Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E
PENSAMENTO URBANÍSTICO
ORG.
Dilton Lopes de Almeida Júnior
Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza
ORGANIZAÇÃO
www.xvishcu.arq.ufba.br
Salvador - Bahia
2021
CDU: 711.4(091)
16º SHCU
SEMINÁRIO DE HISTÓRIA
DA CIDADE E DO URBANISMO
Coordenação Executiva
Coordenação Organizadora
Aparecida Netto
Arquitetura e Urbanismo – PPTDS/UCSAL
Carolina Pescatori
Arquitetura e Urbanismo – PPG-FAU/UnB
Clarissa Campos
Arquitetura e Urbanismo – UFSJ
Elisângela Chiquito
Arquitetura e Urbanismo -DURB/EA/UFMG
Luciana Sabóia
Arquitetura e Urbanismo – PPG-FAU/UnB
Ricardo Trevisan
Arquitetura e Urbanismo – PPG/FAU UnB
Sarah Feldman
Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/IAU USP
da Cidade e do Urbanismo
Reitor da Universidade Federal da Bahia
Flávia Goulart
Diretora da EDUFBA
Ricardo Trevisan
Presidente da ANPARQ
Conferencistas
Adrian Gorelik
Universidad Nacional de Quilmes
Silvia Arango
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica Universidad Nacional de Colombia
Wlamyra de Albuquerque Pesquisa HI-SHCU
Universidade Federal da Bahia
Washington Drummond
José Eduardo Ferreira dos Santos
História – PPGH/UNEB Alagoinhas
Acervo da Laje Coordenador
Cibele Rizek
IAU/USP
Fania Fridman
IPPUR/UFRJ
Heliodorio Sampaio
PPGAU/UFBA
Joel Outtes
FA/UFRGS
Pasqualino Magnavita
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica PPGAU/UFBA
Pedro Vasconcelos Sophia Lluis Oliveira Ramos
PPGPTDS/UCSAL Tadeu de Brito
Tafnes Amaral
Raquel Rolnik
Talita Lima Sousa
FAU/USP
Victor cesar borges fonseca
Robert Moses Pechman
IPPUR/UFRJ Debatedores de Vídeo-Pôsteres
Jiselle Dias
Eliana Queiróz
Jonas Oliveira Santana
PPGAU/UFBA
Júlia Dominguez
Laise Santos Pires Eloísa Marçola
Márcio roque batista Lima PPGAU/UFBA
Maria Janaina Anunciação Ventin
Mariana Cristina da Silva Gomes Elisângela Queiroz Veiga
Mário Pinto Calaça Júnior PPGAU/UFBA
Josianne Cerasoli
CIEC/UNICAMP
Leandro Cruz
FAU/UnB
Leonardo Poli
UNIME
Marcos Britto
PPGAU/UFBA
Rafaela Izeli
PPGAU/UFBA
Ramon Martins
PPGAU/UFBA
Robert Pechman
IPPUR/UFRJ
Sarah Feldman
PPGAU/IAU USP
Sônia Silva
PPGAU/UFBA
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
SISGEENCO
Júlia Rocha
Clesio Marinho
Carlos Nonato
Bruno Tavares
Robson Tavares
Festa de Encerramento
Spadina Banks
Aimée Lumiére
Nadine Nascimento
Gustavo Ortega
16º SHCU EIXO TEMÁTICO 1
EIXO TEMÁTICO 2
EIXO TEMÁTICO 3
EIXO TEMÁTICO 4
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
índice . artigos
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E
PENSAMENTO URBANÍSTICO
ARTIGOS mesas temáticas
HISTORIOGRAFIA E
AMÉRICA LATINA (1950-1970)
ARAVECCHIA-BOTAS, Nilce; CASTRO, Ana Claudia Veiga de;
PENSAMENTO URBANÍSTICO HUAPAYA ESPINOZA, José Carlos; NEGRELOS, Eulalia Portela;
BRUSCHI, Maria Alejandra; CHIQUITO, Elisângela de Almeida.
30
58
78
96
114
184
REFORMA URBANA EM PAÍSES DA AMÉRICA LATINA:
MOVIMENTOS PARTILHADOS, TEMPOS IMBRICADOS, A IMAGEM PLURAL DO CENTRO NA METRÓPOLE
EXPERIÊNCIAS INSTIGANTES DO RIO DE JANEIRO (1810-1850): FRÜHBECK,
RUGENDAS E HILDEBRANDT SOBREVIVENTES
HUAPAYA ESPINOZA, José Carlos; FERNANDES, Ana;
TREFFTZ, Erich.
TEJERO BAEZA, Pilar.
164
208
232
250
270
FARINA, Eduarda.
290
308
ARTIGOS REVISTA ARQUITETURA _ IAB 1961-1968: PRINCIPAIS
TEMAS E REDESMUDANÇAS E DE PLANEJAMENTO DE
CIDADES
326
HISTORIOGRAFIA E
PENSAMENTO URBANÍSTICO SAÚDE, O URBANO E A HISTÓRIA: APONTAMENTOS
EM TEMPOS PANDEMICOS
CHALO, Guilherme.
344
366
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
BELO HORIZONTE, CIDADE PLANEJADA (PARA A ELITE
vídeo-pôsteres BRANCA)
PASSOS, Rogério Lucas Gonçalves.
A FORMULAÇÃO DO PLANEJAMENTO URBANO
510
SOB INFLUÊNCIA DOS AGENTES NA PRODUÇÃO DA
PAISAGEM URBANA: O CASO DO MUNICÍPIO DE
CONCEIÇÃO DAS ALAGOAS – MG CADÊNCIAS DA REVITALIZAÇÃO URBANA:
UM RETRATO ATUAL DO CENTRO DE SALVADOR
CARVALHO, Bruna; GUIMARÃES, Camila.
530
A HISTORIOGRAFIA DE GÊNERO NA ARQUITETURA
CIDADES NÃO-SEXISTAS: REVISITANDO A TEORIA
EGHRARI, Susan.
DE DOLORES HAYDEN NA CONTEMPORANEIDADE
402
CARMO, Carolina Guida Cardoso do; BERNARDINI, Sidney
Piochi.
A MISSÃO DA CNPU NA FORMAÇÃO DA REGIÃO
552
METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
CRUZ, Giovana.
A PARTICIPAÇÃO DE LE CORBUSIER E DE
570
MALLET-STEVENS NA FUNDAÇÃO DO CIAM E DA UAM,
DUAS ENTIDADES COMPLEMENTARES
CONFERÊNCIAS E PLANOS: O PAPEL CATALISADOR
ZAKIA, Silvia Amaral Palazzi.
DE AGACHE NO CENÁRIO URBANÍSTICO CARIOCA
430 (1927-1930)
FONSECA, Thiago.
APROXIMAÇÕES AO PENSAMENTO URBANÍSTICO E DA
586
CONSERVAÇÃO DE FRANÇOISE CHOAY
GONÇALVES, Luísa.
AS CIDADES DOS ANÉIS. CRUZAMENTOS DO PLANO DE
606
AVENIDAS PARA SÃO PAULO COM O PLANO TECHINT
PARA SANTA CRUZ DE LA SIERRA
O AVESSO DA RUA
GIROTO, Ivo.
620
632
ARTIGOS O CONJUNTO HABITACIONAL PÓS-1964 NA
HISTORIOGRAFIA DO URBANISMO NO BRASIL:
PERMANÊNCIAS E DESCONTINUIDADES ENTRE
REGIMES POLÍTICOS
EIXO TEMÁTICO 1
NEGRELOS, Eulalia Portela.
HISTORIOGRAFIA E 646
668
682
BACELAR, Aline.
700
720
742
DEMINICE, Daniel.
758
792
810
826
842
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA
E PENSAMENTO URBANÍSTICO
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA
E PENSAMENTO URBANÍSTICO
mesas temáticas
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Os avanços tecnológicos e o desenvolvimen-
to econômico que marcaram o Segundo pós-
mesa temática -Guerra levaram Eric Hobsbawn a chamar as
décadas de 1950 e 1960 - organizadas sob um
conjunto determinado de práticas de controle,
ARQUITETURA, SOCIOLOGIA, tecnologias, hábitos de consumo e configura-
ções político-econômicas - de a “Era de Ouro do
ESTUDOS URBANOS: APRO- Capitalismo”. Mas segundo o historiador inglês,
o distanciamento histórico permitiu divisar as
XIMAÇÕES À CONSTITUIÇÃO profundas contradições que marcaram aqueles
anos dourados do Estado de Bem Estar-Social.
DE UM CAMPO NA AMÉRICA Nos países centrais, desequilíbrios começam a
Referências
16º SHCU CAMPOS, Candido Malta. Os rumos da cidade:
30 anos . Atualização Crítica
urbanismo e modernização em São Paulo. São
32 Paulo: Editora Senac, 2002.
YAÑES ANDRADE, Juan. Carlos. El Museo ABSTRACT
Social Argentino (1911-1925). Los vínculos de
los reformadores sociales en el Cono Sur de
América. Quinto Sol, Universidad Nacional de The second post-war period, especially the 1950s
la Pampa, Santa Rosa, Argentina. vol. 24, nº 1, and 1960s, was maked by technological advances
enero-abril 2020, pp. 1-23. and economic development that Eric Hobsbawn
called by “Golden Age of Capitalism” . But accor-
CHIQUITO, Elisangela. A Comissão interestadu- ding to the English historian, the historical dis-
al da Bacia Paraná-Uruguai. Do planejamento tancing made it possible to discern the profound
de vale aos pólos de desenvolvimento. São contradictions that marked those golden years of
Paulo: Alameda, 2017. the welfare state. In central countries, imbalan-
DE ANGELO, Michely. Les Développeurs: Louis- ces began to become noticeable at the end of the
-Joseph Lebret e a SAGMACS na formação de 1970s, after the outbreak of the oil crisis, when
um grupo de ação para o planejamento urbano that Fordist-Keynesian growth model began to
no Brasil. Tese (Doutorado). IAU USP, 2010. show the first signs of economic, environmental,
political and cultural unsustainability ( HOBS-
GILMAN, Claudia. Entre la pluma y el fusil. De- BAWN, 1998, pp. 253-81).
bates y dilemas del escritor revolucionario en
América Latina. Buenos Aires: Siglo XXI, 2012. In Latin America, on the other hand, where a wel-
fare state came to be tested in some countries,
HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. Breve
but without actually being able to become ef-
século XX - 1914-1991. São Paulo: Cia das Le-
fective, the transformations and adjustments of
tras, 1988.
capitalism from the 1970s onwards caused even
LEME, M. C. da S.; LAMPARELLI, C. A poli- more perverse effects than those noted in central
tização do Urbanismo no Brasil: a vertente countries. Latin American cities, most of them
católica. In: Anais do IX Encontro Nacional experiencing processes of demographic expan-
da Associação Nacional de Programas de sion without an effective industrialization ballast,
Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento would see their margins extend immensely, wel-
Urbano e Regional. Rio de Janeiro. p.675-687, coming rural poor people expelled from a mecha-
2001. nized field. Peripheries emerged overnight and in
them the so-called popular strata, the urban poor,
GORELIK, Adrián. A produção da cidade latino-
when settling, experienced cities with little or no
-americana. Tempo Social, Revista de Socio-
infrastructure. Events have since gained elabo-
logia da USP, São Paulo, vol. 17 n.1 jun., 2005,
rate conceptual and programmatic formulations,
pp.111-33.
becoming a topic in universities and research and
GORELIK, Adrian. La aldea en la ciudad. Ecos planning institutes.
urbanos de un debate antropológico. Revista
del Museo de Antropología, Universidad Nacio- In this context, the fields of Urban and Regional
nal de Córdoba, n. 1, out., 2008. planning and Urban sociology in Latin America
are consolidated, as inter and multidisciplinary
PONTUAL, Virigina. Luis Joseph Lebret na activities, which involved architects, engine-
America Latina: um exitoso laboratório de ex- ers, economists, sociologists, social workers,
periências em planejamento humanista. Reci- lawyers, legislators, among other professionals.
fe: Letra Capital/ Ed. UFPE, 2016 Contributing to the closer examination of the dia-
logue between the disciplines and the elements
that compose them, through actors, institutions
CIDADE SOCIOLOGIA ARQUITETURA E URBANISMO
and exemplary cases, as well as the unfolding of
ESTUDOS URBANOS HISTORIOGRAFIA the technical and intellectual contribution of the-
se agents, is the object of this thematic table.
Sin embargo, una mirada más cercana a los ac- En otro movimiento, los estudios marxistas tam-
tores e instituciones puede indicar una dinámica bién estaban vinculados de alguna manera con
más compleja de los movimientos y corrientes in- los partidos comunistas de orientación soviética,
telectuales que fueron la base de la planificación con participación en las disciplinas de las huma-
territorial en América Latina, que atravesó y estu- nidades. Las vertientes católica y marxista se
vo en el centro de los diálogos interdisciplinarios. entrecruzan de diferentes formas, cuyos actores
Hay que considerar que la presencia misma del a veces tienen trayectorias de doble inserción
meridiano teórico del funcionalismo americano (LEME y LAMPARELLI, 2001, pp.675-676).
ya provenía de una larga serie de corrientes cien-
tíficas desde el positivismo, uno de los puntos co- En esta frontera, la relación entre acción social y
munes importantes en la triangulación de ideas elaboración teórica basada en la formulación de
entre Europa, Estados Unidos y América Latina interpretaciones sobre las condiciones de vida
en el siglo XIX. Pero esta mirada científica, con de la población pobre genera una producción in-
gran presencia de teóricos de la Escuela de Chi- telectual original en América Latina, que resuena
cago en el subcontinente, estuvo acompañada en los entornos de los llamados países centrales,
por al menos otros dos movimientos de diferente influyendo mucho en su intelectualidad. Por
origen, que vale la pena mencionar. Se refieren al ejemplo, se reconoce el impacto que tuvo la obra
diálogo entre los países de América Latina y Fran- Geografía del hambre, de Pernambuco, Josué de
cia, que también existe desde el siglo XIX. Castro, que fue publicada en 1946 y traducida a
varios idiomas, a nivel mundial y especialmente
El tema social, con el surgimiento de la pobreza en la trayectoria del propio Padre Lebret, impul-
urbana y las consecuentes formas de abordarla, sando su obra internacional. (LEME y LAMPA-
contó con la participación de la Iglesia Católica en RELLI, 2001, p. 677; DE ANGELO, 2010).
su sesgo asistencialista, que en América Latina
había estado presente desde la colonización. En A partir de este proceso, y de la construcción de
el siglo XIX, en el contexto de la consolidación del un pensamiento marxista cada vez más autóno-
capitalismo industrial, esta acción coincide con mo en relación con la Unión Soviética, y desde la
los intereses de los reformadores urbanos. El Mu- inspiración de la Revolución Cubana (1959) y los
seo Social Argentino, creado en 1911, en línea con movimientos independentistas en África y Asia,
lo que existía en París desde finales del siglo XIX, se originó el concepto de Tercer Mundo, acuñado
es un punto evidente en la relación entre el ámbito por el demógrafo francés Aufred Sauvy. La idea
EIXO TEMÁTICO 1 de intervenir políticamente, sin alineamiento con
Estados Unidos o la Unión Soviética, reunió a va-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO rios intelectuales que, en una serie de reuniones
periódicas, forjaron una alianza que culminó en
1966 en la Organización de Solidaridad de los Pue-
blos de África, Asia y América Latina, que surgió
desde años antes. , del Movimiento de Países No
Alineados (GILMAN, 2012, págs. 45-46).
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
38
39
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 O LIVRO IMPERIALISMO Y URBANIZACIÓN EN
AMÉRICA LATINA: A RELAÇÃO ENTRE SOCIÓLOGOS
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
E ARQUITETOS NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970
mesa temática
Em 1973 é publicado na coleção Ciência Urba-
nística, da editora espanhola Gustavo Gili, o livro
ARQUITETURA, SOCIOLOGIA, coletivo Imperialismo y urbanización en Améri-
ca Latina, organizado pelo sociólogo espanhol
ESTUDOS URBANOS: APRO- radicado na França Manuel Castells e reunindo
17 artigos de intelectuais de diversas origens.
XIMAÇÕES À CONSTITUIÇÃO Com exceção dos brasileiros Paul Singer, eco-
nomista, e Milton Santos, geógrafo, os demais
DE UM CAMPO NA AMÉRICA autores presentes na coletânea são sociólogos
ou arquitetos. A aproximação desses dois campos
LATINA (1950-1970) disciplinares - sociologia e arquitetura - parece
se ligar na América Latina ao impacto que os pro-
cessos de modernização sobretudo no segundo
ARCHITECTURE, SOCIOLOGY, URBAN STUDIES: pós-Guerra provocaram nas suas cidades. Cres-
APPROXIMATIONS TO A FIELD IN CONSTRUCTION IN cimento acelerado e desvinculado de processos
LATIN AMERICA (1950-1970) de industrialização, habitação precária, margina-
lidade, extensão da mancha urbana e surgimento
ARQUITECTURA, SOCIOLOGÍA, ESTUDIOS URBANOS: de periferias sem infra-estrutura foram alguns
APROXIMACIONES A LA CONSTITUCIÓN DE UN CAMPO dos fenômenos então observados. Nesse con-
EN AMÉRICA LATINA (1950-1970) texto, centros universitários e instituições de
pesquisa teriam um papel fundamental para a
estruturação dos campos da sociologia urbana
e do planejamento no continente, que por sua
vez remontam à diversos fatores. Entre eles, a
presença do pensamento da Escola de Sociologia
de Chicago, a incursão do Movimento Economia
e Humanismo, sob a liderança do Padre Lebret,
nas décadas de 1940 e 1950, ecoando também
a sociologia urbana francesa, da qual Castells é
um nome chave.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
40
Figura 1: Capa do livro Imperialismo y urbanización en
America Latina em sua primeira edição (Reprodução).
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
42
Do campo da arquitetura, destaca-se a presença
do argentino Jorge Enrique Hardoy, que vai criar
em 1975 o Centro de Estudios Urbanos y Regio-
nales em Buenos Aires, e que já publicara alguns
volumes sobre as cidades latino-americanas -
entre eles, Ciudades Precolombinas (1964) e Las
ciudades de América Latina. Seis ensayos de ur-
banización contemporánea (escritos entre 1965
e 1969 e publicados em 1972) - abrindo a história
urbana para os universos sociais, econômicos e
culturais contemporâneos, em retroalimentação
com o planejamento.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
48
REFERÊNCIAS
Figura 2: Capas dos livros “Man’s struggle for shelter in IZAGUIRRE P., Maritza. Ciudad Guayana y la es-
an urbanizing world” (1964), “Squatter Settlements. The trategia del desarrollo polarizado. Buenos Aires:
problem and the opportunity” (1966) e “Habitação, desen- Sociedad Interamericana de Planificación, 1977.
volvimento e urbanização” (1967).
MESA, Jospé de (Org.). 100 años de arquitectura
paceña, 1870-1970. La Paz: Colegio de Arquitectos
de La Paz, 1989.
Tomando como fonte principal alguns livros do
próprio Abrams (Figura 2), neste artigo propomos PEATTIE, Lisa. Planning: rethinking Ciudad Guaya-
de um lado, entender suas impressões sobre as na. Ann Arbor: The University of Michigan Press,
cidades sul-americanas a partir de sua experiên- 1990.
cia com a Bolívia e a Venezuela; e de outro lado,
buscamos compreender como esses eventuais QUINTANA TABORGA, Juan Ramón (Org.). Un siglo
impactos foram decisivos para as propostas de de intervención de EEUU en Bolívia. Volumen IV
políticas de habitação elaboradas por ele para (1950-1964). La Paz: SPC Impresores, 2016.
esses países. Esta aproximação nos permite
perceber que o entendimento das favelas como RODWIN, Lloyd. Planejamento urbano em países
possibilidade foi um posicionamento, também, em desenvolvimento. Rio de Janeiro: Bloch, 1967.
compartilhado por outros profissionais estrangei-
ros; inclusive, no caso de Abrams, ele antecipou
algumas das propostas difundidas por Turner.
EIXO TEMÁTICO 1 A DESINTEGRAÇÃO ENTRE HABITAÇÃO E
PLANEJAMENTO. BRASIL E URUGUAI, FAVELAS
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
E “CANTEGRILES”
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
52
REFERÊNCIAS LOUIS-JOSEPH LEBRET, EXPERT DA ONU:
CONTRIBUIÇÃO À TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
BOLAÑA, M.J. Pobreza y segregación urbana. A PARTIR DA EXPERIÊNCIA NA AMÉRICA LATINA
Cantegriles montevideanos.1946-1973. Monte-
video: Rumbo, 2018.
No período compreendido entre os anos 1950 e
FELDMAN, S. As Comissões de Plano da Cidade 1970, um conjunto de novas teorias e experiências
na Era Vargas. In: REZENDE, V.F. (org.) Urba- em planejamento são formuladas e praticadas a
nismo na Era Vargas: a transformação das partir de uma gama de questões urbano-regionais
cidades brasileiras. Niterói: Editora da UFF: emergentes, estas impulsionadas pelo contexto
Intertexto, 2012, pp. 21-44. da guerra fria e pelos múltiplos desdobramentos
dos processos de urbanização nos países subde-
_______. O Serviço Federal de Habitação e Ur-
senvolvidos (GORELIK, 2005). O enfrentamento
banismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo
das desigualdades regionais, o entendimento do
profissional do urbanista. In: LEME, M.C.S. (org.)
papel preponderante do Estado como responsável
Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960.
pela superação das precárias condições sociais
São Paulo: Annablume, 2019, pp. 99-128.
e econômicas desses países, a associação entre
LEEDS, A.; LEEDS, E. A Sociologia do Brasil planejamento e desenvolvimento e a necessidade
Urbano. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. de superação dos limites administrativos são
parte de um conjunto de questões que orientam
RISSO, M. R.; BORONAT, J. Y. La vivienda de in- todo um repertório de trabalhos, os quais foram
terés social en el Uruguay: 1970-1983. Monte- responsáveis pela introdução de novas perspec-
video: Fundación de Cultura Universitaria, 1992. tivas teóricas para a compreensão dos processos
constituindo novas bases para o pensamento e a
RODRIGUES, R. I. “Aspectos fundiários da po- prática em planejamento nesse período.
lítica governamental para as favelas do Rio de
Janeiro nas décadas 1940 e 1950.” In: Anais do O desvendamento da realidade dos países sub-
XV ENANPUR, Rio de Janeiro, 2013. desenvolvidos através da interlocução entre dis-
ciplinas como a geografia, sociologia, economia,
TASCHNER, S.P. Favelas em São Paulo – cen- arquitetura e urbanismo e a compreensão das
so, consensos e contra-sensos. São Paulo. In: particularidades e dos problemas do desenvol-
Cadernos Metrópole, n.º 5, 2001, pp. 9-27. vimento dos países latino-americanos, em suas
múltiplas dimensões, se articulam aparato ins-
_______. Favelas do município de São Paulo: titucional montado no 2o pós guerra voltados
resultado de pesquisa. São Paulo, FAU-USP, para o financiamento e cooperação técnica dos
1977. países subdesenvolvidos, como a criação Organi-
zação das Nações Unidas (ONU) em 1945 e o Point
Four Program de 1949 do governo Truman. Essa
montagem possibilitou uma ampla circulação de
profissionais de diferentes países que se dirigem à
América Latina que, com sua expertise, contribuí-
ram para o intercâmbio de teorias e práticas entre
diferentes partes do mundo, tornando os países
latino-americanos verdadeiros laboratórios para
a compreensão da realidade subdesenvolvida em
nível internacional. Entre estes experts destaca-
-se a atuação do francês Louis-Joseph Lebret na
América Latina (PONTUAL, 2016).
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
56
57
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Se cidades abrigam espaços, abrigam tempos.
Que se acumulam não só nos monumentos des-
mesa temática cascados, nas ruínas, no corpo dos envelheci-
dos, nas árvores centenárias, mas ainda, nos si-
lêncios da palavra, no canto obscuro, no recorte
ÁVIDOS POR ESCUTAR O geográfico desprezado.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
64
RESUMEN leer la historia de una manera inédita, de
“citarla” según una necesidad que no no
proviene de ninguna manera de su agen-
Si las ciudades albergan espacios, albergan tiem- cia, sino de una demanda a la que no puede
pos. Que se acumulan no sólo en los monumentos responder. Es como si esa luz invisible, que
pelados, en las ruinas, en los cuerpos de ancia- es la oscuridad del presente, proyectara su
nos, en los árboles centenarios, sino aún, en los sombra sobre el pasado, y este, tocado por
silencios de la palabra, en el rincón oscuro, en el ese rayo de sombra, adquiriera la capaci-
despreciado trazado geográfico. dad de responder a la oscuridad del ahora ”.
(AGAMBEN, 2009: 72).
Y entre supervivencias y ausencias, el saber his-
toriográfico selecciona. Destaca un hecho y otro, En este sentido, si nos movemos en busca de
legitima o silencia discursos, personajes, espa- tiempos que toquen el presente, mirando de
cios movidos por motivos que involucran disputas adentro hacia afuera y convocando a otros acto-
ideológicas sobre quién y qué debe contemplar la res y otros temas, debe surgir otra escritura his-
Historia. La academia, además de reproducirlos toriográfica.
en la docencia, también se coloca en la posici-
ón de productor de estas narrativas, a través de En la búsqueda de traer la presencia de la his-
la actuación en el campo de la investigación y la toria y la historia a la ciudad, no hay forma de no
extensión. Además, las universidades, como es- convocar a la gente. Porque la ciudad existe bási-
pacios de poder, actúan consagrando o desapro- camente como un objeto material frente al cual,
bando discursos. Por lo tanto, conocer estas ru- todos los días, nos encontramos para cumplir la
tas de producción y también sus métodos, es un secuencia ordinaria de nuestras vidas. Buscando
desafío actual. poner la pantalla en el presente y el tiempo en el
espacio, las propuestas aquí discutidas son parte
No muy diferente del campo de la historia de la del esfuerzo por construir esta Historia presenti-
ciudad y el urbanismo, donde se construyeron y ficada y encarnada.
se construyen grandes áreas de sombra y luz.
Lo que se diferencia es que, cuando la historia, Lo que cuenta para la escritura de estas memo-
la memoria y la ciudad convergen, las marcas rias de la ciudad, en este caso, no será exacta-
construidas están disponibles. Tenemos el privi- mente la distancia, el tiempo viejo y gris, sino el
legio de informar al pasado con la posibilidad, en presente y la operatividad con la que desencade-
ocasiones, de tocarlo. Esto hace que pensar en el namos temporalidades para el enriquecimiento o
presente como un campo privilegiado de la histo- la complejidad de la vida actual. Por tanto, la po-
ria se convierta en una cuestión aún más clara, sibilidad del corte de tiempo no solo está regida
ya que si los monumentos fueron construidos en por el vector de tiempos sucesivos, sino de tiem-
el pasado, dialogan con los seres del presente, y pos que se entrelazan. Que sus fragmentos, com-
pueden alcanzar futuros. prendidos en mosaico, se puedan activar cerca.
Incluso se aceptará que la construcción disconti-
Además, las inmersiones de tiempo pueden tener nua, discontinua es una posibilidad para quienes
diferentes espesores. Si lo que llamamos pasado piensan en la historia. Indagar sobre anacronis-
se acerca ayer, hace horas, la vida palpitante se mos, permanencias, los tiempos de los fantas-
convierte en objeto de reflexión y la contemplaci- mas también es atractivo.
ón casi hoy, el fin de lo contemporáneo, ya signifi-
ca producir Historia Urbana. Y si pensamos en una historia inclusiva, que se
basa en áreas de sombreado, ¿no sería apropia-
“Esto significa que el contemporáneo no es do convocar a los llamados “vagabundos de la
solo aquel que, percibiendo la oscuridad ciudad” (JACQUES, 2012)? ¿Los andrajosos, los
del presente, captura la luz resuelta en él; improbables, los marginados? ¿Y por qué no los
es también quien, dividiendo e interpolan- juguetones, que en los malabarismos, a veces en
do el tiempo, es capaz de transformarlo y situaciones de vulnerabilidad, hacen la vida di-
ponerlo en relación con otros tiempos, de vertida? ¿O aquellos que subrayan en su existen-
EIXO TEMÁTICO 1 cia, la importancia de la imaginación, el arte, la
intuición?
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Traemos al evento las aportaciones vinculadas
a la Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la
Universidad Federal de Alagoas, que comprenden
actividades que se desarrollan en el ámbito de la
docencia, la investigación y la extensión. En par-
ticular, abordaremos aspectos de la trayectoria
del Grupo de Investigación Estudos da Paisagem,
aportando sus logros en el campo de la historia
de las ciudades realizados durante sus dos déca-
das de existencia. Dirigidas al estudio de las ciu-
dades y sus paisajes, aparecen aquí no solo como
una superficie de observación a distancia, sino
huecas, mezcladas, interpenetradas por quienes
las construyen y experimentan. Las ciudades, por
tanto, vistas a través de temporalidades, márge-
nes y sujetos encarnados.
16º SHCU
2. Grandes depressões distribuídas por todo o tabuleiro,
30 anos . Atualização Crítica
ou seja, a região alta e plana da cidade, causadas pelos
72 numerosos capilares de água que deságuam no mar.
formas de existir e se expressar: seja a conversa, ras e não apenas sonoras).” (SANTOS, 2002, p.11).
o barulho da motocicleta, o cacarejar da galinha ou
o tiro na madrugada. Dentre elas, por sedimentar Este acesso sonoro – que pode ser visto por exem-
o escasso, o lugar trouxe de maneira quase imbri- plo, na figura do vendedor ambulante - carrega
cada a necessidade e a busca pela sobrevivência, signos trazidos pelas ferramentas de trabalho, do
acompanhadas por táticas que levam na maioria animal de tração para o suporte de atividades, até
das vezes a grota a irradiar as demais paisagens o entoar das vozes que distorcem sua condição
da cidade. Neste sentido, se a história permanece de Ser invisibilizado. Ainda que de forma efêmera,
corporificada e incorporada nas dinâmicas espa- o grito vira não apenas um mecanismo laboral,
ciais, então acessar cavidades deste território até mas uma tática para driblar as barreiras impostas
então pouco explorado e amortecido na narrativa para estes corpos nos espaços urbanos. O corpo
oficial urbana, nos possibilita expandir o compre- sensório conduz a sonoridade existente nestes
ender das formas de articulação e as táticas de espaço não apenas como mais um canal percep-
enfretamento do corpo-território que é negado tivo mas como uma forma de se construir mate-
em outras instâncias da cidade. rialmente os lugares e de desvendar estratégias
que demonstram a sutileza de suas manobras.
Para desenvolver este estudo, me atento ao modo Para quem observa estes fatos, abre-se a possi-
como a pobreza se expande pela cidade através blidade de uma forma de compreensão irradiante,
do som e o que este denuncia, desdobrando os gerando sinapses de percepções e pensamentos
territórios pela própria percepção, permitindo que passam a se conectar a outras informações
compreender seus modos de acesso em espa- geradas nas grotas, obtidas pelo observar, pelo
ços não de exceção mas de intercessão urbana. acesso aos noticiários, pelos documentos disponí-
Ancorada na experiência da proximidade, através veis, sobrepondo narrativas e revelando nuances
de contínuas visitas de campo e de registros por da cidade e de sua estruturação que a imersão
meio do recurso do audiovisual, do desenho e neste mundo propicia alcançar.
do diálogo, foi possível o reestruturar do pensa-
Dessa forma, o conhecimento construído através
mento por bricolagens como vídeos montagens
das sonoridades urbanas me leva a uma contínua
e cartografias, e nessa contaminação, a escuta
reflexão de natureza crítica e metodológica, e se
se revelou uma ferramenta bastante operativa,
torna uma forma de transgredir as fronteiras im-
transformando o som no dispositivo prioritário
postas, propondo uma maneira aberta de pensar
desta pesquisa. A busca, desencadeou no ras-
e representar as cidades. O aproximar de uma
treamento das práticas, caminhos, mediações
compreensão mais porosa frente aos amálgamas
e ligações que esbarram no cotidiano dos po-
que elas constroem no seu cotidiano, os sulcos de
bres urbanos para além dos limites geográficos
suas transições, a paisagem menos enrijecida e
das grotas. Apesar de postos como simbologias
portanto, mais plural, tornando o debate urbano
praticamente inertes, estas pessoas não apenas
mais dinâmico e salientando suas referências
atravessam os territórios negados a elas, como
políticas.
criam redes e suportam o cotidiano da cidade.
Ebulições que explodem o significado de interno,
de periférico, de violento e descartável. Os sons
permitem perfurar a representação da cidade lida
de forma dura e fixa, e compreender as amalga-
mas dos cotidianos que são penetrados por uma
espontaneidade carregada de signos, fragmentos
e restos, que levam a evidenciar táticas plurais
evocadas por territórios silenciados. Além disto,
sua potência permeia o imaginário e a memória, de
modo que não apenas se torna uma representa-
ção, mas uma co-criação da cidade. “É através da
percepção e das formas criativas de audição que
temos condições de reinterpretar continuamente
o mundo - o “outro” - e suas manifestações (sono-
EIXO TEMÁTICO 1 No olhar do embaralhado: feiras livres em
cidades de Alagoas através de gestos
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
e imagens
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
76
77
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Num plano crítico, todo juízo é estratégico,
como disse Walter Benjamin, (BENJAMIN, frag-
mesa temática mento 140, 2014). A estratégia da crítica, dian-
te de cada obra, deve ser explicitar os detalhes
pelos quais a obra julgada se transforma num
CRÍTICA IMANENTE, EMPIRIA manancial de singularidades que podem man-
tê-la viva no presente, justamente porque se
E TEMPORALIDADES – difere deste. Toda obra tem uma historicidade
própria que diz respeito ao momento de sua pro-
SOBRE ALGUNS TEMAS DE dução, isto é, um tempo singular, no passado. O
que uma crítica pergunta é de que modo e por
HISTORIOGRAFIA E TEORIA que razão a obra reverbera no presente da sua
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
80
ABSTRACT seems adjusted to the nature of the city to critici-
ze it in materialistic terms, either by analyzing the
constitution of the built places or the actions per-
On a critical level, every judgment is strategic, as formed in those places, since materialism aims to
Walter Benjamin said, (BENJAMIN, fragment 140, account for the concrete moment of production
2014). The strategy of criticism, in the face of each and reception of the work - its previous history
work, must be to make explicit the details by whi- and its later history, when it was produced, when
ch the work judged becomes a source of singu- it was received.
larities that can keep it alive in the present, pre-
cisely because it differs from it. Every work has In these terms, through criticism each work - ob-
its own historicity which concerns the moment of ject or event - is understood as a singular phe-
its production, that is, a singular time in the past. nomenon that, when it is removed from the flow
What a criticism asks is how and why the work re- of commodification and abstraction, lets a par-
verberates in the present of its interpretation. It is tial totality be seen. The city, for the sake of tru-
not a question of emulating the past, or of seeking th, is the object bordering on criticism. In it, we
to conjugate the expectation of the present with always analyze material fragments coming from
that which was previously realized. Each work cri- the past, in an assembly whose construction of
ticized is so according to the historical moment in meaning takes place today, when we experience
which the interpreter or historian lives. This me- it. The city is an object that does not show itself
ans, in the first place, that every criticism must directly, but only in its refractory reflection. In an
show in material detail the historical distance urban object or event the knowledge, perception
that separates the work, in its historical concre- and gestures of the inhabitants are reflected -
teness, from the moment in which it is presented and for this reason Benjamin calls the city me-
to the experience of a spectator or interpreter. dium-deflection (Reflexionsmedium): the places
in which one lives the city are always junction, ar-
Benjamin calls a movement referring to distan- ticulation - an arrangement of ways of knowing,
ce and transmission a plan of criticism: first, to perceiving and acting.
recognize the historical distance separating the
past from the present, instead of first searching In order to reflect on theoretical-methodological
for supposed similarities; then, to establish that issues, the works presented at this table make
this distance is also apprehended in various the discussion based on historical materialism
ways, according to the not at all innocent way of but not only, and consider the city based on the
its transmission. actors, intellectual and contestation networks,
conflicts and institutionalism.
But, in the end, how can the criticism be carried
out? In principle, to the extent that each work is The materialistic analysis from this medium-de-
a determined synthesis, dismantle it. Then, to flection allows the combination of the temporality
disaggregate, to break down the components, of the experience of space (simultaneity) and the
to disseminate the constructive units. And then, unfolding (longevity) of the plots of production of
once these fragments have been historically re- space and, necessarily, conjugates criticism to
counted, we recompose them, reassemble them. the historical narrative. But it is still necessary to
It is a matter of constituting and unfolding the or- demonstrate what purpose these philosophical
der inherent in the work according to a detailed principles of criticism and narrative serve in the
analysis of the historical and philological mate- field of urban history.
rial that determines it (GAGNEBIN, 1980, 16 ). Cri-
ticism, through analysis, opens up the possibility The way to demonstrate this is to claim the in-
of transformation of the work. clusion of the critique of everyday life as a cons-
tituent part of urban historiography. Criticism,
The urban always requires a materialistic analy- in this case, not only in the terms of Walter Ben-
sis, either by the duration that characterizes it (its jamin, but also of Henri Lefebvre. To write urban
production) or by the simultaneity and ephemera- history with these two materialistic philosophers
lity of the experience it causes (its frequency). It it is necessary to consider the temporality of
EIXO TEMÁTICO 1 everyday life, in terms of the alienation that sub-
jects it, to know how to overcome it through the
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO appropriation of time and space - in other words,
to think of everyday life in terms of knowledge and
recognizability.
It is decisive for historiography and criticism to En un nivel crítico, cada juicio es estratégico,
consider that today’s urban is a multi-territoria- como dijo Walter Benjamin, (BENJAMIN, frag-
lity of relations of domination and subordination mento 140, 2014). La estrategia de la crítica, fren-
and resistance. If the urban is an inescapable te a cada obra, debe ser explicar los detalles por
noun in the constitution of emancipatory practi- los cuales la obra juzgada se convierte en fuente
ces and proposals, a spatial arrangement of cou- de singularidades que pueden mantenerla viva en
ntless configurations - the cities in their many de- el presente, precisamente porque difiere de ella.
signs - which in themselves are a fragile element Cada obra tiene su propia historicidad que con-
in the face of the vectors of power, can be dedu- cierne al momento de su producción, es decir, un
ced from it. In order to understand this movement tiempo singular en el pasado. Lo que una crítica
between the dominant and the dominated within pregunta es cómo y por qué la obra reverbera en
the urban, i.e. from the processes of urbanization el presente de su interpretación. No se trata de
and from urban experiences, it is necessary to be emular el pasado, ni de tratar de conjugar la ex-
able to change one’s gaze and confront the opa- pectativa del presente con lo que se realizó an-
queness that so characterizes the morphology of teriormente. Cada obra criticada lo es según el
cities (LEPETIT,1996,107). momento histórico en el que vive el intérprete o
el historiador. Esto significa, en primer lugar, que
toda crítica debe mostrar con detalle material la
HISTORIOGRAPHY CRITICISM PUBLIC SPACE distancia histórica que separa la obra, en su con-
CONFLICTS INSTITUTIONALITIES creción histórica, del momento en que se presen-
ta a la experiencia de un espectador o intérprete.
Benjamín llama al plan de la crítica un movimien-
to que se refiere a la distancia y a la transmisión:
primero, reconocer la distancia histórica que se-
para el pasado del presente, en lugar de buscar
primero supuestas similitudes; luego, establecer
que esta distancia también se aprehende de va-
rias maneras, según el modo nada inocente de su
transmisión.
Fue en 1970 cuando Henri Lefebvre formuló su Es decisivo para la historiografía y la crítica con-
última hipótesis sobre la urbanización comple- siderar que lo urbano de hoy es una multiterrito-
ta, situándola en la cronología de las tipologías rialidad de relaciones de dominación y subordina-
de las formaciones urbanas: primero realizamos ción y resistencia. Si lo urbano es un sustantivo
una sociedad comercial, luego una sociedad in- ineludible en la constitución de las prácticas y
dustrial y finalmente una sociedad urbana. Para propuestas emancipadoras, de él se deduce una
el filósofo francés, una Urbana transformada en ordenación espacial de innumerables configura-
sustantivo exige ser entendida como un proceso; ciones - las ciudades en sus tantos diseños - que
o, por lo menos, según la suma de muchos proce- en sí mismas son un elemento frágil frente a los
sos - reunión de procesos de implosión (concen- vectores del poder. Para comprender este mo-
tración, espesamiento, condensación de bienes, vimiento entre dominantes y dominados dentro
objetos, poblaciones), reunión de procesos de de lo urbano, es decir, a partir de los procesos
explosión (proyección, dispersión, fragmentación de urbanización y las experiencias urbanas, es
en vacíos, periferias, ciudades satélite). necesario poder cambiar la mirada y enfrentar
la opacidad que caracteriza la morfología de las
El eje que atraviesa transversalmente el conjun- ciudades (LEPETIT,1996,107).
to de las dinámicas urbanas es la vida cotidiana;
sólo su análisis permite desvelar nuevas formas
sociales, nuevas experiencias, nuevas narrativas, HISTORIOGRAFÍA CRÍTICA ESPACIO PÚBLICO
producción, consumo, distribución y circulación, CONFLICTOS INSTITUCIONES
accesibilidad, movilidad. Analizar la vida cotidia-
na es volver a la superficie, a lo visible de los fenó-
menos - detenerse, atentamente, a la superficie
fenoménica de la realidad social, donde el proce-
so de reproducción espacial se articula al plano
de la reproducción de la vida.
mesa temática
Trama ou tecido, de raiz etimológica imbricada com
a palavra texto, são ambos derivados do verbo texere
SOBRE ALGUNS TEMAS DE das fontes, dos métodos, das perguntas. Se como
afirma (RANCIÈRE, 1994:61) a “verdade do relato
HISTORIOGRAFIA E TEORIA funda-se sobre a reserva de sentido das cartas
exibidas e ordenadas”, na escolha dos fios a serem
URBANA tecidos, conectados, hierarquizados, se encontra
um primeiro princípio fundador da narrativa pela
trama. Nesse sentido, o objeto é o próprio entre-
IMMANENT CRITICISM, EMPIRICISM AND laçamento. Ao entrelaçar o objeto e seu contexto
TEMPORALITIES - ON SOME THEMES OF consideramos que ambos são partes constitutiva
HISTORIOGRAPHY AND URBAN THEORY de um mesmo universo e que a simultaneidade e a
relação dialética entre estes produzem mutuamente
CRÍTICAS INMANENTE, EMPIRISMO Y sua construção, ainda que com temporalidades
TEMPORALIDADES - SOBRE ALGUNOS TEMAS DE LA distintas. Assim, ao contrário de apresentar de
HISTORIOGRAFÍA Y LA TEORÍA URBANA forma dissociada o objeto e seu contexto, busca-
-se construir a narrativa de maneira a explicitar
essa simultaneidade, variando o foco no decorrer
da narrativa e buscando evidenciar os pontos de
conexão entre objeto e contexto. Assim, a trama é
aqui é mobilizada como perspectiva analítica como
possibilidade de superação dessa dualidade, evi-
denciando na própria construção do objeto os fios
que o compõe simultaneamente.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
94
95
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
A narrativa, como modo de organização dis-
cursiva, tem ocupado o conhecimento históri-
mesa temática co e tem mobilizado debates que multiplicam
perguntas sobre as próprias formas de narrar.
Uma das primeiras ponderações sobre o tema,
NEBULOSAS DO PENSAMENTO por exemplo, Heródoto, apresenta três motivos
para justificar a narrativa: “para que os feitos
URBANÍSTICO: NARRAR dos homens se não desvaneçam com o tempo,
nem fiquem sem renome as grandes e maravi-
POR OCUPAÇÕES, TRAMAS, lhosas empresas, realizadas quer pelos Helenos
quer pelos Bárbaros; e sobretudo a razão por
VESTÍGIOS E EMBATES que entraram em guerra uns com os outros [...].”
(Heródoto, Histórias).
NEBULAE OF URBAN THINKING: WAYS OF NARRATING
Apesar de explicitar para que e porque narra-
va, seu texto nada tem do sentido apaziguador
NEBULOSAS DEL PENSAMIENTO URBANO: MODOS DE
sugerido em sua resposta. Nele, entrecruza nu-
NARRAR
merosas questões acerca do lugar dos testemu-
nhos, das memórias, da alteridade, das razões
PEREIRA, Margareth da Silva das narrativas, de modo a se justificar o título da
obra mantido no plural: são histórias.
(Coord.)
Doutora; PROURB/ UFRJ
margaspereira@gmail.com Não apenas o que se narra, a relatividade de
pontos de vistas e o estatuto da verdade são
REYES, Paulo; CIDADE, Daniela tidos como importantes quando se escreve.
