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anais

EIXO TEMÁTICO 4
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS

ORG.
Dilton Lopes de Almeida Júnior
Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza
ORGANIZAÇÃO

Dilton Lopes de Almeida Júnior


Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Alyssa Volpini Lustosa


Igor Gonçalves Queiroz
Júlia Dominguez da Silva
Leonardo Vieira de Souza

www.xvishcu.arq.ufba.br

Salvador - Bahia
2021

S471a Seminário de História da Cidade e do Urbanismo (16.: 2021 : Salvador, BA)


Anais [do] XVI Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, 15-18 Junho 2021. -
Salvador: UFBA, 2021 / Organização Dilton Lopes de Almeida Júnior, Fábio Macedo
Velame, José Carlos Huapaya Espinoza.

Tema: 30 anos: atualização crítica.


ISSN: 2178-7158

1. Planejamento urbano - Congtressos. 2. Cidades e vilas – Congressos. 3. Urbanização


– História - Congressos. I. Almeida Júnior, Dilton Lopes. II. Velame, Fábio Macedo. III. Espinoza,
José Carlos Huapaya.

CDU: 711.4(091)

Sistema Universitário de Bibliotecas – UFBA


Elaborada por Geovana Soares Lira CRB-5: BA-001975/O
CADERNO DE RESUMOS

16º SHCU
SEMINÁRIO DE HISTÓRIA
DA CIDADE E DO URBANISMO

30 anos . atualização crítica


16º SHCU Entre 15 e 18 de junho de 2021, trinta anos após
o 1º Seminário de História Urbana, o Programa
SEMINÁRIO DE HISTÓRIA de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetu-
ra da UFBA recebeu pela quarta vez (1990, 1993
DA CIDADE E DO URBANISMO e 2002) o Seminário de História da Cidade e do
Urbanismo. Passadas três décadas, surgem al-
gumas indagações: quais seriam as questões
30 anos . atualização crítica teóricas e metodológicas que, com toda a ex-
periência acumulada em pesquisas, interpre-
tações e narrativas históricas das cidades e do
15-18 . junho . 2021 urbanismo no país, guiariam uma atualização
crítica desse campo de conhecimento? Quais
Salvador - Bahia seriam os temas, problemas, teorias, metodo-
logias, sujeitos e redes envolvidas nesse pro-
cesso de construção intelectual da história do
pensamento urbanístico entendido como uma
problemática contemporânea em suas diversas
abrangências? Como os diferentes campos de
pesquisa sobre as cidades, a partir dos limiares
entre os campos da Arquitetura, do Urbanismo
e da História, têm produzido experiências multi
ou transdisciplinares? Quais as dimensões pre-
sentes na construção de nosso campo de deba-
tes relativas às experiências e culturas urbanas
cotidianas, às coletividades, aos saberes tradi-
cionais, aos silenciamentos, às questões étni-
co-raciais e de gênero?

Bienalmente realizado desde 1990, o SHCU en-


contra-se na sua décima sexta edição em 2021,
caracterizada por equacionar, divulgar e estimu-
ă­ī­ÆďĊĮĴīķÉÃďÌ­ìðĮĴďīðďæī­ť­Ì­ÆðÌ­ÌÐÐÌď
urbanismo no âmbito dos diversos programas
de pós-graduação. Mediante trocas disciplina-
res profícuas por mais de trinta anos, acolhen-
do contribuições de campos de conhecimentos
diversos – Arquitetura e Urbanismo, a História, a
:Ðďæī­ť­ș­wďÆðďăďæð­ș­ĊĴīďĨďăďæð­ÐĴÆȘȯď
SHCU é o mais importante fórum de debates, di-
fusão, trocas no campo da história urbana entre
pesquisadores, programas de pós-graduação e
Ĩī®ĴðÆ­ĨīďťĮĮðďĊ­ăȘ

Nesse sentido, nesta edição foram propostos


quatro eixos: ǠȘ>ðĮĴďīðďæī­ť­ÐqÐĊĮ­ĉÐĊĴď€ī-
Å­ĊòĮĴðÆďĊďĪķ­ăðĊĴÐīÐĮĮ­īÐŦÐĴðīĪķÐĮĴĦÐĮĴÐ-
órico-metodológicas, os problemas, as teorias,
as metodologias, os atores, as redes intelectu-
ais e os regimes de historicidade; 2. História,
€īÅ­ĊðĮĉďÐďķĴīďĮÆ­ĉĨďĮÌďÆďĊìÐÆðĉÐĊĴď
16º SHCU ĮďÅīЭĮÆðÌ­ÌÐĮ onde o interesse volta-se para
30 anos . Atualização Crítica experiências, multi, inter e transdisciplinares,
os saberes tradicionais e a dimensão da expe-
riência urbana cotidiana; ǢȘ'ĮÆīðĴ­ĮÌ­>ðĮĴĐīð­
€īÅ­Ċ­ através do qual propomos vislumbrar
as temporalidades, os silenciamentos, os mo-
ÌďĮ ÌÐ Ċ­īī­ÉÃď Ð ­Į Ĩī®ĴðÆ­Į ìðĮĴďīðďæī®ťÆ­Į
– história oral, comparada, conectada, relatos,
testemunhos, cidade letrada, literatura, biogra-
ť­ĮșĉďĊĴ­æÐĊĮÐĴÆÐțǣȘðÌ­ÌÐĮșTÐĉĐīð­ĮÐ
īĪķðŒďĮ o qual se debruça sobre as fontes, os
documentos, as materialidades, os patrimônios,
­ĮÆ­īĴďæī­ť­Įș­ĮðÆďĊďæī­ť­ĮÐďķĴī­ĮåďĊĴÐĮș
documentos e vestígios.

wÐșì®ÐŘ­ĴďĮĴīðĊĴ­­ĊďĮșìďķŒÐķĉÆă­īďŦďīÐĮ-
cimento do interesse pela História no campo do
Urbanismo – que resultou na proposta do 1º se-
minário feita por jovens professores e pesquisa-
dores –, como essa aproximação com o campo
Ì­>ðĮĴĐīð­ÐÌ­>ðĮĴďīðďæī­ť­­ðĊÌ­ĨďÌÐÆďĊ-
tribuir para a discussão das questões urbanas?
Quais seriam hoje as escritas da história urbana,
os modos de narração e as práticas historiográ-
ťÆ­ĮīÐă­ÆðďĊ­Ì­Į¾ĮÆðÌ­ÌÐĮȟďĉďÌðåÐīÐĊĴÐĮ
åďĊĴÐĮÌďÆķĉÐĊĴ­ðĮŒÔĉĮÐĊÌďīÐĮĮðæĊðťÆ­Ì­Į
ÐĊĴīÐĉÐĉĐīð­ĮЭīĪķðŒďĮșÆ­īĴďæī­ť­ĮÐðÆď-
Ċďæī­ť­ĮķīÅ­Ċ­Įȟďĉďå­šÐīЭĴķ­ăðš­īÆīðĴð-
camente a história das cidades e do urbanismo
na conturbada conjuntura atual do Brasil?

ĮīÐĮĨďĮĴ­ĮÐīÐŦÐŘĦÐĮÌЭăæķĊĮÌÐĮĮÐĮĪķÐĮ-
tionamentos podem ser encontradas nas 41 Ses-
sões Temáticas, 30 Mesas Temáticas e 160 vídeo
posters apresentados ao longo do evento e que
agora são disponibilizados em forma de Anais.
Esse conjunto de trabalhos evidenciam, ainda,
uma série de lacunas e temas emergentes que
apontam para a possibilidade (e necessidade) de
ampliação e revisão de questões voltadas para a
história da cidade e do urbanismo e sua inter-re-
lação e fortalecimento com outros campos de
saber como forma de problematizar e contribuir
nas discussões atuais do campo.

Dilton Lopes de Almeida Júnior


Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza

ďďīÌÐĊ­ÌďīÐĮ'ŘÐÆķĴðŒďĮÌďǠǥǚwÐĉðĊ®īðď
ÌÐ>ðĮĴĐīð­Ì­ðÌ­ÌÐÐÌď€īÅ­ĊðĮĉď
16º SHCU Coordenação Honorária

Seminário de História Ana Fernandes

da Cidade e do Urbanismo Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Marco Aurélio A. de Filgueiras Gomes


comissão organizadora Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Coordenação Executiva

Dilton Lopes de Almeida Júnior


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Fabio Macedo Velame


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

José Carlos Huapaya Espinoza


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Coordenação Organizadora

Alexandre Pajeú Moura


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Anna Paula Ferraz


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Aparecida Netto Teixeira


Arquitetura e Urbanismo – PPTDS/UCSAL

&LEHOH0RUHLUD1REUH%RQãP
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Fellipe Decrescenzo Andrade Amaral


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Igor Gonçalves Queiroz


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Janayna Victória Araujo


16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA
Josane dos Santos Oliveira Anna Paula Ferraz
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Júlia Dominguez Fellipe Decrescenzo Andrade Amaral


Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Juliana Cardoso Nery Igor Gonçalves Queiroz


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Laila Nazem Mourad Janayna Victória Araujo


Arquitetura e Urbanismo – PPTDS/UCSAL Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA

Larissa Corrêa Acatauassú Josane dos Santos Oliveira


Arquitetura e Urbanismo – MPCECRE/UFBA Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Luiz Antonio de Souza Júlia Dominguez


Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA
Urbanismo – UNEB
Ramon Martins da Silva
Nivaldo Vieira de Andrade Junior Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA
Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA

Paola Berenstein Jacques Comunicação e Design GráfIco


Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA
Alyssa Volpini
Ramon Martins da Silva Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA
Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA
Dilton Lopes de Almeida Júnior
Sonia Mendes Reis Nascimento Silva Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA
Igor Gonçalves Queiroz
Sophia Lluís de Oliveira Ramos Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
Arquitetura e Urbanismo - FAUFBA
Leonardo Vieira de Souza
Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA
Secretaria
Ramon Martins da Silva
Alexandre Pajeú Moura Arquitetura e Urbanismo - PPGAU/UFBA
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
6RãDGH&DUYDOKR&RVWDH/LPD
Alyssa Volpini Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA
Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA
16º SHCU Márcia Genésia de Sant’Anna
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA)
Seminário de História Coordenadora

da Cidade e do Urbanismo Adriana Caúla


Arquitetura e Urbanismo – UFF
comissão científIca
Ana Claudia Scaglione Veiga de Castro
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/USP

Aparecida Netto
Arquitetura e Urbanismo – PPTDS/UCSAL

Carolina Pescatori
Arquitetura e Urbanismo – PPG-FAU/UnB

Cátia Antônia da Silva


:Ðďæī­ť­ȯqq:>wȥ€'tL

Clarissa Campos
Arquitetura e Urbanismo – UFSJ

Eduardo Rocha Lima


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Elisângela Chiquito
Arquitetura e Urbanismo -DURB/EA/UFMG

Fernanda Arêas Peixoto


Antropologia – PPGAS/USP

Francisco de Assis da Costa


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFPB

George Alexandre Ferreira Dantas


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFRN

José Tavares Correia de Lira


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/USP

José Simões de Belmont Pessôa


16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFF
Josianne Francia Cerasoli Thaís Bhanthumchinda Portela
História – PPGH/UNICAMP Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Laila Mourad Thiago Canettieri


Arquitetura e Urbanismo – PPTDS/UCSAL :Ðďæī­ť­ȯqq::ȥ€9T:
EA/UFMG
Leandro Cruz
Arquitetura e Urbanismo – FAU/UnB

Luciana Sabóia
Arquitetura e Urbanismo – PPG-FAU/UnB

Luiz Antônio de Souza


Arquitetura e Urbanismo – Urbanismo/UNEB
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Marcio Cotrim Cunha


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Margareth da Silva Pereira


Arquitetura e Urbanismo – PROURB /UFRJ

Milton Araújo Moura


História – PPGH/UFBA
PPGCS/UFBA

Paulo Cesar Borges Alves


Sociologia – PPGCS/UFBA

Rafael Soares Gonçalves


Direito – PUC Rio

Robert Moses Pechman


História – IPPUR/UFRJ

Ricardo Trevisan
Arquitetura e Urbanismo – PPG/FAU UnB

Sarah Feldman
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/IAU USP

Renata Campello Cabral


Arquitetura e Urbanismo – MDU/UFPE
16º SHCU Apoios e parceiros

Seminário de História João Carlos Salles Pires da Silva

da Cidade e do Urbanismo
Reitor da Universidade Federal da Bahia

Fabiana Dultra Britto


Pró-reitora de Extensão - PROEXT UFBA

Flávia Goulart
Diretora da EDUFBA

Sergio Kopinski Ekerman


Diretor da Faculdade de Arquitetura da UFBA

Nivaldo Vieira de Andrade Junior


Coordenador do PPGAU-UFBA

Larissa Corrêa Acatauassú Nunes Santos


Coordenadora do MP-CECRE-UFBA

Maina Pirajá Silva


Coordenadora PPG-TAS-UCSAL

Márcio Moraes Valença


Presidente da ANPUR

Ricardo Trevisan
Presidente da ANPARQ

Luiz Antonio de Souza


Presidente do IAB-BA

Renato Gama-Rosa Costa


Presidente do Docomomo-BR

Conferencistas

Adrian Gorelik
Universidad Nacional de Quilmes

Silvia Arango
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica Universidad Nacional de Colombia
Wlamyra de Albuquerque Pesquisa HI-SHCU
Universidade Federal da Bahia
Washington Drummond
José Eduardo Ferreira dos Santos
História – PPGH/UNEB Alagoinhas
Acervo da Laje Coordenador

Ângela Mingas Alyssa Volpini


Universidade Lusíada de Angola Arquitetura e Urbanismo – FAUFBA

Redy Wilson Ana Luiza Silva Freire


Universidade Nova de Lisboa Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA

