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TEXTO PRELIMINAR 1 DE PSICOLOGIA GERAL

Unidade 1: A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA

1.3. O Pensamento Psicológico Antes e Depois do Século XVIII

1.3.1. Psicologia e História


Por de trás de qualquer produção humana material ou espiritual (cadeira, computer, religião),
existe sempre uma história

Cada um tem uma história pessoal, longa ou curta, a psicologia tem cerca de dois mil anos de
história

Para compreender a psicologia é necessário compreender a


sua história, história essa que está ligada a cada momento
histórico, ás exigências do conhecimento da humanidade,
as demais áreas de conhecimento humano e aos novos
desafios colocados pela realidade económica e social e, pela
insaciável necessidade do Homem compreender a si
mesmo.

1.3.2. A Psicologia entre os Gregos


É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma psicologia. De
facto, os avanços permitem que os cidadãos se ocupem de coisas do espírito, como a filosofia
e a arte – homens como, Sócrates, Platão, Hipócrates e Aristóteles dedicam-se a compreender
esse espírito empreendedor do conquistador grego, ou seja, a Filosofia começou a especular o
Homem e a sua interioridade. O próprio termo Psiché= alma e logos= logos (razão), portanto
etimologicamente Psicologia significa estudo da alma.

Filósofos pré-socráticos - preocupam-se em definir a relação do Homem com o mundo


através da PERCEPÇAO = o mundo existe porque o Homem o vê ou o Homem vê o mundo

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que já existe – oposição entre idealistas (a ideia forma o mundo) e materialistas (a matéria
que forma o mundo já dada para a percepção).

Sócrates (496-399 a.C.)

Com ele a Psicologia na antiguidade ganha consistência: segundo Sócrates o que distingue o
Homem do animal é a RAZÃO porque permite ao Homem de sobrepor-se aos instintos, que
seriam a base da irracionalidade – definindo a razão como essência e peculiaridade do
Homem, Sócrates abre um caminho que será explorado pela Psicologia: fruto desta reflexão
são por exemplo, as Teorias da consciência que de certa forma são resultado desta
sistematização na Filosofia.

Platão (427-347 a.C.)

Discípulo de Sócrates, procura o «lugar» para a razão no nosso corpo (cabeça), onde se
encontra a ALMA do Homem. A medula será o elemento de ligação da alma com o corpo -
este elemento era necessário porque Platão concebia a alma separa do corpo (dualismo).
Quando alguém morria a matéria (corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar
outro corpo (reincarnação).

Hipócrates e a Teoria dos Humores (496-361 a.C.)

Uma análise mais acurada das diferenças individuais, estreitamente ligadas a uma reflexão
mais sistemática na relação mente-corpo, foi feita com Hipócrates de Cosmes. Médico e a sua
ciência era finalizada á medicina, mas, enquanto filósofo, funda uma verdadeira e própria
ciência do Homem onde confluíram observações sociológicas, psicológicas e fisiológicas. O
contínuo esforço de síntese e de sistematização de tais observações não tiveram precedentes
na história do pensamento humano e permanecerão em seguida apreciados por um período de
20 séculos. Todavia, a medicina hipocrática passou na história como aquela que se baseava na
teoria dos quatro humores.

Hipócrates defende que existem 4 humores no corpo humano: o sangue, a fleuma, a bílis
amarela e a bílis preta. Segundo a prevalência de cada um destes elementos sobre o outro a
pessoa desenvolverá um certo temperamento que poderá ser respectivamente: sanguíneo,
fleumático, colérico e melancólico e também vários tipos de predisposições á doença. O
Homem é «são» quando estes humores estão «reciprocamente bem temperados por
propriedade e quantidade» e a mistura é completa. Contrariamente a isto o Homem é doente
quando existe excesso ou defeito destes elementos.

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Mais importantes ainda são os seus estudos neurológicos. Numa das suas obras afirma que o
cérebro é o órgão mais potente do corpo e que os órgãos de sentido actuam em base á sua
capacidade de discernimento. Ainda nesta obra Hipócrates descreve os delírios e alucinações
e afirma na dependência de anomalias das faculdades intelectuais dos traumas cranianos.

Com estas afirmações, Hipócrates põe em relevo uma concepção que se está afirmando no
pensamento grego, isto é, que o Homem é parte da natureza e pode ser estudado com os
métodos da ciência natural. Esta concepção encontrou a sua expressão mais forte em
Aristóteles.

Aristóteles (384-322 a.C.)

Discípulo de Platão, foi um dos mais importantes pensadores da história da filosofia – superou
o dualismo da dissociação entre a alma e o corpo (inovação). Para ele a psyché era o princípio
activo da vida, isto é, tudo aquilo que cresce, se reproduz e alimenta possui a sua psyché ou
alma (vegetação, animais, Homem, possuem alma:

 alma vegetativa – vegetais: função reprodutiva e alimentar


 alma sensitiva – animais: função de percepção e movimento
 vegetativa, sensitiva + racional – função pensante
Aristóteles estuda as diferenças entre a razão, percepção e sensações, estudo sistematizado
no “Da Anima” o qual pode ser considerado o primeiro tratado de Psicologia.

Portanto, 2300 anos antes do advento da Psicologia Científica, os gregos já haviam


formulado duas “Teorias”: Platónica – que postulava a imortalidade da alma e a concebia
separada do corpo, e a Aristotélica – que afirmava a mortalidade da alma e a sua relação de
pertecimento ao corpo.

1.3.3. A Psicologia no Império Romano


O império romano nasce às véspera da era cristã, domina parte da Grécia, Europa e do Oriente
Médio

Característica deste período é o advento do cristianismo. Força religiosa que passa á força
política dominante que não obstante as invasões barbarias de 400 d.C., que levam á
degradação territorial e económica, o cristianismo sobrevive e até se fortalece, tornando-se a
religião principal da Idade Média, período que então se iniciara:

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Falar da psicologia neste período é relacionada ao conhecimento religioso, o qual dominando
o poder económico e político monopolizava também o saber e, consequentemente o estudo do
psiquismo.

Santo Agostinho (354-430 d.C.)

Inspirado em Platão faz cisão entre corpo e alma, a diferença para ele é que a alma, não é
somente a sede da razão mas também a prova de uma manifestação divina no Homem. A alma
era imortal por ser o elemento que liga o Homem á Deus e sendo a alma também a sede do
pensamento a Igreja passa a se preocupar também com a sua compreensão.

São Tomas de Aquino (1225-1274)

Vive numa período que preanuncia a ruptura da Igreja católica, o advento do protestantismo –
época que prepara a transição para o capitalismo, com a revolução francesa e a revolução
industrial na Inglaterra. Perante esta crise social e económica a Igreja devia encontrar novas
justificações em relação ao conhecimento como a relação com Deus e o Homem. São Tomas
d’Áquino foi buscar em Aristóteles a distinção entre essência e existência – como Aristóteles,
ele considera que o Homem, na sua essência, busca a perfeição através da sua existência mas
introduzindo o ponto de vista religioso, ao contrário de Aristóteles, afirma que somente Deus
seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de igualdade. Portanto, a busca da
perfeição do Homem seria a busca de Deus.

S. Tomás encontra argumentos racionais para justificar os dogmas da Igreja e continua


garantindo para ela o monopólio do estudo do psiquismo.

1.3.4. A Psicologia do Renascimento


+ 1200 depois da morte de S. Tomás inicia uma época de transformações radicais no mundo
europeu: RENASCIMENTO ou RENASCENCA – o mercantilismo, e a descoberta de novas
terras (América, Índia, Rota pacífica) propicia a acumulação das riquezas para a Franca, Itália,
Inglaterra, Franca, Espanha. Na transição para o capitalismo emerge nova forma de
organização social e económicas, dá-se também um processo de valorização do Homem.

As transformações ocorrem no sector humano:

+ 1300 Dante escreve a “Divina Comédia”

+ 1475-1478 - Leonardo da Vinci pinta o ”quadro da Assunção”


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+ 1513 – Maquiavel escreve o “Príncipe”, obra clássica da política

 Alguns marcos que definiram o avanço da ciência:


 1543 – Copérnico mostra que o nosso planeta não é o centro do universo
 1610 Galileu estuda a queda dos corpos, realizando as primeiras experiências da
física moderna – avanço que principia o inicio da sistematização do conhecimento
científico - começam a estabelecer-se métodos e regras básicas para a construção de
conhecimento científico.

René Descartes (1596-1659)

Um dos filósofos que mais contribuiu para o avanço da ciência postula a separação entre a
mente (alma, espírito) e corpo, afirmando que o Homem possui uma substancia material e
uma substancia pensante e que o corpo, desprovido do espírito era somente uma máquina -
dualismo corpo e mente que torna possível o estudo do corpo humano morto, o que era
impensável nos séculos anteriores (o corpo era considerado sagrado pela Igreja, por ser a sede
da alma) e dessa forma possibilita o avanço da anatomia e da fisiologia que inicia a contribuir
muito para o progresso da Psicologia.

1.4. A Origem da Psicologia Científica


No século XIX, o papel da ciência torna-se necessário devido ao crescimento na ordem
económica – CAPITALISMO que traz a INDUSTRIALIZAÇÃO. A ciência deve dar novas
respostas e soluções práticas no campo da técnica. Para melhor compreensão, analisemos as
características da sociedade nalgumas fases do desenvolvimento influenciadas pela política
social e económica:

1.4.1. PERÍODO FEUDAL:

Caracteriza-se pela:

 Produção de subsistência
 Relação Senhor feudal – servo
 Sociedade estável
 Papéis eram baseados no sexo
 Hierarquia – base de verdade; centralização do poder;

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Esse mundo fechado é o universo finito, reflectia e justificava a hierarquia social
inquestionável do fundo.

1.4.2. PERÍODO CAPITALISMO

Põe o mundo em movimento com a necessidade de abastecer os mercados e produzir mais


algumas características desta fase:

 Buscou nova matéria – prima na natureza


 Criou novas necessidades; questiona as hierarquias para derrubar a nobreza e o
clero dos seus lugares há séculos estabelecidos
 O universo também foi posto em movimento, o sol tornou-se o centro do universo,
que passou a ser visto sem hierarquização;
 Superou-se o antropocentrismo (o Homem – centro do universo), passando a ser
visto um ser livre, capaz de construir o futuro;
 O servo, liberto do seu vínculo com a terra pode escolher seu trabalho e seu lugar
social
 O capitalismo torna todos os Homens consumidores, em potências das mercadorias
produzidas
 O conhecimento tornou-se livre, independente da fé, os dogmas da Igreja foram
questionados e a racionalidade do Homem apareceu como a grande possibilidade de
construção do conhecimento.

