremos melhores
pilotos de nossas vidas).

Dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando


sempre em busca, para manter-se sempre no controle e para manter a mente
criativa na busca de soluções. As pessoas bem-sucedidas pessoal e
profissionalmente agem usando as emoções de forma inteligente, elas conseguem
aliar inteligência emocional a inteligência racional. Sabem colocar em pratica os
conhecimentos que adquirem e se relacionam bem com todos.

Habilidade interpessoal

Reconhecimento de emoções em outras pessoas. A empatia permite que


reconheçamos as necessidades e desejos dos outros, permitindo-lhe
relacionamentos mais eficazes. A arte de relacionamento é a arte de gerenciar
35

sentimentos em outros. Esta habilidade é base de sustentação de popularidade,


liderança e eficiência pessoal.

O homem vale-se de comunicação em todas as experiências de vida, de modo


interpessoal ou dual, em pequenos ou grandes grupos, até quando não está em uma
dessas situações, se refletir um pouco percebera que se encontra sob o impacto ou
influência da comunicação.

É por meio da comunicação que o indivíduo compartilha valores, crenças, ideias e


sentimentos com demais pessoas de forma individual ou em grupo; a maneira como
essas pessoas reagem à comunicação pode gerar satisfação ou insatisfação, ou seja,
determinar o sucesso de suas tentativas de ajustamento ao meio em que vive.

Assim, acreditamos que em todos os momentos de encontro entre dois ou mais


seres há um momento de interação e percepção.

Nesse aspecto, o enfermeiro não pode fugir da comunicação, pois ele já comunica
algo com sua presença. O enfermeiro precisa saber que é um elemento nuclear da
equipe de saúde, na qual o paciente se apoia na busca de informação, suporte
emocional, satisfação de suas necessidades básicas, tais como: segurança, higiene,
conforto, etc.
36

Comunicação

A comunicação tem um papel importante no mundo de hoje em que as pessoas e as


empresas precisam ser eficientes em seus desempenhos e nos resultados que
geram. A boa comunicação é essencial para a eficácia de grupos e organizações.
Nenhum grupo pode existir sem a comunicação, pois é pela transferência de
significados entre seus membros que as ideias e informações são disseminadas e
compartilhadas. Entretanto, a comunicação abrange a transferência, mas também a
compreensão do significado. Não basta falar, é preciso que o outro compreenda o
que foi dito.

Estudos têm demonstrado que a comunicação deficiente é, provavelmente, a causa


mais percebida como geradora de conflitos interpessoais. Comunicar-se bem não é
apenas transmitir com êxito a informação, e sim saber se ela foi compreendida pelo
receptor.

A comunicação é fundamental em todas as circunstâncias da nossa vida, utilizada


para expressar nossos sentimentos, objetivos, necessidades, emoções etc. Na
relação entre o enfermeiro/equipe ou enfermeiro/paciente não é diferente.

Os sete elementos da comunicação

1. Emissor

2. Codificação

3. Mensagem
37

4. Canal

5. Decodificação

6. Receptor

7. Feedback

1. Emissor é quem inicia o processo de comunicação, transmitindo uma


informação, demanda ou necessidade. Sua responsabilidade é escolher o tipo
de mensagem e o canal mais eficiente.

2. A Codificação é a transformação da informação em uma série de símbolos e


representações, que possam ser entendidas pelo receptor.

3. Receptor é o indivíduo que recebe por meio dos seus sentidos, a mensagem
do emissor.

4. A Decodificação é a interpretação e tradução de uma mensagem para que a


informação faça sentido. Um dos principais requisitos que o receptor deve ter
é a capacidade de escutar.

5. Mensagem é a informação codificada que o emissor envia ao receptor.

6. Canal é a via de comunicação entre o emissor e o receptor.

7. Retroalimentação ou Feedback é a resposta do receptor à mensagem do


emissor. A resposta do receptor permite verificar se a mensagem foi recebida
e compreendida.

Tipos de comunicação

Comunicação verbal

É o tipo de comunicação em que a mensagem é transmitida por meio da fala ou da


escrita. Constitui a forma mais usada para nos comunicar e relacionar. A
38

comunicação verbal abrange a escrita e a oralidade, que ocorrem na forma ativa e


passiva. A forma ativa é quando você é o emissor da mensagem, falando ou
escrevendo. Na forma passiva você é o receptor, seja ouvindo a fala de alguém ou
lendo uma mensagem.

Comunicação não verbal

A comunicação não verbal é o tipo de comunicação que ocorre por meio de códigos,
gestos, sinais, expressões faciais e corporais e de imagens. A linguagem do corpo é,
sem dúvida, uma parte importante da comunicação, complementando a linguagem
falada.

A organização de todo o grupo de trabalho envolve também o estabelecimento de


canais de comunicação entre seus membros.

Um grupo de profissionais integrado, no qual todos se sintam igualmente


importantes, produzindo e recebendo informação, fazendo parte da rede de
comunicação, traz maior satisfação e em consequência, melhor participação no
cotidiano de trabalho.
39

Equipes e conflitos interpessoais

O trabalho de equipe

Uma equipe de trabalho constitui-se de vários profissionais, cada um com o seu


saber específico, que muitas vezes atendem individualmente sem a necessidade de
obter informações de outros profissionais e em outras situações há profissionais que
trabalham em conjunto para a melhor solução de um problema.

Na área da saúde é de comprovada importância a utilização dessa segunda equipe


para melhor entender o paciente, sua doença e a forma mais eficientes de
tratamento (equipe multiprofissional).

O que constitui a essência de uma equipe?

Qual a diferença de uma equipe para um grupo?

Em tempos de alta competitividade, como trabalhar o espírito de equipe? O que


motivaria os indivíduos para o processo de colaboração?

Como trabalhar o conjunto no contexto da globalização e da diversidade?

A diversidade atrai ou afasta?

Estas questões assombram líderes que entendem a importância de uma equipe


estruturada para um trabalho de destaque, para um verdadeiro diferencial
competitivo.

Conceitos aplicados à equipe:


40

“Conjunto ou grupo de pessoas que se aplicam a uma tarefa ou trabalho.”


(Dicionário Aurélio).

Equipe é um pequeno número de pessoas com habilidades complementares,


comprometidas com um propósito comum, com metas específicas de desempenho,
com um mesmo método de trabalho e responsabilidade mútua.

Diferenças entre grupo e equipe:

Grupo – qualquer agrupamento de pessoas em um determinado lugar pode ser


chamado grupo de pessoas, mas não pode ser chamado de uma equipe. Por
exemplo, as pessoas que aguardam atendimento na sala de espera de um hospital.
Esse grupo possui uma característica de equipe – têm um propósito comum – serem
atendidos, mas não reúne todas as condições para a formação de uma equipe.

Equipe – seus membros se sentem mutuamente responsáveis pelo desempenho da


equipe. As pessoas se sentem interdependentes, isto é, elas têm consciência de que
todos seus membros são igualmente importantes e que atingirão o fracasso ou
sucesso juntos. Exemplo, a equipe escalada para realizar uma cirurgia.
41

Tipos de equipe

Equipes multidisciplinares:

O trabalho da equipe multidisciplinar visa avaliar o paciente de maneira


independente e executando seus planos de tratamento como uma “camada
adicional” de serviços. Logo, não há um trabalho coordenado por parte dessa equipe
e uma identidade grupal. O médico, em geral, é responsável pela decisão do
tratamento, e os outros profissionais vão se adequar a demanda do paciente e as
decisões do médico referente a este;

Equipes Interdisciplinares:

A abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistência à saúde. Isso porque o
principal aspecto positivo da atuação em equipe interdisciplinar é a possibilidade de
colaboração de várias especialidades que denotam conhecimentos e qualificações
distintas. Assim, a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o
atendimento e o cuidado alcancem a amplitude do ser humano, transcendendo a
noção de conceito de saúde.

Equipes Transdisciplinares:

A transdisciplinaridade acena uma mudança. Ela tenta suprir uma anomalia do


sistema anterior, não destrói o antigo, apenas é mais aberta, mais ampla. A
necessidade da transdisciplinaridade decorre do desenvolvimento dos
conhecimentos, da cultura e da complexidade humana. Essa nova complexidade
42

exige tecer os laços entre a genética, o biológico, o psicológico, a sociedade, com a


parte espiritual ou o sagrado devendo também ser reconhecidos. É uma
epistemologia, uma metodologia proveniente do caminho científico
contemporâneo, adaptado, portanto, aos movimentos societários atuais.

