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Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Morrinhos

PPGHIS – Strictu Sensu em História

Roteiro / Fichamento – Conceito de Tradição

Textos:
HOBSBAWM, Eric J., Introdução: A invenção das tradições. In.: HOBSBAWN, Eric; RANGER,
Terence (org.). A invenção das tradições. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020. P.7-24.

PRANDI, Carlo. Tradições. In: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da
Moeda, 1997. V. 36, p. 167-197.

Disciplina – Memória, Tradição e Religião


Professor - Edson Arantes
Aluna – Kelli Crisina Alves de Sousa

Morrinhos, maio de 2021.


O Conceito de Tradição

¨ O Auto é Carlo Prandi – Sem maiores informações.


¨ O texto faz parte do Volume 36 da Enciclopédia Einaudi, que já publicou 43
volumes no total - Fundada em 15 de Novembro de 1933 por Giulio Einaudi, filho
do futuro presidente italiano Luigi Einaudi, a editora imediatamente começou a
ser perseguida pelo estado fascista: em 1935 Giulio Einaudi foi primeiramente
preso e depois enviado até a fronteira italiana. A coletânea trás a promessa de
"concentrar a atenção sobre os elementos importantes do discurso cultural que se
organizaram na última metade do século".
¨ O Autor se utiliza de conceitos trazidos por vários autores, dentre eles Lévi-
Strauss, March Bloch, Francis Bacon, Max Weber, Descartes, Rousseau,
Durkheim, dentre outros.
¨ O Autor faz uma introdução mais generalizada acerca do conceito de Tradição e
posteriormente se utiliza dos conceitos de diferentes teóricos. O texto está
estruturado em 4 tópicos:
1- Tradições doutras “dúvidas”
2- Tradições conscientes
3- Tradição e Religião
4- O significado da Religião
¨ O texto faz um levantamento de diferentes perspectivas conceituais de
importantes teóricos, ao longo da história e da historiografia. Por se tratar de uma
enciclopédia que reúne, conceitua e discute diferentes temáticas, o mesmo se
mostra mais conceitual do que reflexivo.
¨ Percebe-se que ele se faz bastante útil, para se compreender o surgimento e
evolução ao logo da história, das concepções de Tradição. Para melhor
compreensão é necessário um conhecimento básico da história de diferentes
civilizações, e mesmo os assuntos que o leitor não domine, o texto é instigante,
induzindo à pesquisas e ampliação de saberes acerca do tema.
¨ Se trata de uma importante referência para pesquisadores que trabalham com o
conceito de tradição e suas diferentes concepções e abordagens.

Fichamento

Página 166

Þ A relação entre Tradição e Verdade: Os filósofos gregos apelaram muitas vezes


para a Tradição – Tradições de origem mítica.
Þ O Autor Traz um panorama histórico, onde contextualiza o conceito de tradições
ao longo da História.

Página 169

1- Tradições (Doutas) dúvidas

Lévi-Strauss – utiliza o termo Temperatura


Inspirado no conceito de entropia (que toma de empréstimo à termodinâmica) Lévi-
Strauss diz que as sociedades frias são aquelas que produzem pouquíssima desordem
(entropia) e cuja estrutura pode ser comparada a uma “máquina mecânica”, tal como
um relógio. (LÉVI-STRAUSS & CHARBONNIER, 1989, p. 30-34). O funcionamento
desta “máquina mecânica” opera ciclos de forma regular, só quebrados por
contingências que lhes são exteriores. As sociedades quentes, em oposição, são aquelas
cuja estrutura pode ser mais bem comparada à da máquina a vapor: depende de
diferenças grandes de temperatura interna para funcionar e, ao produzir trabalho,
produz uma quantidade grande de desordem que Lévi-Strauss compara à energia perdida
ou entropia. (Pontes, 2015)

Tradições: programas impostos pela sociedade à conduta do indivíduo.


a) Qualidade de serem extrínsecas (vem de fora);
b) Objetividade (certo X errado);
c) Poder coercivo (compulsão íntima);
d) Autoridade moral (sentimento de culpa);
e) Historicidade (acumulam na longa duração, contínua vitalidade e presença do
passado.

Página 170
Þ Traços institucionais das tradições – como elas se transmitem – Sagradas
Escrituras – Vem pela boca do Espírito Santo.

Galilei
Þ Fala-se pouco da astronomia nas escrituras sagradas pois não queriam
convencer disso.

Página 171
Þ Ele argumenta a partir da teoria de Aristóteles – Duas realidades – Separação
entre o céu e a Terra;
Þ Celeste – governada por leis que diferem das que regem a outra realidade -
Éter.
Þ Terrestre – formada por objetos variáveis e corruptíveis – 4 elementos (água,
terra, fogo e ar).
Þ Dogmas – doutrinas físicas aristotélicas as quais foram-se fossilizando
progressivamente.

