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Para distanciar o curso da ação, que não mais se orienta linearmente rumo
a uma meta, e nem tem a necessidade da ação dramática, vale a projeção
intercalada de textos, os coros, as canções e até mesmo o pregão de “vendedores
de jornal” na sala de espetáculo. Elementos que interrompem a ação e a comentam.
(SZONDI, 2011, p. 119) Cabe salientar, em relação ao ambiente cultural em que
estava inserido Brecht na época da Ópera dos três vinténs [Dreigroschenoper], que
El Berlín en que se estrena la Dreigroschenoper es uno de los
centros europeos de la cultura y del entretenimento, y el café-
concert, la opereta, la ópera cômica, la revista y el cabaret se han
mezcla de estilos, se propone como un espetáculo heterogêneo y
atractivo, que siempre busca mantener viva la atención del público.
Su fórmula no se construye sobre la representación orgânica de
una historia, no se desarrolla por escenas concatenadas, sino por
una serie de sketches y números aglutinados em el contexto de la
soirée. Este carácter fragmentário del espetáculo, a partir de um
modelo de teatralización no dramática – como la revista y el
cabaret, sobre los cuales ya estaba experimentando Erwin Piscator;
o como también el circo y la manifestacioón deportiva, por ejemplo
– interesaba a Brecht, quien reconoció en el lo el médio ideal para
oponer se a la ilusión generada por la forma dramática aristotélica.
(CARNEVALI, 2015, p. 90)
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Não se deve confundir Aristóteles com o racionalismo abstrato, cartesiano, do neoclassicismo francês,
ou mesmo do positivismo e naturalismo. Mas também não é possível uma leitura platônica da Poética,
tal como fizeram os românticos. A estética romântica, com sua palavra de ordem da arte como
expressão do sentimento e com a teoria do gênio, retoma a noção de poesia como furor, como
inspiração. Desta visão resulta a noção da catarse como momento supremo de explosão do sentimento.
O universal fantástico, a autonomia e a positividade da arte dos românticos é, não obstante, uma
conquista em relação ao platonismo antigo. Platão desdenhava a arte; os românticos valorizaram-na.
Com estes, o raptus estético, a intuição, transformou-se em valor último, na unidade e universalidade
puras e absolutas. (BOLOGNESI, 2002, p. 74)
destaca Sarrazac (2002) a partir de sua leitura do texto teórico brechtiano Pequeno
organon para o teatro.
“Tudo, [pode ler-se no Pequeno organon para o teatro], depende da
fábula, cerne da obra teatral. São os acontecimentos que ocorrem
entre os homens que constituem para o homem matéria de
discussão e de crítica, e que podem ser por ele modificados [...] A
tarefa fundamental do teatro reside na fábula, composição global
de todos os acontecimentos-gesto, incluindo juízos e impulsos. É
tudo isto que, de ora avante, deve constituir o material recreativo
apresentado ao público.” Com esta afirmação, Brecht acaba por
expressar o seu acordo relativo com a Poéticade Aristóteles – “A
fábula é assim a origem e como que a alma da tragédia”-, uma vez
que para o autor a fábula está menos dotada do poder de fazer
progredir a acção do que do poder de a retardar. (SARRAZAC,
2002, p. 77)
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RULICKE-WEITER, Kathe. A dramaturgia de Brecht. Ed. Arte e Literatura: Havana, 1982.
A fábula é interpretada, produzida e apresentada pelo teatro
como um todo, constituído pelos atores, cenógrafos,
maquiladores, encarregados dos guarda-roupas, músicos e
coreógrafos. Todos eles conjugam as suas artes para um
empreendimento comum, sem renunciar, no entanto, à sua
autonomia. (BRECHT, 1978, p. 131)
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Camponês – Se a senhora não tivesse ido à cidade tratar de negócios, talvez nada disso tivesse
acontecido./ Mãe Coragem – Agora ela está dormindo. / Camponesa – Dormindo, nada: pois não vê que
ela está morta?/ Camponês – Agora é hora de a senhora ir andando. Os lobo estão ai mesmo, e os
assaltantes, que ainda são piores!/ Mãe Coragem - Eu sei./ Mãe Coragem vai até a carroça, apanha um
pano de saco e cobre a morta/ Camponesa – E a senhora não tem mais ninguém? Vai para onde?/ Mãe
Coragem – Eu ainda tenho mais um filho: Eilif. (BRECHT, xxxx, p. 265)
Brecht criou esplendidos personagens, apesar do seu
antipsicologismo e da sua tendência de elaborar caracteres
simplificados, não muito diferenciados. Mais importantes são para
Brecht as vicissitudes sociais em que se vêm envolvidos. Daí a
importância que atribui à fábula e ao seu desdobramento num
plano largo, épico, capaz de explicar seu comportamento, suas
ações e reações individuais, em função das condições sociais.
Essencial é que o público tenha clara noção de que os mesmo
personagens poderiam ter agido de outra forma. Pois o homem,
embora condicionado pela situação, é capaz também de
transformá-la. Não é só vitima da história; é também propulsor
dela. Essa visão mais ampla nem sempre é dos personagens, mas é
facilitada ao público pela estrutura épica que lhe abre horizontes
mais vastos que os dos personagens envolvidos na ação dramática.
É, pois, o público que muitas vezes é solicitado a resolver os
problemas propostos pela peça que se mantém aberta.
(ROSENFELD, 2004, p. 172, grifo meu)
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Na tradução de Augusto de Campos: “Um sentido mais pura às palavras da tribo”. Ver Sthéphane
Mallarmé, “Le tombeau d’Edgar Poe”/ “A tumba de Edgar Poe”, in Mallarmé, 3ª ed., trad. Augusto de
Campos. São Paulo: Perspectiva, 2006, PP. 66-67. [N. T.]
inautêntico e reinventar uma espécie de frescor da linguagem que
ao menos pudesse conotar a inautencidade, que servisse como um
equivalente, um sinal ou um indicador simbólico, em favor de uma
verdadeira autenticidade que só pode ser pensada na própria vida
social. Esse trabalho sobre a linguagem acontece sempre e onde
quer que se realize a dimensão simbólica de toda poesia moderna,
por mais aparentemente hermética e apolítica que esta seja.
(JAMESON, 2013, p. 185)
REFERÊNCIAS