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FORTALEZA EM
PERSPECTIVA
HISTÓRICA
PODER PÚBLICO E
INICIATIVA PRIVADA NA
APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO
MATERIAL DA CIDADE
(1810-1933)
Fortaleza, 2019
Para Ricardo,
Jana, Dena, Lina, Bruno,
Amanda, Enzo, Luma e Julia.
AGRADECIMENTOS
Estante Ceará, 13
Lucio Alcântara
Introdução, 22
1.1 Balanço da historiografia, 25
1.2 Estudo específico sobre o caso de Fortaleza, 28
1.3 Formulando questões, 31
ESTANTE
CEARÁ
LUCIO ALCÂNTARA
Membro instituidor da Fundação Waldemar Alcântara
O
O programa editorial da Fundação Waldemar Alcântara
tem se consolidado ao longo de mais de duas déca-
das como uma insistência em dar-se a conhecer o
Ceará. Constitui parte desse trabalho a reedição de
livros em formato fac-similar de obras esgotadas que
subsidiam pesquisas sobre a terra e o povo cearense,
e continuados que atestam o quanto é fundamental o
debruçar-se sobre o objeto de estudo e, a partir da refle-
xão que se sucede, expressar e divulgar um pensamento
que enseje mais dinamismo sobre a realidade. Estamos
falando aqui de produção de saberes, de educação, de
ensino, de pensamento crítico, de formulação de teo-
suas origens, seu jeito de lidar com o cotidiano, sua rias e mudanças de visões, por vezes estagnadas. Aos
literatura, sua forma de ser, enfim. Agora, ampliamos autores e professores agradecemos a disponibilidade e
ainda mais esse programa, ao publicarmos dois livros cooperação no decorrer do trabalho de edição.
inéditos, frutos de estudos aprofundados e pesquisas Fazer livros requer paciência e por vezes obstinação
e que, por sua vez, também subsidiarão outros estudos, posto que o trabalho se constrói e reconstrói inúmeras
frutificando ideias e tornando possível um pensamento vezes. Mas isso faz parte do que queremos oferecer ao
crítico sobre nossa gente. público que deseja saber mais de si mesmo, uma espécie
Os livros Arquitetura como Extensão do Sertão de de retrato e documentário em constante movimento.
Clóvis Ramiro Jucá Neto e Adelaide Maria Gonçalves Como um dos que idealizaram a Fundação Waldemar
Pereira e Fortaleza em Perspectiva Histórica, de Mar- Alcântara e busca sempre mantê-la ativa nesse pro-
garida Julia Farias de Salles Andrade que compõem o pósito de construção de uma memória do Ceará e dos
projeto Estante Ceará, todos professores e pesquisa- cearenses, me congratulo com o leitor e espero que
dores da Universidade Federal do Ceará, reúnem um nossa contribuição à cultura inspire outros projetos na
cabedal de conhecimento fruto de estudos profícuos área. Nós certamente não vamos parar por aqui.
14 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
F
Foi um prazer e um privilégio ter Margarida Julia Farias
de Salles Andrade como minha primeira orientanda de
doutorado, permitindo-me testar uma metodologia –
então embrionária em História Urbana - que hoje alicerça
as pesquisas do meu grupo de alunos na pós-graduação
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
o privilégio de compartilhar ideias –, num trabalho de
“formiguinha” afeito aos arquivos e fontes primárias,
a autora reconstitui cenários urbanos na longuíssima
duração de dois séculos cruciais para o que hoje se
atribui o epíteto de Patrimônio Cultural. Com uma
capacidade ímpar de espacialização, peculiar aos bons
sidade de São Paulo. arquitetos, o diferencial desta tese ora convertida em
Essa linha de estudo da urbanização tem algumas livro é associar e entrecruzar informações textuais e
peculiaridades, ao fugir da perspectiva em voo de visuais e reconstituir perfis tanto materiais como sociais
pássaro mais habitual e aproximar a lente nas ações nos diversos tempos, elaborando cartografias regres-
individuais, atentando para o processo social de trans- sivas – quadra a quadra, rua a rua, lote a lote.
formação material da cidade, com foco no papel dos Ao folhear o livro, salta à vista a qualidade do tra-
planos urbanísticos em diálogo com a arquitetura balho cartográfico, a riqueza da iconografia mobilizada
comum na composição da tessitura urbana e buscando para se pensar a cidade em processo de materialização
assim aquilatar seus agentes produtores, lógicas de de 1810 a 1933, bem como a gama de arquivos/biblio-
produção, dinâmicas, ritmos e temporalidades, num tecas e acervos consultados. Fontes heterogêneas e
diálogo - nem sempre tão pacífico - entre poder público conexas – plantas antigas, planos de expansão, códigos
e iniciativa privada. de posturas, censos, décimas urbanas, desenhos e fotos
Essa linha de estudo guarda a peculiaridade de optar antigas - entrelaçam-se e vertebram um trabalho de
por uma análise arqueológica e filológica da cidade, a arquitetura esmerada e complexa trama narrativa.
qual hoje intitulo de Arqueologia da Paisagem, de minu- A pesquisa resulta de uma experiência pioneira de
ciosa reconstituição hipotética de um processo a partir Doutorado Interinstitucional em Arquitetura e Urba-
de seus fragmentos, entendendo a paisagem urbana nismo (DINTER FAUUSP – DAUUFC), que me permitiu
como uma sucessão de camadas desiguais de tempos conhecer Margarida e integrá-la a um universo de inves-
passados consideradas como inércia ativa no presente. tigação que hoje desdobrou-se não só na minha tese
As aproximações com a Geo-História, com a Geo- de livre docência “A cidade como negócio” (2018) sobre
grafia Retrospectiva são evidentes. Baixando o olhar a cidade de São Paulo, mas também em estudos de
da grande escala à microescala do lote, numa espécie outros orientandos na mesma direção sobre uma série
de micro-história em série, Margarida Andrade analisa de outros casos. A riqueza da aproximação interinsti-
o processo de materialização de Fortaleza, buscando tucional reside na possibilidade de relacionar teoria e
descortinar as motivações e as lógicas que presidiram empiria, testar metodologias em diferentes contextos,
o processo de mudanças, bem como buscando encon- validar hipóteses e, assim, formular novas teorias sobre
trar as rugosidades desses tempos no mosaico que se urbanização, avançando em termos historiográficos.
tornou a paisagem contemporânea do Centro Histórico À luz da História da Urbanização, entendida como
e de alguns bairros mais antigos da cidade. processo social, a autora examina as ações do poder
Valendo-se do legado de Nestor Goulart Reis Filho público e da iniciativa privada, mostrando a expansão
e Liberal de Castro – dois mestres com os quais teve planimétrica da malha urbana ao sabor de planos gover-
FO RTA L EZ A À LUZ DE UM A N OVA LIN H A DE PESQUI SA EM HI STÓR I A UR BANA 15
namentais que só – e nem sempre de forma pacífica (mais do que simplesmente ao plantio do algodão), em
- se viabilizaram em volumetria por meio das ações geral negociantes de grosso trato ou proprietários de
individuais, numa parceria público-privada tão cara aos casas exportadoras estrangeiras.
dias atuais e em nada diversa nos tempos pretéritos. Na linha dos estudos de Nestor Goulart Reis Filho
Longe de incorrer em anacronismos, ao pôr luz nos e Mônica Silveira Brito para São Paulo, Margarida
proprietários dos imóveis, Margarida destaca os vários Andrade mostra que as frentes urbanizadoras em
protagonistas que atuaram no processo de urbanização, Fortaleza também foram lideradas por determinados
entendendo as motivações de lusitanos, cearenses e grupos de “empresários e capitalistas” que investiram
estrangeiros envolvidos com o comércio internacional tanto no mercado imobiliário, na construção civil,
em investirem em imóveis para renda ou uso próprio e, como na modernização do porto, da ferrovia e outras
assim, colaborar na modernização da cidade. infraestruturas urbanas (serviços de água, luz, bonde
Num jogo de escalas, a autora mostra que o espaço e ônibus), lucrando muito com isso ao mesmo tempo
intraurbano altera-se ao sabor do papel que a cidade que, modernizando a cidade, otimizavam seus próprios
cumpre na lógica da rede urbana regional e interna- negócios, numa interdependência dialética tão cara
cional, expandindo-se à margem dos caminhos que a ao mundo capitalista. Nesse quesito, preciosa fonte
alinhavam à vasta hinterlândia dos Sertões do Norte foram os Almanaques e Anuários Estatísticos farta-
ou das conexões atlânticas com outros continentes. mente consultados para dar vida ao cenário urbano
As dinâmicas econômicas do criatório e do ao permitir atribuir uso e usuário aos espaços e, assim,
algodão desenham e redesenham Fortaleza que, de intuir as lógicas impostas pelo zoneamento de funções
“Vila do Forte” com papel secundário frente a Icó e e a sociotopografia resultante da legislação urbanística,
Aquiraz, volta-se paulatinamente ao mar, converten- do Império à República.
do-se no principal porto de exportação da fibra com Ao eleger certos personagens para estudo dos
destino ao Recife e outros pontos do mundo e deles inventários post-mortem, em termos metodológicos,
recebendo tudo que o capitalismo industrial mundial optou-se pela estratégia de elucidar o perfil social das
engenhosamente era capaz de criar. elites (no plural) em disputa no cenário urbano, mos-
As características da tessitura urbana oscilam ao trando os principais detentores de imóveis urbanos e
sabor das redes comerciais macroterritoriais e inte- investidores no mercado imobiliário, um entre tantos
resses em jogo. Planos de expansão de trama regular negócios rentáveis à altura.
engolem “palhoças” e incorporam populações dispersas Em paralelo, a autora não descartou o lugar e o
em arquiteturas formalizadas segundo padrões higiê- papel dos setores médios da população, especialmente
nicos ditados pelos Códigos de Posturas e Códigos vinculados à materialização de áreas novas loteadas por
Sanitários. Por meio de recursos gráficos, vê-se a cidade empresas ao sabor dos planos da República Velha, na
oficial de alvenaria de tijolos e feições classicizantes linha de estudos de outros orientandos de mestrado e
ou ecléticas sobrepor-se aos acentos vernáculos doutorado sobre São Paulo e outros casos afins.
dos primeiros tempos. Interessante notar que lógicas semelhantes presi-
Sinédoque visual, Margarida também reconstitui dem a transformação de Fortaleza, de São Paulo e de
por meio de Censos e Décimas Urbanas as trans- tantas outras cidades no Brasil e mundo afora.
formações no Centro Histórico, as mudanças de uso O estudo do caso de Fortaleza reforça, assim, a tese
quadra a quadra e lote a lote na Praça do Ferreira, de que a produção da cidade foi uma obra coletiva, um
eleita para estudo arqueológico-filológico por se tratar excelente negócio para todas as partes envolvidas, do
do coração da cidade. grande ao médio capital, obviamente orquestrados – e
Aliás, ao mobilizar os Impostos Prediais como fonte, frequentemente irmanados por laços familiares (e essa
a pesquisadora descobre a longevidade das Décimas é a saga brasileira!) - pelo poder público, num jogo de
Urbanas como instrumento de captação de recursos clara exclusão e segregação dos mais pobres.
financeiros pelas municipalidades, do Império à República. Os planos urbanísticos acomodam-se tanto à topo-
De simples fortaleza - alheia aos comboios, tropas grafia quanto aos interesses individuais e aos atores
e à gadaria - a porto do algodão, aos interesses do em disputa por um lugar ao sol na paisagem urbana.
poder público que encabeça a sede da nova Província Mostram-se maleáveis e menos grelhas estáticas
somam-se outros interessados em modernizar a cidade. quando lidos a contrapelo, assim, ganhando vida. Eis o
Contradizendo o senso comum típico de um contexto legado do livro que o leitor tem em mãos, que merece
aparentemente – só aparentemente – isolado, pobre e leitura por esses e tantos outros atributos dignos de
predominantemente rural, os protagonistas da iniciativa uma arquiteta e pesquisadora de mão cheia como
privada eram homens urbanos devotados ao comércio Margarida Andrade.
16 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
EXERCÍCIOS DE
TOMOGRAFIA URBANA
JOSÉ LIBERAL DE CASTRO
Arquiteto, professor emérito da Universidade Federal do Ceará
O
O livro, de autoria da professora arquiteta Margarida
Júlia Farias de Salles Andrade, transcreve, com as
necessárias adaptações, uma tese acadêmica intitulada
- Fortaleza em perspectiva histórica: poder público e
iniciativa privada na apropriação e produção material
da Cidade (1810-1933), brilhantemente defendida na
Exigências recentes na vida universitária, contudo,
têm induzido o preparo de dissertações e teses aca-
dêmicas nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, cujos
temas se relacionam com Teoria, História e Critica
da Arquitetura, bem como com a Forma Urbana. No
intento de cumprir solicitações da carreira de docência,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade relativas à qualificação acadêmica, professores de Arqui-
de São Paulo, em 2012. A denominação da tese esclarece tetura, até então pouco preocupados com discorrer
cabalmente os objetivos visados pela autora, nos quais sobre as faces teóricas de determinadas proposições,
se misturam indagações sobre tempo e espaço urbano deparam-se com alguns embaraços ante as atuais exi-
na capital cearense, considerados concomitantemente. gências universitárias. Outros arquitetos, recentemente
As obras escritas sobre a cidade da Fortaleza de diplomados, não professores, cedo, porém, optam por
Nossa Senhora da Assunção quase sempre se preocu- frequentar cursos de pós-graduação, que os lançam à
pam com a variável tempo, fato explicável pelo campo especulação intelectual, embora, nas mais das vezes,
de interesses dos respectivos autores. Os trabalhos de sem ainda contarem com uma experiência profissional
apreciação da Cidade, com uma visão integrada de tempo que lastreie suas reflexões.
e espaço, usual entre os arquitetos, formam um grupo Tais empecilhos e tais desencontros, entretanto, não
reduzido. Diriam os mais severos que a culpa caberia obstaram e nem poderiam obstar o preparo da tese da
a eles próprios, os arquitetos, talvez pouco interessa- professora Margarida Júlia Andrade, tal a longa fami-
dos no preparo de textos conceituais alusivos àquelas liaridade desfrutada com o tema eleito, inserido nas
inquirições. Pressionados pelo exercício absorvente e disciplinas ditas de História, Teoria e Crítica da Arquite-
cansativo de suas atividades profissionais específicas, tura e da Forma Urbana. Além do mais, esclareça-se que
dirigidas à elaboração de projetos de edificação ou de o período histórico examinado na tese e, portanto, no
planejamento urbano, limitam suas apreciações, sobre a livro, coincide, grosso modo, com a matéria proferida e
matéria, a estas ou aquelas impressões pessoais, expos- discutida em sala de aula, desde os dias quando a autora
tas em círculos fechados de colegas de ofício, sem as ingressou, por concurso público, nos quadros docentes
trasladar para o papel. do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
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Federal do Ceará. Para melhor entendimento, diga-se Em termos espaciais, cabe, aliás, acrescentar que
que o tema desenvolvido na tese coincide com os estu- o crescimento material urbano fortalezense, como
dos de interesse de uma das disciplinas do bloco didático em outras metrópoles brasileiras, verificou-se por
em causa ou, mais precisamente, com aquela que abarca apropriações de significativas áreas incorporadas ao
a análise da produção arquitetônica e urbanística, verifi- território municipal e por contínuos parcelamentos do
cada, em termos internacionais, entre inícios do século solo, processo comprovado no livro, tanto por meio de
XIX até a Grande Guerra de 1914-1918, portanto, contem- referências históricas de fontes primárias e secundárias,
porânea da segunda Revolução Industrial. Acresça-se como, principalmente, por via de exaustivas pesquisas
que, no âmbito nacional, a mesma disciplina se consagra cartográficas e cartoriais.
paralelamente a indagações, no campo da Arquitetura
e da problemática urbana, concernentes ao período Os marcos cronológicos eleitos
imperial e à República Velha, quer dizer, alcançando a
Revolução de 1930 e suas consequências imediatas. Quanto às decisões temáticas e metodológicas acata-
Por tais razões, como se percebe, o livro se vincula, das no livro [pela autora], já no primeiro parágrafo da
antes de tudo, a uma tese acadêmica concebida sem Introdução, a autora expõe os motivos do balizamento
improvisações. Externa as marcas inconfundíveis da cronológico adotado, afirmando que o trabalho abarca
personalidade da própria autora, rebatidas numa perma- um “período de longa duração”, no qual identificou “três
nente busca de conhecimento, consolidada no exercício momentos de inflexão - 1810, 1863 e 1933, definidos com
da docência universitária. Procede, enfim, de decisões base na documentação e correspondentes a planos ou
firmes, emanadas de um comportamento pessoal tran- levantamentos realizados para a cidade”.
quilo e de uma paciência inesgotável, na procura de Os anos extremos, que delimitam a amplitude cro-
respostas justas a inquirições intelectuais e profissionais. nológica discutida na tese, explicam, por consequência,
O livro traduz, portanto, a aplicação silenciosa ao estudo a origem e a estruturação do livro. Cumpre, contudo,
e à reflexão sobre demoradas observações acumuladas, esclarecer que aqueles “três momentos de inflexão”,
quer por meio de pesquisas desenvolvidas em arqui- não constituem referências rígidas. Assim se afirma
vos, particularmente nos setores de cartografia antiga, porque, no texto, observa-se não apenas o alargamento
quer pela prática adquirida em tarefas de campo e nos das respectivas vizinhanças cronológicas em torno dos
trabalhos de extensão. mencionados marcos, mas, também, ao longo da tese,
E, mais ainda: assinale-se que, quando da elaboração emergem várias outras referências temporais, sempre
de sua tese, aproveitando o relacionamento acadêmico enriquecidas com a análise de fatos e com a inclu-
do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade são de documentos correlatos, a par do emprego de
Federal do Ceará com a Faculdade de Arquitetura e demonstrações gráficas.
Urbanismo da Universidade de São Paulo, a autora Deste modo, a autora agregou, aos citados anos de
recorreu à orientação douta, experiente e segura da 1810, 1863 e 1933, indicações concernentes a mais outras
professora doutora Beatriz Piccoloto Siqueira Bueno. datas, ora em torno daqueles anos, ora em menções
Vale lembrar que a professora Beatriz Bueno, mestra temporais diversas, debatidas isoladamente e, portanto,
prestimosa e afável, juntamente com o manifesto inte- alheias aos “três momentos de inflexão” eleitos.
resse consagrado à história urbana da cidade de São A referência ao ano de 1810, o primeiro dos “três
Paulo, também se dedica, com particular atenção, a momentos de inflexão”, cabe esclarecer, vincula-se
investigações paulistanas pertinentes à mesma temática aos trabalhos de batimetria da bacia portuária fortale-
escolhida pela autora do livro. zense, executados na ocasião pelo capitão de fragata
O livro procura expor e esclarecer o processo de Francisco Antônio Marques Giraldes, também autor
expansão física da cidade da Fortaleza de Nossa Senhora de um prospecto da Vila, em que a apresenta vista do
da Assunção, quer promovida pelas ações do poder alto, com aceitável exatidão, numa perspectiva colorida.
público, quer por investimentos privados. Para análise O levantamento batimétrico, isto é, as sondagens do
das ocorrências, a autora escolheu, como arco tempo- relevo marítimo submerso na zona de evolução naval,
ral, o período que se inicia com o alvorecer do século participavam das precauções tomadas pela administra-
XIX, nos tempos quando a pequena vila ensaiava os ção da Capitania, agora autônoma, preocupada com o
primeiros passos em busca de uma afirmação urbana, previsível aumento das atividades comerciais da Vila,
período que se encerra no começo da década de 1930, em decorrência da então recente abertura dos portos
ocasião na qual já se mostravam alcançadas muitas brasileiros ao comércio internacional.
das linhas de desenvolvimento físico e social que a O “momento de inflexão” inicial considerado pela
Cidade viria a conhecer. autora, como se vê, poderia, portanto, recuar pelo menos
18 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
a 1808, ano da referida franquia dos portos brasileiros O contrato para elaboração de um plano urbanístico,
ao comércio internacional, ato que trouxe benefícios quer dizer, a adoção de um instrumento de intervenção
imediatos à pequena Fortaleza. Se desejado, porém, física na Cidade, resultante de apreciações e proposi-
outro recuo cronológico mais curto, o exame do inicio ções assumidas com discernimento técnico e social,
das “inflexões” deveria começar em 1799, quando o Ceará expressas com sensibilidade espacial e estética, avultava
obteve autonomia administrativa, ano em que a Vila se como fato novo naquele instante. Constituía, sem dúvida,
tornou capital oficial da Capitania (embora já fosse a uma aspiração prematura inserida no amplo conjunto de
capital de fato). Também ainda se poderia admitir um cur- ideias modernizadoras constantes dos desdobramentos
tíssimo avanço de tempo, isto é, o ano de 1812, ocasião políticos, administrativos e culturais da Revolução de
quando a Vila conheceria seu primeiro plano de expansão 1930, próximos ou posteriores, muitas das quais logo
física, elaborado, segundo trama viária reticulada, pelo desprezadas pela Municipalidade, tal como se verificou
tenente-coronel de engenheiros Antônio José da Silva com o plano de Figueiredo e também com outros planos
Paulet (1778-1837). contratados mais à frente, em meados do século XX.
O segundo “momento de inflexão” apontado pela
autora, pertinente a 1863, remete ao nome de João Precisão e imprecisão cartográfica
Adolfo Herbster (Recife, 1826 – Fortaleza, 1893), “enge-
nheiro da Província” e “arquiteto da “Câmara”, figura da Por proposição da autora, o livro encontra amparo em
mais alta relevância profissional na Fortaleza da segunda copiosa demonstração cartográfica, analisada con-
metade do século XIX. A referência feita pela autora a soante diferentes opções, pois recorre deliberadamente
1863 subentende uma carta elaborada por Herbster a representações verdadeiras, mas também a outras, no
naquele ano, a qual constituía um ensaio gráfico relativo todo ou em parte, discutíveis. Ante as dúvidas de vera-
a uma possível expansão física da Cidade, com risco em cidade documental observadas, impõe-se presumir as
xadrez, por certo, um desenho feito à guisa de devaneio, dificuldades surgidas em decorrência do reduzido acervo
o qual, contudo, não levava em conta, nem as antece- de informações disponíveis, realmente acreditadas, bem
dências da forma já desenvolvida, nem o relevo do solo como os artifícios inventivos empregados pela autora a
urbano da pequena Fortaleza. Por tais razões, à parte fim de superar incertezas nas referências cartográficas
obras de Arquitetura e entre mais mapas, devem ser consultadas. Compreensível, pois, o receio provocado
relacionados com a devida ênfase, outros três trabalhos pela duvidosa fidelidade de certos documentos ante
de Herbster, de excepcional valia, quais a Planta Exacta o fato de que, no fluir da faixa de tempo examinada no
da Capital do Ceará / abril de 1859; a Planta de Cidade texto, quer dizer, durante um século e duas décadas
da Fortaleza e seus subúrbios, de 1875, e a Planta da de duração, a capital cearense, no entender do autor
Cidade da Fortaleza / Capital da Província do Ceará destes comentários, contou praticamente com ape-
/ levantada por Adolpho Herbster em 1888. Esses três nas cinco mapas confiáveis, aliás, todos devidamente
mapas, de consulta obrigatória pelos interessados no examinados no livro.
tema, é claro, aparecem insistentemente citados pela Quanto a essas cinco cartas reconhecidas como
autora em seu texto. confiáveis, esclareça-se resumidamente que a alusão
O terceiro e último dos “momentos de inflexão” pro- recai sobre a planta preparada por Silva Paulet, em 1812,
postos pela autora alcança finalmente o ano de 1933, e sobre as três plantas da autoria de Adolfo Herbster,
“momentos” inseridos em um “período de longa duração”, de 1859, 1875 e 1888, todas já mencionadas, bem como
que se inicia no começo do século XIX e avança pelo o mapa de 1932, elaborado pela sala técnica da Pre-
século XX. Esse marco de encerramento das consi- feitura de Fortaleza.
derações foi escolhido porque, na ocasião, a Cidade Utilizado pela autora, porém já datada de 1945, pode-
conheceria o seu primeiro plano urbanístico, o Plano ria ser acrescentada ao pequeno conjunto de mapas
de Remodelação e Extensão, realizado pelo arquiteto confiáveis, a Carta da Cidade de Fortaleza e Arredores
e urbanista Nestor Egydio de Figueiredo (Recife, 1893 - / Levantada, desenhada e impressa pelo Serviço Geo-
Rio de Janeiro, 1973), um dos fundadores do Instituto gráfico do Exército / 1945 / 1:10.000 / Rio de Janeiro,
Brasileiro de Arquitetos (1921), plano contratado, mas 1945. Esse mapa valioso, posto à disposição dos inte-
infelizmente não acatado pela Municipalidade. Figueiredo, ressados, retrata, com excepcional precisão gráfica e
fiel integrante das instituições de convívio profissional toponímica, a Cidade e praticamente todo o Município,
e também de congregação social, entre outras contri- pois foi o primeiro executado por meio de levantamento
buições, foi o divulgador e patrono da criação do Rotary aerofotogramétrico, restituído na escala de 1:10.000,
Club de Fortaleza, na ocasião. em oito pranchas, com curvas de nível a cada 5 metros.
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somente nasceu em meados do século XIX, favorecido com ênfase no livro, corresponde também à intro-
pela transferência parcial e gradativa das funções de dução de novidades na Praça do Ferreira, como a
um espaço urbano mais antigo, a primitiva Feira Velha. instalação de cinemas (sonoros em 1931), de cafés,
Enquanto esta última, a Feira Velha, com suas expan- de restaurantes, de clubes e de lojas de comércio
sões, manteve a condição de local de abastecimento elegante. Na ocasião, como referências materiais
alimentar e área de comércio atacadista, a Feira Nova, simbólicas de um fim de ciclo e começo de outro,
a futura Praça do Ferreira, adquiriria, aos poucos, um surgem o Excélsior Hotel (1931), a última grande obra
aspecto diferenciado. Tornou-se espaço atraente e fes- do ecletismo arquitetônico da Cidade, e a Coluna da
tivo, amparado no acolhimento de recentes atividades Hora (1933), totem já erguido em concreto armado,
sociais, econômicas, tecnológicas e simbólicas, exigidas com citações art déco, a primeira realização oficial
e renovadas pela Cidade em desenvolvimento, simul- do modernismo fortalezense.
taneamente vitalizadas com o surgimento de funções No País, e também no exterior, certas centralidades
urbanas então desconhecidas. urbanas quase sempre recaem em ruas e avenidas, por-
As evidências dessa nova centralidade urbana sur- tanto, em espaços lineares de caminhamento, os quais
gem à volta de 1842, em decorrência da reformulação geraram expressões tais como “vou à rua”, “vou à avenida”,
de um baldio antigo, de desenho irregular, rapidamente “vou ao centro”, “vou à cidade”, proferidas pelos que se
convertido em uma praça retangular, inserida na malha deslocam em direção ao centro urbano. Curiosamente,
ortogonal da Cidade em expansão. A iniciativa da na Capital cearense, quando, com objetivos semelhantes,
mutação espacial da área, proposta pelo presidente da as pessoas faziam alusões ou se dirigiam à zona central
Câmara Municipal por dezoito anos, o boticário Antô- da Cidade, diferentemente de alhures, outrora algumas
nio Rodrigues Ferreira (Niterói, 1801 - Fortaleza, 1859), pessoas diziam – e ainda dizem - “vou à Praça”.
caracterizou-se pela supressão de um desencontro
viário provocado por um “cotovelo” formado no local. A tese e o livro
“Cotovelo”, esclareça-se, era termo popular designativo
do começo de um dos velhos caminhos de saída da Após estas prolongadas considerações, os comentários
Cidade, lançados em diagonal, dirigidos ao oeste. do autor se dirigem diretamente a algumas particu-
A nova aparência, conferida ao contorno esconso do laridades do livro da arquiteta professora doutora
largo primitivo, suprimiu a distorção física, regularizando Margarida Júlia Andrade.
o desenho de um espaço, como dito, cortado em diago- Observa-se, de modo claro, que o texto primou em
nal. Obtida a homogeneidade de um traçado retangular documentar e comprovar graficamente as afirmações
almejado, a transformação fez com que a referência da autora, sempre obtidas por meio de um percep-
inicial - “Feira Nova”, fosse substituída por Praça Muni- tível e disciplinado compromisso, tanto na procura
cipal, o logradouro onde o Boticário Ferreira mantinha paciente da informação, como na exposição nítida
sua farmácia e residia. Denominada oficialmente Praça dos fatos. O trabalho recorre, de modo sistemático e
do Ferreira em 1871, desde então, conhecida e reconhe- consciente, à metodologia empregada nos estudos de
cida como o “coração” da Cidade, a Praça tornou-se História da Arquitetura e nas investigações pertinentes
o sítio privilegiado, o espaço central de convergência à Forma Urbana, quer dizer, dedica-se às ocupações
urbana, o ponto de domínio comercial, social, político e físicas do solo, ao seu parcelamento, à intervenção
cultural, exercido sobre a Cidade por mais de um século, do Estado, à presença dos investidores privados, à
com um poderio tal raras vezes observado em outras análise das diversificadas funções urbanas. E mais:
capitais brasileiras. considera a Arquitetura como instrumento básico de
A emergência alegre e convidativa da Praça do orientação dos estudos, quer no uso, quer na apa-
Ferreira, às vezes tumultuada, não se evidenciou de rência das edificações.
imediato. Esperou pelas décadas de encerramento do Arrima-se na cartografia vetusta, em vistas da
século XIX, quando passou a concorrer com o Passeio cidade antiga, em desenhos ou em velhas fotografias,
Público, então urbanizado. Ajardinada em 1902, car- apoia-se na legislação civil nacional e regional, nas
rossel das linhas de bondes elétricos em 1913, eleita mutações ambientais, nos códigos urbanos, estes,
como palco de manifestações de novas sociabilidades, em mor parte, nascidos dos problemas de higiene e
a Praça tornou-se ponto obrigatório de passagem e de saúde pública. Busca comparações diacrônicas e sin-
encontro da população. crônicas com outras organizações urbanas, nacionais
O “momento” final do período dito de “longa dura- e estrangeiras. Sustenta-se nos documentos carto-
ção” proposto pela autora, o ano de 1933, examinado riais de posse imobiliária, nos inventários, insistente e
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INTRODUÇÃO
23
E
Este livro pretende analisar as transformações urba-
nísticas ocorridas em Fortaleza entre 1810 e 1933,
examinando as ações do poder público e o papel da
iniciativa privada na apropriação e produção material
da cidade. O recorte temporal eleito corresponde a
um período de profundas mudanças decorrentes da
níveis bastante elevados em consequência da Guerra
de Secessão, nos Estados Unidos (1861-1865). Nesse
período de prosperidade, observa-se o poder público
induzindo o crescimento da cidade por meio de um plano
de expansão proposto pelo engenheiro Adolfo Herbster.
Por fim, a baliza final – 1933 – coincide com a introdução
inserção da cidade em novas lógicas da rede urbana tardia de um novo ideário urbanístico (típico da Primeira
regional e internacional. Desse modo, a pesquisa busca República), representado no “Plano de Remodelação e
analisar duas escalas do problema, a da Urbaniza- Extensão” do engenheiro Nestor de Figueiredo. Proposto,
ção e a do Urbanismo. o plano foi refutado de imediato, o que demonstra o
Na longa duração, foram identificados três momen- fracasso do poder público nos seus esforços discipli-
tos de inflexão - 1810, 1863 e 1933 - definidos com base nadores e indutores do crescimento da cidade.
na documentação e correspondentes a planos ou levan- Isso porque, como comenta Manoel Teixeira,
tamentos urbanísticos realizados para a cidade. A baliza
cronológica inicial foi definida a partir da mais antiga Há momentos históricos em que o poder tem maior
representação de Fortaleza como capital da Capitania capacidade de intervir, em que há um conjunto
do Ceará, elaborada por Francisco Marques Giraldes1, de circunstâncias que justificam e propiciam essa
em 1810; o Plano de Expansão do engenheiro Adolfo intervenção, e em que, em resultado disso, há um
Herbster, datado de 18632, definiu o segundo corte; maior número de intervenções planeadas globais,
e o recorte final, dado pelo Plano de Remodelação e de grande escala. [...]. Ao mesmo tempo, e em todos
Extensão de Fortaleza, proposto pelo arquiteto Nestor os momentos históricos, continua a processar-se
de Figueiredo3, em 1933. a construção da cidade através da interacção de
A planta de 1810 representa a pequena Vila do Forte, múltiplos interesses privados. Cidades cuja cons-
correspondendo ao núcleo urbano no momento em trução é menos controlada centralmente e deixada
que assume o papel de capital da Capitania e de prin- ao cuidado dos vários promotores e interesses
cipal porto de embarque do algodão para o mercado privados, tende a ser, no seu conjunto, menos regu-
internacional. Nota-se que o processo de urbanização lares – do ponto de vista de uma ordem aparente,
acompanha os caminhos da economia algodoeira cea- geométrica – e baseadas em princípios de cultura
rense, tal como estruturado regionalmente e direcionado urbanística não codificados explicitamente, que
ao porto agroexportador. O ano de 1863 marca nova usualmente se designam por populares ou verná-
inflexão, quando o progresso material cearense alcançou culos (1999:13-14).
1 “Titulo completo (escrito no alto e ao longo da prancha) Plano aproximado da enseada da Villa da Fortaleza de N.S. d´Assumpção a qual
vulgarmente se chama Porto do Ceará, tirado pelo Capitão de Fragata F M. Giraldes, em setembro de 1810, indo de passagem para o Rio
de janeiro Latitude Observada 3º 41M Sul; Longitude (estimada) 30G 37M do Observatório da Marinha em Lisboa, que mandou tirar o actual
Governador Luiz Barba Alardo de Menezes” (CASTRO, 1997:38).
2 Este documento gráfico está inserido no Atlas do Império do Brasil, de Cândido Mendes de Almeida, de 1868.
3 De origem pernambucana e radicado no Rio de Janeiro, trabalhou com Alfredo Agache. Em 1932, propõe um Plano de Remodelação e
Extensão da Cidade do Recife, também não realizado.
24 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Assim, o livro pretende, em cada contexto, observar imóveis, espacializando os proprietários dos lotes
as seguintes questões: por meio das informações recolhidas na docu-
mentação primária (décimas urbanas, inventários,
as mudanças no processo de urbanização e suas descrições, iconografia e cartografia); reconstituir
consequências no espaço intraurbano; por exercícios gráficos, os espaços intraurbanos e
a arquitetura, com o objetivo de compreender as
assinalar, na configuração do tecido urbano, dinâmicas do processo e as transformações no
aspectos morfológicos (traçado, trama plani- intraurbano de Fortaleza em diferentes momen-
métrica e volumétrica ruas, quadras, praças) tos históricos, com base nas várias plantas dos
bem como dinâmicas usuais através dos tipos séculos XIX e XX e em documentos textuais;
de ocupação (baixa e alta densidade, implantação distinguir os agentes sociais envolvidos na apro-
das edificações no lote e perfil socioeconômico) priação e produção do espaço urbano;
e sua articulação com redes de infraestrutura
(porto, trem, bonde); analisar os planos e Códigos de Posturas Muni-
cipais do Império e compará-los com os Planos
caracterizar a natureza do tecido urbano da e Códigos de Obras da República (1893 e 1932),
cidade de Fortaleza entre 1810-1933, consi- para o entendimento do ideário que norteou
derando as tipologias edilícias (casas térreas, as transformações urbanísticas projetadas e/
sobrados e casas de chácaras), as finalidades ou realizadas, principalmente na área cen-
e os usos (residencial, comercial e misto) dos tral de Fortaleza.
IN T R O DUÇÃO 25
BALANÇO DA HISTORIOGRAFIA
4 Segundo Heloisa Barbuy, “A história urbana é realizada em diversas linhas de pesquisa desenvolvidas por vários autores, com diferentes
perspectivas e objetivos, em áreas como história social (e, dentro dela, a história cultural), história econômica, história do direito, sociologia,
antropologia, geografia e, de forma particularmente intensa, na área de arquitetura e urbanismo” (2006:17).
26 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Nesse sentido, ao tratar das escalas regionais e cidades brasileiras de fins do período colonial, 1777-
do intraurbano, buscou-se reconstituir, mediante 1882, (1999a): teorias e práticas em debate” (1999b) e “A
exercícios gráficos, as dinâmicas na rede urbana e modernização da cidade setecentista: o contributo das
do sistema urbano, analisando os desdobramentos culturas urbanísticas francesa e inglesa” (2004), recua
no espaço intraurbano5 de Fortaleza. Analisou-se o às teorias médicas higienistas e urbanísticas desen-
processo de apropriação e produção social do espaço volvidas especialmente na França no século XVIII,
material da cidade, dando luz aos agentes envolvidos e para mostrar que as ideias urbanísticas que nortearam
verificando o papel do poder público na orquestração intervenções no Brasil na Primeira República tinham
ou indução de ações da iniciativa privada. Desta forma, origem em tempos mais recuados e amadureceram nas
destacaram-se certos personagens que represen- políticas da gestão urbana implementadas no Império.
tam ações de grupos sociais com base, sobretudo na Integrando o grupo de pesquisadores coordenados
documentação primária. pela historiadora Maria Stella Bresciani6, do Instituto
A leitura dos anais dos Seminários de História da de Filosofia e Ciências Humanas, da UNICAMP, no
Cidade e do Urbanismo, realizados na última década, projeto temático intitulado “Os saberes eruditos e
revela especial investimento em pesquisas sobre a técnicos na configuração e reconfiguração do espaço
História do Urbanismo e do pensamento urbanístico, urbano: Estado de São Paulo, séculos XIX e XX”, Ivone
em detrimento das pesquisas relacionadas à História da Salgado coordenou o subtema “Saberes da medicina
Urbanização. A partir dos anos 1980-1990, observa-se e da engenharia: o higienismo na configuração urbana
especial interesse pelo período da virada dos séculos de São Paulo Imperial”. Esse grupo analisa as relações
XIX e XX. A primeira sistematização dos resultados em torno “da questão municipal, o aspecto dinâmico
referente à Primeira República ocorre em 1999, no das posturas municipais e as mudanças ocorridas
livro organizado por Maria Cristina da Silva Leme - no papel da técnica e dos saberes da engenharia na
Urbanismo no Brasil: 1895-1965, que reúne estudos discussão da questão urbana no período” (BRESCIANI,
sobre oito cidades brasileiras: Belo Horizonte, Nite- 2006:9), dando luz a um período até então negligen-
rói, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, ciado pela historiografia.
Salvador e Vitória. Segundo Cristina Leme, a história Outra linha de investigação com resultados pro-
das ideias urbanísticas desenvolvida no livro vai “per- missores é a da História Urbana, tal como realizada
mitir estabelecer questões e procurar os nexos entre o por Heloisa Barbuy, que analisa vestígios da cultura
proposto e o realizado”. O conjunto dos ensaios discute material para entender mudanças de sociabilidade.
“a relação do discurso com a realização, que remete Essa linha da história urbana, advinda da arqueologia,
à relação do conteúdo do plano à cidade real. Os privilegia a dimensão social e cultural nos processos de
interesses em jogo, no discurso e na prática.” Especial produção das cidades, com ênfase nos conflitos, ten-
atenção é dispensada às biografias dos profissionais do sões e embates entre os diferentes atores envolvidos.
urbanismo, focalizando “os dados sobre a formação, a Em seus estudos, Heloisa Barbuy elege um microterri-
inserção social, a relação com o serviço público, com tório7 (as ruas do triângulo paulistano), para “trazer à
a universidade, com as instituições de classe”, com luz dinâmicas que podem ter sido intensamente vividas
vistas a “estabelecer a trajetória desta área de conhe- por indivíduos ou grupos e que ficaram obnubiladas
cimento” (LEME, 1999:21). Nas décadas de 1990 e 2000, sob o véu das explicações mais gerais” (2006:21). Por
observam-se poucos estudos referentes ao período intermédio das transformações no “triângulo pau-
colonial e ao Império. A arquiteta Ivone Salgado é das listano”, a autora evidencia uma “intrínseca ligação
poucas a estudar a “História do Pensamento Urba- entre o espaço construído e espaço social” (2006: 34).
nístico” no Brasil-Império, desenvolvendo um grupo Desse modo, explicam-se os pontos de intersecção
de estudos na Faculdade de Arquitetura da PUC de da história urbana com a cultura material e a histó-
Campinas. Em seus artigos “Condições sanitárias nas ria social e cultural.
5 Destacou-se para este estudo um determinado trecho da Cidade entre o Passeio Público e a lagoa do Garrote, nos sentidos norte e sul,
como também maior aproximação nas transformações ao redor da Praça do Ferreira.
6 Pesquisa (1/2/2006 a 31/6/2011), tem como coordenadora Maria Stela M. Bresciani, com a equipe de pesquisadores: Cristina Meneguello,
Edgar Salvadori de Decca e Ivone Salgado, outros.
7 Na metodologia utilizada para a reconstituição gráfica de análise e interpretação das transformações de Fortaleza, foram empregadas várias
escalas do Município, do perímetro urbano, do tecido urbano e do intraurbano, dentre elas o microterritório da Praça do Ferreira.
IN T R O DUÇÃO 27
[...] impõe-se, sobretudo, pelo corte temático esco- volvimento desta tese. O conceito de urbanização
lhido, que aborda aspectos como a conformação como processo social, de Nestor Goulart Reis, permite
material das casas de comércio, sua respectiva trabalhar a escala da rede urbana (regional e inter-
inserção no espaço urbano e a circulação de bens nacional) e suas vinculações com as transformações
de consumo que dinamizam. Nessas noções estão de Fortaleza desde o momento em que ela assume
implícitos a circulação e o consumo não apenas de o papel de protagonista nas relações regionais com
coisas, mas também de ideias, valores e padrões de o mercado externo. A ideia é observar, na escala do
várias ordens (padrões de confecção, de constru- urbanismo, os mecanismos de apropriação do espaço
ção, de práticas sociais e de vida urbana), a serem urbano e o papel dos diversos atores envolvidos.
apreendidos pela perspectiva da cultura material Os estudos de Ivone Salgado subsidiam o exame
(BARBUY, 2006:25). das políticas e das ideias urbanísticas vigentes no
Brasil Império, cujos desdobramentos na Primeira
Outro trabalho interessante na perspectiva da His- República foram sequenciados por várias pesquisas
tória Social do urbano é o de Maria Luiza Ferreira de publicadas em teses, livros, periódicos e apresenta-
Oliveira, Entre a casa e o armazém. Relações sociais ções em reuniões científicas.
e experiência de urbanização: São Paulo, 1850-1900 Na linha da história urbana, tal como é desenvolvido
(2003)8, que lança luz sobre os setores médios e por Barbuy e Oliveira, pretende-se chegar à escala
intermediários da população paulistana envolvidos no dos modos de vida cotidiano e como se transformam,
mercado imobiliário e no processo de urbanização de verificando os embates com os projetos e as ideias
São Paulo, utilizando como principal fonte documen- que fundamentavam as propostas e as intervenções.
tal os inventários post-mortem. A autora mostra que Alguns autores que tratam de experiências urbanís-
a paisagem urbana não é homogênea, “ao contrário ticas específicas realizadas no Brasil durante o século
do que os projetos urbanísticos da época tentavam XIX são também referências fundamentais nesta pes-
produzir”, mas apresenta um caráter multifacetado, quisa. Convém destacar o trabalho de Antônio Roca
“especialmente ao se levar em conta outras estratégias Penteado (PENTEADO, 1968), Cristóvão Fernandes
de sobrevivência, outras formas de sociabilidade que Duarte sobre Belém e Manaus (DUARTE, 1996), Geraldo
não as das classes dominantes” (OLIVEIRA, 2005:30). Majela Gaudêncio Faria sobre Maceió (FARIA, 2004),
Essa historiadora dá especial atenção aos agentes Lígia Tavares da Silva (SILVA, 2008) e Maria Cecília Fer-
sociais, suas práticas e representações, em oposição nandes Almeida sobre João Pessoa (ALMEIDA, 2004),
aos estudos de perfil mais morfológico. Pedro Antônio de Lima Santos sobre Natal (SANTOS,
Essas referências teórico-metodológicas com 1998a) e Verônica Robalino Cavalcanti sobre Maceió
focos distintos e complementares pautaram o desen- (CAVALCANTI, 1998).
Este trabalho fundamentou-se em contribuições anterio- paisagem natural e as transformações no final do século
res realizadas por memorialistas, cronistas, historiadores, XVIII e início do XIX. Em 1919, pela editora Tyt. Besnard,
arquitetos e geógrafos importantes para a história da Frère do Rio de Janeiro, publica o livro Ceará- Homens e
cidade de Fortaleza. José Honório Rodrigues e Leda Factos, reunindo o resumo cronológico e vários ensaios
Boechet, no Índice anotado da Revista do Instituto do históricos sobre o povoamento do Ceará, como também
Ceará, consideram como início da historiografia cea- Fortaleza em 181013, em que “revela uma refinada sensi-
rense o ano de 1850, destacando vários historiadores bilidade social [...] e uma ampla visão de nossa realidade”
anteriores à fundação do Instituto do Ceará, em 1887, (MENEZES, 2005:126). Outro ensaio, A Fortaleza de 1845,
que configuram a primeira geração de pensadores sobre foi publicado em 1903 no jornal Unitário, assinado por
o tema. Depois da fundação do Instituto do Ceará, surgiu Outro Aramac, “pseudônimo do cronista João Brígido
a segunda geração de estudiosos e investigadores cea- dos Santos, proprietário e redator chefe do jornal” (CAS-
renses, sob a influência do Barão de Studart. A terceira TRO, 2005:116). Na época com 16 anos, apoiou-se “em
geração de autores é formada por Mozart Soriano Ade- sua prodigiosa memória mas também no testemunho
raldo, Raimundo Girão, entre outros, que se destacam de terceiros, contemporâneos dos fatos, e nas plantas
pelo “mérito da compreensão e da interpretação, do de Simões de Faria [1850] e do Padre Medeiros [1856]“
domínio sobre o documento e da adequada aplicação (CASTRO, 2005:116), que vai interessar particularmente.
teórica ao texto histórico” (RODRIGUES, 2002:53). Na Antônio Bezerra de Menezes (1841-1921), jornalista,
retrospectiva que segue, procurou-se organizar a biblio- cronista e autodidata, “foi uma das mais destacadas
grafia supracitada, contextualizando-a e analisando suas figuras do Ceará intelectual de seu tempo, que soube
contribuições para o presente estudo. projetar-se em grande estilo na vida cultural e política de
sua terra” (MENEZES, 2005:107). Em seu texto, Descrição
Século XIX da cidade da Fortaleza, publicado na Revista do Instituto
do Ceará, em 1895, expôs aspectos de Fortaleza, aten-
Tomaz Pompeu de Sousa Brasil, Senador Pompeu (1818- do-se às suas origens e apresentando suas principais
1877)9, advogado, deputado geral (1846), Senador do edificações e logradouros. Essas três descrições, de
Império, professor, jornalista10, é considerado o precur- 1810, 1845 e 1895, foram de fundamental importância
sor dos estudos demográficos e estatísticos no Brasil. para nossa análise dos atores sociais envolvidos na pro-
Dentre seus trabalhos, destaca-se a primeira edição dução do espaço urbano e para os nossos exercícios
do Ensaio Estatístico da Província do Ceará11 (Tomo I de reconstituição da cidade por meio das plantas de
1863, Tomo II 1864). Fortaleza datadas do século XIX.
João Brígido do Santos (1829-1921), memorialista Barão de Studart14 (1856-1938), médico, cronista,
cearense, advogado, professor, deputado12 e senador, geógrafo, historiador e editor de documentos, dedi-
que baseou sua pesquisa na “tradição popular e oral [...] a cou-se à pesquisa de arquivos, coleções particulares e
colher pelo interior, ainda vivas, as vozes da consciência bibliotecas brasileiras e europeias, sendo considerado
popular [...] impregnado do sentimento local da terra e uma das figuras notáveis da historiografia cearense,
da gente” (RODRIGUES, 2002:34-35). Em 1912, na Revista pois “ultrapassa realmente qualquer valor puramente
do Instituto do Ceará, publicou A Fortaleza em 1810, local para transformar-se numa expressão nacional.
uma crônica baseada em dados extraídos dos livros [...] o maior historiador local do Brasil, (RODRIGUES,
do antigo senado da Câmara (RODRIGUES, 2002:490). 2002:45). Entre seus trabalhos publicados, destaca-
Nela, descreve todos os detalhes da “Planta do Porto -se o Pequeno Dicionário Biobibliográfico Cearense,
de Fortaleza”, realizada pelo capitão-de-fragata Fran- apresentado entre os anos 1899-1907 em vários jornais
cisco Antônio Marques Giraldes, em 1810, no governo do Estado e na Revista da Academia Cearense. Pos-
de Barba Alardo. Relata minuciosamente aspectos da teriormente, foi editado em três volumes com o título
9 Esse ensaio sobre a estatística da Província é resultado de um contrato com o presidente da província, Pires da Motta, em 1855.
10 Participou do Jornal O Cearense, ligado ao partido Liberal.
11 Data de 1997 a edição fac-similar, em dois volumes.
12 Deputado provincial (1864-67), deputado geral (1878-81) Senador do Estado (1892) e deputado estadual (1893-94).
13 Em 2001, foi republicado pelas Edições Demócrito Rocha.
14 Guilherme Studart.
IN T R O DUÇÃO 29
Dicionário Bio-bibliográfico Cearense, entre 1910 e 1915. a cidade amada. O autor reúne uma série de artigos
O autor fundou a Revista do Instituto do Ceará, em que publicados no jornal Unitário sobre a antiga rua Formosa,
publicou vários textos, ressaltando-se, especialmente, atual Barão do Rio Branco, detendo-se no trecho entre
um completo levantamento dos estrangeiros, sob o titulo a orla marítima e a antiga rua das Trincheiras, atual Libe-
Estrangeiros e o Ceará. rato Barroso. Na parte final, descreve a antiga rua da
Paulino Nogueira Borges da Fonseca (1842-1908), Palma, atual Major Facundo. Do mesmo autor, o livro A
jornalista, professor, político conservador e católico pra- Praça (1989) é uma importante fonte de informação da
ticante, completou em 1865 o Curso de Direito (Recife), Praça do Ferreira no século XIX, enfatizando suas várias
sendo deputado na Assembleia Geral Legislativa (1872), transformações ao longo do tempo.
Vice-Presidente da Província do Ceará (1823 e 1875) e, Raimundo Girão (1900-1988), historiador, escritor
em 1878, Presidente da Província. Direciona seu estudo e prefeito de Fortaleza (1933-34), é autor de várias
para biografias exemplares do Ceará, dentre elas a de obras sobre o Ceará e a sua capital. O livro História
Antonio Rodrigues Ferreira, O Boticário Ferreira (1842- Econômica do Ceará (1947) é um dos primeiros estu-
1908), e a do coronel José Antonio Machado. dos sobre a economia cearense, dos primórdios até a
João da Cruz Abreu (1866-1947) é médico e adquiriu década de 1940, numa proposta de resumir os fatos
o título de doutor em 1892, no Rio de Janeiro, fixando econômicos por meio de uma extensa bibliografia, tor-
sua residência na capital do País, depois de uma tempo- nando-se consulta indispensável para o entendimento
rada no interior de São Paulo (GIRÃO, 1987:33). Mesmo da economia do algodão no Estado. Dedica-se também
vivendo fora do Ceará, dedicou-se à pesquisa histórica, à pesquisa e ao estudo sobre Fortaleza, no livro Geo-
tornando-se importante colaborador da Revista do grafia Estética de Fortaleza, publicado em 1959, e aos
Instituto do Ceará (1919 e 1922). Dentre suas publica- apontamentos genealógicos, Famílias de Fortaleza, de
ções, foram utilizados especialmente os artigos sobre 1975. O autor descreve a origem de algumas famílias
os Presidentes do Ceará no Segundo Reinado, princi- portuguesas e estrangeiras (Albano, Amaral, Gouveia,
palmente sobre Fausto Augusto Aguiar e Dr. Joaquim Machado etc.), atores sociais envolvidos na produ-
Marcos de Almeida Rêgo. ção do espaço urbano.