1.4.3. A BURGUESIA:

O Capitalismo traz como consequência a formação de uma nova classe, a burguesia, com as
seguintes características:

 Disputa o poder e surge como nova classe social e económica


 Defende a emancipação do Homem para emancipar-se também
 Era preciso quebrar a ideia do universo estável, para poder transformá-lo, era
preciso questionar a NATUREZA para viabilizar a sua exploração em busca de
matérias-primas – condições materiais para o desenvolvimento da ciência moderna:
CONHECIMENTO COMO FRUTO DA RAZÃO
 Possibilidade de desvendar a natureza e leis de observação rigorosa e objectiva –
não mais submetidos a leis ou dogmas religiosos ou pela actividade eclesial e
portanto sentiu-se a necessidade da ciência:

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A possibilidade de realizar trabalhos de pesquisa mais aprofundados, que exigiam algum tipo
de suporte financeiro (só possível com a classe dos burgueses) fez com que surgissem novos
contornos nas diversas áreas do saber. São exemplos disso:

 Surge Charles DARWIN – enterra o antropocentrismo com a sua tese evolucionista.


(teoria da evolução das espécies – selecção natural).
 HEGEL – sublinha a importância da história para a compreensão humana – a
ciência avança e se torna referencial para o mundo – verdade procurada na ciência;
a própria filosofia adapta-se aos tempos.
 Augusto COMTE - com o seu Positivismo, postula a necessidade de maior rigor
científico na construção dos conhecimentos nas ciências humanas, desse modo
propunha o método das ciências naturais: física, como modelo de construção do
conhecimento

Consequências

Na metade do século XIX temas e problemas até então estudados pelos filósofos passam a ser
estudados pela fisiologia, neurofisiologia em particular – formulação de teorias dobre o SNC,
demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram produtos
deste sistema.

O capitalismo trouxe uma “máquina” - criação fantástica que determinou a forma de ver o
mundo ( o mundo visto como uma máquina), o mundo como um relógio, todo o universo
como se fosse uma máquina, isto é, que podemos conhecer o seu funcionamento, a sua
regularidade, as suas leis, uma forma de pensar que atingiu as ciências humanas, facto que,
para se conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender o mecanismo e o
funcionamento da máquina de pensar do Homem: o CÉREBRO!

Assim a psicologia começa a trilhar os caminhos da fisiologia, da neuroanatomia e da


neurofisiologia.

Resultado disso, em 1846, a Neurologia descobre que a doença mental é fruto da acção
directa ou indirecta de diversos factores sobre as células cerebrais; Neuroanatomia descobre
que a actividade motora nem sempre está ligada á consciência para não estar necessariamente
na dependência dos centros cerebrais superiores, p.ex. quando alguém queima a mão na chapa
quente, primeiro tira a mão para depois perceber o que aconteceu, fenómeno denominado
reflexo, e o estímulo que chega a medula espinhal, antes de chegar aos centros cerebrais
superiores, recebe uma ordem para a resposta, que é tirar a mão; caminho natural dos

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fiosologistas, estudo da fisiologia do olho e a percepção das cores – fenómenos psicológicos.
Foram importantes os estudos do psicofisiologista russo Ivan PAVLOV sobre o reflexo
condicionado.

Em 1860 é formulada uma lei no campo da psicofísica, a lei de Fechner–Weber que


estabelece a relação estímulo – sensação, permitindo a sua mensuração – aumento da
intensidade de uma luz e o seu efeito – com esta lei os fenómenos psicológicos vão
adquirindo status científicos, porque, para a concepção da ciência da época o que não era
mensurável, não era possível de estudo científico

1. Ciência e Senso Comum

Antes de iniciarmos o estudo da Psicologia (nosso propósito neste trabalho), mostra-se


importante apresentarmos de forma breve uma visão básica sobre ciência, para que possamos
compreender a Psicologia como ramo científico.

Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um facto ou fenómeno qualquer.


O conhecimento não nasce do vazio mas sim das experiências que acumulamos em nossa vida
quotidiana, através de experiências, dos relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e
artigos diversos.

Entre todos os animais, nós, os seres humanos, somos os


únicos capazes de criar e transformar o conhecimento;
somos os únicos capazes de aplicar o que aprendemos, por
diversos meios, numa situação de mudança do
conhecimento; somos os únicos capazes de criar um
sistema de símbolos, como a linguagem, e com ele registar
nossas próprias experiências e passar para outros seres
humanos. Essa característica é o que nos permite dizer que
somos diferentes dos gatos, dos cães, dos macacos, dos
leões, e outros animais considerados irracionais;

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precisamente porque não têm a capacidade pensante, que
caracteriza o homem.
Ao criarmos este sistema de símbolos, através da evolução da espécie humana, permitimo-nos
também ao pensar e, por consequência, a ordenação e a previsão dos fenómenos que nos
cerca.

Existem diferentes tipos de conhecimentos:

1.1. O senso comum: conhecimento da realidade


Existe um modo de vida que pode ser entendido como a vida por excelência: é a vida do
quotidiano. É no quotidiano que tudo flúi, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos,
que sentimos a realidade.

Quando fazemos ciência baseamo-nos na realidade


quotidiana e pensamos sobre ela. O conhecimento do
quotidiano (senso comum) e o conhecimento científico
aproximam-se e afastam-se contemporaneamente.
Aproximam-se enquanto a ciência se refere á realidade e
afastam-se enquanto a ciência abstrai a realidade para
compreender melhor, isto é, transforma a realidade em
objecto de investigação permitindo a construção do
conhecimento científico sobre o real.
Sem o conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativa e erros, a nossa vida quotidiana não
teria o devido sentido, de vida.

A esta experiência acumulada no quotidiano chamamos de


senso comum, ou seja, é o conhecimento intuitivo,
espontâneo, de tentativas e erros que facilitam a nossa vida

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no dia-a-dia. (imaginemos ter que pensar sempre que atirando algo da janela cai; que
o carro em velocidade se aproxima, etc.). Esta experiência torna-se hábito e passa de geração
em geração e assim o senso comum vai construindo suas «teorias» médicas, físicas,
psicológicas (poder de persuasão de um vendedor, um amigo que escuta bem, etc.).

O conhecimento intuitivo não é suficiente para as exigências do desenvolvimento humano;

Os gregos, por volta do século 4 a.C. já dominavam complicados cálculos matemáticos, ainda
hoje difíceis, mas eles precisavam entender para resolver problemas arquitectónicos, navais,
agrícolas, etc. Com o tempo tais conhecimentos especializaram-se, até atingirem um nível de
satisfação que permitiu ao Homem de atingir a lua. A este tipo de conhecimento, que
definiremos com mais cuidado logo adiante, chamamos de Ciência. Deste modo foram-se
constituindo várias áreas de conhecimento, entre as quais podemos citar:

 Filosofia - Forma mais geral de perceber e compreender a natureza.. A especulação


em torno deste tema forneceu um corpo de conhecimentos denominados de filosofia.
A Filosofia é fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo
sobre fenómenos, gerando conceitos subjectivos. Busca dar sentido aos fenómenos
gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência. Leis mais gerais sobre
os componentes do conhecimento, por exemplo os gregos se preocuparam com a
origem e o significado da existência humana
 Religião - Formulação de um conjunto de conhecimentos sobre a origem do Homem,
seus mistérios, princípios morais. A fonte destas tradições e crenças é a Bíblia (registo
do conhecimento religioso judaico-cristão), base da conduta para muitos, diferente da
história. É um conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode,
por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças
de cada indivíduo.
 Ciência (Conhecimento Científico) - procura conhecer, além dos fenómenos, suas
causas e leis. É o conhecimento racional, sistemático, exacto e verificável da
realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia
científica.
 Arte - traduz a emoção, o belo e a sensibilidade, na pré-história encontramos
desenhos do corpo humano nas paredes das cavernas que exprimiam tal sensibilidade
e emoção.
 Ética (moral) - valores morais, normas de conduta.

Ciência, Arte, Ética, Religião, Filosofia, e Senso Comum são domínios do conhecimento
humano. Nosso objectivo é definir a Psicologia como ciência. Para tal constitui imperativo
analisar o que é ciência?”, para que possamos compreender a psicologia como ciência.

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1.2. Evolução da Ciência Psicológica

1.2.1. Os Grandes Períodos de Evolução da Psicologia

Pode-se considerar três grandes períodos/fases da evolução da psicologia.

i. Fase filosófica
É a fase relacionada com a Ética e a Filosofia. Compreendia o estudo da natureza dos
reflexos da mente e da alma. Era um saber especulativo, de carácter racional. Os
filósofos explicavam os fenómenos da natureza (formação de cosmos e origem do
próprio Homem) de forma mitológica. O saber psicológico estava envolto à vasta área do
conhecimento filosófico, portanto, classificado como especulativo, por não poder provar
suas conclusões.

ii. Fase pré-científica (psicologia empírica)


Dedicava-se ao estudo dos factos psíquicos que eram interpretados com base na
experiência do dia-a-dia, isto é, do quotidiano vivido. É nesta fase que se abre o caminho
para a cientificidade da psicologia. A interpretação e consequente conhecimento dos
fenómenos psíquicos eram fundamentadas em parte pelo saber filosófico, influenciado
pela experiência quotidiana (social e reflexão sistemática) dos cientistas.

ii. Fase científica


Estuda os fenómenos e processos psíquicos, descreve-os, explica e
estabelece as relações causa-efeito. Nesta fase a psicologia torna-se
ciência autónoma: define o seu objecto de estudo, métodos e
técnicas próprias, leis e princípios que regem o estudo da
psicologia, utiliza uma linguagem rigorosa e determina os seus
objectivos e finalidades.
Contribuiu de forma marcante para a cientificação da Psicologia a institucionalização,
pelo psicofisiologista alemão Wilhelm Wundt, em 1879, de um laboratório de Psicologia,
na cidade alemã de Leipzig. O laboratório permitiu o desenvolvimento de métodos de
estudo próprios, a reverificação do objecto de estudo, e consequente afirmação de seu

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conceito como ciência que estuda os fenómenos psíquicos, ou simplesmente, estudo do
comportamento.