Conferencistas Participantes do I SHU de 1990 Dilton Lopes de Almeida


Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
Célia Ferraz
PROPUR/UFRGS Eloísa Marçola
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
Fânia Fridman
IPPUR/UFRJ Igor Gonçalves Queiroz
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
Carlos Roberto Monteiro de Andrade
IAU/USP Luiz Antonio Souza
Arquitetura e Urbanismo PPGAU/UFBA
Maria Cristina Leme Urbanismo – UNEB
FAU/USP
Mauricio José de Jesus
Maria Stella Brescianni História – PPGH/UNEB Alagoinhas
CIEC/UNICAMP
Paola Berenstein Jacques
Pedro Vasconcelos Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
PPGPTDS/UCSAL
Ramon Martins da Silva
Cibele Rizek Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFBA
IAU/USP
5REHUWR/XLV%RQãPGRV6DQWRV)LOKR
Antônio Heliodório História – PPGH/UNEB Alagoinhas
PPGAU/UFBA
Thaís Gouveia Calazans Dantas
História – PPGH/UNEB Alagoinhas
16º SHCU Participantes do shu de 1990
entrevistados e homenageados pela pesquisa hi-shcu
Seminário de História
Ana Fernandes
da Cidade e do Urbanismo PPGAU/UFBA

Ângela Lúcia de Araújo Ferreira


PPGAU/UFRN

Carlos Roberto Monteiro de Andrade


IAU/USP

Célia Ferraz de Souza


PROPUR/UFRGS

Cibele Rizek
IAU/USP

Fania Fridman
IPPUR/UFRJ

Heliodorio Sampaio
PPGAU/UFBA

Joel Outtes
FA/UFRGS

José Geraldo Simões Junior


FAU/UPM

José Tavares de Lira


FAU/USP

Maria Cristina Leme


FAU/USP

Maria Stella Bresciani


CIEC/UNICAMP

Pasqualino Magnavita
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica PPGAU/UFBA
Pedro Vasconcelos Sophia Lluis Oliveira Ramos
PPGPTDS/UCSAL Tadeu de Brito
Tafnes Amaral
Raquel Rolnik
Talita Lima Sousa
FAU/USP
Victor cesar borges fonseca
Robert Moses Pechman
IPPUR/UFRJ Debatedores de Vídeo-Pôsteres

Alexandre Pajeú Moura


monitores
PPGAU/UFBA
Aretha de Macedo Cardoso
Aparecida Netto
Berta de Oliveira Melo
PPGPTDS/UCSAL
Danilo Lemos de Araújo
Deborah Sandes de Almeida
Cátia Antônia
Eloísa Marçola
PPGHS/UERJ
Ester Moreira Santos
Gabriella Suzart Santana Clarissa Campos
Gisa Maria Gomes de Barros Almeida UFSJ
Guilherme Ferreira dos Santos
Iris Priscila Nunes da Silva Oliveira Dilton Lopes

-HIIHUVRQ)HOLSH0DFHGR%RQãP PPGAU/UFBA

Jiselle Dias
Eliana Queiróz
Jonas Oliveira Santana
PPGAU/UFBA
Júlia Dominguez
Laise Santos Pires Eloísa Marçola
Márcio roque batista Lima PPGAU/UFBA
Maria Janaina Anunciação Ventin
Mariana Cristina da Silva Gomes Elisângela Queiroz Veiga
Mário Pinto Calaça Júnior PPGAU/UFBA

Nathan Andrey Merenciano Bastos


Fellipe Descrescenzo
Paula Mussi Bittencourt
PPGAU/UFBA
Pedro Bahia
Rafael Souza Janaína Bechler
Richardson Thomas da Silva Moraes
PPGAU/UFBA
Robson Dean Araujo de Souza
Rodrigo Oliveira Mato Grosso Pereira Joaquim Nunes
Simone Buiate Brandão PPGAU/UFBA
16º SHCU Josane Oliveira
PPGAU/UFBA
Seminário de História
da Cidade e do Urbanismo José Pessoa
PPGAU/UFF

Josianne Cerasoli
CIEC/UNICAMP

Julia Pela Meneghel


PPGAU/UFBA

Leandro Cruz
FAU/UnB

Leonardo Poli
UNIME

Luz Adriana Iriarte López


PPGAU/UFBA

Marcos Britto
PPGAU/UFBA

Rafaela Izeli
PPGAU/UFBA

Ramon Martins
PPGAU/UFBA

Robert Pechman
IPPUR/UFRJ

Sarah Feldman
PPGAU/IAU USP

Sônia Silva
PPGAU/UFBA

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
SISGEENCO

Júlia Rocha
Clesio Marinho
Carlos Nonato
Bruno Tavares
Robson Tavares

Festa de Encerramento

Spadina Banks
Aimée Lumiére
Nadine Nascimento
Gustavo Ortega
16º SHCU EIXO TEMÁTICO 1

HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO


SEMINÁRIO DE HISTÓRIA
DA CIDADE E DO URBANISMO tÐŦÐĴðī­ĮĪķÐĮĴĦÐĮĴÐĐīðÆďȭĉÐĴďÌďăĐæðÆ­ĮșďĮ
problemas, as teorias, as metodologias, os ato-
res, as redes intelectuais e os regimes de histo-
EIXOS temáticOs ricidade.

EIXO TEMÁTICO 2

HISTÓRIA, URBANISMO E OUTROS CAMPOS


DO CONHECIMENTO SOBRE AS CIDADES

Debruçar-se sobre as experiências, multi, inter


e transdisciplinares, os saberes tradicionais e a
dimensão da experiência urbana cotidiana.

EIXO TEMÁTICO 3

ESCRITAS DA HISTÓRIA URBANA

Vislumbrar as temporalidades, os silenciamen-


tos, os modos de narração e as práticas historio-
æī®ťÆ­ĮȯìðĮĴĐīð­ďī­ășÆďĉĨ­ī­Ì­șÆďĊÐÆĴ­Ì­ș
relatos, testemunhos, cidade letrada, literatura,
Åðďæī­ť­ĮșĉďĊĴ­æÐĊĮÐĴÆȘ

EIXO TEMÁTICO 4

CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS

Debruçar-se sobre as fontes, os documentos,


as materialidades, os patrimônios, as cartogra-
ť­Įș­ĮðÆďĊďæī­ť­ĮÐďķĴī­ĮåďĊĴÐĮșÌďÆķĉÐĊ-
tos e vestígios.

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
índice . artigos

EIXO TEMÁTICO 4
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
ARTIGOS mesas temáticas

ARQUIVO VIVO: EXPERIÊNCIA URBANA NA REDOBRA


EIXO TEMÁTICO 4
BECHLER, Janaína; SILVA, Rafael Luis Simões Souza e;
CIDADES, MEMÓRIAS CARRILLO, Oswaldo Freitez; BRITTO, Marcos Vinícius
Bohmer.
E ARQUIVOS 3094

CIDADES E CANÇÕES: DIÁLOGOS POSSÍVEIS

VIRGÍLIO DA SILVA, Marcos; MONÇÃO JUNIOR, Roberto


Gomes; CONTI, Lígia Nassif; ZANETTI, Valéria.

3114

DE DEMOLIÇÕES E RUÍNAS EXTÁTICAS: NARRATIVAS E


DISPUTAS DE MODERNIDADE NAS CIDADES
BRASILEIRAS

ATIQUE, Fernando; DANTAS, George Alexandre Ferreira.

3128

ENTRE IMAGEM E ESCRITA: ARACY ESTEVE GOMES E A


CIDADE DE SALVADOR

MORTIMER, Junia; DRUMMOND, Washington; COSTA,


Eduardo; SILVA, Breno; MARQUEZ, Renata.

3146

HABITAÇÃO SOCIAL, HISTÓRIA URBANA E PATRIMÔNIO


CULTURAL: ENTRE DEBATES E PROJETOS

NASCIMENTO, Flávia Brito do; VIEIRA-DE-ARAÚJO,


Natália Miranda; SAMPAIO, Andrea da Rosa; MOTTA, Lia.

3166

VISIBILIDADES, IMAGINÁRIOS, ARQUITETURAS E


CIDADES

COSTA, Eduardo; MORTIMER, Junia; MUSA, Priscila;


VELLOSO, Rita.

3188

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
MEMÓRIAS DO APAGAMENTO: OS VESTÍGIOS DAS
sessões temáticas PRIMEIRAS FAVELAS PAULISTANAS

FLOCK, Júlia.
A CIDADE EM IMAGENS: INVENTÁRIO, INDEXAÇÃO E
3342
DIGITALIZAÇÃO DOS PLANOS URBANÍSTICOS DE
VITÓRIA
O RITO DO DEMOLITÓRIO: A ATUAÇÃO DOS TÉCNICOS
BOTECHIA, Flavia.
DO SETOR DE DESAPROPRIAÇÕES PARA O PLANO DE
3212 AVENIDAS (1937-1945)

CANUTO-SILVA, Aline.
CIDADES-SATÉLITES: O 2º CINTURÃO DE BRASÍLIA
3360
TREVISAN, Ricardo; AMIZO, Isadora Banducci; LEMOS,
Rubiana Cardoso Campos.
UM CAPÍTULO NA HISTÓRIA DO DIREITO URBANÍSTICO
3226 BRASILEIRO: ALCIDES CRUZ

MASSONETTO, Luís Fernando; RICKEN, Guilherme.


CRÔNICAS DA MODERNIZAÇÃO E DA URBANIZAÇÃO DE
3380
SALVADOR (1930-1945)

BIERRENBACH, Ana Carolina.

3250

ESTÁDIO DA VILA EUCLIDES: TRABALHADORES,


MEMÓRIA E ARQUITETURA EM UM PATRIMÔNIO NA
METRÓPOLE PAULISTANA

DARVICHE, Yasmin.

3270

ESTUDOS DA LOCALIDADE, ARRANJOS ESPACIAIS E


PATRIMÔNIO INDUSTRIAL DO ENGENHO CENTRAL DE
PIRACICABA

CACHIONI, Marcelo; KÜHL, Beatriz Mugayar.

3288

FORDLÂNDIA - RUÍNA DO FUTURO

FREIRE, Ana Luiza Silva; QUEIROZ, Igor Gonçalves.

3310

MEMÓRIAS DA DITADURA EM BUENOS AIRES:


A CONSTRUÇÃO DO EX-CCDTYE CLUB ATLÉTICO COMO
SÍTIO DE MEMÓRIA

CABRAL LOPES, Rebeca.

3328
ARTIGOS vídeo-pôsteres

A “BOA VISTA” DO RECIFE: DECLARAÇÃO DE


EIXO TEMÁTICO 4 SIGNIFICÂNCIA CULTURAL

CIDADES, MEMÓRIAS BIHUM, Bruno; LIRA, Flaviana.

E ARQUIVOS 3400

A CASA DAS ROSAS E A POLÍTICA PRESERVACIONISTA


DO CONDEPHAAT
SERRA, Adriana; OLIVEIRA, Ricardo.

3420

A EXPRESSÃO DE UMA GOTA EM UMA POÇA DE SANGUE:


A RESISTÊNCIA DA MEMÓRIA EM ESPAÇOS URBANOS
PEREIRA, Jéssica Carlos.

3436

A FESTA DAS NEVES EM: O PATRIMÔNIO CULTURAL


IMATERIAL E A IDENTIDADE PESSOENSE
CARNEIRO, Natália Vieira; CHAVES, Maria Luiza Xavier.

3456

A FORMA URBANA OITOCENTISTA DE CACHOEIRA,


RECÔNCAVO BAIANO
VEIGA, Elisângela Queiroz.

3470

A IGREJA DE SÃO JOSÉ E SEU VALOR SIMBÓLICO PARA


A CIDADE DE MACAPÁ-AP
BASTOS, Ananda Brito; BASTOS, Cecília Maria Chaves
Brito; CANTUÁRIA, Eloane de Jesus Ramos.

3490

A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO RURAL PARA A


CULTURA BRASILEIRA: A FAZENDA ACAUÃ
FERREIRA, Tony Anderson da Silva; SILVA, Olga Mariana
da Sousa e; FERREIRA, Anna Cristina Andrade.

3508

A LINHA FERRÉA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O


DESENVOLVIMENTO DA CIDADE DE PATOS-PB
ALMEIDA, Bruno; ALMEIDA, Eneida de.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica 3524
A MORFOLOGIA DA PRAÇA SÃO SALVADOR EM CAMPOS AQUI MORAVA UMA FAMÍLIA: O PROCESSO DE TRANSFOR-
DOS GOYTACAZES (RJ): OS ASPECTOS VISÍVEIS E MAÇÃO E ESVAZIAMENTO DE BAIRROS EM MACEIÓ-AL
INVISÍVEIS DE SUA TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA
BULHÕES, Júlia Amorim; CALDEIRA, João Victor Santos;
DOS SANTOS, Caroline Gonçalves.
SANZ, Jasmine Andrade.
3682
3538

A PAISAGEM QUE CONTA HISTÓRIA: REFLEXÕES SOBRE AS MARCAS DA ESTRADA DE FERRO SANTOS-JUNDIAÍ
FORMAS DE PRESERVAR A PAISAGEM CULTURAL NA PAISAGEM URBANA DO BAIRRO DA LAPA, NA
NATALENSE CIDADE DE SÃO PAULO

MADRUGA, Natália Melchuna; NOBRE, Paulo José Lisboa. IGNÁCIO, Marcus Vinícius Lemos; MOTA, Carlos Guilherme.

3556 3700

A PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA RECENTE E SENSÍVEL AS PRAÇAS REAIS FRANCESAS: URBANISMO CLÁSSICO


POR MEIO DA ARTE URBANA OU BARROCO?

CAFEZEIRO, Yan Graco; DUARTE, Sarah Marques. BAETA, Rodrigo.

3576 3720

A UFF EM NITERÓI: O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO AS RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO E EXPLORAÇÃO:


DOS CAMPI NO ATERRADO PRAIA GRANDE INVESTIGAÇÕES ATRAVÉS DO ESTUDO DO CÓDIGO DE
POSTURA URBANO DE 1838 NO RIO DE JANEIRO
SOARES DA COSTA, Gabriel.
MARQUES, Heloisa da Silva.
3594
3742

A URBANIDADE RESISTE: A BELA VISTA NO INÍCIO DOS


ANOS 1980 PELAS LENTES DO DEPARTAMENTO DO BAIANIDADE MINEIRA: A CONFIGURAÇÃO URBANA DE
PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE SÃO PAULO MUCUGÊ E SUAS INFLUÊNCIAS

MUNIZ, Claudia Andreoli. AMARAL, Fellipe Decrescenzo A.