João Nogueira15 (1867-1947) engenheiro, diplomado Outros memorialistas, cronistas e poetas também
em 1896, no Rio de Janeiro, foi nomeado Chefe de Linha focaram aspectos de Fortaleza, sendo importantes
da Estrada de Ferro de Baturité. Escreveu Fortaleza Velha fontes de pesquisa para este trabalho: por exemplo,
(1981), resultante da seleção de suas crônicas publicadas o pintor, cronista e poeta Otacílio de Azevedo (1896-
nos jornais de Fortaleza entre 1921 e 1942. 1978), com seu livro Fortaleza Descalça, que descreve a
Gustavo Adolfo Luis Guilherme Dodt Barroso16 Fortaleza antiga e suas lembranças do início do século
(1888-1959), advogado, historiador, professor, político, XX; Herman Lima (1897-1981), autor da crônica Ima-
folclorista, contista, cronista, ensaísta, escreveu vários gens do Ceará, publicada no Rio de Janeiro em 1958
livros, dentre os quais À margem da História do Ceará e atualizada em 1977; e Eduardo Campos (1923-2007),
(1962), publicado pela Imprensa Universitária da Uni- bacharel em Direito, teatrólogo, escritor, jornalista e
versidade Federal do Ceará. O livro é uma coletânea de historiador, autor de Capítulos de História da Fortaleza
artigos sobre eventos do passado cearense, a história do século XIX: o social e o urbano, de 1985, e A Fortaleza
da praça do Ferreira, do velho Palácio da Luz, do sobra- provincial: rural e urbana, de 1988, em que transcreve as
dinho do naturalista Feijó, sobre o primeiro urbanista Posturas da Câmara Municipal da Cidade de Fortaleza,
de Fortaleza e outros temas. Como não indica fontes aprovadas pela Assembleia Legislativa Provincial, em
de consulta, os seus relatos parecem ser fruto de suas 1835, cotejando-as com as Posturas Municipais de
observações e vivências pessoais. 1835, 1865, 1870 e 1879.
Além desses autores, Geraldo da Silva Nobre (1924-
Século XX 2005), professor, historiador, jornalista, pesquisador
e “continuador do projeto de escrita da História à
Mozart Soriano Aderaldo (1917- 1995), bacharel em maneira do Barão de Studart”, possui ampla produção
Direito, professor, crítico, ensaísta, historiador e genea- bibliográfica. Suas pesquisas nos auxiliaram no estudo
logista, é autor do livro História Abreviada de Fortaleza, dos setores médios da população cujos nomes e perfis
reeditado em 1974, no qual foram incluídas varias crô- foram inventariados no livro O processo histórico de
nicas recentes; contém um subtítulo - Crônicas sobre industrialização do Ceará, de 1989. Geraldo Nobre rea-
lizou um minucioso levantamento nos livros da Câmara Vale destacar também algumas dissertações de
Municipal e no Arquivo Público Estadual do Ceará sobre mestrado e teses de doutorado sobre o tema17. O livro
Qualificação para o serviço ativo da Guarda Nacional As Razões de uma cidade: Fortaleza em questão, escrito
da Comarca da Fortaleza, de 16 de abril de 1851. Outros inicialmente como dissertação pela socióloga Maria
livros do mesmo autor foram também fonte de pesquisa Auxiliadora Lemenhe, em seu mestrado, foi de funda-
para nossos estudos, tais como Introdução à História do mental importância para o entendimento da expansão
Jornalismo Cearense, de 1974, Água para o progresso de e hegemonia de Fortaleza no contexto da economia
Fortaleza, de 1981, A capital do Ceará: evolução política e algodoeira. Diferencia-se deste trabalho na medida em
administrativa, de 1997, além de vários artigos na Revista que enfoca um recorte temporal menos amplo, com
do Instituto do Ceará e em jornais locais. objetivos diferentes, mais social e menos material.
Entre os arquitetos, destaca-se o trabalho do pes- À vista do exposto, conclui-se que são vários os
quisador e professor emérito da Universidade Federal do estudos realizados por memorialistas, cronistas, his-
Ceará, José Liberal de Castro (1926), fonte de pesquisa toriadores, arquitetos e geógrafos18 sobre a cidade
indispensável para o nosso livro. Merece destaque o seu de Fortaleza, porém é escassa a literatura que busca
livro Cartografia urbana fortalezense na Colônia e no analisar o processo de urbanização numa perspectiva
Império e outros comentários, de 1982, em que analisa histórica de longa duração (1810-1933), focalizando as
a evolução urbana de Fortaleza por meio da cartografia. transformações na tessitura urbana e os atores sociais
Em Arquitetura eclética no Ceará (1987), o autor discorre que as promoveram, e dela participaram, com base na
sobre o ecletismo no Ceará, mais especificamente na seriação de fontes conexas jamais tratadas simulta-
cidade de Fortaleza. Seus textos publicados na Revista do neamente: décimas urbanas, cartografia, inventários
Instituto do Ceará são referências para a compreensão post-mortem, legislação, censos, livros de notas. A linha
do Urbanismo e da Arquitetura de Fortaleza no século de investigação desta pesquisa advém particularmente
XIX - Contribuição de Adolfo Herbster à forma urbana dos trabalhos da historiadora Beatriz P. Siqueira Bueno
da cidade da Fortaleza (1994), Cartografia cearense no (2005 e 2008). Neles, a autora apresenta uma metodolo-
Arquivo Histórico do Exército (1997) e Tombamento do gia original de espacialização de documentação primária
sobrado do Dr. José Lourenço (2003). Outras publica- (décima urbana de 1809 e 1829, documentação carto-
ções foram também consultadas, tais como “Localização rial, projetos arquitetônicos, cartografia e iconografia),
da chácara Villa Izabel propriedade do livreiro Gualter da reconstituindo os agentes e as lógicas de apropriação
Silva” (2004), Uma planta fortalezense de 1850 reencon- e produção do espaço urbano de São Paulo por parte
trada (2005); esta última comenta o projeto de expansão da iniciativa privada, lote a lote, numa perspectiva his-
urbana de 1850, elaborado por José Simões de Faria. tórica de longa duração.
17 A tese de doutorado sobre a economia cearense do século XIX, na área de História Econômica da Universidade de São Paulo, é a de Ana
Cristina Leite - O Algodão no Ceará: estrutura fundiária e capital comercial (1850/1880). Denise Monteiro Takeya é autora de outra tese
de doutorado, defendida no Departamento de História da USP. Também merecem destaque duas dissertações de mestrado: “Urbanização,
dependência e classes sociais: o caso de Fortaleza” (1986), da arquiteta Regina Elizabeth do Rego Barros Marques, defendida na Sociologia,
Departamento de Ciências Sociais e Filosofia do Centro de Humanidades da UFC, e a da arquiteta Beatriz Helena Nogueira Diógenes, defen-
dida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, com o título “A centralidade da Aldeota como expressão da dinâmica intraurbana de
Fortaleza” (2005); Clovis Jucá Neto. Urbanização do Ceará Setecentista, as vilas de N. S. da Expectação do Icó e de Santa Cruz do Aracati.
Salvador: Tese (Doutorado), UFBa, 2007 .
18 Alguns trabalhos merecem destaque: COSTA, Maria Clélia Lustosa. ”A cidade e o pensamento médico: uma leitura do espaço urbano”. In:
Revista de Geografia da UFC, ano 1, número 2, 2002, e o texto “Teorias médicas e gestão urbana: a seca de 1877-79 em Fortaleza”. In: História,
Ciências, Saúde-Manguinhos, 11(1):57-7, jan.-abr. 2004.
IN T R O DUÇÃO 31
FORMULANDO QUESTÕES
O jogo das temporalidades entre a Colônia e a Código de Posturas, sancionado pelo decreto legisla-
Primeira República tivo de 1828 ordenava:
Ao cotejar Fortaleza com outras cidades do mesmo A Câmara deveria levantar planos, segundo os
período, foi oportuno analisar a natureza das políticas quais seriam formadas as ruas, praças e edifícios
de controle urbanístico empreendidas pelo Estado no na cidade e seu termo, e caberia aos arruadores
Brasil-Império, quer por meio de planos de expansão alinhar e perfilar o edifício regulando sua frente con-
para orientar o crescimento das cidades preexistentes, forme o plano adotado pela Câmara. Todas as ruas,
quer projetando cidades novas. Buscou-se analisar a estradas ou travessas que se abrissem na cidade
presença ou não de padrões urbanísticos, induzindo e seu termo deveriam ter pelo menos 60 palmos
graus de uniformidade planimétrica e volumétrica, com [13,20m] de largura, devendo os rocios, praças e
vistas a responder a algumas indagações: em que medida largos formarem quadrados perfeitos sempre que
Fortaleza é genuína ou similar a outras cidades, princi- o terreno permitisse (2000:11).
palmente do Norte e Nordeste19? Em que medida ela
segue determinado padrão corrente em outras áreas do Nota-se, com efeito, uma mudança nos elementos
Brasil? Houve uma política urbanizadora e urbanística no que condicionam a forma de apropriação e produção do
Brasil-Império? Quais os desdobramentos das políticas espaço, substituindo as orientações das Cartas Régias
urbanas do Império na Primeira República? e dos Autos de Fundação do período colonial pelas
A vinda da família real para o Brasil, em 1808, a orientações dos Códigos de Posturas do Império, funda-
Independência do Brasil, em 1822, a interrupção do mentadas em “mudanças ocorridas no papel da técnica
comércio de escravos com a África, em 1850, a Abolição e dos saberes da engenharia na discussão da questão
da Escravidão, em 1888, e a Proclamação da República, urbana no período” (BRESCIANI, 2006:9). Disso resultam
em 1889, são marcos políticos significativos, que vão algumas indagações sobre o Urbanismo das cidades
produzir “alterações significativas na sociedade e no brasileiras no período imperial: existe uma ruptura entre
espaço” (REIS, 2003:35). Em que medida condicionam o padrão urbanístico colonial e o padrão do Império? Se
mudanças espaciais no território e no intraurbano? Em há um novo padrão no período imperial, em que medida
que medida induzem políticas de controle das ações da difere das propostas e intervenções de embelezamento
iniciativa privada? e melhoramentos urbanos da República? Além disso, no
Implantou-se um regime monárquico, tendo como que diz respeito ao jogo das temporalidades, em que
imperador o herdeiro do trono de Portugal, e uma medida se observa a permanência de padrões urbanís-
economia baseada no trabalho escravo; “o Império ticos da colônia no Império e daquele do Império em
escravocrata, para melhor proveito de suas formas de plena 1ª República nas capitais do Norte e Nordeste?
exploração do trabalho humano, viveu em espaços des- Do material levantado nos Anais dos Seminários de
tinados às classes dominantes, entremeados de espaços História da Cidade e do Urbanismo (1990-2010), nas
ocupados pelas massas escravas, que garantiam a sua teses e dissertações acadêmicas acerca das experiên-
operação”. (REIS , 1994:15); quais as consequências des- cias urbanísticas realizadas no Brasil durante o período
sas opções no cotidiano dos espaços intraurbanos? imperial, verificam-se paralelos entre as realizações
Em razão das precárias condições sanitárias das urbanísticas nas cidades capitais do Nordeste e Norte
cidades brasileiras no inicio do século XIX, emerge um e a permanência de práticas vigentes no Império ao
debate “marcado por forte intercambio cultural com longo da Primeira República.
a Europa” (SALGADO, 2004:333). Assim, “as teorias Dentro das experiências urbanísticas, enfatizam-se
médicas e urbanísticas desenvolvidas especialmente dois grupos. No primeiro, estão aquelas cidades plane-
na França serão uma referência para o debate que se jadas ex-nihilo, substituindo as antigas capitais coloniais,
instaura no Brasil, tendo como principal fundamentação como é o caso de Teresina e Aracaju. No segundo grupo,
a teoria miasmática (SALGADO, 2004). Esse caráter estão antigos núcleos urbanos que assumiram novos
higienista caracteriza a legislação urbanística difun- papéis e, em função disso, se transformam, ao longo do
dida no Brasil Imperial, que padroniza a espacialização, Império e na República, orientados por planos de expan-
tanto das cidades capitais como de outras de porte são estatais que substituíram o “tipo cidade-fortaleza
médio. Segundo Ivone Salgado, o conteúdo do primeiro pelo tipo cidade-porto” (BONFIM, 2005).
Nos casos de Teresina e Aracaju, ambas são cida- Entre as antigas capitais da administração colonial,
des projetadas, na transição do Brasil-Colônia para o mereceram planos de expansão Belém e Manaus, as
Brasil-Império, como capitais dos Estados do Piauí e duas cidades mais importantes do ciclo econômico
Sergipe, respectivamente. da borracha da segunda metade do século XIX a 1920.
Teresina foi concebida como sede do Governo da “Os melhoramentos urbanos introduzidos, através de
Província, por meio da Lei nº 315, de julho de 1852, um programa de pesados investimentos em infraestru-
com desenho do mestre de obras português João tura, fizeram-se acompanhar, em ambas as cidades,
Isidoro França, representando com sua regularidade da planificação urbanística da expansão de sua malha
“a racionalização de recursos e a simplificação de viária” (DUARTE, 1996:73). Belém, na primeira metade
procedimentos. Função da topografia e de deman- do século XIX, iniciou os “trabalhos de drenagem do
das sociopolíticas, resultou na flexibilidade da trama pântano, possibilitando a ampliação da malha urbana,
urbana, na articulação das praças e na informalidade e o arruamento dos bairros de Nazaré e Umarizal”
dos loteamentos (BRAS e SILVA, 2008:43) (Figura 01). (DUARTE, 2007:56). A grande intervenção urbana,
Em 1858, com a criação da Companhia de Navega- entretanto, se deu no apogeu do comércio da borracha,
ção do Rio Parnaíba, a Cidade tornou-se “um ativo na administração Antonio Lemos, quando promoveu,
porto fluvial e centro comercial de toda a província entre 1883-86, “realizações urbanas, remodelando e
do Piauí” (DUARTE, 1996:65). ampliando significativamente a cidade a partir das
Aracaju foi fundada em 185520, e está inserida no diretrizes” (DUARTE, 1996:73) do projeto do engenheiro
“ciclo econômico do açúcar”, e seu “futuro econômico Manoel Odorico Nina Ribeiro. A proposta adotada previa
dependia das facilidades de escoamento da produção “a ocupação integral da 1ª Légua Patrimonial23 da cidade
canavieira. Assim a transferência da capital de São através de uma sofisticada composição urbanística,
Cristovão21 para Aracaju veio atender aos interes- articulando a malha ortogonal24 [...] com o traçado
ses da classe produtora de açúcar” (BOMFIM, 2005), do núcleo urbano preexistente” (DUARTE, 1996:73) do
como também a um interesse político, “pois a nova século XVIII (Figura 03). Uma nova versão do plano
localização da capital favorecia a um forte controle foi realizada em 1905 pelo desenhista municipal José
sobre as diversas regiões da província” (BOMFIM, Sidrim, reafirmando “os pressupostos fundamentais do
2005). Para elaborar o plano da cidade, Ignácio plano anterior, tais como a ortogonalidade e a monu-
Barbosa convidou o então Capitão d’Engenheiros mentalidade, limitando-se a pequenas retificações no
Sebastião José Basílio Pirro. Assim “obcecado pelo traçado” (DUARTE, 2007:57).
uso de linhas retas, Pirro prendeu-se nas malhas de Em contrapartida, o desenvolvimento econômico de
um traçado em tabuleiro de damas, [...]. Por conta da Manaus era bastante restrito até a segunda metade do
sua obsessão e por falta de conhecimento do caráter século XIX, pois, somente “em 1850, a região do atual
físico do terreno da nova cidade, o engenheiro abusou Estado do Amazonas deixou de ser uma comarca da
de aterros22 (Figura 02). província do Pará, passando a configurar como provín-
Em ambos os casos, observam-se planos sem cia autônoma” (DUARTE, 2007: 57). Durante a Primeira
preocupação com o sitio em questão, o que ocasio- República, no governo de Eduardo Ribeiro, iniciado em
nou desvio entre a proposta e o realizado ou pesados 1892, foi implantado um plano de expansão da Cidade25.
investimentos em aterros. Cristovão Duarte identifica na planta levantada de
1895 uma estrutura viária em grelha “constituída por
vias ortogonais orientadas segundo os quatro pontos
20 O presidente Inácio Joaquim Barbosa, com o apoio de políticos e senhores de engenho, por meio da Resolução nº 413, de 17 de março de
1855, elevou Aracaju - nascida de um arraial na colina do Santo Antonio, hoje bairro Santo Antonio – à condição de cidade e capital da província
de Sergipe Del Rey. Seu nome é de origem tupi, e, segundo estudiosos da língua indígena, significa “cajueiro dos papagaios”.
21 São Cristóvão, nesse momento, não oferecia condições geográficas adequadas para a instalação de um porto, onde o comércio pudesse
ser feito diretamente.
22 PORTO, op. cit., p. 31
23 Segundo Duarte, a 1ª Légua Patrimonial “abrangia uma área medida a partir de um ponto fixo, situado no Forte do Castelo, abarcando todas
as terras compreendidas num raio de 1 légua de comprimento (aproximadamente 6.600 metros)” (1996).
24 As avenidas com largura de 44m e travessa com 22m.
25 Segundo Duarte, no levantamento da bibliografia consultada, não encontrou referências ao plano desenvolvido na cidade de Manaus durante
o governo Eduardo Ribeiro, no período de 1891-1900. A referência utilizada baseia-se na análise da “Carta Cadastral da Cidade e Arrabaldes
de Manaos”, levantada pelo engenheiro militar João Miguel Ribas, em 1895.
IN T R O DUÇÃO 33
LEGENDA
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P ano de E pansão
Praças do P ano de E pansão
LEGENDA
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P ano de E pansão An go n eo urbano
cardeais, com largura variando entre 20 e 40 metros. “aberturas de ruas e a retificação de outras, a demar-
As quadras giram, majoritariamente, em torno de cação de praças e largos, assim como a demolição de
120x120 metros, chegando, porém, em alguns casos, edificações situadas fora dos alinhamentos traçados”
a atingirem o dobro destas medidas” (DUARTE, 1996:74). (FARIA, 2004:4). Nas palavras de Geraldo Majela Faria, a
A malha viária ortogonal implantada se superpunha à intenção desse desenho “não ultrapassava o gesto de
rede de igarapés que cortavam a área urbana, impli- simplesmente geometrizar aquilo que espontaneamente
cando no aterramento dos menores e na canalização ia sendo construído” (FARIA, 2004:4). A transferência
dos maiores (Figura 04). da capital de Marechal Deodoro para Maceió somente
Maceió só se tornou um importante núcleo urbano se efetivou em 1839, advindo do desenvolvimento das
na virada do século XVIII para o XIX, não só “em função exportações de açúcar, tabaco e coco pelo porto natural
da atividade comercial suscitada pela atividade portuá- de Jaraguá. Em 1868, uma planta foi elaborada com a
ria realizada na enseada de Jaraguá situado a pouco proposta de ampliação do tecido urbano entre o núcleo
mais de um quilometro do lugar” (FARIA, 2004:2), mas antigo e o povoado do porto de Jaraguá (Figura 05).
também pela “consolidação da importância econômica Nota-se, entretanto, que esse plano não foi efetivado
da região Sul da Capitania de Pernambuco, propiciando ao longo do tempo (Figura 06).
as condições para uma mudança na geografia política A criação de gado, a extração do sal, o cultivo da
e econômica desta região” (FARIA, 2004:3). Logo após cana-de-açúcar e do algodão no século XIX induziram
a criação do termo da vila (1817) e da sua autonomia, o crescimento e importância da cidade de Natal na
o capitão-governador Sebastião Francisco de Mello lógica da rede urbana do Rio Grande do Norte. Esse
e Póvoas ordenou, em 1820, a José da Silva Porto o momento de impulso da cultura algodoeira exigiu e
levantamento de uma planta cadastral26 para definir possibilitou a melhoria da infraestrutura voltada para a
26 Dessa planta, só restou uma planta de 1841, realizada pelo engenheiro das obras públicas da Província de Alagoas Carlos Mornay (FARIA, 2004:4).
36 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
LEGENDA
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P ano de E pansão
Praças do P ano de E pansão
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FIGURA 05 [ACIMA]
P ano de E pansão Plano de Expansão da cidade
LEGENDA
Praças do P ano de E pansão de Maceió, 1868.
Fonte: Almeida, 1868.
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P ano de E pansão FIGURA 06 [À ESQ.]
Planta da cidade de Maceió,
elaborada por Américo
Laszló, 1932.
Fonte: Cavalcanti, 1998:73.
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PP ano
ano de de E pansão
E pansão
Praças
Praças doano
do P P de
anoE de E pansão
pansão
produção, transporte, armazenamento, comercialização Lira contratou o agrimensor italiano Antonio Polidrelli.
e exportação do produto. O processo de modernização A implementação do plano de expansão da Cidade Nova
iniciou-se por volta de 1850 e se consolidou nas primei- foi levado a efeito somente em 1901. O Plano Polidrelli27,
ras décadas do século XX. como ficou conhecido, visava “garantir a expansão da
Na perspectiva de Pedro Antônio de Lima Santos, cidade que já se encontrava comprimida nos bairros da
Ribeira e da Cidade Alta”28 (Figura 07). Segundo Pedro
[...] além da organização da burocracia, com a Santos, esse plano se restringia a um parcelamento e
criação de novas instituições e suas instalações, arruamento do solo numa trama em xadrez, orientando
da implantação de infraestrutura e de serviços a expansão da cidade no sentido sul.
urbanos, também abrangeram a elaboração de A cidade de João Pessoa, fundada como Cidade
três planos urbanísticos e ações que visavam ao Real de Nossa Senhora das Neves (1585) por Felipe II,
embelezamento e à saúde pública da cidade e da depois denominada Filipeia de Nossa Senhora das Neves
população (SANTOS, 1998a:2). (1588), tinha como principal atividade econômica o açú-
car até meados do século XIX, mais tarde, acompanhada
Notam-se, ao longo do século XIX, algumas medidas, da cultura do algodão. Localizava-se “na periferia da
tais como aterros na área da Ribeira, um plano de sanea- rede urbana de cabotagem da civilização canavieira
mento (1896), envolvendo a remoção do matadouro e do Nordeste Oriental comandada por Recife, princi-
a mudança do Lazareto da Piedade, bem como o arra- pal centro produtor e exportador de açúcar” (SILVA,
samento da represa do Baldo. Somente no século XX, 2008:2). Os anos 1850 foram os mais dinâmicos em
houve uma ação urbanística e saneadora no bairro da termos de ações urbanísticas, realizadas com base nas
Ribeira. No âmbito das políticas de higiene e de sanea- questões higienistas típicas do Império. A administração
mento no Baldo e na Ribeira, o governador Tavares de do Tenente-Coronel Henrique de Beaurepaire Rohan
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P ano de E pansão
Praças do P ano de E pansão
merece destaque, pois se trata de um importante enge- nomia da cana-de-açúcar. Fortaleza só se tornou o
nheiro militar responsável por capitanear um plano de principal núcleo urbano do Ceará na segunda metade
remodelação da cidade. Ele promoveu, em 1855, “o do século XIX, graças ao seu papel na comercialização
levantamento de um plano de abertura das ruas da de produtos de exportação, principalmente o algodão,
capital e o seu nivelamento geral para viabilizar seu cuja valorização no mercado internacional elevou-se
calçamento” (ALMEIDA, 2004:54). Contratou dois enge- durante a Guerra de Secessão nos Estados Unidos.
nheiros estrangeiros - Bless e Poleman -, que realizaram Herbster propôs, em 1863, o plano de expansão para a
estudos e obras de infraestrutura, saneamento, abertura Cidade (Figura 08), projetando uma área nova equiva-
de ruas, alinhamento de outras, além de promover a lente a “umas seis ou sete vezes aquela ocupada pela
demolição de casas e becos com a finalidade de prolon- cidade na ocasião” (CASTRO, 1994:86).
gar avenidas e ruas (SILVA, 2008:9). A capital paraibana A planta levantada em 1931-32, informa que “a
apresentava no século XIX algumas inovações, ”seja em cidade ainda não havia conseguido preencher o traçado
estudos e melhor conhecimento da estrutura urbana, proposto por Herbster, salvo, pelo menos, de modo
na elaboração de posturas que direcionam a formação descontínuo ao longo das radiais e no trecho da parte
da cidade ou em intervenções na sua estrutura por leste mais próxima do centro, já no bairro emergente
meio de ações públicas” (ALMEIDA, 2004:44). Assim, da Aldeota” (CASTRO, 1994:70) (Figura 09).
esse período foi o “sinalizador de uma série de trans- Ao que tudo indica, planos de expansão semelhantes,
formações urbanas que se desencadeiam de forma em quadrícula, orientaram o crescimento das capitais
mais enfática no século seguinte” (ALMEIDA, 2004:44). de porte médio do Norte e Nordeste: Belém, Manaus,
Nesse panorama, enquadra-se o caso de Forta- Maceió, Natal e Fortaleza. Observam-se permanências
leza. Até a metade do século XIX, não passava de de padrões urbanísticos típicos do Império ao longo de
um pequeno aglomerado, ao contrário do Recife e toda a Primeira República: planos de expansão com base
de Salvador, que eram, já desde o período colonial, no traçado ortogonal, código de posturas localizando a
importantes centros urbanos, em decorrência da eco- implantação do conjunto urbano, zoneamento de fun-
IN T R O DUÇÃO 39
L n a F rrea
Per e ro do P ano de Herbs er
ções (matadouros, lazaretos, cemitérios) e melhorias iluminação e transporte público” (PINHEIRO, 2002:13). A
sutis nas áreas portuárias. As novidades urbanísticas maior intervenção com o objetivo de oferecer melhores
típicas da Primeira República chegaram, portanto, mais condições de circulação e salubridade localizou-se na
tarde nessas capitais. área onde se concentrava a vida comercial e financeira,
Em contraposição, as cidades de maior porte, ou seja, “na parte de baixo da cidade com o objetivo
Salvador e Recife, mereceram reformas urbanísticas de ampliar sua área e melhorar seu porto”. Foi, porém,
típicas da 1ª República: infraestrutura sanitária, ser- somente entre 1912 e 1916 que a Cidade passou por
viços de água, luz, esgoto; melhorias no transporte uma grande reforma urbanística, encabeçada pelo
público; modernização dos portos; grandes avenidas; governador José Joaquim Seabra, num momento de
novos equipamentos urbanos como mercados, mata- franca recuperação econômica, “ocupando, em 1905,
douros, teatros etc. o primeiro lugar na produção de cacau, um novo pro-
Salvador foi a primeira capital do Brasil e a segunda duto de exportação. Todas essas condições – capital
maior cidade do século XIX em número de habitantes, estrangeiro, nacional e local – viabilizam a realização
disputando com o Rio de Janeiro a liderança nas expor- das tão desejadas reformas em Salvador” (PINHEIRO,
tações do açúcar. A cidade, de “forma geral passou 2002:225). Essa experiência corresponde ao “projeto
por transformações em sua estrutura socioeconômica de modernização do porto (1906-1921) e ao de remo-
e também espacial com uma ampliação de sua área delação-ampliação do centro de negócios, na Cidade
urbana, um incremento em sua população, a introdução Baixa, e ao de abertura da Avenida 7 de Setembro, na
de novos serviços de infraestrutura e novos meios de Cidade Alta, durante a primeira gestão do governador
transporte” (PINHEIRO, 2002:12). Durante todo o século J. J. Seabra” (FERNANDES,1999:172).
XIX, existiu uma preocupação em alterar a malha urbana Outro exemplo de cidade do Nordeste que merece
colonial “através do alargamento das ruas e praças, modernização nos moldes republicanos é Recife,
da pavimentação das vias principais e da introdução importante entreposto comercial da região, com uma
de serviços de distribuição de água, rede de esgoto, condição portuária “que certamente marcou sua estru-
40 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
tura e fisionomia urbanas” (MOREIRA, 1996:777). As higiênica da Cidade” (DAMASCENO, 1996:56). Esse
reformas iniciaram-se no Império, na administração momento “coincide com os anos prósperos, quando o
do Conde da Boa Vista, em meados do século XIX, cultivo do café chega ao seu apogeu, e o Rio impõe-se
implantando-se “um modelo de gestão racional que como o grande centro comercial do País, apesar de
promoveu uma série de obras públicas de finm social, ser também um dos mais insalubres e epidêmicos”
[...] além de sedes do poder [...]. Essas obras eram (PINHEIRO, 2002:120). Foram apresentados dois rela-
capitaneadas por Luis Vauthier e por outros técnicos tórios: o primeiro deles (1875) tratava de um plano de
europeus” (MOREIRA, 1999:142). A tais iniciativas suce- expansão para a área norte da cidade e o segundo
deu a instalação das redes de serviços urbanos (água, era um plano de melhoramentos para a parte central
saneamento, bondes) sob a responsabilidade do setor e os bairros ao sul. Vários projetos de melhoramen-
privado. Ampla reforma urbana, entretanto, ocorreu tos propostos pela Comissão só foram realizados na
nas primeiras décadas do século XX, quando foi ela- gestão do Prefeito Pereira Passos (1902-1906), quando
borado e implantado o Projeto de Melhoramento do a Cidade “começa a ter um papel fundamental na
Porto, em 1908, desenhado por Alfredo Lisboa, asso- inserção do Brasil no capitalismo internacional, ao
ciado ao Plano de Saneamento do Recife, elaborado por transformar-se de porto exportador de café para
Saturnino de Britto, entre 1909 e 1915. Assim, por meio centro distribuidor de produtos importados, tornan-
do saneamento e do redesenho do bairro do porto, do-se também um mercado consumidor” (PINHEIRO,
Recife passou por “transformações significativas que 2002:124). Entre o período de 1904-1906, foi realizada
descaracterizaram sua feição colonial” (MOREIRA, uma das maiores políticas de intervenção urbana,
1999:14), nos moldes do que se vira em Salvador e se com a ampliação da rede de esgotos, o saneamento
veria a ver no Rio de Janeiro, São Paulo e Santos. das praias, “levando a uma inversão na polarização
Na primeira metade do século XIX, os projetos da cidade, com a abertura de numerosas avenidas 31
realizados no Rio de Janeiro destinavam-se a resol- e consequente valorização das áreas junto ao mar”
ver problemas de saneamento por meio do aterro (REIS FILHO, 2003:37). As obras de saneamento, a polí-
dos pântanos e das lagoas, desmontes de morros e tica de saúde pública, a melhoria no porto, a abertura
nivelamento do solo. Algumas intervenções pontuais da Av. Central e outras correlatas, a construção da av.
no espaço urbano foram propostas pelo arquiteto Beira Mar e os novos equipamentos urbanos - teatro,
francês Grandjean de Montigny29 (1825-1827) e pelo biblioteca, Escola Nacional de Belas Artes – foram de
então diretor de Obras Públicas e Engenheiro Henrique um novo caráter, diferentes das propostas do Império,
de Beaurepaire Rohan30 (1843), mas poucas foram embora delas herdassem os clamores.
realizadas. As recomendações pragmáticas de Rohan Simultaneamente, São Paulo merece transfor-
e o caráter formal de Montigny “viriam a constituir as mações afins, capitaneadas pela iniciativa privada e
bases das inúmeras propostas de intervenção apre- orquestradas pelo poder público. Até meados do século
sentadas na segunda metade do século XIX” (VAZ, XIX, a cidade “não se distanciou de sua fisionomia
1998:6). Em 1874, foi criada a Comissão de Melhora- colonial e não acompanhou nem de longe a Corte,
mentos da Cidade, instituída pelo Governo Imperial, no desenvolvimento urbano que se seguiu no Rio de
chefiada pelo engenheiro civil Francisco Pereira Pas- Janeiro, ou em algumas cidades do litoral do Nordeste”
sos. “A Comissão era uma resposta às constantes (BRUNO, 1991:8). Segundo Nestor Goulart Reis Filho, até
pressões que o Estado vinha sofrendo, fruto da falta 1860, São Paulo foi “beneficiada com a expansão da
de resultados pelos órgãos de saúde pública, assim produção do açúcar”, que foi substituída, entre 1840 e
como da necessidade de combater a caótica situação 1860, “pelas lavouras de café” (2004:111).
29 Segundo Lilian Vaz, coube ao arquiteto da Missão Francesa a incumbência de proporcionar à cidade ´monumentos dignos` de uma
capital (1998:5).
30 O mesmo engenheiro Presidente da Província da Paraíba em 1857.
31 Paulo Santos em O Álbum da Avenida Central descreve: A avenida começava no Largo da Prainha, hoje Praça Mauá, e terminava na praia
Santa Luzia, no lugar em que foi depois erguido o obelisco, num total de 1.800 metros de comprimento, por 33 metros de largura. Por essa
largura se esforçou Frontin, mesmo à custa de um pequeno corte no morro do Castelo, porque o objetivo era superar a largura da Avenida
de Mayo, de Buenos Aires (SANTOS, 1983).
IN T R O DUÇÃO 41
Em relação à cidade de São Paulo, José Geraldo modo geral daquelas indicadas na primeira Constituição
Simões Junior expõe: brasileira e nas leis subsequentes que a regulamenta-
ram [...] aos poucos é ampliado o alcance espacial e
[...] as intervenções públicas de caráter urbanístico temporal das deliberações da Câmara” (BRESCIANI,
ocorridas no período anterior à republica restrin- 2006:9). Várias dessas recomendações de alcance
giam-se unicamente a planos de interligação viária espacial foram mantidas ao longo da segunda metade
e a algumas obras de dessecamento de várzeas. No do século XIX até fins da primeira República. São
relativo aos instrumentos de controle da ocupação exemplos desse tipo de intervenção as propostas de
do solo, a Câmara prescrevia algumas normas expansão nas cidades capitais do Nordeste (como For-
ainda bastante primitivas contidas nos Códigos de taleza, Maceió, João Pessoa e Natal) e do Norte (Belém
Posturas de 1875 e de 1886, obrigando unicamente e Manaus). Fortaleza, (com o Plano de expansão de
que as ruas a serem abertas fossem retas, com Adolfo Herbster, de 1863), Maceió (em 1868), Belém, (na
largura de 16 metros , e que as praças fossem, na administração de Lemos, entre 1883-86, elaborado pelo
medida do possível, quadradas. engenheiro Manoel Odorico Nina Ribeiro), e Manaus,
com uma expansão implantada logo após a República,
O poder público não possuía nenhuma diretriz no ano de 1892. Esses planos de expansão somados
definida sobre os eixos de expansão territorial que aos projetos de criação “ex-novo” de capitais (Teresina
a cidade deveria seguir e nem sobre a infraestrutura e Aracaju) utilizaram o traçado em xadrez como padrão
a ser implementada. Coube sempre ao setor pri- planimétrico. Nesse aspecto, pode-se afirmar que o
vado definir a orientação desses eixos de expansão grau de controle nas capitais do Norte e Nordeste aqui
segundo a lógica de seus próprios interesses: se estudadas, à exceção de Salvador e Recife, segue um
aos especuladores imobiliários cabia a definição padrão de intervenção urbana por meio de um plano
das novas áreas a serem incorporadas à cidade, de expansão ortogonal da malha. No caso de Belém,
da mesma forma às companhias (de capital estran- a composição urbanística mantinha uma articulação
geiro) cabia a definição das áreas de implantação entre a “malha ortogonal projetada com traçado do
da infraestrutura básica (1992:127). núcleo urbano preexistente” (DUARTE, 1996:73).
Fortaleza não era exceção nesse sentido, pois a
As reformas urbanas no centro da Cidade, no período “malha ortogonal expandindo-se, eliminou as várias
republicano, aconteceram ao longo das administrações radiais [antigos caminhos de penetração] [...], as que
municipais do Conselheiro Antonio Prado (1898-1910), permaneceram passaram a iniciar-se em pontos relati-
do Barão Duprat (1911-1913) e de Washington Luís (1914- vamente distantes da parte central da cidade, algumas
1918). Esses planos “buscavam harmonizar os objetivos delas sem interligação direta com a cintura de avenidas”
declarados de interesse público e as oportunidades de (CASTRO, 1994:68). As diretrizes contidas na expansão
atuação no mercado imobiliário” (REIS FILHO, 2004:180). física programada previa uma grande ampliação urbana,
Por tudo o que foi exposto até aqui, observou-se que quase duplicando ou triplicando a área preexistente.
as cidades brasileiras do período imperial necessitaram Cidades como Fortaleza e Belém se destacam no con-
de controle sobre as condições higiênicas e sanitárias, texto regional pelo fato de seus planos serem efetivados,
principalmente em função dos surtos epidêmicos de ao contrário de Maceió, cujo plano não vingou.
febre amarela e de Cholera morbus, a partir de mea- Observam-se continuidades no padrão urbanístico
dos do século XIX. Para isso, o Poder Público atuou da Colônia para padrões que se seguiram à Indepen-
mediante a codificação de uma legislação edilícia, defi- dência, ao menos no que diz respeito à regularidade dos
nida no Império, que orientava intervenções na cidade. traçados já presente nas “preocupações iluministas,
O primeiro Código de Posturas32 foi introduzido com que haviam sido introduzidas por iniciativa do governo
o Regimento das Câmaras Municipais (1828), regula- português, com o objetivo de transmitir uma imagem de
mentando um vasto elenco de temas, referentes ao ordem e de disciplina” (REIS FILHO, 2004:113). As obras
alinhamento, limpeza, iluminação, “desempachamento” realizadas nas referidas províncias contavam com o
das ruas, estabelecimento de cemitérios, matadouros, apoio de profissionais ainda remanescentes da Colônia,
o alinhamento de ruas, caminhos e edificação, entre como engenheiros militares, mestres de obra ou agri-
outros. Na segunda metade do século XIX, “embora mensores, tais como o mestre de obra português João
as ações da municipalidade não se diferenciassem, de Izidoro França33, o capitão de engenheiros Sebastião
32 As posturas da Câmara Municipal da cidade de Fortaleza foram aprovadas em 1835 pela Assembleia Legislativa provincial.
33 De origem portuguesa, foi secretário geral de obras do governo do Conselheiro José Antonio Saraiva, presidente da Província do Piauí, em 1848.
42 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
José Basílio Pirro, o engenheiro Adolfo Herbster34, o Assim, é intenção mostrar neste livro que, entre
engenheiro Manoel Odorico Nina Ribeiro e o engenheiro 1810 e 1933, houve o protagonismo do poder público
militar Beaurepaire Rohan, e outros. na indução do processo de transformação urbana de
A vantagem desse traçado milenar Fortaleza, tanto por intermédio dos planos de expansão
(1850 e 1863), como por meio dos códigos de posturas
Constitui o meio mais simples e econômico de dividir que nortearam a volumetria e o zoneamento do con-
o solo; permite uma execução rápida por intermédio junto. A iniciativa privada participou do processo, mas
de técnicas rudimentares de cordoamento das vias; ele foi conduzido pelo poder público. A especialização
imprime notáveis condições de legibilidade e orien- dos espaços (comércio e serviços na área central) é
tação ao território urbano; estabelece um sistema fruto de políticas de zoneamento do poder publico. A
viário dotado de máxima permeabilidade otimizando área em torno da Praça do Ferreira passou por mudança
a circulação de pessoas e bens; facilita os sistemas gradativa - de uso predominantemente residencial para
de controle sobre a cidade (DUARTE, 1996:67). comercial -, induzida pela legislação vigente. A partir de
1933, verifica-se a falência do poder público em induzir
As políticas do Império incluem novas práticas a expansão da cidade, seja através do “Plano de Remo-
urbanística, como códigos de posturas e obras de delação e Extensão”, elaborado pelo arquiteto Nestor
saneamento (drenagem de áreas pantanosas e zonea- de Figueiredo, (1933), seja através do “Plano Diretor
mento de funções). Entre essas realizações, observou-se de Remodelação e Expansão de Fortaleza”, do enge-
que tais padrões diferem dos impostos na Primeira nheiro civil José Otacílio Saboia Ribeiro (1947). Sintoma
República, no que tange ao aparelhamento da infraestru- disso é o fracasso de ambos. Desde então, sobressaem
tura nacional, como a reforma e ampliação dos portos loteamentos capitaneados por indivíduos ou empresas,
(Recife, Salvador, Rio de Janeiro), ao que se associam definindo a colcha de retalho que caracteriza a expansão
modernos sistemas ferroviários, a modernização dos da malha urbana até o presente.
centros urbanos tradicionais (Rio de Janeiro, Recife, No que diz respeito à iniciativa privada, buscou-se
São Paulo) por meio de grandes cirurgias urbanísti- não tratá-la como categoria genérica, mas precisar
cas e obras de saneamento (água, luz, esgoto) (LEME, os protagonistas vinculados à produção material da
1999:22-25). Observa-se a permanência de práticas cidade, dando-lhe face, configurando perfis individuais
urbanísticas do Império, ao longo de toda a Primeira e de grupo e, sobretudo, quantificando e especializando
República, em Fortaleza e demais capitais de porte seus imóveis. Percebe-se que os maiores proprietários
médio do Norte e Nordeste. de imóveis urbanos eram negociantes (estrangeiros e
Com base no estudo de fontes primárias de natu- cearenses) envolvidos com o comércio internacional.
reza diversa – plantas, planos de expansão, códigos de Utilizam-se dois tipos de fontes - secundárias e
posturas, censos, décimas urbanas etc. –, partiu-se da primárias - para entender em perspectiva histórica a
hipótese de que, desde a eleição do Ceará como Capi- participação do poder público e da iniciativa privada
tania Autônoma, a cidade de Fortaleza cresceu induzida na apropriação e produção material de Fortaleza. As
por planos e normas de regulação urbanística elaborados fontes secundárias constituem-se basicamente de
pelo poder público, inseridos no ideário urbanístico típico livros, teses, dissertações, artigos em periódicos; de
do Império, sendo edificada pelas mãos da iniciativa memorialistas, cronistas, poetas, historiadores e arqui-
privada. Coube ao poder público orquestrar o processo tetos, sobre o período pesquisando, além dos estudos
de apropriação e produção social dos espaços. A partir que balizaram nossa opção teórico-metodológica, todos
de 1933, observou-se mudança no processo, pois, apesar já mencionados e analisados.
da cidade seguir sendo transformada pelas mãos da Optou-se neste livro por cobrir um tempo longo,
iniciativa privada, o poder público perdeu a capacidade 1810 a 1933, a fim de perceber as transformações,
de indução e condução. Sintoma disso é o fracasso de observando alguns momentos de inflexão, o que levou
dois planos reguladores, o de 1933 e o de 1947. a utilizar uma variada documentação primária.
34 Segundo pesquisa de Liberal de Castro, Adolfo Herbster nasceu em Recife em 1826 e viajou para Paris juntamente com seu pai, Jean
Baptiste Herbster, em 1842. Foi contratado pelo governo provincial de Pernambuco como engenheiro civil, e foi posto à disposição da Presi-
dência cearense. Não era engenheiro militar, “pois jamais se apresentou como tal, além de não pertencer ao Imperial Corpo de Engenheiros,
cujos membros permaneciam temporariamente em locais para onde eram designados. Apesar de ter vivido em Paris, não se titulou em duas
escolas, às quais solicitamos informações pertinentes. No caso, tanto a École Polytechinique como a École dês Pont-et-chaussées declaram
não guardar em seus arquivos qualquer referência a Herbster, mesmo entre os estrangeiros ouvintes. [...] De qualquer modo, não podem pairar
dúvidas quanto ao fato de Herbster ser diplomado, pois a Resolução n. 1161, de 3 de julho de 1865, “Aprovado posturas da câmara municipal da
cidade da Fortaleza”, assinada pelo Presidente da Província Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello, declara textualmente: Secção X –Do
Architecto - art. 13 - Ao Architecto, que será engenheiro formado nas Escolas do Império ou estrangeiras, incumbe...” (CASTRO, 1994:55-56).
IN T R O DUÇÃO 43
A cartografia e a iconografia juntas, além de docu- g) Planta da cidade de Fortaleza, levantada pelo
mentaram a vida da cidade, propõem diferentes leituras, padre Manuel do Rego Medeiros em 1856.
apontam vínculos entre a sociedade civil, o Estado
e o mercado, evidenciando [...] as persistências e as h) Planta Exacta da Capital do Ceará (1859), levan-
mudanças da paisagem urbana (PASSOS, 2009:20). tada por Adolfo Herbster.
Fortaleza não possui um grande acervo documental
gráfico como algumas capitais do país, o que se explica i) Plano de expansão da cidade de Fortaleza (1863),
pela pouca importância da capital cearense na rede elaborado por Adolfo Herbster.
urbana brasileira até meados do século XIX. Mesmo
assim, realizou-se um exercício de reconstituição gráfica j) Planta dos proprietários de terra na década de
com base na interpretação das séries documentais com 1870 elaborado por Adolfo Herbster,
vistas a mostrar a dinâmica e os diferentes momentos e
as várias escalas do processo. Para tanto, utilizaram-se k) Planta da cidade da Fortaleza e subúrbios (1875),
as seguintes plantas35: elaborada por Adolfo Herbster.
e) Planta da Villa da Fortaleza e seu porto39. Deta- Quanto ao acervo iconográfico, foram utilizados
lhe da Carta Geográfica do Ceará, província do o - Álbum de Vistas do Ceará, editado pela Casa Boris
Império do Brasil, redigida segundo uma carta em Nancy, no ano 1908, e o Álbum de Fortaleza de 1931.
manuscrita levantada em 1817 por Antônio da Ambos apresentam, além de belíssimas fotografias,
Silva Paulet e segundo as observações e as car- informações sobre edificações comerciais, indus-
tas marítimas de B. Roussin, por Schwarzmann triais e educacionais.
e Martius, 1831. Uma das principais fontes de pesquisa deste trabalho
são as Décimas Urbanas. Trata-se do primeiro imposto
f) Planta da cidade de Fortaleza (1850),40 organizada predial estabelecido para as cidades brasileiras, a partir
por Antônio Simões Ferreira de Daria. Desenhada de 1808, contendo a lista de todos os imóveis circuns-
em escala reduzida por J. J. de Oliveira em 1883. critos no perímetro urbano. Persistindo na Primeira
41 Esse jornal surgiu nos primeiros dias de 1825 e representava o Partido Liberal. Faziam parte da secção gráfica Leandro de Barros Caminha,
Manoel Beviláqua e Francisco Weyne Cambuti (NOBRE, Geraldo [1974].
42 Folha fundada em 24 de setembro de 1863, “surgida por efeito de uma dissidência na agremiação comandada pela família Fernandes Vieira
e desaparecida somente com a proclamação da República, em 1889”. (NOBRE, 2006:96)
43 Na mudança do regime, desaparecerem “os jornais representativos dos antigos partidos, ou assumem novos títulos [...] como no caso deste
jornal após a fusão com o “Libertador” (NOBRE 2006:124). Circulou como o mais importante jornal do período de 1892-1912, correspondendo
ao domínio da oligarquia do comendador Antonio Pinto Nogueira Acióli.
44 Jornal A República de 18.11.1893, artigo 2.
45 Regulamento da Diretoria Geral da Higiene foi aprovado pelo decreto legislativo nº 1643, em 8 de novembro de 1918, art. 303.
46 Artigo 303.
IN T R O DUÇÃO 45
reços, o que permitiu caracterizar os principais agentes do algodão e da redefinição do papel de Fortaleza
sociais envolvidos na apropriação e produção material como porto exportador do produto para o mercado
do espaço urbano da cidade. Processados esses dados, internacional, buscando compreender as políticas que
partiu-se para a reconstituição dos espaços intraurbanos orientaram as transformações da cidade quando da
– planimétrica e volumetricamente. Para a primeira metade sua hegemonia econômica e político-administrativa
do século XIX, como não se teve acesso a nenhuma a partir de 1799, ano em que foi designada capital da
Décima Urbana, recorreu-se aos memorialistas na recon- recém-criada Capitania do Ceará, independente da
figuração do tecido urbano e tipos de ocupação. Para as Capitania de Pernambuco. Na escala do intraurbano,
questões relacionadas às transformações urbanas na área buscam-se analisar as consequências das opções e
central de Fortaleza, a análise das Décimas Urbanas, do possibilidades condicionadas por suas novas articu-
Censo e do Código Municipal de 1932 foi essencial para lações territoriais.
se identificar o processo de especialização dos espaços e O terceiro capítulo – O papel do poder público e da
a verticalização na área central da cidade, principalmente iniciativa privada na apropriação e produção material
em torno da Praça do Ferreira. das áreas planejadas (1863-1933) - tem como base
O livro está organizado em três capítulos: o primeiro as plantas de 1888 e 1932, o Censo de 1887, a Décima
– Os antecedentes: Fortaleza na Colônia e a economia Urbana de 1890 e os almanaques, buscando traçar o
do gado (século XVIII-1810), retrata o papel de Fortaleza caráter da ocupação do Plano de Expansão de Fortaleza
na rede urbana regional em fins do período colonial, de 1863 até 1933, numa linha metodológica inédita, ainda
ressaltando a pecuária como uma das principais ativi- pouco explorada pela historiografia.
dades econômicas do Ceará e destacando os caminhos Finalmente, a título de Considerações Finais, desen-
das boiadas, que configuravam o território cearense, volvem-se algumas conclusões sobre o desdobramento
articulando-o às demais capitanias do Nordeste. e as mudanças observadas após a década de 1930,
O segundo capítulo – Fortaleza capital do Ceará e enfatizando o protagonismo das iniciativas privadas em
a economia do algodão: planos de expansão da cidade detrimento do poder público no processo de expansão
e normas reguladoras (1810-1863), trata da economia urbana da Capital do Ceará.
46 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
1.
OS ANTECEDENTES:
FORTALEZA NA
COLÔNIA E A
ECONOMIA DO GADO
(SÉCULO XVIII-1810)
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 47
N
Neste capítulo, analisa-se o papel de Fortaleza na rede
urbana cearense no período colonial (1799-1810), res-
saltando a pecuária como uma das principais atividades
econômicas do Ceará e os caminhos das boiadas, dos
quais a cidade ficava à margem. Procura-se compreen-
der as transformações em duas escalas, a do território
1.1 A PECUÁRIA E A LÓGICA DE
CONFIGURAÇÃO DA REDE URBANA
CEARENSE NO PERÍODO COLONIAL
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FIGURA 10 Reconstituição
cartográfica das bacias
hidrográficas do Ceará.
Fonte: Jucá, 2007:240.
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 49
FIGURA 11 Reconstituição
Oceano Atl â ntico dos caminhos de interação
da colonização portuguesa
segundo Capistrano de Abreu.
Fonte: Jucá, 2007:235.
F o r t a l e za
Recife
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LEG EN DA
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Rios Temporá rios
Clovis Jucá caracteriza o papel dessas vilas1 no Ceará: O historiador Capistrano de Abreu, ao analisar a
colonização do Ceará, indica duas correntes: uma em
Na totalidade do projeto de ocupação territorial direção ao “sertão de fora” e outra em direção ao “ser-
da América Portuguesa, as vilas criadas no sertão tão de dentro”. A primeira teria “ocorrido do litoral para
cearense, como sedes do poder metropolitano, o interior através do vale do Rio Jaguaribe e originária
adquiriram uma função econômica e política de de Pernambuco” e a segunda “de origem baiana que
controle da atividade pecuarista e de pontos nodais, teria iniciado a ocupação e colonização a partir do
na rede de circulação das boiadas, estruturando e interior” (SILVA, 1989:81) (Figura 11).
sustentando nexos do Estado Português entre o A pecuária foi uma das principais atividades eco-
Ceará e o restante da Colônia, além de divulgarem, nômicas do Ceará “com possibilidades lucrativas,
mesmo que de forma incipiente, as normas urbani- embora com uma reduzida produtividade e um pequeno
zadoras lusitanas no mundo da pecuária sertaneja. rendimento, e, consequentemente, baixo poder de
Daí o sentido econômico e político da rede urbana acumulação” (JUCÁ, 2007:223). Com a expansão das
em formação na América Portuguesa; ou seja, pela fazendas nos sertões, a travessia do gado em direção
fixação com a criação das vilas, constituía-se uma aos mercados torna-se longa e árdua, trazendo grandes
unidade política territorial por onde corriam a eco- prejuízos à produção pela perda e emagrecimento do
nomia e o movimento expansionista em direção às rebanho. Surgem, então, no século XVIII, à foz dos
regiões de fronteiras. Na rede, a heterogeneidade rios, as oficinas de salga que se utilizam do sal no
do espaço construído reflete os diferentes níveis processo de conservação da carne bovina, também
do investimento de capital e técnica na totalidade chamada “charqueada”2.
do território, variando de acordo com a importância
de cada núcleo no âmbito regional e em sua relação
com o todo da América Portuguesa (2007:141).
1 Segundo Pessoa, “na segunda metade do século XVIII, Portugal passou a implantar uma política sistemática de ocupação dos territórios
da América Portuguesa com a constituição de uma rede de cidades” (2007:19).
2 Esse processo consiste na salga da carne e tem “sido explicado como uma solução encontrada pelos criadores para livrarem-se dos
impostos - subsídio de sangue – que eram cobrados sobre o gado por ocasião do abate nos açougues públicos, e, sobretudo, como recurso
para superar as perdas que o transporte dos animais das zonas de produção para os mercados acarretava” (LEMENHE, 1983:11).
50 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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LEGENDA Es radas
3 Ligava o sertão nordestino com a zona marítima, desde o Piauí, passando pelo Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba até Pernambuco.
4 Chega outro navio de Portugal nesse mesmo ano, pertencentes ao portugueses Antônio Manuel Alves e José Pacheco Spinosa (GIRÃO, 1971:138).