1.5. A CIÊNCIA

Como as explicações mágicas, baseadas no senso comum, não bastavam para compreender os
fenómenos, os seres humanos evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que
pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a ciência, metódica, que procura sempre
uma aproximação com a lógica.

O ser humano é o único animal na natureza com


capacidade de pensar. Esta característica permite que os
seres humanos sejam capazes de reflectir sobre o
significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é
capaz de novas descobertas e de transmiti-las a seus
descendentes.

O desenvolvimento do conhecimento humano está


intrinsecamente ligado à sua característica de viver em
grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a
outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para
somar outro. Assim evolui a ciência.

Ciência: do latim «scire» que significa conhecimento, pode


ser definida como o conjunto de conhecimentos sobre factos
ou aspectos da realidade (objecto de estudo) expresso por
meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses
conhecimentos devem ser obtidos de forma:
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Características da Ciência

A Ciência é racional, sistemática, exacta e verificável da


realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação
baseados na metodologia científica. Podemos então dizer que
o Conhecimento Científico:

- É racional e objectivo.
- Atém-se aos fatos.
- Transcende aos fatos.
- É analítico.
- Requer exactidão e clareza.
- É comunicável.
- É verificável.
- Depende de investigação metódica.
- Busca e aplica leis.
- É explicativo.
- Pode fazer predições.
- É aberto.
- É útil (Galliano, 1979, apud Paiva Bello, 2004;s/p).

A ciência é um processo; facto que um novo conhecimento é


produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido
onde negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e
assim a ciência avança;
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A Ciência deve verificar a objectividade; suas as conclusões
devem ser passíveis de verificação e isentas de emoções, para
tornarem-se válidas para todos.

A Ciência possui objecto específico, linguagem


rigorosa/técnica; possui métodos e técnicas específicas,

O processo cumulativo do conhecimento, objectividade


fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em
muito o senso comum = características que permitem que
denominemos científico a um conjunto de conhecimentos.

Não existe um divisor nítido entre o conhecimento empírico e


científico, visto que a pesquisa científica não se realiza no
«vácuo intelectual», mas sempre está mergulhada em um
contexto – o conhecimento científico nasce, em última
instância, de problemas observados e acontecimentos
encontrados na experiência humana.

1.5.1. Objectivos/propósitos da Ciência

1. oferecer uma explanação objectiva, factual e útil do


universo. Neste caso, ela procura uma explanação
verificável dos fenómenos naturais e sociais, diferentes,
pois, da abordagem artística, religiosa, etc. (central)

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2. Controlar – controle prático da natureza e vida social
(ervas daninhas-agricultura; inseminação artificial,
clonação (pecuária)....
3. Descrever, compreender o mundo - curiosidade natural
do Homem, compreender o mundo, tornando-o inteligível
é uma necessidade, é possível compreender o mundo
somente se conhecemos a relações e inter-relações das
variáveis dos fenómenos estudados – como controlar a
malária, por exemplo, se não forem descritas as suas
características ou os seus sintomas, se não for conhecida
a causa e a evolução da doença?
4. Prever: a sistematização objectiva da ciência permite
uma generalização no espaço e no tempo e graças a este
objectivo muitas vidas tem sido salvas de terramotos,
maremotos, vendavais, etc. 1ª Aula

1.6. A PSICOLOGIA CIENTÍFICA

O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha de final do


século 19. Wundt, Weber e Fechner trabalharam juntos na
Universidade de Leipzing – seguiram para aquele País muitos
estudiosos dessa nova ciência; como o inglês Edward B.
Titchner e o americano William James.

Seus status de ciência é obtido a medida que se “liberta” da


filosofia, que marcou a sua história até aqui e atrai novos

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estudiosos e pesquisadores, que sob novos padrões de
produção de conhecimento, passam a:

 Definir seu objecto de estudo (comportamento, a vida


psíquica, a consciência)
 Delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de
outras áreas de conhecimento como a Filosofia,
Fisiologia
 Formular métodos de estudo deste objecto
 Formular teorias enquanto um corpo consistente de
conhecimento na área.
Wilhelm Wundt (1832-1926), da Universidade de Leipzig, na Alemanha, cria
um laboratório para realizar experimentações na área da psicofísiologia – por
este facto e da extensa produção teórica na área é considerado o Pai da
Psicologia Moderna, Psicologia científica.

Em resultados de seus estudos Wundt desenvolve a concepção de:

- Paralelismo psicofísico: aos fenómenos mentais correspondem fenómenos


orgânicos, por exemplo, estimulação física: picada de agulha na pele teria uma
correspondência na mente deste indivíduo.
- Método: para explorar a mente ou a consciência do indivíduo, Wundt, cria um
método que denomina introspecionismo – o experimentador pergunta ao sujeito,
especialmente treinado para a auto-observação, os caminhos percorridos no seu
interior por uma sensorial (a picada de agulha por exemplo).
A Psicologia científica nasce na Alemanha mas se desenvolve, cresce
rapidamente nos Estados Unidos como resultado de grande avanço
económico colocado na vanguarda do sistema capitalista. É ali que
surgem as primeiras abordagens ou escolas em psicologia, as quais

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deram origem ás enumeras teorias que existem actualmente. Essas
abordagens são:
O Funcionalismo, de William James (1842-1910)

O Estruturalismo, de Edward Titchner (1867 – 1927)

O Associacionismo, de Edward Thorndike (1874-1949)

1.7. As Primeiras Abordagens Teóricas da Psicologia


As primeiras abordagens ou escolas em psicologia, as quais deram origem às enumeras teorias
que existem actualmente são consideradas como tendo sido as seguintes:

O Funcionalismo (Escola funcionalista)


Primeira sistematização genuinamente americana de conhecimentos em Psicologia – numa
sociedade que exigia o pragmatismo para o seu desenvolvimento económico acaba por exigir
dos cientistas americanos o mesmo espírito. Portanto, para a escola funcionalista de James
importa responder “o que fazem os homens e “por que o fazem”. Para responder a isto, James
elege a consciência como o centro de suas preocupações e bisca a compreensão do seu
funcionamento, na medida em que o Homem usa para adaptar-se á realidade.

O Estruturalismo
Começa com Wundt e continua com Titchner, os quais definem como o objecto de estudo da
psicologia também mas focalizando os seus aspectos estruturais, isto é os estados elementares
da consciência como estrutura do SNC. Inaugurada por Wundt mas somente o seu seguidor
Titchner usa o termo estruturalismo pela primeira vez para diferenciá-lo do funcionalismo. O
método de observação de Titchner, assim como o de Wundt, é o introspeccionismo, e os
conhecimentos psicológicos produzidos são eminentemente experimentais, isto é, produzidos
a partir do laboratório.

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O Associacionismo
Edward Thorndike, primeiro fundador de uma teoria de aprendizagem na Psicologia de
aprendizagem na Preocupação da aplicação prática da psicologia e não só especulação
filosófica.

Associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por processo de


associação das ideias mais simples ás mais complexas. Assim para aprender algo complexo
precisamos de aprender as ideias simples associadas aquele conteúdo.

Thorndike formula a “lei de efeito” que seria de grande importância na psicologia


comportamentalista. De acordo com essa lei “todo o comportamento de um organismo vivente
tende a se repetir, se nós o recompensarmos (efeito) o organismo assim que repetir/emitir o
comportamento. Por outro lado o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for
castigado (efeito) após a sua ocorrência. (ex. se apertarmos o botão da rádio formos
premiados pela música, em outras oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem como
generalizaremos essa aprendizagem para outros aparelhos, como toca discos, gravadores, etc.

1.8. As Principais Teorias da Psicologia do Século XX

A psicologia enquanto ramo da Filosofia estuda a alma, a psicologia científica que Wundt
preconiza, a “psicologia sem alma”, o conhecimento científico produzido no laboratório com
uso de instrumentos de medição/mensuração. Da subordinação á Filosofia a Psicologia se liga
á medicina, usando o método de investigação das ciências naturais como critério rigoroso da
construção do conhecimentos.

A psicologia científica, que se constituiu de 3 escolas


(Associacionismo, Estruturalismo e Funcionalismo) foi substituída
neste século XX, por novas Teorias.

As três mais importantes tendências teóricas da psicologia neste


século consideradas por enumeros autores são: Behaviorismo,
Gestaltismo e a Psicanálise.

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1.8.1. O Behaviorismo ou Comportamentalismo

O Comportamentalismo, ou Teoria S-R do inglês Stimuli – Response, nasce com o americano


Watson e se desenvolve na América em função das aplicações práticas, tornou-se importante
por ter definido o facto psicológico de modo concreto a partir da noção de comportamento
(behavior).

Em 1913, o americano John Watson numa revista intitulada “Psicologia – como os


behavioristas a vêm”, inaugura o termo behaviorismo. Behavior, comportamento postulado
por Watson como objecto da Psicologia, dá á psicologia a consistência procurada por séculos:
objecto observável, mensurável cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes
condições e sujeitos.

O carácter observável do objecto contribui para o alcance de status da ciência da psicologia,


ou seja para a ruptura “definitiva” com a filosofia. Watson defende uma perspectiva
funcionalista para a psicologia, isto é, o comportamento deveria ser estudado como função de
certas variáveis do meio.

Watson busca uma psicologia sem alma e sem mente, livre de conceitos mentalistas e
métodos subjectivos e que tenha a capacidade de prever e controlar.

R – S + para referir-se ao que o organismo faz e as variáveis ambientais que interagem com o
sujeito

Comportamento – unidade básica de descrição = ponto de partida para o desenvolvimento da


ciência do comportamento

O comportamentalismo nega o estudo da consciência: o comportamentalismo representa uma


reviravolta radical no que se refere ao objecto de estudo da psicologia, do momento em que se
limita ao estudo do comportamento observável e nega o estudo da consciência. Watson
afirmou que a psicologia deve considerar-se a ciência do comportamento, pois a
“consciência” e a alma são objectos de pesquisa inconsistentes para uma ciência empírica.
Segundo Watson, a tarefa da psicologia consistia no estudar as relações cientificamente
determinadas entre as situações estimulantes (S) e a reacção provocada (R):

 Paradigma comportamentalista: Estimulo (S) Resposta (R)


Estudadas as conexões, os seus mecanismos, e identificadas as leis, pode-se explicar cada
uma das reacções como resultado de um determinado estímulo e poder prever qual reacção
pode seguir uma determinada situação estimulante.