A transdisciplinaridade se preocupa com uma interação entre as disciplinas,


promove um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos,
visa cooperação entre as diferentes áreas, contato entre essas disciplinas.
43

Formação de equipes

Para entendermos a formação de uma equipe, é preciso lembrar que, assim como
existem as necessidades do indivíduo existem as necessidades da equipe.

O estudioso Schutz ensina-nos que existem três necessidade interpessoais básicas


na formação de uma equipe.

São as seguintes: Inclusão, controle ou confronto, e afeição.

Inclusão – Cada membro procura seu lugar, com tentativas para encontrar e
estabelecer os limites de sua participação no grupo.

Controle ou confronto – Encontrado o seu lugar, cada membro passa a interessar-se


pelos procedimentos que levam às decisões, ou seja, pela distribuição do poder no
grupo e pelo controle das atividades.

Afeição – Resolvidos os problemas de controle, os membros começam a expressar e


buscar integração emocional.

Administração de conflitos
A principal diferença ente os dois conceitos é a possibilidade de administração de
um (conflito) e a impossibilidade de administração do outro (confronto). Na
administração de conflitos a comunicação tem papel fundamental. É preciso que
44

todos nós estejamos atentos para o diálogo, ferramenta preciosa para a


administração de conflitos.

Todos somos capazes de resolver os conflitos, basta utilizarmos ferramentas


corretas e não atacar as pessoas envolvidas. O diálogo e a divisão do problema são
peças-chave para conviver em harmonia.

Se todos nos profissionais conseguíssemos superar suas limitações, teríamos um


cotidiano criativo e interessante, contribuindo assim para vencer as grandes
dificuldades que a área da saúde enfrenta hoje no Brasil.

Podemos dizer que trabalho em equipe é um conjunto de pessoas com habilidade


complementares, comprometidas umas com as outras pela missão em comum e
com um plano de trabalho bem definido. Reconhece-se a diversidade de
conhecimentos e a importância de cada um, já que o paciente é visto como um todo.
45

Psicologia das relações

Relacionar-se é uma experiência caracterizada por um diálogo significativo entre


seres humanos, quando ambos os envolvidos trocam e modificam seu
comportamento. Como resultado, as pessoas ampliam sua capacidade para
enfrentar a realidade e descobrir soluções práticas para seus problemas.

A Psicologia é o estudo dos fenômenos psíquicos e do comportamento do ser


humano por intermédio de análise de suas emoções, suas ideias e seus valores. É
necessário aplicar a psicologia na área da enfermagem para que os futuros
profissionais possam aprender e compreender um novo olhar ao estabelecer seu
relacionamento com o paciente e também seus familiares, e não deixar essas
práticas somente com o profissional da área de assistência social.

No que tange a relação entre Psicologia e Enfermagem, a Psicologia desempenha


um papel importante na formação da área da saúde, marcada pelo desenvolvimento
de uma profissionalização centrada na modernização, cientifização e teorização das
práticas profissionais, com o objetivo sobre tudo de formar um novo perfil de
enfermeiros e interferir no processo de organização e consolidação da disciplina no
campo da enfermagem.

O cuidado recebido pelo usuário do sistema de atenção à saúde é geralmente visto


como resultado de diversos pequenos gestos de atenção parciais que se completam
de forma explícita ou implícita a partir da interação entre os vários cuidadores.
46

Por isso, para compreender as relações que permeiam o cuidado de enfermagem,


entre os profissionais e indivíduos sob sua assistência, é necessário observar o
cenário em que essa relação é estabelecida.

No ambiente hospitalar, seja público ou privado, a atenção envolve o trabalho de


vários profissionais. A equipe de enfermagem se destaca por ser composta por
profissionais que mantêm contato direto e constante com o paciente durante toda
a internação, considerando-se o grau de dependência do enfermo. Portanto,
compreende-se que esta equipe está mais propensa a estabelecer relações de poder
durante a atenção à pessoa sob seus cuidados

Historicamente por longos períodos, a assistência de enfermagem foi realizada de


forma empírica, intuitiva e limitada, baseada em receber e cumprir ordens médicas,
administrar medicação e realizar a higiene dos pacientes, obrigando-o a se adequar
ao cuidado previamente estabelecido. Com o passar do tempo e com a evolução
científica e tecnológica, ocorreu a necessidade de melhoria na prestação desses
cuidados de enfermagem.

A enfermagem é entendida como um processo interpessoal que acontece entre dois


seres humanos, no qual um deles precisa de ajuda e o outro fornece ajuda. Essa
relação tem como objetivo levar a pessoa, a família e a comunidade a encontrarem
um significado para esta experiência e sentido para suas vidas.

Nesta perspectiva, a prática de enfermagem, exige que os profissionais estejam mais


preparados, não só em termos técnicos e teóricos, mas também humanísticos.

Com esse entendimento, atualmente a equipe de enfermagem, no exercício do


cuidado, deve, como objetivo principal, reconhecer e definir a assistência de
enfermagem mais adequada ao paciente em diferentes níveis de assistência.

Como profissionais da área de saúde, preocupados com o ser humano, ao prestar o


cuidado ao paciente, devemos desenvolver meios, instrumentos, técnicas,
47

habilidades, capacidade e competência para oferecer oportunidade de uma


existência mais digna, mais compreensiva e menos solitária.

Tipos de equipe

Entretanto, a atuação profissional, algumas vezes, ainda se mostra autoritária e


cenhosa, preocupada em seguir normas e rotinas, e com aspectos formais, objetivos,
embora se saiba que a intimidade ou familiaridade do cuidar requer mais
flexibilidade e interação com o paciente, na busca do conhecer quais são as suas
reais necessidades, para planejar a assistência de enfermagem.

A relação enfermeiro-paciente é a essência do propósito da enfermagem, com o


objetivo de ajudar o indivíduo e a família.

A interação enfermeiro-paciente é singular, um encontro único e original que


representa o começo ou ponto de partida das interações subsequentes.

O cuidado é composto de quatro conceitos fundamentais:

1. Respeito e dignidade: Ouvir ativamente o paciente e os membros da família, bem


como fazer uso do conhecimento sobre os valores, crenças e questões culturais para
melhorar a prestação de cuidados e os planos correspondentes.

2. Partilha de informação: a comunicação, no tempo adequado, de informações


completas e imparciais para pacientes e familiares, que lhes permita desempenhar
um papel ativo nos cuidados e tomada de decisão.

3. Participação: Incentivo e apoio para os pacientes e famílias no cuidado e no


processo de tomada de decisão no nível em que os mesmos se sintam confortáveis
com isso.

4. Colaboração: Em toda a instituição, os pacientes e as famílias devem


ser convidados a trabalhar ao lado de líderes de cuidados de saúde para participar
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em tudo, desde o desenvolvimento até a implementação de programas para a


prestação de cuidados.

Podemos concluir, que o relacionamento terapêutico enfermagem-paciente é


constituído de uma série de interações entre o profissional e o paciente, planejadas,
com objetivos definidos, para ser útil a cada paciente em suas particularidades.

Ao desenvolver um processo de relacionamento terapêutico com o paciente o


profissional enfermeiro vivencia o aprendido teórico e desenvolve-se como
profissional e como pessoa rumo a maturidade.
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Psicossomática

O termo psicossomático surgiu a partir do século passado, depois de séculos de


estruturação, quando Heinroth criou as expressões psicossomática (1918) e
somatopsíquica (1928) distinguindo os dois tipos de influências e as duas diferentes
direções.
Psicossomática, em síntese, é uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as
práticas de Saúde, é um campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo,
uma prática – a prática de uma Medicina integral.
Funções como a de Enfermagem, Assistência Social, Nutrição e Psicologia,
comprometidas com o cuidado geral e a dimensão social da patologia, além da
condição existencial do doente, abrem perspectivas conectadas com a
Psicossomática e a ela recorrem para buscar apoio teórico.
O termo “psicossomática” foi utilizado pela primeira vez em 1818 por Heinroth, um
psiquiatra alemão, em seus estudos sobre insônia e as influências das paixões na
tuberculose, destacando a possibilidade de uma influência dos fatores psicológicos
na patologia. A compreensão da relação mente-corpo, até então, era baseada numa
visão dualista, tanto em relação ao princípio como em relação à função desses dois
aspectos.
O funcionamento de ambos era considerado quase que independente um do outro
e a interação ocorreria numa via dupla de forma psicossomática ou somato-psíquica.
A compreensão da interação mente e corpo ganha novas perspectivas a partir da
50

Psicanálise, quando ambas as dimensões são pensadas de forma conjunta e


dinâmica, possibilitando a criação de um campo de saber denominado
Psicossomática.
Nos Estados Unidos o interesse pela psicossomática surge por volta dos anos 30,
consolidando-se em meados deste século com Alexander e Dunbar da Escola de
Chicago. Esses dois autores dirigiam seus trabalhos no sentido de buscar estabelecer
relações entre conflitos emocionais específicos e estruturas da personalidade com
alguns tipos de doenças somáticas, como úlceras, enxaquecas, alergias, asma e
distúrbios digestivos. Eles consideram que os transtornos psicossomáticos seriam
consequência de estados de tensão crônica, relativa à expressão inadequada de
determinadas vivências, que seriam derivadas para o corpo.