Ainda na Antiguidade, Aristóteles amplia essas
Doutor; PROPUR UFRGS; Doutora; UFRGS
paulo.reyes@ufrgs.br; daniela.cidade@ufrgs.br
questões: como se narra? Como as palavras ga-
nham sentido quando articuladas? A partir daí
distingue categorias de palavras e de gêneros
CHIQUITO, Elisângela de Almeida
de discurso, e acrescenta à pluralidade a alteri-
Doutora; NPGAU/EAUFMG
dade, pensada nas reflexões dedicadas à retóri-
lis_arq@yahoo.com.br
ca, à poética e à política.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
98
ABSTRACT thinking. The denaturing of narrative, the reflec-
tion of the field of knowledge on its own practices,
the deconstruction of boundaries between fields,
The narrative, as a mode of discursive organiza- the theoretical shifts in the field of knowledge
tion, has occupied historical knowledge and has and historiography are heritages that continue to
mobilized debates that multiply questions about question narration.
the very ways of narrating. One of the first con-
siderations on the subject, for example, Herodo- Relations between language and power; conside-
tus, presents three reasons to justify the narra- rations about subject and subjectivity; conditions
tive: “so that the deeds of men do not fade over of enunciation and possibility of historical truth;
time, nor do the great and marvelous companies, are themes that have crossed several disciplinary
carried out either by Helen or by the Barbarians, fields. More and more, the office of the historian
become without renown; and above all the reason - and even the historian of architecture and urba-
why they went to war with each other [...]. (Hero- nism - has been placed before questions that up-
dotus, Stories). date old questions about practices and regimes
of memory and temporalization: who narrates?
(Herodotus, Stories). Although he explained why For whom? What is the narrative about?
and for what reason he narrated, his text has no-
thing of the soothing meaning suggested in his Nowadays, the ways of narrating have passed
reply. In it, he interpolates numerous questions through the sieve of clashes about different prac-
about the place of testimonies, of memories, of tices - corporal, discursive, visual, political. Epis-
otherness, of the reasons for the narratives, in or- temological dislocations caused by these clashes
der to justify the title of the work kept in the plural: within the decolonial discussions are noted,
they are stories. thanks to a rigorous historicization and critique of
who narrates and can speak. This state of affairs
Not only what is narrated, the relativity of points signals how much the issue mobilizes contempo-
of view and the status of truth are considered im- rary sensitivity and how pertinent the subject is
portant when writing. Still in antiquity, Aristotle when it approaches narrative issues from those
expands on these questions: how do you narra- of scientific, historical, anthropological and poli-
te? How do words make sense when articulated? tical knowledge. Brought to the field of urbanism,
From there he distinguishes categories of words this discussion is not limited to the debate about
and genres of discourse, and adds to the plurality which history of urbanism to narrate. By focusing
the otherness, thought of in the reflections dedi- on the city, the privileged locus of social and po-
cated to rhetoric, poetics and politics. litical life, urbanism carries to the narrative its
multiple and transdisciplinary aspect.
Not only what is narrated, the relativity of points
of view, and the status of truth are considered im- In addition to bringing together once again these
portant when writing. Still in antiquity, Aristotle research questions about history and historiogra-
expands on these questions: how do you narrate? phy of urbanism, this thematic session is motiva-
How do words gain meaning when articulated? ted by the purpose of bringing to the public debate
From there he distinguishes categories of words some themes and aspects developed from a work
and genres of discourse, and adds to the plurality gathered in the third volume of the collection Ne-
the otherness, thought of in the reflections dedi- bulosas do pensamento urbanístico: modos de
cated to rhetoric, poetics and politics. narrar. After the volumes on Ways of Thinking and
Ways of Doing, we seek to discuss the diversity of
Far from proposing a genealogy of reflections on understanding about the intrigues that emerge
narrative, these observations seem timely becau- in the plot and the historical tessitura. These are
se they are mobilized, contrasted, and intensely questions arising from the research and writing
criticized by both historians and philosophers, experiences of the different groups that build this
especially those involved in the intellectual ne- collective investigation on the formation of urba-
bulae dedicated to discourse analysis since the nistic thought. The aim is to consider the multi-
1960s-70s and their imbrications with acting and plicity of visions about urbanism, to inquire about
EIXO TEMÁTICO 1 the forms of traces that sustain narratives, and
to question what remains and disappears, that is,
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO the sedimentation of common knowledge and the
part of fragments and eventual deviations.
mesa temática
Este artigo coloca em questão narrativas. Reco-
nhece o projeto arquitetônico-urbanístico predo-
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
112
113
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
A narrativa, como modo de organização discursi-
va, tem ocupado o conhecimento histórico e tem
mesa temática mobilizado debates que multiplicam perguntas
sobre as próprias formas de narrar. Uma das pri-
meiras ponderações sobre o tema, por exemplo,
NEBULOSAS DO Heródoto, apresenta três motivos para justificar
a narrativa: “para que os feitos dos homens se
PENSAMENTO URBANÍSTICO: não desvaneçam com o tempo, nem fiquem sem
renome as grandes e maravilhosas empresas, re-
NARRAR POR RELAÇÕES, alizadas quer pelos Helenos quer pelos Bárbaros;
e sobretudo a razão por que entraram em guerra
TRANSVERSALIDADES, uns com os outros [...].” (Heródoto, Histórias).
CRUZ, Luciana Saboia Fonseca; TREVISAN, Ricardo Longe de propor uma genealogia das reflexões
Doutora; FAU-UnB; Doutor; FAU-UnB
sobre narrativa, essas observações parecem
lucianasaboiacruz@gmail.com; prof.trevisan@gmail.com oportunas por serem mobilizadas, contrastadas,
e intensamente criticadas tanto por historiado-
COURI, Aline; ORTIZ, Daniela res quanto por filósofos, sobretudo aqueles en-
volvidos nas nebulosas intelectuais dedicadas
Doutora; leU-PROURB/UFRJ; Doutora leU/PROURB-UFRJ
– CCSA/Universidade de Frankfurt
às análises de discurso desde os anos 1960-70 e
mario.mag1978@gmail.com; adriana_caula@id.uff.br suas imbricações com o agir e o pensar. A des-
naturalização da narrativa, a reflexão do campo
CASTRO, Ana Claudia Veiga de; SILVA, Joana Mello de de conhecimento sobre suas próprias práticas,
Carvalho e LIRA, José Tavares Correia de a desconstrução de fronteiras entre os campos,
os deslocamentos teóricos no campo do conhe-
Doutora; FAU-USP, anacvcastro@usp.br; Doutora;
cimento e da historiografia são heranças que
FAU-USP; Titular; FAU-USP
anacvcastro@usp.br; joselira@usp.br continuam a indagar o narrar.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
122
Narrar por Transversalidades causal ou evolutiva levou a que se esquecesse e
se silenciasse esse desvio indeterminado e im-
previsível, considerando-o, em termos científicos
Narrar por transversalidades é um modo de agir e durante séculos, igual a zero, o que significou
e pensar atravessado, transverso. Talvez seja até ignorá-lo. Por outro lado, eidôlon permitiu-lhe
mesmo um modo de insistir em dizer que a posi- evocar um pensamento a partir de como os sen-
ção de lateralidade e de desvio é o que move o tra- tidos se pensam com o mundo e que, ao mesmo
balho do historiador em sua constante busca de tempo, configura imagens, aparências, reflexos,
pensar outras formas de presente. De todo modo, memórias.
é um agir que também o define, isto é, constrói sua
identidade, entendida não como algo dado, ou um Entre clinâmen e eidôlon o pensamento atenta-
fundamento de si, mas como o norte de suas pró- ria não só para o extremamente pequeno, mas
prias buscas e que lhe constituem passo a passo. se abriria para a ideia de fluxo, de fragilidade,
de instabilidade, de turbulência, de água. Para
Pensar, Agir, Narrar por Transversalidades, signifi- aquele que se volta para uma reflexão sobre prá-
ca, assim, reconhecer e advogar outras formas de ticas e gestos de grande incidência na vida social
conhecimento e buscar transgredir e historicizar e coletiva - como a arquitetura e o urbanismo
os limites de sistemas de pensamento que se – e que já não se perguntam sobre estruturas
imiscuíram de tal forma nas experiências mais temporariamente instáveis-estáveis e que se
banais que estão presentes não só nas práticas autoregulam, mas dentre as quais se inserem os
correntes da arquitetura e do urbanismo, mas próprios gestos urbanos em sua intencionalidade
até mesmo se reproduzem nos dicionários, ainda e escolhas, apontar a pregnância de uma visão
que com ambiguidades. de mundo que silencia as incertezas continua a
ser urgente e necessário.
Transversal -
Choay (1980), frequentando Alberti, apostou no
a. Cujo caminho é obliquo tendo algo como referen-
lugar do desejo de um edificar contínuo - o ins-
te: avenida transversal. Que atravessa algo tendo
taurar e re-instaurar permanente da vida coletiva,
alguma coisa como referente, não obrigatoriamen-
mas que com uma prática funcionalista que se
te, na oblíqua. Diz-se de uma rua que atravessa
delineia bem antes do século XX, quando se tor-
uma via principal ou nesta termina.
na hegemônica, parece ter sido ora deixado em
s. Reta que atravessa dois pontos de uma curva segundo plano ora absolutizado e hipertrofiado,
pelas narrativas historiográficas que lhe deram
Michel Serres (1977), já há décadas, foi buscar em sustentação. Nada disso teria valor de atualidade
Lucrécio e em palavras arcaicas gregas e latinas se tanto uma certa de visão de ciência pouco
- como as noções de clinâmen e de eidôlon – e no complexa de par com essa tradição discursiva
cálculo infinitesimal argumentos, não para tomar não continuasse desencarnando o habitar e o
partido entre definições hesitantes - oblíquas, não construir ao privilegiar a aplicabilidade de teorias
necessariamente oblíquas, reta que atravessa - prontas, a autonomia da forma, os inventários
ou defender movimentos sem referentes. Esses estilísticos e tipo-morfológicos sem que se per-
conceitos antigos lhe serviram para apontar os gunte culturalmente quando, como, para quem,
apagamentos de certos fenômenos físicos - como esvaziando, em suma, os próprios arquitetos e
a ideia de desvio, mostrando as operações de urbanistas de um “trabalho de si como um outro”.
silenciamento matemáticas sobre ele - e para,
a partir daí, sustentar outras hipóteses para os Ora, onde estaria a pulsão desejante, construtiva
modos de conhecer e de narrar. e propositiva da arquitetura e do urbanismo? Se
autorregularia também, de tempos em tempos,
De fato, clinâmen, para Lucrécio e ainda Epicuro, frente as pulsões de morte, as convulsões co-
retomados por Serres, é um ângulo mínimo no letivas, as guerras, as barbáries que atraves-
percurso de um corpo, um desvio mínimo que sam as experiências da vida social? Mas, a atual
causa as turbulências e as espirais. A rigidez de conjuntura que vivemos na qual a polarização,
uma forma de pensar sequencial, unidirecional, fragmentação e transacionalidade política se
EIXO TEMÁTICO 1 impõem globalmente, é um fato isolado na pe-
quena história do urbanismo desses dois últimos
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO séculos?
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
146
147
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Ao longo da 2a metade do século XX, a trajetó-
ria da questão metropolitana como problema
mesa temática de planejamento no Brasil passa por distintos
regimes políticos, democráticos e ditatoriais.
Os processos de conurbação já percebidos nas
PLANEJAMENTO principais cidades brasileiras nos anos 1950, o
incremento da infraestrutura regional, os avan-
METROPOLITANO EM ços da industrialização e a circulação internacio-
nal de novas teorias e métodos de planejamento
BELO HORIZONTE: IDEIAS, regional para a compreensão dos processos de
urbanização contribuíram para a emergência da
MÉTODOS, PRÁTICAS E SEUS metropolização como problema a ser enfrenta-
mesa temática
Podemos entender o período de emergência e
institucionalização do planejamento metropo-
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
160
REFERÊNCIAS LEPETIT, B. Por uma nova história urbana.
(Org. Heliana A. Salgueiro). São Paulo: EdUSP,
AZEVEDO, S.; MARES GUIA, V.R. A trajeto ŕ ia da 2001.
gesta õ metropolitana de Belo Horizonte. In:
LEFEBVRE, H. The urban revolution. (1ª ed.)
ANDRADE, L.T.; MENDONÇA, J.G.; DINIZ, A.M.A.
Minnesota: University of Minnesota Press, 1970.
(orgs.). Belo Horizonte: transformaço e ̃ s na
ordem urbana. Rio de Janeiro: Letra Capital: MONTE-MÓR, R.L.M.; COSTA, G.M.; COSTA,
Observato ŕ io das Metro p
́ oles. Belo Horizonte: H.S.M.; MELO, M.G.P. The university and
PUC-Minas, 2015. metropolitan planning: an innovative
BECKER, B.K. Modernizaça o ̃ e gesta õ do experience. Nova Economia, v.26, 2016, p.1133
territo ŕ io no Brasil: da integraça õ nacional à - 1156.
integraça o ̃ competitiva. Espac o ̧ e Debates,
MONTE-MO R ́ , R.L.M. Do urbanismo à poli t́ ica
Sa o
̃ Paulo, no 32, 1991.
urbana: notas sobre a experie ̂ncia brasileira.
CINTRA, A.O.; HADDAD, P.R. Dilemas do pla- In: COSTA, G.M.; MENDONÇA, J.G. (orgs.). Plane-
nejamento urbano e regional no Brasil. Rio de jamento Urbano no Brasil: trajeto ŕ ia, avanços
Janeiro, Zahar Ed., 1978. e perspectivas. Belo Horizonte: C/Arte, 2008.
COSTA, H.S.M. Natureza, mercado e cultura:
caminhos da expansão metropolitana de Belo PLAMBEL. A estrutura urbana da RMBH – V.1
Horizonte In: MENDONÇA, J.G. e GODINHO, M.H. – O processo de formaça o
̃ do espaço urbano
(orgs.). População, espaço e gestão na metró- 1897-1985. Belo Horizonte: PLAMBEL, 1986.
pole: Novas configurações, velhas desigual-
dades. Belo Horizonte: PUCMINAS, 2003. p.
PLAMBEL. A situac ̧a õ da Regia õ Metropoli-
159-178.
tana de Belo Horizonte: problemas e poli t́ icas
COSTA, G.M.; MENDONÇA, J.G. (orgs.). Planeja- adotadas apo ś a Constituiça o
̃ Federal de 1988.
mento urbano no Brasil: trajetória, avanços e Belo Horizonte: PLAMBEL, 1992.
perspectivas. Belo Horizonte, C/ Arte, 2008.
PLAMBEL. O mercado da terra na Região
CINTRA, A.O.; ANDRADE, L.A.G. Planejamento e Metropolitana de Belo Horizonte (2o edição
desenvolvimento: notas sobre o caso de Minas revisada). Belo Horizonte: PLAMBEL, 1987.
Gerais. Revista de Administração Pública. Rio
de Janeiro, 10 (2), abril-junho, 1976. p. 221-240.
PLAMBEL. Plano de desenvolvimento integra-
DINIZ, C.C. Estado e capital estrangeiro na in- do econo ̂mico e social da Regia o
̃ Metropoli-
dustrializac ̧a o
̃ mineira. Belo Horizonte: UFMG/ tano de Belo Horizonte. Belo Horizonte: PLAM-
PROED, 1981. BEL, 1975.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
162
163
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O tema da Reforma Urbana arrebatou debates,
ações e corações em países da América Latina
mesa temática nos anos de 1960, tema que, na presente mesa,
estará circunscrito pelas experiências desen-
volvidas no Peru, na Argentina, no Brasil e em
REFORMA URBANA EM Cuba.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
166
ABSTRACT mission for Latin America and the Caribbean,
both in 1948, that of the IDB - Inter-American De-
velopment Bank, in 1959 and that of LAFTA- Latin
The theme of Urban Reform captured debates, American Free Trade Association in 1960.
actions and hearts in Latin American countries in
the 1960s. In this table, we will circumscribe the In turn, the activation of these institutions and
theme by experiences developed in Peru, Argenti- scales, although quite hierarchical, can also be
na, Brazil and Cuba. multidirectional, starting from national govern-
ments, differently positioned. In this sense, the
Cuba was undoubtedly the main reference, from proposal of the LAO - Latin American Operation
which diverse and contradictory movements (1958), formulated by Juscelino Kubitschek, in a
were tested towards the possibilities of transfor- delicate context of the United States-Venezuela
ming cities, considered as a social problem to be relations, as a way to combat extreme poverty in
addressed. several countries of the continent, which results
in the constitution of the IDB itself the following
In fact, the Cuban experience of Urban Reform year. But from this same initiative, now as a direct
can be considered as the most revealing and the opposition to the Cuban Revolution and in a pe-
closest to the Latin American reality, configuring riod of intense American activism, will also result
a triple transition. First, because it integrates the Alliance for Progress program, established in
what Fidel Castro calls a transition from the pe- 1961, in the Charter of Punta del Este. Signed by 22
riod of reform to the period of revolution, reaffir- OAS member countries, part of its resources were
ming principles and strategies outlined by socia- used to finance housing and urban infrastructure.
list and communist movements from the turn of In terms of the urbanization processes that
the 19th to the 20th century. Secondly because, by marked the countries of the continent, its inten-
naming it as a urban reform, it inaugurates a new sity must be emphasized as a result of wide po-
designation of the reformist process in which the pulation movements between countryside and
city as such has a leading role. Finally, it becomes city and between cities and also from a decrease
a reference point for ongoing initiatives and ac- in mortality rates. The resulting urban growth is
tions in several Latin American cities, as indica- marked by intense poverty, public inability to pro-
ted above. vide basic goods for reproduction in cities and,
therefore, unviable access to urbanized land for
But other processes also matter to establish this a large part of the population. Hence the cons-
situation. We will highlight three: the geopolitical titution of one of the main logics of post-second
tension that marks the cold war and its mechanis- war urban production and reproduction in poor
ms of international governance; the accelerated countries: unequal and spoliative growth, pu-
and concentrated urbanization; and the political blic action hierarchized by hegemonic social and
and institutional conditions specific to each cou- economic choices and accentuated speculative
ntry, which govern the construction of the urban appreciation of the land. In other words, barria-
reform agenda. das, invasions and occupations, villas miseria
and tugurios are an integral part of this process,
The war of positions that marks the post-World constituting a common element of Latin Ame-
War II, concretized militarily in the construction of rican cities. This voracious concreteness of the
NATO - North Atlantic Treaty Organization (1949) urban and urbanistic reality generates an infinity
and the Warsaw Pact (1955), is also supported by of insertion strategies, of confrontations, of civil
the creation of international organizations un- disobediences, politicizing the urban question,
derstood as possible mediators of conflicts and in close association with various militancies, of
disputes established in unequal sovereignty and which stand out those linked to the Church and
development regimes. In this context, it is the very the Communist Party, anchored in a kind of Chris-
idea of Latin
America that asserts itself, in diffe- tian international, growing since the XVI and in
rent processes. Concerning it directly, it is worth the communist international itself, from the end
mentioning the creation of the OAS - Organization of the XIX. It is interesting to see the expansion of
of American States and ECLAC - Economic Com- the communist party in the countries we mention
EIXO TEMÁTICO 1 here: it was created in 1918 in Argentina, in 1922 in
Brazil, in 1925 in Cuba, in 1928 in Peru. With them,
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO the political configuration of the countries is mo-
dified, of course, in different situations of greater
or lesser possibility of action, through tensioning
of various orders, concerning, among others,
conceptual and intellectual production, social
organization and the construction of social pers-
pectives.
And, finally, what paths did the Cuban urban re- El tema de la Reforma Urbana captó debates, ac-
form of 1960 follow? What questions were faced, ciones y corazones en los países de América Lati-
what results were achieved? The law underwent na en la década de 1960, tema que, en esta mesa,
important changes in some of its principles in estará circunscrito a las experiencias desarrolla-
2011, such as those relating to the purchase and das en Perú, Argentina, Brasil y Cuba.
sale of housing and building permits, as well as
following discussions on rents and mortgages. 60 Cuba fue sin duda el principal referente de formu-
years after the construction of a landmark in in- lación, a partir de la cual se probaron diversos y
ternational urban policy, it is important to analy- contradictorios movimientos hacia las posibilida-
ze the challenges currently facing Cuban urban des de transformar las ciudades, consideradas
reform, reflecting on issues related to property, como un problema social a abordar.
access to land and production and housing finan-
cing. De hecho, la experiencia cubana de Reforma Ur-
bana se puede considerar como la más revelado-
The round table “Urban Reform in Latin Ameri- ra y la más cercana a la realidad latinoamericana,
can Countries: shared movements, interwoven configurando una triple transición. Primero, por-
times, thought-provoking experiences” contribu- que integra lo que Fidel Castro llama una transici-
tes, therefore, to a multidirectional reflection on ón del período de reforma al período de revoluci-
the urban reform processes of the 1960s in Latin ón, reafirmando principios y estrategias trazadas
American countries. And it also leads us to think por los movimientos socialistas y comunistas de
about the current configurations of the urban re- finales del siglo XIX al XX. En segundo lugar, al in-
form banner itself, which is still so current in our novar, nombrando esta reforma como urbana, se
countries, as well as about the challenges it faces inaugura una nueva modalidad de denominación
us in the search for just and democratic societies. del proceso reformista, en el que la ciudad como
tal tiene un papel protagónico. Finalmente, se
convierte en un punto de referencia para inicia-
Urban Reform Latin America 1960’s tivas y acciones en curso en varias ciudades de
América Latina, como se indicó anteriormente.
mesa temática
El surgimiento de las barriadas o de los llamados
barrios marginales en el Perú, hasta mediados de
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
174
ENTRE EL REFORMISMO Y LA REVOLUCIÓN. des “primadas” en los términos de Richard Morse,
Los aportes de Jorge Enrique Hardoy producía territorios desequilibrados, no sólo en
términos metropolitanos, sino principalmente a
a la reforma urbana como tema
escala regional/nacional.
HISTORIOGRAFIA
E PENSAMENTO URBANÍSTICO
sessões temáticas
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Este artigo, fruto das reflexões feitas pela auto-
ra em sua tese de doutorado, discute o desen-
SESSÃO temática volvimento do pensamento urbanístico para o
meio rural, partindo-se dos pressupostos das
cidades jardim e do processo de evolução das
A CONSTRUÇÃO DO fazendas em forma de pavilhão, chegando-se
a realidade brasileira e as perspectivas atuais.
PENSAMENTO URBANÍSTICO Como metodologia, utiliza-se o levantamento
bibliográfico sobre o tema, articulando o pen-
PARA O RURAL E SEUS ECOS samento urbanístico a cada momento social
que foi proposto. Um dos aspectos mais evi-
NO BRASIL dentes é que o que vem sendo elaborado para o
espaço rural é oriundo, predominantemente, de
adaptações do que surge como proposta para
THE CONSTRUCTION OF URBANISTIC THOUGHT TO THE
o urbano, sendo, por isso, não satisfatório para
RURAL AND ITS REPERCUSSIONS IN BRAZIL
atender as demandas de todos os grupos que
ocupam os espaço rural.
LA CONSTRUCCIÓN DEL PENSAMIENTO URBANÍSTICO
AL RURAL Y SUS REPERCUSIONES EN BRASIL
pensamento urbanístico urbanismo rural
MOREIRA, Paula Adelaide Mattos Santos campo brasileiro
Doutora em Arquitetura e Urbanismo; Professora
Colaboradora da Residência em Assistência Técnica,
Habitação e Direito à Cidade (RAU-E/PPGAU /UFBA)
paulagemeos@hotmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
184
ABSTRACT RESUMEN
This paper, the result of reflections made by the Este artículo, fruto de las reflexiones de la autora
author in her doctoral thesis, discusses the de- en su tesis doctoral, analiza el desarrollo del pen-
velopment of urban thinking for rural areas, star- samiento urbano para las zonas rurales, a partir
ting from the origin of the term rural urbanism del origen del término urbanismo rural en el mun-
in the world, arriving at the Brazilian reality and do, llegando a la realidad brasileña y perspectivas
current perspectives. As a methodology, the bi- actuales. . Como metodología se utiliza el releva-
bliographic survey on the theme is used, articu- miento bibliográfico sobre el tema, articulando
lating urban thinking at each social moment that el pensamiento urbano en cada momento social
was proposed. One of the most evident aspects is propuesto. Uno de los aspectos más evidentes es
that what has been elaborated for the rural space que lo elaborado para el espacio rural proviene,
comes, predominantly, from adaptations of what predominantemente, de adaptaciones de lo que
appears as a proposal for the urban, being, there- aparece como una propuesta para lo urbano, no
fore, not satisfactory to meet the demands of all siendo, por tanto, satisfactorio para atender las
the groups that occupy the rural space. demandas de todos los colectivos que ocupan el
territorio. espacio rural.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
188
forma de se pensar os espaços rurais. Esta afir-
mação é justificada pelo fato de que as cidades
jardim subsidiaram e enalteceram a ideia de se
morar e trabalhar no campo, não mais como um
camponês “atrasado” e sim numa perspectiva de
adaptação do campo para uma nova forma de se
viver. Com este apelo, essa visão deu suporte para
possíveis formas de se planejar o campo a partir
de novas perspectivas e necessidades. O modelo
inglês foi amplamente difundido justamente por
dar conta de transportar conceitos de urbanidade
(higiene, trabalho, moralidade, etc.) a vida rural.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
194
é que sua aderência à sociedade industrial foi
bastante significativa, ele acabou contribuindo na
modelagem de um sujeito aprisionado aos valores
hegemônicos, racional, pasteurizado e apático.
Além disso, sua aplicabilidade, não princípios, via-
bilizou o fortalecimento de esquemas de mercado
ligados à produção habitacional, a urbanização de
cidades, a especulação imobiliária, dentre outros,
fato que, progressivamente foi empobrecendo-o,
desvirtuando-o e anulando-o.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
No caso das Rurópolis, a população deveria ser
200 calculada para mais de 20.000 habitantes. Isto
porque ela teria funções mais complexas e diversi- pelo Estado, que, segundo Coelho Neto (2004)
ficadas que uma agrópolis, tal as desempenhadas se constituem em espaços construídos a partir
pelos hospitais, serviços de segurança pública, das relações entre sociedade e natureza onde
centros administrativo, escolas técnicas e es- o componente técnico se destaca, assumindo
pecializadas, agroindústrias, dentre outras. As papel determinante. Para esta texto, eles trazem
rurópolis, na prática, se constituíram em cidades outro componente técnico importante, além da
preexistentes, tal como Marabá, pois, os investi- infraestrutura de irrigação, que é o exercício do
mentos e a mobilização para se criar uma estru- pensamento urbanístico para as áreas irrigadas,
tura neste porte em áreas ainda não povoadas considerando o local de moradia dos irrigantes.
seriam enormes, incompatíveis com a realidade
do país, fato que foi considerado por Camargo. Nos primeiros projetos de irrigação houveram
arquitetos envolvidos que, pensavam nas possi-
A experiência e conhecimento teórico do arqui- bilidades mais viáveis de implantar as moradias
teto não foram suficientes para viabilizar suas dos colonos. O DNOCS, por exemplo, chegou a
propostas de forma plena. Isto porque não se implantar agrovilas tanto em Jacurici, quanto em
conhece exemplos de projetos de colonização Vaza Barris, sendo que no primeiro, os projetos
deste período que tenham tido êxito. Isto se deu tiveram maior protagonismo. Porém, os exemplos
tanto pela forma como o projeto foi concebido, de maior importância a serem citados, no que
desprezando aspectos sociais, antropológicos concerne ao desenvolvimento de projetos, estão
e territoriais, quanto pelo fato do Estado não ter vinculados a ação de capacitação, financiada pelo
investido no empreendimento de forma adequada. estado brasileiro em parceria com Israel.
Isto é, os elementos projetados pelo arquiteto
não foram implantados de forma a contemplar De meados da década de 1970 até o início da dé-
sua proposta em seu conteúdo. Assim, as formas cada de 1980 (pouco mesmo de 10 anos), alguns
espaciais elaboradas por Camargo foram implan- técnicos, vinculados a setores públicos (Banco
tadas e ainda podem ser visualizadas, porém, do Nordeste, CODEVASF, DNOCS, universidades,
suas funções atuais, nem de perto, contemplam dentre outros), foram designados a fazer uma
a proposta do arquiteto. Grande parte agrópolis formação específica em Planejamento Rural
projetadas neste período se transformou em sede Integrado. O I Curso de Planejamento Físico e
municipal, mas, com alto grau de carência econô- Arquitetura Rural3 ocorreu no Ceará, a partir de
mica, social e de infraestrutura. A prosperidade um convênio entre o Banco do Nordeste (BNB), o
advinda da produção agrícola não se concretizou Banco Central (BACEN), a Universidade Federal
e, a degradação ambiental desenfreada é uma do Ceará (UFC) e o Settlement Study Centre, de
triste consequência deste processo. Israel. Na verdade, tratava-se do estabelecimento
de transferência de tecnologia4 entre Israel e os
Apesar do fracasso do urbanismo rural em sua
países da América do Sul, visto a experiência do
aplicação nos projetos de colonização da Ama-
primeiro com irrigação nas estruturas de Kibutz5
zônia, suas ideias foram propagadas no âmbito
e de Moshav6.
estatal e, implantadas, em outros contextos, em
vários estados brasileiros.
3. O curso ocorreu entre 14 de abril a 15 de junho de 1975.
Esquema Físico-Rural
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
204
ideia, assim como ocorreu com os propostos por
Camargo para a Amazônia.
Esse tipo de modelo, chamado por alguns de raio Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que
de sol, ou, e, de roda de carroça tem na centrali- políticas agrárias de cunho social direcionadas ao
dade das relações sociais, a otimização dos per- desenvolvimento, baseado no povoamento, vem
cursos, a articulação e a praticidade na disponi- perdendo espaço; numa perspectiva antropológi-
bilização de serviços como fundamentais. Alguns ca, caminhando no sentido da construção de um
projetos de assentamento do governo federal pensamento descolonizado, crescem estudos que
adotaram este modelo físico espacial, porém, a articulam e valorizam os conhecimentos de co-
falta de disponibilização de infraestrutura, fre- munidades tradicionais, tais como, quilombolas,
quente na política de assentamentos rurais, acaba povos originários de diversas etnias, ribeirinhos,
por tirar a força e a potência de qualquer tipo de fundo de pasto, etc. Neste caso, a luta pela posse
EIXO TEMÁTICO 1 dos territórios11 acaba por prejudicar este pro-
cesso, porém, mesmo assim, os grupos sociais
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO estão se fortalecendo no meio acadêmico e entre
as próprias comunidades que, na última década
vem conseguindo se inserir nas universidades,
através das cotas, e, desenvolver pesquisas a
partir dos pressupostos de suas próprias culturas
e territórios. Desta forma, reflexões quanto a for-
mas de planejamento do espaço rural vem sendo
pensadas, fora do escopo do pensamento urbanís-
tico, adentrando outras fontes de conhecimento.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
208
ABSTRACT RESUMEN
This text uses the metaphors of foams (SLO- Este texto utiliza las metáforas de las espumas
TERDIJK, 2004) and clouds (PEREIRA, 2018-2019) (SLOTERDIJK, 2004) y de las nubes (PEREIRA,
to interpret the idea of urban
center from the 2018-2019) para interpretar la idea de centro ur-
drawings left by three artist-travelers about Rio bano a partir de los dibujos dejados por 3 artis-
de Janeiro: Franz Joseph Frühbeck (1817 -1818), tas-viajeros sobre Rio de Janeiro: Franz Joseph
Johann Moritz Rugendas (1822-1825) and Eduard Frühbeck (1817-1818), Johann Moritz Rugendas
Hildebrandt (1844). It seeks to build a reflection in (1822-1825) y Eduard Hildebrandt (1844). Se busca
urbanism through a transversal and interactive construir una reflexión sobre urbanismo a tra-
look at different practices of description of the vés de una perspectiva transversal e interactiva
city - texts, maps and drawings - to interpret the sobre las diversas prácticas de descripción de la
multiple relations, social and cultural dimensions ciudad - textos, mapas y dibujos- para interpre-
of the discipline. Presenting heterogeneous and tar las múltiples relaciones y dimensiones so-
multiform meanings and actions of a complex, ciales y culturales de la disciplina. Presentar los
vibrant and vital idea of the city, could it help us diversos significados y acciones, heterogéneas
to interpret how the idea of the urban center was y multiformes, de una idea compleja, vibrante y
formed? Would observing experiences and repre- vital de ciudad ¿podría ayudarnos a interpretar
sentations allow you to singularize, differentiate cómo se formó la idea de centro urbano? Obser-
and locate an idea that has divergent meanings? var experiencias y representaciones ¿permitiría
Which were the interactions, transpositions and singularizar, diferenciar y localizar una idea que
tensions in the cultural composition to adopt the tiene significados divergentes? ¿Cuáles fueron
word center as a singular place in the city of Rio de las interacciones, transposiciones y tensiones en
Janeiro? Away from economic, functionalist and la composición cultural para adoptar la palabra
structuralist views, this reflection goes through centro como un lugar singular en la ciudad de Río
several forces to define the idea of “centrality” in de Janeiro? Alejada de la visiones económicas,
Rio: from the cultural effervescence in the capital funcionalistas y estructuralistas, esta reflexión
of United Kingdom of Portugal, Brazil and Algar- recorre varias fuerzas que definieron la idea de
ve (1815) until the introduction of word center by “centralidad” no Rio: desde los momentos de efer-
Henrique de Beaurepaire Rohan (1843) to refer to vescencia cultural en la capital del Reino Unido de
the consolidated part of the city. Passing through Portugal, Brasil y Algarve (1815) hasta la introduc-
the demarcation of the Neutral Municipality (1834) ción del uso del vocablo centro por Henrique de
and its separation from the rest of the Province of Beaurepaire Rohan (1843) al referirse a la parte
Rio de Janeiro with the beginning of the Empire’s consolidada de la ciudad, pasando por la demar-
construction (1822). cación del Municipio Neutro (1834) y de su sepa-
ración de resto de la Provincia con el inicio de la
construcción del Imperio (1822).
urban center metropolis image
survivals Rio de Janeiro
centro urbano metrópolis imagen
sobrevivencias Rio de Janeiro
EIXO TEMÁTICO 1 Introdução: A imagem da espuma nos
centros sobreviventes
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Como se sabe, para iniciar os estudos da sobrevi- O Atlas Mnemosine pretende, com seu ma-
vência, Warburg criou a sua biblioteca, como um terial de imagens, ilustrar esse processo,
”laboratório das história das imagens” culturais. que se poderia designar como uma tentativa
A partir de variados paneis de imagens móveis e de introjeção na alma dos valores expressi-
textos, arranjava diálogos, relações e nexos entre vos pré-formados na representação da vida
elas, dando sentido ao seu planejado e jamais em movimento. (WARBURG, 1929)
Figura 1. Montagem cronológica dos centros na metrópole do Rio de Janeiro. Elaborada pela autora.
EIXO TEMÁTICO 1 A transversalidade dos centros
e os seus atores
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Diversos atores interagiram com os debates so-
bre a formação, configuração e reconfiguração
da ideia de centro, deixando, como espumas,
rastros plurais de suas visões da cidade do Rio de
Janeiro, transpassando as noções de cidade-se-
de, cidade-capital, município e centro na primeira
metade do século XIX.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
214
Figura 2. Cronologia dos atores na Cidade do Rio de Janeiro (1750-1850). Elaborada pela autora.
EIXO TEMÁTICO 1 A capital do Reino (1815-1822) de
Franz Joseph Frühbeck (1817-1818)
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O conturbado arranjo geopolítico europeu de
início do século XIX, seguido das ameaças de
Napoleão Bonaparte e das pressões do rei Grã
Bretanha, George III, obrigaram ao príncipe re-
gente João VI abandonar Portugal e trasladar-se
à capital do Vice-Reino do Brasil (1808). Como se
sabe, uma das primeiras medidas adotadas no Rio
de Janeiro foi a Abertura dos Portos às Nações
Amigas, garantindo o restabelecimento do livre
comercio e da navegação com o Brasil, através
de tributações alfandegárias e da promoção da
exportação agrícola local.
Figura 3. Montagem dos registros de Frühbeck (1817-1818) sobre as Cartas topográficas da capitania do Rio de Janeiro de
Manoel Vieira Leão (1767) e o Plano da cidade do Rio de Janeiro de José Correia Rangel de Bulhões (1796). Destacamos,
no superior, as imagens da área central e as periféricas, no inferior. Fontes: FRUHBECK, (1830) 2017; IMS, Brasiliana Ico-
nográfica, BN Digital e Wikimedia Commons 2020. Elaborada pela autora.
Destacamos, também, o discurso textual de enfatiza: o Largo do Paço, o Convento de São Ben-
Frühbeck, recentemente traduzido para o por- to, o Cais da Imperatriz e o Campo de Santana e
tuguês, o qual permite complementar os seus nos arredores da cidade são registrados o Palácio
principais percursos na cidade naquela época. e os Mosteiro de São Cristóvão5 e desde a Baía de
O artista utiliza ambos discursos - textual e ico-
nográfico - para ressaltar os principais locais 5. Segundo as notas do tradutor do livro de Frühbeck (2017),
visitados da cidade. Por exemplo, na área central o desenho do Mosteiro de São Cristóvão corresponde ao
EIXO TEMÁTICO 1 Guanabara as fortalezas de Santa Cruz, São João
e o Pão de Açúcar. Portanto, esse destaque nos
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO levaria a atribuir esses locais como o centro da
vida urbana da capital do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarve.
16º SHCU
8. Bemerkungen über Brasilien: mit gewissenhafter Be-
30 anos . Atualização Crítica
lehrung für auswanderne Deutsche, 1821. (FREITAG,
222 2013, p. 55)
O político ressaltava que um novo levante pro- um rei ou do imperador da Rússia; mesmo assim
vinciano - Pernambucano, Mineiro, Paulista, do lhe digo: o senhor é um cachorro! (LANGSDORFF,
Rio Grande do Sul ou de todas províncias - se não pasta I, p. 233 apud DIENER, 2012, p.13).
existir “um centro próximo de união política”, ex-
clamando o perigo da pátria e sugerindo: Entretanto, de março de 1822 e maio de 1824,
Rugendas já havia iniciado um registro frenético
Dê-se ao Brasil um centro próximo de união, de paisagens e dos hábitos sociais e a cidade
e atividade; desse-lhe uma parte do Corpo construída do Rio de Janeiro, a partir de peque-
Legislativo, e um ramo do Poder Executivo, nas expedições dentro da província, procurando
com poderes competentes, amplos, fortes, motivos pitorescos e confrontando experiências
e liberais, tão bem ordenados, que forman- com seu colegas, em especial com Jean Baptiste
do um só Corpo legislativo, e um só Poder Debret e a família Taunay. Diener e Costa relatam
Executivo, só umas Cortes, e só um Rei, a paixão do artista e o envolvimento direto na vida
possa Portugal, e o Brasil fazer sempre uma cotidiana da recente capital do Império do Brasil.
família irmã, um só Povo, uma só Nação, e
um só Império. E não oferecem os Governos Sem dúvida, o Rio de Janeiro encanta-o.
liberais da Europa exemplos semelhantes? A bela topografia que se oferece como
(BRASIL, 1822, p.4) paisagem entrecortada de montanhas e
mar, passa a ser motivo que o artista vai
A declaração da independência do Brasil e o de- traçando em diferentes perspectivas. Ru-
corrente processo de mudança político-adminis- gendas chegou à capital brasileira num dos
trativa, trariam problemas econômicos a Langs- momentos cruciais da vida política: pode
dorff, retardando o empreendimento cientifico. ser testemunha das transformações que a
Segundo Diener e Costa (2012), Ménétriès como cidade vivia, (...) foi um dos pedestres que
Rugendas estavam insatisfeitos e pressionavam a observaram o cortejo e a coroação de d.
seu chefe para melhorar as relações de trabalho, Pedro como primeiro imperador do Brasil.
e o segundo conseguiu modificar as condições Além disso, deixou-se fascinar pela mistu-
contratuais. Em uma das correspondências ao ra de cores e tipos que animavam as ruas
pai, ele afirmaria que os novos termos do contrato, cariocas, registrando, algumas vezes de
permitiam-lhe, a partir de 1824, colaborações mais forma romântica, as agruras de um porto
livres e enviar desenhos para Prússia, bem como negreiro. (DIENER, COSTA, 2012, p. 17)
fazer com os próprios recursos o replanejamento
do seu custo de vida (p.16-17). Neste estudo observamos mais de 140 imagens –
desenhos, aquarelas, gravuras e óleos – criadas
A experiência do pintor na expedição brasileira por Rugendas sobre o Rio de Janeiro e percebe-
esteve focada principalmente na região do Rio de mos que os deslocamentos do artista pela cida-
Janeiro e um trecho inicial no interior da província de e seus arredores é muito maior do que os de
de Minas Gerais. O grupo saiu do Rio no sentido Frühbeck. Na procura das diversas possibilidade
norte, em direção a Barbacena e a São João del de habitar que oferece o Rio, Rugendas amplia o
Rei, continuaram até Ouro Preto e, passaram por seu olhar para os arredores da cidade, misturan-
Sabará, alcançando o distrito de Diamantina. Foi do paisagens, costumes e atividades nos seus
na Barra de Jequitibá, no dia 1º de novembro de retratos do Rio de Janeiro. Só um terço das ima-
1824, que Rugendas desvincular-se-ia da expedi- gens que deixou são registros do que passamos a
ção a partir de discussão com o chefe da expe- chamar “centro da cidade”. Os outros dois terços
dição sobre pagamento e entregas de materiais registram o que passamos a chamar “subúrbios”
do amigo Ménétriès (DIENER, COSTA, 2012, p. 17). e o interior da província, de modo mais geral.
Rugendas interveio em favor do colega ao ser Ao retratar o Porto da Estrela, Rugendas reconhe-
reprendido por Langsdorff, reclamando da atitude ceria aí um local social, ainda que secundário, pe-
do naturalista, nada “experimental”, e dirigindo-se las múltiplas e heterogêneas condições de vidas.
a ele violentamente: “Onde o senhor está, não
existe convivência civilizada. Para mim pouco “É o lugar de reunião para os homens de to-
importa se o senhor é cavaleiro de uma Ordem de das as províncias do interior; aí se encontra
EIXO TEMÁTICO 1 gente de todas as condições sociais e po-
dem-se observar suas vestimentas originais
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO e sua atividade barulhenta. Aí se organizam
as caravanas que partem para o interior e
somente aí o europeu depara-se com os ver-
dadeiros costumes do Brasil (RUGENDAS,
1835, apud DIENER, COSTA, 2012, p.402)
Para ele, as vias públicas de comunicação e as Mas, o que dizer das duas extraordinárias
praças seriam os principais desafios da adminis- Platz in Rio de Janeiro e A Carioca - Rio de
tração, e foram previstas obras de nivelamento e Janeiro, com os chafarizes, respectivamen-
aterro da extensa praça da Aclamação, ou Campo te da Carioca e da Santa Rita, e o Mercado da
de Santana, e também, melhoria das estradas, que rua d’Ouvidor, de um realismo incrível, onde
atravessavam a freguesia de Guaratiba, “princi- sentimos palpitar a vida, o barulho, a desor-
palmente as que se comunicam do centro com as dem, a sujeira, onde quase que podemos
povoações de Guaratiba e Praia da Pedra.” (BEUA- sentir o mau cheiro; entretanto, o conjunto
REPAIRE-ROHAN, 1843, p. 26). é de uma extraordinária beleza romântica
pelas cenas movimentadas, pelo alegre
Em 1844, um outro artista-viajante, Eduard Hilde- colorido e, em especial, pela luz intensa
brandt (1818-1869) 9 chega ao Rio de Janeiro desta que bate de chofre sobre os monumentos,
vez incentivado pelo rei da Prússia, Frederico Gui- onde aparecem os mínimos detalhes que
lherme IV, e por Alexander Von Humboldt, proteto- as sombras realçam sobremodo. (FERREZ,
res das artes em Berlim. O artista foi discípulo do c.1989, p. 16)
Eugene Isabey e sua arte se destacava, segundo o
historiador Gilberto Ferrez (c.1989), pela introdução
de cores vibrantes nas aquarelas, capturando, por
uma lado, a “magia dos crepúsculos tropicais” e,
por outro, a decadência urbana a partir de pers-
pectiva difusas e contornos diluídos, devido aos
efeitos de luzes.
Considerações fInAis
[capítulos de livro]
_________________________. Município
(verbete). In: TOPALOV et al. A aventura das
palavras da cidade, através dos tempos, das
línguas e das sociedades. São Paulo: Romano
Guerra, 2014, p. 441-450.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
232
ABSTRACT RESUMEN
This article main aim is to critically appreciate El propósito de este artículo es apreciar crítica-
the ideas that Bernard Lepetit associated with a mente las ideas que Bernard Lepetit asoció con
hermeneutical analysis of the city. I will also try to un análisis hermenéutico de la ciudad, mientras
highlight the ideas of Paul Ricoeur and Reinhart que también trato de resaltar las ideas de Paul
Koselleck on the field of text theory and history Ricoeur y Reinhart Koselleck en el campo de la te-
theory, respectively, which nurtured the histo- oría del texto y la teoría de la historia, respectiva-
rian’s thoughts. I will argue that our understan- mente, que nutrió el pensamiento del historiador.
ding of the role of the cities’ material heritage in Argumentaré que nuestra comprensión del papel
urban life is deeply intertwined with the notions del patrimonio material de las ciudades en la vida
we have about space-time and the “regimé d’his- urbana está profundamente entrelazada con las
toricité” we have adopted to analyze it. More pre- nociones que tenemos sobre el espacio-tiempo y
cisely, I perceive a link between the temporal at- con el régimen de historicidad que hemos adop-
tributes that we give to things and our judgment tado para analizarlo. Más precisamente, percibo
about what they are capable of or cause us to do. un vínculo entre los atributos temporales que da-
mos a las cosas y nuestro juicio sobre lo que son
capaces de hacer o nos hacen hacer.
hermeneutic temporality present
materiality history
hermenéutica temporalidad presente
materialidad historia
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
No início da década de 90 do século passado, o
historiador Bernard Lepetit colocava para si e
SESSÃO temática para os demais interessados em história urbana,
a seguinte questão: é possível uma hermenêuti-
ca urbana? Dada a vasta produção do campo da
APONTAMENTOS TEÓRICOS história urbana, quase trinta anos depois, é bem
provável que essa questão já tenha encontrado
PARA UMA ANÁLISE algumas respostas. Neste artigo, tensiono cotejar
o pensamento de Lepetit com o do geógrafo Milton
HERMENÊUTICA DAS CIDADES Santos no que diz respeito ao tempo, bem como
dar relevo às ideias do campo da teoria do texto e
da teoria da história que nutriram as elucubrações
THEORETICAL NOTES FOR A HERMENEUTICAL
de Lepetit. A fim de tornar minha reflexão menos
ANALYSIS OF CITIES
abstrata, eventualmente, farei referências à Rua
da Mouraria, localizada no bairro de Nazaré, em
APUNTES TEÓRICOS PARA UN ANÁLISES
Salvador, Bahia, objeto de meu interesse e pes-
HERMENÉUTICO DE LAS CIUDADES
quisa. Podemos afirmar que a hermenêutica tex-
tual e a da cidade compartilham o interesse pela
recepção de uma obra por seus leitores. Assim,
para o historiador urbano dedicado a uma análise
hermenêutica da cidade, uma questão central é o
modo pelo qual os citadinos se apropriam de sua
herança material.