3610 3762

ABERTURA DA AVENIDA SÃO JOÃO EXTRAVASANDO BRASÍLIA CENOGRÁFICA: UMA IMAGEM ONDE A
A COLINA HISTÓRICA PAULISTANA CIDADE E A MULHER MODERNAS SE ENCONTRAM

SANTOS, Regina Helena Vieira Santos. CALLADO, Vanessa.

3626 3780

A CIDADE QUE ENSINA: DISCURSOS SOBRE OS CORPOS BRASÍLIA E DEMOCRACIA: SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS
URBANOS AO PLANO PILOTO DURANTE O PROCESSO DE
REDEMOCRATIZAÇÃO (1985-1988)
LOUREIRO, Felipe.

3646 BRAGAIA, Flavio Antonio D’Ugo.

3798
ALTO DA LAPA E BELA ALIANÇA: PRESERVAÇÃO
DE BAIRROS-JARDIM DE SÃO PAULO E A DIN MICA CAPITAL ALENCARINA FEITA DE MEMÓRIAS: OS
IMOBILIÁRIA ATUAL ANTIGOS TOPÔNIMOS DE BAIRROS DE FORTALEZA
SOUZA JUNIOR, Wilmar Moura de Souza; SIMOES JUNIOR,
José Geraldo. SILVA, Gleilson Angelo da.

3664 3818
ARTIGOS CASAS MODERNAS EM SÃO CARLOS-SP: REGISTROS
DE UMA MEMÓRIA EDIFICADA

MONTEIRO, Flávia C.; ALMEIDA, Adriana L. de.


EIXO TEMÁTICO 4 3838

CIDADES, MEMÓRIAS CAVALCANTI E ROSADO: DISCUSSÃO SOBRE O


E ARQUIVOS DESENVOLVIMENTO URBANO DOS MUNICÍPIOS DO
OESTE POTIGUAR (1912-1940)
SOARES, Luiz Antônio Ferreira; DUTRA, Milena Dantas
Martins; MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de.

3854

CIDADE E MEMÓRIA: HISTÓRIAS NARRADAS EM


RETRATOS DE FAMÍLIA
GUMA, Juliana Lamana; ALCANTARA, Marina; COIMBRA,
Gabriela Petersen.

3874

CINEMAS DE RUA NO VALE DO ITAJAÍ (SANTA


CATARINA): MEMÓRIA REVISITADA
MULLER, Yasmin; POZZO, Renata Rogowski.

3892

CONTRIBUIÇÕES PARA HISTÓRIA URBANA: O MERCADO


DE TERRAS DE PASSO FUNDO NA PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XX
DINIZ, Pedro Henrique Carretta; ALMEIDA, Caliane
Christie Oliveira de.
3912

CORA CORALINA E A HISTÓRIA EM VERSOS


SANTOS, Jana Cândida Castro dos.

3932

DICOTOMIA NA PRESERVAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE


O MODERNO NA CIDADE DE GOIÁS – GO
FONSECA, Thalita Pereira da; OLIVEIRA, Karine Camila.

3950

ENCONTRO REVELADO: MARCEL GAUTHEROT E PIERRE


VERGER NA REVISTA DO PATRIMÔNIO
COTRIM, Márcio; BRANDÃO, Natália.

3968
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
ENTRE PERMANÊNCIAS E RUPTURAS: O CASO DA NARRATIVAS HISTÓRICAS SOBRE A PRECARIEDADE
CIDADE VERANEIO HABITACIONAL EM BELÉM
GIASSON, Bruno Cesar Eder; BELLO, Helton Estivalet. MAUÉS, Rogério Santana; MIRANDA, Cláudia Aires de Sá;
LEITÃO, Karina Oliveira.
3984
4130

ESCOLAS E EDUCAÇÃO NAS CIDADES NOVAS DE


JOAQUIM GUEDES NOS TRILHOS DA PRESERVAÇÃO: PLANO DE
CONSERVAÇÃO DA ESPLANADA FERROVIÁRIA DE BELO
QUINTANILHA, Rogério.
JARDIM – PE
4002
ALVES, Cleylton.

4150
ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE EM
SALVADOR NO SÉCULO XX: OS PRIMEIROS HOSPITAIS
PÚBLICOS DE ATENDIMENTO EMERGENCIAL O CARNAVAL E A CIDADE: SALVADOR ATRAVÉS DAS
IMAGENS DA FUNDAÇÃO GREGÓRIO DE MATTOS E
BATISTA, Lucianne F.
FUNDAÇÃO PIERRE VERGER (1951-1962)
4024
BELITARDO, Adele.

4174
ESTUDO E DOCUMENTAÇÃO DE CASAS DE MADEIRA NA
CIDADE DE MARINGÁ-PR POR MEIO DA MODELAGEM
DIGITAL O CEMITÉRIO COMO ESPAÇO TERRITORIAL URBANO:
HISTORIOGRAFIA DO CASO DE VITÓRIA (ES)
NAGAHAMA, Amanda K.; PTASZEK, Andryelle C.; SILVA,
Ricardo D. TEIXEIRA, Paloma Barcelos.
4040 4192

HABITAR NA VILA: PROJETO DE INTERVENÇÃO DAS O FAROL DE SANTA MARTA E SUA POTENCIALIDADE
VILAS MANOEL DIAS E MANOEL FREIRE CAMPINAS/SP COMO MUSEU DE SÍTIO
LOBATO, Renata; GUAZZELLI, Barbara; OLIVEIRA, Raissa. MORAES, Adriane C. S.; BARRETTO, Margarita.
4054 4208

IDEIAS E REPRESENTAÇÕES DE NATUREZA O NOVO JÁ NASCE VELHO? REFLEXÕES SOBRE O


NO SPHAN (1937) TECIDO URBANO DOS PLANOS DAS AVENIDAS EM
VIDAL, Rafael T. LISBOA DE RESSANO GARCIA
4072 SILVA, Lídia Pereira.

4228
IMAGENS EM CRUZAMENTO DE SÃO PAULO: FENDAS,
RESISTÊNCIAS E MEMÓRIAS O REGISTRO DE TERRAS DO CURRAL DEL REI
GREGORI, Márcia Sandoval. NOS ANOS 1855 - 1856
4088 LIMA, Daniela Batista.

4244
MEMÓRIA E MODERNIZAÇÃO DOS LICEUS
INDUSTRIAIS: A ARQUITETURA DO ENSINO TÉCNICO
O USO DA ORALIDADE NO (RE) CONHECIMENTO DA
NA ERA VARGAS
PAISAGEM DO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM (PA)
ARAUJO, Adriana Castelo Branco Ponte de Araújo; PAIVA,
TUTYIA, Dinah Reiko; MIRANDA, Cybelle Salvador.
Ricardo Alexandre.
4256
4106
ARTIGOS ORIGENS DA INDÚSTRIA TÊXTIL EM PERNAMBUCO:
NARRATIVAS DE UM SISTEMA
BARRETO, Juliana Cunha.
EIXO TEMÁTICO 4 4274

CIDADES, MEMÓRIAS PAISAGENS, TERRITÓRIOS E FRAGMENTOS EM


E ARQUIVOS GOIÂNIA: [RE]VISITANDO AS FONTES DOCUMENTAIS
DELFINO, Dhyogo Santis; RESENDE, Sandra Catharinne
Pantaleão; VILARINHO, Luana Chaves.

4294

PATRIMÔNIO HISTÓRICO COMO COMUM CULTURAL


DURANTE OS PRIMEIROS TOMBAMENTOS NA CIDADE
DE GOIÁS
OLIVEIRA, Irina Alencar; PALAZZO, Pedro P..

4320

PENSAR O ARQUIVO, INSISTIR NA CIDADE


MACHADO, Bruno Amadei.

4340

PLANEJAMENTO URBANO E LAZER EM CAMPINA


GRANDE: O PARQUE EVALDO CRUZ. ANOS 1970-2020
LIMA NETO, Carlos Alberto de; ATAIDE, Ruth Maria da Costa.

4358

POLÍTICAS DO PATRIMÔNIO URBANO EM PELOTAS-RS:


PERSPECTIVAS SOBRE A CIDADE, ENTORNO DE BENS
TOMBADOS E DIREITO À MEMÓRIA
NITO, Mariana Kimie da Silva.

4384

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: UMA


REFLEXÃO SOBRE A GESTÃO DO PATRIMÔNIO E A
NOTORIEDADE DO ART DÉCO EM GOIÂNIA
NERY, Juliana Cardoso; ROMUALDO, Elana da Silva.

4402

PRESERVAÇÃO E PLANEJAMENTO URBANO:


GEORREFERENCIAMENTO DAS EDIFICAÇÕES
TOMBADAS DA RUA NIQUELINA EM
BELO HORIZONTE/MG

CLIPES, Letícia; BONES, Marco Túlio; SILVA, Larissa.


16º SHCU
4418
30 anos . Atualização Crítica
PRESTES MAIA EM LONDRINA-PR: A LEI 133/1951
ZANON, Elisa Roberta.

4438

QUANDO A MEMÓRIA COLETIVA PATRIMONIALIZOU


OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ
BAIA, Laura; LENNO, Mayk.

4452

RUÍNAS PATRIMÔNIO CULTURAL: PLANO DE GESTÃO


DA CONSERVAÇÃO E O CASO DO LESTE FLUMINENSE,
RIO DE JANEIRO - BRASIL
FONSECA, Victoria Vieira da; DUTRA, Isabela Duarte.

4468

SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA NA CIDADE DE SÃO


PAULO NO FINAL DO SÉCULO XX: A CIDADE FORMAL E
OS ENCLAVES FORTIFICADOS COMO REPRESENTAÇÃO
HEGEMÔNICA DO ESPAÇO URBANO (1986-1995)
YOSHIOKA, Luma de Sousa.

4488

SOBRE COMO O AUTOMÓVEL TEVE PRIORIDADE NA


PRAÇA DE SÃO PEDRO - MARIANA (MG)
AZEVEDO, Maria Helena; MOURA FILHA, Maria Berthilde.

4502

SOBREPOSIÇÕES DO URBANO - DO COLONIAL AO ATUAL


EM VITÓRIA
NEMER, Luciana; CANTREVA, Philipe.

4520

TRANSFORMAÇÕES VISTAS POR MEIO DA


CARTOGRAFIA URBANA: MATERIALIDADES E
EXPRESSÕES DO CRESCIMENTO DE MOSSORÓ -
RN/BRASIL (1920-1953)
ARAÚJO, Breno de Assis Silva; CARDOSO, Paulo Vitor
Pontes; FERREIRA, Angela Lucia.

4542

URBANISMO SOCIAL E VIOLÊNCIA DO ESTADO


EM MEDELLÍN NA VIRADA DO SÉCULO XXI
BARZAGHI, Clara; FRAJNDLICH, Rafael Urano.

4564
EIXO TEMÁTICO 4

CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS


EIXO TEMÁTICO 4

CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS

mesas temáticas
EIXO TEMÁTICO 4 RESUMO
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
'ĮĴÐ ­īĴðæď ÅķĮÆ­ īÐŦÐĴðī ĮďÅīÐ ­Į īÐă­ÉĦÐĮ
observadas entre a comunidade da cidade de
vídeo-pôster Goiás-GO e seu patrimônio cultural sob a pers-
pectiva dos comuns culturais, especialmente,
na primeira de suas três fases de patrimoniali-
PATRIMÔNIO HISTÓRICO zação convencionadas. Objetiva-se compreen-
der a existência desses comuns ao longo da tra-
COMO COMUM CULTURAL jetória de preservação patrimonial da cidade e

DURANTE OS PRIMEIROS
como se estruturaram ao longo do tempo, assim
como, das práticas sociopolíticas e culturais,

TOMBAMENTOS NA CIDADE
memória social, apropriações coletivas e vincu-
ă­ÉĦÐĮ ­åÐĴðŒ­Į ­īĴðÆķă­Ì­Į ­ ÐăÐĮȘ “ðĮ­ș ÐĊťĉș
ŒÐīðťÆ­īÐĉĪķÐĉÐÌðÌ­ĴďÌďĮÐĮĮÐĮÐăÐĉÐĊĴďĮ
DE GOIÁS poderiam, por meio da participação comunitá-
ria, ter contribuído para sua conservação sin-
gular. O papel da sociedade civil organizada na
HERITAGE AS CULTURAL COMMONS DURING THE EARLY
área, como a OVAT e o Movimento Pró-Cidade de
PRESERVATION PROCESSES IN THE TOWN OF GOIÁS
Goiás, também serão observados atentamente.
Para tanto, investiga-se recortes jornalísticos
PATRIMONIO HISTÓRICO COMO COMÚN CULTURAL
de época, documentos extraídos do Dossiê de
DURANTE LOS PRIMEROS PROCESOS DE
tombamento do IPHAN e outras pesquisas so-
CONSERVACIÓN EN LA CIUDAD DE GOIÁS
bre a temática, utilizando-se o viés da Histó-
ria Cultural e as perspectivas de autores como
OLIVEIRA, Irina Alencar Pierre Nora, Antônio Negri e Michael Hardt, Da-
vid Harvey, Pierre Dardot e Christian Laval. Essa
Doutoranda; Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília
abordagem busca atender à atual demanda por
irinaoliveira@gmail.com alternativas de conservação não institucionais
do patrimônio cultural brasileiro, em razão das
PALAZZO, Pedro P. circunstâncias críticas enfrentadas por esse
campo na contemporaneidade.
Doutor; Professor associado na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Brasília
palazzo@unb.br
CIDADE DE GOIÁS COMUM CULTURAL
PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA PRESERVAÇÃO
PATRIMÔNIO CULTURAL