Winnicott apresenta uma relação estreita entre a emergência da angústia no bebê


e a tendência deste em se dirigir a uma unidade psicossomática. Essa distinção se
deve à condição inicial do bebê, que, antes de haver conquistado a capacidade de
recalcar, organizar um ego e estabelecer relações objetais, sentiria as falhas em seu
ambiente como uma ameaça de aniquilação completa que é sentida no corpo.
Portanto, para possibilitar uma experiência de “continuidade de ser” para o bebê,
faz-se necessária uma mãe-ambiente suficientemente boa, ou seja, um contexto
ambiental que possibilite que as vivências de aniquilamento sejam as mais diminutas
possíveis.

Doenças mais comuns:


Cada pessoa pode manifestar fisicamente as suas tensões emocionais em diferentes
órgãos, podendo simular ou piorar muitas doenças.
Estômago: dor e queimação no estômago, sensação de enjoo, piora de gastrites e
úlceras gástricas;
Intestino: diarréia, prisão de ventre;
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Garganta: sensação de nó na garganta, irritações mais fáceis constantes na garganta


e amígdalas;
Pulmões: sensações de falta de ar e sufocamento, podendo simular doenças
pulmonares ou cardíacas;
Músculos e articulações: tensão, contraturas e dores musculares;
Coração e circulação: sensação de dores no peito, que pode, até, ser confundido com
infarto, além de palpitações, surgimento ou piora da pressão alta;
Rins e bexiga: sensação de dor ou dificuldade para urinar, que pode imitar doenças
urológicas;
Pele: coceira, ardência ou formigamentos;
Região íntima: piora da impotência e diminuição do desejo sexual, dificuldade para
engravidar e alterações do ciclo menstrual;
Sistema nervoso: crises de dor de cabeça, enxaqueca, alterações da visão, do
equilíbrio, da sensibilidade (dormências, formigamentos) e da motricidade, podendo
simular doenças neurológicas.

O que causa a doença?


Existem diversas situações que facilitam o desenvolvimento da somatização, como
depressão, ansiedade e estresse. As pessoas mais afetas são as que sofrem situações
como: desgaste profissional, carga horária de trabalho exagerada, principalmente
pessoas que trabalham com o público como professores, vendedores e profissionais
de saúde, policiais líderes religiosos, estudantes e desempregados também podem
sofrer com estas complicações.
Trauma na infância ou após acontecimentos marcantes, além de conflitos de família
são algumas situações que podem deixar a pessoa com medo e desmotivada para
seguir em frente. Situações de violência psicológica e de desmotivação como
acontecem nos casos de violência doméstica e bullying; violência em geral.
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Tratamento
O diagnóstico de uma doença psicossomática deve ser feito por um psiquiatra, mas
um clínico geral ou outro especialista podem apontar esta possibilidade, porque
excluem a presença de outras doenças através do exame físico e de laboratório. As
presenças dos principais sintomas ajudam a identificar o problema, coração
acelerado, tremores, boca seca, sensação de falta de ar e de nó na garganta, e
podem ser mais ou menos intensos de acordo com piora ou melhora do estado
emocional de cada pessoa.
Pessoas acometidas por perturbações ou distúrbios somáticos, algumas vezes, não
apresentam uma causalidade registrada em exames laboratoriais ou de
neuroimagem, fato este que sugere que a pessoa não estaria afetada na dimensão
puramente biológica, mas também numa dimensão psicológica, o que aponta para
a interação entre a dimensão psíquica e o aparelho somático.

O termo “psicossomática” foi utilizado pela primeira vez em 1818 por Heinroth, um
psiquiatra alemão, em seus estudos sobre insônia e as influências das paixões na
tuberculose, destacando a possibilidade de uma influência dos fatores psicológicos
nas patologias.

As doenças psicossomáticas surgem como consequência de processos psicológicos


e mentais do indivíduo desajustados das funções somáticas e viscerais e vice-versa.
Caracterizam-se as possibilidades de distúrbios de função e de lesão nos órgãos do
corpo, devido ao mau uso e ao efeito degenerativo, e descontroles dos processos
mentais. Diferenciam-se neste ponto das doenças mentais, em que o mau
desempenho não é opcional.

Distúrbios emocionais desempenham papel importante, precipitando início,


recorrência ou agravamento de sintomas, distinguindo das doenças puramente
orgânicas. Porém, elas podem se transformar em doenças crônicas ou ter com um
curso fásico.
53

Doenças como estresse, transtorno de sintomas somáticos e hipocondria, são


exemplos de doenças psicossomáticas.

Estresse

A palavra estresse quer dizer "pressão", "tensão" ou "insistência", portanto estar


estressado quer dizer "estar sob pressão" ou "estar sob a ação de estímulo
insistente".

Chama-se de estressor qualquer estímulo capaz de provocar o aparecimento de um


conjunto de respostas orgânicas, mentais, psicológicas e/ou comportamentais
relacionadas com mudanças fisiológicas de padrões estereotipados, que acabam
resultando em hiperfunção da glândula suprarenal e do sistema nervoso autônomo
simpático. Essas respostas têm como objetivo adaptar o indivíduo à nova situação,
gerada pelo estímulo estressor, e o conjunto delas, assumindo um tempo
considerável, é chamado de estresse. O estado de estresse está então relacionado
com a resposta de adaptação.

O estresse é essencialmente um grau de desgaste no corpo e da mente, que pode


atingir níveis degenerativos. Impressões de estar nervoso, agitado, neurastênico ou
debilitado podem ser percepções de aspectos subjetivos de estresse. Contudo,
estresse não implica necessariamente uma alteração mórbida: a vida normal
também acarreta desgaste na máquina do corpo. O estresse pode ter até valor
terapêutico, como é o caso no esporte e no trabalho, exercidos moderados. Assim,
uma partida de tênis ou um beijo apaixonado podem produzir considerável estresse
sem causar danos de monta.

O estresse pode ser físico, emocional ou misto. O estresse misto é o mais comum,
pois o estresse físico (associado a eventos como cirurgias, traumatismos,
hemorragias e lesões em geral) compromete também o emocional já que a dor induz
a estados emocionais bastante intensos. O estresse emocional resulta de
acontecimentos que afetam o indivíduo psiquicamente ou emocionalmente, sem
54

que haja relação primária com lesões orgânicas. O estresse misto se estabelece
quando uma lesão física é acompanhada de comprometimento psíquico (emocional)
ou vice-versa.

Transtorno de sintomas somáticos

Somatização são sintomas físicos sem uma base orgânica identificável, é um


problema comum nos serviços de atenção básica à saúde. Geralmente é um
diagnóstico de exclusão. Pacientes somatizadores frequentemente são de difícil
diagnóstico, podendo apresentar ou não comorbidades com outros transtornos
psiquiátricos.

Acredita-se que fatores psicológicos e psicossociais desempenham um papel


importante na etiologia dessa condição. Em pacientes com transtornos de
somatização, o sofrimento emocional ou as situações de vida difíceis são
experimentados como sintomas físicos.

A presença de somatizações não exclui o diagnóstico de outras doenças psiquiátricas


e pode ser uma pista para o diagnóstico. Depressão e ansiedade estão
frequentemente associadas com somatização. Pacientes com transtorno de
somatização comumente têm depressão coexistente, transtornos ansiosos, como
transtorno do pânico ou o transtorno obsessivo compulsivo, transtornos de
personalidade ou transtorno por abuso de substâncias psicoativas.

O transtorno de sintomas somáticos é uma categoria diagnóstica em substituição ao


conhecido transtorno de somatização.

Os indivíduos portadores do transtorno de sintomas somáticos em geral se queixam


de sintomas físicos múltiplos que provocam aflição e resultam em prejuízo
importante na vida diária.
55

É possível esse diagnóstico na presença de uma outra condição médica. Para tal, os
sintomas - pensamentos, sentimentos e comportamentos - associados a essa
condição deverão ser excessivos.

O transtorno é persistente e as manifestações estão presentes na maior parte dos


dias, durante vários meses.