Os argumentos que pretendo mobilizar aqui explo- Uma diferença fulcral entre estas abordagens é
ram a correspondência estabelecida por Ricoeur que, enquanto no modelo estrutural a explicação
entre o discurso escrito e as ações humanas. Uma do sentido da narrativa prescinde do conheci-
vez que, de acordo com este filósofo, a ação huma- mento das motivações iniciais de seu autor ou de
na e o texto se assemelham em muitos aspectos. sua audiência; para a hermenêutica romântica,
compreender o sentido de um texto implicava
[a ação humana] é externalizada de um capturar as intenções semânticas de quem o pro-
modo comparável à fixação característica duziu. Ricoeur (1976, 1991), por sua vez, defendia
da escrita. Ao se separar de seu agente, a que a interpretação de um discurso deveria ser
ação adquire uma autonomia semelhante entendida como um processo dialético que en-
à autonomia semântica do texto; ela dei- volve tanto a explicação quanto a compreensão.
xa um rastro, uma marca, ela é inscrita no Como veremos, para ele, estes não são termos
curso das coisas e se torna um arquivo, um mutuamente exclusivos, mas sim etapas ou fases
documento. Como um texto, cujo sentido de um mesmo processo.
é dissociado das condições iniciais de sua
produção, a ação humana possui um peso De forma didática, Ricoeur descreve o processo
que não está restrito à importância da si- dialético em questão como sendo composto por
tuação inicial em que aparece, posto que dois momentos: um primeiro movimento que vai
permite a reinscrição de seu sentido em no- da compreensão à explicação e um segundo que
vos contextos. Finalmente, uma ação, como se desenvolve no sentido inverso. Segundo Rico-
um texto, é uma obra aberta, direcionada a eur (1976, 1991), a compreensão, em um primeiro
uma serie indefinida de possíveis ‘leitores’. momento, assume a forma de uma conjectura ou
Seus juízes não são seus contemporâneos, de uma “interpretação ingênua”. Isso se deve à
mas a história subsequente. [RICOEUR, 1991, “autonomia semântica” do texto, isto é, o discurso,
p. 137-138, tradução nossa] ao ser inscrito, adquire autonomia em relação às
intenções semânticas de seu autor. Por ter sido
Parece-me conveniente abordar algumas ideias dissociado de quem o produziu e, portanto, não
de Ricoeur, ao menos em seus aspectos gerais, estar direcionado a nenhum interlocutor especí-
para melhor entendermos tanto a analogia entre fico, o texto pode ser lido por “[...] quem quer que
texto e ação quanto a apropriação realizada por saiba ler.” (RICOEUR, 1976, p. 42). Assim, o sentido
Lepetit. Em um primeiro momento, exploraremos de um texto pode ser construído de diversas ma-
a hermenêutica associada ao texto, em seguida neiras por seus leitores.
a analogia com o espaço urbano. Tomarei como
ponto de partida a obra “Teoria da Interpretação”, Contudo, o filósofo também afirmava que nem
que é composta por quatro ensaios, nos quais todas as conjecturas seriam igualmente válidas,
são abordadas diversas questões referentes ao
discurso escrito, porém todas de algum modo
sário substituir o dualismo metodológico entre explicação
relacionadas ao que Ricoeur denominou de pro- e compreensão, fruto de um velho debate epistemológico
cesso dialético de explicação e compreensão6. A entre as ciências da natureza e as ciências humanas, por
esse processo dialético que considerava muito mais sútil.
6. Ricoeur (1991), face a determinadas aporias nos campos do 7. Não é meu propósito recuperar esse debate em toda sua
texto, da ação e da história, convenceu-se de que era neces- profundidade e inteireza.
EIXO TEMÁTICO 1 posto que à luz do que sabemos, algumas interpre-
tações do texto podem ser consideradas não mais
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO verdadeiras, mas mais prováveis do que outras
(RICOEUR, 1976). Ricoeur defendia que as con-
jecturas pudessem ser validadas de acordo com
os métodos próprios das ciências ideográficas.
Este momento de validação corresponderia à
explicação; seria o fim, portanto, da primeira fase
do processo dialético e, ao mesmo tempo, o início
da fase seguinte. Para Ricoeur (1976), no âmbito
da teoria do texto, a explicação semiológica do
sentido da narrativa possibilita uma outra forma
de compreensão, relacionada à função referencial
do discurso8.
LEPETIT, B. É possível uma hermenêutica urba- VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O nativo re-
na? In:______. Por uma nova história urbana. São lativo. Mana, Rio de Janeiro, Vol. 8, N. 1, p. 113-
Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2016 148, Abril 2002, Disponível em: <http://www.
[1993], p. 173-189 scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0104-93132002000100005&lng=en&nrm=iso>.
LEPETIT, B. O presente da História In:______. Por Acesso em 01 Set. 2020
uma nova história urbana. São Paulo, Editora da
Universidade de São Paulo, 2016 [1995], p. 191-225
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
250
ABSTRACT RESUMEN
The 1929 crisis was a catalyst for the restoration La crisis de 1929 fue catalizadora para la recom-
of bourgeois hegemony in Porto Alegre. A coali- posición de la hegemonía burguesa en Porto Ale-
tion supported the city’s modernization, with an gre. Se formó una coalición para la modernizaci-
emphasis on the categories of beautification and, ón de la ciudad, con énfasis en las categorías de
especially, circulation. In this paper, we examine embellecimiento y, especialmente, circulación.
the Rotary Club of Porto Alegre as a component En este trabajo, examinamos el Rotary Club de
of the “expanded state”. Similar to what had al- Porto Alegre como un componente del “estado
ready occurred in the largest cities of Brazil, the expandido”. Como había ocurrido en las ciudades
club amalgamated fractions of the elite who sou- más grandes del país, el club amalgamó fraccio-
ght consensus on the “urban problems” of their nes de la élite por el consenso sobre los “proble-
interest and then launched campaigns in favor of mas urbanos” de su interés y, luego, campañas a
a broader consent. Rotary Club paid attention to favor de un consentimiento más amplio. El Rotary
the “moral life” of the city, joining its efforts with prestó atención a la “vida moral”, uniendo esfuer-
those of the state to classify beneficiaries, and zos con los del poder público para clasificar a los
serve only those deemed deserving. An objective beneficiarios y servir solo a aquellos que se con-
of improving circulation was already evident in a sideraran merecedores. El objetivo de mejorar la
first campaign aimed at “true beggars”, followed circulación ya era evidente en una acción dirigida
by the treatment of pedestrian traffic in general, a los “verdaderos mendigos”, que fue seguida por
when the club’s “Urbanism Commission” was re- el tratamiento del tráfico de peatones en general,
named “Policing and Urban Traffic”. This time, the cuando la “Comisión de Urbanismo” del club pasó
alleged “pedestrian imprudence” would represent a llamarse de “Policía y Tráfico Urbano”. Esta vez,
a “threat”, motivating a response from the club in la supuesta “imprudencia peatonal” representa-
the form of a regulation proposal to rationalize ría una “amenaza”, motivando una respuesta en
practices in the public space. The club’s action forma de un proyecto de reglamento para racio-
thus contributed to a modernization psychosphe- nalizar las prácticas en el espacio público. La ac-
re that would support the physical interventions ción del club contribuyó así a una psicosfera de
of urban improvements and urbanism. Repre- la modernización, apoyando las intervenciones
sented in the club since its foundation, local ur- físicas de mejoramientos urbanos y urbanismo.
ban planners would soon come to assume tasks Representados en el club desde su creación, los
of classifying beneficiaries in their proposals for urbanistas locales llegarían a asumir tareas de
urban remodeling and extension, justifying them, clasificar a los beneficiarios en sus propuestas
too, by calling for contrasting images of the “pro- de remodelación y extensión urbana, justificán-
gressive” and the “bygone”. dolas también con imágenes contrastantes de
“progreso”. y “retraso”.
Poderia o poder público, sozinho, emitir tais “pa- A essência de uma localidade seria, assim, a sua
lavras de ordem” em prol de uma modernização operação como uma máquina de crescimento
que lhe interessasse? Ou precisaria do apoio de [growth machine]. É fácil constatar que os atribu-
outros agentes? E quais deles estariam prepara- tos de um indicador de “sucesso” do crescimento
dos para essa tarefa? Na próxima seção será apre- manifestaram-se em Porto Alegre previamente
sentada uma proposta teórico-metodológica de à crise de 1929: aumento da população urbana,
EIXO TEMÁTICO 1 expansão das manufaturas e da força de trabalho
operária, escala crescente do comércio ataca-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO dista e varejista, expansão de loteamentos re-
sidenciais, aumento da densidade populacional
e níveis crescentes de atividades financeiras. É
esta “síndrome inteira de eventos associados” que
o autor citado entende pelo termo geral “cresci-
mento” (ibid., p.310).
Para entender o papel que o Rotary Club viria a as- ninguém mais apto a informar sobre a con-
sumir no contexto estudado, é conveniente seguir dição de indigência dos moradores das di-
a definição que faz Edelman (1964, apud MOLOTCH, versas zonas da cidade do que a autoridade
1976) de uma “política ‘simbólica’, compreendendo policial, que, dadas as suas funções, vive
as ‘grandes questões’ da moralidade pública e das em contato constante com a população [...]
reformas simbólicas” (MOLOTCH, op. cit., p.313). A sociedade [SPAAN], somente auxiliará,
É essa “política simbólica” que se destaca nas pois, quem dela se quiser valer e a autorida-
manchetes e nos editoriais dos jornais, enquanto de policial somente concederá carteira de
as questões distributivas dos melhoramentos identidade e atestado de indigência a quem
urbanos, que mais interessariam ao nível local lhos pedir. Assim, nem constrangimento à
da política, ficam de fora do debate público. Tal liberdade de mendigar, nem imposições da
“política simbólica”, que já tinha visibilidade em A autoridade pública, nem reclusões forçadas
Federação, incluiria os temas dos quais o Rotary [...] (ROTARY..., 1929b, p.4).
Club iria se ocupar – e sua opinião seria difundida
Pode parecer que a menção à “liberdade de men-
pelo mesmo jornal.
digar” ainda fosse um reflexo da orientação posi-
tivista “liberal” quanto à atividade laboral. Mas isso
não quer dizer que a repressão não fosse exercida,
AS CAMPANHAS DO ROTARY CLUB NO PÓS-1929 tanto que a polícia passaria a mirar a chamada
“falsa mendicância”. Em reunião com a presença
do desembargador Florêncio de Abreu, chefe de
Cabe aqui examinar a aderência das campanhas
polícia do Estado (e concunhado de Vargas),
que o clube viria a desenvolver às ações do poder
público em Porto Alegre. Desde logo, dois temas ficou resolvido que o Rotary, por intermédio
passaram a ter desenvolvimentos paralelos: a de sua diretoria, combinasse a sua ação
“solução do problema da mendicância” e a re- com a da chefia de polícia [...] A propósito,
modelação do Campo da Redenção, de modo a o desembargador [...] disse que a polícia
torná-lo um parque urbano (ROTARY..., 1929a, p.4). não pode reprimir a mendicidade. A par-
Alberto Bins anunciaria o interesse do Rotary no tir do século XX, as legislações dos povos
parque, cuja implantação deveria seguir o proje- cultos deixaram de puni-la em si mesma,
to de Agache (PORTO ALEGRE, 1929). Como era para encará-la somente sob o aspecto de
obra “suntuária” e “não-reprodutiva”, não deveria sua nocividade, no que concerne às suas
consumir os escassos recursos públicos, que relações com o crime – nocividade que se
seriam mais adequadamente empregados em restringe aos que, aptos para o trabalho, são
outros melhoramentos urbanos. Neste sentido, refratários à lei do trabalho. A atribuição da
caberia ao Rotary realizar ações de captação de polícia, assim, neste particular, cinge-se
recursos para a implantação do parque. a reprimir os falsos mendigos [...] em cujo
meio germina, em sua maior parte, a vege-
Quanto ao “problema da mendicância”, esse tema tação daninha da criminalidade dos grandes
estaria, a princípio, fora da alçada do poder públi- centros urbanos [...] (AUXÍLIOS..., 1931, p.3).
co, cuja orientação, em sintonia com o “verdadeiro
programa social dos proletários” (COMTE, 1973, Passados dois anos do início da crise, a presença
p.92), centrava-se em seu “progresso moral”, por de mendigos teria crescido, especialmente no
meio da educação positiva, e no “progresso mate- centro da cidade. É de se imaginar que a mendi-
rial”, pelo trabalho regular. Entretanto, a atuação cância fosse então o principal “problema urbano”
da Sociedade Porto-Alegrense de Auxílio aos Ne- na área central de Porto Alegre, uma vez que a
cessitados (SPAAN), criada em 1929 por iniciativa moradia de pobres no centro já decrescera pela
do Rotary, viria a combinar-se à ação do Estado. longa repressão aos cortiços e pelo desalojamen-
Cabe lembrar que no mesmo ano o município ce- to provocado pela abertura de novas avenidas. Em
lebrou convênio com o governo estadual para a todo caso, permanecia vigente um pensamento
EIXO TEMÁTICO 1 que associava a pobreza à criminalidade. Assim,
nos termos do que foi discutido em reuniões do
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO Rotary, a tarefa classificatória da polícia viria a se
sofisticar, discriminando: (i) os “falsos mendigos” (a
serem reprimidos); (ii) os “pedintes ‘acidentais’” ou
os “sem trabalho”; e (iii) os “verdadeiros mendigos”.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
270
ABSTRACT RESUMEN
This article explores methodological issues that Este artículo explora cuestiones metodológicas
seek to advance in the reconstruction studies of que buscan avanzar en los estudios de recons-
space fragments in the city of Campinas-SP, in trucción de fragmentos espaciales en la ciudad
the second half of the 19th century. The resour- de Campinas-SP, en la segunda mitad del siglo
ce of spatial reconstruction is approached as a XIX. El recurso de reconstrucción espacial se
possibility to see urban historicity. In this sense, it aborda como una posibilidad para ver la histori-
starts from the analysis of the real estate herita- cidad urbana. En este sentido, partimos del análi-
ge of a member of the local aristocracy, Joaquim sis del patrimonio inmobiliario de un miembro de
Policarpo Aranha, the Baron of Itapura, unders- la aristocracia local, Joaquim Policarpo Aranha,
tood in the research as a modeling agent of the el barón de Itapura, entendido en la investigaci-
urban space. It uses the case study in order to ex- ón como un agente modelador del espacio urba-
plore how this agent presents himself as a farmer, no. Utiliza el estudio de caso para explorar cómo
private equity shareholder and entrepreneur and este agente se presenta a sí mismo como agricul-
how his performance in the real estate market is tor, accionista de capital privado y empresario y
presented spatially. Therefore, its urban proper- cómo se presenta espacialmente su desempeño
ties are surveyed, from the analysis and crossing en el mercado inmobiliario. Por lo tanto, sus pro-
of the following primary sources: analysis of In- piedades urbanas son encuestadas, con base
ventory records, Land Tax Release Books, local en el análisis y el cruce de las siguientes fuentes
Almanacs, License plates for the city of Campi- primarias: análisis de registros de inventario, li-
nas and historical cartographic. Spatialization bros de liberación de impuestos sobre la tierra,
was elaborated from the crossing of textual data almanaques locales, placas de matrícula para la
containing address information with a cartogra- ciudad de Campinas y cartográfica histórica. La
phic base. The spatialization of data allows the espacialización se elaboró a partir del cruce de
understanding of how a modeling agent and its datos textuales que contienen información de di-
conduct are reflected in the development of ur- rección con una base cartográfica. La espaciali-
ban space. zación de los datos permite comprender cómo un
agente de modelado y su conducta se reflejan en
el desarrollo del espacio urbano.
SPATIALIZATION URBAN BUILDINGS CAMPINAS-SP
BARON OF ITAPURA
ESPACIALIZACIÓN EDIFICIOS URBANOS CAMPINAS-SP
Barón de Itapura
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O presente trabalho explora questões metodológi-
cas, buscando reconstruir fragmentos do espaço
SESSÃO temática da cidade de Campinas-SP, na segunda metade
do século XIX. Entendemos essa reconstrução
espacial como uma possibilidade real de se en-
HISTORICIDADE IN LOCO : xergar a historicidade in loco através do recurso
da espacialização de dados.
UMA ANÁLISE DOS IMÓVEIS Corrêa (2019, p.51) aponta que a possibilidade de
URBANOS DO BARÃO DE se acompanhar o processo de ocupação de um
território, depende da informação contida nos
ITAPURA - UM AGENTE documentos analisados, que devem ser avaliados
quanto à potencialidade de serem espacializados,
MODELADOR DA CIDADE DE ou seja, a possibilidade de se extrair informações
de textos escritos, e situá-los geograficamente,
CAMPINAS (1875-1902) resultando em análises visuais e gráficas, per-
mitindo enxergar a historicidade do documento,
podendo ser interpretado além das palavras.
HISTORICITY IN LOCO: AN ANALYSIS OF URBAN
PROPERTIES IN BARÃO DE ITAPURA- A SHAPER OF Parte-se da identificação de um agente modela-
URBAN FORM IN THE CITY OF CAMPINAS (1875-1902) dor do espaço urbano da Campinas, SP: Joaquim
Policarpo Aranha, o Barão de Itapura. Membro da
HISTORICIDAD EN EL LOCO: UN ANÁLISIS DE LAS aristocracia local, representante da elite, possui-
PROPIEDADES URBANAS EN BARÍO DE ITAPURA- UN dor de título e patente nobiliárquica, construiu sua
AGENTE MODELADOR EN LA CIUDAD DE CAMPINAS fortuna a partir do acúmulo de capital proveniente
(1875-1902) das culturas açucareira e cafeeira, se apresen-
tando como fazendeiro, empresário e acionista
de capitais privados.
[...] quatro emplacamentos que a cidade Em função da crise de 1929, associada aos dé-
havia recebido [...], o ‘inicial’, o de 1893, o de ficits da produção do café, as oportunidades de
1922 e o de 1929. Presume-se que o empla- investimentos imobiliários na cidade de Campinas
camento de 1893 tenha sido realizado para crescem, acelerando o processo de urbaniza-
organizar a cobrança de taxas relativas aos ção. Nesse momento, a atividade imobiliária já
serviços da primeira rede de abastecimento está consolidada como alternativa mais rentável
de água e de canalização de esgoto que a se comparada à agrária, levando a contratação
cidade de Campinas recebeu, entre 1891 e do Engenheiro Francisco Prestes Maia para a
1892. (SALGADO, 2014 p.05) execução do Plano de Melhoramentos Urbanos
de Campinas.
Segundo as autoras, os quatro emplacamentos,
correspondem a momentos no qual, a organização
e controle dos prédios urbanos implantados em
Campinas são relevantes para a municipalidade. As propriedades urbanas de Joaquim
O Emplacamento inicial, trazido nos livros como
Policarpo Aranha: O Barão de Itapura
“Anterior”, dialoga com a numeração levantada em
outra fonte documental consultada: os Livros de
Lançamento de Impostos Prediais. Dessa forma, Ainda segundo Bianconi (2002, p.64) em 1874, o
ao que tudo indica, o primeiro emplacamento da Barão de Itapura, possuía oito imóveis, é um dos
cidade é realizado como um controle da tributa- maiores lavradores de Campinas, com um volume
ção e recolhimento de impostos pela Intendência de produção de café entre 25 e 30 mil arrobas.
Municipal. Através da análise de cinco fontes primárias ela-
boramos um quadro apresentando o montante de
O segundo emplacamento, realizado a partir de
imóveis do Barão de Itapura:
1893, é feito após a implantação dos primeiros
serviços de coleta de Esgoto e Abastecimento
domiciliar de água na cidade de Campinas, a cargo
da Companhia Campineira de Águas e Esgotos,
efetuado sob a direção do Engenheiro Francisco
Rua Alecrim 01 -- -- -- -- 09 44
(atual Rua Quatorze de
Dezembro) -- 02 02 02 -- 02 141
-- 49 49 49 61 95 624
-- 51 51 51 63 97 614
Rua Regente Feijó ou Rua
da Matriz Nova -- 53 53 53 65 99 612
(atual Rua Regente Feijó) -- 55 55 55 69 103 596
-- 57 57 57 67 101 602
-- 59 59 59 71 105 592
-- -- -- -- 16 16 1179
-- -- -- -- 18 18 1173
22 -- -- -- -- 38 1705
Rua General Carneiro
(atual Rua Luzitana) -- 26 26 -- -- 78 1427
-- -- -- 37 -- 69 1456
-- 84 84 -- -- 158 947
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
278
30 -- -- -- -- 32 1739
Rua Osório
(atual Rua General Osório) 32 -- -- -- -- 34 1747
-- 44 44 44 -- 46 1649
-- 46 46 46 46 48 1643
-- -- -- -- 48 50 1637
16º SHCU
11. CMU. Sessão Tribunal de Justiça de SP, Comarca de
30 anos . Atualização Crítica
Campinas. Inventário do Barão de Itapura de 1902 Ofício
280 04, Caixa 244 Processo 5899, p.15v.
QUADRO 03- INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES DOS PRÉDIOS URBANOS DO BARÃO DE ITAPURA EM CAMPINAS
(1875-1902)
LOGRADOURO NÚMERO TIPO DE CONFRONTANTES OBSERVAÇÃO EXTRAÍDO
IMÓVEL DE
Rua Alecrim 01 Casa -- -- Imposto
(atual Rua Qua- Predial de
torze de Dezem- 1875
bro)
02 -- A casa situada a rua do Alecrim e respecti- Inventário
vo terreno, sobre numero dois, avaliada por de 1889
Casa e oito contos de reis
Terreno de
esquina Antonio Carlos de Almeida Casa na rua Quatorze de Dezembro, 02, Inventário
Bicudo (lado de cima) e nos esquina com a rua Doutor Quirino, divisan- de 1902
fundos com a rua General do pelo lado de cima com Antonio Carlos
Carneiro de Almeida Bicudo e nos fundos com a rua
General Carneiro;
Rua do Caracol -- Terreno Imóveis da rua General Osório Um terreno sito a rua do caracol ate en- Inventário
(atual Rua Benja- contrar em parte com o terreno das casas de 1889
min Constant) anteriores avaliado por quatro contos de
reis
Manoel Jacinto de Faria (lado Terreno a rua Benjamin Constant, divisan- Inventário
de cima) Barão de Ibitinga do pelo lado de cima com Manoel Jacinto de 1902
(lado de baixo), Marcio Pes- de Faria, pelo lado de baixo com o Barão de
soa, Francisco Lapa, Artur Ibitinga e fundos com Marcio Pessoa, Fran-
de Rocha Brito, João G. e cisco Lapa, Artur de Rocha Brito, João G. e
Bernardo Francisco Ferreira Bernardo Francisco Ferreira
(fundos)
Rua do Comércio 47 Casa Antônio Alvaro de Souza A caza a mesma rua, numero 47 divizando Inventário
(atual Rua Doutor Camargo (lados e fundos) aos lados com a herança e com Antonio de 1902
Quirino) Alvaro de Souza Camargo e fundos com
o mesmo, a quantia de seis contos e qui-
nhentos mil reis
Orosimbo Maia (lado de cima), A caza da rua Doutor Quirino, numero 49 Inventário
Jacinto Carneiro (fundo) divizando pelo lado de cima com Orosimbo de 1902
Maia , por outro lado com a herança e fun-
dos com Jacinto Carneiro, vinte e quatro
contos de reis
Herança (pelos lados e fun- A caza e o terreno na mesma rua numero Inventário
dos) 63 divizando com prédios da herança pelos de 1902
lados e fundos a quantia de quatro contos e
Rua Feijó ou rua quinhentos mil reis com que sae.
da Matriz Nova
(atual Rua Regen- 53 Casa e -- Outra dita na mesma rua sob numero cin- Inventário
te Feijó) Terreno coenta e tres avaliada por dois contos de de 1889
reis
Herança (pelos lados e fun- A caza e o terreno na mesma rua numero Inventário
dos) 65, divizando pelos lados e fundos com de 1902
prédios da herança a quantia de quatro
contos e quinhentos mil reis, com que a
margem se sae.
Herança (pelos lados e fun- A caza e terreno a rua Regente Feijó nume- Inventário
dos) ro 69 divizando pelos lados e fundos com de 1902
predios da herança , a quantia de quatro
contos de reis.
Herança (pelos lados e fun- A caza e o terreno da mesma rua numero 67 Inventário
dos) divizando pelos lados e fundos com predios de 1902
da herança a quantia de quatro contos e
quinhentos mil reis.
Thomaz Pereira da Fonseca A caza e terreno a rua Regente Feijó , nu- Inventário
(lado de cima), Herança (lado mero 71, divizando pelo lado de cima com de 1902
de baixo e fundo) Thomaz Pereira da Fonseca, pelo lado de
baixo e fundos em predios de herança a
quantia de dois contos e quinhentos mil
reis
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
282
Rua do Góes 15 Casa de -- A casa situada na rua do goes esquina da Inventário
(atual Rua César esquina lusitana avaliada por dez contos de reis. de 1889
Bierrenbach)
Joaquim Moreira de Rocha A caza da rua do Goes numero 11, esquina Inventário
Bruto (lado) herança (fundos) da rua General Carneiro, divizando pelo de 1902
lado com Joaquim Moreira de Rocha Brito,
que em herança em fundos com prédios
de herança a quantia de desoito contos de
reis.
12 Palacete -- O Palacete dito a rua do Imperador, hoje Inventário
Rua do Impe- (casa) e rua Marechal Deodoro com o respectivo de 1889
rador Chácara terreno até o córrego, compreendendo de
(atual Rua Mare- todos os moveis e utencilios existentes
chal Deodoro) dentro daquele, com exclusão somente dos
especialmente avaliados, avaliado por cem
contos de reis.
Divisando com rua Dona Libâ- Da chácara verba abaixo da avenida Itapura Inventário
nia, Antônio Almeida Valente, com todas as benfeitorias existentes, divi- de 1902
Orosimbo Maia, Barão de zando com rua dona Libania que a herança
Ibitinga, Francisco de Paula de Antonio de Almeida Valente, Orosimbo
Camargo e a Companhia de Maia, Barão de Ibitinga, Francisco de Paula
Gás Camargo e a Companhia Gas, a quantia de
sessenta contos de reis e sae.
14 Casa (so- Herança (por um lado), Dou- Casa (sobrado) à rua Marechal Deodoro, Inventário
brado) tor Ricardo Daunt (outro lado) 14 – por um lado faz divisa com outra casa de 1902
viela do Sacramento (fundos) do mesmo e a outra divisa com a esposa
do Dr. Ricardo Daunt e faz fundos a viela do
sacramento
16 Casa -- -- Inventário
de 1889
Herança (lados e fundos) A caza a rua Marechal Deodoro numero 16, Inventário
divizando pelos lados e fundos com prédios de 1902
da herança, doze contos de reis, se sae
22 Casa -- -- Imposto
Predial de
Rua Luzitana 1875
(antiga Rua Gene-
ral Carneiro) 26 Casa -- -- Imposto
Predial de
1883
84 Casa -- -- Imposto
Predial de
1883
70 Casa e Herança (lado de baixo), Joa- A caza e terreno da rua General Carneiro Inventário
Terreno quim Moreira de Rocha Brito numero 70 divizando pelo lado de baixo de 1902
(lado de baixo), Constantino com prédios de herança e de Joaquim
Lopes Rodrigues (fundo) e Moreira de Rocha Brito, fundo das cazas de
Francisco de Paula (lado de herança de Constantino Lopes Rodrigues
cima) e pelo lado cima com Francisco de Paula,
doze contos de reis se sae.
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
46 Casa Maria do Carmo Pereira (lado Casa na rua General Osório, 46, divisando Inventário
de baixo) e herança (fundo) pelo lado de cima com Maria do Carmo de 1902
Pereira e pelo lado de baixo e fundo com
outro prédio parte dessa herança;
48 Casa e Herança (lado de cima e fun- Casa (com terreno) na rua General Osório, Inventário
terreno dos) e com Francisco Lapa 48, divisando pelo lado de cima e fundos de 1902
(lado de baixo) com prédio parte dessa herança e pelo lado
de baixo com Francisco Lapa;
110 Terreno José Cardozo (lado de cima), Terreno na rua General Osório,110 fazendo Inventário
A. Belluomini & Irmãos (fun- divisa (pelo lado de cima) com Jozé Cardo- de 1902
do) zo, pelo lado de baixo com A. Belluomini &
Irmãos e pelo fundo com outro prédio parte
dessa herança
Rua da Ponte 40 Casa e No largo Santa Cruz terreno sito entre as ruas de santa cruz, Inventário
(atual Rua Major terreno largo deste nome e dona libania, com- de 1889
Sólon) preendendo duas casas em ruina, sitas no
largo referido de santa cruz, salvas as pro-
priedades encravadas avaliadas por quatro
contos de reis que a margem sahe.
42 Casa e No largo Santa Cruz terreno sito entre as ruas de santa cruz, Inventário
terreno largo deste nome e dona libania, com- de 1889
preendendo duas casas em ruina, sitas no
largo referido de santa cruz, salvas as pro-
priedades encravadas avaliadas por quatro
contos de reis que a margem sahe.
Divisando com casas da rua Um terreno e cocheira sito a rua do Rosario Inventário
Regente Feijó (fundos) hoje Dr. Francisco Glicerio, nos fundos da de 1889
cazas da rua do Regente Feijó avaliado por
quatro contos e quinhentos mil reis
Rua Santa Cruz 19 Casa --- Uma casinha sita a rua da santa cruz avalia- Inventário
da por quinhentos mil reis de 1889
Terreno na Linha -- Terreno Divisando com a Companhia Terreno da Linha Mogiana com vinte al- Inventário
Mogiana Mogiana e Estrada dos Ama- queires mais ou menos, divisando com a de 1902
rais Companhia Mogiana e com a Estrada dos
Amarais;
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
284
Outra situação foi a do imóvel mencionado em
uma fonte com numeração e logradouro indicados
(situado a antiga Rua do Rosário, atual Av. Fran-
cisco Glicério, sob número 106, no ano de 1883),
e em outra fonte há indicação e descrição de um
imóvel nessa mesma rua, porém sem número.
12. CMU, Centro de Memória da Unicamp. Sessão Tribunal de 13. CMU, Centro de Memória da Unicamp. Sessão da Co-
Justiça de SP, Comarca de Campinas. Inventário Amigável lectoria da Cidade de Campinas. Lançamento de Imposto
de 1889 Ofício 02, Caixa 236 Processo 5623 p.09-09v. sobre Prédios, 1883-1884. p.44v-45.
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
16º SHCU
14. Artigo 49 do Código de Posturas de 1880. Disponível
30 anos . Atualização Crítica
em: arqcamp.campinas.sp.gov.br/index.php/p3 . Acesso
286 em 07 de abril de 2020.
efetiva em forma de lei estabelece um quadro Considerações Finais: ANÁLISE DO CONJUNTO
urbano15 que proíbe efetivamente a existência e de imóveis urbanos DO BARÃO DE ITAPURA
conservação de cocheiras e estrebarias: “As ruas
que funcionavam como limite eram: a rua da Es- A partir da espacialização do conjunto de imóveis
tação, rua Nova, rua Coronel Quirino, Santa Cruz, do Barão de Itapura constata-se que a maioria
Marechal Deodoro, Culto à Sciência e Andrade deles se inscreve dentro do quadro urbano deli-
Neves, alcançando praticamente todo o centro mitado em 1890, com exceção de seis imóveis. Um
urbano de então16.” A partir dessa descrição es- deles, localizado à rua Marechal Deodoro (antiga
pacializa-se todos os imóveis do Barão de Itapura, rua do Imperador) número 12 (atual número 1099),
bem como o quadro que proibia a construção de é a sede da Chácara Itapura. A maioria dos imó-
cocheiras e estrebarias, em 1890 (Figura 03): veis urbanos do Barão de Itapura se localiza no
quadrante nordeste da cidade, próximos da sua
Chácara, do Largo da Matriz Velha17, e do Largo de
Santa Cruz, sendo que os dois largos em questão
coincidem com as primeiras áreas urbanas ocu-
padas no município.
16. Salgado (1992, p.17) 17. atual Praça da Matriz de Nossa Senhora do Carmo.
EIXO TEMÁTICO 1 desenvolvendo começaram a figurar outros
pontos de referência, indo além do largo da Matriz
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO Velha, do bairro das Campinas Velhas, e de Santa
Cruz, despontando a região do Rosário e seu en-
torno (onde se edificou a Igreja de Nossa Senhora
da Conceição- Matriz Nova) (CORRÊA, 2019, p.
111-112).
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
288
REFERÊNCIAS agente modelador da cidade de Campinas,
SP (1869-1902). Dissertação (mestrado). PUC-
Campinas, 2019.
BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os se-
nhores da terra: família e sistema sucessório PETRONE, Maria Thereza Schorer. A Lavoura
entre os senhores de engenho do Oeste Paulis- Canavieira em São Paulo- Expansão e Declínio
ta, 1765-1855. Campinas: Centro de Memória da (1765-1851). São Paulo-SP: Difusão Européia do
Unicamp-CMU,1997. Livro, 1968.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
290
ABSTRACT RESUMEN
This study aims to reflect on how slavery became El objetivo de este trabajo es reflexionar como
structural to the way cities are planed in Brazil, el esclavismo se he transformado en estructural
as well as to delimit the practices and categories en las maneras de hacer el urbano en Brasil, bien
that configure the notion of “slavery city”. This como delimitar las prácticas y categorías que di-
discussion is based on the notion of the modern rigen la noción de “ciudad esclavista”. Esta discu-
slavery society, created by the historian Ira Ber- sión es fundamentada en la noción de sociedad
lin. Derived from the studies of ancient slavery, esclavista en la modernidad, formulada por el his-
this concept defines the exploitation of the slave toriador estadunidense Ira Berlin. Venida de los
labor regime as the center of economic produc- estudios de la esclavitud en la antigüedad, esta
tion and the model for all the social relations. noción es definida por la exploración del trabajo
Understanding space as a fixative element for esclavo como el centro de la producción econó-
relationships, more than a static element and a mica y modelo de todas las relaciones sociales.
simple social product, we can find on it the im- Si el espacio es comprendido como un elemento
printed and constantly reworked marks of the fijador de las relaciones, mucho más del que un
slavery experience. Therefore, the need to un- elemento paralizado y un simples productor so-
derstand the consequences of the construction cial, es en él que podemos encontrar las marcas
of landscapes based on the domination relations impresas y rehechas de la experiencia de la es-
established by the slavery regime is highlighted, clavitud. Por tanto, es importante comprender
since many of the social and material structures, cuales son las consecuencias de la construcción
built to support it, are surviving elements in our de paisajes que fueron establecidas en las rela-
present. Even though the term “slavery city” is ciones de dominación en la esclavitud, sabiendo
frequently used, it requires specific formulations que muchas de las estructuras sociales y mate-
so that it became possible to check how urban riales construidas para suportarla, son elemen-
centers were made in slavery societies. This way, tos que sobreviven en el tiempo presente. De esta
using a Brazilian example of urbanization, the city manera, utilizando el ejemplo brasileño de urba-
of Rio de Janeiro, the processes that lead to the nización, la ciudad de Rio de Janeiro, será obser-
consolidation of planning models typical of sla- vado los procesos de consolidación de los modos
very will be observed as an exercise of returning de hacer el urbano propios del esclavismo, retro-
to the past to resignify the present and the future cediendo al pasado para que se pueda resignifi-
of our cities. car el presente y el futuro de nuestras ciudades.
CIDADE ESCRAVISTA: UM
tirou compulsoriamente milhares de pessoas de
seu continente para serem transformadas em
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
302
As mudanças empreendidas no final do XVIII refor- de 1808 e 1815 o tráfico de gente escravizada teve
çam, em termos políticos e sociais um claro juízo um aumento significativo de desembarques nos
de valores sobre os habitantes da cidade e visavam portos do Rio de Janeiro. Esse aumento esteve
ordenar o espaço público. Ao mesmo tempo, a vida diretamente atrelado a nova função da cidade no
urbana era um contraponto ao pode senhorial do quadro de poderes do Império lusitano. Ainda,
espaço doméstico, como lugar político por exce- além da necessidade de mão de obra escravizada
lência, as ruas e praças apareciam com seus diver- pra levar a cabo as obras urbanas, a presença afri-
sos sujeitos como partes atuantes do corpo social. cana nas principais vias da cidade era sentida com
intensidade. Carregando objetos, mercadorias,
No ano de 1808, com o reordenamento das forças pessoas, objetos ou dejetos, a escravidão urbana
do hemisfério norte do mundo Atlântico, D. João no Rio de Janeiro era marcante e assombrosa.
decide transferir a capital do Império Português
para a cidade colonial do Rio de Janeiro. Fato Portanto, a escravidão no Rio de Janeiro repre-
inédito que fez com o Rio se tornasse a primei- sentou não somente o pilar no qual a economia ur-
ra cidade do Novo Mundo a sediar a capital de bana estava assentada, mas também um conjunto
um Império ultramarino (SANTOS, 2020, pp. 13). de relações e lugares sendo definidos. A intricada
Novamente, uma série de medidas são tomadas hierarquia social erigida no período relacionava-se
para que a cidade pudesse comportar simbóli- muito bem com a teatralização da vida na Corte
ca e estruturalmente seu novo título e pudesse (SANTOS, 2020, pp.18). Ao mesmo tempo, com a
cumprir sua função de irradiadora do poder e presença de milhares de africanos e africanas
do controle do Império. A chegada da Corte nos vindos de distintas partes, a ressignificação do
trópicos implicou em mudanças de enorme en- espaço citadino era inevitável. Os escravos e li-
vergadura na cidade do Rio, mudanças essas, bertos, africanos ou crioulos concretizaram no
baseadas na necessidade de “civilizar a cidade do espaço urbano suas histórias, tendo essa ma-
Rio de Janeiro, para que ela estivesse a altura de terialização grande influência tanto na vivência
sua importância” (SANTOS, 2020, pp. 14). cotidiana como na própria expansão da cidade,
de tal modo que no inicio do século XIX, o Rio de
Para tal, transformou-se radicalmente a forma Janeiro era uma capital colonial que tinha sua
como esse espaço era ocupado, uma cidade que sede episcopal em uma Igreja construída para e
antes era descrita como insalubre, imunda e mal por escravizados. Entende-se, por fim, que foi
ventilada tinha como objetivo transformar-se na justamente o incremento do tráfico transatlân-
Versalhes dos Trópicos, ou seja, o gigantesco tico que permitiu a viabilização do devir Corte da
processo de reforma urbana pelo qual a cidade primeira capital imperial do Novo Mundo e maior
passou para receber a Corte, tinha com fim trans- cidade escravista das Américas.
formar cidade a partir dos modelos civilizatórios
das capitais europeias. Desta feita, os primeiros
anos da instalação da Corte passaram com cons-
tantes obras e mudanças no perímetro urbano, e consideraçõs fInais: as possibilidades
isso implica um uso cada vez mais extensivo de da noção de cidade escravista
mão de obra escravizada. Se desde os tempos
dos vice-reis os escravos urbanos eram os res- Para pensar as possibilidades de categorização
ponsáveis pelas obras de infraestrutura e suas da noção de cidade escravista, tendo como base
manutenções, com a vinda da Corte e as imensas as relações apresentadas anteriormente entre
reformas empreendidas a partir de 1808, a ma- espaço urbano e escravismo, passaremos pela
nutenção do trabalho escravo foi fator decisivo elaboração de três questões principais: como
na viabilidade de tais mudanças14. Entre os anos definir uma cidade escravista, quais as sobrevi-
vências no presente da cidade escravista e qual
14. Assim como o imposto da Décima Urbana, criado em 1808, a importância da definição deste conceito. As-
para custear as obras da nova Corte e a administração da sim, espera-se que a noção possa contribuir e
cidade pela Intendência de Polícia, uma espécie de braço ganhar corpo analítico como um instrumento
direito de D. João durante o período colonial (SANTOS, para o estudo dos modos urbanizadores e das
2020, pp. 14). políticas de memória praticados no Brasil ao lon-
EIXO TEMÁTICO 1 go dos séculos, até a contemporaneidade. Os
elementos aqui apresentados constituem um
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO primeiro movimento no sentido da definição e da
compreensão da cidade escravista, que pode, ao
longo do tempo, incorporar novos significados e
elementos de análise.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
308
ABSTRACT RESUMEN
Between the end of the 19th century and the first Entre finales del siglo XIX y las primeras décadas
decades of the 20th century, the first urban plans del siglo XX, en Brasil, surgieron los primeros pla-
of a modern character emerged in Brazil. The in- nes urbanos de carácter moderno. La intención
tention of these first plans was to guarantee the de estos primeros planes era garantizar el flujo
flow of goods, particularly from port-exporting de mercancías, particularmente desde las ciuda-
cities. At that time, sanitary urbanism becomes des exportadoras de puertos. En ese momento, el
the practice of urban planning and knowledge, urbanismo sanitario se convierte en la práctica
not only in port cities but in many other national de la planificación y el conocimiento urbanos, no
urban realities. Under the idea of major sanita- solo en las ciudades portuarias sino en muchas
tion and urban improvement works in Brazil, this otras realidades urbanas nacionales. Bajo la idea
article aims to develop and clarify the argument de importantes obras de saneamiento y mejora
that sanitary urbanism was the main driver of urbana en Brasil, este artículo tiene como objeti-
change and planning in many Brazilian cities. In vo desarrollar y comprender el argumento de que
the construction of this analysis, the sanitary en- el urbanismo sanitario fue el principal impulsor
gineer Saturnino de Brito’s project for the city of del cambio y la planificación en muchas ciudades
Rosário/RS was taken as an analytical parameter. brasileñas. En la construcción de este trabajo, se
The primary source of this article is “Projects and tomó como parámetro analítico la idea del inge-
Reports”, published in 1943 by the Ministry of Edu- niero sanitario Saturnino de Brito y su proyecto
cation and Health, Complete Works of Saturnino para la ciudad de Rosário/RS. Este texto tiene
de Brito, volume XI. The study employed a des- como fuente principal el documento “Proyectos e
criptive–interpretative analysis of the document. informes”, publicado en 1943 por el Ministerio de
In the proposals of his improvement projects and Educación y Salud, Obras completas de Saturnino
works, Brito ended up developing a modus ope- de Brito, volumen XI, y es la esencia descriptiva
randi supported by engineering knowledge about e interpretativa de ese documento. En las pro-
urban science, which contextualized the city in a puestas de sus proyectos y trabajos de mejora,
holistic way. The different aspects that he consi- Brito terminó desarrollando un modus operandi
dered in his works, such as water resources, the respaldado por el conocimiento de ingeniería so-
expansion of cities, green areas, sanitation, poli- bre ciencias urbanas, que contextualizó la ciudad
tics and others, show that his projects were much de una manera holística. Los diferentes aspectos
more than works and improvements, they were que consideró en sus proyectos, como los recur-
propositions for city planning. sos hídricos, la expansión de ciudades, áreas ver-
des, saneamiento, política y otros, muestran que
su trabajo fue mucho más que obras y mejoras,
SANITARY URBANISM URBAN PLANNING pero Sí, en la planificación de la ciudad.
SATURNINO DE BRITO ROSÁRIO-RS
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO Todavia, há uma relação que precisa ser disser-
tada, que é a relação entre urbanismo e planeja-
mento urbano. Ultramari (2009) expõe que, a partir
da consolidação do processo de urbanização,
tonava-se imperiosa a busca de soluções para
problemas criados por um novo uso sobre um
espaço antigo. Num primeiro momento, a cidade
era vista como um objeto de interesse pontual e
marginal em relação às outras ciências. Depois,
a cidade se torna o lócus central das relações
econômicas, de fluxos, de interesses, riqueza e
pobreza. Assim, a ciência do urbanismo configu-
rou-se formalmente a partir de um problema: o de
um espaço com fatos e transformações sentidas
como negativas, até então desconhecidos, suce-
dendo-se a uma velocidade nunca vista.