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Os comportamentalistas admitem entre o estímulo e a resposta esteja presente a actividade do
cérebro e do SNC, mas afirma que tal actividade está fora do alcance e que a psicologia não
deve interessar-se daquilo que acontece dentro do organismo (processos neurofisiológicos,
processos inconscientes, etc.). Concessão esta dita “black box” sustenta que a psicologia
deve interessar-se daquilo que entra (input) na “caixa preta” e daquilo que sai (output) sem
ter que se ocupar necessariamente da complexa actividade desenvolvida pelo cérebro no seu
interior. Deste modo os comportamentalistas reduzem o âmbito da psicologia somente ao
estudo do comportamento observável mediante o uso dos métodos objectivos de verificação,
estudando a regularidade do comportamento independente dos correlatados neurofisiológicos.

“Black Box”

Estimulo(R) Resposta (R)

Processos neurofisiológicos

Processos inconscientes

O quadro negro representa a “blac box” ou seja simboliza tudo aquilo que não é do interesse
para o estudo do psicólogo comportamentalista.

1.8.1.1. Análise experimental do comportamento

Frederik SKINNER (1904-1990), americano, é considerado o mais


importante sucessor de Watson. A sua teoria tem até hoje uma influência.
Inaugura o behaviorismo radical, termo cunhado pelo próprio Skinner em 1945,
para designar uma filosofia da ciência do comportamento (que ele se propôs
defender) por meio da análise experimental do comportamento. Algumas noções importantes
no behaviorismo de Skinner são:

COMPORTAMENTO OPERANTE: base da corrente formulada por Skinner, entendendo


este conceito é necessário retroceder aos conceitos de comportamento reflexo ou respondente.

1) Comportamento respondente: usualmente chamada de “não voluntário”e inclui as


respostas que são (“produzidas”) por estímulos antecedentes do ambiente ---
interacção estímulo –resposta (ambiente – sujeito) incondicionadas (não dependem
da aprendizagem (limão -salivação; ou as famosas “lágrimas de cebola”, etc.

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Reflexos condicionados – estímulos acompanhados/pareados com outros que produzem
resposta.

2) Comportamento operante ( tem efeito sobre o mundo: ex: tocar um instrumento


musical)

Nos anos de 1930, na Universidade de Haward (EUA),


Skinner desenvolvendo o seu trabalho de estudo do
comportamento respondente, teoriza sobre um outro tipo
de relação indivíduo-ambiente, a qual viria a ser nova
unidade de análise da ciência: comportamento operante, o
qual teria a maioria das nossas interacções com o ambiente
– comportamento operante opera sobre o mundo, por
assim dizer, quer directa quer indirectamente e abrange
um leque amplo de actividade humana, da actividade do
recém nascido (balbuciar, acatar-se a um objecto, etc.) aos
mais sofisticados apresentados pelo adulto.
Para Keller o comportamento operante inclui todos os movimentos de um organismo dos
quais se possa dizer que, em algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo em
redor. O comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer directa, quer
indirectamente”.

1.8.2. A Psicologia da Forma: A Escola da Gestalt

Gestalt é um termo alemão que se pode traduzir como «forma»; «figura»;


«configuração»; entendendo também um aspecto de organização da que se entende
melhor quando se fala da percepção visível;

As principais figuras da Gestalt são os alemães: Max Wertmeir, Wolfgang Kohler e


Kurt Kofka.

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A Gestalt nega decompor a consciência nos seus elementos mais elementares, nega a
concepção e métodos que descendem deste estudo e que tendem a uma teoria elementista

Os psicólogos da gestalt estudam em particular os processos cognitivos em particular a


percepção visual e o pensamento

Conceito fundamental da psicologia da forma é o aforisma: «o todo é mais da soma das


partes» atravessa todos os escritos da Gestalt

A B

As leis da percepção visiva: são leis sobre a constituição das totalidades perceptivas que
eram chamadas Gestalten ou factores estruturantes. Essas leis afirmam que as partes de um
campo perceptivo tendem a construir outras gestalts (formas unitárias) que são de tal forma
coerentes e unidas, quanto mais os elementos são
1. Vizinhos (lei da aproximação)
2. Semelhantes (lei da semelhança)
3. Tendem a forma formas fechadas (lei do fechamento)
4. Dispostos ao longo duma mesma linha (lei da continuação)

1.8.3. A Psicanálise/Freud

Sigmund FREUD (1856-1939), médico vienense


(Áustria), alterou, radicalmente, o modo de pensar a
vida psíquica. Freud ousou colocar os “processos
misteriosos” do psiquismo”, suas “regiões obscuras”,

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isto é as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a
interioridade do homem, como problemas científicos. A
investigação sistemática destes problemas levou Freud á
criação da Psicanálise.

Freud emprega o termo Psicanálise pela primeira vez


em 1896. A Psicanálise constituiu-se como método e
como teoria, e ainda como terapia. Como método
consiste na interpretação e busca do significado oculto
daquilo que é manifesto por meio de palavras ou acções
e como teoria pode ser definida como um conjunto de
conhecimentos, sistematizados sobre o funcionamento
da vida psíquica.
Freud, como hebreu, herdou uma rica tradição do pensamento hebraico, e por outro lado, de
formação clássica (filosofia antiga) e perito linguista, ele veio a contacto com a literatura
antiga e moderna. Sobre esta base assentaram-se os seus estudos de medicina e ciências
naturais, no campo da fisiologia, neurofisiologia e farmacologia. Teve o mérito de ter
descoberto a sexualidade (base fundamental de seus estudos), embora este fosse um tema
debatido antes da publicação do sua obra intitulada ”os três ensaios sobre a teoria sexual”.

Freud postula o inconsciente como objecto de estudo da Psicologia, da mesma forma que
quebra a tradição da psicologia como uma ciência da consciência e da razão.

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1.8.3.1. A Teoria da Personalidade segundo Freud

Freud considerava a personalidade constituída de três


grandes sistemas/estruturas cada um com sistemas
próprios mas integrados: ID, EGO e SUPEREGO.

O Id

O ID ou incosciente (infra-eu) é o núcleo primitivo da


personalidade. Não sofre as influências das forças
sociais e conscientes que forma o indivíduo. A sua
preocupação é satisfazer as necessidades instintivas de
acordo com o princípio de prazer. O Id é a estrutura
original básica e mais central. As leis lógicas do
pensamento não se aplicam ao Id O Id é a sede das
pulsões e dos desejos recalcados e representações
recalcadas (recalcamento = processo mental pelo qual
pensamentos insuportáveis ao eu consciente são
reprimidos) (agressivas e sexuais). Não conhece juízos
de valor, nem o bem do mal, nenhuma moralidade. Os
conteúdos do Id são quase todos inconscientes, assim

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como o material que foi considerado inaceitável pela
consciência. O Id não suporta energia de muita tensão e
o seu objectivo é reduzir a tensão dolorosa aos baixos
níveis possíveis. O Id é baseado no princípio do Prazer.

Ego (Eu)

O Ego é a consciência propriamente dita. É a


personalidade enquanto actua no momento presente.
Caracteriza-se pela actividade consciente (percepções
exteriores e elaboração de processos intelectuais) e a
capacidade para estar em contacto com a realidade
exterior. O Ego é dominado pelo princípio da realidade
(pensamentos objectivos, actos socializados, actividade
racional e verbal). Também caracteriza-se pelo
estabelecimento de mecanismos de defesa contra as
invasões da pulsão. As funções básicas do Ego são:
percepção, memória, sentimento, pensamento. Em
suma, o Ego tem a função de ajustar o homem ao meio
da realidade física e social em que vive. É um

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instrumento de adaptação do indivíduo ao meio. O Ego
é baseado no princípio do Realidade.

O Ego, orientado à realidade do mundo que o circunda,


é a chave da adaptação que procura de mediar as
pressões ditadas pelo princípio de prazer, a busca do
prazer e da gratificação imediata, com as exigências
impostas pelo principio da realidade, provenientes do
mundo externo. O Ego utiliza a angústia como sinal de
alarme diante dos perigos do mundo interno (pulsional),
por outro lado, organiza mecanismos de defesa que
consentem de moderar as exigências do Id com aquelas
do mundo externo.

Os mecanismos de defesa: são mecanismos que o


indivíduo usa para deformação da realidade, ou melhor,
são processos realizados pelo ego e são inconscientes,
isto é, ocorrem independentemente da vontade do
indivíduo. Os mais comuns são: Recalcamento,

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formação reactiva, regressão, projecção,
racionalização, sublimação, negação.

Super-Ego (super-eu)

O superego é o resultado da interiorização de censuras


que a criança faz suas (identificação) e que lhe vêm dos
pais ou do meio ambiente. O conteúdo do superego
refere-se a exigências sociais e culturais. Representa o
ideal do que é real. É defensor dos impulsos rumo a perfeição. Origina-se com o
complexo de Édipo, a partir da interiorização das proibições, dos limites e da autoridade. O
superego é o depósito das normas morais e modelos de conduta. As suas funções são a
consciência, a auto-observação e a formação das ideias. Podemos afirmar que o Superego é
baseado no princípio da Moralidade/sociabilidade.

A combinação das três camadas, segundo Freud constitui factor importante para a formação e
estruturação da Personalidade.

As investigações sobre os conteúdos do Id, conduziram Freud à formulação duma doutrina


geral das pulsões nas quais a libido exprime-se percorrendo as zonas eróticas, cada uma das
quais representa uma determinada fase de evolução (os estádios do desenvolvimento
psicossexual). O desenvolvimento da libido pode acontecer naturalmente ou enfrentar
bloqueios por interferência da fixação o da regressão que bloqueiam o desenvolvimento
psíquico e o reconduzem a fases precedentes, com consequências na formação de sintomas
nevróticos. Esta postulação chamou-se de teoria das pulsões.

1.8.3.2. O princípio do Prazer e o princípio da Realidade

Contudo, segundo Freud, o bebé no nascimento é dominado duma única estrutura de


personalidade, o Id, fonte originária de todas as motivações e energias. Ele procura de realizar
esta descarga de energia sem preocupar-se daquilo que é realizável o socialmente aprovável.

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O seu modo de funcionamento e regulado pelo principio de prazer, que procura a
gratificação imediata e completa das pulsões. Mas desde o inicio dos primeiros meses de vida
estas tentativas de obter uma gratificação imediata são frustradas ou punidas. Estas
experiências contribuem para a formação do ego (eu), o qual é governado pelo princípio de
realidade.