Dentre as principais estratégias e condutas para a abordagem do paciente


somatizador, destacam-se: consultas breves, marcadas regularmente a cada quatro
a seis semanas, sempre com o mesmo médico (evitar consultas “conforme
necessário”). Realizar curto exame físico em cada consulta.

O tratamento pode ser considerado bem-sucedido se o paciente for mantido fora do


hospital e do pronto-socorro e se diminuir sua exposição a complicações
iatrogênicas.

Hipocondria

Conhecida como uma preocupação exagerada da pessoa com seu estado de saúde,
a hipocondria é conhecida desde o século 4 a.C. Os primeiros estudos sobre esse
transtorno foram realizados por Hipócrates, o pai da Medicina, que o associou à
melancolia. A maioria das pessoas que sofre de hipocondria apresenta tendência a
depressão e ansiedade.

A caracterização da hipocondria como uma doença foi feita por Galeno, nos sécs. I e
II d.C.. Para ele, doenças da alma eram “lesões da inteligência provocadas por uma
afecção primitiva do cérebro ou por simpatia de um outro órgão” [1]. O que, na
atualidade, se entende por doença mental era vista como uma disfunção orgânica
proveniente das paixões e do desequilíbrio dos humores.

O hipocondríaco acredita que possui pelo menos uma doença física grave,
progressiva e com sintomas determinados, ainda que exames laboratoriais e
consultas com vários médicos assegurem que nada exista.
56

A Hipocondria baseia-se no diagnóstico em que a ansiedade persistente e grave


(pode mesmo, em casos extremos, incapacitar a vida do paciente) sobre a presença
de uma doença médica não diagnosticada, é a caraterística principal e mais
frequentemente visível no indivíduo.

Atualmente, já foram estudados e confirmados alguns benefícios de certos


tratamentos, tanto farmacológicos como não farmacológicos, no tratamento da
Hipocondria a curto e a longo prazo.

Dentro dos tratamentos não farmacológicos, é importante entender a Terapia


Cognitivo Comportamental (TCC), e, dentro da mesma, realçar a Terapia Cognitiva
(TC) e a Terapia de Exposição (TE).

Outro ponto igualmente importante no tratamento da Hipocondria, baseia-se na


adoção de um estilo de vida saudável, uma vez comprovada a associação e as
vantagens, por exemplo, do exercício físico ou de uma boa higiene de sono, tanto a
nível físico como psicológico.

O mecanismo do adoecimento
Desde a Grécia antiga ao início século XX, a sociedade científica considerava que a
mente tivesse efeito sobre as doenças, e nas condutas, era comum aplicar esse
conceito ao tratar das enfermidades. Com o advento da antibioticoterapia,
descobriu-se que uma droga pode eliminar os patógenos do organismo. Ou seja, a
procura pela eliminação de doenças pela indústria farmacêutica passou a ser
prioridade e o fato de que o organismo pode oferecer meios para se proteger ou
então influenciar no desenvolvimento das doenças passou a ser ignorado.

O estresse psicológico pode afetar as respostas do sistema imunológico,


oportunizando a infecção por vírus e bactérias. A pessoa estando em desequilíbrio,
surgem doenças inflamatórias, autoimunes ou síndromes de imunodeficiência.
57

Simbologia dos sintomas

A ambivalência de saúde e doença estimula a sobrevivência, são impulsos básicos


que objetivam um equilíbrio. Paradoxalmente, lutamos incessantemente a caminho
do fim, a religião nos conforta nesse processo. Essa ambivalência em relação aos
impulsos vitais é refletida em sintomas físicos.

Os sintomas se apresentam como:

✓ Necessidade de oxigenação;
✓ Necessidade de percepção sensorial;
✓ Necessidade de nutrição;
✓ Necessidade de eliminação;
✓ Necessidade de circulação;
✓ Necessidade de locomoção;
✓ Entre outros.

Adoecer
O processo de adoecimento, da possibilidade da morte coloca o indivíduo na
situação inicial de sua vida, que é o desamparo.

Tal situação revela “A precariedade da condição humana, sua fragilidade, sua


vulnerabilidade, sua incompletude, sua finitude”. Ou seja, é nesse momento, que o
ser humano reconhece sua finitude e se dá conta de que não viverá eternamente.
Em uma situação de hospitalização, a capacidade de adaptação da pessoa é posta à
prova. E, como consequência, o indivíduo pode desencadear quadros de desordem
psíquica.

Adoecer, portanto, é subjetivo, ou seja, cada indivíduo reage, de uma maneira, e


todos sofremos influências culturais e ambientais.
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Espiritualidade x profissionais de saúde

A espiritualidade é uma necessidade humana básica. Conceituá-la é um exercício


complexo, pois relaciona-se com a coexistência humana. Ou seja, tem significados
pessoais e coletivos, é um propósito, por meio do qual, o indivíduo conduz sua
existência. Podemos caracterizar a espiritualidade como um fio condutor, que liga e
desliga todas as coisas, essa ação gera a contextualização do indivíduo.

A palavra espiritualidade é derivada de espírito, a qual, em latim, significa


respiração. Essa analogia se concretiza na forma como interpretamos o ar em
relação à vida, não raramente fala-se “o sopro da vida”, pois sem o ar/sopro,
evidencia-se a morte. Essa relação é tão influente na existência humana que, quando
o indivíduo perde sua espiritualidade, ele perde também a paixão por viver.

A espiritualidade, na enfermagem é principalmente, à compaixão pela qual os


profissionais enfermeiros cuidam de seus pacientes, ou seja, é transcender-se a si
mesmo, é a sensibilidade com a qual se lida com o sofrimento do próximo; portanto,
para ser enfermeiro, o indivíduo tem que gostar do ser humano. Em suma: ao cuidar
do outro, estamos cuidado de nós mesmos.

É imprescindível que, para cuidar da espiritualidade do paciento, o profissional tenha


sua espiritualidade desenvolvida. Um exemplo seria como o profissional poderá
exercer sua assistência com dignidade ao próximo em seu processo de morte, se ele
mesmo não aceita a morte como processo natural da vida humana?
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Quando o profissional não está preparado para enfrentar essas situações, além de
estar, constantemente, instável, emocionalmente, suas ações podem causar danos
e desconforto ao paciente, praticando, inclusive, a distanásia.

O profissional, que estiverem em conformidade com sua espiritualidade, diante do


inevitável, estará disposto a promover o melhor conforto e cuidado para aquele que
está em sua fase de finalidade.

Cabe ressaltar que o conforto, se refere ao respeito pela individualidade do ser


humano. Implica atitudes simples. Por exemplo, liberar uma comida de seu gosto,
uma visita importante, perceber uma necessidade especial, unir toda a equipe
multidisciplinar para atender às necessidades do indivíduo, mesmo que estas fogem
à regra como “não poder oferecer alimentos caseiros”.

Ao tratar-se de espiritualidade, o enfermeiro, quando for notório o processo de


morte no indivíduo, não se deve dizer que a pessoa vai ficar bem, porque não é real,
mas sim agir com sensatez e injetar ânimo e paz no paciente. Fazer com que o
paciente passe pelo processo de morte com mais conforto físico e espiritual.
Realizando assim uma assistência humanizada.

O enfermeiro poderá usar de abordagens como:

“Realmente parece que você não está bem, quer conversar com a respeito? ”

“Podemos conversar daqui a uns minutinhos, o que acha?”

Para o desenvolvimento da espiritualidade, pode-se adotar as seguintes práticas:

Diálogo externo: incentivar o indivíduo a compartilhar seus sentimentos


expressando-os, abrir canais de comunicação, estar disposto a falar e a ouvir.

Diálogo interno: é o hábito de reflexão, repensar suas condutas e atitudes, refletir


sobre o que é positivo e o que deve melhorar, reavaliando-se.
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Técnicas de relaxamento: o profissional pode utilizar técnicas de relaxamento,


meditação e imagens mentais com pacientes, que estão em sofrimento. É
importante também a sensibilidade para os ruídos e as luzes utilizadas nos setores,
na Unidade de Terapia Intensiva. Por exemplo, pode-se em algum momento do dia,
apagar as luzes, colocar uma música relaxante, minimizar os ruídos.

Sonhos: os sonhos abrem as portas do inconsciente. Por isso, ao acordar, adotar o


hábito de anotar os sonhos e tentar perceber se querem dizer algo, é uma sutileza,
que deve ser aprimorada em nosso dia a dia.