Com intuito de se servirem das ideias do urba- Sobre essa configuração urbana de Rosário, o
nismo sanitarista de Brito para a orientação à engenheiro destaca que, embora houvesse um
formação de um novo projeto urbano para o esta- método na composição de seu traçado e na di-
do, nesse mesmo ano de 1919 Saturnino elaborou visão dos quarteirões em lotes, ele não foi sufi-
planos urbanos para quatro cidades, num único ciente para evitar os erros ou os inconvenientes,
período de trabalho, sendo elas: Santa Maria, Ca- que teriam sido eliminados ou minimizados caso
choeira, Passo Fundo, Cruz Alta e Rosário. houvessem sido “atendidos outros princípios que
a experiência e a reflexão estabeleceram para a
arte moderna de edificar cidades” (BRASIL, 1943,
p. 210).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LOPES, A. L. B. “Sanear, Prever e Embelezar”: o en- ULTRAMARI, C. Significados do urbanismo. Pós. Re-
genheiro Saturnino de Brito, o urbanismo sanitaris- vista Do Programa De Pós-Graduação Em Arquite-
ta e o novo projeto urbano do PRR para o Rio Grande tura E Urbanismo Da FAUUSP. São Paulo: FAUUSP,
do Sul (1908 – 1929). Tese (Doutorado), Faculdade de V. 16, n. 25, jun. 2009, pp. 166-184.
Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre,
2013.
Agradecimento:
QUINTO Jr., L. de P. A contribuição da cultura técni-
ca do planejamento urbano no Brasil numa pers- À Fundação Meridional – IMED.
pectiva comparada com a gênese da gestão urbana
na Europa. In: PEREIRA, E. M. (org.). Planejamento
urbano no Brasil: conceitos, diálogos e práticas.
Chapecó: Argos, 2013. pp 47-78.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
326
ABSTRACT RESUMEN
This work is part of a doctoral research whose Este trabajo es parte de una investigación doc-
study´s object is the urban thinking expressed toral cuyo objeto de estudio es el pensamiento
in ARQUITETURA, institutional magazine of the urbano expresado en ARQUITETURA, revista ins-
Institute of Architects of Brazil - IAB in the 1960s. titucional del Instituto de Arquitectos de Brasil
Edited between 1961 and 1968, the journal stood - IAB en la década de 1960. Editado entre 1961 y
out for its commitment to consolidation of the 1968, la revista destacó por su compromiso con
profession of architects in Brazil. This article Consolidación de la profesión de arquitectos en
aims to present and contextualize the content of Brasil. Este artículo tiene como objetivo presen-
the 78 editions of the magazine in the period. The tar y contextualizar el contenido de las 78 edicio-
methodology used consisted of prior cataloging nes de la revista en el período. La metodología
and classification of the content of the journals, utilizada consistió en la catalogación previa y la
from which we identified and presented their clasificación del contenido de las revistas, a par-
main authors, networks of dialogues and topics tir de las cuales identificamos y presentamos a
covered and thus form views of the material as sus principales autores, redes de diálogos y te-
a whole. The results indicate that ARQUITETURA mas cubiertos y, por lo tanto, formamos vistas
has become a vehicle for the dissemination of nu- del material en su conjunto. Los resultados indi-
merous important authors - Brazilian and foreign can que la ARQUITETURA se ha convertido en un
-, revealing an intense intellectual exchange be- vehículo para la difusión de numerosos autores,
tween the architects of the IAB and other scho- brasileños y extranjeros, que son importantes,
lars of urbanism. In addition, ARQUITETURA was revelando un intenso intercambio intelectual en-
also configured as a transdisciplinary publication tre los arquitectos del IAB y otros estudiosos del
interconnected with the political and cultural urbanismo. Además, ARQUITETURA también se
events of the period, representing a professional configuró como una publicación transdisciplina-
class committed to social justice and the social rio e interconectada con los eventos políticos y
function of architecture. culturales de la época, representando una clase
profesional comprometida con la justicia social y
la función social de la arquitectura.
INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL
ARCHITECTURE MAGAZINE 1960’S
INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL REVISTAS DE
ARQUITECTURA AÑOS 1960
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO ARQUITETURA foi o título escolhido para nomear
o periódico especializado em arquitetura e ur-
banismo editado pelo Instituto de Arquitetos do
SESSÃO temática Brasil - IAB nos anos 1960. O periódico em formato
de revista, era uma ampliação e uma extensão
dos Boletins Mensais publicados pelo IAB do Rio
REVISTA ARQUITETURA _ IAB de Janeiro desde 1958, e nasceu com a manifesta
Em nossa pesquisa procuramos responder a uma Maurício Nogueira Batista, considerado a “alma” da
série de perguntas, previamente formuladas: revista (KONDER NETTO, 2019), era o responsável
Quais eram os principais temas de urbanismo pelos editoriais, e também era ele, principalmente,
abordados nas revistas e porquê? Quais relações quem escolhia, coordenava e produzia o material
dos temas abordados com o contexto sociopolí- que seria publicado, assinando também diversos
tico do período? Quais eram as redes de saberes artigos e traduções. É ele quem assina, como re-
às quais estavam interligados? Quais seus in- dator-chefe, todos os números de ARQUITETURA
terlocutores? Qual a opinião desses arquitetos/ até o número 68.
autores / redatores em relação aos aconteci-
mentos políticos e econômicos em curso? Qual O Conselho de Redação era composto pelos ar-
o seu posicionamento crítico diante a realidade quitetos Maurício Roberto (presidente do IAB-GB
urbana vivenciada? Que papel que eles atribuíam a até 1965), Eduardo Reidy, Edgard Graeff (IAB-DF),
si mesmos, enquanto profissionais, diante dessa Ernani Vasconcellos (IAB-GB), Henrique Mindlin
realidade? Quais respostas propunham, no campo (IAB-GB), Ícaro de Castro (presidente do IAB Na-
do urbanismo, para os problemas sociopolíticos cional), Marcelo Roberto (IAB-GB, Marcos Konder
que identificavam? Neto (presidente do IAB-DG entre 1966 e 1967),
EIXO TEMÁTICO 1 Oscar Niemeyer (IAB-GB), Paulo Antunes Ribeiro
(presidente do IAB entre 1953 e 1956), Paulo Santos
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO (IAB-GB e Sylvio de Vasconcellos (IAB-MG). Esse
corpo permanece praticamente2 inalterado até
o número 68, de janeiro de 1968.
TEMAS E SEÇÕES
Redes internacionais
Figura 5: Gráfico de países envolvidos em textos publicados em ARQUITETURA. Fonte: ilustração da autora.
Brasil
CONSIDERAÇÕES FINAIS
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
344
ABSTRACT RESUMEN
The coronavirus pandemic that plagues us is La pandemia de coronavirus que nos azota está
throwing the world into an unprecedented heal- arrojando al mundo a una crisis sanitaria, econó-
th, economic and political crisis, while calling us mica y política sin precedentes, al tiempo que nos
to urgent reflection. It is time to think about the llama a una reflexión urgente. Es hora de pensar
production of urban space and its relationship en la producción del espacio urbano y su relación
with health and disease. Over the years these con la salud y la enfermedad. Con los años estos
two fields have moved away, in a long process dos campos se han ido alejando, en un largo pro-
that we cannot analyze here. However, we can- ceso que no podemos analizar aquí. Sin embargo,
not understand the current pandemic without no podemos comprender la pandemia actual sin
understanding the urban roots of its formation comprender las raíces urbanas de su formación
in China’s industrial province of Wuhan, but also en la provincia industrial china de Wuhan, pero
understanding the urban processes of its spread también comprender los procesos urbanos de su
throughout the world. That said, our aim with this propagación por todo el mundo. Dicho esto, nues-
text is to think about the historical foundations tro objetivo con este texto es reflexionar sobre los
of the relationship between health, disease and fundamentos históricos de la relación entre salud,
space. To think about how the concept of health enfermedad y espacio. Pensar cómo el concepto
and disease is directly linked to the modern urban de salud y enfermedad está directamente ligado a
form. We hope that these notes can be an impor- la forma urbana moderna. Esperamos que estas
tant constellation for us to think about a radical notas puedan ser una constelación importante
critique of capitalist urbanization, with public para que pensemos en una crítica radical de la ur-
health as an analysis tool. And, from now on, it is banización capitalista, con la salud pública como
imperative to note that if the city is a homeland, herramienta de análisis. Y, a partir de ahora, es
company and commodity, it is also a hospital. imperativo señalar que si la ciudad es patria, em-
presa y mercancía, también es un hospital.
SAÚDE, O URBANO E A
a saúde e a doença.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 2- Modelo de Dalhgren e Whitehead
Em tempos que as ficções de José Saramago,
George Orwell, Kafka, Margareth Atwood estão in-
EIXO TEMÁTICO 1 felizmente atuais, a frase do livro Cidades invisíveis
do Italo Calvino, traduz certa agenda de pesquisa
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO para a história urbana, “a cidade não revela o seu
passado, mas ele está ali, como as linhas da mão;
escrito nas esquinas das ruas, nas grades das
janelas, nos balaústres das escadas, nos mas-
tros das bandeiras, cada segmento, por sua vez
marcado com arranhões, entalhes , ornamentos”.
MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. Pio- SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. 6ª
neiros da geografia da saúde: séculos XVIII, XIX Ed. São Paulo: EDUSP, 2008.
e XX. In: Christovan Barcellos. (Org.). A Geogra-
fia e o Contexto dos Problemas de Saúde. Rio SCHULTZ, Kirsten. Versalhes tropical: Império,
de Janeiro RJ: ABRASCO, 20068. p. 17-33. 121 Monarquia e a Corte Real no Rio de Janeiro,
1808-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
MONKEN, Maurício; BARCELLOS, Christovam. 2008.
Vigilância em Saúde e Território Utilizado: pos-
sibilidades teóricas e metodológicas. Cadernos SCHWARCZ, Lilia.; STARLING, Heloísa. Brasil:
de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. uma biografia. 1. ed. São Paulo: Companhia das
EIXO TEMÁTICO 1 Letras, 2015.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
364
365
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Em meados do século XX, dispersão urbana,
ocupação do território e criação de novas cida-
SESSÃO temática des eram tópicos contemplados no modelo de
planejamento físico apregoado pelo ideário ci-
dade jardim. Tal ideário transbordou fronteiras
TRANSNACIONAL, político-geográficas mas, também, fundiu-se
em todo o globo com agendas de desenvolvi-
INTERNACIONAL: SOBRE mento especificamente nacionais. Interessado
neste fato, este trabalho delineia um estudo de
A CIRCULAÇÃO DE IDEIAS caso de difusão transnacional de ideias urba-
nísticas no qual esforços modernizadores lo-
E A HISTORIOGRAFIA DO cais conseguiram interpretar a identidade cul-
tural em formação e, ao mesmo tempo, ecoar
URBANISMO soluções globais, modernas. Com isso, o texto
pondera sobre a articulação entre a perspectiva
transnacional – o entendimento de processos
TRANSNATIONAL, INTERNATIONAL: ON THE
que transbordam fronteiras geográficas, polí-
CIRCULATION OF IDEAS AND THE TOWN PLANNING
ticas e culturais – e o papel local do urbanismo
HISTORIOGRAPHY
e do planejamento na construção de ‘imagens
identitárias’ e do ‘discurso de nação’. Analisan-
TRANSNACIONAL, INTERNACIONAL: SOBRE LA
do o Planejamento Físico em Israel, responsável
CIRCULACIÓN DE IDEAS Y LA HISTORIOGRAFÍA DEL
pela criação de trinta novas cidades no interior
URBANISMO
do país entre 1948 e 1963 e referenciado no Gre-
ater London Plan, de 1944, este trabalho trata
REGO, Renato Leão da disseminação das práticas de descentrali-
zação, hierarquização urbana, planejamento
Doutor; Universidade Estadual de Maringá - UEM
rlrego@uem.br
regional, conformação urbana e construção de
identidades, revelando a interação entre varia-
ções distintivas locais e similaridades globais
no processo transnacional de difusão do urba-
nismo e, com isso, reconhecendo um duplo foco
de interesse da historiografia.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
366
ABSTRACT RESUMEN
In mid-twentieth century, urban dispersion, ter- En mediados del sigo XX, dispersión urbana, ocu-
ritory occupation, and the creation of new towns pación del territorio y creación de nuevas ciuda-
were part of town planning model diffused by the des eran tópicos contemplados en el modelo de
garden city movement. These ideas transcended planificación física difundido por el ideario ciu-
politico-geographical borders but they were also dad jardín. Este ideario cruzó fronteras político
worldwide infilled with specific national develo- geográficas pero también se mezcló por todo el
pment demands. Interested in this aspect, this globo con ideas de desarrollo específicamente
paper focuses on a case study of transnational nacionales. Interesado en este hecho, este traba-
diffusion of planning ideas in which local moder- jo enfoca un estudio de caso de difusión transna-
nization efforts interpreted the cultural identity cional de ideas urbanísticas en el cual esfuerzos
under formation and, at the same time, echoed modernizadores locales interpretaron la identi-
global, modern solutions. Thus, the paper consi- dad cultural en formación y, a la vez, resonaran
ders the articulation between the transnational soluciones globales, modernas. Con eso, el texto
perspective – the understanding of processes pondera sobre la articulación entre la perspectiva
that overflow geographic, political and cultural transnacional – el entendimiento de procesos que
frontiers – and the role of town planning in the trasbordan límites geográficos, políticos y cultu-
nation-building and construction of identities. rales – y el rol del urbanismo en la construcción
By analyzing the Physical Plan in Israel, which de imágenes identitarias y en el discurso de la
was based on the Greater London Plan 1944 and nación. Al analizar el Plano Físico en Israel, basa-
created thirty new towns between 1948 and 1963, do en el Greater London Plan 1944 y responsable
this paper deals with the dissemination of notions por la creación de treinta nuevas ciudades entre
such as decentralization, urban hierarchy, regio- 1948 y 1963, este trabajo trata de la diseminación
nal planning, urban form and identities, revealing de prácticas de descentralización, jerarquizaci-
the interplay between local distinctive variations ón urbana, planificación regional, conformación
and global similarity in the transnational process urbana y construcción de identidades, revelando
of planning diffusion and, therefore, recognizing el juego entre las variaciones locales distintivas y
historiography’s double interest. las similitudes globales en el proceso transnacio-
nal de difusión del urbanismo y, con eso, recono-
ciendo el doble interés de la historiografía.
MODERNIZATION NEW TOWNS GARDEN CITY
COLONIZATION TRANSNATIONALISM
MODERNIZACIÓN CIUDADES NUEVAS CIUDAD JARDÍN
COLONIZACIÓN TRANSNACIONALISMO
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Nas últimas décadas, temos pensado globalmente
em termos de economia, política e sociedade.
‘Globalização’ é um conceito que diz respeito à in-
SESSÃO temática
tegração de sistemas (econômicos, políticos e so-
ciais) e à mobilidade de pessoas, ideias, produtos
Além disso, a ordem planejada, o verde e a ampli- A predisposição sionista para cidade jardim pas-
tude da cidade jardim contrastavam com a cidade sou a ser impulsionada pelo governo colonial bri-
compacta tradicional do oriente médio. Eram tânico e, durante o Mandato, quando a população
também uma antítese às precárias condições de judaica era predominantemente de origem eu-
vida e de moradia no gueto europeu e nas cidades ropeia e a imagem do futuro era ainda plasma-
otomanas. Privilegiando a casa isolada, diferente- da pelo mundo agrícola, não propriamente pelo
mente das versões inglesa e europeia, os traçados universo urbano, a ideia da cidade e do subúrbio
do tipo cidade jardim na Palestina simbolizavam jardim ganhou força (COHEN, 1970; BRUTZKUS,
um ‘novo começo’, diferente do tecido urbano 1975, p. 303).9
árabe, denso e irregular, e das casas em série dos
velhos bairros dos judeus ortodoxos (ZAIDMAN e Com a criação do Estado de Israel, a adoção se-
KARK, 2016, p. 58; KAUFFMANN, 1926; WILKOF, letiva do ideário cidade jardim e sua adaptação
2016). A casa isolada no lote (zamud – literalmente, formataram um resultado singular – um sistema
‘ligada à terra’) era vista como ‘a boa moradia’ e urbano cobrindo todo um país a partir das ideias
se tornou o tijolo da construção das cidades e da revolucionárias do movimento cidade jardim (SON-
nação de Israel (ALLWEIL, 2017). DER, 2014; KATZ e BIGON, 2014). O planejamento
físico do novo Estado, como vimos, envolvia so-
É interessante notar aqui que Kauffmann, o crí- berania territorial e a ocupação do interior do país
tico do plano de Sharon, convergia com ele no com novas cidades era também a oportunidade
ideário cidade jardim. Tendo visitado a Inglaterra para se estabelecer modernos assentamentos ur-
em 1922, ele se tornou membro da International banos judaicos (COHEN, 1970; EFRAT, 1994a; ARA-
Garden Cities Association e projetou subúrbios VOT e MILITANU, 2010; WAKEMAN, 2016, p. 109).
jardim como o de Talpiot, em Jerusalém (Figura
4) – um projeto em que a conformação natural 8. Cf. https://richardkauffmann.wordpress.com/biography/
do terreno determinou a conformação do bair- lotte-cohns-biography-of-richard-kauffmann/.
ro (KAUFFMANN, 1926). Kauffmann, trabalhan-
9. Entre 1905 e 1945, 127 projetos foram chamados de, ou se
do para varias agências sionistas, realizou 644
proclamaram, cidade jardim ou bairro jardim. Dentre eles,
projetos, dos quais 282 foram parcial ou total-
13 ainda existem como entidades municipais autônomas
mente executados e quase a metade deles (135) (Migdal, Afula, Tivon, Kiriat Bialik, Kiriat Motzkin, Kiriat
era de assentamentos rurais (NITZAN-SHIFTAN, Yam, Herzlia, Tel HaShomer, Ramat Gan, Givataim, Bat-Yam,
EPSTEIN-PLIOUCHTCH e ALON-MOZES, 2006, Holon, e Kiriat Yearim); outros foram incorporados às ci-
p. 51). Seu interesse no ideário garden city não dades próximas como bairros, por exemplo em Haifa, em
era recente, já que em 1921 enviara uma carta à Jerusalém e em Tiberias (Cf. ZAIDMAN e KARK, 2016, p. 56).
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
HISTORIOGRAFIA
E PENSAMENTO URBANÍSTICO
vídeo-pôsteres
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O presente artigo busca apresentar a dinâmica
do planejamento urbano brasileiro, consideran-
vídeo-pôster do sobretudo seus contextos histórico, político
e econômico sob a influência dos agentes na
produção da paisagem urbana, e, como esta
A FORMULAÇÃO DO dinâmica é reproduzida em cidades de peque-
no porte, para ilustrar este contexto iremos
PLANEJAMENTO URBANO analisar o município de Conceição das Alagoas,
em Minas Gerais. Ressalta-se a importância do
SOB INFLUÊNCIA DOS estudo de cidades que estão fora dos grandes
centros urbanos, no sentido de ampliar o debate
AGENTES NA PRODUÇÃO DA sobre a produção urbana e possibilitar compa-
rações, verificações e reproduções de fenôme-
PAISAGEM URBANA: O CASO nos e estratégias de gestão e desenvolvimento
GUIMARÃES, Camila
Mestre em Arquitetura e Urbanismo; LET-Uniube
camilafguimaraes@hotmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
386
ABSTRACT RESUMEN
This article seeks to present the dynamics of Bra- Este artículo busca presentar la dinámica del ur-
zilian urban planning, considering mainly its his- banismo brasileño, considerando principalmente
torical, political and economic contexts under the sus contextos históricos, políticos y económicos
influence of agents in the production of the urban bajo la influencia de agentes en la producción del
landscape, and, as this dynamic is reproduced in paisaje urbano y, como esta dinámica se reprodu-
small cities, and to illustrate this context we will ce en las pequeñas ciudades, e ilustrar este con-
analyze the municipality of Conceição das Ala- texto. analizaremos el municipio de Conceição
goas, in Minas Gerais. We emphasize the impor- das Alagoas, en MG. Destacamos la importancia
tance of studying cities that are outside the large de estudiar las ciudades que se encuentran fue-
urban centers, to broaden the debate on urban ra de los grandes núcleos urbanos, con el fin de
production and enable comparisons, checks and ampliar el debate sobre la producción urbana y
reproductions of phenomena and strategies for permitir comparaciones, controles y reproduc-
urban management and development. The analy- ciones de fenómenos y estrategias de gestión y
sis occurs from the understanding of how admi- desarrollo urbano. El análisis se da a partir de la
nistrative practices from the colonial period to comprensión de cómo las prácticas administrati-
the present day, directly influence the current ur- vas desde el período colonial hasta la actualidad
ban parameter, and, as the political-economic re- influyen directamente en el parámetro urbano
lations are determinant in the production of small actual, y, como las relaciones político-económi-
cities, precisely because they are subordinate cas son determinantes en la producción de las
the hierarchy of the urban network. The study pequeñas ciudades, precisamente porque están
advances insofar as it proposes some questions subordinadas. la jerarquía de la red urbana. El
regarding urban planning practices consolidated estudio avanza en la medida en que plantea al-
throughout history. Thus, we propose a more sen- gunas cuestiones sobre prácticas urbanísticas
sitive look at the complex network of scales that consolidadas a lo largo de la historia. Así, propo-
make up the networks of Brazilian cities. nemos una mirada más sensible a la compleja red
de escalas que conforman las redes de ciudades
brasileñas.
URBAN PLANNING AGENTS POLICY
URBAN NETWORK
PLANIFICACIÓN URBANA AGENTES POLÍTICA
RED URBANA
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Nas últimas décadas, as discussões sobre pla-
nejamento urbano e políticas públicas no Brasil
alcançaram maior espaço e consequente rele-
vídeo-pôster
vância, a princípio por meio do capítulo da Polí-
tica Urbana da Constituição Brasileira de 1988 e
Figura 4: Tabela comparativa de índices do IBGE entre o município de Conceição das Alagoas e os demais. Fonte: IBGE
(2017), [s.p] acessado em: 17 set. 2020 (Adaptado)
Mesmo diante de um município que possui diver- Em contraponto com o exposto anteriormente,
sas empresas de grande porte, como o caso da os agentes públicos se aproximam de setores
maior usina de cana do estado de Minas Gerais, privados de grande poder econômico, que por sua
percebe-se também pela tabela, como a popu- vez, “possuem uma grande influência na gestão
lação ainda sofre com questões econômicas e municipal, direcionando investimentos e subordi-
sociais, devido a desigual distribuição de renda nando os territórios aos seus interesses particu-
existente e a carência de infraestruturas básicas lares”. (COSTA, ROCHA, 2013, p.52). Estes aspectos
realmente adequadas. influenciam negativamente no desenvolvimento
urbano e distanciam ainda mais a possibilidade
Tentando mitigar essa situação, a prefeitura mu- de a cidade alcançar um planejamento urbano
nicipal usa de algumas ferramentas para tentar que possibilite uma cidade com iguais oportu-
atender as necessidades da população ao passo nidades para todos. Ou seja, o aprofundamento
que também garante parte dos recursos neces- de pesquisas e estudos em cidades pequenas
sários para a cidade. Um exemplo disso, foi a re- torna-se essencial para fortalecer debates e dis-
alização do Programa A Casa é Sua, em 2014 pela cussões acerca da realidade e da dinâmica destes
prefeitura em parceria com a Caixa Econômica territórios, que podem ser ressignificadas para
Federal, de modo que a população que se encontra possibilitar um desenvolvimento efetivo dessas
em estado de moradia irregular, pudesse perante cidades. Apesar de todos os obstáculos impostos
o pagamento de taxas e encargos regularizar a intencionalmente ou não por agentes externos
posse de propriedades ou imóveis irregulares, frente ao desenvolvimento de uma cidade como
dentro das exigências do programa. Ação que Conceição das Alagoas, essas discussões tem
gerou uma movimentação forte e acelerada na como objetivo justamente incentivar um pen-
economia do município, sendo que antes de re- samento crítico em relação a paisagem urbana
gularizar estes imóveis, a prefeitura se isenta longe dos grandes centros. Além de possibilitar
de quaisquer investimentos ou responsabilida- uma mudança de foco no olhar sobre como o pla-
des sob áreas irregulares, apenas penalizando nejamento urbano acontece, por quê acontece
os moradores caso essa irregularidade atinja e como pode ser alterado em prol da cidadania,
áreas ambientais. de direitos reais e sobretudo em relação a par-
EIXO TEMÁTICO 1 ticipação efetiva da população nas tomadas de
decisões em relação a forma como a paisagem
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO se desenvolve. Ou seja, a medida em que houver
a participação social efetiva na produção urbana
será possível avançar sobre os problemas e en-
traves relacionados ao desenvolvimento regional,
construindo assim territórios democráticos.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
400
401
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
A invisibilidade da mulher arquiteta na história
da arquitetura e urbanismo não faz justiça à
vídeo-pôster grande produção de obras realizadas por mu-
lheres e que sua autoria não é reconhecida.
Seus trabalhos, obras e produções devem ser
A HISTORIOGRAFIA DE apresentados e reconhecidos, bem como a nar-
rativa de suas autoras, a fim de que as atuais
GÊNERO NA ARQUITETURA gerações de homens e mulheres possam ter um
vislumbre de suas realizações e contribuições.
Neste trabalho é feito um paralelo das três on-
GENDER HISTORIOGRAPHY IN ARCHITECTURE das feministas, durante mais de um século, as
reivindicações e demandas de cada onda com
LA HISTORIOGRAFÍA DEL GÉNERO EN LA os mesmos períodos da historiografia da mulher
ARQUITECTURA arquiteta e suas conquistas e influências. O re-
sultado mostra que o ocultamento da produção
feminina atrasa a implementação de soluções
EGHRARI, Susan
para a qualidade do espaço urbano.
Doutora em Planejamento Urbano -Universidade de
Brasília; professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo-
Universidade de Uberaba
HISTORIOGRAFIA FEMINISMO ARQUITETAS
susaneghrari@gmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
402
ABSTRACT RESUMEN
Essa seção pretende relacionar as demandas Na continuidade desse primeiro período, quando
e acontecimentos em cada período ou onda do as mulheres passavam pela opressão do trabalho
movimento feminista com a historiografia na ar- doméstico, e almejavam direitos jurídicos, a pai-
quitetura, design, urbanismo e paisagismo apon- sagista Gertrude Jekyll (1843-1932) rompeu com
tando mulheres dessas áreas profissionais, no os rigores do paisagismo formal da Era Vitoriana,
mesmo período, que projetaram, construíram “e abdicou por completo da topiaria, optando por
e influenciaram outras gerações de homens e valorizar as texturas e cromatismos das herbá-
mulheres. Por se tratar de um trabalho resumido, ceas cultivadas com forma livre”(BARRA, 2019).
vamos destacar a trajetória de mulheres, teorias e Foi influenciada pelo paisagista William Robinson,
desdobramentos nas três periodizações a seguir: editor de revista de paisagismo inglês The Garden.
Ao conhecer Robinson em 1875, percebeu que o
A primeira periodização –quanto às demandas paisagismo seria seu futuro (BARRA,2019). In-
do movimento feminista de acesso à instrução e fluenciada também pelo movimento Arts & Crafts,
profissão liberal – a partir do final do século XIX, além de projetar mais de 400 jardins, sendo 100
testemunhou a entrada de mulheres pioneiras ao deles em parceria com o arquiteto Edwin Lutyens,
exercer sua profissão em projetos e construções, foi designer de muitos artefatos para a casa e
quando as universidades abriram acesso para jardim (THE OFFICIAL WEBSITE). Seus jardins
que as mulheres pudessem fazer testes para seu estão no Reino Unido, Europa e Estados Unidos,
ingresso. Estas primeiras universidades, no Reino influenciou vários paisagistas entre elas Edna
Unido, Estados Unidos e na Europa não concediam Walling, e é considerada como uma das precur-
o diploma de graduação para as mulheres e sim soras do paisagismo moderno.
um certificado de proficiência. Na Finlândia , um
grande repertório de mulheres arquitetas obtive- A primeira arquiteta na Áustria, Grete (Margarete)
ram sua “qualificação” pelo Instituto Politécnico Lihotzky Schütte (1897-2000), exerceu sua profis-
de Helsinki e Helsinki Industrial School (NOVAS, são como arquiteta e urbanista continuamente,
2014).Nestes primeiros grupos, a arquiteta Wivi até sua velhice, demonstrando um marcado com-
Lönn (1872-1966) se forma em 1896, pelo Institu- promisso social, por exemplo, ao colaborar com
to Politécnico de Helsinki e se torna a primeira Ernst May no desenvolvimento do Plano Geral da
arquiteta independente na Finlândia. Participou Cidade de Frankfurt (NOVAS, 2014), um programa
de competições de arquitetura e projetou vários ambicioso conhecido como New Frankfurt. Esta
prédios públicos, escolas (em número de 30), ins- iniciativa abrangeu a construção de moradias
EIXO TEMÁTICO 1 públicas populares e amenidades modernas em
toda a cidade. No centro dessa transformação
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO estavam cerca de 10.000 cozinhas projetadas por
Grete Schütte – como ficou conhecida a “cozinha
de Frankfurt” na década de 1920 – e construídas
como um elemento integrante das novas unidades
habitacionais (MOMA, 2010). Em Moscou teve di-
versas experiências em projetar “as novas cidades
socialistas” Sostgorods na União Soviética ao se
juntar a “Brigada” Ernst May, trabalhando em um
período junto à arquiteta Lotte Beese (1903-1988),
que frequentou a Escola Bauhaus em Dessau,
na Alemanha. Foi uma fase de pôr em prática as
ideias socialistas sobre a importância do trabalho
feminino fora de casa (MOMOWO, 2018).
Conclusões
Websites:
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
414
ABSTRACT RESUMEN
During the Civil-Military Dictatorship, the notion of Durante la Dictadura Civil-Militar, la noción de
Planning reached enormous relevance. The 1970s Planificación alcanzó una grande relevancia. Los
are an example of the effectiveness of this Fede- años 1970 son un ejemplo de la efectividad de
ral Government control mechanism over States este que resultó ser un mecanismo de control del
and Municipalities. This article intends to analyze Gobierno Federal sobre los Estados y Municipios.
this phenomenon from the point of view of urban Este artículo pretende analizar este fenómeno
development, intrinsic to the creation, in 1974, of desde el punto de vista del desarrollo urbano, in-
CNPU - National Commission of Metropolitan Re- trínseco a la creación, en 1974, de la CNPU - Comi-
gions and Urban Policy and its relation with the sión Nacional de Regiones Metropolitanas y Polí-
merger of Rio de Janeiro State with Guanabara. tica Urbana y su relación con la fusión del Estado
de Río de Janeiro con Guanabara.
17. BRASIL. CNPU/IPLAN - 015/75, 06 de janeiro de 1975, p. 2. 19. BRASIL. CNPU/IPLAN - 057/75, 07 de fevereiro de 1975.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
430
ABSTRACT RESUMEN
The architect Mallet-Stevens still is not well-stu- El arquitecto Mallet-Stevens es poco estudiado
died in Brazil, and the UAM, founded in France, en Brasil, y la sociedad UAM, fundada en Francia,
concomitantly to the CIAM is even less known to junto con el CIAM nos es menos conocida. Esta
Brazilians. Nevertheless, this association, crea- asociación, fundada para promover el trabajo de
ted to disseminate the work of architects, deco- arquitectos, decoradores y otros profesionales
rators and other professionals linked to the crea- relacionados con el desarrollo de muebles, ob-
tion of furniture, objects, fabric, light fixture etc, jetos, telas, luminarias, etc., desempeñó papel
had an important role in spreading a modernist importante en la difusión de una forma de vida
way of living. One can say that the most impor- moderna. Se puede decir que participaron en él
tant figures of the modern movement of France los nombres más importantes de la modernidad
participated in this association. Le Corbusier and en Francia. Le Corbusier y Mallet-Stevens, dos ar-
Mallet-Stevens, two renowned French architects quitectos franceses de renombre que fueron los
forerunners of the modern movement in archi- precursores de la arquitectura moderna, también
tecture, were also the main idealizers of the CIAM fueron los principales creadores de CIAM y UAM,
and UAM, respectively. The paper addresses the respectivamente. El artículo discute la rivalidad
competition between these two great architects entre estos dos grandes arquitectos en el mo-
in the moment of constitution of the two associa- mento de la fundación de las dos asociaciones
tions which, in a certain way, complemented each que de alguna manera se complementan en el es-
other in the field of disseminating the modernity cenario de la propagación de la modernidad. Para
movement. To better understand the subject of una mejor comprensión del tema abordado, el
this paper, - the inane conflict between the two desgaste entre los dos arquitectos con respecto
architect regarding the creation of both organi- a la fundación de las entidades es pertinente una
zations -, it is worth explaining the role of UAM in explicación del papel de la UAM en la promoción
promoting modernity movement. Although being de la modernidad. A pesar de ser una sociedad
an organization of national character, the reper- de carácter nacional, la repercusión de las obras
cussion of the works publicized by the UAM had publicadas por la UAM tuvo importancia interna-
an international effect, given that Paris was the cional, dado que París era la capital cultural del
world cultural capital. The UAM was founded in mundo. La UAM fue fundada en 1929, en París,
1929, in Paris, by a group of professionals that por un grupo de profesionales que también par-
also participated in the creation of the CIAM, in ticiparon en la fundación de CIAM, un año antes,
1928, in Switzerland. The participation of these en 1928, en Suiza. El compromiso de estos arqui-
modernist architects in these two organizations tectos modernos en ambas entidades demuestra
reveals the need for an urgent mobilization before la urgente necesidad de movilización frente a los
the conservatives. conservadores.
vídeo-pôster
A União dos Artistas Modernos foi criada a partir
do conflito instaurado entre artistas, arquite-
16º SHCU
13. “Quando se é demasiado curioso de coisas praticadas
30 anos . Atualização Crítica
nos séculos passados, é comum ficar-se ignorante das que
436 se praticam no presente.” (René Descartes)
UAM. A vida moderna impunha novos princípios No seio da diversidade de posturas sobre o moder-
estéticos adaptáveis à produção industrial para no é possível identificarmos atritos marcantes. O
atender às demandas do homem moderno. Nesse caso Le Corbusier / Mallet-Stevens parece emble-
sentido, a beleza residiria na pureza de formas. mático. Acima de divergências teóricas o peso da
Arrematando o discurso salienta: “entre o passado vaidade de Le Corbusier influiu em descaminhos.
e o futuro, nós nos esforçamos para perseguir um
programa adaptado às condições do tempo em Em 1937, Mallet-Stevens, desde sempre protago-
que vivemos. Nós amamos o equilíbrio, a lógica nista da UAM, redige como presidente da asso-
e a pureza.” ciação o texto introdutório do número especial
da revista L’Architecture d’aujourd’hui dedicada
Ainda que o discurso fosse uníssono e claro, exclusivamente à UAM. Desse texto vale retirar
imperava, de fato, uma polifonia. As tendências trechos específicos que demonstram como a
diversificadas e individualidades dos membros sociedade desempenhava seu intento, sob a dire-
eram significativas. ção de um personagem que primava pelo convívio
harmônico: ser a expressão de seu próprio tempo
No rever a fundação da UAM, percebemos com com rigor e de forma construtiva.
clareza a heterogeneidade moderna, atores múl-
tiplos de visões por vezes conflitantes. De um Lorsqu’il a peu d’années fut crée L’Union
lado, a pregação por uma arte de massas coe- des Artistes Modernes, quelque mauvai-
xistindo paradoxalmente ao fazer exclusivo para se humeur se manisfesta dans les public,
uma clientela elitizada. A contradição estava en- dans le public s’intéressant aux questions
d’art et parmi certains milieux d’artistes.
tranhada nas próprias sociedades de defesa da
(...) dès sa création, l’UAM connut une haine
modernidade.
farouche: revue, conférences s’éleverent
Era, de fato, uma modernidade multifacetada. Por contre l’art moderne avec une véhémence
um lado, encontravam-se artistas engajados po- étonnante. Car le crime consistait à vouloir
liticamente, que de forma mais radical defendiam être de son époque! Son but est de créer et
uma arte social que alcançaria uma produção em non de critiquer. Construire et non flétrir.
massa para responder às necessidades que se (...) L’UAM enfin, “marchant” toujours tout
impunham no momento de crise do entre-guerras droit, remporta une enorme victoire. (...)
(Francis Jourdain, René Herbst, André Lurçat, Per- Peut-on nié l’influence d’un Le Corbusier en
architecture, d’un Cassandre en affiches,
riand). Por outro lado, encontravam-se artistas e
d’un Legrain en relieures, d’un Chareau en
arquitetos que evocavam uma arte de seu tempo,
ameublement, d’un Barillet en vitraux,d’une
não necessariamente entusiastas da concepção
Hélène Henry en tissus d’un Francis Jour-
de produção em série, da noção de modelo ou da
dain en décoration, d’un Puiforcat en orfè-
de tipo. Estariam assim trabalhando em obras
vrerie? Et l’UAM est composé de soixante
concebidas para um indivíduo único com uma
membres, tous animés d’un même ideal.
estética de formas puras, despojadas, utilizando
Tout créateurs, chercheurs unis, une équipe
novos materiais e técnicas para satisfazer de-
de jeunes, sinon par l’âge, du mois par la
mandas próprias de um viver moderno. (Étienne
pensée. (MALLET-STEVENS, 1937,P.7)
Cournault, Jean Fouquet, Raymond Templier, Jean
Puiforcat, Hélène Henry, Sandoz, Chareau e o
próprio Mallet-Stevens).
Como explicita Mallet-Stevens, todos unidos por
O que se depreende da constelação diversificada um mesmo ideal. Também é relevante o cuidado
de artistas ligados pela UAM é que uma só moder- com o qual citou cada expoente individual entre
nidade não dá conta de explicar a complexidade os membros da UAM, apresentado o espectro
do contexto no qual viviam. Era preciso, antes diversificado de modernidades ali contidas. Em
de mais nada, lutar contra a visão tradicional e primeiro lugar cita Le Corbusier, em reverência
passadista. Não havia homogeneidade por que, de especial. No entanto, como veremos a seguir,
fato, ela seria irreal. Havia, sim, melhor dizendo, não há reciprocidade neste quesito de respeito
uma multiplicidade de tendências. ao colega.
EIXO TEMÁTICO 1 LE CORBUSIER, RIVALIDADE EXPLÍCITA
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O mais importante personagem promotor da
vanguarda internacional, Le Corbusier, defendia
ativamente um ideal de vida coletiva com estan-
dartização do mobiliário, de concepção de equipa-
mentos mínimos, de modelos de soluções para um
homem tipo. Como enfatiza Tajan14, o radicalismo
de suas concepções e o tom moralizador, por ve-
zes profético, de seus escritos não se enquadrava
com facilidade no seio da corrente racionalista
dos membros da UAM, ainda que fosse desde o
princípio um dos membros fundadores. Le Cor-
busier colecionou atritos com vários arquitetos
modernos, e entre eles, Mallet-Stevens.
24. Sobre Villa Noailles vide: (1) BRIOLLE. FUZIBET.MON- 25. Documentos do arquivo: Fondation Le Corbusier/ Cor-
NIER.1999. (2) BOUDIN-LESTIENNE. CULOT. MARE. 2016. respondance (E2 14 95 e E2 14 97).
EIXO TEMÁTICO 1 xelas, solicita a Le Corbusier sua participação26
(Figura 3). Em 1937, outra vez mais, Mallet-Stevens
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO convida o colega para enviar qualquer trabalho
que desejasse para ser exposto na exposição da
Sociedade de Artistas Decoradores, no jardim
do Grand Palais, cuja mostra estava a cargo do
próprio Mallet-Stevens.
CIAM E LE CORBUSIER
450
Por outro lado, a recusa de Giedion ao ingresso REFERÊNCIAS
de um dos maiores representantes da jovem ar-
quitetura moderna, Mallet-Stevens, ocultava sob BAUDIN, Antoine. “Le Corbusier et Hélène de
injustificáveis alegações interesses particula- Mandrot, une relation problématique”. Le Cor-
res. “Ce refus d’accepter un architecte, reconnu busier. La Suisse, les suisses. Paris: Éditions
comme l’un des représentants les plus significatifs de la Villette, 2005.pp149-165.
de la jeune architecture moderne française, a
rejeté, pour un temps, Mallet-Stevens dans les BARRE-DESPOND, A. UAM Union des Artistes
Modernes. Paris: Éditions du Regard, 1986.
oubliettes du Mouvement Moderne. » (BARRÉ-
(2ªed) 2018.
-DESPOND,1986, p.461-462)
BECHERER, R. “Monumentality and the Rue
Na abordagem apresentada sobre fundação das
Mallet-Stevens” in: Journal of the Society of
duas associações tentou-se revelar que para além Architectural Historians, vol. 40, nº1, mar., 1981.
da rivalidade entre colegas representantes de (www.jstor.org/stable/989613 acesso em 19-
uma modernidade multifacetada, a construção 03-2018)
historiográfica operativa desenvolvida neste caso,
sobretudo, por Giedion, contribuiu para o eclipsar BOUDIN-LESTIENNE, S. CULOT, M MARE,
de Mallet-Stevens, enquanto arquiteto moderno. A. Rob Mallet-Stevens, itinéraires Paris-
Burxelles- Hyéres. Bruxelles: AAM éditions,
2016.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
452
453
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Este artigo apresenta os primeiros resultados
da pesquisa que aborda a recepção das obras
vídeo-pôster de Françoise Choay no Brasil. Será priorizado
o livro A alegoria do patrimônio (publicado no
Brasil em 2001), o primeiro em que Choay se de-
APROXIMAÇÕES AO bruça sobre a questão da salvaguarda de bens
culturais. A estrutura do texto e a sua narrati-
PENSAMENTO URBANÍSTICO va bastante didática e encadeada no tempo, os
conceitos que traz e as suas explicações, bem
E DA CONSERVAÇÃO DE como a síntese do pensamento dos conserva-
dores mais notáveis do século XIX e início do
FRANÇOISE CHOAY XX, tornaram o livro uma referência no campo
da conservação e constitui uma obra de gran-
de interesse para a investigação dos seus sen-
APPROACHES TO FRANÇOISE CHOAY’S THINKING ON
tidos, enunciados e modos de apropriação nos
CONSERVATION AND URBAN PLANNING
trabalhos acadêmicos. Toma-se como refe-
rência Botelho e Schwarcz (2009, p. 13) para se
PENSAMIENTO URBANÍSTICO Y DE LA CONSERVACIÓN estabelecer o foco teórico para o pensamento
DE FRANÇOISE CHOAY urbanístico em circulação no Brasil, ou seja:
entende-se que existe uma “articulação tensa
RIBEIRO, Cecilia entre autor, obra e recepção”, é com essa tría-
de interpretativa que o argumento está desen-
Doutora; Bolsista PNPD-MDU/UFPE
volvido. No estudo de A alegoria do patrimônio,
ceciliaribeiropereira@gmail.com
busca-se entender a construção de suas ideias
e como essas foram recebidas e apropriadas no
PONTUAL, Virgínia
Brasil. Busca-se também verificar diferenças,
Doutora; MDU/UFPE debates e conflitos múltiplos e polissêmicos
virginiapontual@gmail.com
quando se trata do estudo das ideias, de modo a
responder: qual o entendimento de Choay sobre
a constituição do campo da salvaguarda do pa-
trimônio? Como a sua obra é enunciada na pro-
dução acadêmica?