1.9. Conceitos de Psicologia


O termo Psicologia é de origem grego-latino, e etimologicamente pode traduzir-se no
seguinte: psiychè = alma; lógia = logo s= estudo ou ciência. Assim, a palavra Psicologia
significa estudo da alma ou ciência da alma, ciência que estuda as ideias, sentimentos, e
determinações cujo conjunto constitui o espírito humano.

Esta definição permaneceu até aos meados do séc. XIX devido ao seu desenvolvimento
condicionado com a Filosofia.

Como uma ciência autónoma com um objecto de estudo e métodos próprios de


investigação, ela é definida como ciência que estuda o comportamento do homem e dos
outros animais.

A psicologia supõe-se a outras ciências sociais, especialmente a sociologia. Mas,


enquanto a sociologia concentra sua atenção nos grupos, processos grupais e forças
sociais os psicólogos sociais concentram-se nas influências que os grupos e a sociedade
exercem sobre os indivíduos. A ênfase da psicologia está no ser humano a diferença dos
fisiólogos (biologia) que se concentram no sistema nervoso, cérebro, memória, atenção,
movimento, fome, impacto das drogas, etc.

Actualmente a psicologia é definida como a ciência que se concentra no comportamento


e nos processos mentais – de todos os animais.

o Ciência: enquanto a ciência oferece procedimentos disciplinados e racionais para a


condução de investigações válidas e a construção de um corpo de informações
coerentes e coesas.
o Comportamento: abrange tudo o que pessoas e animais fazem: conduta, emoção,
formas de comunicação, processos de desenvolvimento.
Assim, o objecto de estudo da Psicologia é o comportamento dos seres vivos
especificamente homens e animais, isto é, a Psicologia estuda a resposta ou conjunto de
respostas observáveis de um individuo ou de um grupo, a uma situação ou estímulo.

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o Processos mentais - incluem formas de cognição ou formas de conhecimento, de
entre elas: perceber, participar, lembrar, raciocinar, ou resolver problemas. Sonhar,
fantasiar, desejar, ter esperança são também processos mentais.

1.9.1. Importância da Psicologia


Por ser uma ciência multiperspectiva e se aplicar em todas as áreas da vida humana, tais
como no Ensino, na Saúde, na Família, no Comércio, no Desporto, etc., a Psicologia
possui uma vasta importância.

 No ensino permite ao professor conhecer as particularidades individuais dos


alunos para melhor planificar e administrar as aulas, identificar e resolver os
problemas de aprendizagem segundo o desenvolvimento dos alunos e fazer uma
avaliação do processo de ensino e aprendizagem.

 Na saúde permite ao profissional de saúde estabelecer uma melhor comunicação


com o paciente e vice-versa.

 Para os governantes a Psicologia permite uma óptima comunicação com as


massas.

 Também permite ao Homem conhecer-se a si próprio e a natureza de


diferenciação dos outros Homens; ajuda o Homem a resolver os seus problemas s
do dia-a-dia, conhecer a forma de agir de cada um, as tendências
compartimentais, as atitudes, as motivações dos outros Homens.

1.9.2. Objecto de Estudo da Psicologia


O objecto ou assunto de estudo de uma determinada ciência é a realidade ou o aspecto da
realidade que ela se propõe a estudar, descrever ou explicar.

Para compreender o objecto de estudo da Psicologia é preciso compreender a


diversidade de objectos definidos por várias correntes psicológicas.

A diversidade dos objectos de estudo da psicologia


 Behaviorismo ou comportamentalismo: segundo estes teóricos o objecto de estudo da
Psicologia é o comportamento;
 Psicanálise: para esta escola o objecto de estudo da psicologia é o inconsciente.
 Outros psicólogos: o objecto de estudo da psicologia é a consciência ou ainda a
personalidade humana.

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Razões da dificuldade de definição do objecto

 Por ser uma área de conhecimento cientifico que se constituiu recentemente (final do
séc. 19) não obstante a sua existência dentro da filosofia como preocupação humana;
 Outro motivo que dificulta a definição do objecto de estudo da Psicologia é o facto do
cientista – o pesquisador confundir-se com o objecto a ser pesquisado – a concepção
do Homem contamina inevitavelmente a sua pesquisa;
 Em terceiro lugar esta dificuldade justifica-se pelo facto dos fenómenos psicológicos
serem tão diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação, não
podem ser sujeitos aos memos padrões de descrição, medida, controle e interpretação.

1.9.3. A Subjectividade como objecto de estudo da Psicologia

Considerando toda esta dificuldade na definição única do objecto da psicologia, podemos


considerar como objecto a subjectividade.

A identidade da Psicologia é o que diferencia dos demais ramos das ciências humanas, e pode
ser obtida considerando que cada um desses ramos invoca o Homem de maneira particular
(economia, política, história) trabalham essa matéria-prima de maneira particular,
construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dela. A psicologia colabora com
o estudo da subjectividade: é essa a sua forma particular, específica de contribuição para a
compreensão da totalidade da vida humana.

A subjectividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai construindo


conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. É
a síntese que nos identifica por ser única e nos igual a medida em que os conhecimentos que a
constituem são experienciados no campo comum da objectividade social. É o mundo de
ideias, significados, emoções, construído inteiramente pelo sujeito a partir das suas relações
sociais, suas vivências e sua constituição biológica. É a fonte das manifestações afectivas. A
subjectividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar, e de fazer de cada
um. É o nosso modo de ser.

Entretanto a subjectividade não é inata. Ela se constrói, apropriando-se do material do


mundo social e cultural.

A subjectividade em Psicologia é vista em dois níveis: subjectividade social e individual. A


subjectividade individual representa o espaço pessoal dos sentidos que se atribui ao mundo
real (valor, cultura, experiência, ideias) e a subjectividade social é comparável com o sentido
que a sociedade atribui ao mundo real.
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1.9.3. Estrutura e Tarefas da Psicologia
Psicologia industrial: estuda a estruturação do trabalho, a conduta dos trabalhadores, a
selecção dos trabalhadores, o incremento da produção e da produtividade, a avaliação dos
funcionários e as greves dos trabalhadores.

Psicologia pedagógica (escolar) ou de aprendizagem: estuda as leis psicológicas de ensino


e de educação do Homem. Estuda a formação do raciocínio dos alunos, os problemas do
governo do processo de assimilação dos meios e dos hábitos da actividade intelectual, revela
os factos psicológicos que influenciam o processo de aprendizagem, as relações dentro da
colectividade de alunos, as diferenças psicológico individuais dos alunos, as particularidades
psicológicas da educação e do ensino das crianças com desenvolvimento psiquismo anormal.

Em suma: estuda a problemática psicológica no quadro escolar. Tenta compreender os


problemas de adaptação, de relações e de aprendizagem.

Psicologia clínica: dedica-se a prevenção e terapia dos desajustamentos de conduta qualquer


que seja o seu grau de gravidade.

Psicologia social: estuda a conduta humana na perspectiva de grupos de colectividades.


Investiga o processo de interacção entre membros do grupo e as influências grupais sobre a
dinâmica dos individuais.

Psicologia jurídica: analisa as questões psicológicas relacionadas com a realização do


sistema do direito

Psicologia militar: estuda a conduta do Homem no campo de combate, os aspectos


psicológicos das relações entre os chefes e os subalternos, os problemas psicológicos de uso
de materiais de guerra.

Psicologia experimental: estuda os princípios psicológicos básicos; sensação, percepção,


atenção, motivação, memória, pensamento, pensamento e (emoções) em situação laboratorial
visando a solução de problemas práticos de dia-a-dia da humanidade.

Psicologia do desporto: analisa as particularidades psicológicas do indivíduo e da actividade


dos desportistas, as condições e os métodos da sua preparação psicológica, os parâmetros
psicológicos de preparação e da capacidade do desportista e os factores psicológicos
relacionados com a organização de competições.

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1.9.4. Métodos da Psicologia
O estudo da Psicologia como ciência pressupõe o uso de métodos, que possa facilitar a análise
do seu objecto de estudo, os fenómenos psíquicos (memória, percepção, a sensação, o
pensamento, assim como a imaginação) que numa só linguagem são reduzidos em
comportamentos.

Método: na perspectiva psicológica é o caminho ou via utilizado para esclarecer as


manifestações ou causas de um comportamento, de manifestações psíquicas. Em psicologia, o
conjunto dos métodos específicos engloba todos aqueles que frequentemente são usados pelos
psicólogos como:

a) Introspecção ou método introspectivo


Descrição cuidadosa dos fenómenos psíquicos que os estados da consciência acusavam, mas
feita pelo próprio indivíduo. Consiste na orientação da consciência reflexiva para aquilo que
se passa em nós, ou seja, concentração do espírito sobre si mesmo para analisar os fenómenos
que o indivíduo experimenta.

É a observação e a descrição que o indivíduo faz dos seus estados psíquicos. Supõe um
desdobramento do sujeito que é ao mesmo tempo observador e observado. O sujeito é o
próprio objecto.

A introspecção pode ser pessoal ou laboratorial. A introspecção pessoal consiste na auto-


análise, isto é na observação interior e análise. Na introspecção laboratorial o experimentador
(sujeito) estabelece as condições de experiência, anota e interpreta os resultados.

b) Extrospecção ou método extrospectivo (de Expressão)


Consiste na observação, descrição e explicação dos comportamentos dos outros. Portanto, as
manifestações exteriores do sujeito, são devidamente anotadas por um observador.

c) A observação (Método de observação)


A observação como método em psicologia consiste na percepção directa ou indirecta,
atenciosa, racional, planificada e sistemática, das manifestações do comportamento nas suas
condições naturais, com o objectivo de dar uma explicação científica da sua natureza.

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d) A experimentação (Método experimental)
Consiste na relação entre o objecto de investigação e a situação experimental com o objectivo
de descobrir a natureza dessa relação e as variáveis das quais ela depende. Pressupõe a
possibilidade de intromissão activa do pesquisador na actividade da pessoa submetida a
experiência.

É a actividade na qual o investigador provoca o fenómeno a estudar e controla os possíveis


factores e condições que podem incidir na sua produção e desenvolvimento com o objectivo
de conhecer a natureza interna do processo psíquico e desta forma descobrir as leis objectivas
que o explicam.