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica

4320
ABSTRACT RESUMEN

}ìðĮ Ĩ­ĨÐī ĮÐÐāĮ Ĵď īÐŦÐÆĴ ďĊ ĴìÐ īÐă­ĴðďĊĮìðĨĮ 'ĮĴÐĴÐŘĴďÅķĮÆ­īÐŦÐŘðďĊ­īĮďÅīÐă­ĮīÐă­ÆðďĊÐĮ


observed between the community of the Town observadas entre la comunidad de la ciudad de
ďå:ďð®Įșī­šðă­ĊÌðĴĮÆķăĴķī­ăìÐīðĴ­æÐåīďĉĴìÐ Goiás-GO y su patrimonio cultural desde la pers-
ĨÐīĮĨÐÆĴðŒÐďåÆķăĴķī­ăÆďĉĉďĊșÐĮĨÐÆð­ăăřðĊĴìÐ ĨÐÆĴðŒ­ÌÐă­ÆďĉķĊ­ăðÌ­ÌÆķăĴķī­ășÐĮĨÐÆð­ăĉÐĊ-
ťīĮĴďåðĴĮĴìīÐÐĨì­ĮÐĮďåĨīÐĮÐīŒ­ĴðďĊȘ}ìÐæď­ă te en la primera de sus tres fases de patrimonia-
is to understand the existence of these commons lización. El objetivo es comprender la existencia
along the trajectory of heritage conservation of de estos comunes a lo largo de la trayectoria de
ĴìÐÆðĴř­ĊÌìďœĴìÐřœÐīÐĮĴīķÆĴķīÐÌďŒÐīĴðĉÐș conservación patrimonial de la ciudad y cómo se
­Į œÐăă ­Į ĮďÆðďȭĨďăðĴðÆ­ă ­ĊÌ ÆķăĴķī­ă Ĩī­ÆĴðÆÐĮș ÐĮĴīķÆĴķī­īďĊ ÐĊ Ðă ĴðÐĉĨďș ­Įò Æďĉď ă­Į Ĩī®ÆĴð-
ĮďÆð­ăĉÐĉďīřșÆďăăÐÆĴðŒÐ­ĨĨīďĨīð­ĴðďĊĮ­ĊÌ­å- Æ­ĮĮďÆðďĨďăòĴðÆ­ĮřÆķăĴķī­ăÐĮșă­ĉÐĉďīð­ĮďÆð­ăș
åÐÆĴðŒÐĴðÐĮăðĊāÐÌĴďĴìÐĉȘ9ðĊ­ăăřșðĴ­ðĉĮĴďŒÐīðåř las apropiaciones colectivas y los lazos afectivos
Ĵďœì­ĴÐŘĴÐĊĴ­ăăĴìÐĮÐÐăÐĉÐĊĴĮÆďķăÌșĴìīďķæì ŒðĊÆķă­ÌďĮ­ÐăăďĮȘ9ðĊ­ăĉÐĊĴÐșĮÐÅķĮÆ­ŒÐīðťÆ­ī
ÆďĉĉķĊðĴř Ĩ­īĴðÆðĨ­ĴðďĊș 쭌РÆďĊĴīðÅķĴÐÌ Ĵď ÐĊ ĪķÑ ĉÐÌðÌ­ ĴďÌďĮ ÐĮĴďĮ ÐăÐĉÐĊĴďĮ ĨďÌīò­Ċș
their unique conservation. The role of organized ­ Ĵī­ŒÑĮ ÌÐ ă­ Ĩ­īĴðÆðĨ­ÆðĐĊ ÆďĉķĊðĴ­īð­ș ì­ÅÐī
ÆðŒðăĮďÆðÐĴřðĊĴìЭīЭșĮķÆì­ĮZ“}­ĊÌĴìÐTď- contribuido a su conservación única. También se
ŒðĉÐĊĴďqīĐȭðÌ­ÌÐÌÐ:ďð®Įșœðăă­ăĮďÅÐÆăďĮÐăř observará de cerca el papel de la sociedad civil
ďÅĮÐīŒÐÌȘ}ďÌďĮďșðĊŒÐĮĴðæ­ĴðĊæĨÐīðďÌðÆĊÐœĮ- ďīæ­Ċðš­Ì­ÐĊă­šďĊ­șÆďĉďZ“}řÐăTďŒðĉðÐĊĴď
Ĩ­ĨÐī ÆăðĨĨðĊæĮș ÌďÆķĉÐĊĴĮ ÐŘĴī­ÆĴÐÌ åīďĉ ĴìÐ qīďȭðÌ­ÌÐ ÐĊ :ďð®ĮȘ q­ī­ Ðăăďș ðĊŒÐĮĴðæ­ĊÌď īÐ-
IPHAN List of Dossiers and other research on the ÆďīĴÐĮĨÐīðĐÌðÆďĮÌÐĨÐīðĐÌðÆďĮșÌďÆķĉÐĊĴďĮÐŘ-
ĴìÐĉÐș ķĮðĊæ ĴìÐ ķăĴķī­ă >ðĮĴďīř ­ĊÌ ĴìÐ ĨÐīĮ- traídos de la Lista de Dossiers del IPHAN y otras
ĨÐÆĴðŒÐĮďå­ķĴìďīĮĮķÆì­ĮqðÐīīÐUďī­șĊĴĒĊðď ðĊŒÐĮĴðæ­ÆðďĊÐĮ ĮďÅīÐ Ðă ĴÐĉ­ș ķĴðăðš­ĊÌď ă­ >ðĮ-
UÐæīð ­ĊÌ TðÆì­Ðă >­īÌĴș #­ŒðÌ >­īŒÐřș qðÐīīÐ toria Cultural y las perspectivas de autores como
#­īÌďĴ­ĊÌìīðĮĴð­ĊO­Œ­ăȘ}ìðĮ­ĨĨīď­ÆìĮÐÐāĮ qðÐīīÐ Uďī­ș ĊĴĒĊðď UÐæīð ř TðÆì­Ðă >­īÌĴș #­-
to meet the current demand for non-institutional ŒðÌȘ>­īŒÐřșqðÐīīÐ#­īÌďĴřìīðĮĴð­ĊO­Œ­ăȘ'ĮĴÐ
conservation alternatives of the Brazilian cultural enfoque busca satisfacer la demanda actual de
ìÐīðĴ­æÐșÌķÐĴďĴìÐÆīðĴðÆ­ăÆðīÆķĉĮĴ­ĊÆÐĮå­ÆÐÌ alternativas de conservación no institucionales
ÅřĴìðĮťÐăÌðĊÆďĊĴÐĉĨďī­īřĴðĉÐĮȘ ÌÐăĨ­ĴīðĉďĊðďÆķăĴķī­ăÅī­ĮðăÐĎďșÌÐÅðÌď­ă­ĮÆðī-
cunstancias críticas que enfrenta este campo en
la época contemporánea.
TOWN OF GOIÁS CULTURAL COMMON
COMMUNITY PARTICIPATION PRESERVATION
CIUDAD DE GOIÁS COMÚN CULTURAL
CULTURAL HERITAGE
PARTICIPACIÓN COMUNITARIA PRESERVACIÓN
PATRIMONIO CULTURAL
EIXO TEMÁTICO 4 INTRODUÇÃO
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
Este trabalho discute alguns processos de
preservação e patrimonialização da cidade de
Goiás, com enfoque na participação comunitária
vídeo-pôster
e na formação de possíveis comuns culturais
desde os primórdios do movimento preser-

PATRIMÔNIO HISTÓRICO vacionista até meados da década de 1960. Tal


objeto foi escolhido em razão da atuação regular
COMO COMUM CULTURAL de parte da comunidade local nesse contexto,
desde as primeiras solicitações de tombamento
DURANTE OS PRIMEIROS em nível federal (década de 1940), culminando
com o forte engajamento verificado durante a
TOMBAMENTOS NA CIDADE preparação para sua inscrição na lista de Pa-
trimônio Mundial da Unesco no fim dos anos
DE GOIÁS 1990. Esse recorte justifica-se pelas escolhas
conceituais adotadas nesta análise, com foco
nos comuns culturais, nas práticas sociopolí-
HERITAGE AS CULTURAL COMMONS DURING THE EARLY ticas e culturais, nas apropriações coletivas e
PRESERVATION PROCESSES IN THE TOWN OF GOIÁS nas vinculações afetivas, sempre verificados
em suas articulações com o patrimônio cultural
PATRIMONIO HISTÓRICO COMO COMÚN CULTURAL local. A relevância desse tema é dada, nos dias
DURANTE LOS PRIMEROS PROCESOS DE de hoje, pelo papel fundamental da atuação da
CONSERVACIÓN EN LA CIUDAD DE GOIÁS população na conservação patrimonial, no atual
contexto de desarticulação institucional das
políticas públicas voltada para a cultura no País.

A cidade de Goiás apresenta, no panorama bra-


sileiro, singularidades em suas sistemáticas de
preservação patrimonial e nos diferentes graus
de engajamento de sua comunidade ao longo do
tempo. Assim, o processo de preservação e pa-
trimonialização de seus bens culturais pode ser
dividido em três fases. A primeira delas, objeto
deste trabalho, vai das manifestações incipien-
tes de consciência preservacionista, durante a
primeira República, até a década de 1950 (DEL-
GADO, 2005; DROGOMIRECKI, 2019). A fundação
da Organização Vilaboense de Artes e Tradições
(OVAT), em 1965, sinaliza uma renovação nos
modos de apropriação do patrimônio cultural da
cidade e marca, para os autores, o ponto alto da
segunda fase. Já a terceira etapa, caracterizada
por uma ampliação do diálogo social em torno
da preservação, tem seu início demarcado pela
mobilização em torno da candidatura de Goiás
­q­ĴīðĉĒĊðďTķĊÌð­ășĊďťĉÌ­ÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǨǟȘ

Dessa forma, a primeira dessas três etapas con-


16º SHCU vencionadas para o processo de patrimonializa-
30 anos . Atualização Crítica
ção local foi selecionada como recorte temporal
4322 deste estudo por representar a base histórica e
social sobre a qual se formulam os problemas COMPREENDENDO O COMUM E SUAS VARIANTES
de preservação da cidade em períodos subse-
quentes. Entretanto, passagens relevantes das A ideia de um destino comum da humani-
demais fases também são discutidas, quando dade não conseguiu se impor ainda, as vias
pertinentes ao tema. A História Cultural é o pilar da indispensável cooperação permanecem
analítico dessa pesquisa, ao formular categorias bloqueadas. Na realidade, vivemos a tragédia
de pensamento como comuns culturais, memória do não comum. (DARDOT; LAVAL, 2017, l. 140)
social, práticas sociopolíticas e culturais, apro-
priações coletivas e vinculações afetivas. O pri- O conceito de “comum” ou “comuns” é central na ar-
meiro conceito, central para a discussão, vem queologia do território, e descreve lugares ou orga-
de novas vertentes do marxismo, desenvolvidas nizações onde se aplicam relações negociadas de
por autores como Antonio Negri e Michael Hardt, ­ÆÐĮĮď­ďĮďăďș­īÐÆķīĮďĮЭĮðæĊðťÆ­ÌďĮĮďÆð­ðĮȘ
David Harvey, Pierre Dardot e Christian Laval. Assim, essa conceituação serve para analisar não
apenas estruturas de propriedade, mas sobretudo
Negri e Hardt (2009, p. VIII) apresentam uma sistemas de governança comunitária e, inclusive,
concepção ampla de comum, a partir da “riqueza de formulação de identidades sociais (OOSTHUI-
comum do mundo material — o ar, a água, os fru- ZEN, 2016). A partir de Hardt e Negri, David Harvey
tos do solo e toda a generosidade da natureza”, (2014, p. 145) conceitua o comum não “como um
“frequentemente reivindicada como herança da ĴðĨďÐĮĨÐÆòťÆďÌÐÆďðĮ­șÌЭĴðŒďďķĉÐĮĉďÌÐ
humanidade como um todo a ser compartilhada processo social, mas como uma relação social
conjuntamente”. Ela se amplia para considera- instável e maleável entre determinado grupo social
ções mais abstratas, como os “resultados da ­ķĴďÌÐťĊðÌďÐďĮ­ĮĨÐÆĴďĮþ®ÐŘðĮĴÐĊĴÐĮďķ­ðĊÌ­
produção social que são necessários para a inte- por criar do meio social e/ou físico, considerada
ração social e para sua produção posterior, como crucial para sua vida e subsistência”. Apresenta
conhecimentos, idiomas, códigos, informações, uma argumentação crucial para este artigo, relativa
afetos”. Este trabalho se concentra, portanto, à prática social de “comunalização”, responsável
nos comuns enquanto “produto social” consi- pelo estabelecimento de “uma relação social com
derando esta amplitude de acepções tangíveis o comum cujos usos sejam tanto exclusivos de um
e intangíveis (HARDT; NEGRI, 2009, p. 111-112). grupo social quanto parcial ou totalmente abertos
a todos”, não devendo ser “mercantilizada”.
A partir dessas abordagens acerca do comum,
são realizadas as principais observações sobre Recentemente, Pierre Dardot e Christian Laval (2017,
a particular relação da comunidade vilaboense l. 214) reavivam a temática, vislumbrando-a como “a
com seu patrimônio cultural. Para isso, utili- designação de um regime de práticas, lutas, insti-
za-se, predominantemente, artigos de jornais tuições e pesquisas que abrem as portas para um
regionais e nacionais do período em questão e futuro não capitalista”, conforme Hardt e Negri.
documentos extraídos do Dossiê de tombamen- Buscam “refundá-la” de forma “rigorosa”, “rearticu-
to do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e lando as práticas a que ele hoje dá sentido e certo
Artístico Nacional, além de teses e dissertações número de categorias e instituições, às vezes muito
relativas à temática. Na primeira parte deste ­ĊĴðæ­ĮșĪķÐťšÐī­ĉÌďÆďĉķĉķĉĴÐīĉďŒ­ăďīðš­Ìď
trabalho, apresenta-se um detalhamento dos e ao mesmo tempo maldito na história ocidental”.
problemas relacionados à atribuição e à apro- Para eles, o comum conduziria a “formas originais
priação de significados e representações no de ação e discurso”, consideram-no “a fórmula de
contexto dos comuns culturais. Em seguida, movimentos e correntes de pensamento que pre-
esses problemas são estudados no âmbito das tendem opor-se à tendência dominante de nossa
formulações iniciais de valores patrimoniais época: a da ampliação da apropriação privada a
como forma de conciliação entre facções da todas as esferas da sociedade, da cultura e da vida”
elite goiana na primeira metade do século XX. (DARDOT; LAVAL, 2017, I. 182). O elemento chave do
Por fim, aborda-se a renovação desses sig- comum entendido nesse sentido é a sua natureza
nificados no processo de reapropriação dos que transcende o público e o privado (DARDOT; LA-
comuns culturais pelas novas gerações nas “OșǡǟǠǦșăȘǣǢǨǨȨȘLķĮĴðťÆ­ȭĮÐș­ĮĮðĉș­īÐăÐŒ¶ĊÆð­
décadas de 1950 e 60. dessa visão de mundo para a pesquisa, partindo
EIXO TEMÁTICO 4 de seu enfoque na participação comunitária nos
processos de preservação patrimonial.
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
ă­ĮĮðťÆ­ĉĴ­ĉÅÑĉÐĮĮ­Æ­ĴÐæďīð­­Ċ­ăòĴðÆ­Ðĉ
algumas tipologias, como os comuns naturais e
­īĴðťÆð­ðĮȧ#t#Z}țO“OșǡǟǠǦșăȘǣǣǥǡȨȘq­ī­ď
recorte teórico deste texto, serão aprofundadas
duas delas: comuns urbanos e culturais. A partir
Ì­ĊďÉÃďÌÐÆďĉķĉ­īĴðťÆð­ăȧ>t#}țU':tAș
2009, p. 139), Harvey desenvolve a concepção
de “comuns culturais” como constituintes das
“línguas que criamos, (d)as práticas sociais que
estabelecemos, (d)os modos de sociabilidade que
ÌÐťĊÐĉĊďĮĮ­ĮīÐă­ÉĦÐĮȧȘȘȘȨȶș­ăÑĉÌďÆďĊìÐ-
cimento e dos bens culturais. Surgem ao longo
do tempo e caracterizam-se pelo dinamismo,
estando acessíveis a todos, em princípio, e in-
cluem “tanto o produto do trabalho como os meios
para a produção futura” (HARVEY, 2014, p. 143).