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
454
ABSTRACT RESUMEN
The present study provides preliminary results of Este artículo presenta los primeros resultados de
research into the reception of the work of Fran- la investigación que aborda la recepción de las
çoise Choay in Brazil. It focuses on L’allégorie du obras de Françoise Choay en Brasil. Se dará prio-
patrimoine [The invention of the historic monu- ridad al libro A alegoría del patrimonio (publicado
ment] (published in Brazil in 2001), the first book en Brasilen 2001), el primero en el que Choay se
in which Choay examines the issue of preserving centra en el tema de la protección de los bienes
cultural heritage. The structure of the text and culturales. La estructura del texto y su narrati-
easy-to-follow temporal narrative, concepts and ve muy didáctica y temporal, los conceptos que
explanations present an overview of the thinking aporta y sus explicaciones, así como la síntesis
of the most important conservators of the 19th del pensamiento de los conservadores más nota-
and early 20th centuries and have guaranteed bles del siglo XIX y principios del XX, hicieron del
this book’s status as a landmark publication in libro una referencia en el campo de conservación
the field of conservation and a text of great in- y constituye una obra de gran interés para la in-
terest for the investigation of the meanings, dis- vestigación de sus significados, declaraciones y
course, and modes of appropriation of academic modos de apropiación en trabajos académicos.
works. Botelho and Schwarcz (2009, p. 13) is used Botelho y Schwarcz (2009, p. 13) se utilizan como
as a point of reference to establish the theoreti- referencia para establecer el enfoque teórico del
cal focus of urban planning theory in Brazil, ba- pensamiento urbano en circulación en Brasil, es
sed on the understanding that there is a “tense decir: se entiende que existe una “articulación
relationship between author, work and reception,” tensa entre autor, trabajo y recepción”, Es con
and to develop an argument based on these three esta tríada interpretativa que se desarrolla el ar-
interpretative perspectives. The present study gumento. En el estudio de La alegoría del patri-
examines how the ideas contained in L’allégorie monio, buscamos comprender la construcción de
du patrimoine were developed by the author and sus ideas y cómo fueron recibidas y apropiadas
how they were received and appropriated in Bra- en Brasil. También busca verificar multiples dife-
zil. It also attempts to identify the various multi- rencias polisémicas, debates y conflictos cuando
faceted differences, debates and controversies se trata del estudio de ideas, con el fin de respon-
involved in the study of these ideas, as a way of der: ¿qué entiende Choay sobre la constitución
ascertaining how Choay understands the field of del campo de salvaguarda del patrimonio? ¿Cómo
preservation of cultural heritage to be constitu- se explica su trabajo en la producción académi-
ted and the role her work plays in academic dis- ca?
course.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
468
469
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O artigo busca evidenciar as relações existentes
entre o Plano de Avenidas (1930), cujos preceitos
vídeo-pôster foram propostos por Francisco Prestes Maia e
João Florence de Ulhôa Cintra, para São Paulo,
e o Plano Techint (1959), desenvolvido por Philipp
AS CIDADES DOS ANÉIS. Lohbauer para a cidade de Santa Cruz de la Sier-
ra. Parte-se da constatação de que o esquema
CRUZAMENTOS DO PLANO DE viário radial-perimetral que caracteriza o plano
para a capital paulista é um importante referen-
AVENIDAS PARA SÃO PAULO cial conceitual para o boliviano, configuração,
no entanto, que é apenas a mais visível de uma
COM O PLANO TECHINT PARA gama de referências que marcam esse período
de consolidação do urbanismo moderno. A par-
SANTA CRUZ DE LA SIERRA tir desse argumento inicial, procura identificar
uma série de cruzamentos entre teorias e expe-
riências urbanísticas na América do Sul, ainda
THE CITIES OF THE RINGS. CROSSINGS WITHIN THE
pouco estudados pela historiografia da arquite-
AVENUES PLAN FOR SÃO PAULO AND THE TECHINT
tura e do urbanismo. É no cruzamento das ideias
PLAN FOR SANTA CRUZ DE LA SIERRA
que fundamentam os planos em questão que
reside o interesse do artigo. Ao analisar o plano
LAS CIUDADES DE LOS ANILLOS. CRUCES DEL PLAN
de Santa Cruz de la Sierra, além de revelar um
DE AVENIDAS PARA SÃO PAULO CON EL PLAN TECHINT
intercâmbio singular entre ideias e profissionais
PARA SANTA CRUZ DE LA SIERRA
da região, pretende evidenciar uma experiência
urbanística moderna de grande transcendência
GIROTO, Ivo continental e ainda pouco conhecida fora da
Bolívia. No mesmo sentido, procura iluminar um
Doutor; Universidade de São Paulo
ivogiroto@usp.br
pouco mais a extensa e escassamente estudada
produção brasileira do alemão Lohbauer, arqui-
teto cuja atuação como urbanista é ainda mais
incógnita. Metodologicamente, procura definir
uma visada transnacional, atenta às circulações
e conexões que definem os eventos históricos
para além dos limites dos países, através do es-
tabelecimento de conexões múltiplas que ultra-
passam o mero exercício comparativo.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
470
ABSTRACT RESUMEN
The article seeks to highlight the relationships El artículo busca resaltar las relaciones exis-
between the Avenues Plan (1930), whose precepts tentes entre el Plan de Avenidas (1930) para São
were proposed by Francisco Prestes Maia and Paulo, cuyos preceptos fueron propuestos por
João Florence de Ulhôa Cintra, for São Paulo, Francisco Prestes Maia y João Florence de Ulhôa
and the Techint Plan (1959), developed by Philipp Cintra, y el Plan Techint (1959) para la ciudad de
Lohbauer for the city of Santa Cruz de la Sierra. Santa Cruz de la Sierra, desarrollado por Philipp
It is based on the observation that the radial-pe- Lohbauer. Se basa en la observación de que el
rimeter scheme that characterizes the plan for esquema vial perimetral-radial que caracteriza el
São Paulo is an important conceptual reference plan para la capital de São Paulo es una referen-
for the Bolivian, a configuration, however, which cia conceptual importante para el boliviano, una
is only the most visible of a range of references configuración, sin embargo, que es solo la más
in this period of consolidation of modern urba- visible de una gama de referencias que marcan
nism. Based on this initial argument, it seeks to este período. Basado en este argumento, busca
identify the intersections between theories and identificar una serie de intersecciones entre te-
urbanistic experiences in South America, still orías y experiencias urbanísticas en Sudamérica,
little studied by the historiography of architectu- aún poco estudiadas por la historiografía de la
re and urbanism. It is at the intersection of ideas arquitectura. Es en la intersección de las ideas
that underlie these plans that the article’s inte- que subyacen a los planes en cuestión donde ra-
rest lies. In analyzing the Santa Cruz de la Sierra dica el interés del artículo. Al analizar el plan de
plan, in addition to revealing a unique exchange Santa Cruz de la Sierra, además de revelar un in-
between ideas and professionals from the region, tercambio único entre ideas y profesionales de la
it intends to highlight a modern urban experience región, se pretende resaltar una experiencia ur-
of great continental transcendence and still little bana moderna de gran trascendencia continental
known outside Bolivia. In the same sense, it se- y aún poco conocida fuera de Bolivia. En el mismo
eks to shed light on the extensive and barely stu- sentido, busca arrojar un poco de luz sobre la ex-
died production of Lohbauer, an architect whose tensa producción brasileña y poco estudiada de
performance as an urban planner is even more Lohbauer, un arquitecto cuya actuación como
unknown. Methodologically, it seeks to define a planificador urbano es aún más desconocida. Me-
transnational view, attentive to the circulations todológicamente, busca definir una visión trans-
and connections that define historical events nacional, atenta a las circulaciones y conexiones
beyond the limits of countries, through the esta- que definen eventos históricos más allá de los lí-
blishment of multiple connections that go beyond mites de los países, mediante el establecimiento
the mere comparative exercise. de conexiones múltiples que desbordan el mero
ejercicio comparativo.
LAS CIUDADES DE LOS ANILLOS. CRUCES DEL PLAN A configuração radiocêntrica de ambos, no en-
DE AVENIDAS PARA SÃO PAULO CON EL PLAN TECHINT tanto, é apenas a mais visível de uma gama de
PARA SANTA CRUZ DE LA SIERRA referências que marcam esse período de con-
solidação do urbanismo moderno. Entre um e
outro, por exemplo, produziu-se a ampliação dos
âmbitos epistemológicos disciplinares, refletidos
na centralidade que o conceito de “planejamento
urbano” assumiu frente ao “urbanismo” no pós
segunda-guerra (ALMANDOZ, 2009, p. 244-253).
Figura 1: Esquemas teóricos de São Paulo, Moscou, Paris e Berlim, de autoria de Ulhôa Cintra, 1924. Fonte: Toledo (1996, p. 168).
EIXO TEMÁTICO 1 O anel proposto na primeira versão do perímetro
de irradiação, que Ulhôa Cintra definiu ainda em
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO 1910, apresentava dimensões próximas aos rings
de Paris, Berlim e Moscou, algo valorizado pelos
próprios autores do plano. Para Toledo (1996, p.
128), mais que uma configuração espontânea,
isso poderia indicar que os urbanistas brasileiros
procuraram estabelecer um anel com dimensões
aproximadas a 1600 metros em seu eixo maior, to-
mando como referência as dimensões que Hénard
constatou nas três referidas cidades.
Figura 5: As duas versões para o centro de Santa Cruz de la Sierra. A remodelação total da primeira versão (esquerda), e
a criação do Centro Cívico na segunda proposta (direita). Fonte: Cortesia Victor Hugo Limpias Ortiz.
Ao final deste eixo, um novo ponto focal apontaria concretização previa a demolição da então sede
para o moderno prédio administrativo, inevita- do governo departamental (atual Brigada Par-
velmente enfraquecendo a presença da Catedral lamentar e Museu da Independência), edifício
de San Lorenzo, igreja neoclássica inaugurada também neoclássico inaugurado em 1892, estilo
em 1915 e maior ícone arquitetônico da cidade, que nunca despertou grande apreço por parte
situada na lateral do novo eixo. Além disso, sua dos arquitetos modernistas.
EIXO TEMÁTICO 1 Há que se recordar que Santa Cruz de la Sierra
e São Paulo apresentavam, à época da elabora-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO ção dos planos, condições históricas e urbanas
radicalmente diferentes. O centro de São Paulo,
já consolidado e denso entre os anos 1920 e 1930,
não permitiria um projeto minimamente viável
que propusesse sua demolição integral, opção
sequer insinuada como ideal por Prestes Maia e
Ulhôa Cintra. Enquanto o Plano de Avenidas se
concentrava nos limites consolidados da cidade,
limitados pelas margens dos rios, o Plano Techint
atuava sobre uma ocupação rarefeita ao redor do
centro histórico, e principalmente no desenho da
expansão da cidade.
Conclusão
agradecimentos
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
488
REFERÊNCIAS siglo de urbanismo moderno en Santa Cruz de
la Sierra. 1 ed. Santa Cruz: Gobierno Municipal
ALMANDOZ, Arturo. Mudanças políticas e Autónomo de Santa Cruz de la Sierra y Universi-
institucionais para o planejamento latino-a- dad Privada de Santa Cruz de la Sierra, 2010.
mericano do segundo pós-guerra. In: GOMES,
Marco Aurelio A. de Filgueiras (org.). Urbanis- MAIA, Francisco Prestes. Um estudo de Plano
mo na América do Sul: circulação de ideias e de Avenidas para a cidade de São Paulo. São
constituição do campo, 1920-1960. Salvador: Paulo: Cia. Melhoramentos, 1930.
EDUFBA, 2009, p. 231-259.
_____. Os melhoramentos de São Paulo. São
CASTELLS, Manuel (org.). Imperialismo y Paulo: Prefeitura Municipal de São Paulo, 1945.
urbanización en América Latina. Barcelona:
Gustavo Gili, 1973. MAZONI, Mauricio. “Santa Cruz de la Sierra, una
ciudad que busca su espacio”. Ciudades: Re-
CHUECA GOITIA, Fernando. Breve historia del vista del Instituto Universitario de Urbanística
urbanismo. 3. ed. Madrid: Alianza Editorial, de la Universidad de Valladolid, Nº. 9, 2005-
2011. 2006, p. 135-160.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
490
491
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Esse artigo aborda o tema das origens e tradu-
ções em termos de arquitetura e plano urbano
vídeo-pôster da cidade de ouro preto, tendo em vista a grande
influência que teve a cultura barroca na região.
Abordando desde uma explicação inicial sobre o
BARROCO MINEIRO: ORIGENS movimento, que surgiu na europa, até sua che-
gada no brasil, o presente artigo traz duas ver-
E TRADUÇÕES EM TERMOS tentes sobre a influência do barroco na cidade
analisada: a vertente arquitetônica e a vertente
DE ARQUITETURA E PLANO urbana. Além disso, a análise foi baseada nas
diretrizes de ocupação das colônias portuguesa
URBANO e espanhola. Ao contrário do que aconteceu na
europa e nas colônias espanholas, onde o bar-
roco teve grande intervenção no plano urbano,
BARROQUE ARCHITECTURE AND URBAN PLANNING OF
a expressão barroca em ouro preto teve maior
MINAS GERAIS
relevância na arquitetura. Isso aconteceu tam-
bém pelo fato da colonização portuguesa se ca-
BARROCO MINERO: ORÍGENES Y TRADUCCIONES EN racterizar pelo traçado orgânico e natural. Sen-
TÉRMINOS DE ARQUITECTURA Y PLAN URBANO do assim, o movimento que se deu na região das
minas foi denominado barroco mineiro, um es-
STEINBACH, Ana Carolina tilo tipicamente brasileiro. Tendo como objetivo
analisar as temáticas, essa pesquisa relacionou
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo; Universidade do
a influência da cultura barroca à forma como
Estado de Santa Catarina
anacarolinasteinbach@outlook.com a cidade foi colonizada pelos portugueses em
ouro preto e destacou a diferença com a forma
com que foram ocupadas as colônias espanho-
FLORENTINO, Maria Caroliny Camargo
las. Sendo assim, este ensaio utiliza ouro preto
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo; Universidade do
como exemplar para diferenciar como a cultura
Estado de Santa Catarina
m.camargoflorentino@gmail.com
barroca se desenvolveu de forma diversa nas
colônias da américa.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
492
ABSTRACT RESUMEN
This article addresses the theme of the origins Este artículo aborda el tema de los orígenes y
and translations in terms of architecture and ur- traducciones en términos de arquitectura y plan
ban plan of the city of Ouro Preto, given the gre- urbano de la ciudad de Ouro Preto, teniendo en
at influence that the baroque culture had in the cuenta la gran influencia que tuvo la cultura bar-
region. Addressing from an initial explanation of roca en la región. Abordando desde una explica-
the movement, which emerged in Europe, until ción inicial sobre el movimiento, que surgió en
its arrival in Brazil, this article brings two strands Europa, hasta su llegada en Brasil, el presente
on the influence of the baroque in the city analy- artículo trae dos vertientes sobre la influencia
zed: the architectural aspect and the urban as- del barroco en la ciudad analizada: la vertiente
pect. In addition, the analysis was based on the arquitectónica y la vertiente urbana. Además, el
guidelines for the occupation of the Portuguese análisis se basó en las directrices de ocupación
and Spanish colonies. Unlike what happened in de las colonias portuguesa y española. A diferen-
Europe and in the Spanish colonies, where the cia de lo que sucedió en Europa y en las colonias
baroque had great intervention in the urban plan, españolas, donde el barroco tuvo gran interven-
the Baroque expression in Ouro Preto had greater ción en el plano urbano, la expresión barroca en
relevance in the architecture. This was also due Ouro Preto tuvo mayor relevancia en la arquitec-
to the fact that Portuguese colonization is cha- tura. Esto sucedió también por el hecho de que
racterized by organic and natural tracing. Thus, la colonización portuguesa se caracteriza por el
the movement that took place in the region of the trazado orgánico y natural. Así, el movimiento que
mines was called barroco mineiro, a typically Bra- se dio en la región minera fue denominado barro-
zilian style. Aiming to analyze the themes, this re- co minero, un estilo típicamente brasileño. Con el
search related the influence of Baroque culture to objetivo de analizar los temas, esta investigación
the way the city was colonized by the Portuguese relacionó la influencia de la cultura barroca con
in Ouro Preto and highlighted the difference with la forma en que la ciudad fue colonizada por los
the way they were occupied the Spanish colonies. portugueses en Ouro Preto y destacó la diferen-
Thus, this essay uses Ouro Preto as an example to cia con la forma en que fueron ocupadas las co-
differentiate how the Baroque culture developed lonias españolas. Siendo así, este ensayo utiliza
differently in the colonies of America. Ouro Preto como ejemplar para diferenciar cómo
la cultura barroca se desarrolló de forma diversa
en las colonias de América.
BAROQUE MINER BRAZILIAN COLONIAL CITY
BAROQUE ARCHITECTURE
BARROCO MINERO CIUDAD COLONIAL BRASILEÑA
ARQUITECTURA BARROCA
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO O movimento barroco se desenvolveu especial-
mente na Itália e na França entre os séculos XV e
XVIII, alterando radicalmente tanto a forma quanto
vídeo-pôster o estilo de vida urbano (práticas, culturas...). Ex-
pressão urbana e arquitetônica do absolutismo,
498
Figura 2: Fachada da Igreja de São Pedro dos Clérigos Rio de Janeiro e Fachada da Igreja Nossa Senhora da Glória do
Outeiro Rio de Janeiro. Fonte: Wikipédia (2017 e 2009, respectivamente)
O imigrante português Doutor Antônio Pereira tugal que projetaram igrejas no Rio e em Minas,
de Souza Calheiros foi um dos pioneiros e mais como o Doutor Antônio Pereira de Souza Calheiros.
importantes influentes na arquitetura Tardo-Bar-
roca desenvolvida em Minas Gerais, apesar de ter
começado sua carreira no Rio de Janeiro, contri-
buindo também para a transmissão de culturas EXPRESSÕES DO BARROCO EM OURO PRETO
entre Portugal e o Brasil.
O avanço da ocupação colonial do litoral para a
Acredita-se que ele tenha estudado no Colégio região das minas foi um processo que durou mais
das Artes em Portugal pelo longo período de for- de três séculos. Com a descoberta dos minérios,
mação, tendo assim, contato direto com a arqui- começam expedições para o interior do país e
tetura somado à prática de experimentação e de dos acampamentos de pouso dos bandeirantes
liberdade que até então não podia ser exercida no
surgem vilas, as quais repetem o modelo de cidade
país de origem justificou-se os seus traços nos
implantada pelos portugueses na costa brasilei-
projetos brasileiro. Deduzindo que é mais prová-
ra, linear e irregular. Inicialmente, os ranchos de
vel que quando imigravam para a região mineira
capim, distribuídos ao acaso pela vila eram ape-
traziam consigo os conhecimentos intelectuais
nas abrigos dos paulistas contra as intempéries,
do padrão estético que estavam habituados e,
sem a pretensão de qualquer assentamento que
possivelmente, objetos que atualizariam os novos
indicasse um arruamento. A ordenação urbana se
padrões incorporados em suas especialidades.
deu principalmente pelos emboabas, que tiveram
Contudo, nas obras barrocas de Minas Gerais é de impor traços para uma organização mínima,
possível perceber influências do barroco portu- como o desenvolvimento dos caminhos em arru-
guês na estrutura funcional e na organização do amentos e a organização dos edifícios religiosos,
plano geral com torres laterais à nave, capela-mor, civis, públicos e privados, já que a contribuição
corredores laterais e sacristia; e do italiano, na feita pelos paulistas foi somente a localização
implantação de plantas elípticas. das matrizes (inalterada), de postos de comércio,
de assentamentos e os traçados dos caminhos.
Devemos concluir, então, que o barroco, apesar Segundo Vasconcelos (1974), no início do século
de ter chegado ao Brasil através dos Francisca- XVIII os emboabas superavam os paulistas em
nos, no Nordeste, teve grande desenvolvimento a número e em poder econômico.
partir do avanço da mineração, no século XVIII, e
da transferência da capital para o Rio de Janeiro, A Figura 3(a), apresenta a formação da malha urba-
destacando a figura dos arquitetos vindos de Por- na do território no início do povoamento no período
EIXO TEMÁTICO 1 da descoberta do ouro. Diferente da ocupação do
litoral, na região das minas a preocupação com a
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO defesa e a escolha do terreno não foram levadas
em conta, e sim, as lavras de mineração próximas
a córregos ou nas encostas de morros. Isso tam-
bém se deve ao fato de que em razão dos fortes
declives e da camada do solo pouco profunda,
era inviável o estabelecimento de plantações. Em
1711, devido ao crescimento dos vários arraiais, a
região foi elevada à categoria de vila, denominada
Vila Rica do Albuquerque.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
500
Figura 3 – Evolução da ocupação de Ouro Preto. Fonte: Jeanne Michelle Garcia Castro (2006, p. 8)
Figura 4 - Ocupação atual de Ouro Preto. Fonte: Jeanne Michelle Garcia Castro (2006, p. 9)
EIXO TEMÁTICO 1 Em termos de plano urbano, o barroco não influen-
cia a morfologia da cidade, como nota-se pela
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO análise urbana, ou quando analisa-se sua principal
praça. A Praça da Independência conhecida desde
1894 como Praça Tiradentes, se localiza no que foi
conhecido como morro da Quitéria e é composta
por um monumento em homenagem a Joaquim
José da Silva Xavier, o Tiradentes, o museu da
Inconfidência Mineira (antiga casa de câmara e
cadeia), Museu de Ciência e Técnica (antigo Palácio
dos Governadores) e casarios onde muitos foram
projetados por José Fernandes Pinto Alpoim,
engenheiro e arquiteto português, enviado ao
Brasil por D. João V, foi de suma importância para
o Estado. Veio ao país com o objetivo de ensinar a
artilharia mas além disso escreveu dois livros, foi
o primeiro professor de matemática contratado
por Portugal para o Brasil e teve seu destaque no
âmbito da arquitetura. Suas principais obras são
os Arcos da Lapa (aqueduto da carioca) Convento
de Santa Tereza, o Palácio dos Governadores e
o Conjunto Alpoim, ambos localizados na Praça
Tiradentes. Segue abaixo imagem da Praça de
Tiradentes com vista para o antigo Palácio dos
Governadores, atual museu de Ciência e técnica.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
502
Figura 5 – Praça de Tiradentes e vista de satélite das praças de Tiradentes e Bogotá, respectivamente. Fonte: Portal
Brasiliana Fotográfica e Google Maps (2020).
O traçado das ruas irradiantes e a forma urbana do Brasil. A distância física do litoral para a região
como foi constituído os lotes mostram a grande das minas proporcionou uma “barreira” natural
diferença entre as colonizações portuguesas e entre os modelos que vinham da Europa e, assim,
espanholas. Além dessa diferença a praça de sem tanta influência lusitana criou-se uma arte
Tiradentes tem outra característica singular, tipicamente nacional.
que seria a ausência de um edifício religioso na
composição de suas fachadas, e isso mostra a Foi nesse meio oscilante de inconstâncias
importância desse lugar. [Minas Gerais] que se desenvolveu a mais
característica arte religiosa do Brasil. A
Everaldo Costa (2011) argumenta que não devemos Igreja pôde aí, mais liberta das influências
pensar o barroco como um movimento “isolado”, de Portugal, proteger um estilo mais unifor-
pois ele é influenciado por vários aspectos, como me, mais original, que os que abrolhavam
mudanças em sociedade, cultura entre outros. Ao podados, áulicos, sem opinião própria nos
pensarmos no barroco mineiro, o autor reafirma dois outros centros [Rio e Bahia]. Estes
essa ideia, pois na sua visão o estilo ocorrido no viviam de observar o jardim luso que a mi-
brasil retrata a sociedade da época. “ [...] falam de ragem do Atlântico lhes apresentava con-
uma sociedade e relações de classes fortemente tinuadamente aos olhos: em Minas, se me
resultantes de uma imbricada interação com a permitirdes o arrojo da expressão, o estilo
natureza, com particularidades próprias, ontem barroco estilizou-se. As igrejas constru-
e hoje” (COSTA, 2011, p.65). Outro fator pontuado ídas por portugueses mais aclimados ou
também é o fato de ser cidade mineradora, isso por autóctones algumas, provavelmente,
significa local onde havia muitos tributos, que como o Aleijadinho, desconhecendo até
estava em descoberta, em desenvolvimento e o Rio e a Bahia, tomaram um caráter mais
com crises ao longo do tempo. bem determinado e poderíamos dizer muito
mais nacional. (ANDRADE, 1993, p. 78).
Segundo Barbosa (2004), o século XVIII pode ser
entendido como um período em que foram pro- O barroco mineiro se diverge do europeu, pois se
duzidas artes tipicamente brasileiras, como a de caracteriza pelo traçado contido e harmonioso,
aleijadinho. Além dessa dinâmica, a distância do pelas linhas curvas. Com uma estética mais bela e
interior para o litoral (local onde as influências nobre, decorrente do elemento decorativo agora
portuguesas, impostas pela corte, vigoravam no plano arquitetônico, o estilo fica livre da grande
plenamente) proporcionou em solo mineiro um ornamentação como elemento externo o que é
estilo nacional, com a mão de obra dos emboabas, presente no modelo português. O barroco euro-
sem tanta interferência lusitana. peu serviu como base para a criação desse novo
modelo e mesmo havendo características que os
Na região das minas, após o auge da extração diferem ainda existe afinidades como, por exem-
do ouro, a igreja conseguiu mais força e a partir plo, as linhas curvas nas fachadas que no percor-
disso implantar um estilo arquitetônico original rer do caminho gera surpresa e arrebatamentos.
EIXO TEMÁTICO 1 Segundo Machado (1973, p. 107-109), o Brasil da
época, ao contrário da Europa, era quase que
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO unicamente paisagem, natureza. E nossas arqui-
teturas barrocas nunca precisaram concorrer em
grandiosidade com as recém-formadas cidades.
As igrejas eram construídas em espaços abertos,
geralmente no topo dos morros, em platôs cen-
tralizados cada vez mais altos e próximos do céu.
Como exemplares interessantes para análise,
temos a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar
e a Igreja de São Francisco de Assis.
504
Figura 6 – Parte interna da nave à esquerda e fachada à direita da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Fontes: Grupo
Abril (2011) e Wikipédia (2015).
As características da atual fachada, vista na Fi- responsável pelo projeto arquitetônico. Nesse
gura 6, são similares a outras igrejas mineiras momento, a figura de Doutor Antônio Pereira de
do século XVIII. Como a reforma das torres, com Souza Calheiros também foi importante, já que
os chanfros cortados que se assemelha a Igreja foi ele quem propôs os riscos para as igrejas da
Matriz de Nossa Senhora da Conceição de An- época. Mesmo sendo influenciada pelos modelos
tônio Dias e de modelos europeus passados; e do Barroco italiano, a Igreja de São Francisco de
o bombeamento do frontispício, característica Assis ainda é vinculada aos modelos portugueses,
muito marcante em modelos europeus, utilizada numa concepção da tradição clássica no trata-
também nas Igreja de Nossa Senhora do Rosário, mento das fachadas laterais, na planimetria e no
em Ouro Preto, e São Pedro dos Clérigos, em Ma- estilo italiano aplicado nas curvas e contracurvas
riana, em meados do século XVIII. da fachada principal. Já o interior ficou nas mãos
de Mestre Ataíde, trazendo pinturas da Assunção
O frontispício e frontão, também bombeado, dão de Nossa Senhora com anjinhos músicos tornando
mais movimento e leveza. O óculo colocado no essa Capela um exemplo forte do barroco mineiro,
eixo central, gerando a inflexão da cornija, são como é visto na Figura 7 a seguir.
características importantes introduzidas na épo-
ca. As volutas são mais presentes, e as curvas e
contracurvas mais evidentes. As colunas laterais
ao portão principal têm a mesma técnica de cons-
trução para o fuste e o capitel utilizado na Igreja de
São Francisco de Assis de Ouro Preto. Apresenta
pouca ornamentação na fachada, especialmente
no tratamento dado às aberturas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 4 - Ocupação atual de Ouro Preto (CASTRO, HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo:
2006, pg. 9). Schwarcz Ltda, 1995.
Figura 5 - Praça de Tiradentes e vista de sa- MUMFORD, L. Cidade na História: suas origens,
télite das praças de Tiradentes e Bogotá, transformações e perspectivas. Tradução Neil R.
respectivamente. Disponível em: <http:// da Silva. 5. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/
handle/20.500.12156.1/3734>, <https:// NATAL, C. M. Mário de Andrade em Minas Gerais:
www.google.com.br/maps/place/Pra%- em busca das origens históricas e artísticas da
C3%A7a+Tiradentes,+Ouro+Preto+-+MG,+- nação. História Social, (13), 193-207. Recuperado
35400-000/@-20.3853109,-43.5037729,99m/ de: <https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.
data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xa40ae- php/rhs/article/view/217>
01c78e9af:0xbfc2e6c88717cc24!8m2!3d-
-20.3855212!4d-43.5036999> e < https:// OLIVEIRA, M. A. R. de. Barroco e Rococó nas
www.google.com.br/maps/place/Pra%- igrejas de Ouro Preto e Mariana. Brasília, DF:
C3%A7a+de+Bol%C3%ADvar+de+Bogot%- Iphan / Programa Monumenta, 2010.
C3%A1/@4.5981611,-74.076603,432m/da-
PORTES, B. S. Revisitando o “barroco minei-
ta=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x8e3f99a7eccfe58f:0x
ro”: A construção de um conceito entre a arte,
99cb72b35351476!8m2!3d4.5981206!4d-74.07604
a identidade e outras representações coloniais.
35>. Acesso em 02 de abril de 2020.
2014. Monografia de especialização-Instituto de
Figura 6 - Interior e Fachada da Igreja Matriz Filosofia, Artes e Cultura. Universidade Federal
de Nossa Senhora do Pilar. Disponível em < de Ouro Preto, Ouro Preto.
https://abrilviagemeturismo.files.wordpress.
REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Bra-
com/2016/10/opreto25.jpeg?quality=70&stri-
sil. São Paulo: Perspectiva, 2006.
p=info&w=919> e <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Igreja_Matriz_de_Nossa_Senhora_do_ REZENDE, E. F. de. Barroco mineiro: nação
Pilar_-_Ouro_Preto_3.jpg>. Acesso em 02 de abril civilizada, patrimônio protegido. 2011. Monografia
de 2020. de especialização–Instituto de Filosofia, Artes
e Cultura, Universidade Federal de Ouro Preto,
Figura 7 - Pintura do interior da Igreja São
Ouro Preto.
Francisco de Assis de Ouro Preto e fachadas
da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro SALGADO, M. Ouro Preto: Paisagem em Trans-
Preto e da Igreja de São Francisco de Assis de formação. 2010. 193f. Dissertação (Mestrado).
São João del-Rei, respectivamente. Dispo- Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
nível e modificado de: <https://br.pinterest. Arquitetura. 2010.
com/pin/330733166378024176/?nic_v1=1aVS-
L8RN11HEnhn8rU4eZaqEZZVeNWyx5zelOZt- TOLEDO, R. A. “Influência das concepções euro-
57mZLSzs2ife9CHKdDvKHo4OTvN>, <https:// peias na formulação do pensamento urbanísti-
pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_ co paulista.” Sociedade e Cultura. Goiânia, 2012.
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
As reflexões desenvolvidas nesse trabalho par-
tem do contexto histórico de formação da cida-
vídeo-pôster de de Belo Horizonte, desde sua formação como
Curral Del Rey até os dias atuais. Abordaremos
os processos de segregação ocorridos a partir
BELO HORIZONTE, CIDADE da expulsão da população mais pobre das áre-
as centrais da cidade para a implementação do
PLANEJADA (PARA A ELITE Plano da Nova Capital e os processos desenvol-
vidos que influenciaram no contexto de forma-
BRANCA) ção da cidade. Posteriormente, discutiremos a
relação entre segregação racial e o planejamen-
to urbano de Belo Horizonte, bem como seus re-
BELO HORIZONTE, CITY PLANNED (FOR THE WHITE flexos no contexto municipal atual.
ELITE)
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
510
ABSTRACT RESUMEN
The reflections developed in this work start from Las reflexiones desarrolladas en este trabajo
the historical context of the formation of the city parten del contexto histórico de la formación de
of Belo Horizonte, from its formation as Curral la ciudad de Belo Horizonte, desde su formación
Del Rey to the present day. We will address the como Curral Del Rey hasta la actualidad. Abor-
relationship between racial segregation and the daremos la relación entre la segregación racial y
planning of Nova Capital, listing the developed la planificación de Nova Capital, enumerando los
processes that influenced the context of the city. procesos desarrollados que influyeron en el con-
texto de la ciudad.
Vários dos engenheiros, arquitetos e projetistas que Belo Horizonte: reflexo da colonialidade
participaram da Comissão Construtora se estabe- e da segregação racial
leceram em definitivo na cidade como técnicos do
serviço público, autônomos ou professores, a partir
da fundação da Escola Livre de Engenharia (1911). A partir de dados do Anuário Estatístico de Minas
Fato esse que contribuiu para a vigência e perpe- Gerais, de 1911, Silva e Pereira (2018) demonstram
tuação dos padrões urbanísticos e arquitetônicos que a preponderância da população não branca
implantados pela Comissão e que só passaram a em Minas Gerais manteve-se mesmo após o de-
ser questionados na década de 30 (LEME, 1999). clínio da exploração aurífera, onde a comarca
EIXO TEMÁTICO 1 do Rio das Velhas12 apresentou 14.394 brancos
contra 85.182 mestiços e pretos ou apenas 14%
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO da população.
526
Considerações fInais rizonte estão presentes ainda hoje, o que pode
ser evidenciado pela análise da distribuição social
A partir do contexto histórico apresentado, é pos- espacial da população negra no município. Mais
sível perceber que, antes mesmo do Plano da ainda, é importante notar a prevalência dessa
Nova Capital, e repetidamente ao longo do século, população nas áreas periféricas e, quando cen-
ocorreram inúmeros processos de exclusão dos trais, principalmente vinculadas a espaços de
trabalhadores e da população negra e pobre das vilas e favelas.
áreas urbanas centrais, com os mais diversos
argumentos, sejam habitacionais, higienistas
ou de qualidade de vida. Desse modo, esses mo-
radores foram expulsos das partes tidas como
privilegiadas da cidade, sendo relegados às zonas
periféricas ou de desinteresse devido às suas
restrições físicas ou ambientais.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
530
ABSTRACT RESUMEN
This article discusses the state’s action in the Este artículo discute la acción del poder público
centre of Salvador, in the realm of the “Plano en el centro de Salvador, partindo del “Plano de
de Reabilitação Participativo do Centro Antigo Reabilitação Participativo do Centro Antigo de
de Salvador” and the “Programa Salvador 360”. Salvador” y del “Programa Salvador 360”. Ana-
Analyzing the set of recent urban interventions lizando el conjunto reciente de intervenciones
and the institutional web which constitutes this urbanas y la red institucional que se operan en
context, it is argued that there is a continuity este ámbito, se sostiene que hay una continuidad
between these plans, and that this continuity entre ambos planes, y que esta continuidad es
comes from the economic development model fruto del modelo de desarrollo económico que las
that is dialectically influenced by the dynamics dinámicas de revitalización urbana tributan (y son
of urban regeneration. As a consequence of this tributarias). Como resultado de este argumento,
argument, the article suggests that the state el artículo sugiere que hay una acción integrada
acts on an integrated mode of action that per- del poder público en el centro que transita entre
vades different governments, independently on diferentes gobiernos, progressivos o no. En este
their political orientation. In this sense, the article sentido, se concluye considerando las implica-
conclusions ponder over the implications of this ciones de esta condición en el centro de Salva-
condition on the centre of Salvador and over the dor e considerando el contenido de los desafíos
challenges that it places towards a critic update que ella plantea para una actualización crítica del
of the urbanistic thinking. pensamiento urbano.
INTRODUÇÃO
CADÊNCIAS DA
REVITALIZAÇÃO URBANA: UM O centro da cidade de Salvador tem sido objeto
de uma quantidade substantiva de pesquisas que
RETRATO ATUAL DO CENTRO discutem, na contemporaneidade, aspectos mais
abrangentes da produção e reprodução da cida-
DE SALVADOR de. São trabalhos que articulam um âmbito de
discussões sobre as decorrências da reestrutu-
ração produtiva da economia global, tensionando
CADENCIES OF URBAN REGENERATION: AN ACTUAL a tríade “planejamento das cidades – revitalização
PORTRAIT OF SALVADOR’S CENTRE urbana – economia do turismo”.
16º SHCU
5. Como será possível visualizar, os quadrantes identificados
30 anos . Atualização Crítica
com um traço (-) representam informações não encontradas
536 na pesquisa documental.
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
538
Figura 4: Mapa das intervenções urbanas e poligonais do centro de Salvador. Fonte: Elaboração do autor
Decorre disso, o entendimento dos limites do CAS programa que inaugura o uso da nomenclatura
como foco ativo de atenção dos investimentos pú- CAS atrelado à poligonal delimitada pela ACPR.
blicos. Corroborando com apontamentos anterio-
res que já indicavam esta tendência (SANT’ANNA, Conforme indicado anteriormente, o PRP-CAS
2015; MOURAD, 2011), o exame deste fenômeno foi lançado em 2010 sob o pretexto de integrar e
permite, não só indicar traços da geografia dos ampliar a área de atuação do Governo do Estado na
investimentos mobilizados, como apontar para a região central de Salvador, concatenando ações
engenharia institucional que o produziu. A questão para o conjunto integrado desta região que passa-
que nos parece mais contundente, nesse sentido, va a ser nomeada como Centro Antigo de Salvador.
é relativa ao contexto flagrado pelas observações A origem da formulação do referido Plano, entre-
feitas. Quais nexos podem ser articulados entre tanto, está no Programa Nacional de Recuperação
as intervenções identificadas e os processos de de Áreas Urbanas Centrais (PRAUC), um programa
instituição das poligonais do centro? Já que tam- vinculado ao Ministério das Cidades que, a partir
bém se inserem no limite expandido, é possível de 2003, traçava uma linha de atuação nacional em
dizer que os processos de intervenção urbana áreas urbanas centrais com vistas ao combate dos
aqui identificados dialogam com o momento de seus vazios especulativos; processo que se vin-
instituição da nomenclatura CAS, em 2010? culava ao enfrentamento do déficit habitacional e
ao cumprimento da função social da propriedade
Construímos o aprofundamento sobre essas ques- (MOURAD, 2011). O lançamento da versão baia-
tões através da identificação dos programas urba- na, que se gestou entre 2007 e 2010, parte deste
nos que orientam as intervenções listadas. Como a contexto e se ancora localmente na mudança na
Figura 3 nos mostra, são eles o Programa Salvador gestão do Governo do Estado da Bahia, quando o
360 e o Plano de Reabilitação Participativo do grupo político ligado ao Partido da Frente Liberal
Centro Antigo de Salvador (PRP-CAS) - o mesmo (PFL) deu lugar ao Partido dos Trabalhadores (PT).
EIXO TEMÁTICO 1 O PFL protagonizava, até 2007, os quinze anos
de execução de Plano de Recuperação do Cen-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO tro Histórico de Salvador (PRCHS), um plano de
que expulsou 3.962 moradores6 da sua área de
intervenção, na sua maioria de baixa renda, e que
somou um conjunto substantivo de avaliações
negativas da sua implementação por diversos
motivos (REBOUÇAS, 2012). São avaliações que
contém desde críticas às intenções nucleares
que motivavam o plano, ao julgarem a sua atuação
orientada por interesses econômicos privados
(idem), até críticas menos estruturais, direciona-
das à forma como este plano foi implementado,
uma vez que ele não atingia a sustentabilidade
econômica que se propunha ao longo de sua exe-
cução (ZANCHETI; GABRIEL, 2010).
CONTEMPORANEIDADE
URBANISMO CIDADE DOLORES HAYDEN GÊNERO
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
552
ABSTRACT RESUMEN
This article seeks to revisit the experimental con- Este artículo busca revisar los aportes experi-
tributions of Dolores Hayden regarding the orga- mentales de Dolores Hayden en cuanto a la orga-
nization of urban spaces proposed by the same in nización de los espacios urbanos propuestos por
the 1980s, called HOMES and to understand, from la misma en la década de los 80, denominados
the gender inequalities that still affect contem- HOMES, y comprender, a partir de las desigual-
porary reality, how much these possibilities can dades de género que aún afectan la realidad con-
still be understood as necessary for an equaliza- temporánea, hasta qué punto estas posibilidades
tion of differences within the urban space. pueden aún entenderse como necesario para una
igualación de diferencias dentro del espacio ur-
bano.
URBANISM CITY DOLORES HAYDEN GENDER
Nos estudos de Waiselfisz (2015), portanto, é pos- não como seres com os outros. Se amor,
sível obter dados que constroem uma cronologia abnegação, espírito de sacrifício, genero-
histórica a respeito da violência contra a mulher sidade são construídos como qualidades
e podemos observar que, mesmo estando em do “feminino”, se a dependência econômica
uma sociedade que é capaz de reconstruir con- e social, e a menoridade política e cultu-
tinuamente a compreensão da multiplicidade de ral são postas como condição “feminina”,
problemas que enfrentamos e a intersecção dos essas determinações, cremos, decorrem
mesmos, percebemos um crescimento considerá- da posição originária das mulheres como
vel nos casos de homicídio de mulheres, entre os seres para outrem. Sua condição de sujeito
anos de 1980 e 2013, conforme Gráfico 1, enfatizan- tem, pois, a peculiaridade de criá-las pela
do que essa realidade é cada vez mais marcante hetoronomia, pois o que são o são para ou-
e determinante das relações e papeis sociais. tros (que determinam os seus “atributos”)
e para os outros (aos quais os tributos são
enderaçados). (CHAUÍ, 1985, p. 47-48).
TRABALHO DOMÉSTICO Federici (2019) discute a perspectiva de que, após
a implicação do capitalismo como condicionante
Entendemos, de acordo com Chauí (1985), como de algumas sociedades9, a mulher passou a ter sua
a posição da mulher, perante a sociedade, é for- força de trabalho, anteriormente produtivo, para
jada dentro do espaço doméstico e privativo da servir ao capital com o trabalho reprodutivo – o
família, o que também acaba por condicioná-la às trabalho de manutenção da casa, da família e do
formas de viver e experimentar o espaço público homem, esse ainda com sua força de trabalho
e coletivo de maneira diferente, principalmente (produtivo) valorizada. Diante disso, no livro “O
por estarem fortemente ligadas, pelo seu papel
Ponto Zero da Revolução”, ela abordou, a partir de
social construído, ao trabalho doméstico.
diversos textos escritos, a importância do reco-
Definida como esposa, mãe e filha (ao con-
trário dos homens, para os quais ser mari- 9. Para mais sobre essa discussão, ver: FEDERICI, S. Calibã
do, pai e filho é algo que acontece apenas), e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação Primitiva. São
são definidas como seres para os outros e Paulo: Editora Elefante. 2017
EIXO TEMÁTICO 1 nhecimento do trabalho doméstico, assim como
essas possíveis transformações e relações entre
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO trabalho produtivo e reprodutivo, como forma de
alterar as sujeições e apropriações vivenciadas
pelas mulheres por parte do patriarcado.
reforçam o papel não remunerado da dona de casa; (5) mini- 13. “Para ser uma ponte, eles precisam começar a partir
mizar o trabalho doméstico não remunerado e o desperdício de experiências diferenciadas do que são alguns e outros
de energia; (6) maximizar escolhas reais para as famílias espaços. Portanto, supõe-se que as experiências em cada
em relação à recreação e sociabilidade.” [tradução nossa] uma delas apareçam claramente para as pessoas que cons-
EIXO TEMÁTICO 1 Essa contribuição de Del Valle pode dialogar dire-
tamente com os espaços de transição que Hayden
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO propõe no seu conceito HOMES, mesmo que Del
Valle não coloque enfoque na definição espacial
de seus “espaços-ponte”, mas sim no valor sim-
bólico que o mesmo carrega. Estabelecendo-
-se um comparativo entre os valores simbólicos
presentes em cada uma das teorias, é possível
observar que, para Hayden, os espaços de transi-
ção podem ter uma simbologia vinculada à busca
pela emancipação feminina e pela reconstrução
dos valores do comum e da divisão do trabalho
doméstico, desonerando a mulher de sua totali-
dade, compartimentando-o no grupo envolvido.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
566
REFERÊNCIAS Post-Feminism and Domesticity. In: HOLLOWS,
J; MOSELEY, R. (orgs). Feminism in Popular
CHAUÍ, M. Participando do debate sobre mulher Culture. Oxford: Berg Publishers, 2007.
e violência. In: Perspectivas Antropológicas
KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e
da Mulher: sobre mulher e violência. Vol. 4. Rio
relações sociais de sexo. In HIRATA, H.; FRAN-
de Janeiro. 1985.
ÇOISE L.; LE DOARÉ, H.; SENOTIER, D. Dicioná-
DEL VALLE, Tereza. ANDAMIOS PARA UMA rio Crítico do Feminismo. 1. ed. São Paulo: Ed
NUEVA CIEDAD: LECTURAS DESDE LA ANTRO- UNESP, 2009. Pg. 67-75
POLOGIA. Madrid: Ediciones Cátedra. 1997.
MARQUES, Helena Duarte. A LUTA DAS MULHE-
RES NUNCA MATOU NINGUÉM. O MACHISMO
FALÚ, Ana (org.). MUJERES EN LA CIUDAD: De
MATA TODOS OS DIAS. In Instituto Brasileiro
violencias y derechos. Santiago (Chile): Red
de Direito Urbanístico - IBDU Direito à Cidade:
Mujer y Hábitat de América Latina Ediciones
uma visão por gênero - São Paulo: IBDU, 2017.
SUR. 2009.
MIRAFTAB, F. InsurgêncIa, planejamento e a
FALÚ, Ana; OLGA, Segovia. (orgs.). CIUDADES
perspectIva de um urbanIsmo humano. REV.
PARA CONVIVIR: SIN VIOLENCIAS HACIA LAS
BRAS. ESTUD. URBANOS REG. (ONLINE), RECI-
MUJERES. Santiago (Chile): Ediciones SUR.
FE, V.18, N.3, p.363-377, SET.-DEZ. 2016
2007.
MUXÍ, Zaida. Ciudad Próxima. Urbanismo sin
FALÚ, Ana (orgs). Ciudades para varones y mu-
Género. Revista Ingeniería y Territorio, 75, pp.
jeres Herramientas para la acción. Argentina:
68-75. Barcelona, 2006.
M y M Impresiones. 2002.
MUXÍ, Zaida. Mujeres, casas y ciudades. Barce-
FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução:
lona: DPR. 2018.
trabalho doméstico, reprodução e luta. São
Paulo: Elefante, 2019. MUXÍ, Z. Ciudad Próxima, Urbanismo sin
género. La gestió del comerç més enllà de la
HAYDEN, Dolores. What Would a Non-Sexist
Regidoria de Comerç.17 de outubro de 2007.
City Be Like? Speculations on Housing, Urban
Design, and Human Work. Signs. Vol. 5, No. 3,
Spring, 1980, pp. S170-S187
NASCIMENTO, Flávia Brito et al. (orgs.). Domes-
HAYDEN, Dolores. What would a nonsexist city ticidade, gênero e cultura material. 1. ed. São
be like? Speculations on housing, urban design Paulo: Edusp - Editora da Universidade de São
and human work. Ekistics, 52(310), 1985. Pp. Paulo, 2017. v. 1. 432p .