Oração: há indivíduos que desenvolvem sua espiritualidade sob o olhar da religião,


mas, independentemente da religião, é importante eles fazerem suas orações. Não
há momento ideal, cada um se concentra e tem seu momento. É relevante propiciar
esse apoio ao paciente, inclusive, oferecer-lhe a possibilidade de contato com líderes
religiosos.

Diagnóstico de enfermagem: angústia espiritual


A angústia espiritual é um diagnóstico de enfermagem, reconhecido pela North
American Nursing Association (NANDA) desde 1978.

Suas características definidoras são:

✓ Expressar preocupação com o significado da vida/morte e/ou sistemas de


crença.
✓ Questionar implicações morais/éticas do regime terapêutico.
✓ Descrever pesadelos ou apresentar distúrbios do sono.
✓ Verbalizar conflito interior sobre crenças.
✓ Não ser capaz de participar de práticas religiosas usuais.
✓ Buscar assistência espiritual.

A angústia espiritual se evidencia, quando o indivíduo sente dúvidas sobre suas


crenças, sua vida, sua esperança. E essas dúvidas ocorrem, principalmente, no
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momento do adoecimento, da dor, do sofrimento. A equipe de enfermagem presta


assistência ao doente, vinte e quatro horas por dia. É muito importante que ela se
preocupe com a necessidade psicoespiritual como também ofereça opções para
minimizar suas angústias.

Ao realizar o cuidado, é comum o enfermeiro evidenciar sinais no ambiente


hospitalar. Segundo o NANDA, os fatores relacionados ao diagnóstico são crença e
sistemas de valores desafiados (por exemplo, por implicações morais/éticas relativas
ao tratamento e por sofrimento intenso).

Ao relacionar esse diagnóstico com a psicologia, a angústia espiritual possui íntima


relação com a dor psíquica. Durante nossa existência, passamos por diversas
experiências de dor física, mas quando a dor está relacionada com a dor psíquica, a
elaboração e a compreensão dos sentimentos é muito complexa para quem a
vivencia.

Enfermeiros devem estar atentos à escuta ativa e à partilha como intervenção dos
cuidados a pacientes com diagnóstico de angústia espiritual.

Ao realizar o diagnóstico de angústia espiritual, abre-se espaço para repensar a


prática assistencial, possibilitando aos enfermeiros gestores o planejamento do
trabalho da equipe, de modo que o tempo possa ser utilizado como recurso da
assistência.

Assim, são de extrema importância as teorias de enfermagem e as necessidades


humanas básicas ao atendimento holístico e humanizado.

A assistência de enfermagem é permeada por alta tecnologia, mas não podemos nos
esquecer do principal objetivo, que é o ser humano e, consequentemente, sua
família.
62

É necessário que o profissional de enfermagem se autoconheça para estabelecer


seus limites, de modo a oferecer um atendimento holístico e integral aos seus
clientes.
63

Fases do luto

Até o século XIX, os cuidados paliativos eram o único cuidado prestado ao doente.
Para muitas doenças, não havia a cura; o nascimento e a morte aconteciam nos
domicílios, e as pessoas tinham explicações para o sofrimento.

A morte é de extremo conflito para o ser humano, pois em nosso inconsciente,


somos imortais. Dar más notícias não é transformá-las em boas, mas sim dizer a
verdade ao paciente e sua família.

É ter a sensibilidade de observar o que o paciente já sabe sobre sua situação e ao


que quer e suporta saber.

As fases do luto são evidenciadas em várias literaturas, e elas são classificadas em


cinco fases.

A primeira fase é identificada como o período de negação e consequente isolamento


do paciente. Após a definição do diagnóstico, ele surpreende-se e fecha-se a fim de
entender o que está acontecendo.

A segunda fase é caracterizada pelo sentimento de raiva. Este ameniza-se, com o


passar do tempo e passa a dar espaço à terceira fase, fase de barganha, na tentativa
de findar o sofrimento e a própria doença.

A quarta fase apresenta-se com um quadro depressivo; contudo, esse sofrimento


tende a desaparecer, quando o paciente toma consciência de sua condição levando
a quinta fase que é a esperança.
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O cuidado de enfermagem com a dor, morte e sofrimento

A enfermagem tem, como atuação o cuidar. Os enfermeiros adquirem


conhecimentos técnicos e científicos para planejar e implementar o cuidado, de
forma holística, atendendo, integralmente, a todas as necessidades do paciente.

Os cuidados de enfermagem sobrepõem-se à doença, abrangem também os


cuidados de promoção de saúde com prevenção de doenças. E ainda, e não menos
significativo, o enfermeiro atua em situações nas quais já nada mais existe a fazer
sob o ponto de vista curativo.

Se a doença já está em estágio avançado, com diagnóstico de doença incurável, as


intervenções de enfermagem buscam minimizar a dor, oferecer conforto e preservar
a integridade física. Além disso, a enfermagem tem, como objetivo, preservar a
dignidade humana, que é determinada por oferecer ao paciente o agir livremente e
se autodeterminar.

Alguns dos cuidados que a enfermagem oferece ao paciente mediante a uma doença
incurável:

✓ Auxiliar na aceitação do diagnóstico;


✓ Amparar no convívio com a enfermidade;
✓ Oferecer apoio aos familiares antes e após a morte.
65

Percepções do enfermeiro

De acordo com a percepção de enfermeiros, existe a morte boa e a morte ruim; a


morte boa é aquela na qual a família está incluída em todos os processos
assistenciais. Ou seja, está em consonância com todas as decisões a serem tomadas
com a equipe; existe a aceitação de todos os envolvidos e um ambiente apropriado
para os cuidados.

A morte ruim é aquela que não se espera, ocorre, repentinamente, não há o


reconhecimento da progressão da doença, a qual está relacionada à negação. Não
há controle do que está acontecendo, sua recusa não diz respeito somente aos
profissionais de saúde, mas também aos familiares e aos próprios pacientes.

A prática de enfermagem visa aos cuidados de enfermagem, inclusive, depois da


morte. Esta situação acarreta angústia e sofrimento, considerando um
procedimento de difícil habituação, pois é reconhecido como invasivo, além de ser
um momento crítico, que leva o profissional a pensar em sua finitude. É um
momento de manter a seriedade, respeitando a dignidade do outro e consideração
pelo sofrimento dos pacientes e do próprio enfermeiro.

Os enfermeiros, que atuam nas Unidades de Terapia Intensiva, trabalham frente a


frente com a morte diariamente. E estudos apontam que esses trabalhadores
sofrem, ao acompanhar o sofrimento do paciente, diante da morte. Ao se deparar
com a morte do outro, expõem-se ao contato com a fantasia da própria morte, além
de reviverem as perdas, que já tiveram na sua vida pessoal.
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Sobre a morte de crianças é encarada como uma inversão da ordem natural da vida.
Enfermeiros, que trabalham em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, sofrem o
processo do luto.

Em relação aos mecanismos de defesa, utilizados para o enfrentamento da morte, a


negação é muito frequente. E são justificados pelos profissionais que, não estão
preparados para enfrentá-la e para lidar com os próprios sentimentos. Contudo, a
negação dificulta, tanto a aceitação quanto a elaboração da perda. Na tentativa de
se afastar da realidade, os profissionais se atentam para habilidades técnicas e
procedimentos burocráticos. A visão de que o profissional deve ser manter
indiferente e distante, durante o processo de morte, pode acarretar um luto mal
resolvido.

Dentre os sentimentos e momentos experienciados pelos profissionais de


enfermagem, frente à morte, destacam-se os seguintes aspectos:

✓ Alguns profissionais preferem não comentar sobre o ocorrido.


✓ Outros sujeitos conversam sobre a morte com os colegas de trabalho,
principalmente, entre a equipe, que estava prestando cuidados ao indivíduo
que morreu.

A cada cuidado realizado, o profissional de enfermagem emprega os sentimentos;


estes podem ser positivos ou negativos. Com o intuito de acertar e com a qualidade
tecnológica, aplicada nas redes assistenciais, muitas vezes, o profissional coloca os
sentimentos do paciente de lado, tendo como grande objetivo realizar um curativo
impecável. Com isso, ele se distancia do principal objetivo: o ser humano, o qual,
certamente, desconhece o procedimento técnico que está prestes a receber, a quem
não foi dada a devida atenção: a afetividade.

São vastas as oportunidades de relacionar-se com o paciente; o enfermeiro precisa


estar atento para esses momentos. Por exemplo, ao realizar a aferição dos sinais
vitais, ele deve realizar a técnica de inspeção, não somente física, como também das
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características emocionais que o paciente está apresentando. Assim, deve olhá-lo


nos olhos, apreciar o toque, interagir e não apenas aplicar uma técnica fria e com
tempo determinado.