5 Em 1842, recebe a condecoração de Comendador da Ordem de Cristo. Torna-se proprietário de uma grande área da cidade de Fortaleza,
segundo seu inventário, em 1869.
6 Foi fundador da Casa Inglesa, depois representada pela firma Holderness e Salgado, ambos empregados de Singlehurst & Cia (STUDART, 1908:360).
7 A Casa Inglesa no Ceará se estabelece sob a razão social de Singlehurst Corlett, Singlhurst & Cia. Transforma-se, em 1892, Horldeness &
Salgado, depois, em 1921, Salgado & Roggers e, por fim, Salgado S.A. (GIRÃO, 1959:151). Em 1882, foi proposto à Câmara Municipal a “dar-se à
rua do Chafariz o nome de Singlehurst em homenagem à casa comercial” (GIRÃO, 1959:151).
52 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
A revolução industrial, utilizando o algodão como na capital, Fortaleza. Àquela altura, a cidade cresceu e
matéria-prima na indústria têxtil, estimulou sua pro- mereceu investimentos em infraestrutura para realizar
dução nas regiões tropicais, sendo o Brasil uma das as transações comerciais externas e internas então em
áreas em que ela se desenvolveu, e isso provocou curso. Nessa época, foram realizados estudos sobre a
uma verdadeira revolução no sistema de exploração situação do porto, e para a instalação da alfândega e
da terra. Grandes áreas foram desmatadas para a do mercado público.
sua cultura, restringindo a área de gado, e para as O primeiro governador da Capitania do Ceará autô-
culturas alimentícias, uma vez que a produção do noma, Bernardo Manuel de Vasconcelos10, adotou uma
algodão provocou o crescimento populacional da série de medidas, tais como: instalação da Junta da
região. Cresciam as culturas do milho e do feijão, Administração e Arrecadação da Real Fazenda11; a cria-
associadas à do algodão e à da mandioca. Mas a ção da Casa de Inspeção e Arrecadação do Imposto
restrição da área de pastagens não trouxe prejuízos dos Algodões; a construção de três baterias de pedra
aos criadores, que eram também plantadores de e cal12 no porto do Mucuripe. O governador trouxe
algodão, porque as lavouras, após a colheita, dei- consigo o engenheiro militar e naturalista sargento-mor
xavam no solo o “restolho” que servia de alimento João da Silva Feijó, que foi incumbido de elaborar três
suplementar para o gado. Como a colheita se dava plantas da Capitania do Ceará. A Carta Topográfica da
na estação seca, essa alimentação vinha dar maior Capitania do Ceará de 1812, com o “Plano Hydrogra-
estabilidade à pecuária, diminuindo a necessidade phico da Villa” em sua extremidade esquerda, nos ajuda
de migrações para grandes distâncias. O impacto a conhecer o processo de formação e expansão da vila.
ecológico, porém, foi muito grande, uma vez que a O autor “diz ter-se apoiado em dados fornecidos pelo
expansão das lavouras acarretou o desmatamento, capitão F. A. Marques Giraldes, quer no levantamento
atingindo áreas de ´brejos` e de ´serras frescas` que do ancoradouro [...] quer no texto anexado ao levan-
formavam verdadeiras ´ilhas` ecológicas de florestas tamento” (CASTRO, 1997:29).
no meio das caatingas (2004:49). Algumas medidas também foram adotadas visando à
melhoria da economia cearense. O terceiro governador
No final do século XVIII, as secas dos anos de 1790 do Ceará, Luiz Barba Alardo de Menezes (1808-1812)13,
a 1793 desestabilizaram a pecuária cearense, enfra- impulsionou a agricultura e incrementou o comércio
quecendo a exportação de carne ante a produção do direto, “até então reduzido quase a permutas com
charque no sul. Ou seja, a seca “destruiu e matou quase Pernambuco, conseguindo, por meio de associações,
todos os gados dos sertões dessa comarca e por isso que os negociantes abrissem comunicação direta
veio a perder aquelle ramo de commércio das fábricas com alguns portos da Europa” (STUDART, 1908:327).
de carnes (GIRÃO, 1947, p. 161). Implementou, em 22 de dezembro de 1808, o primeiro
Com a independência administrativa da Capitania arrolamento da Décima Urbana14 em Fortaleza, bem
do Ceará8, foram enviados administradores régios, como o recenseamento da Capitania, apurando 125.878
entre eles os governadores9, que passaram a habitar habitantes (Figura 13).
FIGURA 13 Exercício de
reconstituição cartográfica –
Ceará – Estradas que partiam
de Fortaleza em 1817. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-base:
Carta Marítima e geográfica da
Capitania do Ceará, levantada
2
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1
por ordem do Governo Manoel
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5 Ignacio de Sampaio, por seu
Ajudante d´ordens. Antonio
José da Silva Paulet, 1917.
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Fonte: Jucá, 2007:255.
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LEGENDA
An ga Es rada Gera Es rada de Mon e Mor o No o Ba ur
Es rada de Can nd
54 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
A Vila de Fortaleza do Ceará é edificada sobre terra de referência para aviso aos navegantes que entravam
arenosa, em formato quadrangular, com quatro ruas, no porto” (CASTRO, 1997:42).
partindo da praça e mais outra, bem longa, do lado Mesmo sem representar a organização física com-
norte desse quadrado, correndo paralelamente, mas pleta da vila, o autor indica importantes referências. O
sem conexão. As casas têm apenas o pavimento Trapiche da Prainha, destinado ao embarque e desem-
térreo e as ruas não possuem calçamentos, mas barque, “um caminho perpendicular à praia. O traçado
n’algumas residências, há uma calçada de tijolos desse caminho terminava em dois retângulos, que talvez
diante. Tem três igrejas, o palácio do Governador, a representassem depósitos de mercadorias” (CASTRO,
Casa da Câmara e prisão, Alfândega e Tesouraria. 1997:40) (Figuras 15 e 16).
Os moradores devem ser uns 1.200. A fortaleza, de Ainda segundo Liberal de Castro (1997:40-41),
onde essa Vila recebe a denominação fica sobre
uma colina de areia, próxima às moradas, e consiste Antefigurando a atual Avenida Alberto Nepomuceno,
num baluarte de areia ou terra, do lado do mar, e saía da praia outro caminho, iniciando-se no ‘Sobra-
uma paliçada, enterrada no solo, para o lado da dinho’ e terminando num largo onde se erguiam
Vila. [...] Os edifícios são pequenos e baixos, mas o ‘Forte’ e a ‘Igreja Matriz’. Na continuação desse
limpos e caiados, e perfeitamente adaptados aos caminho para o interior, aliás não desenhada, apa-
fins a que se propõem. Não obstante a má impressão reciam anotações tais como ‘Pallacio’ e ‘IR’. Essa
geral, pela pobreza do solo em que essa Vila está indicação, posta junto de um pequeno retângulo
situada, confesso ter ela boa aparência, embora valorizado por uma cruz, sem dúvida configurava a
escassamente possa este ser o estado real dessa Igreja do Rosário.
terra (KOSTER, 2003:171-173)15.
Do largo (da Matriz), no rumo noroeste, partia um
Assim descrevia Fortaleza, em 1810, Henry Koster. caminho [...], que terminava num morro, ao lado do
Era uma vila de pequena importância, centro captador qual está assinalado ‘Cravatá’ ou ‘Passeio Público’.
e exportador do algodão para o mercado externo, Nascendo, pois, em torno do largo da matriz (atual
principalmente inglês, implantada em solo de areal Praça da Sé), esse caminho, dito ‘Passeio Público’,
frouxo, que dificultava a sua expansão física. Essa des- pouco depois receberia a denominação de Rua Nova
crição corresponde ao que está representado no plano da Fortaleza, mudada para Rua da Misericordia em
da Enseada da Vila de N. S. da Assunção, tirado por meados do século XIX e, já neste século, para Rua
Antônio Marques Giraldes, em 1810. A estrutura urbana Dr. João Moreira.
da vila não é alterada de imediato com as mudan-
ças no processo econômico-político da Capitania. O desenho, portanto, comprovaria graficamente
Por meio das principais cartas e desenhos antigos, é o risco da primeira rua aberta no planalto onde
possível conhecer a forma da vila e suas transforma- a Fortaleza veio a se desenvolver, rua nascida em
ções entre 1799-1810. ponto no qual a pequena vila começava a se afastar
No início do século XIX, há dois valiosos desenhos do trecho em declive, de ocupação mais antiga,
traçados pelo capitão de fragata Francisco Antonio Mar- marcada por um traçado irregular, acomodado às
ques Giraldes, cujos originais se encontram no Arquivo curvas do Pajeú.
Histórico do Exército/AHEx, RJ. O primeiro deles é o
“Plano aproximado da enseada da Villa da Fortaleza O segundo desenho do capitão de fragata Francisco
– 1810” (Figura 14). Segundo Liberal de Castro, “seria a Giraldes tem o título “Prospecto da Villa da Fortaleza N.
mais antiga representação gráfica da Cidade, posto S. Assunção ou Porto do Ceará”16, em 1810. “Trata-se de
que carta ou cartas anteriores não permitem que se uma magnífica representação à vol d’oiseau da Vila do
estabeleçam comentários objetivos sobre as primitivas Forte nos anos iniciais do século XIX, talvez a primeira
relações espaciais urbanas fortalezenses” (CASTRO, a dar ideia da organização espacial do pequeno aglo-
1997:42). Essa carta “desejava apenas apresentar pontos merado urbano” (CASTRO, 1997:47).
FIGURA 16 [EMBAIXO]
Reconstituição cartográfica
da enseada da Vila N. S. da
Assunção. Autora: Margarida
Andrade. Mapa-base: Plano
aproximado da Enseada da
Villa de N. S. da Assumpção [...]
tirado pelo capitão de Fragata
Fo A. M. Giraldes. Fonte: Arquivo
do Exército - AHEX, apud
Castro, 1997: 62-63.
En eada de
So a en o ou
Ja ara anga
En eada de Bar a en o
Re e ou de Mo or pe
r
arr
ad
oS
ar Re e Mo or pe
Pon a dos Arpoadores P o es de Pedras
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Na Figura 17, vê-se que a vila da Fortaleza estava em N. S. da Assunção ou Porto do Seará” (Figura 18), que
sitio elevado, apresentando estreita faixa de porto na nos permite compreender detalhes do sítio onde estava
parte baixa, nos moldes da típica tradição do urbanismo implantada a vila. O próprio autor declara ter servido de
luso. O “prospecto” mostra a ponta do Mucuripe (7) base para execução de seu desenho a “Carta Demons-
ocupada por um sistema de fortificações, composto pelo trativa da Capitania”, de Antonio Giraldes (CASTRO,
quartel construído de pedra em 1801 (2), São Pedro do 1997:28), descrita há pouco. Mesmo sem a intenção de
Príncipe e São Bernardo (3), Bateria da Princesa Carlota mostrar a forma urbana da vila e sim os elementos de
(4), Bateria de São João do Príncipe (5), todas de madeira referências22 para os navegantes, essa carta confirma
e desaparecidas17. Observa-se a Prainha (14), que desa- a pequena cidade descrita por Koster (Figura 19).
pareceu com as obras portuárias realizadas a partir do No governo do coronel Manuel Ignacio de Sampaio,
último quartel do século XIX (CASTRO, 1997:50). Vê-se foi contratado o engenheiro militar Antonio José da
um Trapiche (12), espécie de píer de madeira articulado à Silva Paulet, tenente coronel do Real Corpo de Enge-
Casa de Prensa de Algodão18 (15) e à Casa de recolher a nheiros. Nesse período, foram realizadas importantes
alvarenga (16). “Entre o Trapiche e o começo do planalto obras públicas, entre elas a nova Fortaleza de Nossa
em que a vila se assentou, havia muitas casas, algumas Senhora da Assunção e o Mercado Público, que polari-
delas dispersas ao longo da suave ladeira de ligação com zou o comércio de gêneros alimentícios. Paulet elaborou
o alto” (CASTRO, 1997:51). Está representado no começo importantes mapas da Capitania cearense23, tais como:
desta subida (17), atual Av. Alberto Nepomuceno, talvez a “Carta da Capitania do Ceará e costa” de 1813 (Figura
o sobradinho do sítio pertencente ao naturalista João 20), com dois detalhes significativos: a “Planta do Porto
da Silva Feijó19. Assim “formavam, à vista do mar, desde e Vila da Fortaleza; a Carta Marítima, e Geographica
a ponta do Mucuripe (7), casas pequenas e choupanas da Capitania do Ceará”, (1817), e a “Planta do Porto e
na praia e sobre as dunas em número de 37, sendo a Vila da Fortaleza”.
última o pequeno paiol da pólvora (21), na extremidade A organização urbana de Fortaleza decorre da tradi-
norte” (SANTOS, 2001:218). ção portuguesa de implantações costeiras, “de espaço
Outro desenho importante é a “Carta Topográfica da bipartido, com uma aglomeração na praia (ou na ribeira)
Capitania do Ceará”20, de 1812, elaborada na gestão do e outra, no alto, fortificada,” (CASTRO, 2009:24). Sua
3o Governador do Ceará e atribuída ao sargento-mor implantação definitiva se deu “no litoral, entre as duas
naturalista João da Silva Feijó21 . A “Carta Topográfica” bacias marítimas, uma de barlavento, o Mucuripe (1),
representa a Capitania do Ceará, seu relevo, rede flu- e outra a sotavento, a Jacarecanga (2). [...] uma aglo-
vial, rede de caminhos e rede urbana. Nela é possível meração no alto, defendida pelo Forte (3), e outra na
compreender a situação geográfica de Fortaleza em Praia (4) [...] (CASTRO:2009:24) (Figura 21).
meio à rede existente. No canto esquerdo, observa-se Nos primeiros anos do século XIX, o riacho Pajeú
o “Plano hidrográfico da enseada da vila da Fortaleza de “corria em sua baixada ou vale, que naturalmente inun-
17 “[...] destinadas mais a intimidar os nativos do que a proteger a colônia contra o ataque dos forasteiros, as fortificações portuguesas aqui
feitas no século XVII pouco duraram, desaparecendo todas com o caminhar desse mesmo século. [...] Os fortes que aqui surgiram no correr do
século XIX, concluídos com muito mais apuro do que os edificados anteriormente, tiveram também existência ephemera”. (STUDART JUNIOR,
1929/30:.86), A “Carta Geográfica do Ceará” de 1831, de M. Schwarzman e M. Le Chev de Martins, destaca a existência de apenas um forte.
Justificado por Carlos Studart, como falta de manutenção no período da Regência, quando “foi promulgada uma lei mandando desarmar quase
todas as fortalezas do Império, cahiram as baterias em ruína, sendo depois soterradas pelas dunas litoraes.” (STUDART FILHO, 1929/30: 86).
18 Segundo Brígido, local onde mais tarde se implantou a primeira Alfândega.
19 Liberal de Castro considera “o ´Sobradinho´ como ´provável residência´ do Naturalista [João da Silva Feijó], contrariando João Brígido,
que localizava a morada de Feijó bem mais acima, no alto da ladeira, já em frente ao Quartel General[...],” baseado “consoante os desenhos,
localizava-se na parte baixa da vila, provavelmente para desfrutar do uso farto da água que minava da encosta. Como as divisas meridionais
do sitio do Naturalista atingiam o topo da colina, talvez nesse ponto tivesse sido construída nova edificação, posteriormente conhecida por
Brígido” (1997:51). Esse sítio depois passa a pertencer a Manuel Franklin do Amaral, com um sobrado, uma casa anexada e mais um terreno “vis
a vis” do Quartel com 505,5 palmos (111,21m) de frente e fundo de 364,5 palmos (80,19m) (Inventário de 1875, pacote 33).
20 Carta sob n. 34 na coleção Studart e sob n. 784 no Catálogo da mapoteca da DSGEx. Título- Carta topographica/ da / Capitania do Ceará
/ que a / SAR / o Príncipe Regente / Nosso Senhor / Dedica / Luiz Barba Alardo de Menezes / Anno / de / 1812/. Dimensões: 76,4 [79] cem
X 53,4 [58] cm
21 Bernardo Manoel de Vasconcelos, o primeiro governador da Capitania autônoma, trouxe como engenheiro o Sargento-mor Naturalista João
da Silva Feijó, (1760-1824) “incumbido de estudar o paiz, suas producções, seus recursos e sua geografia” (NOGUEIRA, 1888:250).
22 ... querendo entrar pela barra de barlavento que tem mais de 300 braças de largura com a sonda de 3 e mais braças no meio e 3 nos
extremos, dever-se-há navegar do Mucuripe em direitura à barra do Ceará ou ao 4° N.O. e logo que se enfiar o Palacio ou a igreja do Rosario
pelo pau da bandeira do Forte se navegará naquella direcção até a distância pouco mais ou menos de 30 braças no extremo occidental do
recife meridional, e d´alli em direitura à casa da Polvora, para que o corpo do navio fique no maior fundo; [...] (GIRALDES, 1898:59-60).
23 Segundo Castro, possivelmente apoiado pela cartografia elaborada pelo naturalista Feijó (1994:61-63).
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 57
L E G 17
FIGURA E NVila
DA da LEGENDA 9 Barra da Prainha 19 Fortaleza
Fortaleza,1810. Mapa-base: 10 Barra do Norte 20 Contadoria e
Morrodade
Prospecto Modaor
Villa pe
Fortaleza 1 Morro deBarra do Nor e
Mocoripe 11 Arrecifes For a e a Quarteis de Infantaria
2 12 Trapiche
de Nossa Senhora d’Assunção
Quar e s de Mo or pe Quarteis de Mocoripe
Arre es Con ador a e 21 Caza da Polvora
Quar e s de In an ar a
de Francisco Antonio Marques 3 Forte de S. Bernardo 13 Reduto da Prainha 22 Igreja da Matriz
For Original
Giraldes. e de S manuscrito
Bernardo 4 Forte daTrap
Carlotae 14 Prainha Ca a da Po 23 oraMorro do Crauata
For e Histórico
do Arquivo da Car odoa 5 Forte deRedu o da
S. João do Pra n a 15 Caza da Prensa de
Principe Igre a da Ma r24 Serras de Marang
Algodão
Exercito,
For Rio deS
e de Janeiro.
João do Pr n pe 6 Vigia doPra
Mucuripe
n a 16 Caza de recolherMorro
alvarenga 25 Baixo
do Craua a de Areia
Fonte: Studart, 1923:352; 7 Ponta do Mocoripe 17 Subida para a V.a do Forte 26 Pedra da Velha
Castro, 1997:64-65 ur pe
V g a do Mu 8 Praia deCa a da Prensa de A godão
Mocoripe 18 Barra do Riacho Serras de Marang27 Pedras de Meireles
Pon a do Mo or pe Ca a de re o er a arenga Ba o de Are a
Pra a de Mo or pe Sub da para a V a do For e Pedra da Ve a
Barra da Pra n a Barra do R a o Pedras de Me re es
dava em sua grandes cheias” e dividia Fortaleza em Pajeú; e o bairro do Comércio (3) à esquerda,” (BRIGIDO,
duas áreas distintas: “na margem direita, o planalto” 2001:224). Ao redor desses bairros, havia chácaras e
(SANTOS, 2001:221), denominado de Outeiro da Prainha; sítios. O bairro no Outeiro da Prainha tinha “uma vista
na outra borda, uma área mais plana, futura área cen- esplêndida sobre o oceano, bafejado de uma brisa
tral. Os dois córregos da Lagoinha e o do Garrote constante” (SANTOS, 2001:224) (Figura 23).
dividiam este planalto em duas elevações24. Não é O núcleo urbano estava circunscrito ao norte
possível estimar a expansão demográfica de Fortaleza “por uma rua ou caminho, grosso modo, paralelo ao
na primeira metade do século XIX, mas a vila contava mar, aberto em continuação ao lado sul do quartel
com 1.200 habitantes, segundo Koster, em 1810. Em da Fortaleza (1)” (CASTRO, 1994:49-50), com algumas
1816, o governador Barba Alardo estimou não mais de quadras na margem esquerda (2) do Riacho Pajeú (3). O
3.000 habitantes (Figura 22). engenheiro Paulet, em 1813, projeta a abertura “de uma
Na descrição de João Brígido, a topografia dividia rua do lado oriental do riacho Pajeú, então obstáculo
a cidade em três bairros: “bairro da Praia25 (1), entre o físico ponderável à expansão da vila para o leste” (4)
mar e as barrancas; bairro do Outeiro26 (2), à direita do (CASTRO, 1994:49) (Figuras 24 e 25).
24 Brígido destaca esses dois pontos mais elevados: como sendo, do lado sul, a área do lote n. 112 da Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco),
e a do lado norte onde se implanta o Hospital da Misericórdia (Atual Santa Casa). Ainda destacam as palavras de Koster “a fortaleza e o paiol
de pólvora (atual Passeio Publico) estavam situados sobre uma montanha de areia.”(2001:222).
25 Segundo Bezerra, “desde o começo da vila [...] foi sempre o lugar da Prainha o ponto mais habitado e a Prainha compreendia o terreno que
se estende do pé do Outeiro à beira-mar...”(1992:151).
26 Vale destacar que existiam o Outeiro da Prainha e o Outeiro do Colégio.
58 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
3 4 1
60 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 61
FIGURA 22 Exercício de
reconstituição cartográfica
da planta do Porto e Vila
da Fortaleza, 1813, de José
da Silva Paulet. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-
base: Detalhe da Carta da /
Capitania do Ceará e costa /
correspondente levantada por
por// ordem do Governador
Manoel / Ignácio de Sampaio;
pelo seu ajudante de ordens
Antonio / José da Silva
Paulet no / anno de 1813.
M ocoripe Fonte: mapoteca do Itamarati.
Praia d’ M eirel es
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62 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 24 Exercício de
reconstituição cartográfica:
Fortaleza 1813 – área
urbanizada da vila da Fortaleza.
Mapa-base: Detalhe da planta
Porto do Porto da Vila da Fortaleza.
Fonte: Mapoteca do Itamarati.
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LEGENDA
1 Praça do Consel ho Em construção
2 Praça do Pal á cio Quadra
3 Paiol da Pó l v ora Ocupação
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 63
4 LEGENDA
Rua para e a ao ar
Quadras
Ra o Pa e
Rua aber a por S a Pau e
LEGENDA
Rua para e a ao ar
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Rua aber a por S a Pau e
64 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Realizou-se alguns exercícios gráficos de reconstitui- Na descrição de Fortaleza, em 1810, João Brígido cita
ção da Vila do Forte entre 1799 e 181027. Os exercícios seis ruas, dois becos e três praças28. Quanto às praças,
têm como base as plantas de Giraldes (1810) e de descreve a do Conselho (formada ao leste pela matriz, ao
Paulet (1813), às quais foram superpostas informações oeste pela Casa de Câmara e o Pelourinho), a do Palácio e
de outras fontes documentais (descrições da cidade, a da Carolina29. O levantamento cartográfico de Fortaleza
inventários post mortem, iconografia). Uma planta com realizado pelo engenheiro militar Silva Paulet, em 1813,
o traçado das vias e das quadras, a localização dos permite constatar a presença dos elementos típicos do
edifícios institucionais (Câmara, Palácio do Governo, urbanismo luso, tal como a Rua Direita dos Mercadores
Alfândega, Hospital) e das igrejas, principais referências (elemento gerador e aglutinador da estrutura física da
na estruturação do conjunto urbano. Outra com a ocu- cidade, articulado a um dos principais acessos ao sertão
pação inicial (1799-1810) linear e à margem esquerda do – a estrada de Messejana) e os largos com os principais
riacho Pajeú. Uma via estruturante nasce ao pé do Forte, edifícios civis, religiosos e oficiais. A Praça da Matriz e a
paralela ao curso do riacho, e foi designada Rua Direita Rua Direita são os geradores e estruturadores da malha
dos Mercadores. A existência de bom lençol freático ali urbana. A praça Carolina “fora resultado do reajuste e
permitiu a implantação de chafarizes dentro do núcleo alinhamento do pátio ou campo situado ao norte e ao
urbano. A Rua Direita dos Mercadores ligava-se à Estrada poente” da Casa dos Governadores. “O aproveitamento
de Messejana, no sentido sudeste, e à Estrada do Laga- daquela espaçosa área se fez de modo a deixar-se, por
mar. Para o Largo do Quartel, num esquema centrípeto, detrás da casa da Câmara um vasto pátio ou terreno
também convergiam outras estradas: a de Soure e de cercado até a Rua Boa Vista” (GIRÃO, 1959:112). A Praça
Arronches e a do Tauape (Olaria) (Figura 26 e Figura 27). Carolina, de forma retangular, foi geradora do traçado
Em 1810, nota-se a presença de dois núcleos: um ortogonal das ruas norte–sul - ruas Boa Vista (atual
pequeno centro urbanizado à margem esquerda do ria- Floriano Peixoto) e da Palma (atual Major Facundo) - e
cho Pajeú, suportando as diversas atividades urbanas, e das poucas travessas no sentido leste-oeste. O mercado,
outro ligado às atividades portuárias. Na área ocidental, projetado por Paulet e construído por Simões de Faria, foi
verifica-se certa disciplina urbanística, orientada pela implantado acompanhando o alinhamento da Rua da Boa
Câmara, caracterizada pelas ruas e quadras de traçado Vista, que lhe corre paralela. Com a expansão do comér-
regular, alongadas a partir da Praça Carolina, cortadas cio, essa praça passa a ser conhecida como Feira Velha.
ortogonalmente por algumas poucas travessas. A parte
arruada era composta por duas vias orientadas no sen-
tido norte-sul, a Rua do Quartel e a Rua Boa Vista, e de
poucas travessas, muitas vezes denominadas de becos.
A travessa das Flores, perpendicular à Boa Vista, era
“bastante frequentada por causa dos açougues e dava
saída para o matadouro e para Jacarecanga” (BRIGIDO,
2001:225) (Figura 28 e Figura 29).
27 Utilizou-se a planta de Paulet de 1813, a fim de oferecer uma ideia da expansão urbana de Fortaleza entre 1799-1810.
28 Henry Koster refere-se a quatro ruas e uma praça.
29 Assim denominada, em 1817, em homenagem à arquiduquesa Maria Carolina Leopoldina, por ocasião de seu casamento com D. Pedro I
(GIRÃO, 1959:111).
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 65
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4 - M atriz
5 - Igreja do Rosá rio
6 - Casa de Câ mara
7 - Antiga Residê ncia dos G ov ernadores
8 - Assemb l eia Prov incial
9 - M orro do Croatá
10 - M orro do M oinho
11 - M orro da Jacarecanga
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FIGURA 26 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1799: Quadras e Vias.
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta do porto e
Villa da Fortaleza, 1817 elaborada
por Antonio José da Silva Paulet.
Fonte: Brígido, 2001; Castro,
1994; Giraldes, 1810 (planta da
enseada); Menezes; 1992; Outro
Aramac, 1979; Planta da Fortaleza
1859 e 1945.
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FIGURA 27 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1799: Ocupação.
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta do porto e
Villa da Fortaleza, 1817 elaborada
por Antonio José da Silva Paulet.
Fonte: Brígido, 2001; Castro,
1994; Giraldes, 1810 (planta da
enseada); Menezes,1992; Outro
Aramac, 1979; Planta da Fortaleza
1859 e 1945.
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6 - Casa da Prensa
7 - Casa para recol her al v arengas
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12 - Igreja M atriz
13 - Forte em Construção
14 - Pal á cio do G ov erno
15 - M orro do Croatá
16 - M orro do M oinho
17 - M orro da Jacarecanga
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FIGURA 28 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1810-13: quadras e
vias. Autora: Margarida Andrade.
Mapa=base: Planta do porto e
Villa da Fortaleza, 1817 elaborada
por Antonio José da Silva Paulet.
Fonte: Brígido, 2001; Castro, 1994;
Giraldes, 1810 (planta da enseada);
Menezes, 1992; Outro Aramac, 1979;
Planta da Fortaleza 1859 e 1945.
FIGURA 29 Exercício de
reconstituição cartográfica –
Fortaleza 1810-13 – ocupação.
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta do porto e
Villa da Fortaleza, 1817 elaborada
por Antonio José da Silva Paulet.
Fonte: Brígido, 2001; Castro,
1994; Giraldes, 1810 (planta da
enseada); Menezes, 1992; Outro
Aramac, 1979; Planta da Fortaleza
1859 e 1945.
Pretendemos identificar os principais agentes respon- guesias (BUENO, 2005:68) e a Décima Urbana do Rio de
sáveis pela configuração da Cidade nesse momento, Janeiro, entre 1808-10, registra 7.548 imóveis, em cinco
uma vez que “pensar a cidade significa pensar junto à freguesias (CAVALCANTI, 2004:266). Assim, em 1808,
malha urbana e territorial, enfocando-a ainda como um no “auto de audiência geral de providências e capítulos
observatório das relações entre homens” (LEPETIT, apud de correição”, o ouvidor Francisco Affonso Ferreira já
SALGUEIRO, 2001:15). exige que a Câmara “prohiba de edificar-se no lugar
que principia das casas do Capitão Felippe Lourenço
1.4.1 A Câmara Municipal no controle do e José de Agrella, erectas no fim da rua32 que segue
Crescimento urbano de Fortaleza para a Estrada de Mecejana”, antes que as pessoas “se
disponhão a fazê-lo no centro da villa e no terreno da
A ação reguladora das Câmaras no período colonial casa da pólvora” (CAMPOS, 1988:43).
manifestava-se “por meio das posturas e apoiava-se, O “Livro de Registro de Ofícios dirigidos aos Militares
quando possível, nos engenheiros e mestres existentes” da Capitania do Ceará”33, de 1812, é de fundamental
(REIS FILHO, 1968: 118). importância. Destaca os cuidados urbanísticos e as
A Vila do Forte, entre 1799 - 1810, era muito pequena. intervenções realizadas pela Câmara na Vila do Forte,
A Décima Urbana de 180830 registra só 159 prédios, e tais como melhorias no fornecimento de água potável,
uma arrecadação de 236$599 réis: “O primeiro prédio preocupação com o alinhamento das ruas e proposta
avaliado foi um de propriedade do patrimônio de S. de um novo plano de expansão a para área leste da
Jose’ em que morava o vigário Antonio José Moreira31 vila. Várias medidas foram adotadas nos primeiros anos
ao preço de 16$000 anuaes, e o segundo, um em do século XIX. Em relação aos cuidados urbanísticos,
que morava o proprietário, sargento-mor naturalista sobressaem-se as diretrizes para regularização do
Joaquim da Sylva Feijó” (STUDART, 1908:331). Compa- traçado urbano. O ofício encaminhado para o tenente-
rativamente, em São Paulo, o livro da Décima Urbana -coronel Antonio José da Silva Paulet determinava as
de 1809 indica 1.281 imóveis circunscritos em duas fre- diretrizes do alinhamento das vias:
30 Tem-se acesso à Décima Urbana de 1808 na Revista do Instituto do Ceará, de 1895, que transcreveu a notificação do Auto do 10
lançamento da Décima Urbana da Villa da Fortaleza de Nossa Senhora da Assumpção, Capitania do Seará Grande - “em que sua alteza
Rial o príncipe Regente Nosso Senhor mandou imppor Décima nos seus respectivos rendimentos pelo Alvará de 27 de junho do corrente
anno de mil oitocentos e oito – Escrivam Freire - Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e oito annos
aos vinte dois dias do mez de Dezembro do dito nessa Vila da Fortaleza Capitania do Seará Grande do Doutor Desembargador Ouvidor
Geral e Corregedor da Comarca Francisco Affonso Ferreira onde fui vindo eu escrivam da Inspecam do Algodão desta mesma Villa abaixo
nomeado no impedimento dos da Correscan e sendo ahi fez o mesmo Ministro como superintendente da Nova Coleta da Décima que se
há de cobrar pelos rendimentos dos Prédios Urbanos desta mesma Villa vir perante si o Doutor Francisco Luiz de Maris Sarmento como
Fiscal nomeado por ele dito Ministro para a mencionada Coleta, ao Capitam Domingos Fernandes Pinto como hum dos homens bons desta
Villa, a Clemente Tavares da Lus como homem bom do Povo, aos dois carpinteiros Luiz Ignacio Pereira, Manoel Roberto Goiana e o pedreiro
Boaventura Garcia do Amaral, que todos haviam sido nomeados pelo mesmo Ministro e aprovados pela Rial Junta da Fazenda desta sobredita
Villa para Membros da Nova junta que sua Alteza Rial Manda criar pello Alvará de vinte sete de junho próximo pretérito ao corrente anno
ao fim de se avaluarem os rendimentos dos Prédios Urbanos desta sobredita Villa para delles se exigir Décima na forma que determina
o referido Alvará relativamente ao presente anno de oito centos e oito e sendo ahi pelo mesmo Ministro a todos foi difirido o juramento
dos santos Evangelios em hum livro delles em que puzeram suas mãos direitas sob o qual lhes incarregou que bem e verdadeiramente
numerassem e avaliassem os rendimentos dos mencionados Predios Urbanos desta referida Villa assim aquelles em que moram os seus
respectivos Proprietários como aqueles que estam dadas a aluguer fazendo tudo o mais que tocar a seus offícios e serviço de sua Alteza
Rial pena de incorrerem nas da Lei e recebidos por elles ditos juramentos assim o prometeram fazer de que de tudo para constar mandou
o dito Ministro fazer este Auto neste Quaderno em que com todos assignou e mandou que satisfeitas a assignaturas se desse princípio
a referida Numeraçam e avaluaçam dos referidos reditos e eu Balthazar Freire Lopes Escrivam o escrevi. Affonso Ferreira- Francisco
Luiz de Maris Sarmento- Domingos Fernades Pinto- Clemente Tavares da Lus- Luis Ignacio Pereira- Manoel Roberto Goiana- Signal de
Boaventura Garcia do Amaral” (1895:139).
31 Existe um inventário do tenente Antônio José Moreira, de 1831, pacote 87o, casado com a inventariante Maria da Penha Beviláqua; não
possuía bens de raiz, porém era dono de três escravos. Dívida passiva- José Maria Eustáquio, Antonio Rodrigues Samico e o boticário Antônio
Rodrigues Ferreira.
32 Rua Direita dos Mercadores
33 Livro n. 33, Registro de Offícios e Ordens dirigidas por este Governo ao Vedor da Gente de Guerra e aos chefes e mais Officiaes de
Linha e Milícias.
70 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Off.o dirigido ao tenente Coronel An.io Joze da Silva Trata-se do primeiro chafariz público de que se
Paulet sobre os requerimentos de J.e An.io Costa, tem notícia, dotando a vila de água potável, no entanto
e [ilegível] Manoel [ilegível] de Sá que lhe porão implantado em propriedade particular, o que causou
a informar. transtorno, quando da mudança do proprietário, fruto
do seu fechamento para utilidade pública “sem indenizar
O requerimento de Joze Antonio Costa que lhe a fazenda pública, que fez a despesa das constru-
[ilegível] informa im 27 de Julho, e que V. M.ce infor- ções, e a câmara municipal, que tinha a propriedade
mou em 29 do dito [ilegível] seguinte = Deverá Jose dele” (SANTOS, 1979:40).
Antonio da Costa [ilegível] de maneira que a frente Silva Paulet foi o engenheiro militar enviado para a
das casas alinhamento que vem das casas de Joze Capitania do Ceará, no período colonial, com o objetivo
Coelho Bastos, como se acha determinado no auto de fazer levantamentos cartográficos do território e
de posse e cordoamento lavrado em 27 de maio de realizar obras arquitetônicas e intervenções urbanísticas,
1805 pelo Almotacé Joze de Castro e Silva, docu- como, reconstruir a velha Fortaleza:
mento n.o 6, e confirmado não só pelo [acórdão] de
julho de 1811, documento n.o [?], como também, por Tendo várias pessoas desta Capitania contribuído
hua licença do Almotacé de 12 de Julho de 1811, com avultadas quantias para as fortificações della,
documento n. 9, e como este p. de [moto?] pró-
o a
tenha resolvido reparar e pôr em hum melhor estado
prio [necessa ...?] palmo do cunhal da parte direita, de defeza a Fortaleza q.’ dá o nome a esta Villa. Por-
documento n.2, vindo por esta forma a fazer hua tanto, deve V. M.ce passar a levantar a Planta da dita
nova tortura na rua, motivo este porque a outra Fortaleza do quartel que lhe fica conjunto e das cazas
devia com o effeito ser embargada. Deve o Sup. te
contíguas e, a vista da planta, me proporá V. M.ce o
corrigir este defeito, fazendo avanças o dito cunhal plano de reedificação que julgar mais conveniente
tanto quanto for necessário para que a frente de e econômico, tendo em vista que o fim principal da
toda a caza fique justamente no alinhamento das dita Fortaleza deve ser dominar o fundeadoiro dos
cazas de Joze Coelho Bastos = O Requerimento de Navios e Barcos costeiros batter a barra grande e
Manoel Correia de Sá, que lhe mandei informar em abarretar como também bater a principal avenida
[?] de Agosto, e que ... desta Villa para a parte do mar que he a ladeira que
vem da prainha. Deos Guarde V. M.ce Villa da Fortaleza
Este ofício confirma a ação reguladora realizada 20 de maio de 1812 . Manoel Ignacio de Sampaio. S.r
pela Câmara já desde 1805, quando o Auto de cor- Antonio Joze da Silva Paulet. Ten.te C.el do Real Corpo
doamento foi lavrado. de Engenheiros. (LIVRO, 33:23) (Grifou-se).
Outro ofício merece destaque:
Pelo que se depreende do ofício, a preocupação da
...tendo o Tenente-Coronel João da Silva Feijó34 gra- Câmara era reparar e reedificar parte da fortaleza da
tuitamente offerecido hua das nascentes d´ágoa que vila, bem como definir a principal “avenida” relacionada à
tem seu sítio, ou chácara para hum chafariz público, prainha, até então uma simples ladeira sem calçamento.
ordeno a V. M.ce que passe a nivelar o terreno, e a Sobre a regularidade e os passeios laterais das vias
pôr em prática as mais operações que lhe parecem públicas:
necessárias para se determinar o lugar em que se
pode erigir o dito chafaris, a fim de que o público Havendo um grande número de pessoas que pre-
possa utilizar-se da generoza offerta deste bom tendem cazas nobres, e outras nesta Villa, e sendo
e honrado patriota, e do rezultado de suas obser- necessário que ellas fiquem todas alinhadas com
vações me dará V.M.ce parte. D.s G.e a V. M.ce Villa devida regularidade, e em tudo conforme ao plano
de Fortaleza 26 de Abril de 1812 = Manoel Ignacio que me consta que a Camera desta Villa tem adop-
de Sampaio = Snr Antonio Jose da Silva Paulet. tado, e que a bem disto os passeios sejão arranjados
Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros de forma que o público se possa delles servir sem
(LIVRO, 33:11) (Grifou-se). risco de quedas, evitando-se os degraos que até
gora estavão em uso de fazer, encarrego a V. M.ce da
34 Em 11 de julho de 1812 na casa da Câmara, presidido pelo Juiz de Fora Dr. José da Cruz Ferreira, presentes os vereadores, Capitão João
Ferreira Gomes, Manoel Ferreira Guimarães e o procurador do Conselho, José Antônio Machado. O Tenente-Coronel João da Silva Feijó, oferece
“gratuitamente e generosamente ao povo desta vila a água de sua chácara, do seu sitio junto a freguesia... . Como entre os olhos d´água que
possuo neste sitio há um que, [...] suponho em altura do nível suficiente de ser levado para fora, a ponto de ser aproveitado em utilidade do
publico, por ser o objeto das aguadas públicas desta vila” (NOGUEIRA, 1888:272-273).
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 71
inspecção sobre todos os ditos novos edifícios, e lhe for possível ao plano já adoptado pela mesma
ordeno que tome as medidas que julgar necessárias Câmara na parte de Oeste desta Villa; segundo:
para que ellas sejão conforme ao que acima digo, causar o menos incômodo possível aos donos das
para o que terá V.M.ce debaixo de suas ordens o casas que ja se achão edificadas, posto que com a
arruador Manoel Camelo, esperando eu que V.M. ce
maior irregularidade na parte de Leste. E de assim
em tudo se haverá com aquela honra, circusnpec- o haver executado me dará parte. Deos Guarde a
ção e prudência de que he dotado a fim de que os V.M.ce. Villa da Fortaleza, 23 de novembro de 1812 =
proprietários sejão incommodados o menos que Manoel Ignacio de Sampaio = Snr’ Antonio Joze da
for possível. D. G. a V.M. Villa da Fortaleza 19 de
s e ce
Silva Paulet, Tenente-Coronel Engenheiro e Ajudante
junho de 1812 = Manoel Ignacio de Sampaio = Sn.r d’Ordens deste Governo (Grifou-se) (LIVRO 1).
Antonio Joze da Silva Paulet, Tenente-Coronel do
Real Corpo de Engenheiros e Ajudante das Ordens Esses dois ofícios sugerem a existência de normas
deste Governo (Grifou-se) (Livro 1). urbanísticas para o traçado de ruas e praças adotadas
pela Câmara para o lado oeste do riacho Pajeú, às quais
No que diz respeito ao plano para a vila do Forte, o plano de Paulet deveria se adaptar35. Solicitava-se,
dois ofícios, um do mês de junho e outro de novembro, sobretudo, plano para a parte leste do Pajeú. Como se
assinalam: pode verificar na Figura 30, as ruas no sentido norte e
sul estão representadas em amarelo e as travessas em
Tendo-me a Câmara desta Villa remettido o plano vermelho, ao oeste da praça Carolina (1). Tais medidas
que a mesma Câmara tinha approvado para a edi- enquadram-se nas recomendações portuguesas do
ficação desta Villa, mas em que a experiência tem século XVIII, comuns a partir do período pombalino,
mostrado q.’ he necessário fazer alguas alterações, o que tinham o “objetivo de transmitir uma imagem de
qual plano V. M.ce achará junto a este, ordeno a V. M.ce ordem e de disciplina” (REIS, 2004:113), por meio de
que, examinando-o com madureza e reflexão, propo- padrões para o traçado das ruas, quadras e a elevação
nha à mesma Câmara as modificações e alterações dos edifícios conforme um mesmo gabarito.
que nelle ha a fazer, em que V. M.ce deverá principal- Os vereadores, em 4 de setembro de 1822, “acorda-
mente ter em vista a commodidade e interresse dos rão em que na Rua travessa que faz frente para a Praça
particulares, bem como do público e o prospecto das Trincheiras, edificada de cazas de palha, quem nella
agradável e elegante das principaes ruas traçadas quizer edificar cazas de telha o podelo fazer, obtendo
no mesmo plano, cujas modificações, hua vez que para isso licença deste Senado, e pagando as Cazas
tenhão a approvação da Câmara, deverão subir à de palha a seos donos, pelo preço de sua avaliação”
minha presença, para lhe dar a última sancção. D.s (INDEPENDÊNCIA DO CEARÁ, 1972:186).
G.e V. M.ce Villa da Fortaleza. 27 de junho de 1812 = A intervenção urbanística realizada pelo engenheiro
Manoel Ignácio de Sampaio = Sn.r Antonio José da Silva Paulet foi a abertura de uma rua do lado leste do
Silva Paulet, Tenente-Coronel do Real Corpo de riacho Pajeú, denominada Norte36, que “por certo se
Engenheiros e Ajudante das Ordens deste Governo destinava a balizar algum sistema ortogonal, provavel-
(Grifou-se) (LIVRO 33). mente desejado para o trecho leste da cidade, todavia
não consubstanciado por consequência de posterior
Para satisfazer a requisição que em offício de 21 do intervenção” (CASTRO, 1994:49). Talvez o plano de
corrente me fez a Câmara desta Villa, deve V.M.ce, expansão desenvolvido em 1850 por Antonio Simões
nos momentos que lhe deixarem livres as obras de Ferreira de Faria, auxiliar de Paulet, se originasse do
que já se acha encarregado, levantar a planta desta modelo proposto por seu superior, como se analisará
Villa, incluindo nella o contorno da nova Fortaleza, mais adiante. Nota-se, na situação acima, o desejo de
e, à vista della, propor à Câmara o plano de edifi- incorporar à nova malha as casas de palha, converten-
cação que lhe parecer mais adequado, e em que do-as em casas cobertas de telha, alinhadas às ruas
deve ter em vista, primeiro: conformar-se quanto novas e implantadas em lotes definidos.
35 O Livro de Ata da CMF atesta correção do Plano “... Accordarão mais em abrirem hum officio do Ilustrissimo Gor desta Capitania Ignacio de
Sampaio da data de oito de julho do corrente anno sobre o Plano de edificação desta Villa. Abrioce outro do tenente Coronel de Enginheiros
Antonio da Silva Paulet ao qual acompanhava a correpção do Plano desta Villa e se julgou muito útil e digno de se por em pratica e que daqui por
diante todo aquele que quizer edificar será obrigado a cumprir a risca o dito plano” (Livro de Atas da Câmara Municipal apud CASTRO, 1994:67).
36 Depois chamada a Rua do Sampaio e atualmente Rua Governador Sampaio.
72 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
37 Deve-se considerar que a população da Capitania era composta, além dos homens brancos, por índios, cabras (índio com negro) e
mamelucos (índios com os brancos) (NOGUEIRA, 1889:22). A distribuição dessa população se dava em 18 vilas, dessas, cinco de índios, além
de várias povoações. “Cada uma é governada por seus respectivos capitães-mores e juízes ordinários, todos subordinados ao governo geral
da capitania, residente na vila da Fortaleza, que é a capital, e de um ouvidor e corregedor etc.” (NOGUEIRA, 1989:23).
38 Homem de primeira representação da capitania, consideravelmente rico e muito estimado de seus conterrâneos (RIC, 1906:349), repre-
sentado pelo número 12 da lista de homens brancos. Possuía também casa de comércio e imóveis na vila, gado e fazendas nas proximidades
de Fortaleza e nos sertões do Canindé (GIRÃO, 1975:320).
39 No quadro dos homens brancos, sua permanência em Fortaleza era de 26 anos.
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 73
450 arrobas de açúcar e 1.267 couros salgados, tudo no ao padre vigário da Vila de Arronches, Manuel Francisco
valor de Rs. 20.487$000” (GIRÃO, 1947:173-174). Rodrigues da Cunha (BEZERRA DE MENEZES, 1992:156).
Segundo seu inventário, datado de 12 de março de Embora seu nome não figure na lista dos homens
1823, seu patrimônio era vultoso: brancos, merece também destaque o militar português
Francisco Xavier Torres. Participa do governo do 1º
[...] pertenciam-lhe, afora um sem conto de moveis, governador do Ceará autônomo, Bernardo Manuel de
escravos, semoventes, ouro, prata e cobre, mui- Vasconcelos (1799-1802), como 1º tenente coman-
tos prédios nesta então vila40, inclusive a casa de dante da Companhia de Artilharia do Ceará (1960: 427),
morada41 `com seu sótão e armazéns, adiante, sendo responsável pela construção da fortificação no
atrás e dos lados’, e bem assim várias fazendas Mucuripe. O inventário, datado de 184742, revela uma
de criar, uma nas vizinhanças da Capital, como grande porção de terras em Jacarecanga, zona oeste da
por exemplo a “Aldeia Velha” e a data da “Lagoa cidade43, e o sitio das Torres44, com fruteiras, localizado
Passaré”, obtida por sesmaria a 17 de fevereiro de na parte sul da matriz.
1808, e outras na Ribeira do Canindé, tais como Observa-se que os grandes negociantes envol-
a “Sariema”, e “Santa Clara” e “Ipueiras” (GIRÃO, vidos com o comércio internacional eram, em geral,
1975:320) (Grifou-se). de origem portuguesa. Antes das firmas estrangeiras,
eram eles que protagonizavam o lucrativo comércio de
O capitão-mor Antônio de Castro Vianna era por- exportação e importação, realizado por intermédio de
tuguês da Vila de Viana do Castelo, termo do Bispado Lisboa, num período em que o comércio internacional
de Braga. Homem rico, era proprietário de bens de raiz, da Colônia era monopólio de Portugal.
entre elas “as duas casas da Rua do Rosário, das quais, Quanto aos setores médios da população urbana,
através de acréscimo e reformas, resultou o Palácio é possível identificá-los com base na Tabela 1: alfaiate
da Luz, até mais recentemente morada dos gover- (1), caixeiro (1), carapina (5), cirurgia (1), escrivão da Real
nadores cearenses” (GIRAO, 1975: 176-77) (Grifou-se). Fazenda45 (1), Oficial da Real Fazenda (1), lavouras (5),
Quando faleceu, em 1801, o prédio foi “penhorado, e a negócios (11), pescador (1), professor de gramática (1),
junta de Fazenda o vendeu em 1802 à Câmara” (BRI- tabernas (6), taberneiro (5). Estes profissionais eviden-
GIDO, 2001:197). O seu sítio Tauape, desmembrado do ciam uma vila com uma vida urbana bastante tímida em
sítio Aguanambi, em 20 de dezembro de 1791, foi vendido princípios do século XIX.
40 Em 12.6.1823, foi reconhecida pelo juiz de fora e provedor de ausentes, interino João da Rocha Moreira, como herdeira universal sua filha
Antônia Moreira da Conceição, casada com José Antônio Machado. Mais adiante serão mostrados seus imóveis localizados em Fortaleza.
41 Morada na antiga rua do Rosário.
42 PACOTE 115, PROCESSO 08.
43 Essas terras de Jacarecanga testando com as de José Braga, Nossa Senhora do Rosário e pelo poente com terras de José Agrela Jardim.
44 Segundo Bezerra de Menezes, esse nome era devido às filhas do sargento-mor (1992:151).
45 Quando o Ceará se tornou independente de Pernambuco, foi criada uma Junta de Fazenda, subordinada ao Real Erário. “Na Junta, assistiriam,
com assento e voto, o governador da capitania, como presidente; o ouvidor geral, como juiz dos feitos, a cargo de quem ficaria a jurisdição
contenciosa, com apelação e agravo para o juiz dos feitos da Fazenda Real na corte; um procurador da Fazenda [...], um tesoureiro geral [...],
emprego para o qual seria escolhida pessoa dotada de inteligência e probidade e muito abonada e desembaraçada de contractos para com a
real fazenda; um escrivão da receita e despesa, chamado escrivão deputado, [...] (GIRÃO, 1947:187-188).
74 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
TABEL A 1 Lista dos Homens Brancos, que Habitam Dentro desta Vila de Fortaleza do Ceará
Nº Habitantes Naturais Exist. Ocupações Possibilidades
2. Joaquim José Rodrigues de Caldas Reino 12 Escrivão da Real Fazenda O seu decente tratamento
3. Emigdio Pinto de Vasconcelos Rio de Janeiro 10 Oficial da Real Fazenda O seu decente tratamento
4. Antonio de Castro Viana Junior Ceará - Negócio grande Do melhor de vinte cruzados
10. Gregório Alves Pontes48 Reino 24 Negócio Mais de trinta mil cruzados
12. Antonio José Moreira Gomes49 Reino 26 Negócio grande Setenta mil cruzados
16. Luiz Martins de Paula Reino 8 Negócio O melhor de dez mil cruzados
25. João da Roxa Moreira Pernambuco 7 Taberneiro grande Quatro mil cruzados
31. João Carlos Manoel de Sabóia Ceará - Negócio Dez mil cruzados
46 Português da Vila de Viana, termo do Bispado de Braga. Homem rico e proprietário de bens de raiz entre elas “as duas casas da Rua do
Rosário, das quais, através de acréscimo e reformas, resultou o Palácio da Luz, até mais recentemente morada dos governadores cearenses.”
(GIRAO, 1975: 176-77). Quando faleceu, em 1801, o prédio foi “penhorado, e a junta de Fazenda o vendeu, em 1802, à Câmara” (SANTOS, 2001:197).
47 Vereador em 1789, Juiz Ordinário em 1790 e Juiz de órfão em 1795.
48 Faleceu em 1803.
49 Construiu um grande patrimônio no Ceará, como também teve uma projeção bastante significativa no comércio e na política. Proprietário
do sítio das Olarias do Cocó.
O S A N T ECEDEN TES : FO RTA LEZ A N A CO LÔNI A E A ECONOMI A D O GAD O (SÉCULO XVI I I-1810) 75
Fonte: Projeto resgate. Documentos avulsos da Capitania do Ceará, [post, 1799, janeiro; 17] Lista de homens brancos que habitam a
vila da Fortaleza. CT: AHUACLCU017, CX.13, D.721.
2.
FORTALEZA CAPITAL
DA PROVÍNCIA DO
CEARÁ E A ECONOMIA
DO ALGODÃO:
OS PLANOS DE
EXPANSÃO DA
CIDADE E AS NORMAS
REGULADORAS
(1810-1863)
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEARÁ E A ECONOMI A D O ALGODÃO 77
N
No capítulo anterior, mostrou-se o papel de Fortaleza
na rede urbana cearense no período colonial, consta-
tando-se o seu isolamento durante a predominância
da atividade pecuária. Neste capítulo, examinaremos
Fortaleza desde o advento da economia do algodão
e seu papel como porto exportador do produto para
padrões por meio de códigos de posturas que homoge-
neizaram as cidades brasileiras de norte a sul. Na linha
do capítulo anterior, analisaram-se as dimensões do
território e do intraurbano.