99-107.
NASLAVSKY, G.; VALENÇA, M.L. AS “OUTRAS” DO
HELENE, Diana. Gênero e direito à cidade a OUTRO”: PIONEIRAS ARQUITETAS NO NORDESTE
partir da luta dos movimentos de moradia. BRASILEIRO: MIGRAÇÕES, GÊNERO E REGIONALIS-
Cad. Metrop., São Paulo, v. 21, n. 46, pp. 951- MO. Anais...13 Seminario Docomomo Brasil – Salva-
974, set/dez 2019. https://doi.org/10.1590/cm. dor, Bahia. 7 a 10 de outubro de 2019.
v21i46.41949
Organização Mundial da Saúde (OMS). Global and
HEYNEN, Hilde. Modernity and Domesticity: regional estimates of violence against women
tensions and contradictions. In: HEYNEN, H.; prevalence and health effects of intimate
BAYDAR, G. (orgs.) Negotiating Domestici- partner violence and non-partner sexual vio-
ty: spatial productions of gender in modern lence. Geneva: WHO; 2013.
architecture. UK, Abingdon, Routledge, 2005,
pp.1-29. ROSA, Edelnise Pellegrini. GÊNERO E HABITA-
ÇÃO: PARTICIPAÇÃO E PERCEPÇÃO FEMININA
HOLLOWS, J. Can I go home Yet? Feminism, NA CONSTRUÇÃO DE VIVERES. Dissertação
EIXO TEMÁTICO 1 (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em So-
ciologia Política da Universidade Federal de Santa
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO Catarina. Florianópolis, 2007.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
568
569
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Diante do crescimento e da consolidação do
campo de pesquisas sobre a história das cidades
vídeo-pôster no Brasil, no âmbito da Arquitetura e do Urba-
nismo, o presente trabalho propõe uma reflexão
sobre as possibilidades teóricas e metodológi-
CIDADES, PRÁTICAS, cas para o aprofundamento crítico desses es-
tudos. Compreendemos a cidade como um es-
SABERES: REFLEXÃO paço produzido material e simbolicamente pelo
conjunto da sociedade urbana, a partir de uma
TEÓRICO-METODOLÓGICA complexa e plural rede de práticas e saberes.
Apesar disso, observamos que as fontes de pes-
PARA ESTUDOS HISTÓRICOS quisa e as perspectivas mobilizadas pelos sabe-
res técnicos e acadêmicos tendem a prevalecer
nas investigações urbanas de cunho histórico.
CITIES, PRACTICES, KNOWLEDGE: THEORETICAL-
Há, ainda hoje, o predomínio de uma percepção
METHODOLOGICAL CONSIDERATIONS FOR HISTORY
hierárquica sobre os distintos conhecimen-
STUDIES
tos, assim como um entendimento da história
como um percurso linear e unidirecional rumo
CIUDADES, PRÁCTICAS, SABERES: REFLEXIÓN ao progresso e ao desenvolvimento. Por essas
TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA ESTUDIOS HISTÓRICOS razões, consideramos necessário explorar teo-
rias e métodos que possam contribuir para que
CRUZ, Giovana essas investigações abarquem as práticas e os
saberes populares dos múltiplos sujeitos ur-
Mestra em Arquitetura (PROARQ); PPGAU/UFF
banos que também criam e transformam coti-
giovanacruzalves@gmail.com
dianamente o espaço das cidades, assim como
as subjetividades, contradições e conflitos que
resultam desta complexa realidade urbana. O
comprometimento com a pluralidade de práti-
cas, saberes e sujeitos tem como perspectiva
o alargamento do nosso entendimento sobre as
cidades brasileiras e a ampliação das possibili-
dades para o seu presente e o seu futuro.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
570
ABSTRACT RESUMEN
Considering the growth and consolidation of the En vista del crecimiento y consolidación del cam-
research field on the history of cities in Brazil, po de investigación sobre la historia de las ciuda-
in scope of Architecture and Urbanism, this pa- des en Brasil, en el ámbito de la Arquitectura y el
per proposes a reflection on the theoretical and Urbanismo, este artículo propone una reflexión
methodological possibilities for the critical dee- sobre las posibilidades teóricas y metodológicas
pening of these studies. We understand the city para la profundización crítica de estos estudios.
as a space produced materially and symbolically Entendemos la ciudad como un espacio produci-
by the entire urban society, from a complex and do material y simbólicamente por el conjunto de
plural network of knowledge. Despite this, we ob- la sociedad urbana, a partir de una red compleja
served that the sources of research and the pers- y plural de prácticas y saberes. A pesar de esto,
pectives mobilized by technical and academic observamos que las fuentes de investigación y
knowledge tend to prevail in historical urban in- las perspectivas movilizadas por el conocimien-
vestigations. Even today, there is a predominance to técnico y académico tienden a prevalecer en
of a hierarchical perception of different knowle- las investigaciones históricas urbanas. Incluso
dge, as well as an understanding of history as a hoy en día predomina una percepción jerárquica
linear and unidirectional path towards progress de los diferentes conocimientos, así como una
and development. For these reasons, it is neces- comprensión de la historia como un camino lineal
sary to explore theories and methods that can y unidireccional hacia el progreso y el desarrollo.
contribute for these investigations to embrace Por estas razones, consideramos necesario ex-
the practices and popular knowledge of multiple plorer teorías y métodos que puedan contribuir
urban subjects who also create and transform the para que estas investigaciones engloben las
space of cities in their everyday lives, as well as prácticas y los saberes populares de múltiples
subjectivities, contradictions and conflicts that sujetos urbanos que también crean y transfor-
result from this complex urban reality. The com- man el espacio de las ciudades en su vida coti-
mitment to the plurality of practices, knowledge diana, así como subjetividades, contradicciones
and subjects aims to broaden our understanding y conflictos derivados de esta compleja realidad
about Brazilian cities and expand the possibilities urbana. El compromiso con la pluralidad de prác-
for their present and their future. ticas, saberes y sujetos tiene como objetivo am-
pliar nuestra comprensión de las ciudades brasi-
leñas y ampliar las posibilidades para su presente
HISTORY OF CITIES EVERYDAY LIFE PRACTICES y su futuro.
POPULAR KNOWLEDGE
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
584
BIBLIOGRAFIA FONTANA, J. Reflexões do fim da história, do além
do fim da história. In: História: análise do passado
ALMEIDA, J.; ROVAI, M. Introdução à história e projeto social. Bauru: Edusc, 1998, 267-281.
pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.
HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo:
CARPINTÉRO, M.; CERASOLI, J. “A cidade como Paz e Terra, 2016.
história”. História: Questões & Debates. Curitiba: LANDER, E. (Org.) A colonialidade do saber:
Editora UFPR, N. 50, janeiro-junho 2009, 61-101. eurocentrismo e ciências sociais perspectivas
latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano. Petró-
polis: Editora Vozes, 1998. LAO-MONTES, A.; VÁSQUEZ, J. D. Crítica de-
colonial de la filosofia y doble crítica em clave
CHAKRABARTY, D. “Postcoloniality and the Ar-
de Sur. In: MORAÑA, M. (ed.). Sujeto, decoloni-
tifice of History: Who Speaks for ‘Indian’ Pasts?”
zación, transmodernidad: debates filosóficos
Representations. Special issue: Imperial Fanta-
latino-americanos. Madrid: Iberoamericana
sies and Postcolonial Histories. Oakland, Univer-
Editorial Vervuert, 2018, 293-343.
sity of California Press, N. 37, Winter, 1992, 1-26.
LARA, S. “Os documentos textuais e as fontes
CHAKRABARTY, D. “¿Qué historia hacer para los do conhecimento histórico”. Revista Anos 90.
sectores dominados? Entrevista con Dipesh Porto Alegre: PPGH/UFRGS, V. 15, N. 28, de-
Chakrabarty”. Contrahistorias. La otra mirada zembro 2008, 17-39.
de Clío. Morelia, Morelia Editorial, N. 12, março-
-agosto 2009, 21-24. LEFEBVRE, H. A vida cotidiana no mundo mo-
derno. São Paulo: Editora Ática, 1991.
CRUZ, V. C. Geografia e pensamento descolo-
nial: notas sobre um diálogo necessário para LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo:
a renovação do pensamento crítico. In: CRUZ, Centauro Editora, 2011.
V. C; OLIVEIRA, D. A. (Orgs.). Geografia e giro
MARTINS, L. “Performances da oralitura: corpo,
descolonial: experiências, ideias e horizontes
lugar de memória”. Letras. Santa Maria: Pro-
de renovação do pensamento crítico. Rio de
grama de Pós-Graduação em Letras da UFSM,
Janeiro: Letra Capital, 2017, 15-36.
N. 26, junho 2003, 63-81.
ESCOBAR, A. “Sentipensar con la Tierra: Las
PORTO-GONÇALVES, C. W. De saberes e de
Luchas Territoriales y la Dimensión Ontológi-
territórios – diversidade e emancipação a partir
ca de las Epistemologías del Sur”. Revista de
da experiência latino-americana. In: CRUZ,
Antropología Iberoamericana. Madrid: An-
V. C; OLIVEIRA, D. A. (Orgs.). Geografia e giro
tropólogos Iberoamericanos en Red, V. 11, N. 1,
descolonial: experiências, ideias e horizontes
enero-abril 2016, 11-32.
de renovação do pensamento crítico. Rio de
FARIA, R. “História da Cidade, História do Ur- Janeiro: Letra Capital, 2017, 37-54.
banismo, História da Urbanização ou História
SAID, E. “Sobre la corriente de los Subaltern
Urbana? A interdisciplinaridade é o caminho
Studies”. Contrahistorias. La outra mirada de
para a pesquisa em Arquitetura e Urbanismo”.
Clío. Morelia, Morelia Editorial, N. 12, março-a-
Anais do 4º Seminário Nacional de Pesquisa e
gosto 2009, 25-30.
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo.
São Paulo, outubro 2015, 01-16. SANTOS, B. S. “Para uma sociologia das ausên-
cias e uma sociologia das emergências”. Revis-
FERNANDES, A.; GOMES, M. A. “História da ta Crítica de Ciências Sociais. Coimbra: CES/
cidade e do urbanismo no Brasil: reflexões UC, N. 63, outubro 2002, 237-280.
sobre a produção recente”. Revista Ciência e
Cultura. São Paulo: Sociedade Brasileira para THOMPSON, E. P. Intervalo: A lógica histórica. In: A
o Progresso da Ciência, V. 56, N. 2, abril-junho miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de
2004, 23-35. Janeiro: Zahar Editores, 1981, 47-62.
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O presente artigo propõe-se a examinar o papel
protagonista do urbanista francês Alfred Aga-
vídeo-pôster che na consolidação das discussões urbanísti-
cas entre 1927, quando vem ministrar palestras
no Brasil, até 1930, quando entrega seu Plano
CONFERÊNCIAS E PLANOS: para o Rio de Janeiro, período em que na capital
não estava plenamente instituído o Urbanismo
O PAPEL CATALISADOR enquanto disciplina círculos acadêmicos. É usa-
do como fonte um repertório composto por 63
DE AGACHE NO CENÁRIO recortes de jornais através dos quais buscam-
-se evidências das repercussões das questões
URBANÍSTICO CARIOCA levantadas pelo urbanista francês, bem como
os motivos que levaram à sua contratação.
(1927-1930)
HISTÓRIA CIDADE URBANISMO AGACHE
CONFERENCES AND PLANS: THE CATALYST ROLE OF
AGACHE IN THE RIO URBANISTIC SCENARIO
PROJETO
(1927-1930)
FONSECA, Thiago
Graduado em Arquitetura e Urbanismo – Universidade
Federal Fluminense
thiagosmfonseca@gmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
586
ABSTRACT RESUMEN
This article aims to examine the leading role of Este artículo tiene como objetivo examinar el
the french urban planner Alfred Agache in the papel principal del planificador urbano francés
consolidation of the urban discussions between Alfred Agache en la consolidación de las discu-
1927, when he came to give lectures in Brazil, until siones urbanas entre 1927, cuando llegó para dar
1930, when he delivered his Plan to Rio de Janeiro, conferencia en Brasil, hasta 1930, cuando entre-
a period in which the Urbanism was not fully es- gó su Plan a Río de Janeiro, un período en que la
tablished as a discipline in the academic circles capital el Urbanismo no estaba completamente
of the capital. A repertoire consisting of 63 news- estabelecida como disciplina en los círculos aca-
paper clippings is used as a source of evidences démicos. Un repertorio que consta de 63 recortes
of the repercussions of the issues raised by the de periódicos es utilizado como fuente a través
French urban planner, as well as the reasons that de la cual se busca evidencias de las repercusio-
led to his hiring. nes de los problemas planteados por el urbanista
francés, así como las razones que llevaron a su
contratación.
HISTORY CITY URBANISM AGACHE PROJECT
DIA/
EVENTO LOCAL TEOR FONTE
MÊS
“[...] frisou a conveniencia de ser ini-
O Paiz. Rio de
ciado um curso de urbanismo, onde
Janeiro: edição
os nossos architectos adquiram os co-
Visita à Escola Na- 15594, 1927, p. 2
01/07 ENBA nhecimentos hoje indispensáveis dos
cional de Belas Artes O Paiz. Rio de
embellezamentos urbanos, dos quaes
Janeiro: edição
decorrem todas as outras manifestações
15595, 1927, p. 4
das bellas artes no scenario da cidade”.
Presença de engenheiros, arquitetos, pro-
fessores, artistas e políticos, incluindo o
presidente. Começa sua fala dizendo que
não iria mudar a essência e a natureza
das coisas e que conhecia os planos dos O Paiz. Rio de Ja-
profissionais brasileiros elaborados nas neiro: edição 15590,
Conferência: “O Ur-
Theatro Muni- décadas anteriores. 1927, p. 27
04/07 banismo e a belleza
cipal Entre metáforas relacionando a cidade O Paiz. Rio de Ja-
das cidades”
ao corpo humano, faz referência a Haus- neiro: edição 15597
smann, elogiando os jardins oriundos – 15598, 1927, p. 2
de suas reformas enquanto pulmões de
Paris. Por fim, defende a construção da
figura do urbanista através do acúmulo de
conhecimentos relativos às cidades.
Afirma que no Rio não se conhecia de-
vidamente o papel do arquiteto, e disso
resultava a “feição incaracterística da
O Paiz. Rio de Ja-
urbs” e defende que o plano geral deve
neiro: edição 15600,
ficar sob responsabilidade de arquitetos,
1927, p. 2
Conferência: ‘”Mode- cooperando com os engenheiros.
O Paiz. Rio de Ja-
lo para um plano de Discorre que durante a elaboração do pla-
Theatro Muni- neiro: edição 15604
11/07 cidade - Varias pha- no deve-se evitar a monotonia; apresenta
cipal - 15605, 1927, p. 4
ses de uma realização ainda a opinião de que deve-se fazer a
Correio da Manhã.
urbanista” definição categórica dos bairros, como,
Rio de Janeiro: edi-
por exemplo, o bairro dos ricos, dos re-
ção 09965, 1927,
mediados e dos pobres. No final, ressal-
p. 5
tou a importância da fotografia aérea para
cadastro e fez projeções luminosas que
ilustravam sua fala.
Correio da Manhã.
Palestra: “Minhas
Estúdio do Radio Rio de Janeiro: edi-
12/07 primeiras impressões Transmitida via rádio
Club Brasil ção 09960, 1927,
do Rio de Janeiro”
p. 11
A convite da Liga Esperantista Brasileira
O Paiz. Rio de Ja-
e proferida em Esperanto. Defendeu a
neiro: edição 15603,
importância do planejamento urbano para
Conferência: “Urba- Sociedade de 1927, p. 2
15/07 evitar transtornos gerados pela desordem
nismo e Urbanistas” Geographia O Paiz. Rio de Ja-
o futuro. Foram exibidas projeções lumi-
neiro: edição 15610,
nosas dos seus planos para Dunkerque e
1927, p. 4
Paris.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
592
Expõe a questão das favelas, partindo
do princípio de que seus moradores de-
O Paiz. Rio de Ja-
vem ser necessariamente desalojados,
neiro: edição 15611
atendendo, no entanto, o direito de pro-
– 15612, 1927, p. 2
priedade. Depois disso, traça um paralelo
O Paiz. Rio de Ja-
entre tipos de cidade: a tentáculo, que
neiro: edição 15614,
Conferência “Cidades cresce entorno do Centro sem atender a
1927, p. 7
tentaculos e cidades um traçado prévio, tal qual Paris e Rio; a
Theatro Muni- Correio da Manhã.
20/07 satellites. Solução satélite, que gira em torno de uma cidade
cipal Rio de Janeiro: edi-
para as cidades jar- maior, como Niterói, e que deve ter boa
ção 09972, 1927,
dim” conexão com a principal; e a jardim, ar-
p. 6
borizada, rica em espaços públicos. Em
Correio da Manhã.
relação à última, entra em vários porme-
Rio de Janeiro: edi-
nores de suas características. No final, foi
ção 09973, 1927,
feita a exibição do filme “As Favellas”,
p. 3
de Mattos Pimenta.
Foi transmitida pela Rádio Sociedade.
O Paiz. Rio de Ja-
Conferência: “Paris à
23/07 Lycée Français - neiro: edição 15615,
travers les âges”
1927, p. 2
Discorreu sobretudo sobre como estavam
sendo elaborados os planos na França,
Conferência: “Como
focando na parte de diagnóstico, de O Paiz. Rio de Ja-
se ensina o urbanis-
reconhecimento de organização social neiro: edição 15616,
mo. Os novos metho-
Automóvel Club e características espaciais do objeto de 1927, p. 4
25/07 dos de photo-topo-
do Brasil estudo. Salientou a importância da inter- O Paiz. Rio de Ja-
graphia, applicados
venção da própria prefeitura municipal na neiro: edição 15618
ao estudo dos planos
elaboração dos planos e defendeu mais – 15619, 1927, p. 6
de cidades”
uma vez a criação de um curso específico
de Urbanismo.
Palestra: “O papel do Palestra transmitida via rádio e mediada O Paiz. Rio de Ja-
Estúdio da Rádio
30/07 architecto na socie- por Nereu Sampaio, presidente do Insti- neiro: edição 15623,
Sociedade
dade” tuto Central dos Arquitetos 1927, p. 8
Correio da Manhã.
Rio de Janeiro: edi-
03 a 07/08 Visita a São Paulo - Elaboração de estudos de orientação
ção 09985, 1927,
p. 5
Departamento de O Paiz. Rio de Ja-
Conferência sobre
27/08 Saúde de Recife - neiro: edição 15652
urbanismo
- PE 1927, p. 7
Correio da Manhã.
Segunda da série de duas conferências
Agosto Rio de Janeiro: edi-
Conferência Recife em Recife. Nessa época, afirmou come-
(?) ção 10009, 1927,
çar estudos de um plano para Recife
p. 1
A impressão causada pelas palestras foi de uma com o corpo, referindo-se a ela como “Mlle.” Ca-
forma geral bastante positiva nos meios de co- rioca, indicando que os problemas da urbe seriam
municação. Em resenha, por exemplo, O Paiz de- doenças num organismo que deveria funcionar de
fende que foi “perfeito serão de intellectualidade forma plena. Enfatizou ainda o papel do urbanista:
e bom gosto a primeira conferencia do illustre
Imaginemos uma cidade, onde se transi-
urbanista”8. Nessa primeira explanação, Agache
te folgadamente, onde se respira a livres
utiliza uma metáfora que seria ponto chave no
pulmões, onde se habite com segurança e
Plano de Remodelação: a comparação da cidade conforto. A esse conjunto de aprazimentos
falta, porém, o complemento de belleza: a
8. O Paiz. Rio de Janeiro: edição 15597 – 15598, 04 e 05 de esthetica da cidade. É neste passo que se
julho de 1927, p. 2 - “Urbanismo como Sciencia e como Arte” faz precisa a intervenção do urbanista, que
EIXO TEMÁTICO 1 deve ter o dom desse mester como têm os
poetas o de cantar. Nasce-se o urbanista
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO pela intenção dessa ordem dos problemas
e accrescenta-se a vocação, pelo conhe-
cimento das grandes cidades, das suas
agglomerações, que se apprehendem pelas
viagens.9
9. Ibidem.
16. O Jornal. Rio de Janeiro: edição 2753, 24 de novembro 17. O Jornal. Rio de Janeiro: edição 2775, 20 de dezembro
de 1927, p. 3 - “Associação Brasileira de Urbanismo”. de 1927, p. 20 - “Associação Brasileira de Urbanismo”.
EIXO TEMÁTICO 1 técnicos entram em polvorosa. Em 05 de agosto
de 1927, é publicado no Correio da Manhã um abai-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO xo assinado ao prefeito solicitando a constituição
de “comissão com o sr. Agache ou composta só
de profissionais brasileiros, destinada a elaborar
o plano geral da cidade do Rio de Janeiro” 18. Entre
os signatários, destacam-se Mattos Pimenta,
Nestor Figueiredo, Ângelo Bruhns, Cortez, Godoy,
Saboya, Marianno Filho e Henrique Vasconcelos.
CONCLUSÃO
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
604
605
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Este artigo discute perspectivas teóricas para
a crítica de projetos de infraestrutura de mobi-
vídeo-pôster lidade, dentro de uma cenário contemporâneo.
São destacados projetos de estações e termi-
nais do metrô, por serem espaços que com-
INFRAESTRUTURAS DE preendem um uso público, cotidiano, comum e
pedestre. Assim, propõe-se pensar critérios de
MOBILIDADE: REFLEXÕES análise que consideram sua dimensão urbana,
cultural e material. Em uma escala intermedi-
TEÓRICAS PARA UMA CRÍTICA ária entre o projeto arquitetônico e urbano, os
equipamentos de mobilidade podem constituir
DE PROJETO URBANO uma espacialidade pública mais além de sua
função de passagem e propiciar distintas for-
mas de integração ao espaço urbano entorno.
MOBILITY INFRASCTRUCTURES: CONSIDERATIONS ON
Além disso, são projetos que chamam a atenção
THEORY REGARDING AN URBAN DESIGN CRITIC
para a relação entre arquitetura e metrópole,
atravessando escalas de intervenção e planeja-
INFRAESTRUCTURAS DE MOVILIDAD: REFLEXIONES mento. Essas questões são discutidas a partir
TEORICAS PARA UNA CRÍTICA DE PROYECTO URBANO da perspectiva do arquitetos espanhóis Manoel
de Sola-Morales e Josep Maria Montaner, entre
GONÇALVES, Luísa outros, como forma de ampliar as chaves de in-
terpretação e análise da arquitetura e urbanis-
Doutora; FAUUSP
mo contemporâneos.
luisa.agtg@gmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
606
ABSTRACT RESUMEN
This article discusses theoretical perspectives Este artículo analiza las perspectivas teóricas
for criticizing mobility infrastructure projects, para criticar los proyectos de infraestructura de
within a contemporary setting. Projects of metro movilidad, en un entorno contemporáneo. Se des-
stations and terminals are highlighted, as they tacan los proyectos de estaciones y terminales
are spaces that comprise a public, daily, common de metro, por ser espacios que comprenden un
and pedestrian use. Thus, it is proposed to think uso público, cotidiano, común y peatonal. Así, se
about analysis criteria that consider its urban, propone pensar en criterios de análisis que con-
cultural and material dimension. On an interme- sideren su dimensión urbana, cultural y material.
diate scale between architectural and urban de- En una escala intermedia entre el diseño arqui-
sign, mobility equipment can constitute a public tectónico y urbano, los equipos de movilidad pue-
space beyond its function of passage and provide den constituir un espacio público más allá de su
different forms of integration with the surroun- función de paso y proporcionar diferentes formas
ding urban space. In addition, they are projects de integración con el espacio urbano circundan-
that call attention to the relationship between te. Además, son proyectos que llaman la atención
architecture and metropolis, crossing scales of sobre la relación entre arquitectura y metrópoli,
intervention and planning. These issues are dis- cruzando escalas de intervención y planificación.
cussed from the perspective of Spanish archi- Estos temas se discuten desde la perspectiva de
tects Manoel de Sola-Morales and Josep Maria los arquitectos españoles Manoel de Sola-Mo-
Montaner, among others, as a way of expanding rales y Josep Maria Montaner, entre otros, como
the keys to the interpretation and analysis of con- una forma de ampliar las claves de interpretación
temporary architecture and urbanism. y análisis de la arquitectura y el urbanismo con-
temporáneos.
O projeto de estações é também, nesse sentido, Com essas reflexões, destacamos algumas ca-
um “efeito que emerge do próprio campo”, dentro racterísticas dos sistemas de infraestruturas: sua
dos termos do conceito de campo do arquiteto abrangência pelo território; a forma como se dis-
Stan Allen (2013, p. 98) quando reinterpreta a rela- tribuem a partir de polos (e a importância desses
ção entre figura e fundo na cidade: “Se pensamos polos na articulação do território); a agregação de
a figura não como um objeto demarcado, lido so- atividades nesses polos; e a forma como articulam
bre um fundo estável, e sim como um efeito que escalas distintas. Podemos pensar no sistema de
infraestrutura urbana de circulação que o metrô
emerge do próprio campo – como momentos de
constitui, e nos equipamentos urbanos como
intensidade, picos ou vales dentro de um campo
as estações, que fazem essa conexão entre as
contínuo -, então é possível imaginar uma relação
escalas da infraestrutura urbana e a do bairro e
mais íntima entre figura e campo”.
da rua. Esses espaços de fluxos, que poderiam
Montaner (2008, p. 127) inclui em sua análise pro- ser apresentados ao uso público apenas em sua
jetos de Manuel de Solà-Morales, ressaltando tra- condição de canal, ganham complexidade e pro-
balhos que envolvem “nós” de mobilidade e fluxos piciam novos tipos de apropriação. É nas escalas
complexos: “O link é um dos patterns urbanos intermediárias que os objetos arquitetônicos se
básicos, e são, portanto, nós de grande densi- integram ao ambiente urbano, criando relações
dade que servem para costurar tecidos urbanos de continuidade.
limítrofes e reforçar fluxos em distintos níveis,
cruzamentos que introduzem uma nova seção
EIXO TEMÁTICO 1 DO PROJETO URBANO À METRÓPOLE
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Todo esse vocabulário que repensa o projeto con-
temporâneo está também em paralelo à ideia de
projeto urbano, mesmo que o termo não apareça
com tanta frequência. Para Manoel de Solà-Mo-
rales (1987), os prejuízos à urbanidade causados
pelo projeto urbano moderno (cristalizado na
Carta de Atenas) acarretaram uma descrença
generalizada1 no projeto de cidades.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
620
ABSTRACT RESUMEN
From our own experience, and also historically, Desde nuestra propia experiencia, e histórica-
the street signifies the vitality and quality of co- mente también, la calle significa la vitalidad y la
existence of its inhabitants. Place of struggles, calidad de la convivencia de sus habitantes. Lu-
revolts, revolutions and also celebrations. But it gar de luchas, rebeliones, revoluciones y, tam-
may be the last place where humans and their bién, de conmemoraciones. Pero ella puede ser
fragile, helpless bodies barely live. A population el último lugar donde humanos y sus cuerpos
invisible to public authorities and a large part of frágiles y desamparados viven mal. Una poblaci-
society, whose condition of living on the streets ón invisible a los poderes públicos y a gran par-
is seen as disposable lives, refuse, exposed to te de la sociedad, cuya condición de vivir en las
all risks, as now to the covid19. Lives considered calles es vista como vidas descartables, restos,
to be worthless seen like this by the eyes of the expuestos a toda clase de riesgo, como al Co-
cruelty that reaches perversion, in the current vid19. Vidas consideradas sin valor vistas así por
increase in evictions and violent repossessions los ojos de la crueldad que llega a la perversión,
of properties where thousands more are left with en el aumento actual de las expulsiones y reinte-
nowhere to go. In 2017 there were already 20,000 graciones de pose, con violencia, de propiedades
people living on the streets of Salvador, some of donde millares a más se quedan sin lugar a donde
which families with children, in the midst of en- ir. En 2017, em Salvador, ya eran 20.000 personas
vironmental and social conditions where their vivienda en las calles, parte de ellas com niño, en
fragile bodies are exposed. Public agencies that plena intemperie ambiental y social exponiendo
do not fulfill their constitutional responsibilities, sus cuerpos frágiles. Los órganos públicos no
thus also showing how part of the justice system cumplen sus responsabilidades constitucionales
shows their cowardice and villainy. mostrando, de esa forma, la cobardía y tiranía del
actual sistema de justicia.
O AVESSO DA RUA
A sobrecarga sobre o nosso sistema perceptivo e
nervoso parece não ter limites; as notícias sobre
THE STREET’S REVERSE fatos considerados chocantes, inaceitáveis e
injustos acontecem de modo acelerado. Falamos
EL LADO CONTRARIO DE LA CALLE de sobrecarga, cansaço, esgotamento, de não
aguentar mais, o burnout espreita a muitos de
nós. A sensação de vertigem no labirinto do real
não cessa, vai desde a avalanche de todo tipo de
pressão para nos convencer de que a suposta
ilegitimidade de alguns governantes se subs-
titui pela ilegitimidade de outros (não apenas
no Brasil e América Latina onde ainda ressoam
os tambores de guerra), até o incompreensível
“real” que nos propõem e quem a ela se somou.
A indistinção entre simulacro e realidade, muitas
vezes de modo intencional nos confunde sobre
qual atitude e ação tomar.
Deve-se observar, com efeito, que se a facul- O que é necessário e urgente? Trata-se de cons-
dade intelectual de compreender e a faculdade truir ao menos um horizonte de certeza e de se-
psicológica de aceitar, são no homem (como es- gurança que responda aos desafios práticos da
pécie), igualmente limitadas e definitivamente existência das pessoas, não aos fighting online
débeis, a falta da segunda pesa infinitamente hate, não as promessas vagas, uma promessa não
mais do que a falta da primeira. Enquanto incom- é o mesmo que uma garantia, sobretudo, quando
preensível, a realidade é apenas um embaraço falamos de direitos fundamentais, e não se trata
que irrita ocasionalmente a alma, mas não entra-
apenas de apontar culpabilidades e má-consci-
va o exercício ordinário da vida: assim cada um
ência. Tampouco se resume à uma questão de
se acomoda mesmo com dificuldade ao tempo,
imagem ou de tática eleitoral, é uma questão de
ao espaço, ao movimento que, embora sejam
Estado e requer outra forma de compromisso e de
noções que certamente tocam mais de perto o
responsabilidade constitucional, é grave que mi-
real, também são noções que ninguém jamais foi
lhões de pessoas não saibam o que vai acontecer
capaz de conceber nem de definir. Não acontece
com as suas vidas. A espoliação naturalizou-se.
o mesmo com a realidade quando é experimen-
É gravíssimo que morram milhares de pessoas
tada como intensamente dolorosa: opondo-se
de corona vírus no Brasil, porque assim decidiu
então a uma intolerância da parte daquele que é
o atual governo, abandonando-os, porque não
afetado por ela, quando, naquele que é impotente
para compreendê-la, suscita apenas um simples importam, porque não há, dizem, recursos para a
e passageiro estado de perplexidade. Em outras saúde e a educação. Podemos voltar as ruas dos
palavras, e repetindo: a realidade, se ultrapassar protestos e movimentos sociais, das insatisfações
a faculdade humana de compreensão, tem como como lugar específico da ira (diferente de ódio) e
outro e principal apanágio “exceder”, e isto em das revoluções.
todos os sentidos do termo, a faculdade humana
Não é apenas a sujeição do corpo, mas da sujei-
de tolerância.
ção da subjetividade e da dignidade e do modo
Quando se encontra incapacitada de afrontar a de morrer; o corona vírus mostrou isso, quem
realidade, a inteligência se contenta, na maioria pode ou não morrer, os que terão nome e lapide
das vezes, com um vago compromisso com o e quem não. Estrutura histórica, escravocrata,
real, com uma deliberação e uma postergação, que usa a lógica e uma força política para lidar
devendo estes serem deferidos para mais tarde. com essa população que pode desaparecer dado
Enquanto que, apanhada na mesma armadilha do o seu estatuto jurídico de “coisa”, sem direitos, e
real, a afetividade protesta e se retira; tal como que as submete ao medo mais elementar. O que
uma resistência, no sentido elétrico do termo, faz o desamparo diante da perversão, da infâmia
que vai pelos ares à passagem de uma corrente e da crueldade?
mais forte. Em caso de conflito grave com o real,
o homem que pressente, intuitivamente, que o
reconhecimento desse real ultrapassaria suas
forças e poria em perigo sua existência mesma,
vê-se obrigado a decidir-se, seja em favor do real,
seja em favor de si mesmo – pois nesse caso não
cabem mais evasivas.
EIXO TEMÁTICO 1 REFERÊNCIAS
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
HEDGES, Chris. The Collapse of the American
Empire. In: Centre for International Governance
Innovation. https://www.youtube.com/watch?v=-
csI8JLJ15Ak&list=LLQWGPrsSqC5tuk70ZW5T-
MIw&index=581. Acesso em: outubro de 2018.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
630
631
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
A partir da noção geral de campo de Bourdieu
(1983), objetivamos discutir neste texto, a for-
vídeo-pôster mação de um campo da consultoria em políticas
do urbano no Brasil. As políticas do urbano se
referem ao conjunto de ações do Estado sobre
O CAMPO DA CONSULTORIA o tecido urbano e de seus habitantes. O cam-
po da consultoria em políticas do urbano é um
NAS POLÍTICAS DO URBANO: espaço social, constituído por indivíduos e em-
presas, locais e internacionais; e dependente do
UM ESPAÇO RESTRITO investimento público. Esse campo se configura
como um nicho de mercado onde o monopólio
DE DECISÕES SOBRE A e o lucro estão em disputa, mas onde também
estão em jogo as tomadas de decisão sobre a
PRODUÇÃO DAS CIDADES produção das cidades. Para retratar a forma-
ção, crescimento e consolidação desse campo,
buscamos: identificar os capitais que regulam
THE CONSULTING FIELD IN URBAN POLICIES:
as suas posições centrais e relações de força;
A RESTRICTED SPACE OF DECISIONS ON THE
e resgatar o percurso histórico da formação do
PRODUCTION OF CITIES
campo como um espaço de relações onde se
produz este saber técnico, que trata de um co-
EL ÁMBITO DE LA CONSULTORÍA EN POLÍTICAS
nhecimento dominante, institucionalizado, com
URBANAS: UN ESPACIO RESTRINGIDO DE DECISIONES
aparência de ciência.
SOBRE LA PRODUCCIÓN DE CIUDADES
POLÍTICA URBANA
BARBOSA, Bárbara Lopes
CONSULTORIA EM POLÍTICAS DO URBANO
doutoranda; IPPUR/UFRJ
blb.arq.urb@gmail.com TERCEIRIZAÇÃO PLANEJAMENTO URBANO
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
632
ABSTRACT RESUMEN
Based on the general notion of field by Bourdieu A partir de la noción general de campo de Bour-
(1983), the objective is to discuss in this text, the dieu (1983), el objetivo de este texto es discutir la
formation of a field of urban policy consultancy in formación del campo de la consultoría en políti-
Brazil. Urban policies are characterized by the set cas urbanas en Brasil. Las políticas de lo urbano
of State actions on the urban fabric and its inha- se caracterizan por el conjunto de acciones del
bitants. The field of urban policy consultancy is a Estado sobre el tejido urbano y sus habitantes.
social space, consisting of companies and com- El campo de la consultoría en políticas de lo ur-
panies, local and international; and dependent bano es un espacio social, constituído por indi-
on public investment. This field is configured as viduos y empresas, locales e internacionales; y
a market niche where monopoly and profit are in dependiente de la inversión pública. Ese campo
dispute, but where the decision on the production se configura como un nicho de mercado donde el
of cities is also at stake. To portray the formation, monopolio y el lucro están en disputa, pero donde
growth and consolidation of this field, we seek to: la toma de decisiones sobre la producción de las
identify the capitals that regulate their central ciudades también está en juego. Para retratar la
positions and relations of strength; and to rescue formación, el crecimiento y la consolidación de
the historical path of the formation of the field ese campo, buscamos: identificar las capitales
as a space of relationships where this technical que regulan sus posiciones centrales y sus rela-
knowledge is produced, which deals with domi- ciones de fuerza; y rescatar el camino histórico
nant, institutionalized knowledge, with the appe- de la histórico de la formación del campo como
arance of science. un espacio de relaciones donde se produce este
saber técnico, que se trata de un conocimiento
dominante, institucionalizado, con apariencia de
URBAN POLICY URBAN POLICY CONSULTING ciencia.
OUTSOURCING URBAN PLANNING
POLÍTICA URBANA
CONSULTORÍA EN POLÍTICAS URBANAS (O DE LO URBANO)
TERCERIZACIÓN DE LA PLANIFICACIÓN URBANA
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O planejamento das ações e políticas do urbano
no Brasil são práticas onde as concepções de
cidade estão em disputa. Nesse espaço social,
vídeo-pôster
indivíduos, coletivos e instituições buscam a cen-
tralidade nas decisões que orientam a produção
2. O conceito de Habitus de Bourdieu consiste em um siste- Foi a partir de 1945, com a fundação da Faculdade
ma de disposições, que busca mediar de maneira dialética a Nacional de Arquitetura no Rio de Janeiro, que
estrutura social e a agência que constituem historicamente os cursos de arquitetura, geralmente alocados
um agente. (Bourdieu, 1984). dentro da Faculdade de Engenharia ou nas Politéc-
EIXO TEMÁTICO 1 nicas, começaram a ser separados, contribuindo
para o fortalecimento da ideia de que o projeto
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO seria uma atribuição dos arquitetos e urbanistas.
Nesse interim, os campos profissionais da enge-
nharia e arquitetura se ampliaram e a engenharia
consultiva ganhou espaço.
9. Ver: https://transparencia.caubr.gov.br/presidencia/.
Acesso 15/07/2020.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
646
ABSTRACT RESUMEN
In this article, we contribute with elements for a En este artículo contribuimos con elementos
critical update on the historiographical appro- para una actualización crítica sobre los aborda-
aches of housing estates produced during the jes historiográficos de los conjuntos habitaciona-
institutional complex consisting of the Sistema les producidos en la vigencia del complejo insti-
Financeiro da Habitação/Banco Nacional da Ha- tucional del Sistema Financeiro da Habitação/
bitação/Companhias de Habitação (SFH/BNH/ Banco Nacional da Habitação/Companhias de
COHABs), from 1964 to 1986. The housing set ob- Habitação (SFH/BNH/COHABs), de 1964 a 1986. El
ject - whose urban form has its genesis at the end objeto conjunto habitacional – forma urbana con
of the 19th century - has been treated differently in génesis en finales del siglo XIX – ha sido tratado
the historiography of architecture and urbanism diferentemente en la historiografía de la arqui-
in Brazil, according to the political regimes that tectura y del urbanismo en Brasil, según los regí-
served as a device of collective accommodation menes políticos que de ello se han servido como
for the popular classes. We explored a historio- dispositivo de alojamiento colectivo para las
graphical context in which the housing complex clases populares. Exploramos un contexto histo-
is mostly a negative element in urban policy since riográfico donde el conjunto habitacional consta
1964. In spite of two dictatorships (1937-1945, in mayoritariamente como elemento negativo en
the first Vargas government, and 1964-1985, in the la política urbana a partir de 1964. Aunque hayan
military regime) and, whereas in the democratic ocurrido dos dictaduras (1937-1945, en el primero
period, from 1946 to 1964, there were also bans, gobierno Vargas, y 1964-1985, en el régimen mili-
proscriptions, exiles and arrests of left-wing mi- tar) y, aunque en el período democrático de 1946
litants also, the sets produced between 1930 and a 1964 también hayan ocurrido proscripciones,
1964 have already been the subject of a historio- exilios y prisiones de militantes de izquierda, los
graphy with a high level of exemption in relation conjuntos producidos entre 1930 y 1964 ya han
to historiographical judgments. The “BNH” sets, sido objeto de una historiografía con alto nivel de
vector of expansion of cities promoted from the exención en relación a los juicios historiográficos.
housing and urban policy of the military period, Los conjuntos “del BNH”, vector de expansión de
are still waiting, including due to the current de- las ciudades a partir de la política de vivienda y
mands for rehabilitation, an inventory of their urbana del período militar, aún están esperando,
production, linked to the objectives expressed in incluso en función de las demandas actuales de
the integrated planning, which officially occur- rehabilitación, un inventario de su producción
red from 1964, whose premises, both of plans and vinculada a los objetivos expresos en el planea-
sets, are still quite present in sectors of the tech- miento integrado, con vigencia oficial a partir de
nical culture of the fields of urban planning and 1964, cuyas premisas, de planos y de conjuntos,
social housing. aún están presentes inercialmente en sectores
de la cultura técnica de los campos del planea-
miento y de la vivienda social.
HOUSING SETS SFH/BNH/COHABS URBANISM
HISTORIOGRAPHY SÃO PAULO STATE
CONJUNTOS DE VIVIENDA SFH/BNH/COHABS
URBANISMO HISTORIOGRAFÍA ESTADO DE SÃO PAULO
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Este artigo objetiva contribuir para a construção de
diálogos historiográficos, possibilidade aberta pela
proposta de debates no XVI SHCU, levantando ques-
vídeo-pôster
tões teórico-metodológicas para uma atualização
crítica sobre a produção de conjuntos habitacionais
A escrita sobre as políticas habitacionais neste Algumas abordagens sobre a habitação social no
terceiro tempo reposicionou as já então conso- Brasil de 1930 a 1980 no quadro latino-america-
lidadas críticas ao período BNH a partir da con- no encontram-se em Aravecchia-Botas (2016);
sideração de que se estaria reeditando “erros” Koury (2016); Ferrari (2018); Huapaya Espinoza
do passado no novo programa, prática historio- (2014) e Morais (2016), este considerando vigente
gráfica em que “a ideia que a história ensina, que a função da “habitação em grande escala” para
os exemplos do passado informam o presente, e grandes metrópoles. A ampliação para o âmbito
também permitem governá-lo, percorre ainda ibero-americano se fortalece com a criação da
numerosos pensamentos ou escritos contempo- Associação Ibero-americana de História Urbana
râneos” (OFFENSTADT, 2001, p. 11). A passagem é (AIHU), em 2013, tendo realizado dois Congressos
da mesma forma indicativa do que Lucien Febvre Ibero-americanos de História Urbana (CIHU), em
considera como “’história contemporânea’, porque 2016 e 2019. Na Espanha, Moya González (1983)
é produzida na própria época do historiador, de é referência realizando inventário de conjuntos
acordo com as suas demandas e possibilidades” produzidos em Madri durante a ditadura (1939-
(BARROS, 2018, p. 203, aspas no original). 1975), como aporte para a construção da crítica
aos grandes conjuntos na articulação dos campos
Uma historiografia crítica à produção da habitação disciplinares das ciências sociais e da arquitetura
social pelo Estado a partir de 1930 foi construída e do urbanismo.1
por “pioneiros” como Azevedo e Andrade (1981); Fa-
rah (1983); Melo (1990); Bonduki (1998); Bruna (2010); Para as ditaduras na América Latina, Doerr (2017)
Vaz (2002), Correia (2004), que abordaram a Era realiza análise comparativa de políticas habita-
Vargas, entre 1930-1945 e entre 1946-1964, anali- cionais, ampliando os casos do Chile (1973-1990)
sando a produção habitacional na chave do ideário e do Brasil, repercutindo a historiografia brasi-
moderno em que se inseria essa produção e nos leira sobre o BNH nos seus aspectos negativos,
componentes sócio econômicos das políticas pra- sobretudo o limitado atendimento à demanda de
ticadas. Recentemente, em trabalho organizado mais baixa renda e a inserção urbana periférica e
por Rezende (2012) para o período 1930-1945, há desqualificada, avançando na construção de um
uma série de análises sobre os componentes de quadro mais amplo para a compreensão de seu
transformação urbana a partir da transformação desenvolvimento, de forma vinculada ao combate
do próprio Estado brasileiro. Desdobramentos
desse quadro são trabalhos como os de Aravec-
1. Nos anais do I CIHU, em várias mesas temáticas aprofun-
chia-Botas (2016); Bonduki e Koury (2014); Ferrari dam-se análises sobre políticas públicas durante ditaduras
(2013); outros têm expandido a análise da produ- e das condições específicas do desenvolvimento da Arqui-
ção do período 1964-1986: Melo (1991); Bonduki tetura e do Urbanismo sob esses regimes. Disponível em
e Koury (2010); Sanvitto (2010); Medeiros (2018); http://media.wix.com/ugd/ea4362_3fe99cb8c2cf45929fa-
Negrelos (2019; 2014); Ferrari e Negrelos (2013). 4da421b621b80.pdf
EIXO TEMÁTICO 1 ao comunismo e o papel dos EUA na ocorrência
dos golpes militares no continente.
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Na articulação entre políticas e econômico-finan-
ceira destacam-se as abordagens tecnológicas,
da construção e do trabalho, em geral as mais
exploradas na maior parte dos trabalhos mais
citados; dentre eles destacamos, com origem
nas ciências política, econômica e social: Singer
(1963); Azevedo e Andrade (1982), Azevedo (1988),
Bolaffi (1972; 1979; 1983); Arretche (1990); Farah
(1992, 1996).