Como referido anteriormente, em cuidados paliativos, o cuidado/vínculo, oferecido


ao doente, reflete-se na família e isso é recíproco. O enfermeiro pode trabalhar com
a família, para aumentar o envolvimento desta nos cuidados com o paciente. Isto é,
dar-lhe a oportunidade de participação positiva, de modo a propiciar a interação
família/paciente na busca de crescimento e reconciliação para ambos.

Os cuidados paliativos devem ocorrer, mediante quatro elementos:

✓ Comunicação efetiva.
✓ Controle dos sintomas.
✓ Implementação de medidas para alívio e/ou atenuar sofrimento.
✓ Oferecer apoio à família, durante todo o processo.

A comunicação é um instrumento valioso na relação entre enfermeiro e paciente, é


considerada terapêutica, durante a assistência de enfermagem.

E tem a finalidade de sensibilizar a pessoa com a qual está conversando, de modo a


explorar seus sentimentos e suas percepções, auxiliando-a na resolutividade de seus
problemas.

A comunicação pode ser interpretada em três etapas:

a) Reflexão de sentimentos: acontece, quando se deixa claro que se compreende o


que a pessoa está dizendo de um modo implícito. Quando o paciente apresenta
medo, diante de um procedimento, o melhor é ouvi-lo, confortá-lo e aguardar sua
autorização.

b) Autoexpressão: é quando se diz ao outro o que está nos acontecendo. Assim, a


equipe de enfermagem tem, por obrigação respeitar os sentimentos de todos os
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pacientes e seus familiares, mesmo quando não concorda ou quando se sente


agredida físico e moralmente.

c) Confronto e colocação de limites: o indivíduo se coloca frente a frente com as


consequências dos seus atos, oportunizando a reflexão e o amadurecimento.
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Reflexões sobre qualidade de vida

Inicialmente, o termo qualidade de vida caracterizava uma população, que tinha


condições financeiras para adquirir bens de consumo e materiais. Na atualidade,
esse conceito se amplificou, relacionando qualidade de vida com bem-estar
econômico, acesso à saúde, à educação, ao crescimento industrial e às condições de
saneamento básico.

Não há dúvida da necessidade e preservação da vida e conservação da espécie. E,


em função dessa necessidade, a especialização da medicina preventiva e medicina
curativa vêm aumentando a longevidade.

Medicina preventiva

Tem relação com questões de saneamento básico, medidas sanitárias, vacinação,


seu principal objetivo é promover a saúde e evitar a doença.

Medicina curativa

É o tratamento das doenças, apresenta-se cada vez mais avançada e tecnológica.

Medicina paliativa

Aplicada, quando os recursos da medicina curativa se esgotam. É necessário


destacar que a medicina paliativa, muito além do controle da dor e sintomas, tem
relação com conceitos de qualidade de vida, o valor da vida e o significado da vida.
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Muitas vezes, em cuidados paliativos, as intervenções psicossociais são aplicadas


para o enfrentamento e para melhorar a qualidade de vida, por meio de métodos
educacionais e psicoterapêuticos.

Exemplos:

✓ Encorajar a expressão de sentimentos.


✓ Praticar a escuta ativa, em ambiente propício de acolhimento, sem
julgamentos e críticas.
✓ Trabalhar o luto, antecipadamente, as perdas pelo adoecimento, fraqueza do
corpo, papeis profissionais e pessoais, a perda de outras pessoas e de sua
subjetividade.
✓ Verificar situações passadas pendentes que tem importância para a situação
atual.
✓ Buscar um novo significado de vida diante das limitações impostas pela
doença e pela proximidade da morte.
✓ Para muitos, a morte significa sofrimento; portanto, tem-se a necessidade de
cuidar da dor do morrer ou da aceitação da morte.
✓ Oferecer espaço para a cura espiritual, o homem espiritualizado tem a visão
imortalidade da alma, o que pode proporcionar uma morte consciente e
menos dolorosa.

Mecanismos de defesa

A fim de reprimir desejos, suprimir memórias, distorcer a percepção da realidade, a


mente detém de mecanismos de defesa para suprimir o ego, fazendo o indivíduo
esquecer-se de situações que o ameacem, esses recursos são:

✓ Compensação: tentativa de compensar a falha real ou imaginada;


✓ Deslocamento: é transferir suas emoções/reação para outra pessoa;
✓ Fantasia: distorcer a realidade, modo de fugir do superego;
✓ Formação reativa: tentar expressão ao contrário do que se deseja;
71

✓ Identificação: assimilar características de outro ou de um objeto, é o próprio


ego;
✓ Negação: a mente se nega a reconhecer aspectos desagradáveis da realidade;
✓ Projeção: é projetar ao outros suas vontades, intenções, raciocínios
indesejáveis;
✓ Repressão: é bloquear as pulsões, que podem aflorar, por exemplo, através
de sonhos;
✓ Sublimação: é o direcionamento das pulsões para ações positivas e criativas.

A psicologia da saúde deve estar em constante ajustamento com as progressões


políticas, sociais e econômicas para ampliar seus conhecimentos e ajustamento de
seu conteúdo a essa nova sociedade.
72

Cuidados paliativos

O cuidado em Enfermagem é inerente à profissão, pois em qualquer área que se


estiver atuando sempre se estabelece uma relação com os pacientes.

Cuidados paliativos exigem esforços ainda maiores de uma equipe de saúde, pois é
preciso ampliar a visão e olhar o entorno que abrange familiares, acompanhantes e
demais profissionais envolvidos.

Os profissionais que atuam com cuidados paliativos precisam estar sempre


almejando a qualidade de vida e o conforto físico e espiritual das pessoas, portanto,
o ato de cuidar do cuidador também é uma importante ferramenta nesse contexto.

Cuidar de pessoas em fim de vida foi uma prática corrente ao longo da evolução do
mundo, muito antes da existência do “cuidado paliativo”.

Ao definirmos a Enfermagem, seja em termos de profissão e campo da ciência, seja


no sentido de designar uma área da atividade humana, dificilmente conseguiremos
fazê-lo, sem citar o ato de cuidar.

Unindo os valores humanitários do passado somado aos conhecimentos atuais da


medicina moderna, Cicely Saunders, assistente social, enfermeira e posteriormente
médica, resgata a prática dos cuidados paliativos ao fundar em 1967, na Inglaterra,
o St. Christhoper’s Hospice, propagando a filosofia dos cuidados paliativos para
outros países da Europa e diferentes continentes. Considerada pioneira nos
cuidados paliativos, dedicou a vida laboral em prol da assistência humanizada a
73

doentes oncológicos em fase final de vida, com o objetivo de lhes oferecer uma
morte mais digna.

A história dos cuidados paliativos no Brasil é recente, tendo se iniciado na década de


1980. O primeiro serviço de cuidados paliativos no Brasil surgiu no Rio Grande do Sul
em 1983, seguidos da Santa Casa de Misericórdia, de São Paulo, em 1986, e logo
após em Santa Catarina e Paraná. Um dos serviços que merece destaque é o Instituto
Nacional do Câncer (INCA), do Ministério da Saúde, que inaugurou em 1998 o
hospital Unidade IV, exclusivamente dedicado aos cuidados paliativos.

A hospitalização se faz necessária quando a família não pode mais cuidar


adequadamente do doente, devido à sua dependência total, que pode durar por um
período prolongado, ou, na maioria dos casos, quando os familiares não suportam
assistir ao sofrimento de seu ente querido.

Fases da assistência em cuidados paliativos: São descritas na literatura três fases em


cuidados paliativos. As fases da assistência à pessoa que demanda cuidados
paliativos, são:

Primeira fase: Morte não provável: Condição clínica na qual a equipe de saúde
percebe uma maior possibilidade para a recuperação do que para o desfecho da
morte.

A ênfase assistencial está focada na sustentação dos sistemas vitais e na recuperação


da pessoa (mas não é sinônimo de cura), sem que sejam descuidados os cuidados de
conforto psicoemocional do binômio pessoa doente-família.

Segunda fase: Morte prevista para meses ou poucos anos: Condição clínica na qual
a equipe de saúde percebe uma falta de respostas ou uma resposta insuficiente aos
recursos utilizados, com uma crescente tendência ao desfecho morte ou
irreversibilidade de alguns sintomas que manifestam maior desequilíbrio orgânico.
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Deve ser estabelecido consenso entre a equipe, pessoa doente e família. A


prioridade passa a ser melhorar a qualidade de vida.