Harvey (2014, p. 142) adverte também para o “inten-


so ataque da mercantilização” que esse comum
vem sofrendo atualmente, sendo “mercantilizados
(e quase sempre atenuados) por uma indústria
ÌÐĴķīðĮĉďìðĮĴĐīðÆďĪķÐĴÐĊÌоÌðĮĊÐřťÆ­ÉÃďȶȘ
Nessa perspectiva, é fundamental buscar “enten-
der como desenvolvimentos e tradições culturais
locais são absorvidos pelos cálculos da economia
política mediante tentativas de acumular rendas
de monopólio” (HARVEY, 2014, p. 186). Analisa ainda
a dimensão do “interesse atual pela inovação da
cultura local e o ressurgimento e a invenção de
tradições locais” com foco em extrair e apropriar
essas rendas (HARVEY, 2014, p. 187), destacando
como principal exemplo o turismo contemporâ-
neo, e argumentando que:

Se as alegações de singularidade, auten-


ĴðÆðÌ­ÌÐșĨ­īĴðÆķă­īðÌ­ÌÐÐÐĮĨÐÆðťÆðÌ­ÌÐ
subjazem à capacidade de captar rendas de
monopólio, então que terreno será melhor
para fazê-las do que no campo das práticas
culturais historicamente constituídas e no
das características ambientais especiais
(incluindo, sem dúvida, tanto os espaços
construídos como os meios sociais e cul-
turais)? (...) todas essas questões são tanto
resultado de construções e embates dis-
cursivos quanto fundamentadas em fatos
16º SHCU materiais. Muitas se baseiam em narrativas
30 anos . Atualização Crítica
ìðĮĴĐīðÆ­ĮșðĊĴÐīĨīÐĴ­ÉĦÐĮÐĮðæĊðťÆ­ÌďĮ
4324 de memórias coletivas, representações de
práticas culturais etc.: sempre há um forte possam abrigar-se” (HARVEY, 2014, p. 146). Para
elemento social e discursivo na construção Dardot e Laval (2017, l. 250), trata-se de “espaços
dessas causas para extrair rendas de mo- de vida” a ser defendidos dos interesses privados
nopólio (...). (HARVEY, 2014, p. 192) e cuidados pelos citadinos para o bem coletivo.

Acerca do “patrimônio comum da humanidade”, Para Harvey (2014, p. 146), “embora esse comum
a partir da Convenção de Haia de 1954, Dardot culturalmente criativo não possa ser destruído pelo
e Laval (2017, l. 12918) concebem-nos como “es- uso”, existem riscos de sua degradação e banaliza-
paços comuns não apropriáveis pelos Estados ÉÃďĨÐă­ȵķĴðăðš­ÉÃď­ÅķĮðŒ­ȶȘ'ŘÐĉĨăðťÆ­Æďĉ­Į
soberanos”, formalizados através das listas de ĉďÌðťÆ­ÉĦÐĮĮďÆð­ðĮĊ­ķĴðăðš­ÉÃďÌ­īķ­șĪķ­ĊÌď
“patrimônio mundial da humanidade” da Unesco, era lugar de socialização popular e brincadeiras,
que englobam recursos naturais e culturais. A sobretudo, antes do surgimento do carro (HAR-
€ĊÐĮÆďÌÐťĊÐșÐĊĴÃďșďĮȵÅÐĊĮÆķăĴķī­ðĮÌ­ìķ- VEY, 2014, p. 144). Tentativas de recuperação de
manidade” como aqueles que “por motivos reli- “alguns aspectos de um comum anterior” nelas, ao
giosos ou profanos, tenham sido expressamente destiná-las exclusivamente aos pedestres (com
designados por cada Estado como de importância cafés nas calçadas, ciclovias, miniparques, etc.)
para a arqueologia, a pré-história, a história, a tornaram-se “facilmente capitalizadas”, quando não
ăðĴÐī­Ĵķī­ș­­īĴÐďķ­ÆðÔĊÆð­ȶȘ'ăÐÆďĊťæķī­ȭĮÐș projetadas com esse objetivo (HARVEY, 2014, p. 147).
assim, como “uma espécie de ‘tesouro sagrado’ O que resulta, mais amplamente, nos processos de
de bens culturais, equivalentes aos sacra das cul- ȵæÐĊĴīðťÆ­ÉÃďȶŒÐīðťÆ­ÌďĮÐĉÌðŒÐīĮ­ĮðĊðÆð­ĴðŒ­Į
turas antigas ou tradicionais”. Destacam também da chamada “urbanização capitalista”1, a exemplo
que os Estados “aceitam renunciar a sua sobera- das revitalizações de regiões que levaram a sua
nia territorial absoluta e se submetem a regras “desvitalização” (HARVEY, 2014, p. 153), apontada
coletivas em nome do interesse da humanidade pela própria população local, e ao esvaziamento dos
presente e futura, e isso em razão da natureza ou comuns ali construído. Daí a importância do atual
da utilidade de certas coisas que, sendo coloca- reconhecimento e desenvolvimento do “papel dos
das extra commercium, são vistas como coisas comuns na formação das cidades e na política urba-
comuns a toda a humanidade”. Entretanto, isso na”, em apoio aos diversos movimentos sociais urba-
ÆďĊŦðĴķ­ÆďĉďĮĨīďÆÐĮĮďĮÌÐȵæÐĊĴīðťÆ­ÉÃďȶ nos espalhados pelo mundo (HARVEY, 2014, p. 169).
observados em diversos sítios considerados pa-
trimônio mundial, conforme discutido a seguir. #ÐĮĴ­Æ­ȭĮÐșĨďīťĉșĪķЭȵĨīďÌķÉÃďĨďĨķă­īÌÐ
novos comuns urbanos, a concentração de capital
Nesse ensejo, introduz-se o âmbito da cidade com simbólico coletivo, a mobilização de memórias e
ĉ­ðďīĨīďåķĊÌðÌ­ÌÐș­ĨīÐĮÐĊĴ­ĊÌďȭĮÐķĉ­ÌÐť- mitologias coletivas e o apelo a tradições culturais
nição de Hardt e Negri (2009, p. 154): “ambiente ÐĮĨÐÆòťÆ­ĮĮÃďðĉĨďīĴ­ĊĴÐĮå­ÆÐĴ­ĮÌÐĴďÌ­Į­Į
construído que consiste em prédios e ruas e me- formas de ação política, tanto de esquerda como de
trôs e parques e sistemas de resíduos e cabos de direita” (HARVEY, 2014, p. 196). Dardot e Laval (2017,
comunicação, mas também uma dinâmica viva l. 12972) corroboram essa ideia ao argumentar que:
de práticas culturais, circuitos intelectuais, redes
afetivas e instituições sociais”. Assim, é possível se os bens comuns são relativos a direitos
compreender partes da cidade como comuns ur- fundamentais, objeto de lutas políticas e so-
banos, na forma de alguns de seus espaços e bens ciais que poderiam ganhar o apoio de com-
públicos, especialmente, certas praças e ruas. Para ponentes importantes da sociedade, então
isso, segundo Harvey (2014, p. 144), eles precisam a defesa e a extensão desse “patrimônio”
ser politizados por seus cidadãos e por aqueles de bens comuns passam a ser a primeira
que tenham interesse em se apropriar deles ou e a última palavra de qualquer estratégia.
valorizá-los, de modo a contribuir para reforçar
suas qualidades como comuns. Dessa forma, “por 1. “Incessante produção de um comum urbano (ou sua for-
meio de suas atividades e lutas cotidianas, os in- ma espectral de espaços e bens públicos) e sua eterna a
divíduos e os grupos sociais criam o mundo social apropriação por interesses privados”, tendendo “perpetu-
da cidade ao mesmo tempo em que criam algo amente a destruir a cidade como um comum social, político
de comum que sirva de estrutura em que todos e habitável” (HARVEY, 2014, p. 156).
EIXO TEMÁTICO 4 Apropriação dos comuns culturais como
política de conciliação
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
Hoje, um século decorrido sobre a historia
de Goyaz cidade, é com justa satisfação que
constatamos os progressos não só materiaes
como tambem moraes e intellectuaes, opera-
dos em nossa sociedade, a qual com patrio-
tismo e zelo tem velado pelo desenvolvimento
de nossa querida terra natal. (Americano do
ī­ĮðășȵďīīÐðďZŨÆð­ăÌÐ:ďř­šȶșǠǦȘĮÐĴȘǠǨǠǧȨ

A epígrafe acima evidencia o ímpeto de certa par-


cela da elite goiana durante a primeira República.
Americano do Brasil, protagonista político da “ilha
de letrados” (CARVALHO, 2013, p. 63), que constitui
a intelectualidade extraída das oligarquias e classes
médias, representa a tensão fundadora, no Brasil,
do progressismo técnico-econômico associado à
manutenção de estruturas sociais conservadoras.
Seu discurso permitia antever um período de len-
to desenvolvimento regional, com promessas de
investimentos em infraestrutura e saneamento
urbanos na capital (“A Rua”, jan.1918.01), a maioria
não realizada; recuperação de edifícios públicos,
como as ruínas catedral em 1929; construções
comerciais e institucionais; e a expansão do perí-
metro urbano — surge um novo bairro na região do
Areião e João Francisco (Figura 1). A “remodelação
da cidade” pretendia ser o “início de uma nova era
ÌÐĨīďæīÐĮĮďÐŦďīÐĮÆðĉÐĊĴďȶșÆďĊåďīĉÐďþďīĊ­ă
“Voz do Povo” (05.jul.1929). Aludia-se inclusive a
uma vocação turística para a cidade, apostando
em suas tradições, belezas, natureza e potencial
econômico, com a melhoria das rodovias, a possível
chegada da estrada de ferro e a navegação do Rio
Araguaia (“Voz do Povo”, 24.jul.1932).

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica

4326
9ðæķī­ǠȚwÑīðÐìðĮĴĐīðÆ­ÌÐĉ­Ĩ­ĮÌ­ÆðÌ­ÌÐÌÐ:ďð®ĮșÐŒðÌÐĊÆð­ĊÌďĮÐķÆīÐĮÆðĉÐĊĴďȘ9ďĊĴÐȚwðăŒ­șǡǟǠǦșĨȘǧǧȘ