3. O site http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br está 4. Documento organizado por João Ricardo Serran, quando
aberto publicamente para contribuições. dirigia a entidade o arquiteto Miguel Alves Pereira.
EIXO TEMÁTICO 1 tos da Presidência da República ao Projeto de Lei
2006/64”, “Conclusões da mesa redonda sobre
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO política habitacional” (1966) e “Resposta à Comis-
são Especial do Congresso Nacional” (1967). Pela
data do documento, pode-se inferir as inúmeras
tentativas de interferir no processo de produção
habitacional com propostas da cultura técnica
envolvida nas lutas do IAB, em que pese a sensível
perda da função social desse profissional a partir
do golpe militar. (NEGRELOS, 2019).
CAMPOS, P.H.P.C. Estranhas catedrais. As em- _______. Projetos de habitação popular como
preiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, projeto de cidade: os conjuntos habitacionais
1964-1988. Rio de Janeiro: EDUFF, 2015. dos IAP na Grande São Paulo de 1930 a 1964.
Dissertação (Mestrado) – IAU-USP, São Carlos,
CANTERO, J.A. A questão da qualidade ar- 2013.
quitetônica dimensional e do custo no pla-
nejamento habitacional de interesse social. FERRARI, C.; NEGRELOS, E.P. “Resiliência de
A produção da COHAB-SP na década de 1990. tipologias habitacionais e urbanas do aloja-
Dissertação (Mestrado) - FAU-USP, São Paulo, mento popular no Brasil”. Anais XV ENANPUR
2004. - Encontro Nacional da ANPUR - Desenvolvi-
mento, planejamento e governança - 30 anos
CASTRO, C.M.P. Papel da tecnologia na pro- da ANPUR. Recife, PE, 2013.
dução da habitação popular: estudo de caso:
conjunto habitacional José Bonifácio. Disser- ________. “Alianças e rupturas entre aparato
tação (Mestrado) - EESC-USP, São Carlos, 1985. estatal, profissionais e indústria da construção
na produção habitacional no Brasil na década
CORREIA, T.B. A construção do habitat mo- de 1960”. Anais. Seminario Internacional Pro-
derno no Brasil – 1870-1950. São Carlos: RiMa, fesionales, Expertos y Vanguardia: la cultura
2004. arquitectónica em el Cono Sur. Rosario: Uni-
versidad Nacional del Litoral, 2018.
DOERR, M.B. Política habitacional e ditadura
militar: análise comparada entre Chile e Brasil. FERRO, S. Casa Popular. São Paulo: GFAU,
In: CARDOSO, A.L.; ARAGÃO, T.A.; JAENISCH, 1972.
S.T. (orgs.). Vinte e dois anos de política ha-
bitacional no Brasil: da euforia à crise. Rio de FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de
Janeiro: Letra Capital: Observatório das Metró- Janeiro: Graal, 1979.
poles, 2017, pp. 155-177.
HARTOG, F.; REVEL, J. (orgs.); Les usages poli-
FARAH, M.F.S. “Estratégias de adaptação à tiques du passé. Paris: EHESS, 2001.
crise: tendências de mudança no processo de
trabalho na construção habitacional.” In: RI- IEI-UFRJ – Instituto de Economia Industrial.
BEIRO, L.C.Q.; AZEVEDO, S. A crise da moradia Sistema Financeiro da Habitação e progra-
nas grandes cidades: da questão da habita- mas habitacionais alternativos: diagnóstico e
ção à reforma urbana. Rio de Janeiro: Editora perspectivas. Núcleo de Pesquisas em Políti-
UFRJ, 1996, pp. 49-72. cas Urbanas, Rio de Janeiro: IEI-UFRJ, 1989.
EIXO TEMÁTICO 1 INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL – CON-
SELHO SUPERIOR. O IAB e a Política Habita-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO cional Brasileira. Brasília, 1976.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
668
ABSTRACT RESUMEN
This work presents the historical path of the resi- Este trabajo presenta el camino histórico de la
dential window, seeking to understand the evolu- ventana residencial, buscando comprender la
tion of its functional aspects over time. It starts evolución de sus aspectos funcionales a lo largo
from the understanding that this element is part del tiempo. Se parte de la comprensión de que
of an architectural complex with influence in the este elemento es parte de un complejo arquitec-
urban space, and that, therefore, it cannot be tónico con influencia e el espacio urbano, y que,
studied in isolation from these two contexts. The por lo tanto, no se puede estudiar de forma aisla-
view is panoramic, with the exhibition of four im- da de estos dos contextos. La vista es panorámi-
portant phases in the history of the window: sin- ca, con la exposición de cuatro fases importan-
gle opening, emancipation, the full window and, tes en la historia de la ventana: aperture única,
finally, its decline and dispensability. The study emancipación, ventana complete y, finalmente,
goes through prehistory, from the Paleolithic tent su declive y prescindibilidad. El studio pasa por la
to the first Neolithic villages; the ancient cities, prehistoria, desde la tieda del Paleolítico hasta las
from the civilizations of Mesopotamia, Assyria primeras aldeas neolíticas; las ciudades antiguas
and Babylon to the Greek and Roman cities; me- desde las civilizaciones de Mesopotamia, Asiria y
dieval cities; and, finally, the Renaissance cities, Babilonia hasta las ciudades griegas y romanas;
when the window becomes an important element ciudades medievales; y, finalmente, las ciudades
in the composition of the façade and the aes- renascentistas, cuando la ventana se convierte
thetics of the street. Then there is the disappe- en un elemento importante en la composición de
arance of the residential window in some houses la fachada y la estética de la calle. Luego está la
at the beginning of the industrial period in cities desaparición de la ventana residencial en algu-
like London and New York, which seem to foresee nas casas al comienzo del período industrial en
their functional decline in contemporary cities. ciudades como Londres y Nueva York, que pare-
cen prever su declive functional en las ciudades
contemporáneas.
HISTORY CITY URBANISM LANDSCAPE
WINDOW
HISTORIA CIUDAD URBANISMO PAISAGE
VENTANA
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Ao imaginarmos uma casa, um edifício ou até
mesmo uma cidade, no cenário formado em nossa
mente, instantaneamente, desponta a janela, um
vídeo-pôster
elemento do cotidiano que dificilmente se desas-
socia do nosso imaginário arquitetônico e urbano.
As funções da janela
Figura 1: Linha do tempo da evolução funcional das janelas. Fonte: Autoras (2019).
EIXO TEMÁTICO 1 Fase 1: Abertura única
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Durante o paleolítico, os grupos humanos eram
nômades com estadias temporárias em alguns
locais que permitissem a sobrevivência. Quando
necessário, se protegiam em grutas ou construí-
am abrigos com galhos e peles de animais. Viviam
da caça e da pesca, com poucas atividades preci-
sando de um teto, por este motivo tinham pouca
necessidade de ambientes fechados iluminados.
Na maioria das vezes, as tendas e cabanas que
construíam possuíam uma única abertura, com
dimensões mínimas para entrada das pessoas,
para evitar perda de calor nos períodos de frio e
dar alguma proteção contra a entrada de animais
indesejados. Em algumas tendas havia uma se-
gunda abertura localizada no topo para permitir a
saída da fumaça das fogueiras, quando localizadas
no interior dos abrigos.
Figura 5: Evolução da planta dos apartamentos de aluguel para famílias de baixa renda. A plantas mostram que nos projetos
iniciais as janelas existiam apenas nos cômodos da frente e dos fundos. Tenement House Commission Report of 1895. NYC
Municipal Library. https://www.archives.nyc/blog/2019/5/16/the-early-tenements-of-new-yorkdark-dank-and-dangerous
EIXO TEMÁTICO 1 Embora as questões insalubres de moradia, nesse
período houve um expressivo desenvolvimento
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO da tecnologia, com o ferro e o vidro sendo mais
explorados, abrindo novas possibilidades na ar-
quitetura das janelas. Segundo Couto (1983), nesse
período, “São oferecidos os meios materiais para
que o espírito iluminista construísse o território
autônomo da janela. Estavam presentes todas as
condições para um processo de experimentalismo
formal na arquitetura, ancorado na possibilidade
de redimensionamento dos vãos e das aberturas”.
conclusões
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
682
ABSTRACT RESUMEN
This paper aims to present the first results of an Este artículo tiene como objetivo presentar los
ongoing research on two personalities who were primeros resultados de una investigación en cur-
pioneers in entrepreneurship proposals in the so sobre dos personalidades que fueron pioneras
field of housing construction for proletarians, en propuestas de emprendimiento en el campo
workers and poor classes in the last decades of de la construcción de viviendas para proletarios,
the 19th century and the early 20th century: Amé- trabajadores y clases pobres en las últimas déca-
rico de Castro, director of Companhia Evoneas das del siglo XIX y primeras del siglo XX: Améri-
Fluminense, and Arthur Sauer, director of Com- co de Castro, director de la Companhia Evoneas
panhia de Saneamento do Rio de Janeiro. Both Fluminense, y Arthur Sauer, director de la Com-
actions were based on the public policy of gran- panhia de Saneamento do Rio de Janeiro. Ambas
ting favors for the construction of those houses acciones se basaron en la política del Estado de
in the period, not only in the city of Rio de Janeiro, otorgar favores para la construcción de casas de
where they were based, but also in other Brazilian trabajadores en el período, no solo en la ciudad de
cities. This paper intends, though in a preliminary Río de Janeiro, donde tenían su sede, sino tambi-
stage, to enlight the networks that involved the- én en otras ciudades brasileñas. Este trabajo tie-
se subjects and discussing the legal aspects, on ne la intención, incluso de manera preliminar, de
which their actions were based. arrojar luz sobre las redes que involucraron estos
temas, aún discutiendo los aspectos legales, en
las que se basaron sus acciones.
HOUSING RIO DE JANEIRO CITY LAW
HABITAÇÃO, EMPRESARIAMENTO e
INFRAESTRUTURA URBANA
A questão habitacional foi forjada a partir de ques-
tões concretas do cotidiano da cidade, sobretudo
da percepção do problema de suas condições
sanitárias e do desejo de modernização de seus
espaços. Ela não estava atrelada exclusivamente
à pobreza, mas à dinamização urbana, que incluía
tanto as indústrias como a prestação de serviços
e a formação de uma camada média diversificada.
Ela foi, contudo, identificada à carestia de habita-
ção para as classes mais pobres e foi formulada
associando essa moradia aos problemas urba-
JANNUZZI, A. Pelo povo. Monografia sobre as __________. Dos cortiços aos condomínios
casas operarias apresentada ao IV Congresso fechados: as formas de produção da moradia
Médico Latino-Americano. Rio de Janeiro: Jor- na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
nal do Commercio, 1909. Civilização Brasileira: IPPUR/UFRJ: FASE, 1997.
__________. Esfôrço historico do problema da ROLNIK, R. Cada um no seu lugar: São Paulo,
construcção de casas populares na cidade do início da industrialização, geografia do poder.
Rio de Janeiro: o progresso do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Estrutura Ambien-
Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1927. tais Urbanas) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo. São
LOBO, E. M. L. História do Rio de Janeiro (do
capital comercial ao capital industrial e finan- Paulo, 1981.
ceiro). 2 vol. Rio de Janeiro: IBMEC, 1978.
SAMPAIO, M. R. A. O papel da iniciativa privada
__________ (coord.). Rio de Janeiro Operário: na formação da periferia paulistana. Espaço e
natureza do Estado, a conjuntura econômica, Debates. São Paulo, n. 37, pp. 19-33, 1994.
condição de vida e consciência de classe, 1930-
SENADO IMPERAL. Annaes do Senado do Im-
1970. Rio de Janeiro: Access, 1992.
perio do Brazil. Livro 3 anno de 1880. [s.l.]: Se-
MATTOS, R. C. Pelos pobres! As campanhas cretaria Especial de Editoração e Publicações,
pela construção de habitações populares e o [1880]. Disponível em: <https://www.senado.
discurso sobre as favelas na Primeira Repúbli- leg.br/publicacoes/anais/pdf/Anais_Impe-
ca. Tese (Doutorado em História Social) – Pro- rio/1880/1880%20Livro%203.pdf>. Acesso em:
grama de Pós-Graduação em História, Univer- 30/01/2020.
sidade Federal Fluminense. Niterói, 2008.
SODRÉ, N. W. História da imprensa no Brasil.
PECHMAN, R. M.; RIBEIRO, L. C. Q. “A Companhia 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
de Saneamento do Rio de Janeiro: contribuição
à história da formação do capital imobiliário”. VAZ, L. F. Modernidade e Moradia: habitação
Revista Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v.1, n.1, coletiva no Rio de Janeiro séculos XIX e XX. Rio
pp. 105-113, set./dez. 1985. de Janeiro: 7Letras, 2002.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
700
ABSTRACT RESUMEN
This article deals with the articulation between Este artículo trata de la articulación entre los
the fields of conservation, urban planning and campos de la conservación, el urbanismo y el
the notion of cultural tourism through the analy- concepto de turismo cultural a través del análisis
sis of the Integrated Development Plan (PDLI) of del Plan de Desarrollo Integrado (PDLI) de Olinda,
Olinda, completed in 1972. This document, com- finalizado en 1972. Este documento, finalizado en
pleted in 1972, had its preparation coordinated 1972, tiene su elaboración y coordinación finan-
and financed by the Federal Housing and Urban ciada por el Departamento Federal de Vivienda y
Planning Service (Serfhau), through the consul- Urbanismo (Serfhau), a través de consultoría de la
tancy of the Civil Planning Society (Sociplan), in Sociedad de Planificación Civil (Sociplan), además
addition to the Department of Architecture at the del Departamento de Arquitectura de la Universi-
Federal University of Bahia (UFBA) and other con- dad Federal de Bahía (UFBA) y otros consultores
sultants specialized in the subject. The common especialistas no disciplinarios. La investigación
historical investigation contextualizes the circu- histórica ha permitido contextualizar la circula-
lation of ideas at the national and international ción de ideas no nacionales e internacionales,
levels, in addition to the institutional context of además del contexto institucional de los años se-
the 1960s, which are reflected in the PDLI of Olin- senta, que se refleja en el PDLI de Olinda. Además
da. In addition to a reducing vision centered on de una visión reductiva centrada en la eficiencia
the effectiveness or otherwise of the Olinda PDLI, o el PDLI de Olinda, se asume que representa una
the hypothesis that it represents a convergence convergencia de nociones y prácticas en debate
of notions and practices under debate since the desde la década de 1960 y se configura como un
1960s is accepted and is configured as an impor- importante instrumento de planificación y con-
tant planning and conservation instrument that servación que orientó la gestión municipal. no
guided municipal management in dealing with se ocupó del sitio histórico. En este sentido, el
the historic site. In this sense, the Olinda PDLI is PDLI de Olinda aparece como telón de fondo de
presented as a backdrop for a narrative that is in- la narrativa que se pretende construir, con el fin
tended to be built, with a view to understanding de comprender cómo se relaciona el campo de
how the field of conservation is linked to urban la conservación con el urbanismo, con miras a la
planning, with a view to the tourist and economic exploración turística y económica del patrimonio
exploration of cultural heritage. cultural.
704
foi explorado suficientemente” e é lembrado como
“matéria prima”, que poderá promover o desenvol-
vimento de uma atividade turística, “compatível
com o seu potencial e capaz de se transformar em
uma fonte de renda substancial para o município”.
3. TÉCNICOS apontam a Olinda caminho para seu 7. Em sua forma final, o Plano foi apresentado em oito volu-
desenvolvimento. Diário de Pernambuco, Recife, 18 out. 1970. mes, contendo: Volume I (Tomos I e II): análise da situação e
EIXO TEMÁTICO 1 tórico apresenta-se de forma quase independen-
te do restante do município, dispensando a ele
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO estudos específicos. Por exemplo, no Volume I,
ao tratar do “Problema Habitacional” de Olinda, o
texto não inclui o sítio histórico, abordando apenas
o restante do município e a questão dos novos e
grandes conjuntos habitacionais do BNH cons-
truídos próximos ao limite com o Recife. Já no
Volume II, nas diretrizes para o setor histórico, há
um item específico sobre o sistema viário, sepa-
rado das diretrizes para o sistema viário de todo
o município. Dessa forma, fica claro o peso que
foi dado ao sítio histórico, dada sua importância
e capacidade de dinamizar o município.
16º SHCU
8. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Departamento
30 anos . Atualização Crítica
de Assuntos Culturais. Anais do II Encontro de Governadores.
708 Rio de Janeiro, 1973, p. 148.
Figura 2: Mapa do zoneamento definido pelo PDLI de Olinda anexo a Lei Municipal Nº 3826 – Legislação Básica Urbanística.
Fonte: PMO, 1973 (Acervo de André Pina).
O Setor 6 foi subdividido em três zonas. Na Zona de to paisagístico do conjunto” de modo a criar um
Preservação Rigorosa, que corresponde à área escalonamento das edificações cujo objetivo é
de maior densidade monumental e de elementos a conservação da visibilidade do sítio histórico
naturais, considerada non aedificandi9 , foram (PMO, 1972, p. 11-12, v. 2).
previstas ações de “restauração de edifícios e
logradouros, jardins e áreas verdes segundo as Além da referência às recomendações de Quito,
normas do IPHAN”, o que incluiria a “eliminação o zoneamento proposto indica uma preocupação
dos anexos sem mérito arquitetônico”. A Zona de em separar as áreas predominantemente urbanas
importância ambiental é aquela “que apresenta das áreas com maior presença de vegetação,
um arranjo volumétrico e florístico que importa tanto na Zona de Preservação Rigorosa, como na
preservar, ainda que admitida uma maior flexi- Zona de importância ambiental. Embora agrupe
bilidade nas adaptações de imóveis não repre- numa única lei, o tratamento para cada zona, ex-
presso na forma de diretrizes e parâmetros, é mais
sentativos de época histórica relevante e sujeita
específico a suas particularidades. A frequente
a vínculos especiais” (PMO, 1972, p.39-42, v.2). E
relação das proposições do PDLI de Olinda com a
a Zona de preservação da visibilidade urbana
legislação italiana pode ser justificada pelas expe-
e paisagem, que corresponde à “área na qual a
riências anteriores do arquiteto Paulo Ormindo de
ocupação, disposição e alturas das edificações
Azevedo naquele país, no final da década de 1960.
devem assegurar a visibilidade e molduramen-
As recomendações indicadas apresentam relação
9. Com exceção das novas construções ou ampliações com as medidas técnicas propostas por Grazia-
decorrentes do plano de restauração (PMO, 1972, p.40, v.2). no Gasparini nas Normas de Quito, que dedicou
EIXO TEMÁTICO 1 atenção especial às zonas adjacentes ao núcleo
histórico. Dessa forma, a proposta de zoneamento
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO do PDLI de Olinda e suas diretrizes aderem quase
integralmente às medidas legais recomendadas
nas Normas de Quito, bem como no anteprojeto
de lei proposto por Ormindo no II Encontro de
Governadores.
Triênio
Especificação Geral Total
1973 1974 1975
Recursos alocados
Recursos orçamentários previstos* 5.495.000 4.350.000 5.950.000 15.795.000
Despesas programadas
Turismo
Elaboração do projeto para complementar a estrutura
100.000 - - 100.000
de acolhida aos visitantes
Elaboração de projetos e/ou infraestrutura 100.000 100.000 200.000
Patrimônio artístico e histórico
Fundação para Preservação e Valorização do Acervo
- 200.000 300.000 500.000
Cultural
Praças, parques e jardins
Restauração da Praça da Preguiça 120.000 120.000
Reimplantação do Jardim Botânico 100.000 100.000 200.000
Inversões Financeiras
Turismo
Remoção das edificações recentes na Sub-Zona de
- 150.000 300.000 450.000
Proteção Rigorosa do Setor Histórico
EIXO TEMÁTICO 1
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
* Volume global a ser aplicado pela Prefeitura Municipal para Despesas de Capital.
Tabela 1: Investimentos das recomendações prioritárias por função de governo (valores em cruzeiros, não atualizados).
Fonte: A autora adaptado de PMO, 1972, v. 3.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
716
Operações Monumentos e Sítios Investimentos
Tabela 2: Estimativas de Parent para Olinda (valores em milhares de dólares, não atualizados). Fonte: A autora adaptado
de PARENT, 1968 In LEAL, 2008, p. 179, 189.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
718
REFERÊNCIAS vação e turismo cultural: noções e práticas
do PDLI de Olinda. Dissertação (Mestrado em
[livro] Desenvolvimento Urbano) – MDU-UFPE. Recife,
2019.
CURY, Isabelle (Org). Cartas Patrimoniais. Rio
de Janeiro: IPHAN, 2004. CABRAL, Renata Campello. A noção de “am-
biente” em Gustavo Giovannoni e as leis de
PREFEITURA MUNICIPAL DE OLINDA (PMO). tutela do patrimônio cultural na Itália. Tese
Termos de referência para o PDLI - Plano de (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – IAU-
Desenvolvimento Local Integrado, Prefeitura -USP. São Carlos, 2013.
Municipal de Olinda, Olinda, 1970.
FERREIRA, Mauro. Planejamento urbano nos
________. Plano de Desenvolvimento Local tempos do SERFHAU: o processo de cons-
Integrado de Olinda - PDLI, Prefeitura Munici- trução e implementação do plano diretor de
pal de Olinda, Olinda, 1972. v. 1-8. desenvolvimento integrado de Franca. Tese
(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - IAU-
[artigo em revistas e periódicos] -USP. São Carlos, 2007.
FELDMAN, Sarah. “O Serviço Federal de Habi- PEREIRA, Cecilia Ribeiro. O turismo cultural e
tação e Urbanismo (Serfhau): avanços, limites as missões UNESCO no Brasil. Tese (Doutora-
e ambiguidades (1964-1975)”. In: ENCONTRO do em Desenvolvimento Urbano) - MDU-UFPE.
NACIONAL DA ANPARQ, 1., 2010. Anais... Rio de Recife, 2012.
Janeiro: Prourb, 2010.
VIZIOLI, Simone Helena T. Planejamento
________. O arranjo SERFHAU: assistência urbano no Brasil: a experiência do SERFHAU
técnica aos municípios/ órgãos de planeja- enquanto órgão federal de planejamento inte-
mento/ empresa de engenharia consultiva. In: grado ao desenvolvimento municipal. Disser-
ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 11., 2005. tação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)
Anais... Salvador: Anpur, 2005. - FAU-USP. São Paulo, 1998.
[capítulo de livro]
[teses acadêmicas]
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
720
ABSTRACT RESUMEN
A análise inicia-se pela política italiana de plane- Em discurso político pelo Partido Nacional Fas-
jamento regional como estratégia de interiori- cista, em 1927, Benito Amilcare Andrea Mussolini
zação e desenvolvimento centro-sul a partir das (1883-1945) lança o slogan “bisogna ruralizzare
operações de recuperação do Agro Pontino e da l’italia, anche se occorrono miliiardi e mezzo seco-
implantação de colônias agrícolas na região do lo” (GALLO, 2010, p.62).2 Com ele, o Dulce – chefe
Lazio no período de 1931 a 1938. Desta estratégia supremo da Itália – declara o novo curso da política
de ocupação territorial conduzida por Benedito nacional de migração interna e conter o proces-
Mussolini aproximamo-nos à “Marcha para o Oes- so de emigração, acarretando na dissolução do
te” (1938) de Getúlio Vargas e à criação das Colônias Commissariato Generale dell’Emigrazione (CGE),
Agrícolas Nacionais (1941-1948). Num primeiro mediante o Decreto-Lei n. 628, de 26 de abril de
momento, interessa-nos a composição do Regi- 1927.
me Fascista Italiano (1922-1943), com destaque à
política de fundação de novas cidades através do Com isto, interrompe-se a política externa e
programa de ruralização e descentralização urba- prioriza-se a interna. Segundo Gallo (2010) três
na. Deste cenário, direcionamos nossa atenção a elementos chaves se destacam nesta mudan-
desdobramentos possíveis deste modus operandi ça: 1) o discurso de ascensão de Mussolini, 2) a
no contexto brasileiro a partir da instauração do supressão do CGE, e 3) a aprovação pelo Conse-
Estado Novo (1937-1945) e suas políticas de ocu- lho de Ministros de medidas antiurbanismo. Esta
pação e colonização dirigida do território. chave direcionava para um movimento de reor-
denamento populacional das cidades italianas,
Um arranjo aqui proposto, cuja fundamentação te- descongestionando os grandes centros e, com
órica e contextualização histórica apresentam por isso, evitando potenciais focos de resistência e
base referências bibliográficas e documentações geradores de conflitos. Redistribuir o contingente
italianas e brasileiras, além de direcionamento
a casos específicos, como: Littoria, na Itália, e
Ceres no Brasil, em que urbanismo e arquitetura 1. Criado pelo Decreto-Lei n. 440, de 4 de março de 1926.
serão explorados. Com tal foco objetiva-se cos- 2. Tradução livre: “Temos que ruralizar a Itália, mesmo que
turar uma leitura histórica ainda inédita, aquela demore bilhões e meio de séculos”.
EIXO TEMÁTICO 1 “excedente” por regiões ermas do interior do país
era a solução.
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Exemplo disto ocorreu em Roma, cujo objetivo
foi reverter a concentração populacional da ca-
pital. O arquiteto e urbanista Marcello Piacentini
(1881-1960) 3, que projetou inúmeros edifícios e
intervenções urbanísticas durante o período Fas-
cista, incluindo o conjunto urbanístico-arquitetô-
nico da Esposizione Universale Roma (EUR, 1938-
1942), consolidou sua imagem como architetto
del regime. Foi membro da comissão do Plano
Diretor de Roma, e juntamente a grupo de urba-
nistas romanos propõem, em 1929, o “Programa
de Planejamento Urbano de Roma”, que previa a
área urbana da capital cercada por várias aldeias
rurais. Tinha-se neste programa uma resposta à
necessidade de controlar o adensamento popula-
cional na capital italiana, mantendo as pessoas no
campo a partir da implantação de programas de
reassentamentos. Segundo Valva e Coelho (2012,
p.121), tratava-se de um controle estatal sobre a
população, “aliviando os medos da burguesia em
relação à massa de desempregados”.
5. A AOI é dissolvida após a II GM, com o reestabelecimento [...] estabelecer permanentemente popu-
dos países africanos enquanto nações independentes. lações que não têm meios de subsistência
EIXO TEMÁTICO 1 suficientes (trabalhadores de outras regiões
italianas com dificuldades de desenvolvi-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO mento especialmente Veneto e Romagna)
proporcionando-lhes melhores perspecti-
vas e condições de vida. A tarefa de alojar
e estabelecer a população é confiada aos
Opera Nazionale Combattenti (ONC). Portan-
to, não apenas os sistemas de recuperação,
reabilitação hidráulica e canalização, mas
também estruturas urbanas de vários tipos
e consistências, tanto agrícolas quanto pa-
trimoniais, serviços escolares e de saúde,
centros administrativos e logísticos, redes
de infraestrutura organizadas hierarquica-
mente (estradas agrícolas, trilhas, eixos que
interligam os centros). (ZEVI, 2009, p. 7).
Figura 1: Colônias Agrícolas Nacionais criadas a partir do Decreto-Lei n. 3.059, de 14 de fevereiro de 1941. Fonte: Elaborado
pelo autor (2019).
Cada colônia foi implantada a partir de uma ne- da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG),
cessidade objetiva para a região previamente posteriormente denominada de cidade de Ceres,
selecionada, variando entre: controle das fron- constituída em 1941.
teiras latino-americanas, desenvolvimento e am-
pliação da malha rodoferroviária, exploração dos
6. A divisão do país em cinco regiões: Norte, Nordeste, Les-
seringais a norte do país, ou mesmo a previsão de te, Sul e Centro-Oeste foi feita por Getúlio Vargas quando
transferência da capital nacional para o Planalto da aprovação de Resolução de 14 de julho de 1941, com base
Central – este caso corresponde ao projeto piloto nas particularidades geográficas dos estados.
EIXO TEMÁTICO 1 O programa das Colônias Agrícolas Nacionais foi
interrompido a partir da publicação do Decreto-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO -Lei N° 39.364, de 13 de junho de 1956, que trans-
feriu para o patrimônio do Instituto Nacional de
Imigração e Colonização (INIC) “todos os imóveis
e outros direitos que, pertencendo à União, se
encontravam, a 5 de janeiro de 1954, sob adminis-
tração da extinta Divisão de Terras e Colonização
do Ministério da Agricultura e do extinto Depar-
tamento Nacional de Imigração do Ministério do
Trabalho Indústria e Comércio” (BRASIL, 1956, p. 1).
728
duas cidades, duas medidas: Littoria (1931)
e Ceres (1941)
A construção de Littoria representava mais que Figura 4 – Estudo comparativo entre edifícios públicos em Lit-
a implantação de uma cidade nova na região do toria (à esquerda) e em Ceres (à direita). Fontes: Zevi (2009, p.
13) e Costa (2016).
Lazio. Era instrumento da imagem e de um vi-
ver pela ideologia política fascista. Para além
dos aspectos formativos, a dimensão estética e
morfológica do tecido urbano, isto é, do traçado Já a cidade de Ceres foi projetada em 1941 como
da cidade e da construção dos edifícios, também núcleo urbano da Colônia Agrícola Nacional de
foram estrategicamente concebidos a serviço Goiás. O nome de Ceres, em alusão à mitologia
do poder. Greco-romana: Ceres - Deusa dos Cereais, decor-
rente do objetivo pelo qual a Colônia foi idealizada:
Ergue-se, em meio à ruralidade, cidades signos ser uma grande produtora de cereais para abaste-
representantes do poder político do Fascismo cimento regional. Vale lembrar que no período de
italiano e do nacionalismo estadonovista. Para construção da CANG, a capital do estado: Goiânia,
Littoria, a monumentalidade de seus edifícios uma cidade nova planejada, já havia sido fundada
(Figura 4), ressaltados pela disposição nas praças, em 24/10/1933 e oficialmente inaugurada em 1942,
estabelecem uma associação entre o projeto ur- um ano após a criação da CANG, o que justifica a
bano e arquitetônico, evidenciando uma paisagem infraestrutura criada para conexão entre ambas
arquitetada a favor do poder. Zevi (2009) apresen- as cidades, além da previsão de transferência da
ta uma coletânea de imagens da construção de capital federal para o Planalto Central.
Littoria, registradas pela prefeitura de Roma, em
1932, durante inspeção pelo prefeito Francesco Apesar do traçado urbano de Ceres trazer a di-
Montuori. mensão técnica urbanística, tendo sido proje-
tada pelo engenheiro Francisco Saturnino Ro-
drigues de Brito Filho (1899-1977), não há uma
correspondência no projeto de seus edifícios,
que em sua maioria, são de pequeno porte e es-
tética ordinária (Art Déco quando muito). Talvez
a dimensão do poder estatal esteja no próprio
EIXO TEMÁTICO 1 ato de se construir uma cidade nova ex-nihilo na
hinterlândia brasileira, que se apoia na dimensão
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO do discurso nacionalista de ocupação do oeste
brasileiro para reconduzir os fluxos migratórios.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
732
Figura 5 – Aproximações morfológicas dos planos urbanísticos de Littoria (1931) e Ceres (1941). Fonte: Autor (2020).
Os oito eixos radiais são características nos dois nismo Barroco – cênico e apoteótico –, recorrendo
planos urbanísticos elaborados por Frezotti em a recursos típicos como a patte-d’oie. No encontro
Littoria (1932) e por Saturnino de Brito Filho em destas vias radiais, localiza-se geralmente equi-
Ceres (1941). A confluência destas avenidas para pamentos/edifícios de relevância cívico-admi-
um ponto central, traz em si referências ao urba- nistrativa para a cidade implantados ao redor da
EIXO TEMÁTICO 1 praça central. Trata-se, em ambos os casos, de
conjunto edilício composto por órgãos, institui-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO ções, escolas de iniciação etc., estrategicamente
alocados como mecanismos de representação
do poder, a quem os habitantes deverão prestar
obediência e subordinação.
Segundo Gasparini (1983) o CMCI, responsável pela Nos primeiros anos da colônia a travessia
condução dos trabalhadores migrantes à ONC: do rio era feita por uma canoa – “a canoa do
Sayão” -, que o próprio administrador contro-
Os colonos teriam que ser rurais, fiéis à lava rigorosamente. Segundo normas adota-
terra, honesto, sóbrio e ter uma compo- das, ele não permitia a entrada de prostitutas.
sição familiar sólida, eles precisavam ser As que apareciam tinham que ficar do outro
fisicamente saudáveis, moralmente, poli- lado do rio. Não se permitia também a venda
de bebida alcoólica (PESSOA, 1999, p. 43)
ticamente, ex-combatentes e de pura Raça
italiana, e finalmente eles teriam que vir A condição moral responde objetivamente à ne-
de áreas de malária, porque eram mais cessidade do Estado, fosse na obra de canaliza-
preparados biologicamente para resistir à ção e recuperação da região do Agro Pontino na
malária. (GASPARINI, 1983, p. 156) Itália, fosse da produção agrícola e promoção
do desenvolvimento econômico no interior do
Mato-Grosso Goiano (como é conhecida a região
de Ceres). Em ambos os casos o próprio modo
disciplinar sugere o que Foucault (2013) assim
interpreta: “Foi ‘expulso o camponês’ e lhe foi dada
a ‘fisionomia de soldado’” (FOUCAULT, 2013, p. 131).
16º SHCU
8. Bernardo Sayão é afastado do cargo de administrador
30 anos . Atualização Crítica
em 1949 através da Comissão de Inquérito instalada para
736 investigação administrativa.
nho das funções de recuperação do Agro Pontino no cerne social. Como afirma Foucault (2008, p.
à serviço do Estado fascista. O autor associa tal 181), a análise do poder não parte somente do “rei
ocorrência à dois fatores: a pobreza inerente à em sua posição central, mas [d]os súditos em suas
população e os desdobramentos do sistema de relações recíprocas: não [d]a soberania em seu
trabalho ofertado. edifício único, mas [d]as múltiplas sujeições que
existem e funcionam no interior do corpo social”
As famílias chegaram em uma terra des- (FOUCAULT, 2008, p. 181).
conhecida, mal retirado do pântano, de-
solado, desabitado, as fazendas estavam
relativamente distantes uma das outras e
muitas vezes também da vila onde os ser- CONSIDERAÇÕES FINAIS
viços estavam localizados [...] o impacto
com o sistema de trabalho foi igualmente Na Itália, em uma manifestação antiurbana, há
traumático: os colonos plantaram apenas as um duplo movimento concomitante de controle
colheitas decididas pela ONC, terminando a da superpopulação de Roma: o primeiro, de
colheita na própria fazenda, eles poderiam antecipação da migração rural para as áreas
ser enviados para trabalhar em fazendas urbanas, e o segundo, de controle da massa de
próximas [...] eles não tinham direito à me- desempregados e veteranos de guerra que já
tade da colheita [...] os colonos viviam assim estavam na capital italiana. A solução adotada
em antecipação no trigo e em dinheiro dado pelo governo Fascista de Mussolini foi criar
a critério da administração. (GASPARINI, diversas cidades novas como colônias agríco-
1983, p. 157) las em uma região pantanosa, ao sul de Roma,
para que estes sujeitos se agrupassem. Numa
A partir desta aproximação entre a política bra-
escala territorial diminuta em proporção ao
sileira e italiana, verificamos nos trechos acima
caso brasileiro, porém superior na produção de
citados, a constituição do que Gasparini (1983)
cidades novas.
define como o “mito de Mussolini” e Costa (2016)
propõe a revisão dos mitos criados a partir dos Já no Brasil, a operação orquestrada pelo Estado
“heróis desbravadores” do oeste brasileiro. Em- visava num único golpe a construção de redes de
bora distantes espacialmente, ambos os casos infraestrutura para interiorização do país (mão de
levam à reflexão sobre o controle dos fluxos mi- obra), bem como direcionar contingente popula-
gratórios e das massas populares tendo como cional (colonos) para ocupação de regiões ermas
resposta o planejamento regional à serviço de e de fronteiras devolutas à oeste.
um poder estatal.
Embora estas operações não configurem efe-
Para Arendt (1973) o totalitarismo responde ao pa- tivamente como uma punição às massas, sob
radoxo: “Sem ele (figura política), elas (massa) não a dimensão da sociedade capitalista, “O gesto
teriam representação externa e não passariam que aprisiona não é mais simples: também ele
de um bando amorfo; sem as massas o líder seria tem significações políticas, sociais, religiosas,
uma nulidade”, e complementa com uma frase de econômicas, morais” (FOUCAULT, 2012, p. 53).
Adolf Hitler sobre esta interdependência: “Tudo o Apesar de livres, a massa de colonos/migran-
que vocês são, o são através de mim; tudo o que tes/trabalhadores nacionais estavam à serviço
eu sou, sou somente através de vocês” (ARENDT, da política nacionalista, presos nas normas de
1973, p. 374). condutas morais, à subordinação do Estado à
rede de poder institucional criado.
O controle da massa significaria a transformação
do poder institucional para o campo microfísico, Os colonos, na terminologia fascista, tornaram-se
isto é, o controle passaria a ser realizado entre ‘uma massa de soldados em plena guerra, expos-
os próprios indivíduos, sob a dimensão do medo. tos aos perigos letais. Como soldados, eles arris-
Acreditamos, pelos estudos postos, que a socie- caram a morte e tiveram que obedecer a ordens.
dade assume formas de dominação, não pelo Po- Sociedade rural construída pelo fascismo tinha
der cognoscível em nome próprio, mas pelo poder as características de um quartel [...] eles foram
velado e mascarado pelo discurso que entranha tratados como trabalhadores, mas sem ter um
EIXO TEMÁTICO 1 salário [...]. Quanto mais a ONC aumentava seu
controle sobre os colonos para fazê-los trabalhar,
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO muitas vezes banindo-os da entrada em tabernas,
punindo-os com multas e despejos. (GASPARINI,
1983, p. 158)
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
738
REFERÊNCIAS FOUCAULT, M. História da loucura: na idade
clássica. Tradução José Teixeira Coelho Neto.
ANELLI, R. Arquitetura fascista. Ano 001, jan. São Paulo: Perspectiva, 2012.
2002, Resenhas online, Vitruvius. Disponível em:
______________. Vigiar e punir: nascimento
<https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/rese-
da prisão. Vozes, Rio de Janeiro. 2013
nhasonline/01.001/3361>
______________. Microfísica do poder / Michel
ARENDT, H. Origens do Totalitarismo, The origins
Foucault; Organização e tradução de Rober-
of totalitarianism, 1973 disponível em: <http://www.
to Machado. – Rio de Janeiro: Edições Graal,
dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_aren-
[1979]. São Paulo. 2008.
dt_origens_totalitarismo.pdf>
GALLO, S. Emigrare da fascisti, tra bonifiche,
Blanc, G. Giovinezza. Inno ufficiale del Partito na-
guerre colonial e l’alleato tedesco. Il fondo
zionale fascista. Musica di Giuseppe Blanc. Partitu-
archivistico del comissariato per le migra-
ra per orchestrina con parti. Milano: Carisch, 1937.
zioni e la colonizzazione interna. A. 6. N. 6,
2010. Disponível em: <https://www.academia.
BRASIL - Compra e Vende. Brazil - Buys and Sells.
edu/5543461/Emigrare_da_fascisti_tra_bo-
Brasil - Compra y Vende. Manual da economia brasi-
nifiche_guerre_coloniali_e_lalleato_tedes-
leira by Departamento de Imprensa e Propaganda,
co._Il_fondo_archivistico_del_Commissariato_
Rio de Janeiro, 1941
per_le_migrazioni_e_la_colonizzazione_inter-
CARTA, M. Teorie della pianificazione: questioni, na_in_Archivio_Storico_dellEmigrazione_Ita-
paradigmi e progetto. Itália, G.B. Palumbo & C. liana_a._6_n._6_2010>
Editore, 2003.
GASPARINI, O. Il mito di Mussolini nei coloni
CALVINO, I. As cidades invisíveis. tradução Diogo veneti dell’agro pontino. In. Revista di scienze
Mainardi. — São Paulo : Companhia das Letras, 2002 social dell’instituto Luigi sturzo. Roma, Maggio/
agosto, 1983.
CAZOLA, F. Dall’agricoltura all’industria autarchica.
Ferrara – voci di una città, Itália, N. 26, 12, 2008, JORNAL O ANÁPOLIS, A colônia Agrícola Na-
Disponível em: <https://rivista.fondazionecarife.it/ cional – Uma obra que conquista aplausos. 1
it/num-29/item/529-dall%E2%80%99agricoltura- de outubro de 1944. Ano X. N. 469
-all%E2%80%99industria-autarchica>
JORNAL O ANÁPOLIS, Assim nasce uma cida-
COSTA, L. F. Poder, memória e estigmas: pontes de... 25 de junho de 1944. Ano X. N. 455
entre Ceres e Rialma. Dissertação de mestrado
PANERAI, P. Análise Urbana. Brasília: EdUnB,
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universi-
2006.
dade Federal de Goiás. Goiânia, 2016.
PELLEGRINI, G. (Org.). Città di fondazione ita-
DAYRELL, Eliane Garcindo. Colônia Agrícola
liane: 1928-1942. Latina: Novecento, 2006.
Nacional de Goiás: análise de uma política de
colonização. 1974. Dissertação de Mestrado PESSOA, J. A igreja denuncia e o silêncio do
(Mestrado apresentado ao Instituto de Ciências Fiel. Campinas: Editora Alínea, 1999.
Humanas e Letras da UFG) Universidade Fede-
ral de Goiás, Goiânia, 1974. PIZZI, D. Città Nuove: innovazione e idealità
nella città de fondazione. Milão: Skira, 2004.
DOS PASSOS, J. O Brasil em movimento / John
dos Passos, São Paulo: Saraiva, 2013 TREVISAN, R. Cidades Novas. Tese (doutorado)
– Universidade de Brasília, Programa de Pós-
Rivista del sindacato nazionale fascista Fasci- -Graduação em Arquitetura e Urbanismo, 2009.
colo IX del 1933 -XI di Architettura – Rivista del
sindacato nazionale fascista architetti a cura di VALVA; M; COELHO, G. Cidades novas a serviço
Marcello Piacentini do poder: um estudo comparativo entre Sabau-
EIXO TEMÁTICO 1 dia (Itália) e Goiânia (Brasil). In: MELO, Marcelo
de; OLIVEIRA, Eliézer C.; SILVA, Ademir Luiz da.
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO Território, cidades e cultura no cerrado. 1. ed.
Anápolis, GO: Ed. UEG, 2012.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
740
741
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O objetivo desta análise é apresentar o Urba-
nismo como campo científico necessário para
vídeo-pôster o conhecimento e formação crítica, filosófica
e prática, sob a tríade espaço – poder – sujeito.
O Urbanismo fomenta o debate sobre o espa-
POR UMA EDUCAÇÃO ço, incluindo a formulação de hipóteses para o
enfrentamento dos problemas urbanos e con-
URBANA: PERSPECTIVAS DO tribuições para o desenvolvimento do sujeito
enquanto cidadão; não se esgota em si mesmo,
URBANISMO pois viabiliza a compreensão multidisciplinar da
área urbana, bem como, demostra a relevância
das mudanças sociais no território. Entende-se
FOR AN URBAN EDUCATION: PERSPECTIVES OF que, à medida que as transformações sociais
URBANISM ocorrem, sejam coletivas ou individuais, ma-
nifestam-se também territorialmente, dando
PARA UNA EDUCACIÓN URBANA: PERSPECTIVAS DEL singularidade aos espaços. Paradoxalmente,
URBANISMO os espaços singulares são submetidos a pro-
cessos homogeneizantes, contínua e gradual-
mente; e neste aspecto de afetação porosa, o
VALADARES, Raquel Gomes
comportamento social e as relações de poder
Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo; IAU/USP
também são acometidas por essa dissolução do
valadaresgr@gmail.com
singular. Deste modo, os processos de forma-
ção e transformação urbana, mesmo que plane-
jado, são sempre condicionados pela apreensão
do ambiente, pela construção de sua memória
e a essência dos fatos coletivos. São articula-
ções indissociáveis, que sintetizam o presente
e determinam o futuro. Busca-se nesta análise
apresentar o Urbanismo como essencial para
entender as mudanças sociais e o que as engre-
na; trata-se de produção histórico-descritiva,
utilizando o método revisão de literatura, que
permitem transitar pela compreensão histórica
e o aprofundamento na problemática contem-
porânea. O que permite inferir que refletir sobre
a totalidade dos fenômenos consiste, inclusive,
em integrar as ciências parcelares e abordar a
totalidade do conhecimento.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
742
ABSTRACT RESUMEN
The objective of this analysis is to present Urba- El objetivo de este análisis es presentar el urba-
nism as a scientific field necessary for knowledge nismo como un campo científico necesario para
and critical formation, philosophical and practi- el conocimiento y la formación crítica, filosófica
cal, under the triad space - power - subject. Ur- y práctica, bajo la tríada espacio - poder - suje-
banism fosters the debate about space, including to. El urbanismo fomenta el debate sobre el es-
the formulation of hypotheses for the confronta- pacio, incluida la formulación de hipótesis para
tion of urban problems and contributions to the el enfrentamiento de los problemas urbanos y las
development of the subject as a citizen; it is not contribuciones al desarrollo del sujeto como ciu-
exhaustive in itself, since it enables the multidis- dadano; no es exhaustivo en sí mismo, ya que per-
ciplinary understanding of the urban area, as well mite la comprensión multidisciplinaria del área
as demonstrates the relevance of social changes urbana, además de demostrar la relevancia de
in the territory. It is understood that, as social los cambios sociales en el territorio. Se entiende
transformations occur, whether collective or in- que, a medida que se producen transformacio-
dividual, they also manifest themselves territo- nes sociales, ya sean colectivas o individuales,
rially, giving singularity to spaces. Paradoxically, también se manifiestan territorialmente, dando
singular spaces are subjected to homogenizing singularidad a los espacios. Paradójicamente,
processes, continuously and gradually; and in los espacios singulares están sujetos a procesos
this aspect of porous affectation, social behavior de homogeneización, de manera continua y gra-
and power relations are also affected by this dis- dual; y en este aspecto de afectación porosa, el
solution of the singular. In this way, the processes comportamiento social y las relaciones de poder
of formation and urban transformation, even if también se ven afectados por esta disolución de
planned, are always conditioned by the apprehen- lo singular. De esta manera, los procesos de for-
sion of the environment, by the construction of its mación y transformación urbana, aunque sean
memory and the essence of collective facts. They planificados, están siempre condicionados por
are inseparable articulations that synthesize the la aprehensión del medio ambiente, por la cons-
present and determine the future. This analysis trucción de su memoria y la esencia de los he-
seeks to present Urbanism as essential to un- chos colectivos. Son articulaciones inseparables
derstand social changes and what drives them; que sintetizan el presente y determinan el futuro.
it is a historical-descriptive production, using Este análisis pretende presentar el urbanismo
the literature review method, which allows one to como algo esencial para comprender los cam-
move through historical understanding and dee- bios sociales y lo que los impulsa; se trata de una
pening contemporary problems. This allows us to producción histórico-descriptiva, utilizando el
infer that reflecting on the totality of the pheno- método de revisión de la literatura, que permite
mena consists in integrating the partial sciences avanzar en la comprensión histórica y profundi-
and approaching the totality of knowledge. zar en los problemas contemporáneos. Esto nos
permite inferir que la reflexión sobre la totalidad
de los fenómenos consiste en integrar las cien-
URBANISM SOCIAL PRODUCTION OF SPACE TERRITORY cias parciales y acercarse a la totalidad del cono-
POWER SUBJECT cimiento.