As principais fontes primárias utilizadas neste capí-
tulo foram os inventários post mortem dos negociantes
o mercado internacional, convertendo-a em centro proprietários de imóveis, os livros de notas, as corres-
hegemônico político-administrativo a partir de 1799, pondências oficiais da Câmara, todos pertencentes ao
quando foi designada capital da Capitania do Ceará, acervo do Arquivo Público do Estado do Ceará. Essas
então independente da Capitania de Pernambuco. Na informações foram complementadas com dados dos
escala intraurbana, busca-se, em paralelo, verificar relatórios dos presidentes da Província e antigas des-
as transformações ocorridas até 1863. A data-limite crições sobre Fortaleza.
refere-se ao plano de expansão elaborado por Adolpho Com base no levantamento das fontes primárias,
Herbster para readequar o espaço urbano às exigências cotejadas às secundárias, foram analisados aspectos
de uma nova realidade econômica. pouco conhecidos da antiga tessitura urbana no período
O processo de urbanização da cidade de Fortaleza de 1810 a 1863, mediante exercício de reconstituição
na primeira metade do século XIX está diretamente cartográfica com base nas plantas dos engenheiros
associado à economia algodoeira no Ceará e seu papel militares Antonio José da Silva Paulet e Adolfo Herbster
central na rede agroexportadora do produto. Assim, e do arruador e cordeador Antônio Simões Ferreira de
faz-se necessário compreender a relação entre o ciclo Faria. O resultado são três pranchas de quadras e vias,
do algodão e a organização do espaço de Fortaleza entre três pranchas de ocupação referentes a cada inflexão
1810-1863. As transformações urbanísticas realizadas (1799, 1810-1813 e 1845-1850) e outras três pranchas
na capital do Ceará inserem-se na política urbanizadora contendo informações sobre a ocupação das quadras
vigente a partir do Império, que reestruturou adminis- e lotes, tipologias edilícias e usos predominantes em
trativamente as províncias e os municípios, divulgando Fortaleza entre 1840 e 1850.
78 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Dois fatores influenciaram a economia cearense no final Ao longo do século XIX, as relações franco-bra-
do século XVIII: o desenvolvimento da agricultura do sileiras intensificaram-se, incluindo o Brasil entre os
algodão para exportação e a independência adminis- 15 principais países com os quais a França mantinha
trativa do Ceará da Capitania de Pernambuco, em 17991. relações comerciais. As principais mercadorias impor-
Como já expresso, a Abertura dos Portos às “Nações tadas pela França, procedentes do Brasil no final desse
Amigas”, em 1808, eliminou o monopólio português sobre período, em ordem de importância, eram o café, o
o comércio da Colônia, estimulando a inserção do Brasil açúcar, os couros e o cacau. O algodão ocupava o
no mercado exterior. quinto lugar, sucedido pelo fumo, a madeira e a borra-
O fim do monopólio lusitano reforçou “o cultivo tanto cha. Gradativamente, o algodão deixou de fazer parte
de matérias-primas tropicais importantes para a indús- dos principais produtos brasileiros exportados para
tria têxtil em expansão na Europa – como o algodão a França (TAKEYA, 1995:83), restringindo-se à maior
– quanto de produtos alimentícios – como o arroz e a exportação para a Inglaterra, por meio de navios que
cana de açúcar [...] (TAKEYA, 1995:95), trazendo grande partiam do porto de Fortaleza.
prosperidade ao Brasil. Lentamente, Fortaleza inicia sua hegemonia econô-
A Inglaterra torna-se um grande produtor e exporta- mica, política e administrativa2 sobre as outras cidades
dor de artigos têxteis no final do século XVIII. Os avanços do Ceará, na primeira metade do século XIX, em torno
tecnológicos externos atingem, sobretudo, a economia dos anos 1820 e 1830, processo que se completa na
algodoeira do Nordeste. Assim, os ingleses implantam segunda metade dos Oitocentos.
uma política agressiva na conquista de novos mercados, Fortaleza esteve à margem da economia pastoril, mas,
buscando conquistar o comércio exterior (LEITE, 1994:22). com a valorização do algodão no mercado mundial no
A França inicia também o comércio direto com o século XIX, converteu-se no principal porto de embarque
Brasil na primeira metade do século XIX, no entanto, desse produto e centro da economia cearense:
“dependia de embarcações inglesas e de outras nacio-
nalidades para o transporte das mercadorias que A economia do Ceará reproduz, em escala menor,
circulavam em seu porto no decênio de 1827 a 1836. a expansão geral da agricultura brasileira. Ocorre a
Dos 996 navios de comércio chegados ao Brasil, vindos ampliação dos ramos tradicionais, da pecuária e da
da França, apenas 567 eram de fato franceses” (TAKEYA, cultura algodoeira. Diversifica-se a agricultura com
1995:70). Em decorrência da “competição dos produtos o desenvolvimento da cultura do café, exploração da
brasileiros com as colônias francesas, os navios da borracha e da cera da carnaúba. Estes dois últimos
França tinham naturalmente dificuldades em encontrar produtos, mesmo que insignificantes no conjunto
carregamento para as viagens de regresso, o que tor- da economia, não deixaram de compor os itens da
nava os transportes muito mais dispendiosos” (DEVEZA, pauta de exportação, como foi o caso da borracha,
apud TAKEYA, 1995:70). e de permitir a ampliação das trocas do Ceará com
A industrialização da França foi bastante lenta em vir- províncias vizinhas, como as que fizeram através da
tude da carência de carvão e ferro, da vagarosa expansão cera de carnaúba. [...] Contudo, se a expansão não
dos principais portos franceses, da carência de capitais foi suficiente para alterar a posição do Ceará no
aplicados à indústria, da inexistência de um mercado contexto da economia brasileira, pois continuaria
interno amplo e de oferta abundante de mão de obra como uma das áreas mais pobres do país, colo-
para as indústrias (LEITE, 1994:30). Mesmo assim, até caria a Província numa situação mais vantajosa da
1870, o seu “desenvolvimento industrial se caracterizou que tivera nos períodos precedentes, no mercado
pela predominância do setor têxtil”. internacional (LEMENHE,1983:109).
1 Até 1657 o Ceará esteve ligado à Capitania do Maranhão e Grão Pará, parte do Estado do Maranhão, criado em 1621, independente do Estado
do Brasil e subordinado à Metrópole, e até 1799 esteve unido à Capitania de Pernambuco. Com este novo estatuto administrativo concedido por
carta régia de 17.1.1799, a capitania do Ceará passou a ser comandada por governadores e pela Coroa portuguesa. Como Capitania autônoma,
podia comercializar diretamente com Portugal e colônias ultramarinas. Até então, Fortaleza era a sede da Ouvidoria do Ceará (como Aquirás,
por algum tempo). A partir desse momento, passou a ser a capital da Capitania autônoma do Ceará, em lugar de Aquirás.
2 Em 1799, o Ceará desmembrou-se da Capitania de Pernambuco. Em 1823, Fortaleza foi elevada de vila à condição de cidade (ANDRADE, 1990:75).
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 79
Destino
12 “A capital que, por volta de 1814, [...] apresentava menor arrecadação sobre produtos exportados do que Aracati, em 1835 supera, em
muito esta última” (LEMENHE, 1991:86). Enquanto o porto de Fortaleza, em 1835, arrecadou 35:953$512, o de Aracati arrecadou 9:545$509
(ALENCAR, 1836:5).
13 Padre Alencar foi duas vezes presidente do Ceará, senador do Império e proprietário de imóveis na capital.
14 O arquiteto francês Jean Seraine esteve na 1ª administração de Martiniano de Alencar. “Eram então preocupações do governo a imigração
de estrangeiros e a construção de obras, que embelezassem e melhorassem as condições da cidade” (STUDART, 1918:197).
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 81
Já a Lei nº 36, sancionada em 5 de outubro de 183715, Fortaleza, que, em 1810, contabilizava 1.200 habitan-
garantiu a desapropriação para utilidade municipal e tes, passa a registrar 8.896 em 1848. Nessa década, foi
provincial, quando a finalidade fosse o crescimento instalada a iluminação16 a azeite de peixe. Para o serviço,
urbano da cidade. foi contratado o negociante Vitoriano Augusto Borges17,
Segundo Geraldo Nobre, com obrigação de instalar 44 lampiões, mantê-los “lim-
pos e brilhantes, e conservá-los acesos desde as seis
Alencar também foi “autorizado a fazer a contra- horas da tarde até que amanheça o outro dia, ou até
tação de oficiais manuais e mecânicos na Europa, que saia a lua. Nas noites de lua, só será obrigado a fazer
a fim de suprir as falhas existentes; e, além disso, acendê-los do seu ocaso em diante” (ABREU, 1919:120).
planejou a organização de companhias de trabalha- Pode-se concluir assim que, a partir do momento
dores, o que significaria a oficialização do princípio em que Fortaleza se tornou hegemônica no território
do trabalho livre na Província, decorrente, aliás, da cearense, mereceu uma série de atenções urbanís-
circunstância de ser a escravidão, em seu território, ticas típicas das políticas urbanizadoras vigentes no
quase exclusivamente doméstica (1989:123). Brasil-Império. Com vistas a dotar o espaço urbano
da capital das condições sanitárias, viárias e infraes-
Isso se justificava, pois a mão de obra escrava no truturais condizentes a seu novo papel na lógica da
Ceará, na década de 1840, representava 13% de sua popu- rede urbana regional e internacional, foram realizados
lação e, em 1860, era apenas 8% (SILVA, 2002:89). Depois planos de expansão e projetos para novos equipamentos
da grande seca de 1845, o algodão entrou novamente e serviços. Fortaleza, ao concentrar os grupos sociais
num período de prosperidade, que exigiu maiores inves- responsáveis pela produção e comercialização do
timentos: “os agricultores cearenses passaram a vender algodão – os negociantes ligados ao comércio externo
seus escravos, por ser a única e mais rápida maneira de – e ao reunir as condições necessárias à circulação
adquirirem dinheiro para financiar as lavouras. Assim, o de mercadorias e à acumulação de riquezas, mereceu
Ceará passou a ser, no Nordeste, um dos maiores for- investimentos nos espaços urbanos fundamentais para
necedores de cativos para o Sudeste (SILVA, 2002:90). essa nova fase da economia cearense.
15 O artigo 1º se refere aos seguintes casos: 1. Defesa, ou segurança, 2. Salubridade. 3. Abertura, ou melhoramento de estradas, canaes,
portos, aguadas, pastos, construções de pontes, ranchos, ou servidões e commodidades necessárias ao uso d´estes objectos. 4. Abertura,
ou melhoramentos, aquedutos, fontes e logradouros públicos. 5. Instituições de Caridade, ou instrução, edificação de Cadeias, Casas de
Correcção, e qualquer outro estabelecimento, ou edifícios para uso público, fábricas, matas e servidões para elles. 6. Materiais para os objetos
acima referidos, no caso de não poderem haver-se de outro modo sem grande demora, ou extraordinária despeza. Segundo o artigo 10 do
parágrafo terceiro do Acto Adicional de 1834, que compete às Assembleias Legislativas, a desapropriação por utilidade municipal ou provincial.
16 Em 1.3.1848.
17 Filho do grande comerciante Martinho de Oliveira Borges. Em 1845, residia e era proprietário do sobrado na Praça Pedro II, atual
Praça do Ferreira.
82 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Enquanto, no período colonial, as vilas criadas pela Abreu21, entretanto, essa centralidade “não foi suficiente
administração portuguesa “tinham como função asse- para eliminar as diversidades regionais e o poder das
gurar a dominação metropolitana”, serem “as sedes da oligarquias locais”.
administração das capitanias” e “os principais núcleos Deve-se destacar, contudo, o fato de que, mesmo
intermediários de controle do Estado português sobre com a política imperial centralizadora vigente nesse
os aglomerados menores e as áreas de produção” período, “em momento nenhum foi o estado capaz de
(LEMENHE, 1991:78), no período imperial, a natureza do governar efetivamente sem fazer acordos com gru-
controle se altera, a fim de “viabilizar a construção do pos privados para contar com a sua cooperação”
estado nacional e a hegemonia da classe dominante (URICOECHEA, 1978:112). O “governo central estava
brasileira” (LEMENHE,1991:78). agudamente consciente dos limites frágeis de sua auto-
No Primeiro Reinado (1822-1831), a Cons- ridade [...] e estava consciente da impossibilidade de
tituição de 1824 estabeleceu uma Monarquia governar isoladamente, sem angariar serviços litúrgicos
Constitucional e os mecanismos institucionais essenciais de grupos privados” (URICOECHEA, 1978:112). Com a
para uma nova organização do país recém-independente implantação da política de partidos, “as próprias provín-
(GOUVEIA, 2008:21-22). cias começaram a fazer pedidos de recursos ao Estado
Em 1828, a Lei das Câmaras Municipais retirou parte em troca de apoio eleitoral” (URICOECHEA, 1978:113).
das suas competências herdadas do período colonial. Para o entendimento dos desdobramentos disso
Embora outras alterações tenham sido introduzidas pelo na urbanização do território nacional e das províncias,
Ato Adicional de 1834, a Lei de 1828 “nunca foi revogada principalmente, no ordenamento do espaço urbano, é
pelo Estado imperial, permanecendo como a principal importante entender o papel das câmaras municipais
referência da organização político-administrativa no no período imperial, pois se observa que as resoluções
âmbito local” (GOUVEIA, 2008:22). O Ato Adicional de municipais eram determinadas por leis gerais vigentes no
183418 restringiu ainda mais o poder das câmaras muni- Brasil todo, principalmente a partir da primeira metade
cipais “às administrações provinciais, em termos da do século XIX. Desde o período colonial, a administra-
gestão dos assuntos locais” (GOUVEIA, 2008:23). Na ção das vilas e cidades brasileiras era desempenhada
mesma direção, o Ato Adicional de 184019, a reforma do pela Câmara Municipal, que tinha funções político-ad-
Código de Processo Criminal20, modificado em 1841, e a ministrativas, judiciais, fazendárias e de polícia. Essa
recriação do Conselho de Estado e do Poder Moderador municipalidade era regida pelas Ordenações Filipinas
(1843) introduziram ampla reformulação da organiza- (1603), “referência legal básica da estrutura e funcio-
ção político-administrativa do Império que persistiu namento das câmaras municipais durante o período
até fins do século XIX. colonial”22 (ARQUIVO NACIONAL, 1985:69) Sua estru-
Verifica-se que o Brasil, em todo o período imperial é tura era composta por juízes ordinários, procuradores,
marcado por um regime político centralizador de poder, vereadores, tesoureiros, almotacés e outros. Competia
que instala uma economia modernizadora, “sobretudo aos vereadores23, além das funções de fiscalização, a
com a influência dos comerciantes ingleses, sem adotar incumbência normativa, isto é, redigir as posturas muni-
o liberalismo” (FAORO, 2001:291). Para Luciano Aronne cipais e os editais policiais.
18 “O centralismo assegurava um maior controle sobre o país, ao passo que a autonomia das províncias poderia ocasionar a mudança nas
relações internas de produção. Em razão da superfície de nosso território, da diversidade climática, das peculiaridades de cada região, o
desenvolvimento econômico processava-se de modo irregular, sujeito a eventualidades imprevisíveis” (MERCADANTE, 1965:128).
19 Esse ato alterou a constituição de 1824 e suprimiu o Conselho do Estado. “Os presidentes de província continuaram a ser designados
pelo governo central, mas criaram-se Assembleias Provinciais com maiores poderes, em substituição aos antigos Conselhos Gerais”
(FAUSTO, 2006:87).
20 “Em 1832, entrou em vigor o Código de Processo Criminal, que fixou normas para a aplicação do Código Criminal de 1830. O Código de
Processo Criminal deu maiores poderes aos juízes de paz, eleitos nas localidades” (FAUSTO, 2006:87).
21 Luciano Aronne de Abreu. Autoritarismo e democratismo: uma leitura do Estado Novo.
http://www.eeh2008.anpuh- rs.org.br/resources/content/anais/1209137920_ARQUIVO_TEXTOANPUH2008.pdf
22 As Ordenações Filipinas foram recopiladas sistematizadas da legislação portuguesa anterior a 1603: as Ordenações Afonsinas, vigentes a
partir de 1446, e as Manuelinas, que vigoram de 1521 até a publicação daquelas em 1603 (ARQUIVO NACIONAL, 1985:69).
23 A Receita Anual da Câmara de Fortaleza, em 1812, atingia 138$680, mediante o contrato real das carnes (80$000), das aferições (10$000),
pesqueiros, isto é, licenças para erigir currais de pescaria, do rio Ceará até Mundaú (30$000) e pesqueiro do rio Cocó (18$000) (PEIXOTO,
1906:11). Em 1850, essa receita foi reduzida.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 83
24 “Entre 1808 e 1821, as palavras capitania e província eram usadas de forma alternada na legislação, utilizadas para designar as unidades
territoriais do império luso-brasileiro e sua administração regional. Nesse sentido, as províncias do Brasil oitocentista deram continuidade
às unidades que prevaleceram na administração colonial: as capitanias hereditárias, abolidas por Pombal, em 1759, depois de gradualmente
transformadas em capitanias régias” (VAINSFAS, 2008:587-597).
25 “Alem do mais, geralmente era “nomeado por uma província distinta da sua província de origem” por um período de tempo bastante curto”
(URICOECHEA, 1978:110).
26 Por sua vez, a Carta Constitucional de 1824 especificava que a administração das cidades brasileiras era realizada pelas câmaras municipais,
cujos membros eram escolhidos por meio de eleições diretas.
84 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
27 A partir da metade do século XVII, com a presença do procurador do rei e depois presidente das câmaras municipais – o juiz de fora, é
evidente “o esvaziamento do poder das câmaras, [...] [e o reforço de] suas competências de natureza administrativa, em detrimento das suas
funções políticas” (SALGADO, 1985:72).
28 (http://www.câmara.gov.br/Internet/InfDoc/conteudo/colecoes/Legislacao/Legimp-K_22.pdf). Pesquisado em 30.1.2010 Coleção de
leis do Império, 1821-1830- Legislativo, Título II, Funções Municipais, art. 24, p. 78
29 Percebe-se que o poder local detinha mais autonomia na fase colonial do que na imperial.
30 http://www2.câmara.gov.br/legislacao/publicacoes/doimperio, pesquisado em 30.1.2010. Atos do Poder, Título II, Funções Municipais,
art. 24, p. 78.
31 Em seu artigo 42, a Câmara não pode vender, aforar ou trocar bens imóveis do Conselho sem autoridade do Presidente da província.
32 http://www2.câmara.gov.br/legislacao/publicacoes/doimperio, pesquisado em 30.1.2010. Coleção de leis do Império, 1821-1830- Legislativo,
Título III, Posturas Policiais, art. 66, §1º, p.83.
33 http://www2.câmara.gov.br/legislacao/publicacoes/doimperio, pesquisado em 30.1.2010. Coleção de leis do Império, 1821-1830- Legislativo,
Título III, Posturas Policiais, art. 66, §1º, p. 85.
34 Coleção de leis do Império 1831-1840. Essa lei interpreta alguns artigos da Reforma Constitucional, p. 5.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 85
haja trânsito público [...] (art.5). A lei nº 8, de 7 de julho A lei complementar de 183835, publicada pelo presi-
de 1835, determina a supressão dos fiscais das câmaras dente Manoel Felizardo de Souza Mello, disciplina sobre
municipais e seus suplentes, pois serão os juízes de paz e as cercas das casas e casas de palha encravadas em
os inspetores de quarteirões os que fiscalizarão o cumpri- terrenos aforados. A regulamentação sobre trajes,
mento das posturas (art. 1. e art. 2) (CAMPOS, 1988:55). Na transporte de carne para o matadouro, lançamento
administração do Dr. Fausto de Aguiar, ante as questões de lixo em locais proibidos, pesca com rede de arrasto,
levantadas pelo “médico da pobreza” Liberato Castro venda de leite e de peixe é determinada pela lei nº 308,
Carreira, aprovaram-se temporariamente duas posturas de 24 de julho de 1844, publicada pelo presidente José
votadas pela Câmara Municipal orientando certo zonea- Maria da Silva Bittencourt . Tendo em vista a preserva-
mento de funções: a primeira “só permitia salgadeiras ção da qualidade da água, o presidente José Maria da
fora da cidade e das povoações e prohibia estender nas Silva Bittencourt proíbe, por meio da lei nº 329, de 19
ruas ou largos desta cidade couros humidos qua exahalen de agosto de 1844, “a lavagem de roupa ou qualquer
máo cheiro”; a segunda proibia “a criação ou conservação objecto, que concorra para a putrefação das águas,
de porcos - ainda mesmo em chiqueiros – no perímetro nos lugares que não tem esgotadouros que offereção
urbano até a distância de meia légua” (ABREU, 1928:39). uma corrente perenne”.
No período entre 1810 e 1822, várias medidas foram está quente, ela nos queima e, se sopra o vento, a
adotadas para a melhoria do desenvolvimento da cul- areia enche-nos os olhos. São de areia os leitos das
tura do algodão e da infraestrutura urbana. Durante a ruas e o passeio lateral, com exceção dos pontos
gestão do 4º Governador do Ceará independente de pavimentados com lages ou tijolos. Quer se saia a pé,
Pernambuco, Manoel Ignácio de Sampaio, o engenheiro a cavalo ou em algum veículo, a areia nos incomoda
tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros José sempre! E não raro são necessários dez bois para
da Silva Paulet traçou duas plantas da vila e seu porto, um só carro (KIDDER, 1980 ou 2001).
que mostram a estrutura básica dos antigos caminhos
que ligavam o núcleo urbano às outras áreas do “termo” A aquarela de José Reis Carvalho (Figura 33),
e às outras vilas (Figura 31). Têm-se, assim, a Picada datada de 1859, reitera a imagem descrita por Kidder e
do Mocuripe36, a Estrada da Crusinha37, a Estrada do representa Fortaleza ainda como uma pequena cidade,
Laga Mar do Cocó, duas Estradas d´Messejana (Aqui- concentrada sobre uma colina, com uma estreita
raz), Estrada do Tauape (Riacho), Estrada Mont Mor faixa de praia fronteira.
(Baturité), Estrada d´Arronches (atual Parangaba) e Instala-se em Fortaleza, em 1825, o boticário
Estrada d´Soure (atual Caucaia). Alguns desses cami- Antônio Rodrigues Ferreira Filho, futuro militante do
nhos que articulavam a vila ao comércio regional vão Partido Conservador e gestor da cidade por quase duas
orientar a expansão futura de Fortaleza, num esquema décadas como presidente da Câmara (1842-1859)40.
radioconcêntrico, convertendo-se nos vetores de No início da gestão do Boticário Ferreira (1842), a área
crescimento da cidade. urbanizada mais densa estava concentrada ao oeste
A “Planta da Vila da Fortaleza e seu Porto” (1831)38, do riacho Pajeú e ao longo das ruas da Amélia (Sena-
decorrente de Paulet (1818), apresenta um número mais dor Pompeu), do Fogo (Major Facundo) e da Boa Vista
reduzido de caminhos (da Crusinha e o de Messejana), (Floriano Peixoto), todas no sentido norte-sul. Mesmo
acrescentando a Estrada de Jacarecanga em direção à com as restrições imposta às câmaras municipais no
Barra do Ceará, e nomeando outras como o Laga Mar do período imperial, Ferreira conseguiu realizar impor-
Cocó para Precabura, Messejana para Aquiraz e Tauape tantes obras, tais como a abertura de cacimbões em
(riacho) para Olarias (Figura 32). praças públicas e a redefinição do contorno da praça
Segundo o desembargador José Raimundo de D. Pedro II (atual do Ferreira), eliminando o chamado
Paços de Porbem Barbosa39, em 1822, a cidade estava “Beco do Cotovelo”41 , que cortava a Praça em diago-
dividida em cinco bairros: Bairro da Matriz, Bairro da nal, remanescente da antiga estrada do Arronches42
Prainha, Bairro das Trincheiras (nas proximidades da (Figura 34). “Buscando dar à praça forma retangular,
atual Praça do Ferreira), Bairro do Pocinho e Bairro do a Câmara obteve do governo provincial a lei [n. 264 de
Açougue (LIMA, 1999:80). 6/12/1842] que autorizava a intervenção,” anunciando
Em 1841, Daniel Kidder comentava: em seu artigo 1º: “Fica a câmara municipal desta capital
autorisada a reformar o plano da mesma eliminando
A cidade é inteiramente construída sobre areia. Se delle a Rua do Cotovello a fim de ficar alli uma praça
andamos a pé, a areia incomoda os pés; se o sol que se denominará – Praça de D. Pedro II”.
36 Saía do Largo da matriz e seguia pela Cacimba do Povo (Rua do Sol, atual Costa Barros).
37 “... partia também do Largo da Matriz, separava-se da picada do Mocuripe na Cacimba do Povo, buscando rumo de sueste, atravessava
quase diagonalmente” a atual Praça Figueira (BEZERRA, 1992:141).
38 Esta Carta Geographica do Ceará, Nº 57, foi, segundo o Barão de Studart, “redigida segundo uma carta manuscripta levantada em 1817 por
ordem do governador Sampaio por Paulet, e as observações e cartas marítimas do Barão de Roussin, por Mr Jos: Schwarzmanne Mr Le Chev:
de Martius, Munich, 1831. (1923, p.359) Número 781 no Catálogo da Mapoteca da DSGEX” (CASTRO, 1997:33).
39 Membro da Junta de Governo da Villa de Fortaleza, dividiu a vila em cinco bairros, para fins policiais (LIMA, 1999:80).
40 O presidente da Câmara, naquela época, tinha poder executivo.
41 Com as demolições das casas que formavam o triângulo, permitiu definir a forma retangular da praça. As casas pertenciam ao “coronel
Machado, negociantes Martinho Borges, D. Anna Senhorinha e Antonio Lopes Benevides” (FONSECA, 1887:36).
42 Antigo nome da Parangaba.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 87
FIGURA 33 Aquarela de
Fortaleza vista do mar,
elaborada por José dos
Reis Carvalho, 1859.
Fonte: Carvalho, 2016: 169.
Demoliu também os chamados “quartos d´Agostinha”, Em 1850, Antonio Simões Ferreira de Faria, arruador
na antiga Praça José de Alencar, para a construção da e cordeador da Câmara de Fortaleza44, desenhou uma
nova Assembleia. Outra interferência que merece desta- “Planta da Cidade de Fortaleza” (Figura 35), registrando
que é a do Largo do Garrote (hoje Voluntários da Pátria), ruas, quadras e as áreas já edificadas45. Além dessas
onde o Boticário “fez demolir uma casa que estava fora informações, incluí um projeto de expansão urbana para
do alinhamento43, obstruindo a passagem franca e a a zona ocidental e oriental do riacho Pajeú. Na área
vista para [a Estada de Messejana] o actual boulevard ocidental da cidade, o arruador projetou o crescimento
do Visconde do Rio Branco” (FONSECA, 1887:37). do núcleo urbano, talvez obedecendo ao ordenamento
Nota-se, com efeito, o aumento das articulações da urbanístico definido por Paulet, caracterizado por um
vila com o sertão, em decorrência ao crescimento do traçado ortogonal, com quadras regulares (Figura 36).
comércio do algodão. Com a nova dinâmica econômica A nova malha urbana proposta por Simões difere da
regional e a consequente expansão urbana da Capi- posterior trama projetada por Herbster, configurada a
tal, foram realizadas diversas obras de infraestrutura: partir dos dois eixos formados pelos antigos boulevards
estradas, pontes e principalmente as quatro “aguadas Santos Dumont e da Conceição (atual Dom Manuel).
públicas” (Cacimbas do Povo, Pocinho, Lagoinha e Em 1856, o Padre Manoel do Rego Medeiros levan-
Jacarecanga) (OUTRO ARAMAC, 1958:247). tou outra planta da cidade de Fortaleza, cuja cópia
Quando o Boticário Ferreira assumiu a Presidência recente está assinada por Guaraci Lavor. Trata-se
da Câmara, em 1842, solicitou a elaboração de uma de uma versão da planta de Simões de Faria, “atua-
planta da cidade. No entanto, somente em 1850 a lizando-a e mostrando, com ruas abertas e já com
Câmara Municipal promoveu o levantamento de uma denominações próprias46, vias que estavam apenas
planta da Cidade da Fortaleza, realizado por Antônio sugeridas pelo arruador oficial da Câmara” (CASTRO,
Simões Ferreira Faria. 2005:115) (Figura 37).
43 Segundo a Ata de 19/4/1848, essa casa pertencia a Antônio Simões Ferreira Faria, antigo auxiliar de Silva Paulet, que se e torna arruador e
cordeador da Câmara até a chegada de Herbster.
44 De nacionalidade portuguesa, residia “à rua do Sampaio num sobradinho, hoje substituído pela casa de residência de Monsor Liberato
Dyonisio da Costa” (STUDART, 1923:362).
45 Alguns marcos urbanos não são registrados nessa planta de 1850: cemitério São Casemiro (1844), cemitério inglês e o Campo da Amélia
(atual Praça Castro Carreira) “amplo vazio urbano, doado à cidade pela família do Brigadeiro Francisco Xavier Torres, a fim de servir como
zona de exercícios da tropa da Fortaleza da Assunção” (CASTRO, 2005:113).
46 Rua do Outeiro, da Palha e da Boa Hora.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 89
FIGURA 34 Exercício de
reconstituição cartográfica
da Praça do Ferreira
com o Beco do Cotovelo.
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta 1850,
1859 e o levantamento
aerofotogramétrico de
1972; Fonte: Menezes, 1992,
Castro, 1994.
90 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Escala
Planta
da
Cidade
da
Fortaleza
organizada
por
Antônio Simões
Ferreira de Farias
em 1850
desenhada em
escala reduzida
por
F. B. de Oliveira
em
1883
FIGURA 36 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Planta da cidade da Fortaleza,
1850. Autora Margarida
Andrade. Mapa-Base: Planta da
cidade de Fortaleza organizada
por Antonio Simões Ferreira
de Faria em 1850. Desenhada
em escala reduzida por F. B. de
Oliveira em 1883. Fonte: Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
92 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Três anos mais tarde, o engenheiro da Província e palhoças e a parte construída da cidade se desen-
arquiteto da câmara Adolpho Herbster47 elaborou outro volvia uma cinta aparentemente despovoada, talvez
levantamento cartográfico, a “Planta Exacta da Capi- constituída por sítios ou zonas por arruar, funcio-
tal do Ceará”48, executada em abril de 1859, que “é um nando como um espécie de cordão de isolamento
verdadeiro retrato mapográfico em escala ampla, de social. Havia, porém, casebres na zona urbana,
1:4.000, no qual ficam assinalados todos os elementos aliás assinalados em planta, ocupando geralmente
significativos da cidade, devidamente identificados” o trecho final de algumas ruas norte-sul. Assim, a
(CASTRO, 2001:141). Trata-se de um levantamento da denominação `Rua do Fogo´ imposta a uma parte
área construída, com as edificações públicas, a nomen- da atual Major Facundo (entre a praça do Ferreira
clatura das ruas e os vários caminhos49 que se dirigiam ao e a rua Pedro Pereira) faz transparecer a presença
sul, ao leste e ao oeste, norteadores da futura expansão de edificações incendiáveis, isto é, de palhoças”
da cidade. Destacam-se as palhoças ladeando as vias (1979:63).
nas extremidades da cidade, representadas todas com
pontinhos. Surpreende a quantidade delas, destinadas Quatro anos depois da “Planta Exacta da Capital do
à moradia da população mais pobre da cidade.. Envolvia Ceará”, de 1863, o engenheiro e arquiteto Adolfo Herbster
a área urbanizada um denso coqueiral, representado elaborou um plano de expansão para Fortaleza. O plano
também com potinhos aleatoriamente pulverizados foi publicado no Atlas do Império do Brazil de Cândido
(Figura 38 e Figura 39). Mendes de Almeida50, sob o titulo “Planta topographica
Segundo Liberal de Castro da cidade da Fortaleza, Capital do Ceará levantada
e organizada em 1863 pelo engenheiro da província
a cidade era totalmente circundada por `casas e architecto da Câmara Municipal Adolpho Herbster”
de palha´, em número realmente impressionante. (ALMEIDA, 1868) (Figura 40). Acompanhava o mapa da
Ressalte-se curiosamente, que entre o circuito das Província do Ceará.
47 O engenheiro era integrante da Diretoria de Obras de Pernambuco, “cedido ao governo provincial do Ceará em 1855. Dois anos depois,
firmou contrato com a municipalidade fortalezense, no cargo de ´arquiteto da Câmara´, logo lhe sendo solicitado elaborar uma planta da
cidade” (CASTRO, 2005:118).
48 Não se reconhece a planta como original, mas como cópia feita por ordem do engenheiro Antonio Gonçalves da Justa Araújo, creio em
1882, quando Herbster estava vivo.
49 Estes caminhos eram antigas estradas de penetração (futuras radiais); alguns funcionavam como caminhos por onde o gado penetrava a cidade.
50 Professor de Geografia e de História no Liceu São Luiz, na antiga província do Maranhão (AGUIAR, 1996).
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 93
Ceará
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14 RUA DO FOGO
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NOME DAS TRAVESSAS
Estrada do Cocó
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15' TRAVESSA S. BERNARDO
16 TRAVESSA FORMOSA
15'
17 TRAVESSA GARROTE
18 TRAVESSA CAJUEIRO
z Nome das Estradas
19 TRAVESSA DA MUNICIPALIDADE
20 TRAVESSA DAS BELLAS
A Estrada de Meirelles
21 TRAVESSA DAS HORTAS (c)
22 TRAVESSA DAS FLORES
24 TRAVESSA DOS MERCADORES B Estrada do Cocó
Nome dos edifícios públicos
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praças etc.
a Alfândega Estrada Mecejana
b Igreja Matriz
c
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Thesouraria Provincial
Thesouraria Geral So
ure D Estrada Paiol
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Igreja de N. S. do Rosário
Quartel de Polícia Estr (d) E Estrada Pacatuba
g Casa da Câmara Municipal
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Palácio da Presidência
Hospital de Caridade e Lyceo
F Estrada Arronches
j Antigo Paiol de Pólvora
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Cadeia
Cemitério Público
G Estrada Maranguape
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Cemitério Inglês
Paiol de Pólvora H Estrada Soure
n Quartel meio B mme Fortaleza de N. S.
o
da Assunção
Projecto de uma casa de Assembleia
I Estrada Jacarecanga
p Praça Carolina Nome das Pontes
q Praça Pedro II ou Municipal
Estrada Paiol
r Praça do Paiol
s Praça do Garrote
[1] Ponte da Prainha
s' Praça do Palácio
t Igreja de N.S. de Conceição da Praia [2] Ponte Apertada Hora
u Casa de Educandos
v Pajeú [3] Ponte do Chafariz
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x Lagoa do Garrote
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y Igreja de N. S. do Parto
Julho 3/ 1950
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Estrada
240 480 720 960 1200 1440 1680 1920 2160 2400 2640 2880 3120 3360 3600 3840 4080 4320 4560 4800 Palmos - Engenheiro Civil e Bacharel em Mathematica -
Es
FIGURA 39 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Planta Exacta da Capital
do Ceará, abril de 1859.
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta Exacta da
Capital do Ceará, abril 1859.
Fonte: Fortaleza, 1979:24.
FIGURA 40 Plano de
Expansão da cidade de
Fortaleza, elaborado por
Adolfo Herbster, 1863.
Fonte: Almeida, 1868.
96 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
O plano de expansão de Adolpho Herbster seguia a Rua do Norte (atual Governador Sampaio), projetada
padrão urbanístico recorrente no Brasil-Império. Uma por Paulet, que nascia no Largo da Matriz (Praça da Sé),
quadrícula regular estende-se ao redor do velho núcleo, dirigindo-se para o sul até encontrar uma das curvas
prolongando as ruas existentes. Assemelha-se aos pla- do Riacho Pajeú. A principal característica do plano de
nos de expansão de cidades como Maceió (1868), Belém expansão de Simões são as ruas e travessas paralelas
(1883) e Manaus (1892). O mesmo padrão da quadrícula e perpendiculares a dois eixos de orientação - a Rua
é verificável em cidades novas, como Aracaju e Teresina, do Norte e a rua que ladeava na direção sul a chácara
bem como em todas aquelas fundadas junto aos eixos da família Guimarães (atual Prefeitura Municipal), todas
ferroviários Brasil afora. representadas por linhas pontilhadas. Simões tam-
Realizou-se uma série de exercícios gráficos de bém planeja uma pequena retícula nos sentidos leste
interpretação das plantas supracitadas com o objetivo e sul, tentando adaptar a malha à antiga Estrada de
de compreender as dinâmicas do processo de urba- Messejana (Figura 41).
nização e as transformações ocorridas em Fortaleza Liberal de Castro relata:
(1850, 1859 e 1863). Os exercícios tiveram como base as
plantas de Simões e de Adolfo Herbster, sobre as quais A planta de 1850 refletiria, assim, um clima de expec-
foram sobrepostos dados de outras fontes documen- tativa de progresso, subjacente no imaginário da
tais (descrições da cidade, inventários post mortem, população. Desse modo, ficaria explicada a decisão
iconografia). Ressaltamos plantas com o traçado da Câmara de querer contar com um instrumento de
das ruas, das quadras e ocupação, a localização dos exame da organização física da capital, a fim de lhe
edifícios institucionais (Câmara, Palácio do Governo, planejar um desenvolvimento urbano controlado. Farias,
Alfândega, hospitais) e das igrejas, principais referências o velho arruador da cidade, integrado às aspirações
na estruturação do conjunto urbano. Reconstituímos gerais, não apenas procurou providenciar o levan-
a tipologia dos imóveis (casas térreas, sobrados e tamento da realidade material com o que deparava,
lojas) e a localização das chácaras, espacializando os mas decidiu propor uma expansão do quadro urbano,
usos predominantes na área urbanizada (residencial, tanto evidenciando o prolongamento previsto para as
comercial e misto). A Praça do Ferreira, coração da ´travessas´ na zona oriental da cidade, contínua, mas,
cidade, mereceu especial atenção, por ensejar futuras principalmente, oferecendo um risco em retícula para a
alterações importantes, cujos desdobramentos serão vasta área quase desabitada do além Pajeú (2005:108).
tratados no capítulo 3.
No exercício de reconstituição da planta de Simões Na expansão para o leste, Liberal de Castro acrescenta:
(1850), verificou-se o crescimento do núcleo urbano
no sentido oeste, segundo um traçado ortogonal A fim de configurar a trama viária que se propunha,
constituído de ruas norte-sul e travessas leste-oeste, Simões Faria levantou um sistema de ruas paralelas,
tendo a Travessa Amélia (atual Senador Pompeu) como perpendiculares à Rua do Norte e que deveriam ser
limite. É importante destacar ao sudoeste a lagoa do cortadas por outras tantas `travessas´ paralelas.
Garrote (atual Parque da Liberdade) e o açude do Pajeú, Como roteiro de ação, tomando como ponto inicial
localizado no encontro da estrada de Messejana (atual das paralelas a esquina onde morava, Faria traçou
Visconde do Rio Branco) com a atual Rua Pinto Madeira, uma rua que flanqueava a face sul da chácara da
hoje desaparecido. Observa-se, com esta expansão, família Guimarães. Em seguida, levantou inúmeras
a transferência do matadouro para fora da cidade, ruas paralelas (`travessas´?) à cerca sul da chácara,
deslocado para a estrada de Arronches (Parangaba), diretriz norteadora do seu projeto. Uma dessas
possibilitando a expansão da área urbanizada. A parte ruas de maior presença nascia na parede do açude
oriental, chamada Outeiro da Prainha, caracteriza-se do Pajeú, [...] Para além desse ponto, próximo da
por uma ocupação “irregular”, rarefeita, composta de saída para a Messejana, a cidade se acabava, o que
várias edificações dispostas sem nenhuma regularidade, não impediu que Farias previsse a continuação das
às vezes acompanhando os caminhos. A exceção era ruas paralelas até bem mais adiante (2005:111).
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEARÁ E A ECONOMI A D O ALGODÃO 97
FIGURA 41 Exercício de
reconstituição cartográfica
das áreas consolidadas, 1850.
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade
de Fortaleza - Antonio Simões
Ferreira de Faria em 1850 /
desenhada em escala reduzida
por F. B. de Oliveira, 1883.
Fonte: Arquivo Nacional do Rio
de Janeiro.
6
7
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LEGENDA
Pl ano de Ex pansão
Antigos Caminhos
Quadra / Á rea Consol idada
3
Ocupação
Institucional
5
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1 M atriz
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3 Tesouraria G eral
4 Pal á cio do G ov erno
5 Igreja do Rosá rio
6 Forte
7 Quartel
8 H ospital
9 Capel a da Conceição
da Prainha
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1 2 Lagoa do G arrote
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30 0 1 3 Açude do Pajeú
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5 0 1 4 Outeiro da Prainha
98 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Comparativamente, as plantas do arruador e cor- naturalista Feijó, Marinhas, Cajueiros58, Tauape, Agua-
deador Simões51 e a do engenheiro Herbster (1859) são nambi), principalmente nas proximidades dos cursos
distintas. Herbster faz um levantamento rigoroso com d’água, “substitutos eficientes para os equipamentos
auxílio de instrumentos topográficos, resultando numa hidráulicos inexistentes nas moradas urbanas” (REIS,
planta mais exata. Segundo Liberal de Castro, essa 1970:30). Alguns sítios “se dedicavam às atividades niti-
planta “não é simples representação topográfica52, damente rurais, com objetivos econômicos” (CASTRO,
mas verdadeiro retrato da cidade, pois, nela, Herbster 2004:103), por exemplo, o Sítio Cocó, do cel. Machado,
assinala a área ocupada, a nomenclatura das ruas, com casas de vivenda, de engenho, de purgar, e de fazer
todas as edificações públicas, além de mostrar o uso farinha, com aviamentos, engenho de ferro, caldeiras,
do solo no perímetro urbano (CASTRO, 1979:61). Na alambique de cobre e mais pertences, poucos canaviais,
planta são assinaladas, além da nomenclatura das ruas, coqueiros, laranjeiras e outras fruteiras, avaliado por 25
as várias estradas53 de acesso à cidade, todas con- contos de reis59. As chácaras “quase sempre voltadas
vergindo para a área central, antecedendo um futuro para a produção de consumo doméstico, interpolavam
plano radial. Espalham-se também na zona periférica o mundo rural com a vida urbana, trazendo o campo
vários caminhos ligando locais diferentes, ladeados por para a cidade” (CASTRO, 2004:103).
casas de palha, chamadas de palhoças. Registra-se um Como descreve Gustavo Barroso, o naturalista Feijó
total de nove estradas, 15 ruas, nove travessas, cinco residia numa casa “em cujos fundos corria o Riacho
praças e três pontes (Prainha [1], Apertada Hora [2] e Pajeú [...] e, na chácara que a rodeava, além do córrego,
Chafariz [3], o Cemitério de São Casemiro e o Cemitério havia nascentes de boa água. Ficava na antiga Rua de
dos Ingleses). Indica também, por meio de convenções Baixo, [...] em frente ao quartel [...] o prédio ficava um
gráficas, os vários tipos de solo e vegetação: areia e tanto afastado do centro da via pública, entre árvores
“cômoro” (dunas), capim e outras plantações, árvores e seculares” (BARROSO, 1962:196-7). Notam-se, na área
coqueiros, arbustos, terreno cultivado, cereais e casas urbanizada, dois núcleos: um, à margem esquerda do
de palha (Figura 42 e Figura 43). Riacho Pajeú, com as diversas atividades urbanas, e
Ao redor dessa área urbanizada, havia uma con- outro na praia, ligado às atividades portuárias, marcado
centração de sítios e chácaras, como é o caso das pela antiga alfândega e um trapiche de desembarque.
terras do padre Chaves, sesmaria54 que foi fracionada Fora da área arruada, notam-se vários caminhos secun-
por herança em pequenos sítios e chácaras. O “sítio dários. Na zona leste, em meio à grande quantidade de
Chaves”55, depois conhecido como “Olho d’água”, foi casas de palha acompanhando os antigos caminhos
arrematado em hasta pública pelo sargento-mor para o sertão, já se encontra construída a Casa dos
Antonio Francisco da Silva, português, rico comer- Educandos (atual Colégio da Imaculada Conceição).
ciante, “que se notabilizou porque transacionava Observa-se, desde 1850, com o plano de Simões,
diretamente com Lisboa” (GIRÃO, 1975:19)56. Em 1831, uma intenção de expandir a cidade para além do Riacho
foi vendido a Joaquim Mendes da Cruz Guimarães Pajeú, na área denominada de Outeiro. O plano oficial
e, em 1866, a Tesouraria da Fazenda o adquiriu por de expansão de Adolfo Herbster, de 1863, é o marco
compra para servir para a construção do Palácio Epis- da mudança na estrutura urbana da cidade. É nessa
copal e do Seminário57 (MENEZES, 1992:150). Outros década que Fortaleza se torna o principal núcleo da
sítios destacam-se ao oeste do Riacho Pajeú (o do Província, graças ao seu papel na comercialização de
51 Este levantamento traz algumas incorreções, pois foi realizado por cordeamento.
52 Na planta, identificam-se dois morros Gravatá (h) e Moinho (i), “um vale os separava proporcionando, na área, um dos poucos acessos
diretos à praia, dado topográfico que explica porque a atual rua Padre Mororó se inicia na orla marítima ao contrario das outras ruas paralelas
que lhe ficam próximas” (CASTRO, 1979:62).
53 Segundo referencia do mapa: Estrada de Meireles, Cocó, Messejana, Pacatuba, Arronches, Maranguape, Soure e Jacarecanga, onde se
identificam os mesmos caminhos apontados nas plantas de Paulet.
54 As terras da vila constam da sesmaria de 2/4/1683 “pelo capitão-mor de então, Bento de Macedo Faria, aos soldados Antonio Rodrigues[...]
e Manuel de Almeida Arruda [...] era de uma légua de largura, da Lagoa do Mucuripe [...] caminhando para a Fortaleza, e três para o sertão”
(MENEZES,1992:147). Uma parte das terras de Rodrigues foi doada, em 1723, a São José, padroeiro da igreja Matriz de Fortaleza, e as de Arruda
para o Padre Domingos Ferreira Chaves (MENEZES, 1992:104).
55 Em 1749, o testamento do Pe. Chaves designava uma parte de suas terras, implantada atrás da matriz, onde estava implantado esse sítio,
para seu afilhado Manuel Ferreira Chaves.
56 Na frente, existia o sítio do engenheiro Sargento-mor naturalista João da Silva Feijó. Posteriormente passa a pertencer a Manoel Franklin
do Amaral, e, depois de 1875, aos seus herdeiros.
57 Atual Prefeitura de Fortaleza.
58 Limitado pelas ruas Chafariz (atual Jose Avelino), da Praia (atual Pessoa Anta), Sena Madureira e Travessa da Praia (atual Boris).
59 Inventário de 1869, pacote 18.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 99
FORTALEZA - 18 5 9
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FIGURA 42 Exercício de
reconstituição cartográfica de
Fortaleza: quadras e vias, 1859.
Mapa-base: Planta Exacta da
Capital do Ceará, abril de 1859.
Fonte: Planta da cidade da
Fortaleza, 1859. Bezerra, 1992.
FORTALEZA - 18 5 9
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15 5 - Tesouraria Prov incial 25 - Igreja de N . S. do Patrocínio
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7 - Igreja de N . S. do Rosá rio Assemb l eia
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Estra
FIGURA 43 Exercício de
reconstituição cartográfica
de Fortaleza: ocupação, 1859.
Mapa-base: Planta Exacta da
Capital do Ceará, abril de 1859.
Fonte: Planta da cidade da
Fortaleza, 1859. Bezerra, 1992.
FIGURA 44 Exercício de
reconstituição cartográfica
superpondo o plano de
Herbster (1863) à planta de
Fortaleza de 1859. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-
base: Planta Exacta da
Capital do Ceará, abril de
1859. Fonte: Planta exacta de
1859. Plano de Expansão de
Adolfo Herbster.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEARÁ E A ECONOMI A D O ALGODÃO 103
0 100
50 200
2.4.2 Características da arquitetura e do Esse modelo servia de critério de taxação dos edi-
Tecido Urbano fícios urbanos. O inventário post mortem de Antônio
Francisco da Silva61 confirma a tipologia, os materiais,
O exercício de reconstituição cartográfica da cidade na as técnicas e os sistemas construtivos predominantes,
década de 1850 revela a área urbanizada, composta de bem como o predomínio de casas destinadas a renda
espaços pouco especializados, verificando-se a mistura de aluguel. Por exemplo: casa de porta e janela, de
das funções urbanas numa mesma área (residência, uso taipa, na rua da Palma, avaliada em 100$000; outra
misto, comércio, serviços, edifícios públicos, civis, religio- de porta e janela, com bica, na mesma rua da Palma,
sos e militares). A única exceção é a atividade portuária avaliada em 50$000; e outra coberta de telha, avaliada
situada na praia, com alfândega, armazéns de exportação em 600$000. Na praça Carolina, uma casa “com frente
e trapiche. No Outeiro da Prainha, observa-se a presença de tijolo e demais compartimentos de taipa” foi avaliada
de inúmeras casas de palha espalhadas ao longo dos em 800$000 réis e estava alugada por 4$290 réis. O
caminhos que articulavam Fortaleza ao entorno. O exer- inventário de Antônio Gonçalves da Justa62, de 1852, dá
cício revela também que boa parte dos imóveis pertence a ideia do valor das casas na rua Amélia: uma casa com
a negociantes e capitalistas. três portas e cacimba foi avaliada em 1:500$000 réis;
Constata-se a predominância das casas térreas (Figura uma casa com duas portas e cacimba foi avaliada por
46), de uso exclusivamente residencial, com duas portas 1:500$000 réis; outras duas com três portas e cacimba,
ou de porta-e-janela. Sua implantação se enquadrava na foram avaliadas por 1:600$000 réis. O inventariado pos-
divisão fundiária típica do esquema colonial, ocupando suía nove casas entre uma e três portas.
a testada de lotes estreitos e profundos, com cerca de Geralmente as casas térreas de pequeno porte
20 palmos (4,40m) de frente e um ou meio quarteirão de têm o sistema de cobertura de meia-água voltada para
fundo, sem recuos frontais e laterais, portanto, no ali- o quintal. Segundo Tedim Barreto, essa expressão “é
nhamento das ruas. Esse “lote padronizado, ensejaria a conhecida e consagrada em todo o Brasil [...] (mas) não
difusão da chamada casa-corredor, cujo plano se repetia será ocioso notar que entre nós há telhados de duas,
sem alterações em qualquer lote“ (CASTRO, 1987:219). As três, quatro e mais águas; mas apenas o telhado de uma
variantes das “casas de duas portas”60 “contavam apro- água é chamado de ‘meia-água’”. (BARRETO, 1975:206).
ximadamente com 20 palmos (4,40m); das de três portas, Ao longo desse período, a volumetria da cidade foi
com 30 palmos (6,60m); das de quatro portas, com 40 lentamente se transformando. Nos primeiros anos, a
palmos (8,80m); e assim por diante” (CASTRO, 2007: 21). paisagem urbana era caracterizada por casas térreas,
O programa dessas casas segue um padrão recorrente datando apenas da década de 1820 os primeiros sobra-
em todo o Brasil, com ou sem corredor, lateral ou central, dos. Desse período, são os dois sobrados na praça D.
articulando a sala na frente, as alcovas, a “varanda” ou, Pedro II (atual Ferreira), de Francisco José Pacheco de
no fundo, um pequeno “puxado” com a cozinha, tal como Medeiros63 (Figura 47), adquirido pela Câmara Municipal
descreve Nestor Goulart Reis no Quadro da Arquitetura em 1831, e o sobrado do rico comerciante português
do Brasil, publicado em 1970. Nas casas de duas portas, Coronel Jose Antônio Machado64 (Figura 48), com três
entretanto, “o acesso aos interiores cruzava a sala de andares, construído em 1825 pelo engenheiro militar
visitas, enquanto nas casas ‘casas de três portas’ e em Conrado Jacob Niemeyer65. Em 1850, Fortaleza já con-
variantes mais amplas, o ingresso à casa já se fazia iso- tava com 26 sobrados, sendo três de madeira.
ladamente por meio de uma ‘entrada’, nome dado a um O sobrado do coronel Machado tinha aparência
estreito vestíbulo, que se prolongava pelo corredor de robusta e a modulação de três portas para a rua da
circulação” (CASTRO, 2007:21). Palma (Major Facundo). No térreo, observam-se três
60 “Portas, em fala fortalezense, designavam portas e também janelas. Na verdade, uma ´casa de duas portas` era, de fato, uma ´casa de
porta e janela`. Esses tipos de casas térreas conheceram disseminação nacional, embora recebessem nomenclatura que variava com os
locais” (CASTRO, 2007:20).