A ênfase assistencial está focada no oferecimento e na manutenção de um conjunto


de cuidados para a promoção de conforto físico e psicoemocional do binômio pessoa
doente/ família.

Terceira fase - Morte prevista para dias ou meses: Condição clínica na qual a equipe
de saúde reconhece a irreversibilidade da doença e a morte iminente, aceitando o
desfecho para morte. O cuidado paliativo passa a ser exclusivo, e todas as medidas
introduzidas buscam a melhor qualidade de vida possível e o conforto do paciente e
de seus familiares. A ênfase assistencial está focada no oferecimento e na
manutenção do conjunto de cuidados para conforto físico e psicoemocional do
binômio pessoa doente/família.

Ainda, devem ser considerados em todas as fases, dois importantes aspectos:

✓ Oferecer e manter cuidados individualizados, suficientes para garantir o


tratamento físico, psicoemocional e sociocultural do binômio pessoa
doente/família, respeitadas as perspectivas bioéticas, deontológicas e
legais.
✓ Verificar a existência de diretivas antecipadas, da avaliação interdisciplinar
do diagnóstico, do prognóstico e do tratamento, da verificação do
entendimento dos familiares e da identificação de potenciais conflitos

Controle de sintomas em cuidados paliativos

Na prática dos cuidados paliativos é comum que os doentes apresentem um ou mais


sintomas e muitas vezes ao mesmo tempo. Estes sintomas refletem problemas de
origem física, espiritual, social e psicológicas decorrentes dos enfrentamentos da
evolução da doença, independentes do seu estágio e torna-se importante poder
75

preveni-los, identificá-los e avaliá-los para o adequado controle das necessidades


dos doentes e para que os cuidados planejados sejam os mais assertivos e eficazes.

Alguns dos sintomas encontrados em maior prevalência são abordados a seguir


quanto as suas causas e possibilidade terapêuticas, medicamentosas ou não, bem
como as escalas mais utilizadas nos serviços de cuidados paliativos para a avaliação
fidedigna de sintomas.

A etapa principal para um adequado manejo desses sintomas é a correta


identificação de:

Alteração do sono/vigília: suas causas são várias, como a dor não ou mal controlada;
os quadros de depressão ou ansiedade; a inatividade e/ou cochiladas diurnas; os
efeitos colaterais dos fármacos e o abuso de álcool e cafeína. O “terror noturno”,
isto é, o medo da noite é relatado pelos pacientes e observado pelos familiares e
equipes de saúde. Os pacientes referem receio de dormirem e não acordarem e/ou
de passarem mal e não serem socorridos, pois acreditam que os cuidadores,
profissionais ou não, estarão menos atentos neste período.

Fadiga: ocorre em cerca de 75% a 95% dos pacientes podendo debilitar e


comprometer as atividades da vida diária.

A partir da avaliação física e anamnese do doente, o enfermeiro avalia a presença


de características definidoras que asseguram o diagnóstico. E por não se conhecer
elementos fisiológicos que retratem objetivamente a fadiga, os instrumentos de
auto relato devem ser utilizados, pois são a melhor maneira de se avaliar sintomas
subjetivos. Eles permitem que o doente analise suas sensações e sentimentos com
menor interferência externa e dão segurança para a equipe de Enfermagem planejar
e executar cuidados

Dor: A dor é uma das razões mais comuns da busca por cuidados médicos, e quando
não controlada, é responsável pelo aumento de complicações pós-operatórias, pós-
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traumáticas, prolongamento das internações, aumento dos custos hospitalares e


sofrimento do paciente com os tratamentos. O tratamento da dor baseia-se em
evidências preconizadas pela Organização Mundial de Saúde.

Dispneia: é a sensação de respiração desconfortável, sufocante, provocada pela falta


de ar. É um sintoma subjetivo bastante comum em pacientes na fase final de vida.

Constipação: é um sintoma bastante frequente nos doentes em cuidados paliativos,


especialmente quando usando analgésicos opióides.

Em se tratando das medidas não farmacológicas podemos implementar a realização


de manobras abdominais, estimulação da ingesta hídrica, oferecimento de dieta rica
em fibras e o encorajamento das atividades físicas. Todas essas medidas demandam
conhecimento do quadro clínico do doente, bem como dos seus hábitos intestinais
anteriores e da etiologia da constipação, para evitarem que ações contra-indicadas
piorem o quadro geral do doente

Outros sintomas relacionados:

✓ Náusea e Vômitos: são sintomas encontrado em cerca de 40% a 70% dos


doentes em cuidados paliativos.

✓ Depressão e ansiedade: são sintomas psicológicos encontrados em muitos


doentes em Cuidados Paliativos, sendo essencial a avaliação constante de seu
comportamento e reações frente aos acontecimentos.

✓ Confusão mental (delírio ou demência): a confusão mental é muito comum


em doenças graves e há muitas causas possíveis desencadeantes, como as
encefalopatias, as metástases cerebrais, os distúrbios metabólicos e
eletrolíticos, as desidratações e efeitos colaterais dos fármacos.

✓ Prurido: pode ser um sintoma de várias condições, apresentando-se com ou


sem uma erupção cutânea, como por exemplo, doenças hepáticas,
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insuficiência renal, certos tipos de câncer, alergias, dermatites, infecções


fúngicas e escabiose.

✓ Soluços: Podem ser penosos e desgastantes para o paciente, se forem


frequentes ou se não se resolverem rapidamente.

✓ Ronco da morte (Sororoca ou chocalho da morte): esse é um termo comum


usado nos hospitais para descrever o som feito por um indivíduo muito
próximo da morte. Isso ocorre após a perda do reflexo da tosse e da habilidade
de engolir, causando uma acumulação de saliva na garganta e nos pulmões.
Apesar de raramente causar dor ao paciente, o som pode ser assustador, seu
aspecto é de “água em ebulição”.

✓ Anorexia: sintomas alimentares como a síndrome anorexia/caquexia, são


geradores de grande sofrimento nos pacientes e seus cuidadores familiares
ou não, pelo desconforto, pelas alterações físicas que provocam e pelo
impacto psicológico que causam.

✓ Disfunção urinária: são vários os mecanismos que desencadeiam as


disfunções urinárias, como progressão da doença (no câncer), alterações do
nível de consciência e efeitos colaterais de medicamentos

✓ Lesões de pele: Os pacientes no fim da vida são propensos ao


desenvolvimento ou agravo das lesões cutâneas.

O papel do enfermeiro no controle de sintomas

É competência do enfermeiro o conhecimento das terapêuticas medicamentosas ou


não, suas indicações, ações, dosagens, posologias, farmacodinâmica,
farmacocinética, efeitos adversos, suas formas de prevenção e, inclusive de
tratamento dos mesmos.
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O conhecimento faz com que o enfermeiro empodere o doente no processo de


autocuidado e aumente a adesão às terapêuticas propostas, implementando a
qualidade de vida dessas pessoas. O raciocínio clínico desenvolvido pelos
enfermeiros lhes dá a segurança necessária para o contínuo e seguro cuidado de
pessoas com sintomas em cuidados paliativos.
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Enfermagem e sociedade

O que se observa hoje é um reflexo da forma como foi construindo-se a profissão de


enfermagem. Não é de se estranhar que o contingente de trabalhadores na área de
enfermagem seja ainda feminino.

Durante muito tempo a Enfermagem era exclusivamente prática. Aqueles que a


seguiam eram leigos, levados ao campo hospitalar onde eram treinados sob o mais
rígido regime, assemelhando-se ao regime militar, sob a chefia de médicos, sem
horas de lazer nem de estudos.

Dessa forma, pode-se dizer que houve uma flexibilização do papel da enfermagem,
passando a ser um ser crítico, consciente, capaz de refletir sobre os limites de sua
ação e de intervir em prol do cliente de acordo com os recursos existentes. Para isso,
espera-se que ele seja uma pessoa critica, atenta as transformações do mundo
moderno, já que conhecer a realidade em que está inserido é quesito fundamental
para que sua intervenção possa ser realmente eficaz.

Deve ainda perceber a corresponsabilidade social a partir do papel que


desempenha, papel esse que não se resume ao de um simples cuidador, mas de
alguém que interage e modifica a realidade através de ações de saúde.
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O perfil do profissional de enfermagem

O perfil tradicional- Dentro da área de saúde a enfermagem era considerada pela


sociedade uma "subprofissão", situação criada talvez por seu começo tão destituído
de princípios científicos e ser exercida por pessoas de nível social inferior, ao que
parece, essa deficiência inicial contagiou aquela situação através dos tempos e atuou
de certa forma de modo negativo numa sociedade em formação.