A SINGULARIDADE DA TRÍADE
ESPAÇO-PODER-SUJEITO
Segundo Carrión (1991), as teorias utilizadas na Não há ciência sem hipóteses teóricas. Des-
compreensão das cidades latino-americanas, taquemos desde logo que nossa hipótese,
teoria da urbanização e da urbanização depen- que concerne às ciências ditas “sociais”,
dente, por exemplo, demonstram limitações con- está vinculada a uma concepção episte-
ceituais e precisam ser repensadas, pois caíram mológica e metodológica. O conhecimento
em um reducionismo demasiado e generalista, não é necessariamente cópia ou reflexo,
cerceando as complexidades dos territórios, sob simulacro ou simulação, de um objeto já
a perspectiva da evolução linear dos espaços. real. Em contrapartida, ele não constrói
Os problemas e soluções, em todos os países, necessariamente seu objeto em nome de
sobrepujam uma análise apurada, e por isso, este uma teoria prévia do conhecimento, de uma
é o momento de repensar a cidade considerando teoria do objeto. Se esse “objeto” se situa
as distintas experiências. Principalmente, consi- além do constatável (empírico), nem por
derando que, no exemplo de Carrión, a população isso ele é fictício. (LEFEBVRE, 2008, p. 14)
da América Latina tornou-se predominantemente
urbana nos últimos sessenta anos, um fenômeno A menção dos termos pasteurização, homoge-
recente comparado a população europeia. neização e transmutação nesta seção decorre do
entendimento de que gradativamente os espaços,
Verifica-se que cada país se encontra em um e consequentemente as relações de poder e de
tempo de investigação e análise urbana distinto. constituição do sujeito, perdem suas caracterís-
Isto porque o fenômeno da urbanização e a ex- ticas identitárias, tornam-se empobrecidas da
pansão das cidades difere para cada um deles. E história originária, para cumprir as diretrizes de
por isso, os debates e os temas de discussão são evolução social que torna a estrutura à semelhan-
distintos em cada lugar. Onde a pesquisa sobre ça de outros, resultando em um substrato tanto
urbanização se iniciou primeiro, verifica-se o distinto da origem quanto do modelo tomado. As
EIXO TEMÁTICO 1 mudanças e as transições são inevitáveis, o tempo
urge mudanças, no entanto, o que provocativa-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO mente busca-se sugerir é que as experiências
afetam profundamente o domínio, resultando no
apagamento da compreensão de si mesmo e do
grupo em que está inserido, como resposta às
expectativas econômicas dominadoras. Não se
trata de uma aversão a mudanças e manutenção
do tradicionalismo, mas a compreensão de que os
processos de mudança podem ser fruídos sem a
violência social, histórica e econômica nos quais
estão sempre associados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
756
757
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
EIXO TEMÁTICO 1 RESUMO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Com base na trajetória do engenheiro sanitário
Saturnino de Brito e, principalmente, em seu
vídeo-pôster ensaio de conclusão de curso na Escola Poli-
técnica do Rio de Janeiro, denominado Teoria
Lógica da Assimilação. Este artigo busca po-
POSITIVISMO: PASSAGENS DE sicioná-la frente à epistemologia positivista,
além de contextualizar historicamente essa
SATURNINO DE BRITO SOBRE escola filosófica na época de sua formulação e
desenvolvimento ao longo do século XIX. Nesse
SUA EPISTEMOLOGIA sentido, foram levantados alguns teóricos ins-
piradores do positivismo, além de destacar sua
origem social e o ideário burguês-industrial de
POSITIVISM: SATURNINO DE BRITO PASSAGES ABOUT sua doutrina. Após apontar alguns paralelos en-
HIS EPISTEMOLOGY tre os axiomas do ensaio de Saturnino de Brito
e os textos de Auguste Comte, também foi dis-
POSITIVISMO: SATURNINO DE BRITO PASA POR SU cutida as ressonâncias do positivismo no Brasil
EPISTEMOLOGÍA e o desenvolvimento de análises das questões
brasileiras inspiradas na doutrina. Assim, o ar-
tigo pretende abrir o diálogo das influências do
DEMINICE, Daniel
positivismo sobre um importante precursor do
Doutorando; IFCH-Unicamp
urbanismo brasileiro.
ddeminice@gmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
758
ABSTRACT RESUMEN
Based on the trajectory of the sanitary engineer Basado en la trayectoria del ingeniero sanitario
Saturnino de Brito and, mainly, on his conclusion Saturnino de Brito y, principalmente, en su ensayo
of course essay at the Polytechnic School of Rio final de curso en la Escuela Politécnica de Río de
de Janeiro, called Theory of Logical Assimilation. Janeiro, llamado Teoría de la Asimilación Lógica.
This article seeks to position it in the face of po- Este artículo busca posicionarla frente a la epis-
sitivist epistemology, in addition to historically temología positivista, además de contextualizar
contextualizing this philosophical school at the históricamente esta escuela filosófica en el mo-
time of its formulation and development throu- mento de su formulación y desarrollo a lo largo del
ghout the nineteenth century. In this sense, some siglo XIX. En este sentido, se plantearon algunos
inspirational theorists of positivism were raised, teóricos inspiradores del positivismo, además de
in addition to highlighting its social origin and destacar su origen social y la ideología burguesa-
the bourgeois-industrial ideology of its doctrine. -industrial de su doctrina. Después de señalar al-
After pointing out some parallels between the gunos paralelos entre los axiomas del ensayo de
axioms of Saturnino de Brito’s essay and Auguste Saturnino de Brito y los textos de Auguste Comte,
Comte’s texts, a little discussion of the resonan- también se discutió una pequeña discusión sobre
ces of positivism in Brazil and the development las resonancias del positivismo en Brasil y el de-
of analyzes of Brazilian questions inspired by the sarrollo de análisis de las cuestiones brasileñas
doctrine was also discussed. Thus, the article in- inspiradas en la doctrina. Así, el artículo pretende
tends to open the dialogue about the influences abrir el diálogo sobre las influencias del positi-
of positivism on an important precursor of Brazi- vismo en un importante precursor del urbanismo
lian urbanism. brasileño.
16º SHCU
12. Lowy, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão
30 anos . Atualização Crítica
de Munchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do
764 conhecimento. 7º ed. Cortez: São Paulo, 2000.
uma rigorosa identidade entre sociedade e natu- Para Brito, portanto, o mundo vegetal ou animal
reza, lidas por uma representação matemática poderia ser classificado pela metodologia posi-
da vida social dominada pelas leis naturais inva- tivista numa hierarquia evolutiva, discernindo o
riáveis, entendidas de forma cartesiana, permite fenômeno responsável pela ascensão de uma
que o positivismo congele uma ordem industrial espécie na escala, ou mesmo do desenvolvimen-
desigual e concentradora de capital como na- to fisiológico de algum membro do organismo
tural, exigindo dos proletários uma submissão biológico. Carlos R. M. de Andrade (1996) men-
ao projeto moral dessa ideologia, que teima em ciona o autor L. A. Segond, biólogo positivista
reorganizar a sociedade por meio de uma reforma que teria influenciado Saturnino de Brito com a
intelectual do homem baseada na naturalização obra “Histoire et Systématisation Générale de la
da hierarquia e da competição entre membros de Biologie” (1851), em que enfatiza a necessidade
uma mesma espécie.13 de se compreender a reciprocidade entre os se-
res e o meio como fundamental a biologia. Além
Por consequência, o fenômeno evolutivo no ensaio de outros autores como o biólogo alemão Ernst
de Saturnino de Brito se ancora, principalmente, Haeckel que propõe em 1869 o vocábulo ecologia
em três disciplinas fundamentais - a Biologia; a para definir o estudo daquela reciprocidade que,
Sociologia e a Moral - de onde ele extrai os mé- segundo Andrade (1996), foi crucial a concepção
todos evolucionistas respectivos a cada uma das organicista de cidade que também tem as suas
três disciplinas científicas - a comparação; a fi- origens nas analogias dos naturalistas entre o
liação histórica e a subjetivação. Através de cada corpo humano e o meio ambiente.
uma delas seria possível definir as regras que
A descoberta de uma “hierarquia vital” do orga-
subsidiariam a lógica da assimilação das etapas
nismo biológico poderia ser transportada para a
evolutivas da Humanidade. Segundo Brito, a teoria
análise da evolução social que, por sua vez, deveria
Biológica forneceria inúmeras análises de exem-
ocorrer por processos de filiação histórica aos
plos comparativos da evolução tanto das espécies
graus de progresso de outras civilizações. Ou
quanto dos órgãos de um organismo biológico,
seja, por meio da “observação” da situação social,
o que poderia ser transportado de maneira aná-
econômica, política, territorial e urbana de outros
loga para as “observações” e “comparações” de
povos seria possível realizar a “comparação” com
situações sociológicas no processo de filiação
a posição brasileira na escala evolutiva dos posi-
histórica entre diferentes povos e nações. tivistas. Esse procedimento analítico se explicita
em boa parte dos relatórios de Saturnino de Brito
Em biologia, no mundo vegetal como no
sobre a paisagem, a cidade, o saneamento e as
mundo animal, o método positivo dá como
instituições em que ele lança mão da comparação
regra para o estudo da escala ascendente
com realidades estrangeiras que já haviam sido
ou descendente das espécies, para o da
transformadas de “forma positiva”. Este seria o
evolução na espécie, e finalmente para o
procedimento de filiação histórica fundamental
do desenvolvimento das partes de um mes-
segundo a sua concepção para induzir a evolu-
mo organismo, proceder sempre por via de
ção social desejada na escala civilizatória dos
assimilação tomando um órgão, uma fase,
positivistas.
uma espécie para tipo assimilador e distin-
guindo o quanto e o como se aproximam ou Em sociologia o método por filiação his-
se afastam cada um dos outros elementos, tórica conduz à lei da verdadeira progres-
pertencentes ao organismo, à espécie ou à são humana induzida, por assimilação, da
hierarquia vital (BRITO: 1943: 135) apreciação histórica dos diversos graus
de progresso a que atingiram os diversos
povos, do estudo dos elementos concor-
13. Uma crítica contemporânea a essa representação da
naturalizada da sociedade é feita por Kropotkin, Piotr. Ajuda
rentes para cada evolução, da apreciação
mútua: um fator de evolução. São Sebastião : A Senhora Edi- de sua intensidade relativa (...). Consta a
tora, 2009. Ao contrário dos darwinistas sociais, ele levanta existência social, do passado ao presente,
inúmeros casos de cooperação entre membros da mesma de uma sucessão de termos em que cada
espécie na natureza, incluindo os seres humanos. um representa um esforço evolutivo base-
EIXO TEMÁTICO 1 ado sobre a série dos que o precederam: é
a filiação histórica dos fatos sociológicos
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO cuja expressão se concentra na existência
da Humanidade. (BRITO: 1943: 140)
16º SHCU
14. Hobsbawm, E. Como mudar o mundo: Marx e o marxismo.
30 anos . Atualização Crítica
1840-2011. Cia, das Letras: São Paulo, 2011. Capítulo 10. A
766 influência do Marxismo, 1880-1914. pp. 196-238.
elevado, as assimilações subjetivas em re- seria equivalente à substituição dos reis pelos
ligião (BRITO: 1943: 133) juízes, quando a sociedade passa a ser entendida
como um contrato e o Estado como originário da
A sociologia é vista por Comte como a finalidade soberania popular. Ela é importante para à passa-
da filosofia positiva, terreno em que pode ser gem a etapa mais evoluída da filosofia comteana,
alcançada a totalização do saber, incluindo em que seria o estado positivo caracterizado pela
seu corpo a psicologia, a economia política, a superação da imaginação e da argumentação
ética e a filosofia da história. Outro aspecto fun- pela observação.
damental da sociologia positivista é a distinção
entre a estática e a dinâmica sociais, a primeira O empirismo, assim, embasaria cada enunciado
dedicada às condições constantes da sociedade propositivo correspondente a um fato particu-
e a segunda as leis de seu progressivo desenvol- lar ou universal, sendo possível estabelecer as
vimento; i) a estática é a ordem e ii) a dinâmica é leis que causam determinados fenômenos ob-
o progresso. Ambas aperfeiçoam os elementos serváveis. Ainda que se investiguem diferentes
fundamentais da sociedade: religião, família e fenômenos físicos ou psicológicos, o método
propriedade. (Giannoti, 1978) positivo procura quais seriam as suas relações
imutáveis. A procura dessas leis imutáveis seria
Outro elemento central no positivismo é a filoso- objeto da ciência positiva que possuía uma longa
fia da história comteana que fundamenta a sua filiação histórica na astronomia matemática dos
concepção evolucionista baseada na lei dos três gregos antigos até a ciência moderna. Isso faria
estados, ou seja, as ciências e o espírito humano do empirismo positivista o instrumento para se
se desenvolveriam pelas seguintes fases: i) a te- alcançar a fraternidade humana, pois o seu mé-
ológica; ii) a metafísica e iii) a positiva. No estado todo de conhecimento das causas constantes
teológico a observação dos fenômenos é muito dos fenômenos determinam qual o futuro da si-
reduzida, deixando espaço para a imaginação, tuação observada. A previsibilidade, o “ver para
o homem só consegue explicar a natureza pela prever” torna-se o lema de uma ciência que se
crença na intervenção sobrenatural. O mundo arroga o poder de prever o futuro, oferecendo as
é compreendido através das ideias de deuses e ferramentas para que se possa alcança-lo. Nesse
espíritos, e a mentalidade teológica desempenha sentido, Saturnino de Brito parece aderir a essa
um relevante papel de coesão social, pois é o sedutora promessa científica ao escrever sobre
fundamento da vida moral. Em virtude da crença quais os elementos logicamente assimiláveis para
em poderes imutáveis, baseados na autoridade, poder evoluir:
a forma política desta fase corresponde a Monar-
quia e ao Militarismo. O estado teológico ainda Em sociologia os fatos das épocas do pas-
subdivide-se em três períodos: o fetichismo, o sado surgem nas épocas de cada presente
politeísmo e o monoteísmo. No fetichismo, a vida cheios d´essa vida que os animou no movi-
espiritual também é atribuída aos seres naturais. mento dos elementos sociais, das tendên-
O politeísmo retira o espírito dos seres naturais e cias de cada geração para uma direção se-
o transfere aos seres invisíveis de um mundo su- gundo a qual convergiam espontaneamente
perior ou paralelo. O monoteísmo, por fim, unifica todos os esforços. E as leis sociológicas,
essas divindades numa só. exprimindo as relações destes fatos, entre
si, coordenando as tendências evolutivas
A fase teológica monoteísta contribui para a tran- para sistematizar o movimento progressivo,
sição do homem ao estado metafísico, em que segundo uma ordem definida, constituem
outros conceitos serão utilizados para a expli- um conjunto sintético onde impera a uni-
cação dos fenômenos da realidade como a “for- dade como preside a harmonia na filiação
ça física”, a “força química” e a “força vital” que, histórica. Para a descoberta das leis, para
posteriormente, serão reunidos no conceito de a enumeração filosófica desta filiação ba-
natureza. Nesse estágio, a argumentação supera seada na sucessão histórica, necessária
a imaginação. A mentalidade metafísica destrói, se faz a assimilação lógica dos elementos,
portanto, a mentalidade teológica de subordina- estudando o caráter intrínseco de cada um,
ção da natureza ao sobrenatural. Na política isso as circunstâncias extrínsecas que o cerca-
EIXO TEMÁTICO 1 ram, e finalmente fazendo surgir à filiação
que, historicamente existindo, fica cienti-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO ficamente instituída. (BRITO: 1943: 141)
SANTOS, Eric
Graduando, LeU/PROURB – FAU/UFRJ
ericcardosantos@outlook.com
MACIEL, Mariana
Graduanda, LeU/PROURB – FAU/UFRJ
marianaestma@gmail.com
FERRARI, Laís
Graduanda, LeU/PROURB – FAU/UFRJ
lais.s.ferrari@hotmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
772
ABSTRACT RESUMEN
This work will address the epidemics that affec- Este trabajo abordará las epidemias que afec-
ted the territory known today as Metropolitan taron el territorio conocido hoy como la Región
Region of Rio de Janeiro, understanding, at first, Metropolitana de Río de Janeiro, entendiendo,
how these guided the urbanization of the then al principio, cómo guiaron la urbanización de la
capital Rio de Janeiro. Then, it will be addressed entonces capital de Río de Janeiro. Luego, se
how the epidemics took place in the context of abordará cómo ocurrieron las epidemias en el
Baixada Fluminense, an important part of metro- contexto de la Baixada Fluminense, una parte
politan region, opposing their logics of economic importante de la región metropolitana, compa-
development to environment degradation at the rando las lógicas de desarrollo económico con la
turn of the19th to the 20th century. We will also degradación ambiental a fines de siglo XIX y XX.
analyse the results of these interventions and the También analizaremos los resultados de estas
current health situation of Baixada, relating it to intervenciones y la situación actual sanitaria en
the emergence of epidemics in the 21st century la Baixada, relacionándola con el surgimiento de
and finally the pandemic of covid-19. epidemias en el siglo XX y finalmente con la pan-
demia de covid-19.
4. idem, ibid.
gases tóxicos.
5. A noção de saúde pública neste período estava pautada
pela teoria miasmática na qual a origem das doenças 6. Parte da, até então, Vila de Santo Antônio de Sá – atu-
provinha da putrefação de substâncias que produziam almente município que compõe a Região Metropolitana.
EIXO TEMÁTICO 1 institucionalizando também a medicina social e
preventiva no Brasil.
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
Apesar das alterações institucionais referentes
à responsabilização pela saúde da população e à
organização do corpo médico, os surtos epidê-
micos continuavam constantes. A varíola (1834)
e a broncopneumonia (1838), por exemplo, se
alastraram por toda a Região Metropolitana do
Rio de Janeiro (MARCÍLIO, 1993). Paralelamente,
inúmeras doenças em caráter endêmico atingiam
a população, dentre elas: tuberculose pulmonar,
diarreias, disenterias, hepatites e parasitas intes-
tinais. Entretanto, as patologias mais comuns e
letais do século XIX eram as chamadas “febres”,
termo “guarda-chuva” utilizado nesse período para
referir à uma enorme variedade de moléstias.
(...) Os pequenos [rios] tributários e valas que Ao final da reportagem é retratado o contraste
a eles concorrem apresentam condições do local com a “ civilização”:
idênticas, formando com aquelas exten-
sas bacias pantanosas entre os aterros das A zona é inexplorada. Logo que começou
estradas de ferro, em cujas obras de arte a escurecer os pobres coitados foram ar-
nunca houve a preocupação de dar livre mando em frente de cada tenda grandes
EIXO TEMÁTICO 1 fogueiras para espantar os mosquitos, ver-
dadeiras nuvens de pernilongos – as avan-
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO çadas da febre. Nós estávamos nas faldas
dos Òrgãos, a pegar, entre os horrores da
morte, a água da civilização. (ibidem, p. 91)
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
782
Figura 5: Marcelino Ramos da Silva. Mapa dos rios destacando as Estradas de Ferro e as áreas alagadas na região da
Baixada Fluminense, 1896. Fonte: Biblioteca Nacional
A imagem de uma Baixada hostil, insalubre e im- te e acometida por frequentes surtos de
produtiva se consolidaria a partir de 1880, per- malária. (BRITTO et al., 2018, p. 58)
durando pelas próximas décadas. Nas palavras
de Britto: Para atuar, junto ao Instituto Oswaldo Cruz, no
combate à malária, os médicos Arthur Neiva e
No final do século XIX, a identidade da Bai- Carlos Chagas chegam à Xerém, em 1907. Esta
xada Fluminense havia mudado. Em meio presença celebrava uma aliança entre engenhei-
século ela havia passado de região próspera ros e médicos, chamados agora “sanitaristas”,
a área insalubre, deprimida economicamen- apontada e defendida durante mais de um sécu-
EIXO TEMÁTICO 1 lo, sucessivamente, pelo inquérito de 1798, pelo
Físico-Mor em 1808, pela Academia de Medicina
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO desde 1828, ou, ainda pela Junta de Higiene e
pela Comissão de Engenheiros em meados do
século XIX.
Surtos de dengue ocorreram nos anos de 2002, O Brasil registrou 50.482 casos em 2009, com 2.060
2008 e 2012 e o Aedes aegypti – popularmente mortes por influenza A/H1N1, segundo o Ministério
“mosquito da dengue” – não só traz o fantasma da da Saúde. De acordo com Ligia Cantarino (2016),
febre amarela – cujos surtos ainda ocorrem em pesquisadora da Fiocruz, a grande dificuldade do
meio silvestre – como no verão de 2015. Nesse combate à gripe neste período foi em locais de
momento o Brasil conhece duas novas patologias moradias irregulares, onde serviços de sanea-
EIXO TEMÁTICO 1 mento básico não chegavam. Logo, os esforços se
deram mais enfaticamente nas áreas periféricas,
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO tanto nas favelas, quanto na Baixada Fluminense.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
790
REFERÊNCIAS PIMENTA, T. S.; BARBOSA, K.; KODAMA, Kaori. “A
província do Rio de Janeiro em tempos de epide-
mia”. Dimensões: Revista de História. Vitória, v. 34,
BRITTO, Ana Lucia. QUINTSLR, Suyá. “Políticas
2015, p. 145-183.
e programas para esgotamento sanitário na
metrópole do Rio de Janeiro: um olhar na pers- ROSA JUNIOR, A. F. “Febres do Macacu: Epidemia
pectiva das desigualdades ambientais”. Cader- e meio ambiente no interior da província do Rio de
nos Metrópole. São Paulo, vol.22, nº48. 2020. Janeiro (1828-1833)” Anais do 2º Encontro Interna-
cional História & Parcerias. Rio de Janeiro, Anpuh-
CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Diccionario
-Rio, 2019.
de medicina popular e das sciencias accesso-
rias. Paris: A. Roger & F. Chernoviz, 1890. SANTOS, Myrian S. dos. “Lazareto da Ilha Grande:
isolamento, aprisionamento e vigilância nas áreas
COSTA, Ligia Maria Cantarino. Pandemias de
de saúde e política (1884-1942)” . História, Ciên-
influenza e a estrutura sanitária brasileira:
cias, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.14, n.4,
breve histórico e caracterização dos cenários.
p.1173-1196, out.-dez. 2007.
Brasília, UNB. 2016.
SCHATZMAYR, H.G. CABRAL, M.C. A virologia no
CUNHA, Neiva Vieira da. “O Fantasma da Rein-
Estado do Rio de Janeiro uma visão global. Rio de
festação: a epidemia de dengue no Rio de
Janeiro, ICICT / Fiocruz. 2º Edição. 2012.
Janeiro como drama social”. Comum, Rio de
Janeiro, v. 7, n.18, p. 83-111, 2002. SILVA, Luiz Jacintho.” O controle das endemias no
Brasil e sua história”. Ciência e Cultura. São Paulo,
FADEL, Simone. Meio ambiente, saneamento e vol 55, nº1, mar. 2003.
Engenharia no período do Império à Primeira
República: Fábio Hostílio de Moraes Rego e a SIMÕES, M. R. A cidade estilhaçada: reestrutu-
Comissão federal de Saneamento da Baixada ração econômica e emancipações municipais na
Fluminense. (Tese). São Paulo,USP , 2006. Baixada Fluminense. (Tese). Niterói, UFF. 2006.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
792
ABSTRACT RESUMEN
The paper unveils the spatial order of the indus- El texto devela el proceso de configuración del
trial metropolis of São Paulo in the middle of the orden espacial de la metrópoli industrial de São
20th century. Metropolization is approached as a Paulo a mediados del siglo XX. La metropolizaci-
disseminated process, with a plural and diverse ón se aborda como un proceso difundido, con una
dimension, which does not act in one place and dimensión plural y diversa, que no actúa en un
in a single way.The time frame covers the three solo lugar y de una sola manera. El marco tempo-
decades between 1938 and 1968, due to the syn- ral abarca las tres décadas comprendidas entre
chronicity of changes in the performance of both 1938 y 1968, debido a la sincronicidad de cambios
public agents and different forms of organized en el desempeño tanto de los agentes públicos
groups of civil society and religious institutions. In como de los distintos matices de los grupos orga-
this process, neighborhoods reinforce their role nizados de la sociedad civil y las instituciones re-
as places of sociability, identity of residents and ligiosas. En este proceso, los barrios refuerzan su
articulation of political forces at the municipal le- rol como lugares de sociabilidad, de identidad de
vel. The non-coincidence between social distan- los vecinos y de articulación de fuerzas políticas
ce and spatial distance and a nucleated structure a nivel municipal. Al mismo tiempo que se conso-
conformed by the collective transport circuits lidaba una ocupación periférica que concentraba
bring new elements to be unveiled in metropoli- la pobreza, São Paulo persistía como una ciudad
zation process. At the same time that a peripheral donde se yuxtaponían diferentes usos, patrones
occupation concentrating poverty was consoli- y una amplia gama de patrones habitacionales. Y
dating, São Paulo persisted as a city where diffe- la redefinición de centralidades identificadas en
rent uses, patterns and a wide range of housing diferentes niveles de la metrópoli da organicidad
patterns were juxtaposed. And the redefinition al territorio metropolitano estructurado visceral-
of centralities identified at different levels of the mente por los radiales que orientan la expansión
metropolis gives organicity to the metropolitan del área urbana. Estos hallazgos plantean cues-
territory viscerally structured by the radials that tiones metodológicas y conceptuales que se pro-
guide the expansion of the urban area. These fin- blematizan en el texto. El texto propone trabajar
dings raise methodological and conceptual ques- en la intersección de las múltiples dimensiones
tions that are problematized. The text proposes de configuración del espacio metropolitano -
to work on crossing the multiple dimensions of desde la materialidad, las instituciones, los agen-
configuration of the metropolitan space - mate- tes y las prácticas sociales, movilizando formu-
riality, institutions, agents and social practices, laciones de Marcel Roncayollo, Jacques Revel y
mobilizing formulations by Marcel Roncayollo, Bernard LePetit, entre outros autores.
Jacques Revel and Bernard LePetit, among other
authors.
METROPOLIZACIÓN CENTRALIDADES
POLÍTICAS PÚBLICAS PRÁCTICAS SOCIALES
METROPOLIZATION CENTRALITIES NEIGHBORHOODS
PUBLIC POLICIES SOCIAL PRACTICES
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O texto aborda metropolização como um processo
disseminado, de dimensão plural e diversa, que
não atua em um só lugar e de uma única forma.
vídeo-pôster
A ideia da metropolização como processo dis-
seminado se fundamenta na interpretação da
796
A REINTERPRETAÇÃO DAS FONTES: ESCAPANDO Geografia Humana e Geografia Física, ocupou a
DA EXCLUSIVIDADE DE SITUAÇÕES EXTREMAS primeira até 1946, quando foi criado o Departa-
mento de Geografia no interior da Faculdade de
A reinterpretação de estudos com ampla base Filosofia, Ciências e Letras da USP. Geógrafos
empírica realizados em São Paulo entre as dé- estrangeiros desenvolveram estudos sobre a rede
cadas de 1940 e 1960 nos campos do urbanismo, urbana no Brasil1 e na década de 1940 inaugurou-
da sociologia, da geografia evidenciam aspectos -se uma nova fase na geografia urbana no Brasil
importantes da estrutura socioespacial paulista- e seus vínculos com o urbanismo começam a ser
na. Pela amplitude de informações, emerge um manifestados.2 (Azevedo,A.,1970:212,2013)
panorama mais sensível da complexa materialida-
Além de estudos desenvolvidos no âmbito aca-
de do tecido urbano ao longo dessas três décadas,
dêmico, em São Paulo foram desenvolvidos tra-
quando São Paulo se consolidava na vanguarda
balhos para a Prefeitura, que mobilizaram equipes
da produção industrial do país.
multidisciplinares em instituições de urbanismo
Trata-se da produção acadêmica de pesquisado- que em sua maioria se organizaram fora da ad-
res estrangeiros e brasileiros que se vincularam ministração3, como a Sociedade de Análise Grá-
à Escola Livre de Sociologia e Política ELSP), fica e Mecanográfica Associada aos Complexos
criada em 1933, à Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais-SAGMACS, criada em 1947; o Instituto
e Letras (FFLCH) criada, no ano seguinte, junta- Brasileiro de Administração Municipal-IBAM, em
mente com a fundação da Universidade de São 1952; o Centro de Pesquisa e Estudos Urbanos-
Paulo (USP) - ambas em São Paulo, assim como -CEPEU, em 1955; instituições supragoverna-
à Universidade do Distrito Federal (UDF), criada mentais como a Comissão Interestadual da Bacia
em 1935, no Rio de Janeiro. Nesse momento, as Paraná-Uruguai-CIBPU, em 1951, assim como os
ciências sociais se incluíam entre os campos valo- chamados “diagnósticos” elaborados para planos
rizados como requisitos à modernização social e diretores, já nos anos 1950, mas principalmente
institucional que exigia uma elite dirigente capaz a partir da criação do Serviço Federal de Habita-
de agir política e deliberadamente, e participar da ção e Urbanismo-SERFHAU, durante a ditadura
formação básica dos cidadãos. ( Limongi,F. 2001) civil-militar, quando empresas de consultoria
constituíram equipes para desenvolvimento de
Esses estudos foram fundamentais para a for- planos, absorvendo a geração de profissionais
mação de pesquisadores. Entre os sociólogos, o formados nas décadas de 1940 e 1950.
americano Donald Pierson vinculou-se á ELSP,
em 1939, como professor catedrático de antro-
1. Dentre os estudos sibre a rede urbabna da década de
pologia social, e criou, em 1941, uma seção de
1930, destacam-se o trabalho de Preston E. James - “ Rio
pós-graduação em Sociologia voltada para o de- de Janeiro and São Paulo” - publicado na “ The Geographi-
senvolvimento de pesquisas.( Simões, J.A,2009) cal Review” em 1933 e o de Pierre Deffontaines publicado
Na USP, desde sua criação até o final da déca- na Revista Brasileira de Geografia, em 1939 -“ Geografia
da de 1930, estiveram presentes Paul Arbousse Humana no Brasil”, que captam o momento em que São
Bastide; Claude Lévi- Strauss, Fernand Braudel Paulo supera o Rio de Janeiro como polo industrial do país,
, Jean Gagé, Émile Coornaert,entre outros, nas e contrapõem suas características às do Rio.
cadeiras de Sociologia e de História da Civilização. 2. Em 1940, no IX Congresso Brasileiro de Geografia, reali-
E na Universidade do Distrito Federal, Eugène zado em Florianópolis, Gilberto Freyre apresenta um tra-
Albertini, Henry Hauser.(Peixoto,2003). balho denominado “ Geografia Urbana”, que defende como
especialidade a ser assumida pelos geógrafos. No mesmo
O geógrafo Pierre Deffontaines ministrou, em ano, a Revista Brasileira de Geografia publica o artigo “A
1934, a primeira aula inaugural da cátedra de geografia e sua influência sobre o Urbanismo”, do engenhei-
Geografia na sub-secção de Geografia e História ro da Prefeitura do Distrito Federal Jeronymo Cavalcanti.
criada na Faculdade de Filosofia, Ciências e 3. Em algumas cidades planos e estudos foram desenvolvi-
Letras em São Paulo e, de 1935 a 1938, lecionou dos no interior da administração municipal Em Salvador, o
na Universidade do Distrito Federal. Com sua sa- EPUCS-Escritório do Plano Urbanístico de Salvador, dirigido
ída, Pierre Monbeig assumiu a cátedra e, a partir por Mario Leite Leal Ferreira e constituído por uma equipe
de 1939, com o desdobramento da cátedra em multidisciplinar, foi contratado pelo Município, em .
EIXO TEMÁTICO 1 Estes estudos antecedem trabalhos acadêmicos
desenvolvidos a partir da segunda metade dos
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO anos 1970, que se voltaram para os processos
de urbanização na lógica capitalista, precariza-
ção das condições de moradia, práticas sociais
e agentes de produção de loteamentos clandes-
tinos, favelas, cortiços, como solução de mo-
radia para os trabalhadores. Desenvolvidos por
sociólogos, economistas, arquitetos, cientistas
políticos, expressam o deslocamento para o re-
ferencial teórico da sociologia urbana francesa.
Três publicações - “São Paulo 1975. Crescimento
e pobreza” (Camargo et alii, 1976), “A produção
capitalista da casa (e da cidade) no Brasil indus-
trial” (Maricato,E.,org.,1979) e “Espoliação urba-
na”(Kowarick, L.,1979) – foram fundamentais para o
desvendamento de especificidades da metrópole
brasileira no contexto latino americano.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
800
Figura 3 - LOC ALIZAÇÃO DE SUB-CASEBRES- Categoria 0- Planta nº 3. Fonte : LEBRET, J. L. ( 1947)
EIXO TEMÁTICO 1 Ao escapar das informações e dados restritos às
situações extremas, a década de 1950 se revela
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO como momento crucial da metropolização como
processo que se dissemina no território. São Paulo
persistia como uma cidade onde diferentes usos,
padrões e condições de ocupação das moradias se
combinavam, ao mesmo tempo em que se atuali-
zava às mudanças econômicas e de uso do espaço
urbano. Nesse processo, a expressão material
da consolidação de São Paulo na vanguarda da
produção industrial se completava com a emer-
gência de diferentes centralidades inerentes ao
processo de conturbação.
NERES, Tamara
Graduanda; FAU UnB
tamara.aneres@gmail.com
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
810
ABSTRACT RESUMEN
This work is part of a research dedicated to the Este es un trabajo derivado de una investigaci-
Frank Svensson trajectory as architect and pro- ón dedicada a la trayectoria de Frank Svensson
fessor. Our purpose here is to analyze his work in como arquitecto y profesor. Nuestro propósito
the Development Superintendence of the Northe- aquí es analizar su trabajo en la Superintendencia
ast, SUDENE focusing on the relationship betwe- de Desarrollo del Nordeste, SUDENE, centrándo-
en urbanism and developmentalism. This period se en la relación entre urbanismo y desarrollismo.
was signaled by an urbanistic practice with strong Este período fue señalado por una práctica urba-
increase in infrastructure by the government at nística con un fuerte aumento de la infraestruc-
different scales and spaces, involving plans and tura por parte del gobierno a diferentes escalas
projects for new cities or urban interventions. y espacios, que involucra planes y proyectos para
The research has been carried out based on the nuevas ciudades o intervenciones urbanas. La
architect’s documentary collection, which was investigación se ha llevado a cabo en base a la
cataloged and classified in the last twelve mon- colección documental del arquitecto, que fue ca-
ths. We hope that this investigation can foster talogada y clasificada en los últimos doce meses.
discussions about the professional trajectories in Esperamos que esta investigación pueda fomen-
the history of urbanism, whose multi-causal and tar discusiones sobre trayectorias profesionales
interconnected aspects can help descriptive and en la historia de las prácticas urbanísticas, cuyos
conceptual elaborations in the present. aspectos multicausal e interconectados pueden
revelar problemas para varias elaboraciones des-
criptivas y conceptuales en el presente.
FRANK SVENSSON SUDENE
URBANISM AND DEVELOPMENTALISM
FRANK SVENSSON SUDENE
URBANISMO E DESARROLLISMO
EIXO TEMÁTICO 1 INTRODUÇÃO
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO
O problema de analisar trajetórias profissionais
foi colocado no panorama recente da história da
cidade e do urbanismo por diversos autores. Des-
vídeo-pôster
tacamos as questões que dizem respeito às fontes
de investigação escolhidas e as possibilidades
Figura 4: Primeira fase de instalação do projeto de Bebedouro Fonte: Svensson (1992, p. 101).
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
824
REFERÊNCIAS SÁNCHEZ, F. A reinvenção das Cidades para um
mercado mundial. Chapecó: Argos, 2003
ARGAN, G.C. Projeto e Destino. São Paulo: Ática,
SCHLEE, Andrey. Frank Algot Eugen Svensson,
2000.
arquitetura e ideologia. In: Anais do I DOCOMOMO
Norte Nordeste. Recife: UNICAP, 2006. v. 1. p. 31-32
BREISACH, Ernst. “Epílogo: historiografia na virada
do século.” In: NOVAIS, F; SILVA, Rogério Forastieri
_____. “Como nasce um arquiteto”. Blog Arquitetu-
(orgs.) Nova hisória em perspectiva volume 2. São
ra e Enjamento, Novembro de 2012. Disponível em:
Paulo: Cosac Naify, 2013. pp. 379-387. http://franksvensson.blogspot.com/2012/11/como-
-nasce-um-arquiteto.html , acesso em 21/07/2020
CAHÚ, Teresa R..; CANTALICE, Aristóteles. “Por um
brutalismo social: a obra de Frank Svensson em SVENSSON, Frank. Arquitetura: criação e necessi-
Pernambuco”. Anais do 7o Seminário Docomomo dade. Brasília: EdUnB, 1992.
Norte Nordeste. Manaus: UFMA, Vol.1, N.1, agosto
de 2018, s/numeração. _________. Pra não falar de arquitetura sem ter
feito. Blog Arquitetura e Engajamento, no. 2015.
CAMPOS, Cristina de. “Biografias profissionais de Disponível em: http://franksvensson.blogspot.
médicos e engenheiros como fonte para a história com/2015/11/parte-i.html , acesso em 21/07/2020
da cidade e do urbanismo.” In FARIA, R; CERASOLI,
F; LIRA, F (orgs). Urbanistas e urbanismo no Brasil: VAINER, Carlos B. Pátria, Empresa, Mercadoria. No-
entre trajetórias e biografias. São Paulo: Alameda, tas sobre a estratégia discursiva do planejamento
2014, pp. 209-229. estratégico urbano. ARANTES, Otília; VAINER, Car-
los; MARICA-TO, Ermínia. A cidade do pensamento
CARVALHO, Laura. Valsa brasileira: do boom ao único: desmanchando consensos. Petrópo-lis, RJ:
caos econômico. São Paulo: Todavia, 2018. Vozes, 2013 [2000], pp 75-103.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
826
ABSTRACT RESUMEN
São realizadas escolhas metodológicas pela Haesbaert é que mais se aproxima de nossa abor-
não-linearidade – seja temporal, seja temática dagem. Atentando-se às dimensões sociais, de
– em que a multiplicidade de termos e campos apropriação e aspectos históricos, distinguin-
teóricos se entrelaçam. O próprio título abarca do espaço geográfico de território. Na prática,
assuntos no urbanismo crítico e filosofia, mas os territórios de análise podem não se limitar à
que são contemplados por outras áreas como a centros definidos como bairros oficiais, mas à
antropologia, geografia e sociologia. Após a de- dimensão social e aos elementos que integralizam
EIXO TEMÁTICO 1 determinados usos e usuários. Haesbaert se co-
loca como adequado à análise, pois considera
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO as relações de poder presentes no espaço ge-
ográfico, aspecto fundamental por onde passa
a territorialidade aqui desenvolvida, e principal-
mente as dimensões subjetivas, denominadas
como consciência, apropriação, identidade ter-
ritorial ou dominação do espaço, dependendo
dos instrumentos de ação político-econômica.
(HAESBAERT, 2007, p.42-43).
TERRITÓRIOS-QUEER
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
842
ABSTRACT RESUMEN
The significant demographic expansion that the La importante expansión demográfica en la ciu-
city of São Paulo has experienced since the end dad de São Paulo desde finales del siglo XIX y prin-
of the 19th century and the beginning of the 20th cipios del XX fue identificada como responsable
century was identified as responsible for nume- de numerosos problemas sociales, en particular,
rous social problems, in particular, urban agglo- las aglomeraciones urbanas, la falta de vivienda y
merations, homelessness and unhealthy condi- las condiciones insalubres. De esta manera, la vi-
tions. Housing and immigration became demands vienda y la inmigración se convirtieron en deman-
for the public authorities and intellectuals, and das que despertaron el interés de las autoridades
remained on their agenda for many years. In this públicas y los intelectuales, y que permanecie-
proposal, we intend to identify the role that some ron en su agenda durante muchos años. En esta
agents, among them, councilor Celso Garcia at propuesta, pretendemos identificar el papel que
the São Paulo City Council, and some institutions, desempeñan algunos agentes, entre ellos, el con-
such as Escola Livre de Sociologia e Política de cejal Celso García en el Ayuntamiento de São Pau-
São Paulo (ELSP) and Divisão de Estatística e Do- lo, y algunas instituciones, como la Escola Livre
cumentação Histórica e Social do Departamen- de Sociologia e Política de São Paulo (ELSP) y la
to de Cultura (DC) had in these debates, and how Divisão de Estatística e Documentação Histórica
they were participants and aware of what was e Social do Departamento de Cultura (DC) tuvo en
being discussed around the world about these estos debates, y cómo se destacaron por ser par-
themes, revealing the transnational aspects of ticipantes y manejar el conocimiento de lo que se
this knowledge. estaba discutiendo en todo el mundo sobre estos
temas, revelando el carácter transnacional deste
conocimiento.
TRANSNATIONAL HISTORY HOUSING IMMIGRATION
GLEZER, R. Chão de terra e outros ensaios RIBEIRO, M. A. R. “Os cortiços do distrito de Santa
sobre São Paulo. São Paulo: Alameda, 2007. Ifigênia (1893)”. In: CORDEIRO, S. L. (org.). Os corti-
ços de Santa Ifigênia: sanitarismo e urbanização
HALL, P. Cidades do amanhã: uma história in-
(1893). São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
telectual do planejamento e do projeto urbanos
São Paulo / Arquivo Público do Estado de São Paulo,
no século XX. São Paulo: Perspectiva, 2013.
2010 [pp. 39-78].
INFORMAÇÕES SOBRE A ESCOLA LIVRE DE
ROLNIK, R. A cidade e a lei: legislação, política
SOCIOLOGIA DE SÃO PAULO. In: Revista do
urbana e territórios na cidade de São Paulo. São
Arquivo Municipal do Arquivo de São Paulo, v.
XV - out. 1935 [pp.99-117]. Paulo: Studio Nobel: Fapesp, 1997.
LEMOS, C. A. C. Cozinhas, etc. São Paulo: Pers- RUDOLFER, B. “Considerações em torno da orga-
pectiva, 1976. nização dos serviços de estatísticas oficiais”. In:
Revista do Arquivo Municipal, v. LXXIX - out. 1941
LEMOS, C. A. C. A República ensina a morar [pp.179-200].
(melhor). São Paulo: Hucitec, 1999.
SANTOS, C. J. F. dos. Nem tudo era italiano: São
LIRA, J. “O urbanismo e o seu outro: raça, Paulo e pobreza, 1890-1915. São Paulo: Annablume,
cultura e cidade no Brasil (1920-1945)”. Revista 1998.
Brasileira de Estudos Urbanos Regionais. n º 1.
Maio, 1999 [pp. 47-78]. SCHWARZ, R. As ideias fora do lugar: ensaios sele-
cionados. São Paulo: Penguin Classics Companhia
LOWRIE, S. Imigração e crescimento da po- das Letras, 2014.
EIXO TEMÁTICO 1 SEGAWA, H. Prelúdio da metrópole. Arquitetura e
urbanismo em São Paulo na passagem do século
HISTORIOGRAFIA E PENSAMENTO URBANÍSTICO XIX ao XX. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
860
861
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
formato
210 x 297 mm
fontes
Barlow
Gobold
xvishcu.arq.ufba.br
Salvador - Bahia
2021