A experimentação como método em psicologia usa-se geralmente em estudo de casos ao nível


animal porque é difícil manipular o comportamento humano, por razões morais, éticas até
mesmo razões ligadas á saúde.

e) Método estatístico
Usa-se para fazer o estudo ao nível dos grupos maiores, isto é, para a compreensão de
fenómenos de massa.

f) Método de entrevista
É uma conversação entre investigador e o sujeito investigado através da qual o investigador
obtém informações sobre o psiquismo. Geralmente se utiliza para enriquecer e aprofundar a
informação obtida a partir da observação e experimentação. Ela permite a obtenção directa
dos dados. O investigador faz a pergunta e o entrevistado apenas responde a pergunta.

g) Questionário-Consiste num conjunto de perguntas cujo conteúdo e extensão


dependem dos objectivos da investigação e se aplica como substituto da entrevista
quando se trabalha com amostras grandes.

h) Método comparativo
Serve para fazer extrapolação de uma conclusão feita sobre o estudo de um animal para
relacionar ao Homem, permite a formação de um perfil comportamental.

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i) Método analítico ou psicanalítico
É um método interpretativo que busca o significado oculto, isto é, que torna claro o
significado daquilo que é manifestado por meio das palavras e acções.

j) Testes psicológicos
Consistem num sistema de tarefas, perguntas, seleccionadas, que tem como objectivo a
avaliação e comparação de sujeitos quanto a qualidade da personalidade, habilidades, nível de
desenvolvimento intelectual, efectuando-se esta comparação sobre a base de normas
estabelecidas previamente. Existem testes psicológicos para medir tanto aspectos cognitivos
como aspectos afectivos da personalidade.

Os testes psicológicos não consistem em obter dados novos que serão necessários para o
aprofundamento dos conhecimentos científicos, mas sim em estabelecer as qualidades
psicológicas da pessoa submetida á experiência para se analisar se corresponde ou não as
normas ou padrões revelados anteriormente

Este grupo de testes é utilizado para revelar a existência ou a ausência de certas capacidades,
aptidões, caracterizar com o máximo de precisão certas qualidades do indivíduo para exercer
certa profissão, etc. Podem ser: testes de inteligência, de capacidades, de aptidões, de
personalidade.

k) Métodos de estudo individual ou histórico do caso


Neste método são empregue muitos métodos e técnicas combinadas. Para se estudar o
comportamento de um indivíduo importa conhecer o maior número possível de factos sobre o
mesmo, a fim de que possam ser compreendidas as principais forças e influências que
orientam seu desenvolvimento.

O estudo do caso é frequentemente empregue pelo orientador educativo, visando ajudar os


alunos na solução de seus problemas. Podemos citar também alguns métodos particularmente
usados na Psicologia de desenvolvimento, que é um ramo da Psicologia; através do qual se
estuda o desenvolvimento humano.

l) Métodos longitudinais

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É um processo de observação que se faz no sentido de duração. Os estudos longitudinais têm
fornecido informações excelentes e decisivas para a explicação e compreensão do
desenvolvimento humano, quer relativamente ao crescimento físico e desenvolvimento dos
processos cognitivos, quer sobre a evolução da personalidade e a aquisição da linguagem.
Este método procura seguir os sujeitos, em intervalos de tempo convenientemente escolhidos,
para determinar a curva ou lei de crescimento e desenvolvimento. O Método longitudinal
estuda, no tempo, em períodos mais ou menos espaçados, o comportamento dos sujeitos ou
amostragens de sujeitos.

m) Métodos de corte ou de selecção transversal


Trata-se de um tipo de observação que pode estudar um grande número de sujeitos num
espaço de tempo relativamente curto. Por exemplo, no mesmo espaço de tempo, o
investigador pode observar diferentes ou vários aspectos da estrutura do sujeito em diferentes
faixas etárias através de amostragens significativas. Pode observar crianças dos 0 aos 2 anos,
de 1 aos 3 anos, dos 2 aos 4 anos sob um determinado número de aspectos da sua
personalidade e estabelecer curvas de desenvolvimento através de processos estatísticos de
cada um desses aspectos e do seu conjunto como integrantes ou componentes de uma mesma
estrutura, a estrutura da personalidade.

n) Métodos mistos (perspectiva eclética)


Esta perspectiva de uso de métodos é baseada particularmente no recurso a diversos e
variados métodos de estudo. São aplicados simultaneamente um tipo de método em
conjugação com outros métodos. Os métodos são usados em forma de complementaridade
entre um e outros, permitindo o alcance de vários resultados.

1.9.5. Relação da Psicologia com outras Ciências


A Filosofia, a Antropologia, a História, a Sociologia e a Biologia, estão entre as ciências que
contribuem para a compreensão do comportamento humano, em particular. Vejamos a
possível relação que se estabelece:

Filosofia: a correlação que existe entre o corpo e a alma na Filosofia vai permitir de modo
que a psicologia especule e forneça hipóteses empiricamente testadas. Neste sentido, pode-se
afirmar que a Filosofia forneceu á psicologia os primeiros quadros conceptuais.

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Antropologia: interessa-se pelas formas culturais dos povos. Esses dados são importantes
porque dão ao psicólogo a consciência da relatividade cultural dos valores, dos motivos, das
aspirações dos indivíduos, o que obriga a ter presente a influência da cultura no
comportamento do indivíduo.

História: permite-nos conhecer o desenvolvimento do Homem através dos tempos e


compreender a partir dessa evolução as características actuais das várias realidades sociais
que influenciam no comportamento do indivíduo.

Sociologia: estuda a sociedade, as instituições sociais, a estrutura dos grupos e o seu


funcionamento. Estuda, também, o comportamento humano na perspectiva dos grupos.

Biologia: estuda o funcionamento e a estrutura do Sistema Nervoso, as glândulas secretoras e


o seu funcionamento. O sistema nervoso capta estímulos, os organiza e emite respostas ou
actos de conduta e, a secreção de hormonas permite que Sistema Nervoso fique estimulado
numa determinada direcção. Um dos principais ramos da Biologia que se relaciona com a
Psicologia é a Genética. A Genética estuda os processos hereditários subjacentes ao
comportamento. FILOSOFIA
Estudo do Homem

BIOLOGIA - Estudo do
HISTÓRIA - PSICOLOGIA – S.N. e glândulas
Importância do factos Estudo do Comportamento secretoras; Processos
tempo e espaço social hereditários no
comportamento

ANTROPOLOGIA- SOCIOLOGIA -
Influência da cultura Influências sociais
ncomportamento comportamento

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Questões de refexão - Actividades I

1. A Psicologia como ciência autónoma e com um objecto de estudo e métodos próprios de


investigação, ela é definida como ciência que estuda o comportamento do homem e dos outros
animais.

a) Em período cronológico a psicologia separou-se das outras e tornou-se ciência autónoma!

b) Fale das características de cada período da evolução da Psicologia antes e depois do sec.
XVIII.
c) Fale do objecto de estudo da psicologia tendo em conta a sua diversidade.
d)Explique a importância da Psicologia na área do ensino.
2. Qual dos métodos ajuda melhor a recolher dados sobre um fenómeno ou caso.diz em que
consiste, e quais vantagens do mesmo!

3. De forma resumida Fale do contributo das grandes escolas para o desenvolvimento da


psicologia.

Bibliografia recomendada
BOCK, A. M. B. FURTADO, O e TEXEIRA, M. T. Psicologias: uma introdução ao estudo
de psicologias. 14ª ed. Saraiva. São paulo, 2009.
CHARLES.G.M e ALBRT,A. M, Introdução a Psicologia,6ª ed, São Paulo, 2010
DAVIDOFF, Linda. Introdução `a Psicologia. S . Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA, 1987
JEAM, Piaget, Seis estudos de Psicologia. Lisboa,-Portugal, Editora DomQuerxote, 1977
LEONTIVIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo, Lisboa, Progresso, 1978.
MONTEIRO, M e SANTOS,M.M, Psicologia 2, Portugal, Porto, 2001
RAUL,M e FERNANDA.D. Psicologia Geral e Aplicada, Lisboa, Plátano, 1999

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Unidade 2: O DESENVOLVIMENTO PSIQUICO E DA CONSCIÊNCIA HUMANA

A evolução psíquica dos indivíduos depende da maturação e do desenvolvimento genético;


dos estímulos sociais e afectivos.

2.1. O Homem como Unidade bio-psico-socio-cultural


Todo ser humano à nascença já constitui-se como indivíduo, com qualidades de integridade
próprias, particularidades que o distinguem dos outros. O mesmo não se pode dizer em
relação à Personalidade. O ser humano forma sua personalidade em resultado da sua
constituição biológica (características herdadas), das influências do meio social e cultural do
contexto em que se encontra (aquisições do meio), assim como das experiências de vida
(desenvolvimento), e sempre considerando seu desenvolvimento psicológico (estabilidade
emocional, de sentimentos). Por tal se diz ser uma unidade bio-psico-social.

Para compreender o desenvolvimento humano e necessário conhecer alguns termos


importantes:

Desenvolvimento: é o conjunto de fases pelas quais o indivíduo passa ao longo do seu


ciclo de vida. É um processo multidimensional que engloba os aspectos físicos
(crescimento); fisiológicos (maturação), psicológicos (cognitivos e afectivos), sociais
(socialização), e culturais (aquisição de valores, normas).

Maturação : é a dimensão fisiológica do desenvolvimento. Refere-se ao grau de


prontidão funcional dos diversos sistemas do organismo, nomeadamente do sistema
nervoso. É que torna possível determinado padrão de comportamento. (por exemplo, a
alfabetização das crianças depende da maturação neurofisiológica para manejar o lápis,
e segurá-lo com as mãos é necessário um desenvolvimento neurológico o que a criança
de 1 ou 2 anos não possui ainda.

Maturidade: é o estádio de desenvolvimento do indivíduo indispensável para a execução


de determinada tarefa, actividade ou função.

Estado etário: fase de maturação e estruturação (anatómica, fisiológica, psíquica)


correspondente a idade ou nível de desenvolvimento do indivíduo.

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2.2. A Vida Antes do Nascimento (o Desenvolvimento Pré-Natal)
O desenvolvimento pré-natal (gestação) é o período compreendido entre a fecundação e o
parto. Este pode ser dividido em três períodos:

O zigoto
O zigoto forma-se após a fecundação e flutua livremente no fluido do útero. Ao fim de cerca
de duas semanas, o zigoto (ovo) fixa-se na parede do útero recebendo oxigénio e alimentação
do corpo da me. Dois ou três dias a sua implantação no útero o novo ser passa a chamar-se
embrião.