61 Inventário de 1837, Pacote 87-A.
62 Inventário de 1852, Pacote 95.
63 Nobre afirma que o José Pacheco provavelmente foi “o seu próprio construtor ou mestre de obras, reconhecidamente habilidoso” (1989:122).
Com as seguintes dimensões: 50 palmos (11m) de frente e 96 palmos (21,12m) de fundo, e a “outra na Rua Nova com 96 palmos (21,12m) de
frente compreendendo a parte do fundo para a parte do quintal da mesma casa do sobrado” (LIVRO 15, CAIXA 3 – Livro de notas).
64 “Acreditava-se que sobre as areias de Fortaleza não se podia construir e edificar casas elevadas e sobrados porque o terreno frouxo
não suportaria o peso de um alto edifício, além disso, não era admissível um particular possuir uma casa mais alta do que a do presidente.
Levantar um sobrado, além de ser uma empresa perigosa, seria também um desafio à autoridade” (NOGUEIRA, 1981). Na Décima Urbana de
1922, o imóvel pertencia a Gerson Gradvohl e em 1927 foi vendido ao comerciante Plácido de Carvalho.
65 Presidente da Comissão Militar que julgou e executou os revoltosos da Confederação do Equador no Ceará (GIRÃO, 1989:34).
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FIGURA 49 Exercício de
reconstituição cartográfica –
Fortaleza, 1850: Tipologias. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-base:
Planta da cidade de Fortalza –
Antonio Simões Ferreira de Faria
em 1850. Desenhada em escala
reduzida por F. B. de Oliveira, 1883.
Fonte: Castro, 1994; Menezes
1992; Outro Aramac, 1979; Planta
exacta da Capital do Ceará, 1859,
organizada por Adolfo Herbster.
FIGURA 50 Portada
de entrada do
mercado público.
Fonte: Arquivo
Nirez.
portas e no primeiro andar três janelas rasgadas com a financiar a construção, “ficando religiosamente apli-
guarda-corpo individual, o que indica provavelmente cados para o seu pagamento tanto os alugueres dos
seu uso misto – comércio na parte de baixo e residência lugares do mesmo Mercado, como a imposição sobre
nos andares superiores do sobrado; essas atividades as aguardentes”. O termo foi lavrado na Câmara, então
conjugadas possivelmente realizadas pelo próprio presidida pelo juiz de fora José da Cruz Ferreira, mas
proprietário. Desprovido de ornamentos, destacam-se levouu dois anos (1812-1813) para vencer os obstáculos.
apenas os cunhais e a cimalha, arrematando a cobertura. O projeto do novo mercado deve-se ao engenheiro
Em 1850, dos 1.418 imóveis existentes, apenas 28 militar Antonio José da Silva Paulet e a construção foi
(1,9%) eram sobrados (Figura 49). Destes, a maioria estava arrematada pelo mestre arruador e cordeador português
concentrada na Rua Nova (Barão do Rio Branco), o res- Antonio Simões Ferreira de Faria (Figura 50). Após o fim
tante na Rua da Palma (Major Facundo), e dois na face das obras do Mercado Público, o comércio começou a
oeste e norte da Praça D. Pedro II (Praça do Ferreira). se desenvolver nos arredores da antiga Praça Carolina.
A cidade, até 1818, não possuía um mercado Na virada da segunda metade do século XIX, o comércio
público66: “a pequena e a grande permuta se faziam em se diversificou, tornando-se mais refinado, e localizan-
lojas e vendas que se encontravam na Rua Direita dos do-se ao longo da Rua da Palma e em torno da Praça
Mercadores e na do Rosário” (SANTOS, 2001:229). O do Ferreira (Figura 51).
governador Sampaio, para construir o Mercado Público, Fortaleza se consolidou como principal núcleo polí-
teve de vencer a oposição de todos os “atravessadores” tico-administrativo após a Independência do Brasil. A
e “monopolistas”, vereadores da Câmara em sua maioria. década de 1830 marcou a preponderância da capital
Esse movimento era comandado pelo capitão-mor João em relação ao Aracati, ao mesmo tempo, condicionando
Moreira Gomes67, que se opunha “por todos os meios mais investimentos em obras públicas68. Fortaleza,
ao estabelecimento de todo e qualquer agricultor ou gradativamente, ia sendo “equipada para o exercício
negociante, que viesse de fora, e pudesse de alguma das funções comerciais e burocráticas, em detrimento
forma destruir o seu bem estabelecido monopólio” dos demais núcleos urbanos da província” (LEMENHE,
(PEIXOTO, 1906:19). Finalmente, foi convocado o nego- 1991:96) bem como merece outras intervenções com
ciante Lourenço da Costa Dourado, que se comprometeu implicações higienísticas, tal como o Cemitério69 São
66 Em 1814, o mercado se achava instalado em um telheiro pertencente à Casa da Câmara, praticamente em ruína. No fim de 1814, deu-se o
início da obra.
67 Pertencia à lista de homens brancos de 1799, com o número 12. Sogro do grande comerciante Coronel José Antônio Machado.
68 Na administração de Alencar, o arquiteto Jose Antônio Seifert, natural da Boêmia, projetou a antiga Alfândega, já demolida (STUDART, 1918:199).
69 As posturas da Câmara do Rio de Janeiro de 28/1/1832 proibia o enterramento nas igrejas. Salvador o fez em 1835.
108 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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FIGURA 51 Exercício de
reconstrução cartográfica.
Fortaleza, 1850: Usos. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-base.
Planta da cidade de Fortalza
– Antonio Simões Ferreira de
Faria em 1850. Desenhada em
escala reduzida por F. B. de
Oliveira, 1883. Fonte: Castro,
1994; Menezes, 1992; Outro
Aramac, 1979; Planta exacta
da Capital do Ceará, 1859,
organizada por Adolfo Herbster.
Casemiro70 (1847-1848), projetado pelo tenente Dr. refletido tanto nas atividades realizadas pela iniciativa
Juvêncio Manuel Cabral de Menezes, ao lado do pequeno privada como nas obras públicas. A construção do
Cemitério dos Ingleses. edifício da Assembleia Legislativa Provincial, projetado
O engenheiro da Província Dr. Manuel Caetano pelo engenheiro Adolfo Herbster73, “figura como uma
Gouveia (1824-1852), importante figura no cenário das das peças mais importantes do neoclassicismo do
obras públicas, projetou e construiu, em 1850, a Cadeia País” (CASTRO, 1977), destacando-se nesse exemplar
Pública71 (Figura 52), “uma das primeiras a atender às provinciano o pórtico em pedra lioz portuguesa (Figura
modificações impostas pela nova legislação peniten- 55). Em 1854, foi iniciada a construção da Alfândega
ciária imperial” (CASTRO, 1973:25), e “a mais antiga de Fortaleza, localizada na atual Capitania dos Portos,
realização do neoclassicismo oficial fortalezense” arrematada por José Rufo Tavares.
(CASTRO, 1982 a:56). Numa economia ligada ao comércio marítimo, as
Conforme se observa no relatório do engenheiro propostas de melhoramentos do porto de Fortaleza
Manoel Caetano Gouveia ao Conselho de Obras Públicas: tornam-se uma questão preponderante. “Os primeiros
colonizadores preferiram o abrigo seguro do Mucuripe,
Sendo a segurança a qualidade essencial das pri- mas, com o desenvolvimento da cidade, havia interesse
sões, eu queria obtê-la sem sacrifício da salubridade, na existência de um porto ao pé da cidade” (CASTRO,
e mesmo d´aquelles indispensáveis commodos que 1979:57). Em 1857, o trapiche proposto por Gouveia foi
exige a moralidade, e que, não tornando agradável a construído “sobre uma estacada de madeira avançada
vista de um preso, devesse contudo concorrer para para o mar, em forma de ponte, servindo para embarque
que a sua posição não seja totalmente miserável. e desembarque de passageiros e mercadorias. Esse tra-
piche, de madeira com cobertura de telhas, foi munido
Neste intuito, dei a cada enxovia doze janelas, e esta- de guindaste e carretas sobre trilhos para suspensão e
beleci um grande corredor para animar a ventilação, transporte das mercadorias”74. Gradativamente, a ponte
e ao mesmo tempo obter-se fácil vigilância; o arejo foi sendo aterrada e, a partir de 1870, o embarque só podia
é ainda augmentado pela grandeza que dei ao pé ser feito em maré alta.
direito do edifício. Fortaleza enfrentou dois problemas quanto à aqui-
sição de materiais para as construções. Primeiro, a
Verão da planta, um muro de conveniente altura isola dificuldade de produzir tijolos, trazidos de locais dis-
o edifício da vista do público, e uma só porta forne- tantes75, e segundo, a utilização da argamassa de barro
cerá todo o serviço. Assim, os presos serão vigiados e areia no lugar da cal.
por toda parte, isolados do exterior e collocados em Segundo Liberal de Castro,
prisão segura e salubre (ABREU, 1936: 138).
A fabricação de tijolos, feitos de barro misto com
A Repartição das Obras Públicas foi criada pela diatomita extraído das lagoas periféricas à cidade,
Resolução Provincial nº 833 de 1857, envolvendo conduz à solução cabal do problema [...]. Os tijolos
“trabalhos de variadas artes, ou ofícios manuais, brancos, leves, meio porosos, achatados (‘romanos’,
notadamente pedreiros, marceneiros e ferreiros, apare- no dizer de um visitante, por certo mais pela forma
cendo o Governo Provincial como o principal executor do que pela cor) ofereciam grandes vantagens,
e contratador” (NOBRE, 1989:122). Nessa época foram tais como o pouco peso da unidade, a rapidez de
construídos o Conselho Administrativo da Província, a aderência à argamassa de cal e areia, além de ser
Escola de Ensino Mútuo (Figura 53), Santa Casa da Mise- antitérmicos. A relativa porosidade que tinham
ricórdia (Figura 54) e a rampa do Palácio da Presidência, pouco agravava, dado que o solo era seco, are-
delimitando a praça General Tibúrcio72. Após a seca de noso e o efeito das chuvas podia perfeitamente ser
1845, houve um período de prosperidade (1851-1860), combatido pelo reboco (1982a: 53).
70 O seu abandono se deu às “precárias condições do solo junto da antiga duna” (CASTRO, 1979:62), local ocupado pelos escritórios da RFFSA.
71 O presidente Francisco Silveira da Mota, em 1850, “ordenou ao engenheiro Manuel Caetano Gouveia [filho do comerciante português
Antonio Caetano] que organizasse a planta [da cadeia pública] e desse começo aquela obra” (MENEZES, 1992:75), entretanto não pôde concluir
a obra pois faleceu muito cedo.
72 A cargo do Sargento-mor Joaquim Inácio da Costa Miranda e executado pelo pedreiro Braz Quintão de Sousa.
73 As obras de carpintaria foram executadas pelo mestre Antonio da Rosa e Oliveira (NOBRE, 1989:124).
74 ALBUM DE FORTALEZA DE 1931
75 Os tijolos vinham, muitas vezes, de Aracati, como também a cal, “quando não eram importados de Lisboa.” (CASTRO, 1982:53).
110 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
83 O sobrado do Pacheco, futura Casa da Câmara, localizava-se de frente para as ruas Boa Vista (Floriano Peixoto), Rua Municipal (Guilherme
Rocha) e Travessa Pará. O segundo, do Cel. Machado, foi construído na esquina noroeste das ruas Municipal (Guilherme Rocha) e da Palma
(Major Facundo).
84 Esse local foi questionado pela Câmara, em 1828, por várias razões: 1. por não ser central e quase fora da Cidade, na última praça de entrada;
2. pelo calor que sofreriam os alunos a partir do meio dia até as dezoito horas, por ficar com uma das frentes para o poente; 3. por ser muito
distante da maior parte dos moradores, que teriam de se deslocar dos arredores das praças do Conselho e da Carolina e até do lugar Prainha
para o fim da Cidade; 4. por incomodar os educandos, fazendo-se sair da Prainha em pleno meio dia, ou às quatorzes horas, rompendo areias
quentes nas horas de maior calor; 5. que por tudo isso o lugar mais próprio seria nas proximidades da matriz (ADERALDO, 1989:35).
85 Esta praça localizava-se nas proximidades do antigo caminho de Messejana (Estrada empedrada de Messejana) e próximo da lagoa do
Garrote onde “matavam-se a sede e a fome do gado vindo dos lados de Messejana” (ADERALDO, 1974:104).
112 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
2.5.1 A Câmara Municipal no controle do uma corrente perenne” (art. 71). Também vetava “as
Crescimento Urbano de Fortaleza cercas e plantações em roda das aguadas públicas,
bem como a edificação de casas, quando a distância
A cidade começa a crescer. Segundo Tristão Alencar das mesmas às margens [...] não exceder pelo menos
Araripe, sua população, em 1848, é de 8.896. Havia nesse a sessenta palmos” (Art. 72).
momento 1.418 prédios, 40% (571) cobertos com telhas A Câmara Municipal de Fortaleza86 elaborou as Pos-
e 60% (847) de palha (ABREU, 1919:120). A palhoça faz turas Policiais que seriam aprovadas pela Assembleia
parte do cenário urbano, não só nos arredores como em 1835, em 1838 e em 1844, demonstrando preo-
em trechos das ruas norte-sul e algumas travessas. A cupação com as questões da cidade, com base nos
vereação de 4 de setembro de 1822 já alertava para a discursos higienistas pautados na Teoria Miasmática,
substituição das casas de palha: vigentes no período. Essa teoria se propagou tam-
bém no Brasil e considerava que o aparecimento das
Acordarão em que na Rua travessa que faz frente doenças era causado pela ação de emanações pútri-
para a Praça das Trincheiras [Praça do Ferreira], edi- das originadas de matéria orgânica em decomposição
ficada de cazas de palha, quem nella quizer edificar existente em lugares como pântanos, águas estag-
cazas de telha o podelo fazer, obtendo para isso nadas etc. Assim, observam-se as várias propostas
licença deste Senado, e pagando as Cazas de palha a para combatê-las através da “eliminação de tudo o que
seos donos, pelo preço de sua avaliação (Grifou-se). produzisse gases malcheirosos”: aterro de todos os
lugares pantanosos, condenação dos enterramentos
As Posturas da Câmara Municipal de Fortaleza, (lei dentro das igrejas, a falta de controle sobre os navios,
nº. 135, de 1 de setembro de 1838) estabelecem normas sobre trânsito de manadas e transporte de carnes na
para as casas de palha: cidade (SALGADO, 1999:351-354). As normas edilícias,
porém, ainda não fixavam padrões de uniformização
As casas de palha, que se acharem encravadas em das fachadas dos imóveis.
terrenos aforados por outros, quando não se con- A política higienista desenvolvida no Brasil-Im-
vencionem os donos dessas mesmas casas com os pério inspirava-se no debate médico vigente na
foreiros, serão avaliadas na forma das leis em vigor França, no período:
para serem demolidas, pagando-as o foreiro pela
avaliação (Art. 68). O século XVIII cultiva um espírito higienista que
considera a aeração como meio eficaz de expulsar
As Posturas de 1835 proibiam “levantar cazas, ou das cidades as miasmas e doenças. Com o obje-
outro algum Edifício sem preceder licença da Câmara tivo de prevenir as epidemias, tão temerosas como
a fim de serem alinhadas na forma da planta adoptada mortais, médicos e administradores denunciam a
pelo Arruador da Câmara com assistência do Inspetor”. presença dos cemitérios e hospitais no interior das
Também determinavam a nomeação de um arruador por cidades. Pierre Patte será um dos protagonistas
parte da Câmara “para alinhar as propriedades, que se deste debate com a teoria da localização dos cemi-
pretenderem erigir nesta Capital”, sendo pago a ele, “por térios fora da cidade (SALGADO, 2003:25).
quem erigir o edifício”, sessenta réis por “cada palmo de
frente de rua que alinhar” (Arts. 1 e 2). No âmbito de Fortaleza, coube ao médico Castro
A Lei nº 328, de 19 de agosto de 1844, publicada pelo Carreira estimular o poder público para a melhoria das
presidente da Província José Maria da Silva Bitencourt, condições sanitárias da cidade, mediante a sugestão de
proibia “lavagem de roupa, ou de qualquer objecto” algumas medidas higienistas. Essas ações preventivas
que concorresse para “putrefação das águas, nos começam pelos espaços públicos, matadouro, feiras e
lugares que não têm esgotadouros que offereção pelo açude do Pajeú:
86 Em 1831, a Câmara era composta pelos seguintes vereadores: presidente Martinho de Oliveira Borges (grande negociante), Joaquim Lopes
de Abreu (capitão), José Maria Eustáquio Vieira (português negociante, residente na rua Formosa, no lugar do antigo matadouro, e sua loja
localizava-se na Rua da Palma), José Joaquim da Silva Braga (capitalista, fazia parte da comissão responsável pela reconstrução da Matriz),
Antonio Joaquim Pereira, Antonio Nunes de Mello (português) Ignacio Ferreira Gomes (escrivão da Alfândega), Manoel José Cavalcante
(negociante) e Manoel Alves de Carvalho (português) (FUNDO – Câmaras Municipais, série/ordens/ Fortaleza, 22/1/1831).
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O matadouro do açougue deve ser mudado para o Aos Srs. Inspetores de quarteirão do Outeiro, Garrote
lado opposto do curral, pois que, o lugar onde se e Rua da Palha cumpre vigiar o estado da pobresa,
faz a matança já está muito impregnado de sangue porque esta em geral balda de recursos, são por natu-
e outros materiais em putrefação; cumpre que sejão resa pouco asseiados; entendemos ser de grande
enterrados todos os restos de fato e mais pertences consideração vellar sobre eles, nós, que temos muitas
etc. (Grifou-se). veses occasiões de os observar, nos horrorizamos
algumas vezes, além da miséria, com o desleixo e
A feira é um foco, que só aprecia quem lá vai. É porcaria; fasemos da nossa parte, o que podemos,
preciso ter o maior cuidado nos misteres de nossa porém torna-se preciso que haja quem nos ajude”
alimentação; seria de grande conveniência proce- (ABREU, 1928:38).
der-se a uma inspeção sanitária em todos os quartos
e tabernas [...]. Cumpre não consentir no centro da O relatório das autoridades médicas para o Presidente
cidade salgadeiras de couro, como existe uma por da Província88, datado de 1846, denuncia a precariedade
trás da rua dos quartéis: as nossas ruas, conquanto dos sepultamentos nas igrejas:
largas, espaçosas e bem arejadas, precisão, todavia,
dos cuidados dos fiscais da câmara, a fim de que não Na Matris, onde 8 a 10 corpos são sepultados em uma
ajuntem immundices; [...]; tenha-se cuidado para que mal cavada cova, estando quase na superfície da terra
não empocem as águas da chuva87; grande cuidado os últimos cadáveres que se enterrão, sendo tão mal
reclamão as águas estagnadas nos quintais da rua cobertos, que quando entrão e putrefação, não se pode
de Baixo, [...] não podemos deixar de lançarmos as passar para aquelle lugar (apud OLIVEIRA, 2007:73).
vistas para um intitulado açude do Pajehú, onde se
pretendeu fazer depósito d´agua para um chafariz de Em virtude dessa situação, o médico Castro Carreira
inverno. O que se pode esperar de um charco, onde aconselha a criação de um cemitério fora do centro urbano,
se acha uma porção não pequena d´agua empoçada, construído na gestão do presidente da Província Casimiro
e onde a lavagem de roupa e animaes se acha unido José de Morais Sarmento (1847-1848). Trata-se do Cemité-
a substâncias vegetaes e animaes em putrefação, rio de São Casemiro (1848), no sopé do morro do Croatá89,
senão um verdadeiro foco de emanações deletérias “segundo projeto do Tenente Dr. Juvencio Manuel Cabral
(ABREU, 1928: 37) (Grifou-se). de Meneses” (CASTRO, 1982a:62).
O presidente Fausto Augusto de Aguiar, em 1848 (lei
Ante esse diagnóstico, o presidente Dr. Fausto 464), determina como deverão ser os sepultamentos: “os
Augusto Aguiar consultou a opinião de três médicos, cadáveres dos indivíduos que fallecerem nesta cidade, e
José Lourenço, Castro Carreira e Marcos Theofilo, “sob seus subúrbios, só poderão ser sepultados no Cemité-
a necessidade do dessecamento da Lagoa do Garrote, rio do Croatá (art.1)”.
e o alcance que poderia ter em benefício da saúde O Jornal O Cearense denuncia esse estado de aban-
pública” (ABREU, 1928:58). O Dr. Carreira afirmou que dono relativo ao asseio:
havia inconvenientes das águas empoçadas, mas podia
ser conservada; Dr. Theophilo condenou a permanência Mas resta um objecto sobre o qual muito chamamos
da lagoa, considerando o dessecamento uma medida a attenção do governo, já que a câmara, a quem com-
sanitária, e o Dr. José Lourenço defendeu ardorosamente petia, não tem dado providências. Queremos fallar dos
a conservação (ABREU, 1928:58). monturos de immundices que obstruem alguns beccos,
Segundo as diretrizes decorrentes da Teoria do pouco aceio que existe no nosso mercado, da falta
Miasmática, proibiam-se o lançamento de dejetos de limpesa que geralmente se nota em nossas ruas,
e o empoçamento de água para evitar que a matéria onde não é raro acharem-se animaes em putrefação.
orgânica em estado de putrefação exalasse miasmas
(gases), supostos causadores das doenças. O médico O becco, por exemplo, da casa de Sr. Garcia acha-se
continua seu relatório dando destaque às áreas do tão immundo pelo despejo de materiais fecaes que
Outeiro, da lagoa do Garrote e da Rua da Palha, as nelle fazem, que só por si seria capaz de empestar
mais pobres da cidade: uma cidade (ABREU, 1928:51).
Este trecho nos permite observar o estado de também o nivelamento e a arborização da Praça Caro-
insalubridade vigente na cidade na virada da segunda lina, com o auxílio do cordeador municipal (ABREU,
metade do século XIX. As áreas do Outeiro, lagoa do 1922:24). A arborização das cidades insere-se no âmbito
Garrote e Rua da Palha eram as mais abandonadas, das políticas higienistas do período, promovendo o
aquelas com maior concentração de palhoças. Nesse “enxugo” das áreas pantanosas e o sombreamento
momento, verifica-se o controle da Câmara Municipal das ruas e praças para além de seu embelezamento.
na expansão urbana por meio dos Códigos de Posturas, Na ata da sessão de 6 de agosto de 1859, a Câmara
de um plano para orientar as edificações, prenunciando decide que o engenheiro Pierre Florent Berthot92, junto
futuras políticas higienistas. do engenheiro da província Adolfo Herbster, determi-
Quando o Boticário Ferreira assumiu a Presidência nem o local do novo matadouro: “pouco se sabe da
da Câmara90, no período de 1842 a 1859, concretizou localização definitiva desse matadouro, tratando-se
algumas realizações, mesmo com a dependência da talvez da obra que veio a ser executada ao pé do morro
autorização do presidente da Província e da Assembleia do Croatá, um pouco a oeste do Cemitério de São
Provincial. A mais significativa foi a intervenção reali- Casemiro” (CASTRO, 1994:60).
zada na Praça Municipal91, autorizada pelo presidente A segunda metade do século XIX é marcada pelo
José Joaquim Coelho, conforme a Lei nº 264, de 6 aumento das exportações de algodão, em virtude da
de dezembro de 1842. Guerra de Secessão nos Estados Unidos, e por maior
dinamização do comércio cearense. A cidade inicia o
Art. 1º. Fica a câmara municipal desta capital auto- seu crescimento, associado a sua condição de cen-
risada a reformar o plano da mesma eliminando tro exportador do algodão cearense, economia ligada
della a rua do Cotovello afim de ficar alli uma praça ao comércio marítimo. Com a expansão crescente
que se denominará – Praça de D. Pedro II. da cidade, a partir de 1860, é aprovado o plano para
expansão93 de Fortaleza elaborado pelo engenheiro da
Art.2º. A câmara irá comprando, e fazendo logo província Adolfo Herbster, destacando-se na Ata de
demolir as casas da mesma rua, em proporção 18 de abril de 186194 as seguintes posturas aprovadas:
das sobras da sua receita em cada anno que
ficão applicadas a este fim, além dos donativos Art 1º – O plano desta Cidade será o seguinte:
offerecidos por alguns cidadãos em benefício da Abrir-se-há hua grande rua de cem palmos de leste
referida praça. a oeste e outra igual de Norte a Sul o mais próximo
que for possível da parte edificada, fasendo esta
Art.3º. Ficão revogadas todas as disposições em Cidade hum dos 4 ângulos dessas duas ruas.
contrário.
Art 2º – Os outros tres ângulos limitarão, o do
Mesmo com passagem rápida no governo da Pro- leste até a Aldeota e Aguanamby, o do sul até
víncia, o Coronel Joaquim Mendes da Cruz Guimarães Porangabuçu, e o do oeste até Jacarecanga.
(agosto a novembro de 1850) realizou importantes
obras públicas. Solicitou à Câmara Municipal que deter- Art 3º – Dentro desses limites ninguém poderá
minasse o lugar onde se deveria construir a nova cadeia, levantar casa de qualquer naturesa que seja, nem
“visto como ia ser inutilisada a que existia no quartel fazer propriedade maior do que um quarteirão de
do corpo fixo desta cidade”. A obra foi contratada por casas segundo a planta sob pena de demolição e
José Agrella Gouveia e finalizada em 1854. Decretou de trinta mil réis de multa.
90 Em 1845, a Câmara Municipal de Fortaleza era composta pelos seguintes vereadores: presidente – Antonio Rodrigues Ferreira (Boticário
Ferreira), José Pio Machado (Juiz de Paz), José Maximiano Barroso (escrivão de órfãos) José Dias Macieira (português) João Batista da Guerra
Machado (português), Francisco Fidelis (negociante, com sua loja na Rua da Palma) Joaquim Teixeira Leite (negociante português, com sua
loja na Rua da Palma), Manuel Alves de Carvalho (português) Francisco Dutra Macedo (português) e os suplentes Pedro José Antonio Viana
(português), Pedro Lopes de Azevedo (português), Joaquim José de Almeida (português). Observam-se alguns nomes de grandes comerciantes.
91 Era assim denominada antes de ser chamada de D. Pedro II e depois Ferreira.
92 O engenheiro Frances Berthot, contratado pelo governo imperial para estudar as condições do porto da cidade, entre 1852-62 (ALBUM
DE FORTALEZA, 1931).
93 Como foi destacado, este plano de expansão, segundo Liberal de Castro, seria “uma transcrição da planta reformada da cidade, entregue
por Herbster aos vereadores em fins de 1861” (CASTRO, 1994:85), no entanto para esta pesquisa, foi considerado o ano de 1863, citado no Atlas
do Império do Brasil, de Cândido Mendes de Almeida, editado em 1868.
94 Apud Castro, 1994:85.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 115
Art 4º- O Enginheiro da Câmara fará a planta da tesourarias, a Alfândega, o Armazém da Pólvora, o
Cidade conforme o Art 1º e fará logo abrir as ruas Cemitério. Destaca-se ainda o porto formado por um
e travessas para o lado por onde mais se estender arrecife, “que vae areiando consideravelmente” com
a edificação. “uma ponte ou trapiche de desembarque, e na ponta
do Mucuripe um pharol de luz fixa” (POMPEU, 1997:22-
Nota-se também uma preocupação da administra- 23). Todos esses edifícios e infraestrutura urbanos
ção pública municipal com a arborização e conservação são típicos da passagem da colônia para o Império,
das árvores das ruas e praças da cidade, “investindo presentes por todo o Brasil.
também contra a derrubada de árvores nos quin- A Resolução 1.162, de 3 de agosto de 1865, no seu
tais particulares”, pois “a destruição contribuía para artigo 5º, determina: “na edificação das casas, o pro-
aumentar o calor da cidade e, por outro lado, as prietário será obrigado a numerá-las, assim como
árvores protegiam as ruas e casas contra fina poeira a retocar a numeração das existentes, logo que se
soprada pelo vento” (JUCÁ, 2003:37) deteriore ou apague”. Em 1869, a Câmara contratou
A Câmara tenta solucionar alguns problemas urba- José Maria Ventura “para o retocamento de 35 dísticos
nos por meio da lei de nº 1.007, de 11 de setembro de de ruas e praças de Fortaleza que se achavam esmae-
1861, dedicando-se “com mais severidade e atenção a cidos” (ADERALDO, 1989:54). Em 1876, João Luiz Rangel
problemas concernentes” (CAMPOS, 1988:86) ao ritmo foi contratado para colocar numeração nas casas e
das construções da cidade. Percebe-se na resolução nº nomear ruas e praças por meio de placas de ferro “pelo
1162, de 3 de agosto de 1865, o disciplinamento das cons- sistema adotado na capital do Império” (PORDEUS,
truções de casas térreas dentro dos limites da cidade. 1963:340). Em 1870, o presidente da Província deter-
O artigo 2º define a altura das edificações em 4,40m [22 minou que “toda casa sita no perímetro desta cidade,
palmos] “desde a soleira até a base da cornija”; as portas dentro do qual se faz o lançamento da décima urbana,
deviam ter 3,08m de altura e as janelas 2,20m, “tendo estando em arruamento, será numerada com placas de
umas e outras 4,30m de largura”. Determina também zinco esmaltado, contendo o número em alto relevo”
que as “vergas serão góticas ou semicirculares abertas (PORDEUS, 1963:341). A casa “em arruamento porém
ou fechadas”, e as “frentes serão guarnecidas de azulejo isolada a grande distância de outras, só será nume-
ou de cal, coloridas menos de preto” (§ 1º e § 6º). O rada quando estiver completo o claro existente entre
7º parágrafo disciplina também em 2,0m a largura das ela e outras da mesma rua”95 (PORDEUS, 1963:341).
calçadas e cada porta deveria ter de 0,11m a 0,22m de Os imóveis nas praças receberam uma numeração
soleira superior ao passeio. Vetava-se a construção de específica, os números pares no lado oeste e sul e
“sótãos, trapeiras ou águas furtadas sobre a parte dos ímpares no norte e leste.
telhados das casas térreas, cujas águas despejassem A homogeneidade das normas urbanísticas Brasil
nas ruas” (Art. 18). Alguns artigos proíbem hábitos que afora, com base nos padrões da Corte, denotam a
não podiam ser mais permitidos numa área urbana: “um existência de uma política de urbanização bastante
só indivíduo conduzir mais de cinco cavalos, burros eficiente. Cumprida com maior ou menor rigor aqui e
ou bois, carregados ou sem cargas, pelas ruas desta acolá. Tal política foi responsável pela homogeneiza-
cidade” (Art. 20); “equipar-se ou correr a cavalo ou em ção da paisagem urbana.
burros pelas ruas da cidade” (Art. 22); e “conduzirem-se
magotes de gado vacum, cavalar e muar pelas ruas 2.5.2 Negociantes e Proprietários de terras e
desta cidade ” (Art. 20). imóveis
Segundo o “Ensaio Estatístico do Senador Pom-
peu” (1863), a população de Fortaleza envolvendo Na primeira metade do século XIX, com a Abertura
os subúrbios ocupados por casas de palha contava dos Portos e a Independência do Brasil, verificaram-se
16 mil habitantes. A área urbanizada envolvia apenas alguns agentes sociais atuando nas zonas portuárias:
oito ruas “muito diretas, espaçosa e calçadas” e oito além dos comerciantes portugueses, destacaram-se
praças, “sendo notáveis três que estão plantadas de as firmas estrangeiras, ambos relacionados com o
arvoredo, existindo nelas cacimbas públicas”. Entre os comércio internacional.
principais edifícios, segundo o autor, destacavam-se Segundo Caio Prado Junior, “até a Independência,
o Palácio do Governo, o Hospital da Misericórdia, os e ainda em pleno Império, [...] o comércio brasileiro
dois quartéis militares, Casa dos Educandos Artífi- é exclusivamente estrangeiro, e dele são sistemati-
ces, a Cadeia, o Paço Municipal, a Catedral, as duas camente afastados os nacionais” (1966:34). Destaca
um relatório de 1799, do Marquês de Lavradio, “logo Durante todo o século XIX, o aumento da atividade
que aqui chegam (os portugueses) não cuidam de comercial em Fortaleza se acentuou, permitindo a
nenhuma outra coisa que se fazerem senhores do formação de uma camada de negociantes que viria a ter
comércio que aqui há, não admitirem filho nenhum papel fundamental no desenvolvimento da cidade. Com
da terra a caixeiro, por onde possam alguns serem base em documento de Outro Aramac, intitulado “For-
negociantes” (PRADO JUNIOR, 1966:34). Na Colônia taleza de 1845”, pode-se caracterizar o perfil desses
e parte do Império, portanto, os negociantes eram negociantes ao longo da primeira metade do século XIX.
predominantemente portugueses natos. O mesmo O português sargento-mor Antônio Francisco da
demonstra Maria Aparecida Borrego (BORREGO, 2010) Silva (falecido em 1837) era um personagem rico da
e inclusive Heloisa Barbuy (BARBUY, 2006) para o caso cidade, proprietário de várias casas na rua do Quartel
de São Paulo colonial, e João Luis Fragoso (FRAGOSO, e na praça da Carolina, além de adquirir o sítio dos her-
2010) para o Rio de Janeiro. deiros do Padre Chaves, arrematado em hasta pública
Como descreve Leitão, por 1:100$000 réis, em 1831, e vendido para Joaquim
Mendes da Cruz Guimarães.
No Ceará, como em outras capitanias, as linhas O rico negociante português Manuel Caetano de
demarcadoras entre as atividades de varejo e Gouveia96 (1791-1865) deu origem à família GOUVEIA.
atacado nem sempre eram claras. Grandes comer- Foi acionista do Banco Provincial, participando com
ciantes que vendiam no atacado também possuíam 10 ações, isto é, 1:000$000 (um conto de réis). Era
lojas de varejo. Esses mesmos homens também casado com Francisca D’Agrela Gouveia (1801-1870),
possuíam comércios fixos ao mesmo tempo em filha de José Agrela Jardim97. Foi Vice-Consul de
que realizavam o comércio itinerante. É certo que Portugal no Ceará e “militou na política ao lado de
os comerciantes volantes ocupavam posição de José Antonio Machado, enfrentando os Castro (famí-
menor prestígio do que aqueles que possuíam lia Castro e Silva)” (GIRÃO, 1975:296)98. Duas filhas
comércio fixo. Sua mobilidade provocava sempre do casal, Francisca e Mariana, casaram-se com dois
a desconfiança da administração pública no que se irmãos portugueses e comerciantes: Desidério Antônio
referia a extravios, contrabandos e negócios escu- de Miranda99 e Guilherme Augusto de Miranda100. Seu
sos. Os mascates não eram, portanto, vistos com inventário atesta um patrimônio de três imóveis na
bons olhos por grande parte da população, que Rua Conde d’Eu (antiga Rua Direita dos Mercadores):
os responsabilizava pelos aumentos dos preços e o de nº 84, com duas portas; o de nº 86, com três por-
pelo prejuízo das casas comerciais estabelecidas. tas; e o terceiro, de quatro portas, todos com “fundo
Os comerciantes vindos de Portugal para o Brasil correspondente” para a Rua do Rosário, avaliados
compunham uma classe heterogênea. [...] Além em 7:000$000 réis. Possuía também um sítio nessa
do grande comércio, uma classe de pequenos mesma rua, com “fundo correspondente” para a Rua do
comerciantes, caixeiros ou mascates começaram Sampaio, no Outeiro, medindo 1.147 palmos (252,34m)
a ascender socialmente em função de seu trabalho de frente por 938 palmos (206,36m), com casa sede de
e dedicação aos negócios (2001:37-38). cinco portas e outra casa em ruínas101. Além disso, era
proprietário do sítio Vila Velha, na baixa do rio Ceará,
e várias terras no interior do Ceará, principalmente
Imperatriz, Canindé, Aracati.
96 Trouxe de Pernambuco Antônio Rodrigues Ferreira (Boticário Ferreira) para trabalhar na sua casa comercial. O presidente Fco Silveira da
Mota, em 1850, “ordenou ao engenheiro Manoel Caetano de Gouveia que organizasse a planta (da cadeia pública) e desse começo àquela
obra” (BEZERRA DE MENEZES, 1992:75).
97 Número 20 do quadro dos homens brancos de 1799, na tabela 1.01. Considerado também um das maiores fortunas do norte da província.
Casado com Mariana Francisca Pires Chaves, tiveram somente uma filha Francisca D’Agrela Gouveia (1801-1870), casada com Manoel Caetano
de Gouveia (1791-1865) em 1821 (1975:295).
98 Girão, 1975:296.
99 Possuíam seus herdeiros, na décima urbana de 1872, dois imóveis na Travessa do Chafariz, nº 14 e nº 16; dois na Rua Boa Vista, nº 13 e nº 35;
dois na Rua Formosa nº 87 e nº 89 e na Praça do Palácio nº 4.
100 Possuía na décima urbana de 1872, um imóvel na rua Conde d´Eu, nº 103.
101 Essas propriedades (sítios e casas) foram avaliadas em 44:200$000.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 117
Antonio Eugenio da Fonseca José Antonio Machado Manuel Pais Pinto de Vasconcelos
Antonio Fernandes Farias José Maria Jorge Manuel José Pereira da Costa
Antonio José Maria Jorge José Smith de Vasconcelos Manuel José Salgado Couto
Benedito Luis dos Santos Joaquim José d’Almeida Martinho de Oliveira Borges102
Desidério Antonio de Miranda Joaquim José Pereira Marroquim Narciso José Ferreira
Frederico José Pereira Joaquim Teixeira Leite Pedro José Antonio Viana
Guilherme Augusto de Miranda103 Manuel da Costa Moura Bravo104 Tiago José de melo
João Antonio do Amaral105 Manoel Antonio da Rocha Junior Vitoriano Augusto Borges106
Os imóveis para renda de aluguel concentram-se Rua da Palma e no ano de 1852, segundo o inventário
predominantemente nas ruas norte-sul: Boa Vista do negociante Antonio Gonçalves Justa109, constam
(Floriano Peixoto), Rua da Palma (Major Facundo), rua residindo na Rua Amélia. O mesmo aconteceu com o
Formosa (Barão do Rio Branco) e Rua Amélia (Senador major Ricardo Bravos Sussuaruna, que residia na Rua
Pompeu). Seus detentores eram predominantemente Boa Vista e, depois, na Rua Amélia.
comerciantes portugueses cujas fortunas resultam Além disso, observa-se também que essa elite de
de atividades urbanas e rurais - terras, casas, sítios, negociantes cresceu ao longo da primeira metade do
comércio, escravos107, gado, empréstimos de dinheiro século XIX, passando de 13 negociantes (em 1799) para
a juros e renda de aluguéis de imóveis. Observa-se a 42110 (em 1845). Destes, 29 eram negociantes portugue-
mobilidade desses indivíduos mais ricos, mudando-se ses, nove negociantes nacionais e cinco capitalistas
certamente para zonas melhores e mais valorizadas. de nacionalidade indeterminada (OUTRO ARAMAC,
No caso do deputado Thomas Pompeu e do Dr. Pedro 1958:230-256) (Tabelas 4, 5 e 6).
Pereira da Silva Guimarães108, em 1845, moravam na
102 Faleceu em 1863. Adquiriu da Câmara Municipal a casa da Rua Conde d’Eu, nº 42 (antiga Rua dos Mercadores) no ano de 1833 (GIRÃO,
1975:67). Teve quatro filhos nascidos em Portugal: Antonio de Oliveira Borges (falecido em 1892); Vitoriano Augusto Borges (falecido em 1893);
Fco Ferreira Borges (segundo GIRÃO, nada se sabe sobre ele. No entanto, na décima urbana de 1872, possuía quatro imóveis: Rua Boa Vista,
nº 2, Rua da Palma, nº 3, Praça do Ferreira, nº 12, Rua Conde d´Eu, nº 74; e José Antonio Borges (faleceu solteiro).
103 Casado com a filha de Manuel Caetano de Gouveia.
104 Seu inventário, de 1864 (Pacote 164), revelava oito imóveis: Rua da Palma, nº 78, casa com quatro portas onde morou seu filho Raimundo
da Costa Bravo, avaliada em 5:500$000; Rua da Palma, nº 82, com quatro portas, onde morou Carlos Felippe Rabello de Miranda, avaliada em
5:500$000; Rua da Palma, nº 83, onde morou Sabino Lopes, avaliada em 3:500$000; Rua da Palma, nº 94, casa com três portas, avaliada em
5:000$000; Praça do Ferreira, nº 6, onde morou a viúva Florinda Rosa Maria do Jardim de Jesus, com três portas, avaliada em 5:500$000;
Armazém na Rua Formosa, nº 79, com três portas, avaliada em 3:500$000, Rua Formosa, nº 97, casa com tres portas, avaliada em 3:500$000;
e Rua Formosa, nº 111, onde morou João Justino da Cunha.
105 Possuía 26 imóveis assim distribuídos: Rua da Amélia, nº 141, nº 142, nº 143, nº 174, s/n, s/n, s/n; Rua das Trincheiras, nº 4, nº 6 e nº 8;
Rua Formosa nº 116, nº 120, nº 141, nº 143, nº 147, nº 149, nº 155, nº 157; Rua São Bernardo, nº 44, nº 46, nº 48, nº 50, s/n, s/n, s/n, s/n; Rua
do Chafariz, nº 125. Faleceu em 1878.
106 Filho de Martinho de Oliveira Borges. Em 1872, possuía dez imóveis, sete na Rua Conde d´Eu, nº 44, nº 46, nº 48, nº 50, nº 52, nº 54 e nº 56;
e três na Praça dos Voluntários, nº 11, nº 13 e nº 23.
107 Segundo Silva “desde o seu surgimento, o ‘elemento servil’ no Ceará chegou ao máximo, em termos percentuais, na década de 1840,
quando representava 13% de sua população. Em 1860, eram apenas 8%, chegando a 4% no primeiro recenseamento geral do Brasil, em 1872.
Dentre várias causas que concorreram para esse declínio destacaram-se: a suspensão da importação de escravos desde a década de 1820,
a exportação de cativos para as províncias do Sudeste e as missões de diversas naturezas” (2002:89).
108 Bacharel pela Academia de Olinda (1837), promotor público (1839), juiz municipal e de órfãos (1843), deputado geral (1850-52).
109 Pacote 95, 1852.
110 Tristão de Alencar Araripe, em 1848, faz referência a 46 negociantes (ABREU, 1919:120).
118 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
111 Boticário, juiz de paz e presidente da Câmara, tornou-se um destacado gestor publico e militante do Partido Conservador.
112 Filho de Ângelo Rodrigues Samico (falecido em 1844), empregado da Alfândega, e Ana Joaquina Samico. Casado com Rosalina Henriqueta
Samico, tiveram quatro filhos: Henrique Cezidio Samico, José Henrique (falecido em 1874), Roberto Samico e Josefa Henriqueta. Faleceu em
1851, segundo Inventário 1852, pacote 134. Possuía uma casa na rua do Rosário com três portas e cacimba, avaliada por 600$000 (seiscentos
mil rés) e uma casa de comércio, com o balanço da liquidação no valor de 2:948$108. Luiz Rodrigues Samico, que aparece na décima urbana
de 1872 como proprietário de 19 imóveis, é irmão de seu pai Ângelo.
113 Na décima urbana de 1872 possuíam quatro imóveis em Fortaleza: rua Boa Vista nº 31, rua Amélia nº 135, rua do Quartel nº 16 e rua Formosa nº 57.
114 A décima urbana de 1872 confirma essa afirmação, pois, só nessa rua, Samico possuía 12 imóveis (nos 63, 65, 72, 74, 76, 78, 80, 82, 86, 98 e
100), mais cinco na Rua das Hortas (nos 51, 53, 55, 57 e 59) e mais dois na Rua Formosa (nos 54 e 56).
115 Gêneros alimentares, vinhos, bebidas, vestuários em geral, porcelanas etc.
116 Faleceu em 1.1.1868; seu inventário é de 1869. Casado com Virginia da Rocha (falecida em 1923) filha de Joaquim da Rocha Moreira. Seus
filhos: Alfredo da Rocha Salgado 1855-1947, liderança no comércio do Ceará. Torna-se, em 1875, guarda-livros do estabelecimento de sua
genitora. Em 1878, trabalha na organização britânica conhecida como CASA INGLESA – Singlehurst & Co, ate sua liquidação em 1892, constituiu
com George Holderness a firma Holderness & Salgado, depois Salgado, Rogers & Cia, e, em, 1921 Salgado, Filho & Cia. (Sócios: Alfredo seu filho
José Salgado e o sobrinho Eurico Salgado Duarte). Em 1936, constituíram uma sociedade anônima – Casa Salgado S. A., que foi a primeira a
montar prensa hidráulica para o enfardamento de algodão, no Ceará (GIRÃO, 1975: 373).
117 Sobrados na Rua Boa Vista (Floriano Peixoto) e na Rua Amélia (Senador Pompeu); casas com 3 portas: Largo dos Voluntários; e duas na
Travessa do Cajueiro; terreno na Rua da Cadeia, fundo correspondente; e casas no Sítio Jacarecanga.
118 Avaliadas em 4:600$000.
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 119
Lojas de fazenda 38 15 53
Tabernas 49 24 73
Quitandas 87 06 93
Boticas 3 1 4
Açougues 9 6 15
plantar, avaliada em 800$000 réis; dívidas ativas; e dez dos efeitos europeus na praça intermediária de
ações da Companhia de Gás dessa cidade, avaliadas Pernambuco, em vez de feitas directamente da
em 1:000$000 réis119. Europa, em condições melhores. O exemplo eram
Essas firmas chegaram a monopolizar os carrega- os estabelecimentos de Singlehurts & Cia., de
mentos entre Ceará e os portos internacionais. Por Corlett & Cia., de Jose Smith de Vasconcelos, de
exemplo, a Cia “inglesa Booth Line , de Liverpool, a come- Pacheco Mendes, de Rocha Junior e outros, que
çar de 1866 e, três anos mais tarde, com os da Red negociavam dessa forma, podendo vender mais
Cross, também britânica, as quais acabam fundindo-se, barato (1947:323).
para fazer de modo quase exclusivo os carregamentos
entre o Ceará e os cais europeus e norte-americanos” Além dos negociantes relacionados com o comércio
(GIRÃO, 1947:349). Portos como Liverpool, Hamburgo, atacadista internacional, havia aqueles que se destaca-
Havre, Barcelona, Lisboa e Nova York figuram na lista vam no comércio varejista. Dentre eles, José Smith de
dos mais acessados. Vasconcelos120 (1817-1903), primeiro Barão de Vasconce-
Algumas dessas firmas abasteciam-se de produtos los, português e inglês de educação, que se estabeleceu
europeus via porto de Recife, como informa Raimundo na cidade com o comércio de secos e molhados na loja
Girão, encarecendo-os para os consumidores cearenses: “Bom Sertanejo” (Zé Barateiro). Depois diversificou seu
comércio para produtos finos - fazendas, perfumaria,
De alguns anos para trás intensificara-se a mania artigos de armarinho, objetos de luxo, porcelana, cris-
das viagens dos comerciantes ao Recife, onde se tais, tapetes (REGO, 1935:114-115), todos importados
abasteciam do indispensável ao sortimento de diretamente das praças europeias, mantendo “o que
suas lojas. A viagenzinha ou peregrinação anual havia de mais em moda no tocante a tecidos superiores”
tornou-se uma obsessão, que a imprensa criti- (GIRÃO, 1947:322). Instalou uma padaria, em 1852, com
cava como pruridos de novos-ricos, e combatia máquinas apropriadas à preparação de biscoitos finos e
veementemente como prejudicial aos interesses massa de pão francês121 de tipo Provença. Associou-se
gerais, pela alta dos preços que trazia a compra ao genro Richard P. Hugges, com razão social J. Smith
119 Seus herdeiros possuíam nove imóveis, em 1872, na Rua da Alegria, nº 10, nº 17; Rua do Cajueiro nº 13 e nº 15; Praça dos Voluntários nº 19;
Rua da Assembleia nº 3, s/n; e Rua Boa Vista nº 30, nº 50.
120 Tornou-se Barão de Vasconcelos em 1869. “Depois, com as prosperidade alcançadas, passou ao commércio de fazendas finas, perfumaria,
artigos de armarinho, objectos de luxo, porcellanas, cristaes, tapetes, tudo importado directamente das praças européas, mantendo sempre
a mercearia, onde se encontravam finas conservas e superiores vinhos e licores estrangeiros” (REGO, 1935:114-115).
121 Abreu, 1935:114.
120 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
de Vasconcelos & Hugges, depois passando para J. recem Albano & Irmão (63$000 réis), Salgado & Irmão
Smith de Vasconcelos, Hugges & Cia122. Na Inglaterra, (2:084$360 réis), José Antônio Machado (220$270 réis),
denominou-se Vasconcelos, Ridgway & Co. Seu filho Justa & Faria (829$966 réis), Gurgel & Irmão (2:335$966
Rodolf Smith de Vasconcelos, cearense, foi o segundo réis). Entre seus credores, Singlehurst Corlett & Cia
Barão de Vasconcelos. (4:630$431 réis), Guimarães & Irmão (6:302$958 réis),
John William Studart123 chegou em 1842, recebeu José Caetano Cardoso (53:302$976 réis), Pinto Leite
matrícula no Livro de Registro de Estrangeiros, declarou & Irmão (6:302$958 réis), Manoel Caetano de Gouveia
profissão de caixeiro. Foi comerciante e vice-cônsul (4:668$000 réis) e Tasso & Irmãos (3:606$333 réis)125.
britânico no Ceará. Em 1872, possuía somente um Alfred Harvey, casado com Mariana Alves de Abreu,
imóvel na Rua da Palma, nº 37, e alugava outros dois tornou-se importante comerciante e grande proprie-
na mesma rua (nº 34 e nº 54) pertencentes, respec- tário de imóveis, como se nota no seu testamento
tivamente, a JoséLourenço de Castro e Silva e a José de 1847, na Tabela 8.
Francisco da Silva Albano. Esses comerciantes envolveram-se “em tudo aquilo
Henry Ellery124 chegou em 1843. Dedicou-se ao ramo que beneficiasse a atividade comercial de modo geral
de exportação e importação, com armazéns na Rua da e favorecesse a expansão de seus negócios na pro-
Alfândega (Rua Dragão do Mar), era o proprietário do víncia” (TAKEYA, 1995:113), como a participação na
conhecido “trapiche Ellery”, próprio para o embarque e diretoria da Associação Comercial fundada em 1868
desembarque de produtos na zona portuária. Entre seus (a qual tinha como presidente Henrique Kalkmann, e
negócios, destacou-se o comércio de carnes secas, na diretoria Ricardo Hughes), na criação de bancos, na
para o que montou a sua oficina na Rua da Palma (Major implantação da primeira Estrada de Ferro de Baturité126
Facundo). Segundo seu inventário, possuía apenas duas para o escoamento da produção e na fundação de
casas, uma na Rua Formosa (Barão do Rio Branco), com companhias de seguros.
cinco portas, murada, com cacimba de tijolo, avaliada No capítulo 3, a interpretação e espacialização das
em 5:500$000 réis; e outra na Rua da Palma (Major décimas urbanas de 1872, 1890 e 1911, permitirá observar
Facundo), com cinco portas, murada, e com cacimba, a concentração das terras e imóveis urbanos nas mãos
avaliada 3:000$000 réis. Entre seus devedores, apa- dessas firmas de importação e exportação.
122 Representante da Liverpool Northern Brazil Steamers, “primeira companhia de navegação a manter uma linha regular de vapores para
o intercambio entre Fortaleza e os portos da Europa” (NOBRE, 1989:360).
123 Pai do Barão de Studart (Guilherme Chambly Studart).
124 Casou com D. Ana de Castro Saldanha, filha de João José Saldanha Marinho, e neta, pelo lado materno, do capitão–mor Antônio de Castro
Viana (número um da lista dos homens brancos no Ceará), proprietário das casas que, mediante sucessivas reformas, se transformaram no
Palácio da Luz (GIRÃO, 1975:152).
125 Inventário Henrique Ellery, pacote 122, de 1856.
126 A Companhia Cearense de via férrea de Baturité tem como o maior acionista a firma Singlehurst & Comp. com 200 ações (Jornal Cea-
rense de 10.2.1871).
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 121
127 Teve como maior acionista o próprio Presidente Alencar. Foi fechado em 30.3.1839. Depois do Banco do Brasil, foi o primeiro a ser instalado
(LEITE, 1994:118).