Entretanto, tais expectativas começam a ser frus- revivem uma abstrata “tradição local” (HARVEY,
tradas pelas mudanças políticas trazidas pela 2014, p. 187), como sua grande relíquia, traída
Revolução de 1930 e, com elas, as propostas para pela construção de Goiânia: “não queiramos ser
transferência da capital, efetivada entre 1933 e um povo sem tradições. No venerar do passado
ǠǨǢǦȘZĮÆďĊŦðĴďĮÐĉĴďīĊďÌÐĮĮ­ĉķÌ­ĊÉ­ÐÆď­ĉ está o traço característico do homem civilizado”
mais adiante na difícil aceitação da preservação (“Voz do Povo”, 25.set.1932). Esse excerto indica
patrimonial da cidade. Os “antimudancistas” (OLI- ĮðĊ­ðĮÌÐĪķÐĴ­ðĮĴī­ÌðÉĦÐĮĨďĮĮ­ĉÆďĊťæķī­īķĉ
VEIRA, 2016, p. 31) chegam a negar uma suposta importante comum cultural daquele período, por
“idolatria pelos monumentos coloniaes represen- sua constância nos discursos e sua força mobili-
tados pelos restos do velho chafariz e alguns edi- zadora, persistentes até a atualidade. Destaca-se
fícios publicos de raça desconhecida, mas apenas sua profunda vinculação material com aquela
Ìďă­ÌďťĊ­ĊÆÐðīďÌďÐĉĨīÐÐĊÌðĉÐĊĴďȶȧȵ“ďšÌď cidade e a permanente confusão conceitual de
qďŒďȶșǡǤȘĮÐĴȘǠǨǢǡȨȘ“ÐīðťÆ­ȭĮÐșÐĊĴÃďș­­ķĮÔĊÆð­ ĮÐķĮĮðæĊðťÆ­ÌďĮș­ďĮÐīÐĉĴī­ÌķšðÌ­ĮĊ­åďīĉ­
ÌÐķĉ­ÆďĊÆÐĨÉÃďÅÐĉÌÐťĊðÌ­ÌÐĨ­ĴīðĉĒĊðďș de “construções que lembram os bandeirantes; de
na forma dos nomeados “monumentos”, como de- fontes e chafarizes da epoca da colonização; de
signados pelo próprio SPHAN, quando criado em pontes e igrejas dos tempos de intensa mineração;
1937. Estes sequer eram considerados relevantes de denominações que lembram fatos da história
para a opinião pública local, mais preocupada com até nossos dias” (“Voz do Povo”, 25.set.1932). Veri-
a urgência da perda da sede administrativa e com ťÆ­ȭĮÐș­ĮĮðĉșĪķЭìðĮĴĐīð­ÌďĨÐīòďÌďÆďăďĊð­ăÐ
ďĮĨīÐþķòšďĮťĊ­ĊÆÐðīďĮĨ­īĴðÆķă­īÐĮÌÐÆďīīÐĊĴÐĮ a memória vinculada a ele são os grandes marcos
dela. Pareciam ser compreendidos mais como de referência para essa comunidade.
os “bens públicos” analisados no início do texto.
Ainda assim, os vínculos afetivos com a cidade Aspectos do comum acerca dos “monumentos
como um todo são reforçados recorrentemente, históricos” locais surgem em alguns artigos jor-
conforme expresso na mesma matéria jornalística nalísticos, cobrando sua constante conservação
de Orestes de Brito: “entendemos ser um erro a da administração pública. Um exemplo é “Cousas
transformação d’esta cidade velha e tradicional, nossas”, escrito por Garibaldi Rizzo (cuja família
que muito amamos” (“Voz do Povo”, 25.set.1932). ainda hoje se engaja na preservação do patrimônio
de Goiás), em que exige a reparação do aban-
Contraditoriamente, os próprios antimudancistas donado Chafariz do Largo (Figura 4) do Prefeito
EIXO TEMÁTICO 4 municipal, prestando “três grandes serviços à
cidade: um para a população em geral, outro de
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS ÐĉÅÐăК­ĉÐĊĴďÌ­ĉ­ðďīĨī­É­ÌÐ:ďð­šÐșťĊ­ă-
mente, o de conservação de mais um monumento
histórico, que é nosso orgulho e merece de nós
todo o carinho” (“Cidade de Goiaz”, 21.ago.1938). Já
em 1952, Nelson de Alcântara evoca novamente
a tradição e incita que, “quando os modernistas
quiserem demolir os chafarizes, o goiano deve
reagir com toda a força de seu bairrismo, apelando
para a interferência do Patrimonio Historico. (...)
AĮĮďÌÐĉďÌÐīĊðš­īťÆ­īĨ­ī­ďķĴīďĮĉķĊÌďĮȘ
Aqui o ritmo deve ser lento. Como se fosse uma
valsa...” (“Cidade de Goiaz”, 021.fev.1952).

Outro importante edifício antigo local, a então


chamada Cadeia Pública (anteriormente Casa de
Câmara e Cadeia (Figura 4)), também é defendida
de uma ameaça em duas publicações de meados
dos anos 1940. Na primeira delas, solicita-se que
“seus paredões imensos, seculares, permane-
É­ȧĉȨĨ­ī­ĮÐĉĨīÐÐīÐÆĴ­ȧďĮȨÐÆďĉ­ťĊ­ăðÌ­ÌÐ
nobre e construtiva. Destruir porem, julgamos
que nunca” (“Cidade de Goiaz”, 09.jun.1946). No
ano seguinte, um leitor apoia a “preservação e
adaptação do prédio da cadeia publica para que
nele seja organizado um museu e uma exposição
permanente, onde fôsse dado ao nosso visitante
o ensejo de conhecer de perto nosso patrimô-
nio histórico, cultural, artístico, e, bem assim,
nossas riquezas” (“Cidade de Goiaz”, 16.nov.1947).
Em ambos os casos, mantém-se a ligação en-
tre patrimônio e tradição, sendo observada um
crescente apreço e cuidado com sua herança
histórica, assim como, uma compreensão mais
­Æķī­Ì­ÌÐĮÐķĮðæĊðťÆ­ÌďȘ

Um último e expressivo exemplo de atuação da


ÆďĉķĊðÌ­ÌÐĊ­ĨīÐĮÐīŒ­ÉÃďÐÆďĊťæķī­ÉÃďÌÐ
comum cultural é a Igreja de N. S. Aparecida de
Areias (Figura 3), que se encontra fora do centro
histórico, mas apresenta um forte apelo religio-
so local. Um grupo da cidade se organizou para
coletar donativos para recuperar o edifício por
conta própria, apelando para o “bem coletivo”, o
“progresso” e a “preservação de nosso patrimônio
social, cultural e religioso, jamais faltou o apoio e
a cooperação decidida de todos os vilaboenses
dignos e de todos aqueles que trazem sempre viva
16º SHCU a chama de elevado sentimento cívico!” (“Cidade
30 anos . Atualização Crítica
de Goiaz”, 07.ago.1949). Nota-se, aqui, que o patri-
4328 mônio começa a ser associado ao progressismo,
ao contrário do ocorrido nos anos iniciais.

ðĊÌ­ĪķÐÌÐåďīĉ­ĮķĴðășŒÐīðťÆ­ȭĮÐķĉÌðĮÆķīĮď
de preocupação comunitária com a conservação
do que já é entendido como patrimônio cultural
ĊďťĊ­ăÌ­ÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǣǟȘĨÐĮ­īÌďĮÆďĊĮĴ­Ċ-
tes relatos de abandono e degradação das edi-
ťÆ­ÉĦÐĮșĮķīæÐķĉă­ĴÐĊĴÐĉďĴðŒďÌÐďīæķăìďÐ
vinculação afetiva para com elas e uma postura
preventiva da população. Destaca-se também a
manutenção de seu vínculo com a narrativa das
tradições locais e com as produções artísticas a
serem preservadas, como observado na suges-
tão pela criação do atual Museu das Bandeiras
(inaugurado em 1964).

Destaca-se a ausência de unanimidade sobre a 9ðæķī­ǡȚīķšÌďĊì­ĊæķÐī­Ċ­ÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǣǟȘ9ďĊĴÐȚ


questão patrimonial, conforme artigo de D. L. de 9­ÆÐÅďďāȧ'ŘĨÐÌðÉĦÐĮåďĴďæī®ťÆ­ĮĨÐă­ðÌ­ÌÐÌÐ:ďð®ĮȨȘ
Sant’anna “Goiaz, Cidade Monumento (“Cidade de
Goiaz”, 20.ago.1939), expressando que diversos
moradores não viam o tombamento como “por-
tador de benefícios”, indo contra suas almejadas
pretensões progressistas e desenvolvimentistas.
Criticavam a intangibilidade como o impedimento
absoluto da realização de melhoramentos e mo-
dernizações na cidade, o caminho pretendido para
o seu engrandecimento e reconstrução. Assim,
refutam comparações com Ouro Preto e o próprio
valor histórico de seus monumentos, minimizan-
do-os, conforme segue: “uma cruz que se atribue
ser a de Anhanguera e um chafariz dos tempos
coloniais – são estas as unicas obras historicas
que possuimos. A primeira simbolo de um feito;
a segunda de uma época”.

Essa mesma Cruz do Anhanguera (Figura 2) é obje-


to de outra discórdia anos depois, quando se alerta
para o risco de sua “total destruição e necessita
receber especial cuidado para sua conservação,
sob a pena de, dentro de alguns anos, não mais
termos o monumento em nossa urbs” (“Cidade de
Goiaz”, 16.dez.1956). Em 1957, após uma tentativa
municipal de revitalizá-la, seguem-se pesadas
objeções à falta de critérios técnicos e estéti- 9ðæķī­ǢȚAæīÐþ­ÌÐUȘwȘĨ­īÐÆðÌ­ÌÐīÐð­ĮșăďÆ­ăðš­Ì­
Ċ­īďÌďŒð­ÌЭÆÐĮĮď¾ÆðÌ­ÌÐÌÐ:ďð®ĮȘ9ďĊĴÐȚ9­ÆÐÅďďā
cos nos procedimentos realizados. Solicita-se o
ȧ'ŘĨÐÌðÉĦÐĮåďĴďæī®ťÆ­ĮĨÐă­ðÌ­ÌÐÌÐ:ďð®ĮȨȘ
retorno ao seu aspecto anterior, já se utilizando
o argumento de que a cidade é “histórica, essen-
cialmente de turismo, que vive das suas gloriosas
tradições e não pode ser mutilada assim” (“Cidade Alcunhando a cidade de “a Atenas brasileira”, Goiás
de Goiaz”, 19.mai.1957). Os primeiros indícios da do Couto defende outro aspecto das tradições lo-
relação entre patrimônio e turismo, apontados cais, referindo-se “à formação cultural do povo de
Ĩďī>­īŒÐřșÆďĉÐÉ­ĉ­ĮÐīŒÐīðťÆ­ÌďĮ­ĪķðȘ Goiaz”, privilegiada pelo que chama de “habitat” lo-
EIXO TEMÁTICO 4 cal favorável à “plasmação de sua intelectualidade”
(“Cidade de Goiaz”, 21.nov.1938). Esse argumento é
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS trazido com frequência, inclusive por observado-
res externos como a escritora Rachel de Queiroz,
bastante familiarizada com os costumes locais.
Na crônica “Cidade velha, memória perdida” (“Ga-
zeta de Notícias” (RJ), 29.mai.1949), caracteriza-a
por uma “aristocracia exigentemente urbana”,
uma espécie de “ilha de civilização perdida no
sertão agreste”, devido a sua população mais
antiga formada eminentemente por funcionários
públicos e comerciantes.

9ðæķī­ǣȚĮĨÐÆĴďÌďO­īæďÌďì­å­īðšÐÌ­­ĊĴðæ­­Į­
Ìжĉ­ī­Ð­ÌÐð­Ċ­ĨīðĉÐðī­ĉÐĴ­ÌÐÌďĮÑÆķăď™™Ș
9ďĊĴÐȚ9­ÆÐÅďďāȧ'ŘĨÐÌðÉĦÐĮåďĴďæī®ťÆ­ĮĨÐă­ðÌ­ÌÐ
ÌÐ:ďð®ĮȨȘ

Essa abstrata tradição torna-se alvo fácil de


manipulações políticas, conforme argumentado
por Harvey (2014, p. 196) e Dardot e Laval (2017, l.
12972) anteriormente. O texto do mato-grossense
Arquimedes Pereira Lima (“Jornal de Notícias”,
14.ago.1958) utiliza esse discurso para defender
os oposicionistas locais em plena campanha elei-
toral municipal, metonimicamente atribuindo os
ataques sofridos por esse grupo como uma ofensa
coletiva, representando-o como cultuadores de
sua “tradição, no apêgo ao passado, no respeito
pela história, tem, sem distinção de Partidos, a
sua mística, a sua devoção e o principal deriva-
tivo do espírito”. Dessa forma, seu suposto olhar
externo busca manipular um possível comum
cultural constituído pela imprecisão do conjunto
de elementos componentes dessa tradição. Cria
ainda uma imagem idealizada e laudatória da ci-
dade, delineando-a como o “berço de tradições,
relicário de glórias, santuário de nossa História,
da história fascinante e movimenta de Goiás, ci-
16º SHCU dade-monumento, que não sei porque inexplicável
30 anos . Atualização Crítica motivo não está, ainda, inscrita e tombada no
4330 Patrimônio Artístico e Histórico do Brasil”.
Na realidade, Moyses Costa Gomes, apoiador de esses processos iniciais de patrimonialização
governo de Pedro Ludovico, elabora o primei- tenham ocorrido à revelia da comunidade local,
ro parecer de apoio à “elevação da velha cidade concentrando-se apenas na esfera institucional e
de Goiaz à categoria de Monumento Nacional, a contrariando a imagem divulgada de constituírem
exemplo do que se fez em relação a Ouro Preto” um comum cultural.
(Dossiê de tombamento, v. 1, p. 5), ainda em 18 de
novembro de 19422. O documento exalta a posição ďĊŦðĴďĮÐĊĴīÐďÐĊĴÃď#q>UЭĨďĨķă­ÉÃďăďÆ­ă
política da cidade no estado, suas tradições e eram frequentes no período inicial, devido à ausên-
artes, ainda que não possua “prédios artísticos, cia de comunicação mútua e tomada de decisões
nem obras públicas de grande valor econômico ou unilaterais pelo órgão federal. Carolina Oliveira (2016,
escultural” (Dossiê de tombamento, v. 1, p. 5). Por p. 20) corrobora essa ausência de unanimidade,
ťĉșÐĉÆďĊĮďĊ¶ĊÆð­Æďĉ­ĮĨďăòĴðÆ­ĮĊ­ÆðďĊ­ðĮÌÐ considerando-se a resistência local ao tombamento
gestão cultural daquele período, destaca-a como ÐĮĴ­Ìķ­ăŒÐīðťÆ­Ì­Ċ­ÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǥǟȘĉ­ĴÑ-
“ponto marcante do bandeirismo”, considerado “o ria “Protesto contra o DPHAN” também critica a
mais tipicamente brasileiro que tivemos, o mais pouca atenção dada à região, como a demora na
humano também, o mais rico em consequências”. criação do Museu das Bandeiras e o prejuízo aos
turistas acarretado por essa inercia. Contempla
Esse discurso transparece claramente a estraté- ainda um abaixo-assinado dos vilaboenses contrário
æð­ÌÐOķÌďŒðÆďÐĉ­ĴÐĊķ­īďĮÆďĊŦðĴďĮĨďăòĴðÆďĮ às intervenções previstas na Igreja da Boa Morte,
com a antiga capital, através de sua transforma- ĪķÐȵ­ďÐĊŒÐšÌÐÅÐĊÐťÆð­īșŒ­ðĨīÐþķÌðÆ­ī­ĪķÐăÐ
ção em “monumento histórico nacional”, a partir templo” (“Cidade de Goiaz”, 17.jan.1960). Utiliza-se
de um suposto consenso local acerca da questão. novamente um discurso em nome da coletividade
Na realidade, essa intenção encontra forte re- na forma do Catolicismo, em busca de representar
sistência de vários moradores, como observado uma espécie de comum, que pode ser bastante
nos jornais locais, a exemplo de um recorte de relativizado ao contextualizar-se seu lugar de fala.
“Folha de Goiaz” (mai.1951), constante no Dos-
siê de tombamento (v. 1, p. 69). Neste, Honório L®ĮďÅ­ðĊŦķÔĊÆð­Ì­ÆďĊĮĴīķÉÃďÌÐī­Įòăð­ș
Lemos incita a população a se revoltar contra o em 1960, Octo Marques faz duras objeções ao
“tombamento da cidade”, que atrapalharia uma ĪķÐÆì­ĉ­ÌÐȵĮ­Ċì­ÌďĮĉðĮĴðťÆ­ÌďīÐĮȶĊď­ī-
“onda de progresso” e uma possível remodelação tigo “À margem do progresso” (“Cidade de Goiaz”,
e modernização, levando “forçosamente a nossa 10.abr.1960), retomando a negação dos valores
cidade ao esquecimento, ao abandono, à rotina históricos do patrimônio local em prol do pleno
e à ruína” 3. Também se criticava o tombamento desenvolvimentismo. Nele, admite que “no seio
das residências na década de 1950, alegando-se da nossa população, nota se que o caso gera re-
ÌðťÆķăÌ­ÌÐĮĊ­īЭăðš­ÉÃďÌÐÆďĊĮÐīŒ­ÉĦÐĮșīÐ- beldia, embora êsse protesto seja manifestado
formas e melhoramentos internos sem impacto de maneira pacata (...)”. A grande diferença dessa
direto nas fachadas tombadas (Dossiê de tom- outra onda de insurgências contra os malefícios
bamento, v. 1, p. 80). Presume-se, assim, que e impeditivos dos tombamentos origina-se do
surto de crescimento trazido pela construção da
nova capital federal, que, segundo o texto, “deverá
2. Nota-se um grande lapso temporal entre o envio do primei- þĐæ­īșĨďīĴÐīī­șĴďÌ­ÐĮĮ­ĉ­Ċð­ÌÐĮ­ÆīðťÆ­īȭĮÐ
ro telegrama solicitando o tombamento da cidade em 1942 e
cidades goianas como velharias, reminiscentes
a efetivação dos primeiros deles em 1950. Contribuem para
de um passado tristonho de nossa Pátria”.
essa lentidão, possivelmente, manobras políticas locais, o
purismo conceitual do então Sphan, destacando-se que um
arquiteto do órgão (Edgard Jacintho da Silva) só realizou
uma visita técnica na cidade em 1948, emitindo parecer
favorável a seu tombamento parcial.
Os comuns culturais de Goiás e as novas
- velhas elites na década de 1960
3. Observa-se uma dupla apropriação do recorrente discurso
higienista, intensamente utilizado no início da interventoria
ȧÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǢǟȨșÅķĮÆ­ĊÌďþķĮĴðťÆ­ī­ĉķÌ­ĊÉ­Ì­Æ­ĨðĴ­ă Essa primeira etapa do processo de patrimonia-
em razão da insalubridade e das limitações técnicas para lização da cidade de Goiás, que vai até os anos
implementação de melhorias na antiga capital. 1950, começa com os movimentos para a mudança
EIXO TEMÁTICO 4 da capital, passando pelos controversos tomba-
mentos federais iniciais de monumentos isolados
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS em 1951, que encontraram apoio governamental
e resistência de moradores progressistas. Tra-
Ĵ­ȭĮÐșÐĊťĉșÌÐķĉĨÐīòďÌďĉ­īÆ­ÌďĨÐăďăķĴďș
introversão e atitude defensiva causados pela
perda da sede admirativa para a moderna e nas-
cente Goiânia, em que uma imagem de mágoa,
decadência e negação do patrimônio cultural
existente na cidade ganha destaque. Em um mo-
vimento de inércia herdado do período colonial,
pode-se considerar uma fase de perpetuação de
antigos comuns culturais que se consolidaram
com o tempo, como as representações relativas
à intelectualmente, à religiosidade e às tradições
locais. Como foram tombados apenas edifícios
religiosos e institucionais isolados e a presença do
órgão nacional de preservação era muito distante,
­ðĊÌ­ĊÃďĮÐŒÐīðťÆ­Œ­ÐŘĨīÐĮĮðŒďĮðĉĨ­ÆĴďĮȘ