Página 172

Roberto Belarmino:
Þ Questionar se o Sol gira em torno da Terra é coisa perigosa (falsear as
sagradas escrituras);
Þ O trágico fim de Giordano Bruno;
Þ Concessão de terras feita pelo imperador Constantino ao Papa Silvestre:
Documento que se transformou em instrumento jurídico.
Þ A ideia de que o poder temporal era inseparável da soberania religiosa dos
Papas.

Página 173

March Bloch:
Þ Teoria da divinização dos Reis.

Página 174

Francis Bacon
Þ Aristóteles (...) favoreceu o processo que transformou um pensamento
fecundo em si na gaiola de ferro de uma tradição que fossilizou o espírito da
investigação científica ao logo de quase dois milênios.
Þ Uma tradição baseada numa economia de tipo predominantemente agrícola
e no trabalho servil.
Þ A crise do Aristotelismo coincide com o aparecimento do burguês e com a
recuperação da antiguidade clássica – TRADIÇÃO E INOVAÇÃO.
Þ Do tempo da igreja para o tempo do mercador

Max Weber
Þ O ocidente conhece na época moderna uma espécie de capitalismo... que
noutros lugares nunca se desenvolveu: a organização racional do trabalho
formalmente livre;

Página 175
Þ Apesar da crise do Atistotelismo, a herança clássica no campo literário e artístico
não pode deixar de ser observada como uma tradição
Þ Tradição e crítica da Tradição – RELAÇÃO DIALÉTICA;

Descartes – Discurso do método


Þ Primeira regra – nada seja aceito como verdadeiro sem que haja verificado
primeiro o fundamento da asserção com base na clareza e na distinção
Þ As outras regras: análise, síntese, enumeração.
Þ A cultura das luzes – A RAZÃO
Þ Liberta-se da tradição e das superstições

Página 176

Bernard de Fontenelle
Þ Uma Humanidade futura que se terá libertada finalmente de toda tradição;
Þ Superstição e impostura, são a causa do extravio do homem cuja ignorância é
engrossada pela tradição a ponto de que ela se torne quase invencível,
especialmente no povo que não pode usufruir das luzes da razão filosófica e
científica;
Þ A ideia de progresso unilinear da humanidade percorre o século XVIII.

Página 177

Rousseau
Þ A espessura da tradição e dos costumes se reveste de uma importância
fundamental. Sem eles a sociedade do contrato seria inconcebível;

Ferguson
Þ Afirma que o homem deve ser estudado a partir dos dados constatáveis pela
investigação objetiva os quais testemunham, não uma natureza abstrata, mas
comportamentos costumes e tradições.

Página 177 e 178

Voltaire
Þ Convencido que cabia à filosofia a tarefa de liberar os homens;
Þ As tradições se por um lado representam a antítese do espírito crítico por outro
são recuperadas sob diversos aspectos. O espirit de um povo constitui o
denominador comum da sua tipicidade cultural, o conjunto dos traços que
caracterizam a história de uma nação.

Cocchiara

Þ Ciência dos costumes reapreciação das tradições que constituiu um dos trações
distintivos do sturm und drang (movimento literário romântico alemão, emoção
acima da Razão)
Þ A tradição a nível de cultura douta, encontra pois os motivos de seu resgate no
quadro da contestação romântica do nivelamento racionalista operado pelo
iluminismo.
Þ A ideia Hegeliana da tradição...

Página 179
Þ Século XIX – conceito de tradição: aparecem como suporte de uma burguesia
para a unificação nacional e a hegemonia política;
Þ Nasce na França movimentos de defesa explícita da tradição.

De Maistre

Pátina 181

2- Tradições inconscientes

Þ Na linguagem da Historiografia e da Sociologia - Sociedades tradicionais –


Precederam ou não viveram a Revolução Industrial:
1. Sociedades Arcaicas
2. Civilizações Superiores
3. Sociedades Feudais
Þ A religião surge como fator da tradição – Aquisição inconsciente de crenças e
técnicas “A atitude tradicionalista é a atitude pela qual o indivíduo considera as
maneiras de ser e de comportar-se que recebeu ou vai recebendo do ambiente
social como as suas próprias maneiras de ser, sem perceber que são do grupo
social

Página 182

Þ Egípcios julgavam viver em um mundo imutável – as tradições estavam ligadas a


natureza das coisas; (FRANKFORT, 1948)
Þ Maat – ordem justa
Þ Observar as tradições - Justa comunhão com deuses.

Franz Boas
Þ Antes de Saussure, sublinhara o valor da análise linguística para a compreensão
dos comportamentos inconscientes e sua importância na investigação
etnológica.