Como essas razões, a sociedade mais dotada de recursos financeiros culturais era
bastante preconceituosa em relação ao trabalho feminino fora do lar,
principalmente em relação aos ambientes hospitalares onde a convivência com o
sexo masculino se fazia de modo mais frequente, e os horários noturnos tinham que
ser cumpridos. Isto era motivo suficiente para delimitar a clientela e dar uma
imagem deturpada do profissional. A situação profissiográfica descrita pode assim
ser classificada como de caráter transicional ou preparatório para as características
da profissão em termos atuais.

O perfil moderno - no presente, a passagem das atribuições gerenciais das escolas


para o profissional de enfermagem outrora exercida por médica. É de lembrar-se
ainda a sua competência profissional comprovada e aceita, para atuar com
autoridade técnica no planejamento e administração, em programas de educação
sanitária da população (geralmente em equipe).

A ideia de que o bom enfermeiro é aquele que com os anos de profissão passa a ser
‘frio em suas ações, a profissão para ser reconhecida deva perder sua humanidade,
esquecendo o sofrimento do outro é perversa. Essa atitude se dá quando esses
agentes do cuidar não se permitem fazer contato com suas sensações, seus
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sentimentos e emoções, deixando de lado as dores humanas, esse ciclo vicioso e


histórico da frieza e distância do enfermeiro, esquece-se da necessidade de acolher
e escutar, da necessidade de aprender a lidar com emoções que são suas, mas, que
também são do outro.

Durante o desenvolvimento do profissional enfermeiro desde sua formação ate a


vida profissional, se destacam pontos a serem seguidos:

a. a necessidade do respeito ao outro;

b. a humanização do atendimento;

c. o vínculo com o paciente.

A importância da Psicologia na Enfermagem


A Psicologia é o estudo dos fenômenos psíquicos e do comportamento do ser
humano por intermédio de análise de suas emoções, suas ideias e seus valores. É
necessário aplicar a psicologia na área da enfermagem para que os futuros
profissionais possam aprender e compreender um novo olhar ao estabelecer seu
relacionamento com o paciente e também seus familiares

A Psicologia desempenha um papel importante na formação da área da saúde,


marcada pelo desenvolvimento de uma profissionalização centrada na
modernização, cientificação e teorização das práticas profissionais, com o objetivo
sobretudo de formar um novo perfil de enfermeiros e interferir no processo de
organização e consolidação da disciplina no campo da enfermagem.

No cotidiano de trabalho de um enfermeiro é exigido não só conhecimento técnico


para realização de suas condutas, mas acima de tudo um grande equilíbrio
emocional para lidar com as divergências que certamente aparecerão para observar
atentamente tudo àquilo que acontece em sua volta e poder concluir de maneira
sutil qualquer problemática.
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A psicologia direciona o enfermeiro para um campo mais amplo de atuação, onde o


pensamento arcaico de que cuidar se restringe em apenas “colocar a mão sobre o
paciente” para realização de procedimentos e técnicas vai perdendo espaço. Em
contrapartida começa-se a adotar medidas que proporcione mais conforto e bem-
estar por meio de atitudes que são aparentemente simples como estar mais perto
do paciente nos mais variados momentos de sua hospitalização, principalmente em
casos de pacientes deprimidos, onde o enfermeiro se faz do paciente seu constante
acompanhante.
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Enfermagem, paciente e familiar

O cuidado complexo envolve necessidades bio-psico-sócio-espirituais e afetivas e


está diretamente relacionado ao processo de comunicação entre o enfermeiro–
paciente. Para haver o cuidado eficaz, ambos os sujeitos precisam compreender os
sinais que determinam as relações interpessoais, seja pelos gestos, expressões ou
palavras.

A essência da enfermagem é o cuidar. Considerando-o como o objeto de trabalho, é


necessário que seja eficiente e prestado de forma humanizada. Ao se estabelecer o
cuidado, este deve ser sistematizado e holístico, a fim de promover a qualidade da
assistência e o cuidado emocional. Desta afirmação evidencia-se a necessidade de
sensibilidade dos profissionais para executarem os cuidados, observando as
manifestações verbais e não-verbais do cliente, podendo indicar ao enfermeiro suas
necessidades individuais.

Deste modo, a comunicação é essencial para uma melhor assistência ao cliente e à


família que estão vivenciando o processo de hospitalização, podendo resultar em
estresse e sofrimento. Para tanto, o enfermeiro é capacitado a reconhecer a
interação enfermeiro–paciente–família, estabelecendo atitudes de sensibilidade e
empatia entre todos, contribuindo com a assistência humanizada.

Nesse contexto, o enfermeiro tem o compromisso e a obrigação de incluir as famílias


nos cuidados de saúde. O significado que a família dá para o bem-estar e à saúde de
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seus membros, bem como à influência sobre a doença, obriga este profissional a
considerar a assistência centrada na família como parte integrante da prática de
enfermagem.

A equipe de enfermagem deverá estabelecer uma relação que ultrapasse o cuidado


físico, por meio de ações humanizadas, favorecendo a sua recuperação com
qualidade. É certo que o diálogo entre os profissionais de saúde, paciente e
familiares favorece um relacionamento de confiança e a obtenção de bons
resultados para assistência com qualidade.

O ser cuidador precisa saber ouvir, estar presente e ter empatia com o outro ser.
Desta forma, ambos se fortalecerão e poderão encontrar a solução para o problema
de saúde. Isto remete a um significado de humanização da assistência de
enfermagem, com interação entre os cuidadores/familiares. É importante abordar a
necessidade de humanização do cuidado de enfermagem a pacientes e a atenção ao
seu familiar.

Existe necessidade de identificar fatores, positivos ou negativos, que possam


interferir no cuidado aos pacientes. Verificar as dificuldades percebidas pela equipe
de enfermagem favorecerão a humanização no atendimento, possibilitando um
vínculo entre quem cuida, família e quem é cuidado. Deve haver resolutividade nas
ações de enfermagem com enfoque nas necessidades humanas básicas.

O processo de hospitalização traz vários transtornos para o paciente e seu familiar,


então, o enfermeiro deve utilizar estratégias objetivando interagir com o cliente-
familiar por meio de atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia. O que se
observa no cotidiano da prática em cuidados de enfermagem é um distanciamento
entre a família e os profissionais. O cuidado de enfermagem acontece de forma
fragmentada e em meio a um ambiente estressante o paciente é muitas vezes
tratado como um objeto, sem identidade, sem sistema de valores.
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De outro modo, as influências positivas surgem quando há interação entre os


enfermeiros e o paciente, apesar dessa interação, em contrapartida, absorver
reações negativas quando vivenciam situações de envolvimento intenso, de perda e
de desesperança. O envolvimento emocional distanciado é considerado como fator
negativo, contudo, torna-se fator positivo quando a relação distanciada é revertida,
aproximando cliente e família à equipe de saúde. Este tipo de dinâmica de trabalho
é um desafio permanente entre as partes envolvidas.

Diante dessas possibilidades, a equipe de enfermagem procura amenizar as


sensações de desequilíbrio bio-psico-sócio-espirituais apresentadas pelo paciente,
aumentando sua confiança e autoestima. A relação interpessoal que se dá entre o
enfermeiro e a pessoa hospitalizada está calçada na comunicação entre ambos.

A relação de ajuda se dá através de todas as interações enfermeiro-paciente de duas


formas básicas:

✓ No desempenho das tarefas rotineiras de enfermagem e

✓ No seguimento de pacientes ou grupos, dentro ou fora do contexto hospitalar.

Assim, em todas as situações de contato com o paciente está presente a


comunicação.

Esta comunicação poderá ser impessoal (robótica) ou pessoal (compreensiva) e,


portanto, terapêutica ou não. Terapêutica será toda interação na qual o enfermeiro
esteja voltado para atender as reais necessidades de quem precisa de ajuda. Essa
ajuda pode se dar junto a uma pessoa e seus familiares ou junto a grupos específicos
da população.

Na relação de ajuda, espera-se que o enfermeiro promova um ambiente favorável,


onde o indivíduo sinta tranquilidade e confiança para expressar-se, pois o objetivo
da relação de ajuda é dar ao indivíduo a possibilidade de identificar, sentir, saber,
escolher e decidir se deve mudar.
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A focalização do cuidado de enfermagem nos princípios da humanização, aliando o


cuidado técnico ao cuidado emocional, possibilita a solução de vários problemas que
interferem no relacionamento enfermeiro–paciente–família. Permite, ainda, aos
profissionais lidar com as limitações e conflitos de uma forma mais saudável,
respeitando valores e concepções do outro.

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