Entretanto, com o tempo, parte da comunidade


Ĩ­ĮĮďķ­ŒÐīķĉ­ďĨďīĴķĊðÌ­ÌÐÌÐȵīÐĮĮðæĊðť-
cação” da cidade através do turismo, sobretudo,
os mais jovens, o que leva a uma mudança de
trajetória com a criação da A OVAT - Organiza-
ção Vilaboense de Artes e Tradições em 1965. Ela
surge de uma elite cultural e política, os chama-
dos “vilaboenses tradicionais” (TAMASO, 2007, p.
15) e “herdeiros do movimento antimudancista”
(DELGADO, 2005, p. 120), buscando um resgate da
autoestima local após a transferência da capital
(BRITTO, 2008, p. 12). Trata-se de parte de um di-
ŒÐīĮðťÆ­ÌďæīķĨďÌÐȵĨÐĮĮď­ĮĪķÐÆďĉĨ­īĴðăì­ĉ
o mesmo sistema simbólico vigente na cidade
de Goiás; principalmente, nascidos em Goiás, ou
ťăìďĮÌÐå­ĉòăð­ĮĴī­ÌðÆðďĊ­ðĮăďÆ­ðĮȶȧtZwș
2018, p. 23). A fala de um dos criadores da insti-
tuição, Hecival Alves de Castro, transparece a
complexidade e a força simbólica da tessitura
do discurso construído pela organização. Este
parecia intencionar, de fato, algo próximo a um
comum cultural, ainda que esse tenha sido co-
optado ao longo do caminho.

Essa série de pesquisas iniciais resulta em varia-


das “(re)invenções de tradições locais” (HARVEY,
2014, p. 187), a exemplo da “recriação da Procissão
do Fogaréu”4 (Figura 5) em 1966 (BRITTO, 2011, p.

16º SHCU
4. Trata-se da recuperação de um antigo ritual da Semana
30 anos . Atualização Crítica
Santa vilaboense, considerando um forte comum cultural da
4332 ÆðÌ­ÌЭĴÑ­ÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǥǟȘ­īĊÐðīďȧǡǟǟǤșĨȘǠǢȨÌÐťĊÐȭď
166), da reabertura à visitação de edifícios his- da OVAT. Pretendia-se abandonar a decadente
tóricos e da “elaboração dos primeiros roteiros representação da velha e abandona ex-capital do
turísticos e folhetos informativos” (DELGADO, estado, para construir uma nova imagem baseda
2005, p. 120). Nas palavras de Elder Camargo, em seu patrimônio histórico e cultural, e “buscar
um de seus fundadores mais atuantes, “o futuro ĊďŒďĮĮðæĊðťÆ­ÌďĮĨ­ī­­ÆðÌ­ÌÐÐðĊĮÐīðȭă­ÌÐĊĴīď
de Goiás era o passado” (DELGADO, 2005, p. 121). de uma nova dinâmica com foco nos aspectos
Então, a partir desse intenso processo de “ressig- socioculturais, patrimoniais, econômicos e tu-
ĊðťÆ­ÉÃďÆķăĴķī­ăȶșĮÐæķĊÌďt­ĪķÐă­īÅďĮ­ȧǡǟǠǧș rísticos” (OLIVEIRA, 2016, p. 27), sendo percebida
p. 39), foi criado um “olhar guardião5, constituinte por eles como uma estratégia de sobrevivência
da cidade-ideal, (que) espraiou-se, transversal- futura, como apontado por Harvey (2014, p. 192).
mente, para a concepção de cidade-patrimônio
ĪķÐĮÐÅķĮÆ­Œ­ÐÌðťÆ­īȶȘ A década de 1970 é marcada por mudanças es-
truturais na gestão das políticas culturais em
Nesse contexto, entra-se na segunda etapa do ¶ĉÅðĴďĊ­ÆðďĊ­ășīÐŦÐĴðĊÌďȭĮÐÐĉ:ďð®Į­Ĵī­ŒÑĮ
ciclo de patrimonialização local em meados da do reforço às iniciativas locais em curso, como
ÌÑÆ­Ì­ÌÐǠǨǥǟșťĊ­ăðš­Ì­Ċ­Œðī­Ì­ÌďĉðăÔĊðď o forte investimento em turismo (pela coopera-
com a conquista do título de Patrimônio Mun- ção entre Embratur e Goiastur) e a atuação do
dial da Unesco em 2001. Nela, os embates com Iphan/CNRC, responsável por uma ampliação nos
a comunidade se acirram, após o tombamento meios de gestão patrimonial até então realizados,
do conjunto arquitetônico e urbanístico em 1978,
buscando uma maior integração comunitária6,
quando outro discurso crítico em nome da co-
ÐŘÐĉĨăðťÆ­Ì­ĨďīķĉĮĐăðÌďÐīÐåÐīÐĊÆð­ăĴī­Å­ăìď
letividade apela para que “não podemos deixar,
de Educação Patrimonial.
ȧȘȘȘȨĪķÐĊďĮĮÐĨķăĴÐĉĊďĮÆďĊťĊ­ĉÐĊĴďĮÌÐķĉ­
cidade museu, confundindo tradição, cultura, Em 1998, surge um novo grupo, Movimento Pró-Ci-
com a conservação pura e simples de fachadas” dade de Goiás – Patrimônio da Humanidade7, ob-
(Dossiê de tombamento, v. 1, p. 138). Em plena
ditadura militar, observa-se uma ruptura na au-
toimagem negativa da cidade e na concepção de 6. Registram-se dois importantes fatos: a implementação
seus bens culturais, capitaneada pelos jovens do “Programa Nacional dos Museus: experiência pioneira
em museus de Goiás” em 1984 (Boletim SPHAN/Pró-Me-
mória, mai.1984) e a criação da Diretoria Regional do Iphan
como uma “(re)invenção das tradições, de criação de valores na cidade em 1983 (DELGADO, 2005, p. 127), ainda que em
culturais, de estratégias, de articulações, de jogos de po- ÆďĊĮĴ­ĊĴÐÆďĊŦðĴďÆďĉĉďī­ÌďīÐĮÌďÆÐĊĴīďìðĮĴĐīðÆďșĪķÐ
der”. (...) marketing, imagem e orgulho da elite vilaboense’”. recorrentemente ignoravam as restrições impostas pelo
“ÐīðťÆ­ȭĮÐș­ĮĮðĉșķĉ­ĨīďåķĊÌ­ĉďÌðťÆ­ÉÃďĊ­ȵīÐă­ÉÃď tombamento, muitas vezes por desinformação. Segundo
dos moradores com a própria festa, à medida que ela pas- Stephanie Drogomirecki (2019, p. 71), “técnicos e funcioná-
sou a integrar as campanhas de turismo que construíram rios do Iphan tinham apoio de uma parte da elite regional, que
uma imagem da tradição para Goiás” (SILVA, 2011, p. 227). era favorável às ações de proteção ao patrimônio da cidade
Transformada em “espetáculo” midiático para turistas e com os tombamentos, as conservações e alguns restauros,
perdendo suas raízes religiosas, apresenta uma assimilação mas sofriam com a resistência de parte dos moradores e
ÆďĉĨăÐŘ­ÐÆďĊŦðĴķďĮ­ĨďīĨ­īĴÐÌ­ÆďĉķĊðÌ­ÌÐăďÆ­ăȘ de uma elite cultural, que era contrária à atuação do órgão”.

5. Essa identidade é reforçada pelo atual presidente da 7. Foi “criado por alguns membros da OVAT” (DELGADO, 2005,
ďīæ­Ċðš­ÉÃďș­ď­ťīĉ­īĪķÐȵÆðÌ­ÌÐȧÑȨīÐÆďĊìÐÆðÌ­ĨďĨķ- p.113) em 1998, no seio elite vilaboense, visando investir “na
larmente no estado de Goiás como ‘berço da cultura goiana’” ÆďĊĮĴīķÉÃďÐĮďăðÌðťÆ­ÉÃďÌÐķĉ­ÌÐĴÐīĉðĊ­Ì­ĉÐĉĐīð­ș
(SILVA, 2019, p. 15). O mesmo ocorre quanto à busca de um dotando-a de duração e estabilidade para que pudesse re-
suporte e estabilidade institucionais através de uma dita presentar o conjunto da sociedade” (SILVA, 2011, p. 219). Ele
adesão social, fundamental no atual momento de fortes “contou com o apoio de diversas áreas da sociedade como
incertezas, ao defender que “um dos propósitos defendidos as igrejas católicas e evangélicas, a maçonaria, grupos de
pela OVAT está circunscrito na preservação da cultura e das jovens, museus, escolas, clubes de serviços, a Associação
tradições nos mesmos moldes em que ocorrem no passado de Combate a Incêndio Florestal, a Ordem dos Advogados do
– com o apoio da população, que seria a melhor alternativa Brasil (subseção de Goiás), o Instituto do Patrimônio Histó-
social de difusão das ideias e ações desenvolvidas pela rico e Artístico Nacional - IPHAN, a prefeitura do município
instituição, na qual todo o trabalho, orientação, sugestões de Goiás e o governo do Estado de Goiás” (SOUSA, 2009, p.
e doação sempre foram bem vindos” (SILVA, 2019, p. 146). ǣǠ­ĨķÌ#tZ:ZTAt'NAAșǡǟǠǨșĨȘǧǟȨșÐĉķĉ­ÆďĊťæķī­ÉÃď
EIXO TEMÁTICO 4 jetivando empenhar esforços para tornar a cidade
Patrimônio da Humanidade. É, então, elaborado
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS ďȵ#ďĮĮðÔ:ďð®ĮȶșīÐŒðĮ­ĊÌďÐīÐĮðæĊðťÆ­ĊÌď­
trajetória patrimonial da cidade, entretanto, sem
utilizar a oportunidade para rever suas exclusões
e homogeneizações anteriores, ainda que susten-
tando um momentâneo discurso de unicidade na
euforia daquele momento. Nota-se uma supos-
ta “recuperação” da negatividade observada no
passado, em meio a uma onda de autoreconheci-
mento e extroversão, viabilizada pela apropriação
dessas tradições e bens culturais, da construção
de memórias enquadradas8, silenciamentos de
diferenças e discordâncias e supostos comuns
culturais, rapidamente cooptados pelo mercado
turístico, ou melhor, criados para ele, como o caso
do Fogareu. Segundo Carolina Oliveira (2016, p.
31), o anteriormente difamado “atraso” da cidade,
passa a ser “muito útil em vários momentos e (...)
contribui para a construção e atribuição de va-
lores relacionados ao patrimônio cultural”, já que
a elite vilaboense acaba tirando partido positivo
desse discurso que lhe parecia tão prejudicial no
momento da transferência da capital.