Lévi Strauss – Sociedades frias e quentes

Página 183
Þ A proibição do incesto – fundação da sociedade humana – pertence ao
inconsciente da humanidade
Þ Faraós (levar a nível consciente do incesto e legitimar sua transgressão
Þ Édipo Rei – transgressão involuntária/ tragédia.

Página 184

Franklin –
Þ Tempo é dinheiro (classe burguesa – progressiva / semiconsciente) – Tempo da
Igreja.

Página 185

Þ Carnaval – configura-se como um paradigma da tradição, das suas metamorfoses


e da sua decadência.
Traz exemplos da Pré-História / Grécia / Babilônia

Þ Sacrifício
o Função expiatória e Função propiciatória.
o Humano - Animal – Suspensão temporária das normas hierárquicas, sexuais,
alimentares (penitência).
Þ Saturnais – Deus Saturno (colheitas – Fertilidade)
Þ Carnaval – Rei do Carnaval
o Sem normas escritas
o Mundo às avessas

Burke
Þ Foi incorporada ao calendário das festividades da Igreja Católica;

Página 187

3- Tradições e religião

Þ Ortodoxia Cristã – Rússia


Þ Paradigma da relação Religião – Tradição

Página 188

Þ Religião se funde a tradição


o Se identificar
o Legitimação
Þ Religiões étnicas (sem fundador definido)
o Patrimônio de mitos e ritos transmitidos oralmente ou mediante livros (Rg
Veda)
Þ Vida religiosa e vida social – compenetram-se
o Identificação cultural
o Valores culturais + Valores religiosos = fundamento da tradição

Weber

Þ Tradições - Ligadas a religião e organização social (teologias dominantes –


castas)
Þ Nas grande religiões – papel político – vivida em perfeita simbiose com as
dinâmicas da história política – Uma estrutura essencial à vida histórica das
sociedades.

Althusser
Página 189

Þ Autoridade moral – Poder coercitivo { Transmite-se no tempo, pode sofrer


variações mas as gerações vivem como
um universo imutável.
Þ Contexto cultural – condensa-se no ciclo, na repetição indefinida
Þ A estrutura estática de tradições religiosas pode sofrer abalo, substituída ou
absorvida
Þ Nenhum dos grandes fundadores tiveram a pretensão de trazer uma mensagem
totalmente nova
Þ Se inserir para corrigir
Þ Para Lutero, vale o que está nas escrituras – reivindicavam o sujeito religioso
individual (inspirado no Espírito Santo)

Congar

Þ Tradições humanas impedem a busca da salvação e segurança em Cristo


Þ Protestantismo (religião do Livro)
Þ A tradição foi suprimida pelo protestantismo?
Þ Os fundadores (mediadores autorizados do livro instituem a tradição).
Þ Passadas as disputas religiosas
Þ Tradição unitária do cristianismo
Þ A tradição encontra no mito o seu paradigma exemplar

Página 191

4- O Significado da Tradição
Þ Não existe sociedade sem tradições
Þ Revolução – não é capaz de lacerar a trama de todas as tradições

Durkheim
Þ Conceito de anomia (queda das leis de solidariedade social fundadas na tradição
comum)
Þ Morte cultural – caso das minorias étnicas e religiosas transplantadas dos locais
de origem e por vezes reduzidas à escravidão

Página 192

Þ As tradições constituem de certa forma memórias coletivas, sedimentadas de


modo no inconsciente ou aceitas
Þ Rotinização e a própria historicidade (o artifício) desta, pertence a uma esfera do
imaginário coletivo.

Página 193

Þ A Religião – Tradição funda-se numa concepção de tempo que se baseia


essencialmente na repetição cíclica.

Gadamer

Þ A tradição é em todo caso um ato de razão


Þ A tradição possui um certo direito e determina em larga medida as nossas
posições e nossos comportamentos.
Introdução- A invenção das Tradições