-Embrião
O segundo estádio do desenvolvimento pré-natal é o estádio embrionário. Este estádio começa
cerca de duas semanas depois da fecundação, na altura em que o zigoto (ovo) se fixa á parede
uterina.

O estádio embrionário dura cerca de oito semanas depois da concepção. As primeiras fases de
vida do embrião humano apresentam características semelhantes com os outros mamíferos. A
cabeça do embrião é muito grande em relação ao resto do corpo e membros não são
diferenciados. No final deste período o organismo é claramente identificável como humano
(tem face, olhos, nariz) e passa a se designar feto.

-Feto
A partir da oitava semana até ao nascimento o novo ser passa a chamar-se feto. O feto é capaz
de ouvir, movimentar os dedos (dar pontapés, fazer punho, levar o polegar a boca, escolher a
posição de dormir, etc.) sentir sabor, etc. O desenvolvimento do feto culmina com o
nascimento.

-Nascimento
O nascimento é conjunto de fenómenos físicos que tem como finalidade expulsar o feto para o
exterior. Quando a criança nasce pesa normalmente 2500 gramas e a placenta para de
introduzir alimentos. Crianças com um período de gestação reduzido e peso inferior a 25000
gramas são consideradas prematuras.

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A primeira respiração imediatamente após o parto é difícil devido o oxigénio do ambiente que
a criança recebe, pois tem inicio a respiração pulmonar. Se o pequeno cérebro não recebe
oxigénio dentro de 8 (oito) minutos pode contrair lesões.

Por regra, a primeira respiração é acompanhada por grito. O grito converte-se em breve numa
forma de manifestação de dissabores ou transtornos (indisposição, desconforto, mal estar,
alerta á mãe para acções de cuidado, isto é, um estímulo chave da mãe.

Em cada dor do parto, a criança está exposta a uma pressão com cerca de 25kg. Por isso,
partos muito prolongados ou complicados colocaram a criança provavelmente numa situação
de indisposição intensiva. O acto do nascimento por si só é uma lesão psíquica, o que serve de
base para o medo original do homem, segundo a psicanálise.

2.3. Fundamentos biológicos da conduta


Hereditariedade e comportamento: mecanismos básicos

Em última instância, as diferenças entre as espécies dependem da hereditariedade, ou herança


física. A hereditariedade compartilhada por todas as pessoas permite uma série de actividades
humanas distintas. Por termos herdados polegares opostos e dedos móveis, aprendemos
facilmente a manipular ferramentas. As heranças de imensos córtices cerebrais permitem-nos
processar vasta quantidade de informação.

Além das estruturas influenciadoras e dos comportamentos comuns a todas as pessoas, a


hereditariedade modela o que é exclusivo a cada pessoa. Seus genes têm algo a dizer sobre
uma capacidade de aprendizagem e se somos ou não propensos á depressão.

2.4. Genética do comportamento


A genética do comportamento, um ramo da psicologia e também da genética, estuda as bases
herdadas da conduta e da cognição. Trata-se da psicobiologia, ramo da psicologia que lida
com bases biológicas do comportamento e dos processos mentais, abrangendo diferenças
individuais e de espécie (evolutivas).

Os geneticistas do comportamento pressupõem que tudo o que as pessoas fazem depende, em


algum grau, das estruturas físicas subjacentes. Sua tarefa é definir exactamente quanto de um
determinado acto é modelado pela hereditariedade e quanto o é pelo ambiente. Eles

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pesquisam também os mecanismos biológicos pelos quais os genes afectam o comportamento
e a cognição.

2.5. O papel da hereditariedade e do meio na conduta


Hereditariedade e o ambiente: uma parceria permanente. Estará tudo nos genes?

De acordo com Robert Plomin (1993) , talvez o principal sobre a genética do comportamento
na última década, o que os cientista verificaram a repetidas vezes foi que, a hereditariedade e
experiência influenciam conjuntamente muitos aspectos do comportamento. Além disto seus
efeitos são interactivos – elas jogam uma com a outra. Por exemplo, em relação a
esquizofrenia, embora a evidencia indique que factores genéticos influenciam o
desenvolvimento da esquizofrenia, do outro lado não parece que alguém herde directamente o
distúrbio mas um certo grau de vulnerabilidade a ela. Portanto, se a vulnerabilidade vai ou não
se transformar num distúrbio real, isso dependerá das experiências de cada pessoa na vida.

2.5.1. O herdado e o meio: qual interacção?


O organismo e o ambiente fazem parte de um todo no qual são inter-
relacionados e em constante interacção. O meio mobiliza ou favorece
disposições hereditárias, mas por sua vez a acção do meio não é independente
dessas disposições.

Por um lado, qualquer factor hereditário opera de modo diferente quando as


condições do meio ambiente variam. Por outro lado, as condições do meio
ambiente exercem diferentes influências sobre as características hereditárias.

As disposições hereditárias traçam o marco do desenvolvimento e oferecem-nos


um plano de construção do organismo. Os genes exercem um papel ou acção
directiva nos fenómenos do desenvolvimento embrionário e, especialmente, dos
primeiros anos de vida, isto é, não se transmitem qualidades já desenvolvidas,
mas apenas disposições ou possibilidades para configurar essas qualidades. Por
exemplo, a estatura de um indivíduo depende de toda a carga genética, mas
além disso, variará, entre outros factores de acordo com a alimentação

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recebida nos primeiros anos de vida e com as vicissitudes do
desenvolvimento glandular posterior.

 Herança e meio são factores que contribuem para a formação do


novo ser e se misturam de tal modo que é difícil distinguir o que
corresponde a um e ao outro;
 Não podem ser considerados opostos ou antagónicos mas
complementares;
 Era comum considerar a herança é rígida, fixa, imutável, irreversível
algo como código ou lista de instruções e procedimentos que não
admite modificações e na qual cada “instrução” age de modo
independente das demais mas hoje tal posição não se sustenta por que
também os genes podem sofrer uma mutação, brusca ou não.
Portanto, Dizer que um os “genes influenciam x ou y” não quer dizer que os
“genes determinam x ou y”. Tão pouco quer dizer que o ambiente tenha pouca
influência sobre a qualidade em questão. Do início até ao fim da vida, os
organismos estão sendo constantemente moldados tanto pela hereditariedade
como pelo ambiente. A natureza e a extensão de uma influência sempre
dependem da contribuição da outra.

2.6. Princípio fundamental da psicologia


O princípio fundamental e o seu axioma principal é o de que o organismo é produto da
hereditariedade em interacção com o meio e com o tempo, isto é, o comportamento não é
resultado de uma única causa, mas sim de causas múltiplas (biológicas, sociais, culturais,...).
É o resultado da hereditariedade a interagir com o meio e com o tempo.

O nosso potencial hereditário pode ser enriquecido ou empobrecido dependendo do tipo,


quantidade e qualidade dos nossos encontros com o meio e depende do momento em que estes
encontros ocorrem. É pela interacção entre determinantes da hereditariedade e a influência do
meio que o indivíduo se forma, desenvolve e realiza.

Não se pode limitar aos aspectos educativos e os sócio-culturais pós-natais, os aspectos


físicos, biológicos (alimentares, etc.), e psico-afecivos (emocionais) dos primeiros tempos da

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vida, nomeadamente pré-natais e perinatais são fundamentais na formação de todas as
características do indivíduo.

2.7. Psicofisiologia do sistema nervoso


A comunicação no sistema nervoso é central para o comportamento. Em breves anotações
examinaremos a organização do sistema nervoso.

Especialistas acreditam que há de 85 a 180 biliões de neurónios no cérebro humano.


Obviamente isto é apenas uma estimativa. Se os contássemos sem parar a proporção de um
por segundo, estaríamos contando por cerca de 6 mil anos! Multidões de neurónios no sistema
nervoso têm de trabalhar junto para manter a informação fluindo eficientemente. Para fazer
isso, eles estão organizados em equipas, várias das quais têm funções e deveres especializados
que dependem, antes de tudo, de sua localização.

2.7.1. Sistema nervoso central


O sistema nervoso central (SNC) é a porção do sistema nervoso que fica dentro do crânio e da
coluna espinhal. Assim, o SNC compreende o cérebro e a medula espinhal. O SNC é
banhado na sua “sopa” nutritiva especial chamada fluido cérebro-espinhal (FCE). Este
fluido alimenta o cérebro e fornece-lhe uma protecção. Embora derivado do sangue, o FC é
cuidadosamente filtrado.

Para entrar no FCE, as substâncias do sangue têm de passar pela barreira cérebro-
sanguínea, um mecanismo membranoso semipermeável que impede a passagem de
certas substâncias químicas entre a corrente sanguínea e o cérebro. Esta barreira evita
que algumas drogas entrem no FCE e afectem o cérebro.

2.7.1.1. A medula espinhal


A medula espinhal liga o cérebro ao resto do corpo através do sistema nervoso periférico.
Embora se pareça com um cabo do qual os nervos somáticos saem, ela é parte do sistema
nervoso central e vai desde a base do cérebro até um nível abaixo da cintura, abrigando
aglomerados axónios que carregam os comandos do cérebro aos nervos periféricos e
conduzem sensações de periferia do corpo cérebro. Muitas formas de paralisia resultam de
danos na medula espinhal, facto que ressalta o papel crítico que ela representa na transmissão
de sinais do cérebro aos neurónios que movem os músculos do corpo.

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2.7.1.2. O cérebro
Evidentemente, a glória suprema do sistema nervoso central é o cérebro, que,
anatomicamente, é a parte do sistema nervoso central que preenche a porção superior do
crânio. Embora pese apenas cerca de 2 quilos e possa ser carregado em uma das mãos, ele
contém bilhões de células que interagem, integram informação de dentro, coordenam as
acções do corpo e nos capacitam a falar, pensar, recordar, planear, criar e sonhar.

2.7.2. O Sistema Nervoso Periférico


O primeiro e mais importante corte separa o sistema nervoso central (cérebro e medula
espinhal) do sistema nervoso periférico. O sistema nervoso periférico é formado por todos
os nervos que ficam fora do cérebro e da medula espinhal. Nervos são aglomerados de
fibras de neurónios (axônios) que estão no sistema nervoso periférico. Essa porção do
sistema nervoso é exactamente o que parece, a parte que se estende para a periferia (parte de
fora) do corpo.O sistema nervoso periférico pode ser subdividido em dois: somático e
autónomo.