128 Possuía vários imóveis na Praça do Ferreira.
129 Inventário de 1854 (Pacote 134). Possuía 13 escravos, ouro, prata, cobre e gados e um sobrado na Rua Formosa, 37 com cinco portas de
frente, com fundo para a Rua Amélia, “no lugar do primitivo Matadouro” (OUTRO ARAMAC, 1958:234), avaliado em 12:000$000; outro sobrado
de quatro portas na mesma rua , avaliado em 1:000$000, com dividas ativas, entre outros, Manoel Franklin do Amaral.
130 Segundo Geraldo Nobre, “A renda daquelas oficinas [pedreiros, carpinteiros, marceneiros [...] era equivalente, em muitos casos, à dos
negociantes, agricultores, funcionários públicos e outras categorias profissionais [...] atingindo a duzentos mil réis anuais, o que tornava
obrigatória a inscrição deles na Guarda Nacional” (NOBRE, 1989:107).
131 Outro Aramac refere-se apenas a seis alfaiates na sua descrição da Fortaleza de 1845.
132 Filho de Francisco José Pacheco de Medeiros, proprietário do sobrado situado na atual Praça do Ferreira e adquirido pela Câmara
Municipal em 1831.
133 Aqueles fabricantes de tijolo e telha. Outros produziam potes, vasos para consumo da população.
122 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
vista, insuficientes às necessidades de uma população Antônio José da Silva Paulet e o mestre de obras públi-
crescente” (NOBRE, 1989:109). Dentre eles, Francisco cas Antônio Simões Ferreira de Faria137.
de Paula Tavares Coutinho foi qualificado como artífice No grupo dos artesãos, destacam-se também os
e registrou uma renda anual de 600 mil réis. Geraldo ourives138, com as seguintes funções:
Nobre fala de sua origem pernambucana e que, aqui
na cidade “projetou, como arquiteto, edifícios públicos [...] conserto de relógios, joias, caixas de músicas e
e residências particulares, e contratou a execução de outros instrumentos com armação de metal, chum-
várias obras, ao ponto de granjear elevado conceito bavam dentes etc, prestando os seus serviços à
na sociedade fortalezense” (NOBRE, 1989:109), o que população de renda mais alta e afeiçoada ao luxo,
explica sua renda anual elevada. Os oleiros também eram enquanto as pessoas de menos posses se conten-
muitos, “certamente os fabricantes de tijolo e telhas, tavam com objetos confeccionados com ossos ou
pois seriam númerosos os que trabalhavam o barro, substâncias assemelhadas, a exemplo do casco da
produzindo potes e outros vasos, de grande utilidade e tartaruga, aproveitado no fabrico de bolsas e de
consumo [...]” (NOBRE, 1989:110). Os mestres de obras pentes, principalmente por artífices especializados,
eram seis, a saber: João Francisco Rabelo, João Fran- cuja raridade é atestada pela falta de registro, nos
cisco de Oliveira, Antônio Simões Cadarcho, Augusto dicionários, da palavra tartarugueiro, encontrada
Fernandes Hitzschky, Manuel Duarte Pimentel e José na relação de qualificados de que se faz menção
Antonio Seiffert134 (OUTRO ARAMAC, 1958:248-249). (NOBRE, 1989:111).
Entre os profissionais da construção, destaca-se o enge-
nheiro alemão Augusto Fernandes Hitzschky, responsável Os ferreiros e os funileiros (fornilheiros) eram pou-
pelo serviço de pavimentação e pela reconstrução da cos, apenas sete em cada ramo: os primeiros com renda
Igreja Matriz, no valor de 1:030$000 réis. Na leitura da anual de 200$000 réis; os segundos com renda de até de
partilha de seus bens, de 1858, sobressaem-se grandes 600$000 réis. Esse reduzido número talvez se justifique,
porções de terras fora do perímetro urbano135. Construiu num contexto em que os materiais dominantes eram o
a Igreja Outeiro da Prainha (N. S. da Conceição), em barro, a madeira e o couro139. Existiam também somente
1839, com planta assinada pelo arquiteto José Antônio três oficinas de torneiros140.
Seifert (alemão). Quanto aos mestres carpinteiros (47) Outro grupo bastante incipiente é o de representan-
e os mestres marceneiros (6)136, observa-se um número tes das artes gráficas, registrando-se sete impressores,
bastante significativo. Entre os primeiros, aparecia o cuja renda anual variava entre 400$000 réis e 200$000
filho do comerciante português Manoel da Costa Moura réis. Manuel Felix Nogueira trabalhava na impressão de
Bravo, Brasilino da Silva Braga, pertencente à família do alguns jornais da Província, como o Cearense, além de
capitalista José Joaquim da Silva Braga. dirigir uma tipografia. Antonio Ribeiro do Nascimento141
Quanto aos outros profissionais envolvidos nas obras era proprietário do estabelecimento industrial, mere-
públicas oficiais e de infraestrutura urbana, havia, no cendo destaque sua renda anual de 950$000 réis, cifra
governo de Manuel Ignácio de Sampaio (1812-1820), o somente atingida por “negociantes grossistas, exporta-
ajudante de ordens e tenente–coronel de engenheiros dores e importadores” (NOBRE, 1989:113).
Alfaiates 9 35 2 46 40 6 -
Arquitetos - 1 - 1 - - 1
Carpinteiro 5 40 2 47 45 2 -
Chapeleiros - 3 - 3 3 - -
Ferreiros 1 5 1 7 7 - -
Funileiros 4 3 - 7 6 - 1
Impressores 5 2 - 7 5 2 -
Latoeiros 1 - - 1 1 - -
Marceneiros 2 4 - 6 4 2 -
Oleiros 8 - 10 18 18 - -
Ourives 5 3 2 10 7 2 1
Padeiros 2 2 1 5 3 1 1
Pedreiros 7 9 1 17 17 - -
Sapateiros 11 44 3 58 58 - -
Seleiros - 1 - 1 1 - -
Tanoeiros - 1 - 1 - 1 -
Tartarugueiros - 2 - 2 2 - -
Torneiros 2 - 1 3 3 - -
Fonte: Qualificação para o serviço ativo da Guarda Nacional da Comarca da Fortaleza em 1851, no Arquivo Público, apud Nobre, 1989:108-116.
Quanto aos funcionários públicos, também com- Conclui-se, então, que, em fins do século XIX, exis-
põem o quadro social da cidade em número expressivo tia em Fortaleza um número significativo de artesãos
(170), conforme se observa na tabela 10, destacando-se livres, que compunham os setores médios da popu-
principalmente os funcionários da Assembleia Provin- lação, estimulando o mercado imobiliário rentista, já
cial, (31), da Alfândega (25) e da Administração(22). que muitos não eram proprietários de imóveis e os
Quanto aos profissionais liberais, totalizam 47, con- alugavam de terceiros. Basicamente os setores médios
forme se pode aferir na tabela 11, destacando-se os da população de Fortaleza eram integrados por traba-
advogados (18), os médicos (24) e os dentistas (5). lhadores relacionados a ofícios mecânicos (pedreiros,
Quanto à incipiente manufatura cearense, destacam- marceneiros etc.), funcionários públicos e profissionais
-se fábricas de cigarros (cuja expansão das atividades liberais (advogados, médicos e dentistas).
foi impedida pela concorrência do Sul), a “Fundição Comparativamente ao período precedente, é notá-
Cearense” (fundada em 1856 por estrangeiros, depois vel o crescimento da cidade e o incremento da vida
adquirida por empreendedores locais), bem como as urbana, com uma divisão técnica e social do trabalho
padarias, que cresceram “devido à iniciativa de portu- cada vez mais acentuada.
gueses recém-chegados ao Ceará” (NOBRE, 1989:24).
142 Tristão de Alencar Araripe (ABREU, 1919:120) indica um número de 276 artífices, supõe-se talvez correspondentes àqueles com renda
inferior a 200$000 mil réis anuais, não arrolados na Guarda Nacional.
124 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Autoridades Judiciais 9
Funcionários da Administração 22
Juízes de Paz 4
Funcionários da Alfândega 25
Funcionários do Correio 4
Oficiais militares
144
30
Tesouraria da Fazenda 13
Total 170
Advogados 18
Dentistas 5
Médicos 24
Total 47
Com base nos inventários post mortem, no documento Villa de Mecejana, pelo poente com terras de Joaquim
de Outro Aramac, intitulado “Fortaleza de 1845”, pode- Lopes de Abreu Laje e herdeiros de João José Saldanha
-se concluir que os grandes proprietários de terras, Marinho, pelo norte com o rio Cocó, cujas terras foram
sítios e imóveis urbanos eram negociantes grossistas, compradas a Bento José da Costa e José Mendes
exportadores e importadores. Para qualificar o perfil Pereira, com casa para engenho, caldeiras, engenho e
desses “capitalistas”, escolhemos algumas trajetórias cercado avaliado em 5:000$000 réis. Em quase todos
individuais típicas da primeira metade do século XIX. os inventários desses comerciantes aparecem dívidas
Grande negociante era o português Coronel José passivas e ativas, demonstrando o empréstimo de
Antônio Machado (falecido em 1869), que sucedeu os dinheiro a juros. Seu filho Antônio José Machado Filho
negócios do sogro, Antônio José Moreira Gomes146, (1809-1861) destaca-se na vida política como deputado
e atuou na vida político-administrativa da Província da Assembleia Legislativa (Provincial), deputado geral
em vários cargos. Em 1820, recebeu sua patente de pelo Ceará e depois senador. Segundo o inventário do
capitão da 9a Companhia de Voluntários do Comércio Coronel Machado, as suas quatro filhas casaram-se
do Ceará e, em 1842, a comenda de Comendador da com médico, comerciantes e políticos. Felina Delmira
Ordem de Cristo. Foi um dos componentes do Governo Machado casa-se com o Dr. Antônio Domingues da
Provisório presidido por Francisco Xavier Torres, assu- Silva149, médico, professor e deputado geral e pro-
mindo várias vezes o governo da Província. Na análise vincial (GIRÃO, 1975:357); Luisa Maria Machado com
do seu inventário post mortem, surpreende o número o negociante Joaquim José Rodrigues150; Leopoldina
de imóveis que ele possuía, 15 no total, de tipologias e Machado com o coronel Manuel Felix de Azevedo e
materiais variados (Tabela 12). Sá151, comerciante, tesoureiro da Fazenda Estadual
Além dos imóveis urbanos, possuía dois sítios na e deputado provincial; Antonia Machado da Fonseca
Prainha de Fortaleza e o grande sítio Cocó, comprado com o português comendador Francisco Coelho da
de várias pessoas, extremando pelo “nascente com Fonseca, comerciante e Cavaleiro da Ordem da Rosa.
o mar e pelo norte com o mesmo mar, pelo sul com Na segunda metade do século XIX, o engenheiro
o Rio Cocó, pelo poente a estrada que segue desta Adolfo Herbster realizou um desenho representando
cidade para Mecejana até extremar com terras de São os quatro grandes proprietários de terras da cidade
José para a parte do norte compreendendo todo o (Patrimônio de São José, Patrimônio de Nossa Senhora
Outeiro, Meireles e Mucuripe”147. Seu inventário atesta do Rosário, herdeiros do Coronel José Antonio Machado
ser também proprietário do “terreno foreiro à fazenda e as terras do seu genro, o Comendador Francisco
pública na margem do Rio Cocó, com 1.855 braças Coelho da Fonseca152 (Figura 56). Em 1723, foi efetivada
(4.111m) de comprimento à margem da estrada que, a doação das terras de Antônio Rodrigues153 a São José,
através do mesmo rio defronte do Sítio da inventa- padroeiro da vila, e em 1724, “para evitar desavenças,
riante, rio acima até além do riacho AGOA-NAMBI”148. assinaram os dois donatários Antonio Rodrigues e Padre
No Sítio Água Fria, as terras de plantar extremavam Chaves a escritura154” (BEZERRA, 1992:106). A doação
pelo nascente com as terras de José Bezerra, e do a Nossa Senhora do Rosário foi realizada pelas netas
falecido José Ribeiro, pelo sul com terras da extinta de Antônio Rodrigues, e em 28 de novembro de 1748, a
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240 480 720 960 1200 1440 1680 1920 2160 2400 2640 2880 3120 3360 3600 3840 4080 4320 4560 4800 Palmos
tra
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24 48 72 96 120 144 168 192 216 240 264 288 312 336 360 384 408 432 456 480 Braças
24 48 72 96 120 144
480 Braças
LEGENDA
FIGURA 56 Exercício de LEGENDA
Terras do Pa r n reconstrução
o de São Jos dos proprietários
dedoterra
Terras dos erde ros em 1874
Corone Jos elaborado
An n o Ma ado Terras do Pa r n o de São Jos
Terras do Co endador Fran s Herbster
por Adolfo o Coe o na
da planta
Fonse a Terras dos erde ros do Corone Jos An n o Ma ado
Terras do Pa r n Exacta
o de Nossa Sen ora
da Capital dodoCeará,
Ros r o Terras do Co endador Fran s o Coe o da Fonse a
Terras do Pa r n o de Nossa Sen ora do Ros r o
1859. Fonte: Arquivo Público do
Estado do Ceará (ANEXO 2).
FO RTA L E Z A CA PITA L DA PROVÍN CIA DO CEAR Á E A ECONOMI A D O A LGODÃO 127
1. Praça da Assembleia. Casa com três portas de frente feita de tijolo 3:500$000
2. Praça da Misericórdia com quina da Rua Boa Vista. Uma frente arruinada 5:000$000
5. Praça Municipal (Ferreira), nº 49 / Travessa do Cajueiro Casa com sótão e cinco portas de frente 8:000$000
6. Rua da Palma, nº 100 Casa junto ao sobrado com duas portas de frente 3:000$000
7. Rua da Palma, nº 102 Sobrado de dois andares, com três portas 25:000$000
11. Rua Municipal c/ frente para a Rua Formosa, nº 103 e nº 105 Casa com cinco portas de frente 7:000$000
15. Travessa do Cajueiro, nº 4 Casa de tijolo com quatro portas de frente 1:600$000
Total 31:409$900
Fonte: Inventário José Antônio Machado, Pacote 18, 1869, Arquivo Público do Estado do Ceará.
escritura foi assinada (BEZERRA, 1992:106). As terras do res da rua Amélia, impulsionado pelo dinheiro do Banco
coronel Machado foram adquiridas de várias pessoas Provincial. Em 1852, segundo seu inventário, possuía
e seu testamento (1869) atesta ser ele dono de quase 36 escravos155, gado, terra na serra da Aratanha, bem
a metade das terras de Fortaleza, que extremavam ao como emprestava dinheiro a juros156 com letras ven-
leste e ao norte no mar, ao sul no rio Cocó e ao oeste cidas da firma estrangeira Singlehurst Collet & Cia, no
na estrada de Messejana. valor de 5:451$324 réis (Tabela 13).
Outro influente negociante pertencente à colônia Esses perfis individuais podem ser generalizados
portuguesa de Fortaleza foi Antônio Gonçalves Justa. como perfil do grupo hegemônico no cenário urbano
Segundo Outro Aramac, foi um dos maiores construto- regional atuante na segunda metade do século XIX.
155 Vale destacar que a participação dos escravos nesses inventários era insignificante “talvez porque não fosse compensadora no caso do
preparo das carnes secas, da produção da farinha, do curtimento do couro etc. cujos custos ficariam elevados com a compra e a manutenção
de africanos ou seus descendentes.” Em alguns inventários os escravos aparecem como patrimônio em pequeno número, pois “a população
de cor servia às pessoas da casa, de mãe de criação (babá) a criada de quarto” (NOBRE, 1989:48). No livro de nota de 1853-1857 aparece
Manuel Franklin do Amaral hipotecando dois escravos a Martinho Borges pela quantia de 2:000$000 e Antônio Esteves Bento hipoteca para
os negociantes Francisco Luis Salgado, Francisco Coelho da Fonseca e José Smith de Vasconcelos casa na rua do Garrote, dois escravos,
sítio em Baturité no valor de 4:000$192.
156 José Joaquim Candeia, nove da lista dos homens brancos, em 1799, João Evangelista e Manoel Pereira Lima.
128 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
2. Rua Amélia Casa térrea com três portas, com cacimba, onde mora Dr. Pedro Pereira da Silva Guimarães158 1:500$000
3. Rua Amélia Casa térrea com três portas, com cacimba, onde mora Luis Vieira da Costa Delgado Perdigão 1:600$000
4. Rua Amélia, Casa com três portas, com cacimba, onde mora o senador Dr. Thomaz Pompeu de Sousa Brasil159 1:600$000
5. Rua Amélia Casa térrea com três portas, com cacimba, onde mora o Major Antonio Ricardo Bravo 1:000$000
7. Rua Amélia Casa com três portas, com cacimba, onde mora Joana de tal 1:000$000
8. Rua Amélia Casa com uma porta e uma janela, com cacimba, onde mora o Alferes Rodrigues 800$000
Fonte: Inventário Antonio Gonçalves Justa, Arquivo Publico do Ceará, Pacote 95, 1852.
3.
O PAPEL DA
INICIATIVA PRIVADA
NA APROPRIAÇÃO
E PRODUÇÃO
MATERIAL DAS
ÁREAS PLANEJADAS
(1863-1933)
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 131
N
No capítulo anterior, mostrou-se a economia do algodão
redefinindo o papel de Fortaleza como porto exportador
do produto para o mercado internacional. Nesse período
de prosperidade, o poder público induziu o crescimento
da capital por meio de um plano de expansão, datado
de 1863, e conduziu o processo mediante uma série de
viços, contendo o nome de cada um dos moradores,
especificando suas funções (chefe de família, esposa,
agregados, empregados, escravos etc.), nacionalidade,
idade, estado civil, grau de instrução, profissão, ou seja,
traçando um perfil da população urbana de Fortaleza.
Complementando o censo e permitindo espacializá-
Códigos de Posturas. -lo, as Décimas arrolam todos os prédios inseridos no
Neste capítulo, pretende-se enfocar essas dinâmicas perímetro urbano, contendo informações sobre seus
no espaço intraurbano e analisar a implantação do Plano proprietários, a localização dos imóveis, tipologias e
de Expansão de Herbster, de 1863 até 1933, buscando usos. Foram elaborados, no primeiro momento, alguns
entender o papel da iniciativa privada na apropriação exercícios gráficos sobre as quatro plantas. Como não
e produção material da área planejada em meio aos se dispunha de informações4 para a cidade toda, optou-
instrumentos de orquestração mobilizados pelo poder -se por um recorte espacial compreendendo a antiga
público. Para tanto, elegeu-se como documentação área urbanizada no século XIX - formada pelas ruas
primária: plantas antigas (1875, 1888, 1922 e 1932), Censo Floriano Peixoto, Major Facundo, Barão do Rio Branco,
de 1887, décimas urbanas (1872, 1890 e 1911), imposto Senador Pompeu, General Sampaio e 24 de Maio - a fim
predial (1922 e 1934), Descrição da Cidade da Fortaleza1 de entender o processo de especialização dos espaços
de 1895, inventários post mortem e almanaques. Com (comércio e serviços). Em momento posterior, ana-
efeito, procuramos analisar as lógicas que presidiram a lisaremos a área em torno da Praça do Ferreira, que
ocupação do Plano de Expansão de Fortaleza de 1863. passou por uma mudança de uso (de predominante-
A primeira providência foi vetorizar no AutoCAD, as mente residencial para comercial), que correspondeu a
plantas de Fortaleza de 1875, 1888, 1922 e 1932, com o mudanças nas tipologias edilícias (de casas térreas para
objetivo de reconstituir os aspectos materiais e sociais edifícios verticais). Para a reconstituição da Praça do
do tecido urbano arrolados via documentos supraci- Ferreira, as principais fontes primárias utilizadas foram
tados. Depois de compilados, os dados recolhidos no as décimas urbanas, o censo de 1887, os almanaques,
Censo de 18872 e nas décimas urbanas (1872, 1890, os inventários post mortem e os livros de notas. Essas
1922 e 1936) foram organizados e lançados nas bases informações foram complementadas com relatórios
cartográficas. O Censo de 18873, realizado pela Chefia dos presidentes das Assembleias provinciais do Ceará,
de Polícia, traz importantes informações sobre todas álbuns de fotografia (1908, 1931), outros diversos rela-
as ruas, casas e estabelecimentos comerciais e de ser- tórios e descrições sobre Fortaleza.
1 Bezerra, 1992.
2 Esse arrolamento complementa as informações da décima urbana de 1890 quanto aos imóveis alugados, ou seja, descrevendo todos os inquilinos.
3 É composto de cinco volumes, sendo dois referentes à paróquia de São José e três alusivos à paróquia do Patrocínio. A coleção pertence
ao Arquivo Público do Estado do Ceará, tendo sido microfilmada para a Biblioteca Pública do Estado.
4 Principalmente no que se relaciona à numeração dos imóveis.
132 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
A segunda metade do século XIX “resulta, em última seu ponto mais alto nos anos 1860. Na tabela 14, verifi-
análise, da emancipação do país da tutela política e eco- ca-se que o algodão é o principal produto exportado ao
nômica da metrópole portuguesa” e “assinala o momento longo de todo o período entre 1850 e 1885, chegando
de maior transformação econômica na história brasileira” a atingir, em alguns momentos, mais de 50% do valor
(PRADO JR., 1986:192). total dos principais produtos exportados pelo Ceará.
Caio Prado Jr., acrescenta: Segundo Boris Fausto,
Isto já se começa a observar nitidamente logo A principal atividade econômica do Nordeste não
depois de 1850. [...] A abolição do tráfico africano teve o mesmo destino do café, embora continuasse
consumado naquele ano, terá por efeito imediato a ser relevante. O açúcar manteve o segundo
desencadear as forças renovadoras em gestação. lugar na pauta das exportações brasileiras após
O país entra bruscamente num período de franca ser superado pelo café, com exceção do período
prosperidade e larga ativação de sua vida econô- 1861-1870, em que foi ultrapassado pelo algodão
mica. No decênio posterior a 1850, observam-se (2006:135).
índices dos mais sintomáticos disto: fundam-se
62 empresas industriais, 14 bancos, [...] 20 com- Esta nova fase de prosperidade, conhecida como
panhias de navegação a vapor, [...] 3 de transporte “Idade do Ouro”, coincide com uma série de mudanças
urbano, 2 de gás e finalmente, 8 estradas de ferro no espaço cearense:
(1986:192).
[...] a província cobriu-se de algodoais; derribavam-se
Quanto à produção no Nordeste, Paul Singer destaca: as matas seculares do litoral às serras, das serras
ao sertão; o agricultor com o machado em uma das
A partir de 1860 a produção nordestina de algo- mãos e o facho n’outra deixava após si ruínas ene-
dão se beneficiou com a Guerra da Secessão grecidas. Os homens descuidavam-se da mandioca
norte-americana, que retirou provisoriamente a e dos legumes, as próprias mulheres abandonavam
produção americana do mercado internacional, e os teares pelo plantio do precioso arbusto; era uma
também do interesse das indústrias têxteis ingle- febre que a todos alucinava, a febre da ambição
sas por novas fontes de abastecimento de matéria (GIRÃO, 1959:150).
prima para livrarem-se da dependência da produção
dos EUA. Com isto, a Inglaterra passou a incentivar Por outro lado, quando a paz nos Estados Unidos se
a produção em países como Brasil e Índia, o que restabeleceu, o preço do algodão brasileiro tornou-se
aumentou a participação do algodão brasileiro nos objeto de grandes baixas, o que repercutiu grandemente
mercados mundiais (1977:315). nas regiões produtivas. Ainda assim, o algodão, a partir
de 1865, passou a ter grande importância no movimento
Deve-se notar, entretanto, que, à medida que o comercial da Província e se destacou como principal
algodão adquire relevância nas exportações, torna-se produto de exportação, ligando-se claramente com a
vulnerável às oscilações do mercado internacional, ora estruturação urbana de Fortaleza e com a chegada mais
participando ora sendo excluído desse mercado por intensa dos comerciantes estrangeiros, novos agentes
seus concorrentes. Serão necessários acontecimentos sociais nesse processo. Antes mesmo da seca de 1877-
internos nos Estados Unidos5 para que o Brasil conheça 79, o preço do algodão começou a cair, intensificando-se
períodos de prosperidade. em contrapartida o tráfico interprovincial6, atingindo,
A economia do Ceará vai reproduzir em escala menor entre 1871 e 1876, a exportação de 3.252 cativos (SILVA,
a ampliação da cultura algodoeira. No Ceará, o algodão, a 2002:99). “A saída deles não causava nenhum prejuízo
partir de 1848, volta a adquirir valor comercial, atingindo econômico, pois a mão de obra servil não era fator
importante na produção agropecuária. Pelo contrá- É, pois, esse interesse na maior circulação da
rio, trazia dinheiro para os proprietários de escravos e riqueza, em face do aparecimento de um mercado
renda para a província através do imposto de expor- interno, que explica, desde logo, a presença de
tação de cativos[...]” (SILVA, 2002:100-101). Baseado representantes do alto comércio de Fortaleza ao
no levantamento de notas, específico para esse tipo de lado de elementos da nova classe média, na luta
registro entre o período de 1865 e 1872, Pedro Alberto pela extinção do regime servil (1966:49).
de Oliveira Silva constata elevado índice de exportação
para o sul “e a presença de conhecidos traficantes de A indústria cearense, na década de 1860, era bastante
escravos, tais como, Joaquim da Cunha Freire (Barão de embrionária “atendendo a necessidades da população,
Ibiapaba), Jacob Cahn, Francisco Coelho da Fonseca” particularmente notáveis no tocante à proteção con-
(SILVA, 2002:100) e outros. tra a intensidade dos raios solares, mediante o uso do
Segundo José Ramos Tinhorão, chapéu” (NOBRE, 1989:126). Existiam outros estabeleci-
mentos industriais, sendo implantados na cidade: fábrica
Quando, afinal, em 1880, o inverno anuncia, após três de selins7, padaria8, metalúrgica (Fundição Cearense)9,
anos de ausência, o advento de um novo período de fábrica de vinhos e licores do português Francisco Luis
prosperidade para o Ceará, os grupos comerciais Carreira10, charutos do português Domingos da Cunha
urbanos, interessados na circulação da riqueza, já Taborda11, fábrica de sabão12 e o ramo tipográfico. Embora
tinham podido perceber o entrave que represen- o primeiro investimento no setor de fiação e tecelagem
tava para o “progresso” a retenção de capitais no no Ceará tenha ocorrido na década de 1880, as tentati-
desmoralizado comércio de escravos. vas e proposições referentes a esse tipo de investimento
datavam do inicio do século XIX13. As primeiras tentativas cidade, misturando-se muitas vezes com as pró-
reais de concretizar esse investimento surgem a partir de prias residências, como a de refinação de açúcar, de
1870, por parte dos Albanos (coronel Joaquim da Cunha Costa & Cia, na Praça do Ferreira, nº 49; a de gelo,
Freire) e dos Justas (1872)14, o farmacêutico Candido de Dias Pinheiro & Cia, na rua Major Facundo, nº 62.
Franklin Amaral (Barão de Canindé) e o negociante João Por outro lado, as manufaturas têxteis vão exigir uma
Reydner (1877), João Cordeiro e João da Rocha Moreira nova estrutura fabril, com edificação própria, dis-
(1879). Em 1878, o Governo Provincial prometia garan- pondo de maquinarias estrangeiras, novos padrões
tia de juros ou subvenção a quem dotasse a Província de administração e localizando-se, dispersamente, nas
com estabelecimentos desse gênero. O Almanaque de proximidades da linha férrea18. A primeira fábrica de
1870 destaca a presença também de fábricas de fogos fiação e tecidos cearenses em Fortaleza19 foi implan-
artificiais15 (4), de sabão16 (2) e uma de chapéu de sol, de tada na rua Santa Isabel, pelos irmãos Tomaz e Antonio
Carlos Hardy, situada na Rua da Palma, nº 86. Pompeu de Sousa Brasil e o cunhado, Dr. Antônio Pinto
Em 9 de maio de 1877, instala-se a Junta Comercial Nogueira Acioli (POMPEU & Irmãos)20, em 1882, com
(JUCEC) em Fortaleza, pois “até então, os comerciantes as seguintes características:
cearenses eram obrigados a fazerem a sua matrícula,
na forma determinada pelo Código Comercial Brasileiro [...] 252 palmos (55,0m) de comprimento sobre 115
de 1850, na Capital de Pernambuco, onde funcionava palmos (25,0m) de largura, com 17 portas de frente,
um Tribunal do Comércio” (NOBRE, 1989:140). Foram tendo em seu programa oito compartimentos: depó-
eleitos como deputados representantes do comércio: sito de algodão, depósito de combustível, casa da
Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), (presi- caldeira, do motor a vapor, do batedor, escritório,
dente); Luis de Seixas Correia, João Cordeiro, Antônio armazém de depósito de fazendas e o corpo central
dos Santos Braga Junior, José Cândido Cavalcante, de máquinas de fiação e tecelagem (Jornal Gazeta
bacharel Joaquim Mendes da Cruz Guimarães (secre- do Norte).
tários); Hermínio Olímpio da Rocha (arquivista); e Miguel
Fernandes Vieira (tesoureiro). Segundo o Almanaque do Ceará de 1888:
A JUCEC apresentou, na publicação comemorativa
do seu primeiro centenário, a relação das 10 primeiras Conta a Fortaleza algumas fábricas de cigarros21,
indústrias inscritas; dessas, seis estavm localizadas em óleos, tecidos etc, a fábrica de fiação e tecidos
Fortaleza, com um investimento de 1.071:000$000 (mil dos Srs. POMPEU & IRMÃOS. A de óleos, do Barão
e setenta e um contos de réis) 17, conforme a tabela 15. de Ibiapaba, é movida a vapor e possui aparelhos
Esses investimentos pioneiros caracterizavam-se aperfeiçoados; a de óleo, do Sr. Guilherme Rocha,
pela predominância de pequenos estabelecimentos extrai exclusivamente o azeite de mamona; [...]. Há
com baixo nível de mecanização e espalhados na três fábricas de sabão22 na capital [...].
13 Na fala do presidente da Província, Marechal Campos Pereira da Silva, quando da instalação do Conselho Federal da Província em 1/12/1829,
ele defendeu a criação de uma fábrica de fiação e tecelagem: “O estabelecimento de uma ou mais fábricas poderia suavizar em parte a situação,
principalmente esta de fiação e tecidos, não só pela decadência do mesmo algodão na Europa, como pelo consumo do país, e mesmo de importação
para esta Corte, pois sendo país benigno na sua produção, seria até de grande prejuízo aos direitos da Nação o seu total abandono” (GIRÃO, 1947:216).
14 O Ministério da Agricultura nega o privilégio solicitado pelos ALBANO e os JUSTA para implantarem uma fábrica de tecidos.
15 Caetano José de Mesquita, Luiz Pacheco de Medeiros, ambas na estrada de Arronches; José Nunes Coimbra Padre–Nosso na Estrada de
Messejana; e a outra de José Martins de Almeida.
16 Luis Ribeiro da Cunha & Sobrinho e Luiz da Silva Amaral.
17 Considerado de “uma importância expressiva, remanescente, como se pode supor, dos saldos do comércio externo acumulados na fase de
alta dos preços do algodão do Brasil, do rendimento dos escravos vendidos para outras Províncias em número apreciável e, mais proximamente,
da assistência financeira do Governo Geral e ajudas diversas por ocasião da Grande Seca” (NOBRE, 1989:143).
18 Rua do Trilho, atual avenida Tristão Gonçalves.
19 Em 1912, em decorrência de um incêndio ocorrido no contexto dos incidentes vinculados à deposição de Accioly da Presidência do Estado,
a referida fábrica sai definitivamente de atividade (VIANA, 2006:178).
20 Segundo Viana “pode-se atribuir à ocorrência de um surto de investimentos em indústria têxtil no Ceará, entre os anos de 1881 e 1895, ao
maior dinamismo que passou a viver, no período, a economia cearense, em decorrência do ‘boom’ algodoeiro de 1864 a 1875, da realização de
elevados gastos públicos com a seca de 1877 a 1879 e da intensificação das exportações de escravos para outras províncias principalmente
nos anos dessa seca” (VIANA, 2006:189).
21 Por exemplo, a fábrica de Marques da Silva & Cia, na Rua da Praia, nº 39 (atual Pessoa Anta); e a de A. Pires & Cia, na Rua Com. Luiz Ribeiro
(atual Liberato Barroso).
22 Por exemplo, a fábrica de P.A. Motta & Cia, na Praça Visconde de Pelotas (atual Clóvis Beviláqua).
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 135
Ferreira & Martins Fortaleza 26 Fábrica de Bernardo Ferreira da Cruz e Antonio Pereira
Sabão Martins.
Cia. Fábrica de Fiação e Tecidos Fortaleza 600 Fiação e Manoel Teófilo Gaspar de Oliveira, Dr. Álvaro
“União Comercial” Tecelagem Teixeira de Sousa Mendes
Cia. Fabril Cearense de Meias24 Fortaleza 100 Fabricação de Negociante José Albano Filho (presidente),
meias proprietário Antonio Domingos dos Santos
(tesoureiro) e Dr. Álvaro Teixeira de S Mendes
(secretário)
Cia. Cearense de Curtume Fortaleza 100 Curtume Capitalistas - Manoel Gomes Barbosa25, José
Joaquim Simões26 e farmacêutico Carlos Studart
Holanda Gurjão & Cia. Fortaleza 200 Fiação e Clementino H. Lima e José Borges Gurjão
Tecelagem
Álvaro Mendes & Cia. Fortaleza 45 Fábrica de Cal Álvaro Teixeira de Sousa Mendes e João Octavio
e Pedras de Vieira
Mármore
Em 1895, quando a população de Fortaleza teria menos philo); outra de bebidas alcoólicas e fermentadas (A. Borges
de 50 mil habitantes, “apresentava um parque industrial & Cia.); outra de licores (Ernesto B. da Silva); uma de cidra
que, para as condições da época, se podia considerar apre- (David Lacorona); as fábricas de cigarros (Lopes Sá &
ciável” (NOBRE, 1989:154). Os estabelecimentos industriais Cia.29, de Marques da Silva & Cia.30 e a de A. Pires & Cia.31);
mais importantes eram as fábricas de fiação e tecelagem, a fábrica de louças (de João Francisco Sampaio); a fábrica
localizadas na capital: Fiação e Tecido Cearense de Pompeu de calçados (Napoleão & Irmão); a fábrica de extração de
& Irmãos27 (1882), Tecidos União Comercial da Cia. Fábrica óleos (Alfredo Salgado); a fábrica de cal-marmórea (Álvaro
de Fiação União Comercial (1891), Cearense de Meias de Teixeira de Sousa Mendes - gerente); a empresa cons-
Cia. Fabril Cearense de Meias (1891), Ceará Industrial de trutora de Isaac Amaral & Cia.; a olaria do Cocó (Manuel
Holanda Gurjão & Cia. (1894)28 e Industrial Progresso de Rodrigues de Santos Moura); a refinação de açúcar32 (Costa
Pompeu & Cia. (1899). Além dessas, merecem referência: & Cia.); a fábrica de gelo33 (Dias Pinheiro & Cia.); a Fábrica
a fábrica de vinho, aguardente e licores (a mais antiga, de gravatas (Altière & Gabrielle); as fábricas de moer café
localizada na rua Sena Madureira, nº 59, pertencente a (Roberto Ferreira e Januario Irineu); duas fundições a vapor
Francisco Luis Carreira); outras cinco fábricas de vinho de (Estrada de Ferro de Baturité e José Candido Freire); uma
caju (Antero Theophilo, J. Januário, Jefferson de Araújo, fabrica de carruagens; e 14 estabelecimentos de panifi-
Mamede & Irmão, Joaquim Teophilo Rabello, Rodolpho Teo- cação e massas alimentícias34.
23 Alguns estabelecimentos industriais de Fortaleza, constituídos depois de 1877, não foram relacionados: refinaria de Açúcar, de Linhares
& Cia; Serraria Ponte, de Ponte & Cia Ltda.; Fábrica de Tecidos, de Pompeu & Irmão; Fábrica de Massas Alimentícias e Confeitaria, de Antonio
Russo Italiano.
24 Implantada no Boulevard do Imperador, “enfrentava a concorrência da atividade que, no mesmo ramo, vinha desenvolvendo o Colégio da
Imaculada Conceição, aproveitando a mão de obra, de baixo custo de meninas órfãs” (NOBRE, 1989:152).
25 Grande proprietário de imóveis urbanos (48) e um dos diretores da Cia Ferro-Carril do Ceará.
26 Negociante português. Residia na chácara de Jacarecanga.
27 Esta fábrica foi totalmente destruída pelo movimento popular de 9 de novembro de 1912 para derrubada do governo de Accioly.
28 Pertenceu a vários proprietários: Matos Lima, Aquiles Boris e Antonio Diogo Siqueira.
29 Situada na Rua Tristão Gonçalves, 66.
30 Situada na Rua da Praia, 39 (atual Pessoa Anta).
31 Situada na Rua Comendador Luis Ribeiro (atual Liberato Barroso).
32 Situada na Praça do Ferreira.
33 Situada na Rua Major Facundo, 62.
34 Nobre, 1989:195-196; Bezerra de Menezes, 1992:186; Almanaque, 1896.
136 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Aniagem - - - - 3
Cal-marmórea 1 - 1 - -
Calçados 1 1 1 1 2
Carruagens - 1 - -
Chapéu de Sol 1 - - 3 -
Cigarros/Charutos - 2 3 3 4
Curtumes 1 - - 1 2
Doces - - - 1 2
Doces Gelados - - - - 2
Fogos Artificiais 4 - - - -
Gelo 1 1 1 1 3
Gravatas 1 - - - -
Louças 1 - 1 - -
Malas - - - 1 4
Meias 1 - - - 2
Moagem de Café 2 - - -
Mosaicos - - - 1 3
Tijolos, telhas 1 - - - -
Velas - - - - 1
Vidros - - 1 - -
Total 39 18 37 51 91
Fonte: Almanaques 1870, 1896, 1920 e 1933; Censo 1887; Bezerra de Menezes, 1992.
Alfaiataria - 6 15 13 -
Barbeiro/de barbearia 6 20 7 -
Bahuleiros - - 3 - -
Carpina - 1 - -
Carpinteiros - 1 10 - -
Chapeleiro - - 1 - -
Colchoaria - - - 1 2
Colcheiro - - 1 - -
Encadernação 2 1 9 3 2
Ferreiros - - 5 - -
Fogueteiros - - 2 - -
Funilaria 3 - 8 3 4
Fundições - 2 2 4 4
Latoeiro 1 - - - -
Marceneiros/ Carpintaria/Serraria 6 2 9 8 12
Marmoraria - - 2 3 2
Ourivesarias/Relojoaria/joalheria 7 2 9 7 -
Prensa hidráulica 3 - - - -
Sapataria 6 4 9 6 -
Seleiros - - 1 -
Tanoeiro - - 2 -
Tinturaria - - 3 -
Tipografias 7 5 8 11 13
Torneiros e Tanoeiros 5 2 5 - -
Total 42 27 117 71 33
Fonte: Almanaques 1870, 1896, 1920 e 1933; Censo 1887; Bezerra de Menezes, 1992.
Açougues 26 3 10 - -
Agências de Leilões - 3 4 - -
Alfaiatarias - 1 - 13 11
Armarinhos - - - - 7
Armazéns - 32 - - -
Armazéns de Depósitos - - 42 - -
Armas e Munições - - - - 2
Armazéns de açúcar 2 - - - -
Armazéns de estivas e Miudezas - - - 22 50
Armazéns de farinha de trigo 3 - - - -
Armazéns de Gasolina e Querosene - - - - 4
Armazéns de madeiras 3 - - - -
Armazéns de sal - - - - 4
Ateliers de retrato a crayon e a óleo - - - 1 -
Ateliers de Piano - - - 2 -
Ateliers Fotográficos - - - 3 -
Artigos Dentários - - - - 2
Automóveis e acessórios - - - - 9
Bilhares - - 2 - -
Bodega - 21 - - -
Botica - 5 - - -
Cafés - 1 3 11 -
Camisaria - - - - 5
Casa de fumo - - - 1 -
Casa de máquinas de costuras - - - 2 -
Casa de Móveis - - - 4 -
Casa de Penhores - - - 1 -
Casas de vender bilhetes de loterias 2 - - - -
Casas exportadoras - - - 13 31
Casas importadoras - - - 21 72
Chapelaria - 1 - - -
Chapéu de sol - - - - 1
Confeitarias - - - - 4
Corretagens - - - - 6
Depósito de carvão vegetal 1 - - - -
Depósitos de álcool motor - - - - 3
Escritórios comerciais/loterias - 1 2 - -
Farmácias/Drogarias - 1 12 - 25
Fotografias - - 1 - 6
49 Censo de 1887.
50 Complementado pelo Almanaque de 1896.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 141
Hospedarias - - 10 - -
Hotéis/ Pensões e casas de cômodos - - 2 14 -
Instalações Sanitárias - - - - 2
Joalherias - 2 - 6 10
Laboratórios químicos farmacêuticos - - - - 5
Leiteria - - - 1 -
Livrarias 2 1 4 - 4
Loja de alfaiates 6 - - - -
Loja de Calçados 4 - - 10 12
Loja de chapéu de sol 1 - - - -
Loja de charutos e cigarros 4 - - - -
Loja de instrumentos de música 1 - - - -
Loja de fazendas 63 24 - 42 46
Loja de quinquilharias 12 - - - -
Loja de valores - 1 - - -
Loja para artigos para Seleiros e Sapateiros - - - 2 -
Lojas de Ferragens, Louças, Vidros e miudezas 2 3 - 9 21
Lojas de Modas e Confecções - 6 - 25 -
Molduras e espelhos - - - - 3
Lojas de Secos e Molhados 14 13 - 160 -
Loterias - - - - 1
Máquinas de Costura - - - - 4
Materiais de construção e lenha/combustíveis - - - 10 -
Mercearias - - - 9 21
Movelarias - - - - 10
Padaria 9 2 16 - -
Perfumarias - - - - 2
Quiosques - - 14 - -
Quitandas 54 1 - - -
Rádios, vitrolas e discos - - - - 4
Restaurantes - 1 2 1 -
Tabacarias - - - 5 -
Tavernas 78 - - - -
Tinturaria - - 2 - 4
Total 289 241 485 388 391
Fonte: Almanaques 1870, 1896, 1920 e 1933; Censo 1887; Menezes, 1992.
142 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
1916 - - - 4.470.728
Como visto, a partir da Independência (1822), foi implan- artigo 68, que “os Estados organizar-se-ão de forma
tada uma nova organização político-administrativa no que fique assegurada a autonomia dos municípios,
Império, que persistiu até o advento da República. O em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse”. O
Ato Adicional (1840) alterou a Constituição de 1824, texto do decreto inaugural de ordenamento jurídico
eliminando o Conselho do Estado, criando as Assem- republicano, de 15 de novembro de 1889, estabelecia,
bleias Provinciais com grandes poderes, como o de “fixar no artigo 1º, como “forma de governo da Nação Bra-
as despesas municipais e das províncias” e “lançar os sileira a República Federativa” e versava, no artigo 2º
impostos necessários ao atendimento dessas despesas, sobre as ex-províncias que passariam, a partir de então,
contanto que não prejudicassem as rendas a serem a compor os Estados Unidos do Brasil. No artigo 3º
arrecadadas pelo governo central” (FAUSTO, 2006:87). estabeleceu que “cada um desses Estados, no exercício
Segundo Faoro, de sua legítima soberania”, decretaria oportunamente
a sua Constituição. O Governo Provisório, por meio
O segundo Reinado, cuja centralização será sua do Decreto nº 7 (20/11/1889), extinguiu as assembleias
nota essencial, ruiu quando os suportes dessa provinciais, fixando os poderes dos governadores
realidade política e administrativa entraram em “competentes para exercerem também, em caráter pro-
colapso. A exaustão do trabalho servil e o crescente visório, funções executivas e legislativas”51. O Decreto
aumento do contingente assalariado puseram em nº 29 (3/12/1889) estabeleceu uma Comissão com o
risco a teia comercial e creditícia armada na corte propósito de elaborar um Anteprojeto de Constituição,
(2008:521). para ser enviado à Assembleia Constituinte.
A primeira Constituição republicana foi promulgada
O Decreto nº 4.644, de 24 de dezembro de 1870, em fevereiro de 1891, e a Constituição Política do Estado
ampliou os poderes dos presidentes de províncias por do Ceará52 foi promulgada em 12 de junho de 1892.
meio de nomeações e demissões e, no transcorrer da Como consequência da Proclamação da República, as
segunda metade do século XIX, estes foram “os agentes Câmaras Municipais foram dissolvidas e substituídas
do poder central na gestão dos assuntos politico-ad- pelos Conselhos de Intendência Municipal. O Decreto
ministrativos, econômicos e judiciários” (LEMENHE, nº 3-A, de 15/1/1890, cria o Conselho de Intendência
1991:108). Outra medida importante no Império foi a Municipal em substituição às Câmaras até a promul-
aprovação, em janeiro de 1881, da Lei Saraiva, que propu- gação definitiva da Constituição dos Estados Unidos
nha uma reforma eleitoral, estabelecendo o voto direto do Brasil e do Estado Confederado do Ceará. No lugar
para as eleições legislativas. dos vereadores, foi nomeado um Conselho “composto
de cinco membros. Sob a presidência de um d´elles,
A centralização imperial não era mais possível - eleito na primeira sessão de cada mez” (Art.1º), com a
o esteio que a mantinha de pé, na década de 80, incumbência de “fixar a receita e despeza pública dos
estava partido. A abolição deu-lhe o golpe fatal, municípios, com aprovação do governo” (§ 1º), “ordenar
não porque arredasse do trono a classe agrícola, a despeza e arrecadar as rendas” (§ 2º) e “fazer executar
mas ao romper o esquema tradicional da agricul- todas as obras municipaes”, além de fornecer a polícia
tura comercial, vinculada ao crédito, negócio de administrativa e econômica, assim como a tranquilidade,
intermediação exportadora, e, com ela, o estamento segurança, comodidade e saúde de todos os seus habi-
político. Retornar a ela, como no fim da Regência, tantes (§ 4º). O parágrafo 5º acrescenta como atribuição
seria impossível, por falta dos suportes do poder “rever, alterar, substituir, revogar os actuaes editaes e
(FAORO, 2008:526-7). posturas municipaes, creando novos, se assim o exigir
o bem público do município”. Cabia ainda ao Conselho
Com o advento da República, em 1889, instalou-se de Intendência “o exame e a syndicância de todos os
uma nova organização político-administrativa, referen- actos da câmara dissolvida, de todos os contractos
dada pela Constituição Federal de 1891. Observa-se, no existentes, providenciando nos termos das leis vigen-
51 http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0014242_02_cap_03.pdf.
52 A Constituição do Estado conferiu ao Poder Legislativo, e não aos conselhos municipais, o direito de elaborar a sua lei orgânica, definindo
os seus poderes, especificando as suas funções (MENSAGEM, 1900:9).
144 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
tes, ratificando ou annulando quaesquer delles, ainda ranas, continuando a não ligar grande importância
que estejam em execução”53, reservando ao Governo às leis” (MENSAGEM, 1896:28). “Essas irregularidades,
Provisório o direito de restringir, ampliar ou suprimir porém, confio, serem sanadas pela próxima execução
quaisquer dessas atribuições. da lei nº 264, de 26 de setembro último, que conferiu ao
A Constituição Política do Estado do Ceará, de 12 de Presidente do Estado a faculdade de nomear e demitir
junho de 189254, determina a Câmara Municipal como livremente os intendentes municipais” (MENSAGEM,
principal responsável pelos órgãos da administração 1896:28). Observa-se, pois, uma divisão do Poder Legis-
municipal, composta de vereadores, um intendente lativo da Câmara56 (de deliberar), e do Poder Executivo
na sede do Município, “funções executivas e tantos e administrativo (exercido pelo intendente).Entretanto,
subintendentes quantos forem os districtos em que a Câmara ainda era a responsável por medidas relati-
a câmara dividir o município”. Os vereadores deveriam vas ao espaço urbano.
eleger dentre eles o intendente, e os subintendentes A lei do Estado do Ceará nº 1.190, de 5 de agosto de
seriam eleitos pela Câmara Municipal, composta de dez 1914, promoveria outra alteração, substituindo o nome do
vereadores55. Eram atribuições da Câmara Municipal intendente municipal pelo de prefeito. Casimiro Ribeiro
“deliberar, resolver e legislar sobre qualquer assunpto Brasil Montenegro (1864-1947) foi o último intendente e
que entenda com a polícia, economia e administração o primeiro prefeito de Fortaleza, com mandato de 1914 a
local de accordo com a Constituição do Estado e a 1918. A lei nº 764, de 12 de agosto de 1904, alteraria o art.
da União” (art. 101). Quanto às ações do Intendente, 96 da Constituição Estadual, que dava aos vereadores
eram “prestar contas annualmente de sua administra- a faculdade de eleger entre si o Intendente, passando
ção, no primeiro dia da primeira sessão da Câmara, então os prefeitos municipais a serem nomeados pelo
apresentando semestralmente o balanço da receita Presidente do Estado. A Lei nº 1.942, de 14 de novem-
e despeza, com a demonstração e documentos com- bro de 1921, dispõe sobre a organização municipal, e
prabatórios” (art. 106 - item 4). Além disso, “apresentar determina que a Câmara “é o poder deliberativo do
relatórios, orçamentos, dados estastísticos, relativos município e compor-se-á de 12 vereadores na capital,
aos serviços, obras, bens e negócios municipais” (art. de 9 nas cidades e de 7 nas vilas” enquanto “o prefeito
106 - item 5). A Lei de 5 de setembro de 1895 redefiniu é o chefe do governo executivo do município”. Ambos
a competência das Câmaras Municipais para taxar são eleitos por sufrágio direto e maioria de votos do
o exercício de indústrias e profissões, porém sem eleitorado do município (arts. 15 e 27). A Constituição
exceder a terça parte da importância dos lançados Estadual de 1925 define que os prefeitos e a Câmara “são
pelo Estado, proibindo a taxação sobre o trânsito de eleitos por suffrágio directo do eleitorado do município,
produtos de um município para outro (MENSAGENS, aquelles por dois annos e estas por quatro, exceto o
1896:28). Mesmo assim, quase todas as Câmaras do Prefeito da Capital que é de livre escolha do Presidente
Estado “têm entendido que são completamente sobe- do Estado” (art. 89).
Para o entendimento do processo de urbanização e, Os habitantes desta cidade são obrigados a ter
principalmente, do ordenamento do espaço urbano, é varrido areia das frentes de suas casas até o meio
importante entender o papel da Câmara Municipal na da rua (Art. 33).
passagem do Império para a Primeira República.
A Câmara57 continuou atuando na organização do Os despejos de material em vasilhas, das 9 horas da
espaço da cidade por meio do levantamento das plantas noite em diante em lugares que forem designados
de 1875, 1888, e dos quatro Códigos de Posturas de pela Câmara (Art. 55).
1865, 1870, 1879 e 1893. Somente em 1932, a Prefeitura
Municipal realizou o Código Municipal e a planta de 1932. A secção II disciplina também sobre a salubridade
Com a expansão crescente da cidade, a partir da pública, impondo o zoneamento de funções urbanas,
década de 1860, redigiu-se um novo Código de Postu- sobretudo marcado pelo deslocamento dos ofícios
ras pela Câmara Municipal de Fortaleza, aprovado pela poluentes e barulhentos para os arrabaldes ou subúrbios
Resolução nº 1.161, de 3 de julho de 186558, contendo 20 da cidade, fora do perímetro urbano. É definida, assim,
capítulos e 11 seções. a localização dos curtumes, salgadeiras e das fábricas:
Esse código definiu a função e as obrigações dos
arquitetos e engenheiros na orientação do processo de É proibido ter-se nas casas desta cidade, fornos de
transformações da cidade: cozer ou torrar tabaco, fábricas de destilar aguar-
dente; de sabão; de azeite ou quaisquer outras,
Art. 13. Ao arquiteto, que será engenheiro formado em que se trabalhe com ingredientes que exalam
nas escolas do Império ou estrangeiras, incumbe: vapores, que corrompem a atmosfera. Ademais, só
§ 1º Alinhar as ruas, praças, pontes, cães, estradas, serão permitidos nos arrebaldes ou subúrbios com
casas e toda e qualquer obra de arquitetura, medi- licença da Câmara (Art. 44).
ção, arqueação, perfil, nivelamento e calçamento.
§ 2º Dar a planta, plano e orçamento de qualquer Mesmo que as atividades industriais e comerciais fos-
obra municipal. sem incipientes, as condições e a localização das fábricas
§ 3º Inspecionar as obras da câmara, quer se fação na cidade mereciam, nesse momento, a atenção dos
por contrato, arrematação, ou administração. códigos de posturas. Tratava-se de uma política da Repú-
§ 4º Levantar a planta da cidade, e povoações do blica Velha, em continuidade à do Império, que muitas
município, quando lhe for ordenado pela câmara. vezes desagradava os empresários urbanos, tal como se
§ 5º Dar seu parecer por escrito, quando assim exigir pode ver nesta declaração do “Jornal do Ceará - 1868”:
a câmara, ou seu presidente.