A terceira e última fase começa com os desdo-


bramentos da obtenção do título de Patrimônio
Mundial da Unesco, logo na sequência, abalada
pela destruidora enchente do Rio Vermelho de
janeiro de 2002, estando em aberto até a atu-
­ăðÌ­ÌÐȘ(ĉ­īÆ­Ì­ĨďīÆďĊŦðĴďĮÐÌÐÆÐĨÉĦÐĮ
em decorrência dos efeitos negativos trazidos

que pode ser entendida como o que Harvey (2014, p. 188)


chama de “empreendedorismo urbano”.

8. Para Pollak (1989, p. 10), o enquadramento das memórias se


refere à “operação coletiva dos acontecimentos e das inter-
pretações do passado que se quer salvaguardar, se integra,
ȧȘȘȘȨÐĉĴÐĊĴ­ĴðŒ­Įĉ­ðĮďķĉÐĊďĮÆďĊĮÆðÐĊĴÐĮÌÐÌÐťĊðīÐ
de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras so-
ciais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos,
sindicatos, igrejas, aldeias, regiões, clãs, famílias, nações
etc. A referência ao passado serve para manter a coesão
dos grupos e das instituições que compõem uma sociedade,
Ĩ­ī­ÌÐťĊðīĮÐķăķæ­īīÐĮĨÐÆĴðŒďșĮķ­ÆďĉĨăÐĉÐĊĴ­īðÐÌ­ÌÐș
mas também as oposições irredutíveis. (...) Todo trabalho de
enquadramento de uma memória de grupo tem limites, pois
ela não pode ser construída arbitrariamente. (...) os dominan-
tes freqüentemente são levados a reconhecer, demasiado
16º SHCU
tarde e com pesar, que o intervalo pode contribuir para re-
30 anos . Atualização Crítica
forçar a amargura, o ressentimento e o ódio dos dominados,
4334 que se exprimem então com os gritos da contraviolência.”.
por esse título, que era visto como um apogeu
pela comunidade. As grandes expectativas da
população com as melhorias socioeconômicas
prometidas pelo desenvolvimento a ser trazido
pelo turismo e investimentos público-privados,
logo foram frustradas pela rápida queda no nú-
ĉÐīďÌÐŒðĮðĴ­ÉĦÐĮț­ðĊĴÐĊĮðťÆ­ÉÃďÌ­ȵæÐĊĴīð-
ťÆ­ÉÃďȶÌďÆÐĊĴīďìðĮĴĐīðÆďÐĮÐķÐĮŒ­šð­ĉÐĊĴď
físico e simbólico; o encarecimento do custo de
vida, sobretudo, para os moradores do bairros
menos favorecidos e afastados do centro, que
sofre ainda com a falta de investimentos públicos,
sistematicamente desviados para a zona turística;
entre outros problemas (GOMIDE, 2007, p. 175).

9ðæķī­ǥȚ­īĴ­šĨķÅăðÆðĴ®īðďÌď“AA9AșĉďĮĴī­ĊÌď­Æă­ī­
ŒðĊÆķă­ÉÃďÐĊĴīÐĴķīðĮĉďÐĨ­ĴīðĉĒĊðďĊ­­Ĵķ­ăðÌ­ÌÐȘ
9ďĊĴÐȚďīīÐðďī­šðăðÐĊĮÐșǡǨȘĉ­ðȘǡǟǟǤȘ

Ainda que sejam realizados eventos como o FICA


- Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fi-
gura 6) e fomentada a produção de artesanatos
locais, os quais podem ser compreendidos como
duradouros comuns culturais, perpetuam-se os
ĨīďÅăÐĉ­ĮȘ'ĊťĉșÐĮĮ­ÆďĊþķĊÉÃďÌÐå­ĴďīÐĮÌð-
9ðæķī­ǤȚqīďÆðĮĮÃďÌď9ďæ­īÑķÆďĉďķĉ­ȵĴī­ÌðÉÃďīÐðĊ-
ŒÐĊĴ­Ì­ȶĨ­ī­ďĴķīðĮĉďșĪķÐÆďĊĴ­Æďĉķĉ­īÐăÐŒ­ĊĴÐ
ťÆķăĴ­­ĉ­ĊķĴÐĊÉÃďÌďďīæķăìďĨÐăďĴòĴķăďșÆďĉď
Ĩ­īĴðÆðĨ­ÉÃďÆďĉķĊðĴ®īð­Ș9ďĊĴÐȚT­ĊÆìÐĴÐșĉ­ðȘǠǨǧǠ ocorre com a elite vilaboense, representando “o
peso de viver numa cidade turística mundialmente
reconhecida” (CARNEIRO, 2005, p. 96).

CONCLUSÃO

Amamos sinceramente Goyaz, mas nada


fazemos para demonstrar a nossa afei-
ção; cruzamos os braços diante de uma
bela esperança, e no presente que é máu
antegosamos um futuro de grandezas e
prosperidades, em epochas longinquas,
distantes, quando tivermos estradas de
ferro, machinas a vapor, etc., e tudo quanto
constitue materialmente o progresso. (Cora
Coralina, “A Informação Goyana”, set.1924)

Goiás que já toma consciência da sua rari-


EIXO TEMÁTICO 4 dade da sua unicidade, da sua importância
como relíquia viva, e não pretende mais com-
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS petir com o progresso de Goiânia ou Anápo-
lis; e antes cuida de zelar pelas suas praças
e ruas lajeadas, pelas suas lindas igrejas,
pelo Museu da Casa da Câmara (...). (Rachel
de Queiroz, “Diário do Paraná”, out.1972)

ĮÌķ­ĮÐĨòæī­åÐĮťĊ­ðĮĴī­ĊĮĨ­īÐÆÐĉďĮ­ĉÅðÐĊ-
ĴÐĮðĊðÆð­ăÐťĊ­ăÌďĨīďÆÐĮĮďÌÐĨīÐĮÐīŒ­ÉÃďĨ­-
trimonial em sua primeira fase da cidade de Goiás.
Coralina mostra uma cidade antiga que anseia pelo
progresso, ainda que em atrito com as limitações
estruturais impostas pelas condicionantes do
passado e pela passividade de seus habitantes.
Quase meio século depois, Queiroz descortina
os desdobramentos dessas expectativas, mal-
sucedidas devido à criação de Goiânia, porém
reinventadas pelo “descobrimento” da Goiás his-
tórica e patrimonial. Até a atualidade, os opostos
“velho x novo” persistem em choque, estando a
comunidade local mergulhada cotidianamente
nesse ambiente, dividida entre a importância de
preservação da sua história, suas demandas di-
árias e a rede de complexidades que as permeia.
Isso explica as polaridades observadas desde o
princípio dos processos de patrimonialização.
'ĮĴ­ĮðĊĴÐĊĮðťÆ­ī­ĉȭĮЭďăďĊæďÌďĮ­ĊďĮĨÐăď
intenso grau de desenvolvimento da vida urbana
contemporânea, pela expansão da cidade com
ķĉ­ÆďĊťæķī­ÉÃďĉķðĴďÌðŒÐīĮ­ÌďÆÐĊĴīďìðĮĴĐ-
īðÆďÐÆďĉďķĴīďĨÐīťăĨďĨķă­ÆðďĊ­ășĨÐă­ĊÐÆÐĮ-
sidade de infraestrutura, serviços, entre outras
coisas, elementos bastante complexos por si só
para cidades convencionais, sendo ainda mais
para uma quase tricentenária.

A partir das três fases observadas na patrimonia-


lização da cidade de Goiás e do maior aprofunda-
mento analítico da primeira delas, acerca da par-
ticipação da comunidade local em seus processos
e a existência de comuns culturais ao longo deles,
conclui-se que os vilaboenses, pelo menos em
parte, sempre estiveram envolvidos de alguma
maneira. Inicialmente, motivados pela mudança
Ì­Æ­ĨðĴ­ășŒÐīðťÆďķȭĮÐďĨīðĊÆòĨðďÌÐķĉÐĊæ­þ­-
ĉÐĊĴďÆďĊŦðĴķďĮďșå­Œďī®ŒÐăÐĉ­ăæķĊĮĉďĉÐĊĴďĮ
e desfavorável em outros, estando longe de uma
unanimidade. Vencida a inércia do começo, novas
16º SHCU demandas trazidas pela década de 1960 abrem
30 anos . Atualização Crítica
ÐĮĨ­ÉďĨ­ī­þďŒÐĊĮĨÐīĮďĊ­æÐĊĮīÐĮĮðæĊðťÆ­īÐĉ
4336 sua herança histórica. Passam, então, a aceita-la
como patrimônio cultural, orgulhando-se dela e observa-se na cidade uma “movimentação na
transformando-a em busca de uma ampliação de sociedade civil em busca de novos atrativos como
horizontes, sobretudo, econômicos, através do produto para o turista”. Um exemplo é o “Bloco
incentivo ao turismo cultural. Tudo isso culmi- Cultural Pilão de Prata, que pretende evidenciar
na na conquista do título de Patrimônio Mundial a importância da cultura afrodescendente no
na virada do milênio, trazendo difíceis conse- município ao envolver a comunidade local nas suas
quências com as quais a cidade ainda convive. ­ĴðŒðÌ­ÌÐĮÌÐÌÐĮťăÐșĨ­īĴðÆðĨ­ĊÌďÌÐÌ­ĊÉ­ĮÐ
utilizando instrumentos de percussão, sempre em
Acerca dessa trama complexa de variáveis, des- busca de referendar a “presença do negro na Cida-
taca-se a questão da reinvenção das tradições de de Goiás”. Porém, essas tentativas de criação
locais, originalmente consideradas seu mais re-
e fortalecimento de novos comuns e identidades
levante comum cultural. A criação da OVAT e a
ainda são muito tímidas e pouco visibilizadas.
consequente expansão do turismo local sem um
planejamento participativo, inclusivo e sustentável, ZÅĮÐīŒ­ȭĮÐșĨďīťĉșķĉÐĮå­ÆÐă­ĉÐĊĴďÌďĮÆď-
integrando uma política pública nacional de maior muns culturais existentes, como as tão menciona-
abrangência, traz problemas estruturais ainda in- Ì­ĮĴī­ÌðÉĦÐĮăďÆ­ðĮșŒÐīðťÆ­Ì­ĮĊ­ĨīĐĨīð­ĉ­ĴÐ-
solúveis. Resulta-se na apropriação por essa elite rialidade do centro histórico, nas festas populares
(autointitulada “guardiã da memória” da cidade) do e religiosas, no artesanato e na culinária regional.
“poder do capital simbólico coletivo, das marcas Esses comuns já vinham sendo fragilizados nas
distintivas especiais que o ligam a determinado décadas anteriores e a persistência da baixa in-
lugar que com um poder de atração geralmente tegração da comunidade local nos processos de
ĮðæĊðťÆ­ĴðŒďĮďÅīÐďĮŦķŘďĮÌÐÆ­ĨðĴ­ăȶȧ>t“'šș
gestão da preservação patrimonial e turística de
2014, p. 192-193), ilustrando-se com recriação da
forma democrática apenas agrava a situação.
Procissão do Fogareu. As intervenções realizadas
Essa ampliação participativa, a criação de uma
pela Organização visavam claramente criar uma
gestão sustentável do turismo cultural, o fortale-
“marca” para a cidade, de modo a aumentar, através
cimento da educação patrimonial e do artesanato
de seu patrimônio cultural e antigas tradições (um
local, transformando-o em um comum cultural
“produto coletivo de seus cidadãos” (HARVEY, 2014,
consolidado podem ser vistas como alternativas
p. 146)), o “quociente de capital simbólico e elevar
para as problemáticas discutidas, articulando-as
seus traços distintivos para fundamentar melhor
a políticas de incentivo ao “empreendedorismo
suas reivindicações de uma singularidade que re-
urbano”9, que tem o patrimônio cultural como po-
sulta em rendas de monopólio” (HARVEY, 2014, p.
deroso incentivo, buscando evitar o agravamento
194), através do mercado turístico.
dessa “tragédia do não comum”.
Entretanto, nenhum desses processos ocorreu
sem disputas e exclusões, como observado nos
diversos silenciamentos e esquecimentos veri-
ťÆ­ÌďĮĊďÐĊæÐĊÌī­ĉÐĊĴďÌÐĮĮÐĮĨ­ĴīðĉĒĊðďĮ
e memórias enquadradas, renegando registros
das histórias dos negros e indígenas, por exem-
plo. Harvey (2014, p. 196) alerta para o fato de que
“essas marcas de distinção local são difíceis de
acumular sem levantar a questão de empodera-
9. “Padrão de comportamento na governança urbana que
mento local, inclusive dos movimentos populares
mistura os poderes públicos (locais, metropolitanos, regio-
de oposição. Por isso a importância desses si-
nais, nacionais ou supranacionais) com um grande número
lenciamentos e apagamentos para esses “guar- de formas organizacionais da sociedade civil (câmaras de
diães do capital simbólico coletivo e cultural - os comércio, sindicatos, igrejas, instituições educacionais
museus, as universidades, a classe dos mecenas e de pesquisa, organizações comunitárias, ONGs etc.) e
e o aparelho de Estado”, os quais “costumam fe- interesses privados (corporativos ou individuais) para for-
char suas portas e insistir em manter fora a ralé”. mar coalisões capazes de promover ou administrar o de-
senvolvimento urbano ou regional de um tipo ou de outro”
Entretanto, segundo Wilson Paulus (2013, p. 69), (HARVEY, 2014, p. 188).
EIXO TEMÁTICO 4 REFERÊNCIAS
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formato
210 x 297 mm

fontes
Barlow
Gobold
xvishcu.arq.ufba.br
Salvador - Bahia
2021

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