¨ Autor: Eric Hobsbawm - (1917-2012) foi um historiador inglês, considerado um


dos mais importantes no âmbito da historiografia contemporânea de orientação
marxista. Nasceu em Alexandria, no Egito, na época da dominação britânica.
¨ Como importante Historiador, Eric Hobsbawm foi Professor de História na
Universidade de Londres e da New School for Social Research, de Nova Iorque.
Além de membro da Academia Britânica e da Academia Americana de Artes e
Ciências. Eterno militante de esquerda, sempre utiliza o método marxista da luta
de classes para suas análises da História.
¨ Um ensaio de linguagem acessível, organizado por um dos maiores historiadores
do século XX.
¨ A Invenção das Tradições é organizado por Eric. J. Hobsbawn e Terence Ranger e
reúne textos de renomados historiadores internacionais. São ensaios críticos
sobre hábitos ou comportamentos que, por motivos variados, passam a ser
absorvidos em algumas sociedades como se fossem heranças culturais, quando
na realidade foram criadas mais recentemente com objetivos que serviam aos
Estados.
¨ O primeiro capítulo apresenta com clareza a distinção entre costume e tradição,
fundamental para a compreensão dos fenômenos apresentados nos ensaios
seguintes.
¨ Os textos abrangem as culturas ocidentais em seus diversos aspectos e ajudam
a compreender como mudanças são fenômenos naturais em todas as
sociedades, mesmo as mais tradicionais. Por outro lado, problematiza a condição
das sociedades contemporâneas, que quando rompem com determinadas
tradições acabam perdendo certos modelos de comportamento importantes
para a organização social.
¨ Sendo desenvolvido por historiadores, o estudo possui uma dimensão
multidisciplinar e se apresenta como um convite a pesquisadores que se
interessem em ampliar a discussão para outras áreas da ciências humanas. Um
trabalho erudito e rigorosamente bem-pesquisado, mas desenvolvido com
fluidez e clareza.
¨ Por se tratar de um texto introdutório o autor destaca dois conceitos principais
que serão posteriormente aprofundados nos capítulos a diante.
¨ Hobsbawm defende a tese de que não é possível se estudar as tradições sem que
se faça a análise da invenção das tradições e a necessidade da
interdisciplinaridade.
Introdução: A Invenção das Tradições
Página 09
Þ Tradições na Inglaterra – Tradição inventada (sentido amplo, mas nunca
indefinido.
Þ Tradições inventadas, formalmente institucionalizadas e as que surgem de
maneira difícil de localizar, que se estabelecem com rapidez.
Þ Analisar como elas surgiram e se estabeleceram.

Página 10

Þ Juízes de peruca – Leis (costumes), Peruca (tradição).

Página 11
Þ A liberdade para a utilização simbólica só se dá quando se libertam do uso
prático.

Página 12

Þ O trabalho do Historiador – busca por fontes (tradições inventadas e surgidas no


interior de grupos fechados – falta de fontes.

Página 13

Þ Grandes transformações criam novas tradições.

Página 15

Página 16
Página 17

Þ Em síntese, sobre as tradições inventadas desde a Revolução Industrial,


Hobsbawm propõe classificação em três categorias superpostas, quais sejam:
Þ a) as que estabelecem ou simbolizam a coesão social ou as condições de
admissão de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais;
Þ b) as que estabelecem ou legitimam instituições, status, ou relação de
autoridade e
Þ c) aquelas cujo propósito principal é a socialização, a inculcação de ideias,
sistemas de valores e padrões de comportamento.

Página 18

Þ Defendida a preponderância das tradições inventadas “comunitárias”, o autor


passa a investigar a sua natureza com o auxílio da antropologia, para demonstrar
diferenças entre “as práticas inventadas e os velhos costumes tradicionais”.

Página 19

Þ As práticas antigas eram sociais específicas e muito coercivas, enquanto as


inventadas tendem a ser gerais e vagas quanto aos valores que se quer inculcar
(“patriotismo”, “lealdade”, “dever” etc.).
Þ Identifica, ainda, um grande espaço cedido pela decadência das velhas tradições
e antigos costumes, que não foi preenchido pelas invenções, apesar de
abundantes.

Página 20

Página 21
Página 22

Þ Em conclusão, os historiadores estão envolvidos nesse processo de


interpretação das tradições inventadas e eles contribuem “para a criação,
demolição e reestruturação de imagens do passado que pertenciam não só ao
mundo da investigação especializada, mas também à esfera pública onde o
homem atua como ser político”.

Þ Especialmente no caso da história moderna e contemporânea, são altamente


aplicáveis para compreensão de uma “inovação histórica comparativamente
recente”, qual seja, a “nação” e os fenômenos associados (nacionalismo, Estado
nacional, símbolos nacionais e outros).

Página 23

Þ O estudo da invenção das tradições é interdisciplinar.

Referências

https://www.ebiografia.com/eric_hobsbawm/
https://www.infoescola.com/biografias/eric-hobsbawm-2/

HOBSBAWM, Eric J., Introdução: A invenção das tradições. In.: HOBSBAWN, Eric; RANGER,
Terence (org.). A invenção das tradições. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020. P.7-24.

PONTES, Amanda Cozzi Lopes. Lévi-Strauss: Arte, mito, estrutura e história. Vivência,
Revista de Antropologia. (PPCIS/UERJ) - n. 46|2015|p. 195-208

PRANDI, Carlo. Tradições. In: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da
Moeda, 1997. V. 36, p. 167-197.

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