Colhe-se a declaração de um insatisfeito, o Sr.
Na Resolução nº 1.162, de 3 de agosto de 1865, acen- Carreira, que deixou de fazer o seu alambique fun-
tuou-se a preocupação com o binômio saúde pública cionar “em virtude de uma postura municipal, que
- higiene, por meio de obrigações impostas aos habitantes. proíbe os alambiques dentro dos limites da cidade”.
Diante do embargo, vai transferir a fábrica para
Os moradores da rua do mercado são obrigados Jacarecanga (CAMPOS, 1985:104).
a limpar o riacho [Pajeú] que corre pelos quintais
de suas casas, quando forem avisados pelo fiscal Alguns artigos proibiam hábitos que não podiam ser
(Art. 59). mais permitidos numa área urbana: “um só indivíduo
57 Em 1870, a Câmara era composta pelos seguintes vereadores: presidente Cel. Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), negociante;
Trajano Delfino Barroso, advogado; Ten.-Cel Ant. Gonçalves da Justa, comerciante e político conservador; Ten.-Cel Fco Coelho da Fonseca,
negociante (loja de fazenda); Capitão José Fco. da Silva Albano (Barão de Aratanha), negociante (Albano & Irmão); Ant. Nunes Teixeira de Mello;
Bernardo Pinto Coelho, negociante (Rua Amélia 187); José Antonio Martins, comerciante (loja fazenda-praça dos voluntários); João Leonel
de Alencar; Pedro Nogueira Borges da Fonseca, negociante (herdou a Botica do Ferreira, na Praça do Ferreira, nº 24) (ALMANAK, 1870:125).
58 Essa postura foi aprovada no governo do bacharel Francisco Ignacio Marcondes Homem de Mello. Contém 20 capítulos e 11 secções.
No regulamento dos empregados da Câmara Municipal da cidade da Fortaleza, no Título Único dos empregados, apresenta os cargos dos
empregados: secretário, ajudante do secretario, arquivista, porteiro, contínuo, procurador, três fiscais no distrito da Capital, advogado, médico,
arquiteto, zelador do matadouro público, zelador da Cacimba do Povo, zelador da cacimba da Alagoinha, um fiscal no distrito de Arronches, em
Soure, em Parazinho, em Siupé, em Trairi e em Messejana, um zelador do curral de Arronches e um zelador do açude de Soure.
146 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
conduzir mais de cinco cavalos, burros ou bois, carre- Passa a ser exigido, com maior ênfase, o disciplina-
gados ou sem cargas, pelas ruas....” (Art. 20); “equipar-se mento do espaço urbano por meio do respeito do traçado
ou correr a cavalo ou em burro pelas ruas...” (Art. 22); em xadrez formulado em 1863 por Adolfo Herbster. Por
“conduzirem-se magotes de gado vacum, cavalar, e exemplo, posturas municipais, publicadas em 1868,
muar pelas ruas desta cidade” (Art. 22). mencionavam que as choupanas somente poderiam
Não se pode deixar de destacar a preocupação dessa ser construídas com autorização da Câmara, e que estas
legislação de compatibilizar o modo de viver rural com o deveriam estar alinhadas em relação às ruas principais
urbano, principalmente porque o “matuto” e o “sertão” e aos becos. Essa preocupação se refletiu na planta de
tiveram presença obrigatória nos hábitos, costumes e regulamentação do espaço urbano de 1875, quando o
no processo de urbanização de Fortaleza. Os próprios arquiteto Adolfo Herbster tentou impor o traçado em
nomes das ruas e travessas (das Flores, do Cajueiro, do xadrez sobre as ocupações das casas existentes59 na
Pocinho, das Hortas) evidenciavam uma maior relação antiga estrada do Cocó.
com o sertão do que com o mar (CAMPOS, 1988:83). Em 18 de junho de 1868, a Câmara Municipal aprovou
Como mencionado no capítulo anterior, essas provisoriamente posturas adicionais60:
posturas dispunham também sobre a volumetria dos
imóveis, cornijas, largura das calçadas, conforme se Art. 28 Ninguém poderá vender água potável dentro
observa nos artigos 6 e 7: desta cidade, à exceção da Companhia do enca-
namento d´água do sítio Benfica. Ao infrator uma
As casas térreas que se construírem dentro dos multa de 20 mil réis;
limites da cidade terão pelo menos 20 palmos [4,4m] Art. 29 As carroças deverão ser licenciadas;
de altura na frente, entre as soleiras das portas e a Art. 30 Canecas com capacidade de 20 litros;
base da cornija. As portas, quando de verga direita Art. 31 Vestuário dos empregados.
ou de verga semicircular ou gótica fingida, terão
no mínimo 13 palmos (2,86m) de altura e cinco e Contrariando a Postura, a Companhia do Encana-
meio de largura, e as janelas oito, e quando de verga mento d´Água do Sítio Benfica divulga no jornal Cearense,
semicircular ou gótica aberta, terão as portas 12 de 14 de julho de 1868, que a água vendida nas carroças
palmos (2,64m) de altura até a imposta do arco. custa cada caneco 40 réis e nos chafarizes 20 réis, de
Os claros e cunhais terão pelo menos sete palmos acordo com o artigo 28.
(1,54m) de altura e a cornija e acrotérios a quarta Cinco anos depois da vigência desse Código, esta-
parte da altura da frente (Art. 6). beleceu-se a Resolução 1.365, de 20 de novembro de
1870, distribuindo racionalmente os assuntos em 8
As casas que se construírem nas duas avenidas de títulos e 87 capítulos. Há duas inovações que dizem res-
cem palmos (22,0m) terão 22 palmos [4,40m] de peito, especificamente, à salubridade das casas, ruas e
altura na frente, entre a soleira das portas e a base lançamento de dejetos:
da cornija. Terão todas as cornijas e acrotérios,
cuja altura corresponderá a uma quarta parte É proibido fazer limpeza ou despejo de matérias
de altura de frente. As portas, quando de verga fecais em outro lugar, que não seja na praia do porto
direita ou de verga semicircular ou gótica fechada, das jangadas para baixo [leste], e da ponte do desem-
terão 14 palmos [3,08m] de altura e 6 de largura barque para cima [oeste] (Art. 47, § 3).
[1,32m], e quando de verga semicircular ou gótica
aberta, terão as portas doze e meio palmos [2,75m] Lavar roupa de pessoas acometidas de moléstias
de altura até a imposta do arco, e as janelas oito contagiosas em outro lugar, que não seja a foz do
palmos. Os claros e cunhais terão pelo menos a ribeiro denominado Jacarecanga (Art. 47, § 7).
largura das portas e as janelas; o espelho terá 8
palmos [1,76m] de altura e as soleiras das portas Demonstra este artigo que o porto das jangadas até
serão assentadas um palmo[0,22m] acima do nível a ponte de desembarque, bem como a área das chácaras
das calçadas, os contraventores serão multados junto ao riacho Jacarecanga, estavam nessa época fora
em dez mil réis, além de ser demolida a parte da do perímetro urbano.
casa que se não conformar com a presente pos- A Resolução nº 1.365, de 20 de novembro de
tura (1865, Art. 7). 1870, publicada pelo presidente desembargador João
59 Esse conjunto está localizado entre a Rua Duque de Caxias e a Clarindo de Queiroz, próximo à estrada de Messejana.
60 Correspondência da Câmara de 3/4/1868.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 147
Antônio de Araujo Freitas Henriques, apresenta um Todas as matérias orgânicas e inorgânicas suscetí-
regulamento anexo, com dois capítulos e 28 artigos, veis de se corromperem e de viciarem o ar ambiente
que mencionam sobre Edificação – “as ruas e tra- pela exalação de miasmas ou de incomodarem as
vessas da cidade e povoações do município terão a pessoas que transitam e de impedirem o trânsito
direcção e a largura indicadas na planta respectiva, público com pedras, tijolos, telhas etc., terras soltas,
ou determinadas pela câmara, observando-se o mais lamas, animais mortos, restos vegetais e de animais,
perfeito alinhamento e conveniente nivelamento” águas estagnadas e tudo o que se compreende na
(Artigo 1º). Estabelece normas para casas de palha e palavra imundice61.
taipa (artigo 2º): “nenhuma edificação de casas, ainda
mesmo de taipa ou palha, nem construcção de cercas Nesse período, a cidade inicia o seu processo de
começará no espaço comprehendido na planta da ocupação da área definida pelo plano de Herbster rela-
cidade e na das povoações, sem preceder alinhamento, cionada à sua condição de centro exportador do algodão
assim como nivellamento para as casas de alvena- cearense, o que condiciona maiores investimentos na
ria”. Também determinava um “alinhamento especial política higienista então em curso.
affastado um metro do estabelecido para as demais As posturas municipais vão sendo aperfeiçoadas
edificações” (artigo 3º). com novas providências, como é o caso do Código de
As posturas de 1870, no capítulo IV, contem- 189362, já da República Velha, que acrescenta medidas
plam o uso e aproveitamento de “açudes, riachos inovadoras quanto à prática da invasão de moradias em
ou aguadas e distribuição d´água potável para con- nome da limpeza e saúde, mostrando que tais práticas
sumo.” No art. 49, adverte “os proprietários de terras vêm garantir a reprodução das relações sociais. O artigo
no Alagadiço Grande, Urubu e Jacarecanga, a não 91 determinava que “as casas e seus quintais serão
utilizarem sangradouros de açudes e tapagens sem vistoriados quando a intendência julgar conveniente,
a profundidade recomendada, e largura – de um a bem da salubridade, ou por intermédio de comissões
metro – como o exigirem o inverno e as condições da nomeadas para dito fim”63. Constata-se também mais
represa” (CAMPOS, 1988:108). uma determinação referente à higiene: “o médico fará
A Resolução nº 1.682, de 2 de novembro de 1875, sempre parte da comissão necessária para a vistoria,
acrescenta normas para as casas de palha ou de taipa: de que se trata”64. Em seu artigo 2º, delimita zonas
exclusivas das palhoças fora do perímetro urbano: “É
É proibida a edificação de cercas, casas de palha, proibido, dentro da circunscrição urbana, edificar casas
ou de taipa dentro do quadro limitado pelas ruas do de palha ou de taipa assim como construir cercas ou
Pajehú, Livramento e Boulevard Imperador, inclu- currais. Multa de 30$000 ao infrator “. Ou seja, na
sivamente; como também as casas de paredes República, as palhoças e casas de taipa foram definiti-
singelas, de tijolo somente nas ruas que se acharem vamente apartadas do perímetro urbano.
calçadas. O infrator soffrerá a multa de 10$000 As normas concernentes ao Serviço Sanitário passa-
réis e será a obra demolida a sua custa (Art. 2º). ram, em 1918, a ser de competência da Diretoria Geral de
Higiene, que elaborou um regulamento no qual decretou a
O Código de 1879 é uma edição melhorada da inspeção sanitária nas habitações particulares e coletivas,
coleção de leis de 1870. Nesse momento, os habi- estabelecimentos, lugares e logradouros públicos, sendo
tantes da cidade ainda “depositam os dejetos fecais feita uma série de exigências quanto às habitações em
‘durante um ou dois dias’em ‘depósitos de ferro ou de geral. Essas normas de controle das habitações vêm
madeira,’ ‘fazendo à noite a sua remoção para o mar. reforçar aquelas que haviam sido esboçadas no Código de
E, mais sério, os que habitam as margens dos córregos 1893: “todas as casas novas ou reparadas, e as de aluguel
Jacarecanga e Pajeú servem-se destes para esgoto” que vagarem serão visitadas pelo Inspetor sanitário
(CAMPOS, 1988:117). Surge, a partir desse Código, a que verificará se oferecem ou não as condições indis-
figura do encarregado da limpeza da cidade, através pensáveis de higiene e asseio para serem habitadas”65.
de carroças, com objetivo de remover Essas normas regulam também as casas de travessa66:
“não será permitida a habitação em casas ou cômo- iniciados em 1908, tendo sido criada para execução e
dos chamados de travessa, sem área livre ou quintal e manutenção desses serviços a “Repartição de Sanea-
sem instalação sanitária (Art. 312) como também “não mento e Obras Públicas”71.
é permitida a habitação em porões e sótãos que tenham O Prefeito Municipal de Fortaleza, major Manuel
iluminação e arejamento deficientes” (Art. 314). Essas Tibúrcio Cavalcanti, considerando o Código de Postu-
formulações de controle de habitação reforçam aquelas ras de 1893 insatisfatório para as “necessidades gerais
que haviam sido esboçadas no Código de 1893, vigente dos munícipes e da Municipalidade, por sobremodo
a partir de então por todo o Brasil. omisso e antiquado” e usando de suas atribuições
Por outro lado, a cidade passava por um processo legais, resolveu decretar, em 13 de dezembro de 1932,
de adensamento no sentido leste-oeste desde 187267, um novo Código Municipal72. Uma das mudanças mais
com a presença de inúmeras “casas de travessa”, o que significativas que se pôde observar foi o fortalecimento
justificava a presença, na legislação, do controle de certas do Poder Executivo concentrado na figura do prefeito
práticas sociais recorrentes espalhadas por toda a cidade, municipal. No artigo 19, por exemplo, determinou que
dificultando, portanto, a realização de uma rígida política “para os efeitos e aplicação do presente Código e
de especializações dos espaços e segregação social. demais fins administrativos, fica o município dividido
Este novo regulamento vinha reafirmar e ampliar os em quatro zonas: central, urbana, suburbana e rural”.
Códigos de 1879 e 1893, ao proibir também a implantação, Além disso, “a divisão de terrenos em quadras, e a
dentro do perímetro urbano68, das seguintes fábricas: destas em lotes, somente será permitida se forem devi-
curtume, sabão e óleo, couro e sebo, salgadeiras, como damente aprovados ou modificados pela Prefeitura os
também depósito de cal, borracha de maniçoba não planos respectivos, devendo o interessado requerer,
beneficiada, estufas de torrefação de tabaco, fundições, previamente, a aprovação de um anteprojeto, com a
ferrarias e outras oficinas de obras metálicas, fábricas indicação das ruas a serem abertas” (Art. 25). Por sua
ou depósitos que exalassem mau cheiro69. vez, “nenhuma construção, reconstrução, acréscimo,
A Câmara Municipal de Fortaleza, por meio da lei de reforma, conserto, demolição ou limpeza se fará sem
27 de dezembro de 191770, normatizou a limpeza pública: prévia licença da Prefeitura” (Art. 70). No capítulo I
das “disposições gerais”, determinou que, “nas ruas de
Art. 1 – Fica desde já prohibido o depósito de lixo caráter evidentemente residencial, as edificações serão
das casas particulares, em qualquer ponto do leito sempre recuadas do limite da via pública e isoladas dos
das ruas da cidade, inclusive as sarjetas e passeios. lotes ou edifícios visinhos por meio de áreas laterais”
Art. 2 – As carroças da limpeza municipal receberão (Art. 108). O prefeito, no Relatório de 1932, apresentado
o dito lixo, que deverá ser retirado pelos conduc- à Interventoria, relatava: “a construção da planta da
tores no limiar das portas, onde será collocado em cidade (a de 1931) veio tornar evidente a necessidade
recipientes apropriados [folhas de flandes], de modo inadiável de ser adotado um plano para o sistemático
que não deixe escapar nenhuma parcella dos resíduos desenvolvimento da cidade e a conveniência de ser
nelles accumulados, quer por extravasão, quer por consultado um urbanista sobre o seu traçado” (GIRÃO,
fendas ou aberturas. 1943:205). A política de urbanização da República seguiu
Art. 3 – Para a execução do artigo antecedente, as os moldes definidos no Império, criando, para tanto,
suas calçadas da cidade, das 7 horas da manhã até novas instruções e quadros técnicos.
as 4 horas da tarde, serão percorridas pelas referi- Na estrutura administrativa, o prefeito, antes de con-
das carroças, que darão aviso pelo contínuo tilintar ceder ou negar o alvará da construção, deveria observar
de uma sineta (Edital No 25 da Prefeitura de 1917). o estudo e o parecer da Secção de Obras e Viação (Art.
74). Tratava-se de uma política vigente em todo o País,
Na administração do presidente desembargador com base no estabelecimento de uma estrutura admi-
José Moreira da Rocha (1924-28), foram inaugurados nistrativa semelhante, destinada a gerir o processo de
os serviços de águas e esgotos sanitários de Fortaleza, transformação das cidades brasileiras.
67 Na Décima Urbana de 1872, as ruas de travessa (leste-oeste), Assembleia, Flores, Hortas, Municipal, São Bernardo, Trincheiras e D. Pedro
já apresentavam parcelamentos.
68 Em seu artigo 484, define a zona urbana da Capital para os efeitos deste regulamento: isso será apresentado mais à frente.
69 Regulamento da Diretoria Geral da Higiene, artigo 482, p. 272.
70 Lei publicada pela Prefeitura Municipal no Edital 25 de 1917 na Gazeta Oficial do Estado do Ceará de 1917.
71 Lei nº 2.176, de 30 de setembro de 1924, tendo na 1ª Divisão – Administração Central; 2º Divisão - Água e Esgotos; e 3ª Divisão - Obras
Públicas (Relatório de 1926:55-56).
72 Código Municipal, Decreto nº 70, de 18 de dezembro de 1932.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 149
FIGURA 61 Exercício de
reconstituição cartográfica
- Fortaleza, 1932. Ruas as
quais se refere o artigo
225. Autora: Margarida
Andrade. Mapa-base: Carta
da Cidade de Fortaleza
Arredores, levantada,
desenhada e impressa pelo
Serviço Geográfico do
Exército, 1945. Fonte: Código
Municipal (Dec. 70, de 18 de
dezembro de 1932).
Uma nova numeração, pautada no sistema métrico- Peixoto; a Avenida Pessoa Anta, entre a Avenida 3 de
-decimal, foi introduzida por meio deste Código, sendo Outubro e a Rua Barão do Rio Branco; a Rua Liberato
orientadas as ruas de norte a sul, do mar para o sertão, e Barroso, entre as ruas Major Facundo e Barão do
as ruas leste-oeste separadas “pela via-eixo constituída Rio Branco; e a Rua Pedro Borges, entre a Rua Major
pela sequência da Avenida Alberto Nepomuceno, Rua Facundo e a Rua Sena Madureira – somente serão
Conde d´Eu, Rua Sena Madureira e Avenida Visconde permitidos sobrados (Art. 225) (Figura 61).
do Rio Branco” (Art. 41), segundo cada uma para o lado
correspondente (os pares relacionados ao lado direito Esse decreto induziria o processo de verticalização
e os impares ao lado esquerdo). da zona central e da zona comercial com a construção
Em seu capítulo XIV, sobre altura dos edifícios, de prédios de dois ou mais pavimentos.
determinou (artigo 225): O Código de Posturas do Município, de 1932, dedicou
capítulo específico às casas populares, permitindo a sua
nas construções e reconstruções de prédios às construção no perímetro suburbano “a uma distância
ruas Floriano Peixoto, Major Facundo e Barão do Rio nunca inferior a cem metros da zona urbana”. No perí-
Branco, no trecho compreendido entre a Praça dos metro rural, é permitida a construção de casas de um só
Mártires e a Rua Pedro Pereira; a Rua Gen. Bezerril pavimento (Art.345). O capítulo XI versava sobre vilas e
entre as Ruas João Moreira e Pedro Borges; a Rua determinava que “os grupos de habitações denominadas
Sena Madureira entre a Avenida Pessoa Anta e a ‘vilas’ somente poderão ser construídos fora da zona
Rua Pedro Borges; as ruas João Moreira, Castro urbana” (art. 346, 1932:90). No artigo 348, determinava
e Silva, Senador Alencar e São Paulo, no trecho que “as entrada para as vilas terão a largura mínima
compreendido entre a Rua Sena Madureira e a Rua de dois metros (2,00m), com portões de ferro, tendo
Barão do Rio Branco; a Rua Guilherme Rocha, entre a a numeração que lhes couber, pelo logradouro onde
rua Rosário e a Praça Marques de Herval; a travessa estiverem situadas” (1932:90). É nítida a política de segre-
do Crato, entre a rua Sena Madureira e a rua Floriano gação social vigente a partir de então.
150 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Na administração do prefeito Raimundo Girão (1933- mas de modo que cada fossa tenha capacidade
34), o Decreto-lei 1.780, de 7/8/1933, considera vilas “o necessária para servir a 100 pessoas, tomada a
conjunto de 10 casas, pelo menos, construídas de acordo média de 10 habitantes para cada casa.
com a disposição das leis municipais e cujo aluguel não
exceda 50 mil réis por mensais por unidade” (Art. 2). f) Nas vilas situadas nas zonas servidas de abas-
No artigo 3, estabelece, também, normas mais rígidas tecimento público d´água, cada casa deverá ter
e minuciosas, em que as casas deveriam obedecer aos uma pia com torneira, na cozinha. Quando forem
seguintes requisitos: situadas onde não haja esse serviço, deverão
referidas vilas dispor de um poço fechado à prova
a) serão isoladas entre si ou conjugadas duas a de mosquitos e provido de bomba (Art.3).
duas, devendo cada casa ou grupo separar-se
das demais por uma área lateral de um metro e Pode-se verificar que essa legislação introduziu a
meio de largura no mínimo. necessidade de recuos e que as casas deveriam ser
isoladas umas das outras na lateral e na frente para a
b) serão recuadas dos alinhamentos da via pública rua. Além disso, a legislação estabeleceu limitações de
três metros no máximo. área coberta e do número mínimo de compartimentos,
sendo proibida também a comunhão de quintais.
c) cada casa ocupará a área coberta de 40 m2 e O proprietário Antônio Diogo Siqueira possuí 66 uni-
conterá pelo menos quatro compartimentos, um dades na Vila Diogo (1922), 20 unidades na Vila Araken
dos quais destinado ao banheiro e sentina [vaso (1932) e 42 na Vila Gurgel; a firma Pompeu & Cia possuía
sanitário], ligado à rede de esgoto, onde houver. 50 unidades (1926), e o industrial Filomeno Gomes possuía
86 unidades na Vila São José (1928-33) em Jacarecanga.
d) não será permitida a comunhão de quintais. O almanaque de 1932 apresenta uma relação de 15 vilas
operárias de aluguel isentas de impostos, com 293 casas,
e) quando situados em local em que não exista rede das quais somente duas, Pompeu e Diogo, eram ligadas
de esgoto, serão providas de fossas sépticas, à industria têxtil.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 151
Um número vago, pois a área com continuidade Fonte: Anuário Estatístico, 1936.
urbana ocupava aproximadamente 50 hectares,
onde, no máximo, viveriam, talvez, umas 4.000
pessoas. Se acrescentarmos outro tanto, para A grande seca de 1877, que se prolongou até o final
os moradores do mar, de palhoças que cercava a de 1879, juntamente com a epidemia de varíola, ensejou
parte construída, teríamos uns 8.000 habitantes um grande deslocamento da população do campo para
como total da população urbana. A outra metade a cidade, levando a Província a tomar algumas medidas,
morava na zona rural da paróquia, quer dizer, pra- conforme se vê na noticia do jornal O Retirante:
ticamente o atual município de Fortaleza, excluído
o distrito de Messejana (1982a:55). O governo tem últimamente mandado erigir
algumas palhoças, ou propriamente ranchos para
Por outro lado, há uma diminuição de população abrigo de parte da população desvalida que migra
no final da década de 1870. Essa redução acentuada continuadamente para esta capital [...] surge então
pode ser explicada pela grande seca de 1877, que a ideia de se mandar cobrir provisoriamente de
se prolongou até o final de 1879, juntamente com a palha a parte do edifício do mercado público em
epidemia de varíola. construção na Praça Marquês de Herval. Já que se
acha dentro do perímetro da cidade, lugar muito
1877-78-79 representam o aumento da desloca- arejado, portanto higiênico com mais facilidade,
ção e dos sofrimentos da população cearense, prontamente poderão ser recolhidos esses infe-
o reinado da varíola sob todas as formas e com lizes retirantes (22/7/1877).
intensidade nunca vista em país algum do globo,
havendo o obituário de Fortaleza, em 1878, se Em 1878, existiam 13 abarracamentos74 na cidade,
elevado a 57.780 mortes, 24.989 é por conta da 114.404 “retirantes”, (incluindo homens, mulheres e
varíola (STUDART, 1924). crianças) distribuídos nos arredores da cidade: Meireles
(11.435); São Luiz e Aldeota (10.102); Pajeú (5.996);
Boa Esperança75 (2.476); Alto da Pimenta (20.035);
73 Vale destacar que a população da tabela 20 corresponde à do município e não à da cidade. Somente em 1940 foi feita a separação. O
município, em 1940, contava 180.185 habitantes, e a cidade (área urbana) 140 mil.
74 Eram “quadriláteros de 200 a 300 metros de cada lado, com casaria alinhada e em grande parte coberta de telha, com enfermaria, depósito
de víveres, pequena botica, assentamento de quatro a oito caldeiras, poço e lavanderia” (http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/211/000048.html).
75 “Esse abarracamento à beira mar e a sotavento está em via de construção, sendo destinado a substituir o da lagoa do Garrote, dentro da cidade”.
152 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Benfica (23.750); São Sebastião (13.800); Tejubana (6.237); vinte litros os quais serão aferidas pelo encarregado da
Alto do Moinho (9.213); Lagoa Seca76 (2.236); Jacarecanga77 câmara”81. No Regulamento dos empregados da Câmara
(7.039) e os da Via-Férrea78 e dos Engenheiros79 (2.085)80 Municipal da cidade de Fortaleza, o capítulo II, referente
(RELATÓRIO, 1878:52). aos deveres e atribuições, encarrega o arquiteto de “veri-
Ao mesmo tempo, determinou-se a construção de ficar se os chafarizes, reservatórios, tanques, carroças,
obras públicas a fim de proporcionar trabalhos para os canos e válvulas, empregados pela Companhia d’água
flagelados. Essas pessoas eram empregadas em conduzir do Bem-fica, conservam-se no fornecimento desta com
pedras para o calçamento da cidade e das estradas o asseio devido, se são observadas as posturas, e se há
de Soure e Messejana, fabricar tijolo e telha, construir regularidade no serviço.”
abarracamentos, abrir poços, na limpeza da cidade e Observam-se no anúncio do jornal Cearense recla-
subúrbios, nas obras do muro da Residência Episcopal, mações da população sobre a qualidade dos serviços da
dos Quartéis de Linha e Polícia, do Paiol da Pólvora, do Companhia, como, por exemplo, em 18 de janeiro de 1871:
Asilo de Mendicidade, dos açudes do Pajeú e Alagadiço Reclamação ao Dr. Ribeiro, gerente de forneci-
etc. (RELATÓRIO, 1878). mento d´água do Benfica:
Fortaleza passou a ter, nos anos 1860, “não só a — “Há ruas onde, faz quatro dias, não passam as
primazia do comércio direto com a Europa – nas linhas carroças da Cia., pois o contrato é obrigado a mandar
de vapores ingleses -, mas também com as outras pro- fornecer água às portas de cada um”.
víncias, uma vez que seu porto foi incluído nas rotas Resposta do gerente:
que se estendiam para a região sudeste, ligando-a ao — “Quem, pois, quizer ser melhor servido e tiver meios
mais importante porto do país” (TAKEYA, 1995:110). Foi mande encanar água.”
a partir dessa década que ocorreu a modernização da O Jornal então respondeu mandando a Câmara abrir
infraestrutura urbana em função das mudanças de as cacimbas e deixar quem quisesse vender água.
papel que a cidade assumiu na lógica do sistema urbano, A lei nº 334, de 4 de setembro de 1896, autorizou o
regional e internacional. Governo do Estado a renovar o contrato celebrado em 16
O abastecimento de água potável do sítio Ben- de fevereiro de 1891, modificado-o em 7 de maio de 1892. O
fica foi implantado por meio da Resolução 1.023, de contrato foi rescindido em 3 de junho de 1895. A Lei nº 515,
27 de novembro de 1862, concedendo a José Paulino de 31 de outubro de 1898, autorizava a contratar, com
Hoonholtz, empresário, a obra de encanamento da água quem mais vantagens oferecesse, e mediante concorrência
potável do sítio Benfica, bem como o privilégio de vender pública, a canalização de água potável para o abasteci-
água à razão de 20 réis a caneca por 50 anos. A Resolu- mento desta capital. O Estado garantiria, por espaço de 20
ção determinava o encanamento da água do Benfica para anos, juros de 7% sobre o capital efetivamente empregado
quatro chafarizes, situados nas seguintes praças: dos nas obras, não excedendo este de 5 mil contos, moeda
Voluntários, Ferreira, Assembleia e do Passeio Público. brasileira. A Lei nº 924, de 16 de julho de 1908, autorizou
O artigo 5 decretou que a Câmara Municipal fechasse as os estudos para o serviço de abastecimento de água e de
cacimbas de água potável logo que o encanamento fosse esgoto na cidade e a realização das respectivas obras por
concluído e estivessem funcionando todos os chafarizes administração, empreitada ou concessão.
(STUDART, 2001:172-173). Em 27 de novembro de 1862, Foram apresentadas duas propostas82: uma do
foi transferido o contrato à Ceará Water Co. Ltd, inglesa, engenheiro João Felipe Pereira83, e outra pela City
que explorou o serviço até a grande seca de 1877-79. No Improvements, Limited, de Londres. Na concorrência
artigo 51, a Companhia do Benfica é forçada a utilizar pública, realizada no governo de Nogueira Acioly, em
na venda de água “canecas, que tenham capacidade de 1910, saiu vencedor o engenheiro Dr. João Felipe Pereira.
76 “Está sendo reconstruído e aumentado, os habitantes ocupam-se na construção de um açude no mesmo lugar, próximo ao Alagadiço Grande”.
77 “É o melhor dos abarracamentos, compondo-se de três grandes quadriláteros, servindo de modelo para os demais. A construção principal
ocupa a praça da Jacarecanga”.
78 Constava de choupanas dispersas ao longo da via-érrea e na praça da estação central.
79 Aproveitando os dois quarteirões de casas cobertas de telha dos engenheiros residentes na Capital, foi construído, nas proximidades, o
novo abarracamento denominado Engenheiros. .
80 Os dois estavam sob a direção do engenheiro Adolpho Herbster.
81 Artigo 51 parágrafo 1º.
82 Para estudar e emitir parecer sobre as propostas, foi composta uma comissão: Dr. Thomas Pompeu de Souza Brasil e os engenheiros
Antonio Epaminondas da Frota e Carlos Pinto de Almeida.
83 Professor catedrático de Hidráulica, Abastecimento d´ Água e Esgotos da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 153
FIGURA 62 Reservatórios
metálicos implantados na
face sul da Praça Visconde de
Pelotas (atual Clovis Beviláqua)
em 1912. Fonte: Arquivo Nirez.
FIGURA 63 Reservatórios
metálicos na Praça Visconde de
Pelotas (atual Clovis Beviláqua),
após revestimento de cimento.
Fonte: Arquivo Nirez.
Em 1912 foram instalados dois reservatórios metálicos84 do Mar) e um trapiche86 próprio para seus embarques e
num dos pontos mais altos da área central, na face sul desembarques (GIRÃO, 1959:152). A área era denominada
da Praça Visconde de Pelotas (atual Clovis Beviláqua), Bairro da “Praia”87:
nas imediações da rua Dr. Antonio Pompeu. A falta de
conservação dessas caixas d´água implicou no envol- A capital do Ceará não possuía nem uma baía pro-
vimento e substituição do fundo metálico das caixas funda como Salvador nem a foz de um rio como
com concreto armado85 entre 1924-26 (RELATÓRIO, Recife, onde as embarcações de pequeno e médio
1928:60-61) (Figuras 62 e 63). porte pudessem se abrigar, no período colonial, com
Nas cidades brasileiras, ao longo do Império, o porto um mínimo de segurança. Seu porto teria que ser
“não passava de um conjunto desarticulado e mal cons- construído em mar aberto e em uma área onde a
truído de trapiches de madeira, [...]. Cada um destes costa é atingida pela corrente das guianas, e onde
trapiches tinha o seu dono“ (HONORATO, 2002:167). No os ventos constantes de direção nordeste provo-
caso de Fortaleza, o inglês Henry Ellery, dedicado às ati- cam o assoreamento da foz dos rios e o caminhar
vidades de exportação e importação em grande escala, incessante das dunas, dificultando a construção de
possuía armazéns na rua da Alfândega (atual Dragão portos (SILVA:1982:4).
84 Segundo o Relatório do Presidente do Estado, Cel. Antonio Frederico de Carvalho Motta, de 1º de julho de 1912: “Vão bem adiantadas as
alvenarias para os dois grandes reservatórios de distribuição, devendo a base do primeiro d´elles ficar concluída dentro de poucos dias. As
torres e os reservatórios metállicos destinados aos reservatórios de distribuição também já estão nesta Capital, e a respectiva montagem
terá inicio assim que terminem as alvenarias da base do primeiro reservatório. Igualmente já está nesta Capital cerca de metade do material
cerâmico e parte do material metállico destinado aos Colletores de esgotos. [...] Todo o material metállico para a sua construção está importado.
As obras dos esgotos deverão começar antes do fim do corrente mez” (1912:17).
85 Primeiro, envolveu em concreto todos os elementos das torres e transformando-os em construção de ferro-concreto; segundo, suprimiu
todas as barras diagonais por cantoneiras de concreto armado; e terceiro, substituiu os fundos de chapas metálicas das caixas d´água por
outros feitos em concreto armado. As paredes cilíndricas foram revestidas com argamassa de cimento e areia “por mera questão de ordem
esthetica, para harmonia do conjunto, visto que o metal dessas paredes acha-se em perfeito estado de conservação” (RELATÓRIO, 1925:92).
86 Denominado “Trapiche do Ellery”.
87 “Mantido isolado por longo tempo, o bairro retratava velhos esquemas portugueses de urbanização, caracterizados pela cidade no alto e
o porto na parte baixa interligados por um caminho em ladeira [...].” (CASTRO, 1994:73).
154 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Esta descrição esclareceu a grande dificuldade de as mercadorias ficam molhadas com frequência;
se implantarem os diversos projetos88 elaborados por quando o mar está agitado, os trabalhadores são
engenheiros entre 1826 e 1867 para o porto fronteiro a arrastados e os gêneros ficam perdidos.
Fortaleza. O crescimento do movimento marítimo justifi-
cava as várias tentativas de solucionar as dificuldades de O desembarque de passageiros é muito difícil. Raras
escoamento89 de seus produtos. Um importante relatório vezes podem os botes aproximar-se de terra: o
foi elaborado pelo eng. Zozimo Barroso, em 1860, no qual embarque e desembarque praticam-se, geralmente,
manifestava “preferência à enseada do Mucuripe, que em jangadas à vela. De ordinário, os passageiros
certamente possui melhores condições” e acrescentava molham os pés ao desembarcar, e ficam inevitavel-
que, para essa enseada, “é que deviam ser dirigidas todas mente molhados os que se arriscam a embarcar a
as atenções, no interesse de criar um porto comercial preá-mar (HAWKSHAW, 1909:185-186)91.
na província, porque está abrigada dos ventos reinantes
da costa pela ponta do mesmo nome: reúne a condição Em razão de tais condições, no Relatório, o inglês
de fácil acesso pela profundidade d’água”, como tam- John Hawkshaw propunha executar um quebra-mar de
bém “oferece grande espaço livre de embaraços para 670m de extensão, com alinhamento paralelo à linha de
a construção de uma doca e estabelecimento de um recifes, em vez de construí-lo sobre estes “de maneira a
anteporto, aparelhos de reparação (graving docks) e de servir de cais, ao longo do qual os navios possam carre-
visita de navios” (ÁLBUM DE 1931). gar e descarregar” (HAWKSHAW, 1909:187). Sua ligação
O engenheiro inglês Charles Neate90 (1870), mesmo com o litoral se daria “por meio de um viaduto aberto
achando que a enseada do Mucuripe era a melhor para fundado em estacas de parafuso, e será construído em
a localização do porto, atendeu à solicitação da Asso- bloco de concreto e pedra do Mucuripe” (HAWKSHAW,
ciação do Comércio, apresentando um plano baseado 1909:187). Em 1881, em missão do Governo Imperial,
nos projetos anteriores (Figura 64). o engenheiro estadunidense Milnor Roberts estudou
Em 1874, o inglês John Hawkshaw foi convidado vários portos brasileiros, inclusive o do Ceará. Somente
pelo Governo Imperial para dar parecer sobre as obras em 1883, foram contratados os engenheiros Tobias Lau-
dos portos brasileiros. Segundo seu Relatório sobre o reano Figueira de Melo e Ricardo Lange para implantar
Ceará, os melhoramentos deveriam ser feitos no porto o projeto de John Hawkshaw. Após a apresentação dos
de então, pois a cidade possuía “considerável capital em planos definitivos, constituiu-se em Londres um con-
armazéns, prensas de algodão, repartições e edifícios trato com a Companhia “Ceará Harbour Corporation”,
para o comércio. É por isso que a Associação Comercial sendo as obras iniciadas em 1886, incluindo o prédio da
do Ceará tem toda razão de opor-se à mudança do Alfândega nova92. “Todo esse conjunto acabou asso-
porto para Mucuripe” (HAWKSHAW, 1909:183-188). O reado, formando uma pequena bacia de águas paradas
Relatório destacava também as condições de embarque popularmente conhecida por Poço da Draga, ainda hoje
e desembarque das mercadorias e dos passageiros: protegida por restos do quebra-mar, o chamado Pare-
dão” (CASTRO, 1982a:76-77).
O algodão e outros produtos são transportados Em 1891, o engenheiro Alfredo Lisboa, juntamente
dos armazéns e empilhados na praia nas horas de com o engenheiro fiscal L. Baldwin Bent, indicou várias
preá-mar; na baixa mar, grande número de homens providências (dragagem, abertura de canal no viaduto
empregam-se no transporte às alvarengas, [...]. Esses e a construção de um dique). Na mesma época, o enge-
homens entram no mar com água pelo pescoço, nheiro Coimbra propõs um dique de 500 metros93. Em
88 Capitão João Bloem (1826), J. E. Seraine (1830), engenheiro Henrique Augusto Millet (1854), cel. de Engenharia Ricardo José Gomes Jardim
(1858), engenheiro Frances Pierre Florence Berthot (1858) que propunham a “elevação do recife existente no ancoradouro, a construcção
de um caes [...] e a muralha em Meireles” (STUDART, 1918:208); Cap. Ten. Giacomo Raja Gabaglia (1860), engenheiros Zózimo Barroso e James
Foster, (1866), eng. Law Blont (1867).
89 O Governo Imperial investiu, no final da década de 1860, na melhoria das alfândegas nas cidades litorâneas brasileiras a fim de aumentar
sua base tributária. A partir do decreto 1.746, de 1869, “passou a estimular a formação de empresas privadas com o fito de melhorar os por-
tos – na realidade criar no País portos coerentes com o novo momento da economia nacional e internacional – e explorar o seu movimento”
(HONORATO, 2002:176).
90 Em 1853, esse engenheiro foi contratado para realizar estudos do porto do Rio de Janeiro (HONORATO, 2002:167).
91 RIC, 1909:183-188.
92 Inaugurada em 1891, construção feita de pedra “com escadas, balaustres e calçadas de ferro, fundidos nas usinas da Saracen Foundry
de Walter MacFarlane Co, de Possilpark, bairro da cidade de Glasglow, na Escócia” (CASTRO 1982:77), a mesma que forneceu a estrutura do
Teatro José de Alencar (1908).
93 Esse dique deveria estar “situado a 800m a leste do viaduto e dirigido transversalmente à praia” (Álbum de 1931).
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 155
1891 ainda, a diretoria da Ceará Harbour Corporation ted, “executou 255 metros incompletos de estacada,
encarregou o seu consultor técnico, engenheiro John com 100 de estrado”95, no período de 1920-1923. Essas
Bruce, para emitir um parecer a fim de remediar o estado obras portuárias foram construídas pelo engenheiro
do porto. Propôs então a construção de um espigão J. H. Kirwood, assessorado por George Ivan Copte,
em pedra tosca com 400 metros de comprimento e a Robert Bleaby e Sebastião Fragelli. O comandante
800 metros ao leste do viaduto, na praia de Meireles. A Álvaro de Vasconcelos apresentou “uma proposta para
Companhia “Ceará Harbour” apresentou novo plano em a construção, por meio de tarefas, de uma bacia inte-
1895, semelhante ao de Hawkshaw, somente alterando rior ao quebra-mar Hawkshaw, aproveitado no plano
o tamanho da bacia e a profundidade. Posteriormente, Bandeira, sugerindo uma solução que visava à futura
o engenheiro Domingos Sérgio de Saboia e Silva apre- execução desse plano” (ÁLBUM DE 1931). Aproveitando
sentou, em 1896, um plano de melhoramentos. Embora essa sugestão, o presidente do Estado, José Carlos
sejam muitos os projetos, nada ficou resolvido e o prazo de Matos Peixoto, propôs ampliar a bacia e substituir
do contrato se expirou pelo Decreto nº 2.816, de 17 de a atracação para dois navios. Mais uma vez, o local
fevereiro de 1898. Como essas propostas não foram da Prainha para as atividades portuárias mostrou-se
realizadas, prevaleceu o uso da velha ponte da Alfân- inviável, sendo cogitada novamente a transferência do
dega (viaduto Moreira da Rocha), projetada por Sérgio porto para a enseada do Mucuripe, sugestão defendida
Saboia, inaugurada em 1906 e reformada em 1924 pelo pelo engenheiro Porto Carrero, chefe da “Fiscalização
engenheiro Francisco Saboia de Albuquerque (CASTRO, dos Portos do Ceará” (1928). Coube ao engenheiro
1982a:77) (Figuras 65 e 66). Augusto Hor Meyll, em 1930, o projeto, assim justifi-
Em 1908 foi criada a “Sub-comissão dos Portos cado: “ou temos o porto na enseada do Mucuripe, ou
de Fortaleza e Camocim”, sob a chefia do engenheiro nunca teremos um porto em Fortaleza”. O Decreto-
Manoel Carneiro de Souza Bandeira, “integrando o seu -lei 544, de 7 de julho de 1938, do presidente Getúlio
projeto a bacia do plano de Hawkshaw”. O porto de Vargas, decide sobre a localização do novo porto na
Fortaleza, em 1920, foi incluído no programa das gran- enseada do Mucuripe. “Ainda assim, o Plano Nestor de
des obras contra as secas do Nordeste, merecendo Figueiredo, elaborado em 1933, valorizava a ponte de
um novo projeto do inspetor de portos, o engenheiro desembarque, fronteira à cidade, dela fazendo nascer
Lucas Bicalho94, que propôs um suplemento ao projeto um feixe de avenidas triunfais” (CASTRO, 1982a:77). Os
anterior, ou seja, um cais acostável de 294m e um resultados desse processo de modernização do porto
viaduto de 10m para a comunicação com o continente. só serão visíveis na década de 1940, quando o porto é
A firma contratada Norton Griffiths & Company Limi- finalmente transferido para o Mucuripe.
FIGURA 65 Viaduto
Moreira da Rocha, 1906.
Fonte: Arquivo Nirez.
FIGURA 66 Viaduto
Moreira da Rocha.
Fonte: Arquivo Nirez.
O início da construção da primeira ferrovia da Pro- (senador Pompeu - 60 ações), José Joaquim Carneiro
víncia deu-se em 1870 pela “Companhia Cearense da (50 ações), comerciante José Francisco da Silva Albano
Via Férrea de Baturité”, constituída por empresários (50 ações)96. Em 1872, a construção da Estrada de Ferro
cearenses até 1878. Ligava inicialmente Fortaleza - Fortaleza-Sobral (região norte do Estado) denominada
Pacatuba com ramal até Maranguape. Os objetivos estrada de Ligação, envolveu também empresários cea-
foram ampliados ao longo dos anos numa tentativa de renses: Antonio da Cruz Guimarães, José Joaquim
prolongar a linha até o extremo sul do Estado, facili- e outros. Essas duas empresas foram encampadas97
tando assim o “comércio de Fortaleza na captação de pelo Governo Imperial no período da seca (1877-79)
produtos para o mercado externo e distribuição dos até 1898, por meio do Decreto 6.916, de 1878. Depois
bens importados” (LEMENHE, 1983:135-136). Alguns foi realizado um contrato com a firma Novis & Porto,
grupos destacavam-se nessa sociedade anônima com sendo rescindido e transferido, em 1910, para a com-
as maiores cotas: Singlehurst & Comp. (200 ações), panhia inglesa, South American Railways Construction
Barão de Ibiapaba (comerciante cel. Joaquim da Cunha Company Limited, com sede em Londres (SARCOOL).
Freire, 200 ações), Barão de Aquiraz, Gonçalo Batista Em 1915, o Governo Federal reassume a administração
Vieira (150 ações), Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, das duas ferrovias.
No perímetro urbano, a ferrovia saía da praça do Campo No que diz respeito ao transporte coletivo urbano, pela
da Amélia (atual Castro Carreira - Praça da Estação) em resolução nº 1.382, de 23 de dezembro de 1870, a Presidência
direção ao sul, subindo pela Rua do Trilho (atual Av. Tristão da Província concede a Estevão José de Almeida, Firmino
Gonçalves), na altura da Rua dos Coelhos (atual Domingos Candido de Figueiredo e Pinheiro da Palma & Cia. privilégio
Olímpio), inclinando-se no sentido sudoeste pela Av. Cara- exclusivo por 50 anos “para colocarem trilhos de ferro nas
pinima (mesmo sentido do Boulevard Visconde do Cauípe), ruas para transporte de passageiros e cargas por meio de
cruzando o riacho Tauape, passando pela lagoa de Paran- carros movido a vapor. Os empresário eram obrigados a
gaba rumo ao Sudeste. Em 1919, esse percurso foi alterado, estenderem suas obras, de modo que liguem a esta cidade
transferindo o ramal oeste para fora da área central ao o povoado de Messejana” (CEARENSE, 1871).
longo da Avenida José Bastos, e outro no sentido sudoeste. Em 1880, a sociedade anônima “Companhia Ferro Carril
A ferrovia intensificou a atividade comercial, aumentando do Ceará”98, constituída pelos cearenses comendadores
o número de comerciantes na capital, “atraídos pelo lucro Francisco Coelho da Fonseca99 e Alfredo Henrique Garcia100,
que prometiam os negócios da exportação-importação e estabeleceu linhas de bonde puxado a burro. Atuou até 1898,
as trocas mercantis em geral” (TAKEYA, 1995:111). quando foi adquirida pela firma J. Pontes & Cia., formada
Segundo Takeya, pelos sócios Thomé Augusto Mota, João Pontes de Medei-
ros e Solón Costa e Silva. Manteve a mesma denominação
A “prosperidade” da província, nesse período, que aliás de Ferro Carril do Ceará até 1905. Em 1906, a empresa
coincide com uma “prosperidade geral do país”, ocorria, passou a ser propriedade da Sociedade T.A. da Mota & Cia.101,
portanto, como um resultado de maior articulação formada pelos sócios Thomé Augusto da Mota e Solón
da economia cearense com o mercado externo, ao Costa e Silva102. Em 1912, são transferidos os direitos para
mesmo tempo em que a promovia. Essa articulação a companhia inglesa The Ceará Light & Power Company
foi garantida pela estruturação de uma economia pri- Ltd.103, que instalou bondes elétricos entre 1913 e 1947.
mário-exportadora, que estabelecia o lugar ocupado A lei nº 76, de 19/8/1893, autoriza a Câmara Municipal
pela atividade produtiva do Ceará no amplo contexto de Parangaba a conceder privilégio, por prazo de 25 anos,
do mercado internacional. Era essa economia, em pro- para o estabelecimento de outra linha de bondes de tração
cesso de aprofundamento de sua integração à Divisão animal ou elétrica, entre a vila de Parangaba e o bairro do
Internacional do Trabalho [...] (1995:113). Benfica, nesta Capital. Uma segunda companhia foi fundada
98 A Cia foi criada pelos Decretos nº 5.110, de 09/10/1872, e nº 6.620 de 04/7/1877, com o capital de cem contos de réis, tendo como diretoria:
presidente - engenheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcante; diretor secretário - Dr. Rufino Antunes de Alencar; e tesoureiro - o negociante
João Cordeiro. A Assembleia Legislativa decretou em 15/9/1893, projeto 120: Art 1º- Havendo cahido em caducidade o privilégio concedido
pela lei nº 1382 de 28 de dezembro de 1870 e contracto de 28 de agosto de 1875 a empreza Ferro Carril do Ceará, por falta de cumprimento
do mesmo contracto e suas alterações, cessando a esta as garantias do mesmo privilégio, ficando-lhe somente o direito de manter as linha
actualmente construídas e o respectivo serviço. Anais da Assembleia Legislativa. Decreto nº 151, de 30/1/1891. O vice-Governador do Estado,
usando da faculdade que lhe confere a cláusula 21ª do contracto celebrado em 28 de agosto de 1875, em virtude do qual gosa a companhia
“Ferro Carril do Ceará” do privilégio para assentamento de trilhos de ferro nas ruas desta capital; resolve no: Art. 1º. Fica a Intendência Municipal
da Fortaleza incumbida da fiscalização da companhia “Ferro Carril do Ceará”, cessando, nessa parte, a attribuição que exerce o Director das
Obras Publicas por força do regulamento de 7 abril de 1890.
99 Casado com Antonia, filha de José Antonio Machado. Proprietário de uma grande área de terras em Fortaleza, possuía sete imóveis: Rua
Senador Pompeu, 79 e 81; Rua Formosa, 72, sobrado, e 74; e Rua São Paulo, 51, 53 e 55 (Décima Urbana 1890).
100 Possuía dois imóveis na praça Marquês de Herval, segundo a Décima Urbana de 1872.
101 Em virtude da Lei nº 916 de 24 de agosto de 1907, a Câmara Municipal de Fortaleza concedeu privilégio ao cidadão Thomé A. Motta, pro-
prietário da Companhia Ferro Carril do Ceará, para o estabelecimento, uso e goso, de uma uzina geradora de energia elétrica para a tração dos
veículos da referida Empreza e ao mesmo tempo para a distribuição de força motriz e luz às casas particulares, respeitado, porém, o contracto
celebrado pelo estado com a Ceará Gaz Company Limited na parte referente ao serviço de iluminação pública. (Almanaque do Ceará 1910).
102 A Câmara, presidida por Thomas Antônio de Carvalho, em 5 de maio de 1911, concede à Empresa Ferro Carril do Ceará prorrogação, por
mais trinta e cinco anos, do privilégio em cujo gozo se acha, com a condição, porém, de substituir a tracção animal pela eléctrica a imprimir.
No seu artigo, 2º clausula 1ª – As substituições das linhas devem ser iniciadas no praso máximo de um ano e estar terminadas dentro de três
annos a contar da data do contrato (Jornal A República, de 10/5/1911, p. 3). http://bancodedados.cepimar.org.br/bdCeará.
103 A empreza ingleza City Improvements, comprou, por 85.000 libras, ou seja, 1.275:000$000, a Companhia Ferro Carril do Ceará, sendo
lavrado o contracto provisório em nota do tabelião Feijó, assignando-o pela City o snr. Griffith Williams, e por parte da empreza cessionária o
snr. Thomé A. da Motta. (Jornal Unitário 1/12/1910, p. 1).
158 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
como sociedade anônima104 entre 1894-1902, denominada por tração elétrica, assim como o fornecimento de luz
“Companhia Ferro Carril de Porangaba”, que, entre 1902 e e força para iluminação pública e particular113, mono-
1918, pertenceu à firma Gondim & Filhos105. polizando-os desde então.