2.7.2.1. Sistema nervoso somático


O sistema nervoso somático é formado por nervos que se conectam aos músculos
esqueléticos voluntários e aos receptores sensoriais. Estes nervos são os cabos que
carregam informação dos receptores na pele, músculos e juntas ao sistema nervoso central e
também ordens do sistema nervoso central aos músculos. Estas funções requerem dois tipos
de fibras nervosas:

Aferentes, que são axônios que carregam informação para dentro do sistema nervoso central
da periferia do corpo;

Os eferentes, que são axônios que carregam informações para fora do sistema nervoso central
para a periferia do corpo. O sistema nervoso somático permite que nos sintamos e movamos
no mundo.

2.7.2.2. Sistema nervoso autónomo


O sistema nervoso autónomo é formado de nervos que se ligam ao coração, aos vasos
sanguíneos, aos músculos lisos, e às glândulas.

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Como o próprio nome indica, é um sistema separado (autónomo), embora seja principalmente
controlado pelo sistema nervoso central. O sistema nervoso autónomo controla funções
automáticas, involuntárias, em que normalmente as pessoas não pensam, como a batida
cardíaca, a digestão e a transpiração. Ele intermédia muito de o despertar fisiológico, que
ocorre quando as pessoas experimentam emoções. Imagine-se, por exemplo, caminhando para
casa sozinho a noite, quando uma pessoa, de aparência pobre aparece atrás de nós e começa a
seguir-nos. Caso sintamo-nos ameaçados, a nossa batida cardíaca e respiração intensifar-se-
ão. A nossa pressão sanguínea poderá subir, possivelmente sentiremos arrepios, e as palmas
das mãos poderão começar a transpirar. Estas reacções difíceis de controlar são aspectos do
despertar autónomo.

O sistema nervoso autónomo pode ser dividido em dois ramos: simpático e parassimpático.

2.7.2.3 Sistema nervoso simpático


É o ramo do sistema nervoso autónomo que mobiliza os recursos do corpo para a emergência.
Ela cria a reacção de luta ou fuga. A activação deste sistema desacelera processos digestivos e
drena o sangue da periferia, diminuindo o sangramento em caso de ferimento.

Os nervos simpáticos principais enviam sinais às glândulas supra-renais, liberando as


hormonas que preparam o corpo para o esforço.

2.7.2.4. Sistema nervoso parassimpático


É o ramo do sistema nervoso autónomo que geralmente conserva os recursos corporais. Ela
activa processos que permitem ao corpo economizar e armazenar energia. Por exemplo,
acções dos nervos parassimpáticos diminuem o ritmo cardíaco, reduzem a pressão sanguínea e
promovem a digestão.

2.8. Desenvolvimento filogenético do psíquico

2.8.1. Dependência da psique ao meio


A extraordinária variedade que o meio ambiente tem (clima, condições de vida) suscitou a
diferenciação dos organismos (na terra vivem milhões de espécies de animais). Entre toda a
multiplicidade de fenómenos terrestres, existem suas mudanças cíclicas anuais, a mudança do
dia e da noite, as mudanças de temperatura etc., e todo o organismo vivente adapta-se as
condições existentes.

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Uma modificação brusca do ambiente provoca no animal ou o seu desaparecimento. O meio é
a condição de existência do organismo vivo, e o factor mais importante para determinar a
vida dos seres viventes, ou seja, dito em outras palavras, a existência dos organismos
viventes está condicionada causalmente pelo meio ambiente. Quanto mais alta e a
capacidade do reflexo dentro de um determinado meio, mais livre e a espécie do influxo do
meio.

2.8.2. A psique e a evolução do sistema nervoso


Para que haja um reflexo adequado e necessário antes de mais uma estrutura dos
órgãos de sentido e do sistema nervoso. O grau de desenvolvimento dos órgãos
de sentido e do sistema nervoso determina constantemente o grau e a forma do
reflexo psíquico.

Em corresponderia com o desenvolvimento do sistema nervoso se tem mais


completas as formas do reflexo psíquico ou seja quanto mais completo e o
sistema nervoso tanto mais perfeita e a psique.

A evolução da psique não ë linear, ate que se aperfeiçoe em diferentes direcções. Num mesmo
meio habitam animais com os mais variados níveis de reflexo e ao contrário, em meios
diferentes podem-se encontrar diferentes tipos de animais com níveis de reflexo semelhantes.

O meio, como a matéria, não e invariável, ele evolui. A este meio em evolução adapta-se a
espécie animal que nele habita. Pode acontecer, sem dúvidas, que o meio radicalmente se
modifique para alguns animais e isto influência no desenvolvimento das funções psíquicas, ao
mesmo tempo, a mudança ocorrida não exerce uma influência determinante no
desenvolvimento das funções dos outros animais.

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2.9. O Surgimento da consciência no processo da
actividade humana
A psique como conjunto de reflexos da realidade no cérebro dos homens caracteriza-se por
possuir diferentes níveis.

O mais alto nível da psique, que é próprio do Homem, forma a consciência. A consciência e a
forma superior integrante da psique do Homem que se forma como resultado das condições
historico-sociais na actividade laboral e na permanente comunicação oral com as demais
pessoas. Neste sentido, pode-se dizer que a consciência e em ultima instancia (como dizem os
clássicos marxistas) um produto social, a consciência e a existência consciente.

2.9.1. Diferença entre psique humana e psique animal


Sem dúvidas existe uma imensa diferença qualitativa entre a psique humana
mais altamente organizada e a psique animal. Assim não e possível fazer uma
comparação entre “linguagem” dos animais e a linguagem humana, pois
enquanto o animal com a sua linguagem pode somente emitir sinais a seus
congéneres, em relação a fenómenos limitados por uma situação imediata,
directa, pelo contrario o Homem pode informar a outras pessoas com ajuda da
linguagem, sobre o passado, o presente, o futuro e transmitir aos outros a
experiência social.

Mediante muitas pesquisas os investigadores mostraram que o pensamento pratico e


somente próprio aos animais superiores. Nenhum investigador observou a forma abstracta
do pensamento no estudo da psique dos animais. O animal pode somente actuar dentro das
marcas duma situação visivelmente percebida, da qual não pode abstrair e da qual não pode
assimilar os princípios abstractos. O animal e escravo da situação percebida de forma
imediata. A conduta do Homem caracteriza-se pela sua capacidade de abstrair-se ou
afastar-se duma situação concreta dada e prever as consequências que podem surgir em
relação a dita situação.

Desta forma, o pensamento concreto ou prático dos animais e somente a sua impressão directa
sobre a situação dada, enquanto a capacidade do Homem de pensar abstractamente supera a
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dependência directa da situação dada. O Homem e capaz de enfrentar não somente as
influências directas do meio, mas também pode prever aquelas que podem suceder. O
Homem tem a capacidade de abstrair em correspondência com a necessidade conhecida,
ou seja conscientemente. Esta e a primeira distinção entre a psique humana e a psique
animal;

 A outra diferença e que o Homem tem a capacidade de criar e conservar


ferramentas. O animal cria instrumentos ou ferramentas numa situação concreta.
Fora desta dada situação concreta o animal nunca identifica os instrumentos, nem se
aproveita deles, uma vez que o instrumento joga um papel naquela dada situação, que
mediatamente deixa de existir para as outras situações;
 Os homens criam instrumentos de acordo com um plano previsto anteriormente,
utiliza estes instrumentos segundo o fim a que estão destinados, e a conserva; e todo
o homem adquire experiência com os outros homens no uso destes instrumentos;
 A transmissão das experiências sociais, caracteriza o homem o qual dispõe duma
experiência acumulada pelas gerações anteriores. As experiências sociais
transmitidas ao homem desenvolvem-se em grande parte na psique. Desde a mais
tenra idade a criança aprende a dominar as formas de utilização dos instrumentos e as
formas de trata-los. As funções psíquicas do homem mudam qualitativamente
graças ao domínio de cada sujeito em particular sobre os instrumentos do
desenvolvimento cultural da humanidade. E no homem se desenvolvem as
funções superiores propriamente humanas (linguagem, memória, pensamento
atenção).
 A quinta distinção entre a psique humana e animal são os sentimentos: para o
homem e animais superiores o sentimento e mais daquilo que ocorre em seu redor, os
objectos e os acontecimentos podem suscitar nos animais e homens determinados
tipos de reacções dependendo daquilo que os influencia, ou emoções positivas e
negativas. Sem dúvidas somente no homem pode existir a capacidade de sentir pena
ou alegria sobre o outro Homem, somente o homem pode experimentar
determinados sentimentos ao tomar consciência de algum aspecto vital nisto.

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Questões de refexão - Actividades II

1.O meio mobiliza ou favorece disposições hereditárias, mas por sua vez a acção do meio não
é independente dessas disposições. - Justificar a afirmação.
Como a experiencia muda o cérebro e comportamento do homem
2. Em cada ano que no crescimento (…) há perdas, há lutos a fazer, mas há novos
investimentos que são igualmente fonte de prazer e reforço da identidade …>> tal como
acontece com todos os seres humanos. Tens aparências dos teus progenitores, começaste a
andar por volta de 1 ano de idade, a falar com cerca de 2 anos, a brincar com teus colegas de
escola e, na puberdade, sofreste conjunto de modificações orgânicas. Na adolescência, vieste
tornando cada vez mais autónomo, mas outros períodos que te esperam serás adulto, serás
velho. Vives num determinado contexto social, estabeleces relações com determinadas
pessoas que torna a tua evolução única. - Com base no texto, retire as passagens que
identificam os 4 factores do desenvolvimento humano.

3. Porque razões existem várias teorias que focalizam o desenvolvimento humano?

4. O desenvolvimento acontece porque o ser humano ė um sistema aberto. Sustente a frase


com exemplos concretos.

5.Mencione os principais neurotransmissores existente no cérebro humano.

6. Relacionar o sistema nervoso simpático e parassimpático.

Bibliografia base

DAVIDOFF, Linda. Introducao `a Psicologia. S . Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA, 1987


CHARLES.G.M e ALBRT,A. M, Introdução a Psicologia,6ª ed, São Paulo, 2010

WEITEN, W. Introdução à Psicologia: temas e variações. 4ª ed. Thomson Pioneira, Brasil,


2002.

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