Uma terceira companhia de bonde foi a “Companhia Em 1924, a Light solicita ao presidente do Estado
Ferro Carril do Outeiro”106, fundada como sociedade o aumento de preço das passagens de bondes. Este,
anônima entre 1896107 e 1898, passando para J. Pontes por sua vez, convida alguns representantes dos
& Cia. até 1912, quando foi transferida, por compra, à empresários da cidade para discutirem o pedido.
firma inglesa “The Ceará Tramway Light and Power Ltd.” Compareceram as seguintes pessoas: coronel Maxi-
substituindo também gradativamente os bondes a burro miano Leite Barbosa (vice-presidente da Associação
pelo bonde elétrico 108. Comercial); Minervino Silva (presidente da Socie-
Duas linhas serviam o bairro do Outeiro109 (1896) dade Deus e Mar); Leandro Pimenta Lyra (presidente
e da Aldeota. A primeira partia da Praça do Ferreira da Associação dos Merceeiros); coronel Adolpho
seguindo pelas praças General Tibúrcio e José de Siqueira (prefeito municipal e presidente da Phenix
Alencar, ladeando o mercado, atravessando a Praça Caixeiral); José Agostinho da Silva (presidente do
Caio Prado, a Rua São José, a Praça Figueira de Mello, Círculo Católico São José); Barão de Studart (presi-
ate a Praça Benjamin Constant (antiga Praça Barão de dente do Centro Médico Cearense); coronel Antonio
Ibiapaba). Desse ponto, na direção leste, existiam 3.600 Fiuza Pequeno; Dr. Luciano Veras; João José Vieira
m de trilhos até a fábrica de tijolos no Sítio Cocó110, do da Costa (presidente da Câmara Municipal); e E. M.
capitão Manoel Rodrigues dos Santos Moura111 (LIMA, Scott, (gerente da Light). Após essa reunião, o Presi-
1999:105). A segunda partia também da Praça do Ferreira dente do Estado designou uma comissão para estudar
até a estação da Empresa localizada nas proximidades uma contraproposta, idealizada por Antonio Fiúza
da Rua Gonçalves Ledo. Completava a linha do Tiro do Pequeno (Associação Comercial), Leandro Lyra (Asso-
Standart do Exército um trole até a Rua Carlos Vascon- ciação dos Merceeiros), Theophilo Cordeiro (Centro
celos112 (LIMA, 1999:105). Artístico), deputados Francisco de Paula Rodrigues,
A The Ceará Tramways, Light & Power Co. Ltd., Rubens Monte e Costa Souza e vereadores João José,
através de concessão pública do município de Fortaleza, Thuribio Motta e Demóstenes Brígido.
a partir de 1913, encampa os serviços de viação urbana Foi decidido que:
104 Essa sociedade anônima era formada por 83 sócios segundo o registro da Junta Comercial de 31/10/1894: Acrízio Coelho, Ada N. Fabio,
Aldon & Benetto, Alfredo Fabio, Alpricio Menescal, Anna Barbosa Geraldo, Antônio Albano, Antônio Augusto Loureiro, Antônio Belarmino C.
de Holanda, Antônio Braga, Antônio Dias Pinheiro, Antônio Gonçalves da Justa, Antônio Machado Coelho, Antônio Paulo da Costa, Antônio
Pinto Nogueira Brandão, Antônio Ribeirão Brazil Montenegro, Antônio Risso Italiazzo, Antonio Roiz da Silva Figueiredo, Arminda Silveira, Barão
de Ibiapaba, Beatriz Silveira, Casimiro Montenegro, Cezar Pinto Simões, Cosme Alves Ferreira, Descartes Selvas Braga, Dias da Rocha Maria,
Eleonice Cals, Elias Pinto Simões, Farias Cordeiro, Gondim e Filhos, Gracinda Silveira, Henrique Cals, Hoaro Teixeira de Souza Mendes, Izabel
Simões, Jeronymo Ferreira Braga, João Aires Dorgeval, João Benício, João de Arcial Souto, João Luiz, Joaquim Albano, Joaquim de Oliveira
Torres, Joaquim Sá, José C. Brazil Montenegro, José Eloy da Costa, José Francisco de Abreu, José Marçal, José Maria da Silveira, José Miguel
Silveira, José Mileno Menescal, José Motta, José Pinto Simões Filho, José Theodorico de Castro, José Theophilo, Julio Braga, Julio Fiúza, Levi
Fieres, Lucien Reishofer, Luiz Albano, Luiz Lopes da Cunha, Manoel Carlos Melo Cevar, Manoel Ferriz Alves da Silva, Manoel Francisco da Silva
Albano, Manoel Pereira, Manoel Roiz Santiago, Maria Viana de Holanda, Martiniano Peixoto de Alencar, Menescal Campos, Miguel Gusti, Miguel
Joaquim da Motta, Minervino Abreu, Monsenhor José Albano, Olegário Antônio dos Santos, Olímpio Barcelo, Parente & Garcia, Pedro Castro
Samico, Possidônio Porto & Cia, Raimundo Teixeira do Santos, Raimundo Theófilo Ramos, Satyro Verçosa, Simões Irmão & Cia, Tiburcio A. Abreu
Lage. http://bancodedados.cepimar.org.br/bdCeará/empresa/index.html.
105 A firma teve os seguintes sócios: Antonio Grangeiro Gondim (fundador), Anna Garcia Gondim, Maria Granjeiro Gondim, Maria Garcia
Granjeiro e Arlindo Granjeiro Gondim (último diretor gerente).
106 Sua estação se localizava um pouco além da atual Rua Gonçalves Ledo, antiga Rua do Guajeru.
107 A empresa foi constituída em 24/4/1896, sendo registrados os Estatutos da Cia. na Junta Comercial em 30/4/1896. Em 1903, a Diretoria
era composta pelo Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil, presidente; Alfredo Pompeu de Souza Magalhães, gerente; e tinha como conselho
fiscal: Francisco Russas, Antonio Gonzaga de Almeida e José Albano Filho.
108 A última a ser beneficiada foi a do Alagadiço.
109 Essa linha começava na Praça da Sé prosseguia pela ruas do Conde d´Eu e Assembleia até o Colégio de Educandos [depois Imaculadada].
Em 1886, foi alterado o antigo contrato celebrado em 28/8/1885. A linha do Asilo de Mendicidade entrou em vigor logo que ele começou a
funcionar. http://bancodedados.cepimar.org.br/bdCeará/principal1.php . A linha Outeiro, a partir de 1929, muda para Santos Dumont
110 A Lei nº 319, de 31 de agosto de 1896, autorizava a Câmara de Fortaleza a conceder privilégio a Manoel Rodrigues dos Santos Moura para a
construção de uma via-férrea de tração animal ou dinâmica que, partindo da Praça Benjamin Constant, nesta capital, iria ter ao sítio Cocó, de
propriedade do concessionário. Esse privilégio não podia exceder de 35 anos com a cláusula de reversão das obras e materiais para o Município.
111 O Almanaque de 1896 faz referência à fábrica de tijolo no Cocó, de Manoel Rodrigues dos Santos Moura.
112 Na planta de 1945, essa linha se estendia até a Rua Silva Paulet.
113 Esse serviço, em 1930, “abrange toda a área urbana e suburbana da capital e se extende ainda ao antigo município de Porangaba, hoje
mero distrito de Fortaleza, porém distante desta cerca de sete quilômetros” (Álbum de Fortaleza 1931).
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 159
As passagens de primeira serão de 200 réis por ao preço de cem réis, e a serem rebocados pelos de
secção, tendo porém o passageiros, nas linhas de 1ª, que não poderão trafegar, sob pretexto algum,
mais de uma, o direito de pagar a passagem inteira sem o respectivo reboque;
por 300 réis. Nessas condições, se acham as linhas 2ª - A Companhia se obrigará a construir uma
de Estação e Outeiro, às quaes se deverá incorporar Linha Circular, com o seguinte itinerário: partindo
a de Alagadiço, cuja distância não comporta três do ponto terminal da actual linha da Via Férrea,
secções. Para essas três linhas, portanto, e as que seguindo pelas ruas 24 de Maio, Flores, Imperador,
de futuro se prolongassem em identidade de condi- dos Coelhos, até o Boulevard da Conceição, por
ções, ficaria estabelecida a passagem inteira de 300 onde voltará até o Boulevard Duque de Caxias,
réis, como aliás se usa em toda a parte e é de todo rumando para a rua da Leopoldina em direcção
o ponto razoável e equitativo, ficando de pé, nos ao Seminário que contornará pelo lado norte, para
outros casos, a passagem de 200 réis por secção descer pela Rua D. Rufino de Alencar e fazer o
isoladamente (DIÁRIO DO CEARÁ, 10/2/1924). entroncamento na linha da Praia, em frente à Sé.
Em contrapartida, a empresa teria de executar pre- Em 1925, a Light introduziu alguns melhoramen-
viamente as obrigações contratuais, ou seja114: tos: prolongou a linha da Avenida Epitácio Pessoa
até a Praia do Peixe, numa extensão de 600 metros;
1ª - Melhoramento do serviço de illuminação dos transformou em linha dupla o trecho da Rua Gui-
subúrbios da cidade. lherme Rocha, compreendido entre a Rua Barão do
2ª - Limpeza e reparo radical dos bondes. Rio Branco e Praça Marquês do Herval; aumentou o
3ª - Substituição imprescindível do seu sistema desvio da linha de Fernandes Vieira e Mororó para dar
de cortinas. passagem a seis ou oito bondes; recuou o desvio da
4ª - Substituição de agulhas. linha da Praia até entrar na avenida Sena Madureira,
5ª - Reparo ou substituição dos freios dos carros, instalando mais dois desvios no Outeiro; prolongou
de maneira a ser assegurada a sua efficiência. a linha de Fernandes Vieira pelo Boulevard da Jaca-
6ª - Augmento da capacidade de energia para nunca recanga, até o canto do cemitério, à margem da E. F.
serem prejudicados os differentes serviços. de Baturité, próximo à E. A. Marinheiros; prolongar
7ª - Augmento de número de desvios para evitar as a linha Via-Férrea pela Rua 24 de maio até a esquina
demoras resultantes de desarranjos que occorrem da Rua das Flores116. Nesse momento, a Ceará Light
e que provocam excessivas esperas nos pontos de “pôs em circulação os novos bondes de 200 réis a
encontro dos bondes. passagem, bem como os de 100 réis, estes em muito
8ª - Acção rigorosa da administração, para que menor número, o que irritou a população”117. Em razão
não se repitam os constantes desagrados aos da insuficiência de bondes da segunda classe, o jornal
passageiros, por effeito de desattenções de con- O Nordeste sugeriu o “tráfego simultâneo dos bondes
ductores e motorneiros, as mais das vezes ásperos de 1ª e de 2ª, para todas as linhas. Só assim ficarão
e implicantes. servidos os caixeiros, operários e outras classes cujos
9ª - Augmento regular dos salários de todo o pes- recursos não são tão fartos que deixem margem a
soal do serviço da Companhia. uma tão rápida duplicação de despesas”. Depois da
greve popular contra os bondes de 200 réis, “o povo
O Centro Artístico Cearense115 deliberou, em quebra carros – a Polícia carrega sobre a multidão
Assembleia Geral (14/2/1924) submeter à apreciação – Paraliza-se o tráfego urbano”118. Notam-se vários
da Companhia as seguintes condições: protestos contra os serviços da Light, o que obriga
o poder público a definir algumas medidas regula-
1ª - A The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd. se doras para evitar abusos fruto desse monopólio. O
obrigará à inauguração de carros especiaes para a relatório do engenheiro fiscal Rubens Monte clama
1ª classe, hygiênicos e confortáveis, passando os pelo cumprimento do compromisso estabelecido no
actuaes carros para a cathegoria dos de 2ª classe ano de 1924 pela empresa. Na ocasião do relatório,
114 Esse documento foi assinado pelo Diretor da Associação Comercial – Fiúza Pequeno.
115 O Centro Artístico Cearense era uma organização apoiada por maçons, composta por ‘artistas’ (artífices qualificados: carpinteiros, pedreiros
etc.), patrocinada pelo industrial Antonio Diogo Siqueira.
116 Inaugurado somente em 03/2/1928 (Diário do Ceará de 24.06.1928).
117 http://bancodedados.cepimar.org.br/bdCeará/principal1.php.
118 Jornal do Comércio de 29/9/1925, p.4.
160 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
a empresa possuía 23 carros de primeira classe e 17 Góes e Oscar Jataí Pedreira. A linha partia do centro
de segunda em circulação. para a Brasil Oiticica, Carlito Pamplona, Jacarecanga
Em 1926, são estabelecidas as primeiras linhas de e Vila Operária São José. Outras linhas surgem na
ônibus, fazendo com que a empresa Light proponha década de 1930: Empresa Mauricio e Irmãos fazia a
junto à municipalidade “a revisão do respectivo con- rota Benfica–Centro, seu proprietário foi José Maurício
tracto, subordinando o seu programa de remodelação Ribeiro. A Empresa Maia121, do proprietário Antonio
ao monopólio dos serviços de transportes coletivos, em Maia de Oliveira, também realizava rotas para Otavio
todo o município da capital”119. Bonfim, Parangaba e São Gerardo, todas partindo
A primeira linha de ônibus da cidade foi implan- do centro da cidade.
tada pela Empresa Matadouro Modelo, fundada em Observa-se a perpetuação da política de tercei-
1926. Partia da praça do Ferreira ao novo Matadouro rização dos serviços públicos ao capital privado do
Modelo120. Foi vendida em 1927. Seus proprietários Império em plena Primeira República. O sistema de
foram: Abel Ribeiro, Adamir Câmara Ribeiro Falcão, concessões de privilégios orquestrava o processo,
Antonio Diogo de Siqueira, Antonio Veríssimo Freire, cabendo ao poder público regular e fiscalizar a qua-
Arthur Themoteo e Cesar Cals de Oliveira. A Empresa lidade dos serviços da cidade. Remete-se o leitor ao
Pedreira (Pedreira & Companhia) foi a segunda, fundada ANEXO I para completar informações referentes às
em 1929. Seus proprietários foram: João de Carvalho redes de circulação e comunicação.
Como foi dito, na segunda metade do século XIX, havia primeiro processo de ocupação das áreas adjacentes
duas valiosas plantas, elaboradas pelo arquiteto da ao eixo ferroviário por indústrias têxteis a partir de 1881.
Câmara122, Adolpho Herbster: a primeira é a “Planta da Destacam-se também na planta alguns serviços públi-
Cidade da Fortaleza e subúrbios”, de 1875; e a segunda, cos: o gasômetro e o reservatório de “água do Benfica”
a “Planta da cidade da Fortaleza, Capital da Província (alimentado por poços profundos), e na zona oeste, o
do Ceará”, de 1888. Cemitério de São João Batista, fora do perímetro urbano.
Essa planta representa a área edificada (contínua e com-
3.5.1 Reconstituição da área urbanizada em 1875 pacta), um pouco maior do que a de 1859, indicando
“vetores de expansão para o oeste e para o sul, cuja
Na linha dos exercícios realizados nos capítulos ante- resultante se dirigia para o sudoeste “(8), antecipando
riores, foram elaborados alguns exercícios gráficos de “a direção de maior peso que a cidade iria conhecer no
interpretação das plantas antigas, com o objetivo de futuro” (CASTRO, 1982a:61). Fortaleza limitava-se ao
compreender o papel da iniciativa privada na apropria- norte pelas ruas da Praia e Misericórdia; ao leste pela
ção e produção material da área planejada, entre 1863 e Rua de Baixo (Conde d´Eu); ao sul pela rua D. Pedro; e
1933. A ideia é analisar aspectos gerais da ocupação do ao oeste pela rua Amélia (atual Senador Pompeu). “Fora
Plano de Expansão de Fortaleza de 1863, valendo-se de desse âmbito, excetuados o Palácio do Bispo (2) (Figura
fontes primárias textuais raramente espacializadas. Os 69), o Colégio das Irmãs (4) (Figura 70) e o Seminário
exercícios têm por base as plantas de Adolfo Herbster (3) (Figura 71), tudo eram areias, casas de palha, uma ou
(1875, 1888) e duas do século XX (1922 e 1932), as déci- outra casa de tijolo com sofrível aparência” (FONSECA,
mas urbanas (1872, 1890 e 1911), o Imposto Predial de 1981:30), não representadas nessa planta.
1922 e 1936, o Censo de 1887, os códigos de posturas Em torno da área efetivamente urbanizada, verifica-se
(1865 a 1932), os almanaques, as descrições da cidade, uma ocupação rarefeita da zona projetada pelo plano
os inventários post mortem e a iconografia. Buscou-se de expansão de Herbster. O Outeiro da Prainha “ficava
ressaltar a real ocupação das quadras em diversos sobranceiro ao mar, em frente à reduzida faixa portuária,
períodos, sempre utilizando os edifícios institucionais compreendendo a parte mais avançada do tabuleiro
(Câmara, Palácio do Governo, Alfândega, Porto, Estação sobre o qual a cidade se assenta” (CASTRO, 1994:67). Os
dos Bondes) e as igrejas, como principais referências antigos caminhos que ligavam a cidade ao sertão foram
na estruturação do espaço urbano. Espacializou-se em parte incorporados no projeto de expansão, configu-
o processo de ocupação e transformação da cidade rando as vias radiais da malha ortogonal predominante.
em duas escalas: a primeira correspondendo à área Esse é caso da estrada de Messejana (atual Visconde do
composta pelas ruas norte-sul (ruas Boa Vista, Palma, Rio Branco) (9) e da antiga estrada do Cocó, nas imedia-
Formosa, Amélia) e leste-oeste (rua da Misericórdia ções da estrada de Messejana (5). Outros caminhos foram
até a rua Dom Pedro); a segunda, correspondendo ao empurrados “para o exterior da área planejada, como os
perímetro da Praça do Ferreira. Reconstituiu-se, nessas que, dirigiam para o Oeste, em busca do Barro Vermelho
áreas, a tipologia dos imóveis (casa térreas, sobrados e (Antônio Bezerra), do Alagadiço e do Urubu (atual zona
lojas) e os usos predominantes (residencial, comercial industrial) (CASTRO, 1982a:64). Com relação às estra-
e misto), tanto na antiga área urbanizada como em das do Arronches (Parangaba) (10), da Pacatuba (atual
torno da praça, constatando a transformação de área Marechal Deodoro) (11), do Soure (atual Caucaia) (7), o
residencial para comercial. engenheiro “tratou de dar a esses logradouros um desen-
A planta de 1875 é de grande importância, pois repre- volvimento retilíneo admitindo mesmo a viabilidade de
senta o plano de expansão de 1863 sobre a cidade real. nascimento de novas malhas referidas ortogonalmente
Nessa planta (Figura 67), observa-se o primeiro trecho a essas saídas” (CASTRO, 1982a:64). Identificava-se, junto
dos trilhos da ferrovia, consequência do contrato de às radiais (antigos caminhos), uma série de chácaras.
1870 entre o Governo Provincial e a “Cia. Cearense da Observa-se, no plano de Adolpho Herbster, a pre-
Via Férrea de Baturité”, que partia da estação ferroviária, visão de vias perimetrais (Figura 72) desde a planta de
subia pela Tristão Gonçalves (antiga do Trilho), (Figura 68) 1875123. A primeira perimetral foi definida pelo circuito
(6), na direção sul, servindo como elemento indutor do das avenidas Imperador, Livramento (atual Duque de
122 A Câmara Municipal, em 8/1/1857, contratou os serviços de Adolpho Herbster, conforme a Ata da sessão (CASTRO, 1994:57).
123 A reconstituição dessas perimetrais foi realizada na planta de 1888.
162 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 67 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza em 1875: Antigas
estradas e alguns edifícios
emblemáticos. Autora:
Margarida
F gura 68 RuaAndrade. Mapa-base:
do Tr o a ua A
Planta da cidade
Tr s ão Gonça es 6 da Fortaleza
Fon e Co eção N re
e Subúrbios, elaborada por
Adolpho Herbster. em 1875.
Fonte: Planta da cidade da
Fortaleza e subúrbio de 1875.
Castro, 1982; Nogueira, 1981.
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a ua Pre e ura Mun pa de For a e a
Fon e Co eção da au ora
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Fon e Co eção N re
F gura 71 Se n r o da Pra n a 3
Fon e CALS 2002 130
FIGURA 69 [EMBAIXO,
À ESQ.]Antigo Palácio
do Bispo (2), atual
Prefeitura Municipal
de Fortaleza.
Fonte: Coleção da
autora.
FIGURA 71 [EMBAIXO,
À DIR.] Seminário
da Prainha (3).
Fonte: Cals,
2002:130.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 163
FIGURA 72 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1875: Espacialização
das antigas perimetrais e a
evolução da ocupação da
cidade. Autora: Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta da
cidade da Fortaleza, capital da
província do Ceará, levantada
por Adopho Herbster, em 1888.
Fonte: Castro, 1994.
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2 Per e ra P an a de Ado o Herbs er 1859
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3 Per e ra Con r bu ção de Pau e
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Con çãoção
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Caxias), Conceição (atual Dom Manuel). A segunda peri- pessoas” (CASTRO, 1994:67). Ao redor da área planejada,
metral “figurava na proposta do traçado de uma via de havia uma concentração de chácaras “que se agregavam
fechamento do perímetro urbano oeste da cidade, dita nos arrabaldes mais agradáveis” (CASTRO, 1994:67),
Boulevard da Jacarecanga” (CASTRO, 1994:76) (as atuais como se observa no anúncio do Jornal Pedro II, de 7
avenidas Filomeno Gomes e Padre Ibiapina). A última, de junho de 1885, sobre o arrendamento da “Chácara
fora do plano, surge “espontaneamente” pela Estrada na Jacarecanga”, de Luis Ribeiro da Cunha:
do Gado, antigo caminho ligando os “Currais da Feira de
Arronches” ao matadouro, configurando parte da futura Arrenda-se um bom sítio, com muitos coqueiros,
av. Treze de Maio. A largura dessas avenidas eram de 100 fruteiras, muitos cajueiros, grande baixa com capim
palmos (22,00m) e das vias 50, 60 e 70 palmos, ou seja, de planta, plantações de cana, mandioca e outras
de 11,00m, 13,20m e 15,40m; os quarteirões variavam novidades, todo cercado, com divisões para ter vac-
entre 110,00m e 143,00m. cas, bom curral, bom banheiro, boa casa de família,
Na reconstituição das quadras e vias correspondentes água corrente todo anno, boa cacimba, com água
à planta de 1875 (Figura 73), percebe-se a inserção da potável, a melhor d´esta cidade. Além do que fica
área planejada sobre um território outrora composto mencionado – tem boa casa de residência, muitos
de várias estradas e caminhos que constituirão as futu- cômmodos e espaçosos, é assobradada, alta, em
ras radiais e ruas, bem como dos dois riachos, Pajeú bela posição, com quatro fachadas, avarandada,
(leste) e Jacarecanga (oeste), e diversos recursos tendo na frente magnífico terraço muito saudável
hídricos ao seu redor. e fresco, pois é muito arejada, em frente a uma rua
O Município de Fortaleza, no recenseamento de 1872, empedrada desde o tope da escada até a cidade,
contava com 42.458 habitantes. Como já mencionado, onde se faz o trajecto em 15 a 20 minutos. Pode-se
“as atividades rurais ocupavam população númerosa, arrendar com mobília ou sem ella; a tratar com Luiz
de sorte que na parte urbanizada não viviam 20 mil Ribeiro da Cunha.
164 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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J - Rua do Liv ramento E' - Rua do Pay ol W ' - Rua Sol edade
K - Rua São Seb astião F' - Rua Isab el X - Rua Al deota
L - Rua Antô nio Pompeu G ' - B oul ev ard Imperador Y - Rua do São José
M - Rua dos Coel hos H ' - Rua 14 de M arço Z' - Rua do Sampaio
N - Rua do B om Fim I' - Rua 24 de M aio Z" - Rua da Al egria
O - Rua do Có rrego J' - Rua G eneral Sampaio Z" ' - B oul ev ard do Rio B ranco
P - Rua de São Luís K ' - Rua Senador Pompeu
Q - Rua do Col é gio L' - Rua Formosa
a do R - Rua do Sol M ' - Rua M ajor Facundo Edifícios Institucionais
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T - Rua da Conceição N " - B oul ev ard Visconde Antigas estradas
do Cauípe
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FIGURA 73 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1875: Quadras e vias.
Autora Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade
da Fortaleza e Subúrbios,
organizada por Adolfo Herbster,
arquiteto da Câmara Municipal,
1875. Fonte: Planta da cidade de
Fortaleza 1859, 1875 e 1945.
Ressaltam-se, também, alguns sítios e fazendas em Até o dia 15 de fevereiro vindouro acha-se aberta a
processo de parcelamento por seu proprietários, prin- concorrência à venda de lotes regulares de terreno
cipalmente às margens das estradas empedradas do próprio para edificação, compreendidos no sítio do
Arronches, Messejana e Soure, futuras áreas de expansão finado Major Manoel Franklin do Amaral, com 36
urbana da cidade, fora do traçado proposto por Herbster. palmos [7,92m] de frente e fundo correspondente,
Exemplos são as terras de Antônio Francisco Góis, prestando-se à edificação de uma boa casa de 3
na estrada de Soure, no “Alagadiço Grande”: portas, e contendo água corrente de olhos d´água
existentes no mesmo sítio, baixa mui fresca e fértil
Fazenda agrícola situada a 4.000 metros desta para capim, coqueiros, laranjeiras, bananeiras e
cidade com excelente casa de sobrado para viver, outras árvores frutíferas etc.
fábrica de fazer açúcar e farinha, com pequeno
engenho de ferro, aviamento de fazer farinha, plan- Vende-se um ou mais lotes conjuntamente, con-
tada de cana, mandioca e alguns coqueiros, carroça forme as vantagens que forem oferecidas pelos
e seus pertences, com 80 braças (176,0m) de frente, compradores, os quais poderão com antecedência
limitando seus fundos nos Arpoadores com as terras examinar e escolher. As pessoas que pretende-
de D. Maria Torres124, sendo o terreno aforado a N. S. rem, dirijam suas propostas a qualquer dos abaixo
do Rosário, avaliado a 20:000$000. Terreno no Ala- assinados. Paulina Carmo, Francisco de Assis e
gadiço Grande aforado a N. S. do Rosário na estrada Henrique Theberge (Jornal O Cearense de 25 de
que vai a Soure, com 80 braças (176,0m) de frente e janeiro de 1871).
fundos até encontrar com a estrada que separa as
terras das “Aningas” extremando ao nascente com Conclui-se que também existia no subúrbio, princi-
as terras de João Luiz Rangel e ao poente com os palmente junto das antigas estradas, um “mercado de
do finado Cel. José Machado, avaliado em 100$000. terras” incipiente realizado pelos próprios proprietários
de fazendas, sítios e chácaras, que tomavam a iniciativa
Sítio Alagadiço Grande com uma casa de tijolo, de parcelar e transformar o uso de suas terras.
coqueiros, tendo de frente 50 braças (110,0m) com Por sua vez, no perímetro urbano de Fortaleza, foram
os fundos correspondente até as terras do finado inventariados 1.347 imóveis. Segundo a Décima Urbana, a
Gouveia e encravada de frente com as terras do área urbanizada era composta de 39 ruas (Alegria, Alfân-
finado Visconde do Cauípe e ao nascente com as do dega, Amélia, Assembleia, Boa Vista, Cadeia, Cajueiro,
finado Antonio de Oliveira sendo o terreno foreiro Capela, Outeiro da Praia, Chafariz, Conceição, Conde
N. S. do Rosário, avaliado a 2:000$000 (INVENTÁ- d´Eu, Dom Pedro, Flores, Formosa, em frente ao mar;
RIO, 1886). Garrote, Hermínio, Hortas, Imperador, Imperatriz, José
de Barcelos, Lagoinha, Leopoldina, Livramento, Mercado,
Isso também fica claro, nos anúncios do jornal Cea- Misericórdia, Municipal, Pajeú, Palma, Patrocínio, Praia,
rense sobre o início do parcelamento dessas áreas: Quartel, Rampa da Conceição, Rosário, Sampaio, São
Bernardo, São Luiz Gonzaga, Seminário, Trincheiras), 6
Vende-se 3.200 palmos [704,0m] de terreno, á travessas (Alfândega, Assembleia, Boa Vista, Chafariz,
[à] margem da Estrada empedrada de Arronches, Sé, Calçamento do Cemitério), 11 praças (Alfândega,
entre o cercado do Dr. Justa Araújo e o sítio do Sr. Assembleia, Ferreira, Lagoinha, Marquez de Herval,
Kalkmann, em lotes de 50 [11,0m], 100 [22,0m], 200 Misericórdia, Palácio, Quartel, Sé, Visconde de Pelotas,
palmos [44,0m], a dois mil réis por cada palmo, terra Voluntários) e o Outeiro dos Educandos. As Estradas
foreira a N. S. Rosário pagando somente de foro Messejana, Arronches, Soure, Major Thomaz, assim como
anual dois reais por palmo (Jornal Cearense de 24 dois povoados - Meireles e Mucuripe - estavam fora do
de maio de 1868). perímetro urbano (Figura 74).
124 Maria Pinto Braga Torres, mulher do brigadeiro Francisco Xavier Torres.
166 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 74 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1872: Espacialização o
perímetro urbano em Fortaleza,
segundo a décima urbana
de 1872. Autora Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta
da cidade da Fortaleza e
Subúrbios, elaborada por
Adolpho Herbster, 1875.
Fonte: Décima urbana de 1872.
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A sobreposição dos dados da Décima Urbana de 1872125 A Rua da Amélia, limite oeste da área ocupada, tinha
à planta de reconstituição do engenheiro Adolfo Herbster, o maior número de imóveis (194); destes, 30 casas eram
de 1875, revela a grande área a ser ocupada no futuro, comerciais (cinco açougues, sete quitandas, 12 tavernas e
ultrapassando as limitações topográficas além do riacho quatro lojas de fazenda e duas padarias). Em segundo lugar,
Pajeú, na região denominada de Outeiro. Nota-se que o posicionava-se a Rua Formosa, com 168 imóveis arrolados,
sudeste era a área efetivamente ocupada. A planta assinala dentre eles 33 casas de comércio127. A Rua da Palma tinha
as “avenidas”126 periféricas à cidade, em 1875, e a listagem 148 imóveis arrolados, e entre eles 61 casas comerciais
da Décima de 1872 nelas revela poucos imóveis, tais como: bastante diversificadas128. A ocupação do Outeiro dos Edu-
na Rua do Imperador, nº 32; na Rua do Livramento, nº 23; candos, na zona leste da cidade, era ainda muito incipiente,
na Rua da Conceição, nº 6. sendo tributados somente sete imóveis129 (Figura 75).
125 A cobrança da Décima Urbana no Brasil iniciou-se em 1808 (Alvará de 27 de junho de 1808). Este foi o primeiro imposto predial, estabelecido
na Corte e estendido às demais cidades, vilas e lugares notáveis situados à beira-mar (BUENO, 2005:61). Esse tributo “deveria ser cobrado a
todos os proprietários de prédios urbanos na razão de 10% do valor dos imóveis.” Primeiramente, foi criada para formar e dirigir os lançamentos
uma Junta da Décima Urbana, que foi substituída em 27/8/1830 pelos coletores da Décima (Alvará de 27 de junho de 1808). Raquel Glezer
demonstra a instabilidade da estrutura da décima urbana ao longo do império: cobrança local até 1835, quando passou a ser provincial, e, em
1842, municipal, retornando a provincial em 1844. Em 1845 passou a ser a Décima das Casas dos Conventos. Entre 1856-1857 foi transformada
em imposto geral, com alíquota de 5%. Voltou a ser municipal, em 1858, sobre as casas dos conventos. Em 1873, o imposto voltou a ser cobrado
em geral, além da Décima das Casas dos Conventos, com alíquota menor. A partir de 1881, passou a ser o Imposto Predial, de arrecadação
provincial, com alíquota de 10% para as casas de conventos e corporações de mão-morta, e de 6% sobre as outras. [...]. E nos anos finais do
Império, os recursos arrecadados se tornaram novamente provinciais, a fim de cobrirem os gastos com serviços públicos de água, esgoto e
iluminação” (GLEZER, 2007:205 ). Assim, a “décima urbana tornou-se sinônimo de área urbana. Por ser sinônimo de área urbana, prestou-se
de maneira exemplar à reconstituição da sua tessitura” (BUENO, 2005:62).
126 Na Décima Urbana de 1872, essas ruas mais largas ainda não eram chamadas de avenidas ou Boulevards e sim de rua do Imperador, rua
do Livramento e rua da Conceição.
127 Armazém de farinha de trigo (1), madeira (1), secos e molhados (6), loja de fazendas (14), ferragem (1), loja e fabrica de charutos e cigarros
(2), calçados franceses (1), quinquilharias, perfumaria, cristais, sedas, lãs, brinquedos, (2), padaria (1), quitanda (3), padaria (1)
128 Açougue (1), Armazém de farinha de trigo (1), madeira (1), secos e molhados (8),casas de vender bilhetes de loterias (1), lojas de alfaiates (2)
loja de chapéu de sol (1) loja de fazendas (20), ferragem (1), loja de louças, cristais e vidros (1), loja de instrumentos de música (1), loja e fábrica
de charutos e cigarros (1), loja de livros (1), calçados franceses (1), quinquilharias: perfumaria, cristais, sedas, lãs, brinquedos, (6), tavernas
(9), padaria (1).
129 Deve ser lembrada a grande concentração de palhoças na área do Outeiro, nas proximidades da Casa dos Educandos, segundo o Relatório
do médico Castro Carreira.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 167
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FIGURA 75 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1875: Ocupação
e perímetro urbano. Autora
Margarida Andrade. Mapa-base:
Planta da cidade da Fortaleza
e Suburbios, organizada por
Adolfo Herbster, arquiteto
da Câmara Municipal, 1875.
Fonte: Planta da cidade de
Fortaleza 1859, 1875 e 1945.
TABEL A 21 Os Bens de Raiz de Inventários em 1872 TABEL A 22 Os Imóveis mais caros de Fortaleza em 1872
Característica do Valor do
Logradouro Avaliação (réis) Logradouro Imóveis
imóvel imposto (réis)
Rua da Palma, 48 Casa térrea com 4:000$000 Praça da Propriedade União 240$000
três portas Misericórdia Cearense
Praça do Palácio, 10 Casa térrea com 4:000$000 Rua Amélia Propriedade 160$000
três portas Sociedade 16 Julho
Rua da Amélia, 92 Casa térrea com 3:500$000 Rua da Palma Propriedade José 144$000
três portas Felix de Almeida
Rua da Cadeia, 79 Casa térrea com 4:000$000 Praça da Propriedade 132$500
três portas Assembleia, 9 Singlehurst & Co.
Pr. Marquez de Casa térrea com 3:000$000
Herval, 32 três portas Rua da Palma, 86 Propriedade do 120$000
Barão de Aquiraz
Rua da Palma, 71/ Casa térrea com 12:000$000
esquina Assembleia cinco portas Rua Conde D´Eu, Propriedade Diogo 120$000
109 José da Silva,
Rua Formosa Casa com sótão 15:000$000 herdeiros
com cinco portas
Praça do Ferreira, 2 Propriedade do 100$000
Rua da Amélia, 116 Casa térrea com 10:000$000 Barão de Aquiraz
cinco portas
Rua da Praia, 13 Thelesphoro 100$000
Rua da Amélia, 94/ Sobrado com três 30:000$000 Caetano de Abreu
esquina rua da portas130
Assembleia Rua da Praia, 15 Thelesphoro 100$000
Caetano de Abreu
Rua da Cadeia, 103 Casa térrea com 1:500$000
duas portas de Rua da Praia, 43 Propriedade de 96$000
frente Augusto Barbosa
de Castro
Rua Boa Vista, 78 Casa térrea com 1:500$000
duas portas Fonte: Décima Urbana de 1872
Rua Formosa Casa de duas 1:800$000
portas de frente
No perímetro urbano, foram cadastrados 1.347 imóveis (Boa Vista, Palma, Formosa, Amélia), valores varia-
para fins de tributação. Destes, 1.097 (81,50%) eram imóveis dos131. Por exemplo, na rua Formosa, entre os imóveis
residenciais, e 250 (18,50%), comerciais. As casas, térreas arrolados, o menor imposto pago foi de 7$200 réis
ou sobrados, tinham de duas a cinco portas, sendo que o (imóvel pertencente a Manoel Nunes de Mello), e o
número de aberturas orientava a atribuição de valor aos maior 86$000 réis (imóvel de Francisco de Paula
imóveis. Nesse período, as funções urbanas e as camadas Bruno). A média de valores dos impostos na referida
sociais se misturavam no tecido urbano. Os imóveis mais rua são: 14 (24$000 réis), 12 (30$000 réis), 17 (36$000
e menos valorizados em termos imobiliários coexistiam às réis), cinco (40$000 réis), nove (42$000 réis), quatro
vezes na mesma rua. Os bens de raiz de alguns inventários (48$000 réis), nove (50$000 réis), oito (54$000 réis)
retratam essa afirmação na tabela 21. e seis (60$000 réis).
Confirmando tal hipótese, os impostos da arreca- A tabela 22 apresenta os imóveis mais valiosos, per-
dação provincial revelam, nas principais ruas norte-sul mitindo verificar quão espalhados estavam na cidade.
130 Em 1878, pertencia a Ant. Mendes da Cruz Guimarães, segundo seu inventário (pacote 98).
131 Rua da Palma - 9$600, 10$800, 12$000, 14$400, 16$800, 18$000, 19$000, 19$200, 20$000, 21$600, 24$000, 25$000, 30$000,
36$000, 42$000, 48$000, 50$000, 60$000, 72$000, 75$000, 96$000, 144$000. Formosa – 1 (7$200), 3 (7$500), 6 (9$600), 1 (10$800), 6
(12$000), 7 (14$400), 4 (16$800), 2 (18$000), 4 (19$200), 4 (20$000), 3 (21$600), 14 (24$000), 2 (26$400), 12 (30$000) 1 (31$000) 17 (36$000),
5 (40$000), 9 (42$000), (44$400), 4 (48$000), 9 (50$000), 1 (51$600), 8 (54$000), 6 (60$000), 1 (70$000), 1 (74$000), 1 (74$400) 2 (84$000),
1 (80$000), (86$000),
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 169
Rua do Patrocínio 23 - 23 -
Rua da Cadeia 58 7 58 7
Em contrapartida, os imóveis mais baratos situavam- atividades produtivas, com a progressiva substituição
-se nas extremidades do perímetro urbano. No Boulevard das residências por edifícios vinculados ao setor ter-
Imperador, variavam entre 4$000rs–12$000rs; no Bou- ciário: lojas de fazendas, ferragens, livros, calçados,
levard do Livramento, 4$000rs–14$000rs; no Boulevard armazéns, fábricas de charutos e cigarros, tavernas,
da Conceição, 10$000rs-14$000rs; no Outeiro da padarias, açougues, hotéis, banco etc. De um total de
Prainha, 6$000rs-14$000rs; e no Outeiro dos Educan- 251 imóveis voltados para o comércio varejista em 1872,
dos, 7$000rs-12$000rs. 213133 localizavam-se nessa área.
As ruas relacionadas à zona portuária (Rua da Alfân- Na tabela 23, compararam-se dados fornecidos pela
dega, do Chafariz, da frente do mar, da Praia, a Praça da Décima Urbana de 1872 referente às diversas ruas que
Alfândega e as travessas Alfândega e Chafariz) possuem integravam o recorte espacial.
112 imóveis. A Rua da Praia concentrava o maior número Para o trecho, completa os dados anteriores a lis-
de armazéns: José Smith de Vasconcelos Hughe & Cia., tagem de estabelecimentos comerciais publicada no
Francisco Coelho da Fonseca & Filho J. U. Gráf. Cia.; Almanaque do Ceará de 1870. Observa-se que na Rua
Luiz Ribeiro da Cunha & Sobrinho; Singlehurst & Cia.; da Palma (atual Major Facundo) situava-se comércio
Kalkmann & Cia.; Luis Sand & Cia.; José Joaquim Carneiro; mais diversificado, envolvendo desde lojas de fazendas
Joaquim da Cunha Freire & Irmão; Fonseca & Irmão; e (20), tavernas (9), secos e molhados (6), quinquilharia
Oriano & Irmão. A Rua da Alfândega conta com dois (6), oficinas134 (12) e até um teatro, totalizando 65 fir-
imóveis de José Smith de Vasconcelos Hughes e um mas comerciais, o que corresponde a 41,9% dos 155
da empresa Kalkmann & Cia. Na Praça da Alfândega, imóveis arrolados nesse trecho. Ao contrário, a Rua
situam-se os armazéns de Antônio Severino de Vas- da Cadeia era a que apresentava menor quantidade
concelos & Irmão, Singlehurst & Cia. e Kalkmann & Cia., de comércio (7), e a Rua do Patrocínio era totalmente
além de oito tavernas. Dos proprietários registrados residencial. Na Rua Formosa, predominavam as lojas
na zona portuária: José Joaquim Carneiro possuía 25 de fazendas (14), de secos e molhados (6) e as oficinas
imóveis; Telésforo Caetano de Abreu, 11; Manoel Ferreira (6)135. Na Rua da Amélia, havia um pequeno número de
do Nascimento, 6; Singlehurst & Cia., 5132. casas comerciais (23), menos sofisticadas, tais como
Focando a área formada pelas ruas Floriano Peixoto, tavernas (11), quitandas (8), açougues (4) e engenho a
Major Facundo, Barão do Rio Branco, Senador Pompeu, vapor para serragem (1).
General Sampaio e 24 de Maio (Figura 76), analisou-se As residências conviviam lado a lado com o comér-
a dinâmica de transformação desse extrato do tecido cio. Na Rua da Palma, constata-se a presença de alguns
urbano. Essa área passou por transformações em suas negociantes: comendador João Antonio Machado136 (nº
FIGURA 76 Exercício de
reconstituição cartográfica –
Fortaleza 1875. Recorte espacial
da cidade de Fortaleza – usos.
Autora Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade
da Fortaleza e Subúrbios,
organizada por Adolfo Herbster,
Quarte
l de arquiteto da Câmara Municipal,
M arinha
1875. Fonte: Décima urbana,
1872; Encarte da planta da
zona comercial da Fortaleza
do Anuário de 1912; Jornal
Constituição, 1872.
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Fon e Ar u o N re
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102, esquina com a praça do Ferreira); Richard P. Hughes137 Aquiraz (nº 37, imposto 84$000, nº 103, nº 105 e nº 104,
Praça da
o Pa e
(nº 64), John Willian Studart (nº 27), o capitalista Barão imposto de 60$000 cada). A Rua Formosa apresenta um
Ra
de Ibiapaba no sobrado (nº 46), presidente da Câmara e número maior de grandes detentores de patrimônio imo-
2º vice-presidente da Província Joaquim da Cunha Freire biliário: a família Cunha Freire dispunha de 18 imóveis141; a
(nº Quar e do 11 Ba
50), professor de In an
francês do Liceu e médico José família Silva Albano (14)142, Gonçalo Batista Vieira, (Barão
Fon e Ar
Lourenço de uCastro
o N ree Silva (nº 32). O imóvel mais caro de Aquirás) (10) e Luis de Seixas Correia (9).
da rua L pertencia
E G E N D ao A pequeno comerciante José Felix de Na rua Amélia, constata-se a presença do solicitador
o Pa e
Almeida138 (nº 84, valor do imposto 144$000); o segundo Luis Rodrigues Samico Sobrinho (nº 80), do secretário
d Eu
Ra
V s onde
mais valorizado
Uso ns ueraona de Diogo José da Silva (nº 71, valor da Câmara Trajano Delfino Barroso (nº 74), do juiz de
do imposto 129$000); e o terceiro pertencia ao Barão de paz Pedro Fiúza Lima (nº 38), do 3º vice-presidente da
do
AquirazUso(nºres
86,den
valorado imposto 120$000). Os grandes Província Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra143 (nº 82),
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ro proprietários
LUso
EGEN o deAimóveis
D er a dessa rua eram o Barão de Aqui- do engenheiro-ajudante da repartição de obras públicas
raz (10) e a família Silva Albano (9). Dr. Henrique Theberge144, e de Thomas Pompeu de Souza
Uso
OUso ns suo ona
comércio também convivia com residências na Brasil. Os maiores proprietários da Rua Amélia eram Luis
o
do
Pa o ern
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do
Rua Formosa, marcada pela presença de comerciantes Ribeiro da Cunha (17), Luiz Rodrigues Samico (11), Luis de
Ru
– o vereador Francisco Coelho da Fonseca139 (no 72), o Seixas Correia (8) e os mais caros imóveis pertenciam à
ro
Uso o er a
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Ca
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vereador e comerciante Antonio Gonçalves Justa (nº “Sociedade 16 de Julho” (160$000) e aos herdeiros de
a Pr un r
Ar gos B os
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Uso Ribeiro
s o da Cunha140 (nº 70), Severiano Ribeiro
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Praças
do Amaral Jr. (nº 114), arquiteto da câmara Adolpho giosas nessa área: Palácio do Governo, Casa da Câmara
ça os a
C ara Mun pa
Pra n r Ru
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dos
Herbster
Ar gos B (nº os 155), engenheiro-chefe das obras públicas Municipal, Matriz, a Igreja do Rosário, o Forte com o
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Dr. no M
José uo de Albuquerque Cavalcante (nº 157).
Pompeu Quartel, Assembleia, Tesouraria da Fazenda, Estação
Igre a N S do Ros r o
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Asse b imóveis
a Leg smais
a acaros pertenciam ao Barão de Central da Estrada de Ferro de Baturité.
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MerTesoureiro
137 ado P dab Companhia
o União Cearense.
Ens no M uo
Tr ndade
138 Pequeno comerciante, possuía uma taverna na Rua da Palma, 73, e outro imóvel na Rua Formosa, 85, no valor de 40$000.
SAsse b a LegFrancisco
s a a Coelho da Fonseca era genro do Cel. José Antonio Machado e, como foi visto, um dos grandes proprietários de terras.
139 O Comendador
Mer ado Pa b o
Tesourar
140 Presidente da Associação Comercial do Ceará.
141 Joaquim da Cunha Freire, Barão de Ibiapaba (7), Luis Ribeiro da Cunha (11) e Severiano Ribeiro da Cunha (1).
S José
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142 e Francisco
do 11 Albano
Ba In(7),an
Manoel Francisco da Silva Albano (7).
143 Pai do Antonio
Tesourar a Bezerra.
Rua
Nun a o ons ru do
172 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
3.5.2 Reconstituição da área urbanizada em 1888 mais baixo, podia ser divisado do alto do guarda-
-corpo da esplanada superior. No 3º Plano [3], ainda
A terceira Planta da Cidade da Fortaleza de 1888, mais abaixo, mas um pouco acima do nível do mar, foi
levantada por Adolpho Herbster, representa as escavado um lago artificial alimentado pelas águas
mudanças na estrutura urbana e a ocupação de áreas a do riacho Pajeú (CASTRO, 2009:75) (Figuras 79 e 80).
leste, a oeste e a sudeste, “consolidando em definitivo
as radiais ainda não absorvidas pela expansão da Os dados do Censo realizado pela Chefia de Polícia,
malha ortogonal” (CASTRO, 1994:70). Na reconstitui- em 1887, revelam a população urbana de Fortaleza,
ção das quadras e vias ocupadas, percebe-se uma bem como os respectivos endereços (rua, número),
alteração na rede ferroviária, com o surgimento de tipologia dos imóveis (casa, sobrado, choupanas),
um novo ramal de ligação com o porto (1879), que estado civil, idade, situação social (pai, mãe, filhos e
condicionou o assentamento de trilhos na rua Padre agregados) por sexo, grau de instrução, profissão. O
Mororó até o cemitério a fim de possibilitar a manobra Censo registra 27.000 pessoas habitando o períme-
do trem (Figura 77). tro urbano. Esse mesmo censo registra 4.352 imóveis,
A primeira fábrica têxtil, Pompeu & Irmão, está regis- dos quais 3.496 são casas térreas, 60 sobrados e 796
trada nas proximidades da linha do trem, exatamente palhoças. As casas térreas correspondem a 80% do
na rua Antônio Pompeu com Princesa Isabel. Para ela, tecido urbano e há apenas 60 sobrados. Enquanto
é direcionada, no fim da década de 1890, uma linha de isso, as palhoças totalizavam 18,0% dos imóveis.
bonde, partindo de hora em hora da Praça do Ferreira, Entre aquelas apontadas como casas térreas, esta-
iniciando às sete horas da manhã e funcionando até às vam compreendidas as casas de duas a cinco portas,
cinco horas da tarde. Em 1906, essa linha é absorvida algumas feitas de taipa, mas em geral de tijolos e
pela linha do Matadouro (ALMANAQUE, 1906). cobertas com telhas de barro. As choupanas eram
Nessa planta, estão assinalados os três níveis do casas cobertas de palha e espalhavam-se sobretudo
Passeio Público145 já concluídos (Figura 78): pelos arrabaldes e subúrbios.
Com base nas informações do Censo de 1887 e
O 1º Plano[1] em posição elevada, na cota dos 17 da Décima Urbana de 1890, foram espacializados os
metros sobre o nível do mar, densamente arborizado imóveis inseridos no perímetro urbano da cidade, seus
e iluminado a gás hidrogenado, estendia-se (e ainda proprietários, tipologias, finalidades, usos e valor de
se estende) da Rua da Misericórdia (Dr. João Moreira) aluguéis. O Banco de Dados elaborado contém os Bou-
até o novo muro de arrimo, transformado em alameda levards, as ruas, as travessas, as estradas, as praças, os
de onde se descortinava esplêndida vista do mar endereços dos imóveis, e a classificação por tipologias,
[Figura 79]. O 2º Plano [2], situado uns seis metros finalidade (uso próprio ou imóveis alugados) e usos.
145 As obras de implantação do Passeio Público (antiga Praça dos Mártires), segundo João Nogueira, “foi pelos anos de 1879 que o negociante
Tito Antonio Rocha, português de nascimento, mas cearense pelo coração, tomou a si o encargo de transformar aquela praça cheia de areia
em um logradouro público existente” (NOGUEIRA, 1981:18). O Jornal Cearense, de janeiro 1864, relata que foi “mandado desapropriar três sítios
na praia fronteira à Praça da Misericórdia para o projetado Jardim Público” .
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 173
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A - Rua da M isericó rdia T - Rua da Conceição N ' - Rua B oa v ista 1 - Quartel e Fortal ez a de N . S. da 17 - Detenção
B - Rua Senador Castro Sil v a U - Rua do Seminá rio N " - B oul ev ard Visconde do Cauípe Assunção 18 - Cemité rio Ingl ê s
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C - Rua Senador Al encar V - Rua da Al fâ ndega N " ' - Estrada do M ajor Tomaz 2 - Santa Casa de M isericó rdia 19 - Antigo Paiol
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E - Rua M unicipal 4 - Tesouraria Prov incial 21 - Igreja de N . S. do Patrocínio
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F - Rua Com. Luís Rib eiro Y - Rua do Cajueiro Q' - Trav essa da Praia 5 - Tesouraria G eral 22 - Casa de Educandos
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G - Rua Dr. Pedro Pereira A' - B oul ev ard Jacarecanga R' - Trav essa da Conceição 6 - Igreja de N . S. do Rosá rio 23 - Cav al hariça da Pol ícia
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H - Rua Dom Pedro B ' - Rua Consel heiro Estel ita S' - Rua Pasu 7 - Pal á cio do G ov erno
I - B oul ev ard Duq ue de Cax ias C' - Rua Fil gueiras T' - B oul ev ard Conceição 8 - Intendê ncia Edifícios Institucionais
J - Rua do Liv ramento D' - Rua Padre M ororó U' - Rua da G l ó ria 9 - Igreja de N . S. da Conceição
K - Rua São Seb astião E' - Rua do Pay ol V' - Rua Leopodina da Praia e Seminá rio da Prainha Ferrov ia
L - Rua Antô nio Pompeu F' - Rua Isab el W ' - Rua Sol edade 10 - Al fâ ndega
M - Rua dos Coel hos G ' - B oul ev ard Imperador X - Rua Al deota 11 - M atadouro Linha de B onde
N - Rua do B om Fim H ' - Rua 14 de M arço Y - Rua do São José 12 - Açude do Pajeú
O - Rua do Có rrego I' - Rua 24 de M aio Z' - Rua do Sampaio 13 - Igreja N . S. do Liv ramento Antigas estradas
P - Rua de São Luís J' - Rua G eneral Sampaio Z" - Rua da Al egria 14 - Quartel de Pol ícia
Q - Rua do Paço K ' - Rua Senador Pompeu Z" ' - B oul ev ard do Rio B ranco 15 - Igreja N . S. do B om Parto
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Lago pe R R - Rua do Col é gio L' - Rua Formosa 16 - M ercado Pú b l ico
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FIGURA 77 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1888: Quadras
e vias. Autora Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta
da cidade da Fortaleza,
Capital da Província do
Ceará, levantada por Adolfo
Herbster, Ex-engo. da
província e Archo.aposentado
da Câmara Municipal, 1888.
Fonte: Planta da Fortaleza,
1859 e 1888.
FIGURA 78 Exercício
de reconstituição
cartográfica - Fortaleza
1888. Espacialização dos
três planos do Passeio
Público de Fortaleza,
1888. Autora Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta
da cidade da Fortaleza,
Capital da Província do
Ceará, levantada por
Adolfo Herbster, Ex-engo.
3 da província e Archo.
aposentado
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FIGURA 81 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1890: Espacialização
do perímetro urbano em
Fortaleza, segundo a décima
urbana de 1890. Autora
Margarida Andrade. Mapa-base:
Planta da cidade da Fortaleza,
capital da Província do
Ceará, levantada por Adolpho
Herbster, Ex-engo da província
e Archo.apozentado da Câmara
Municipal, 1888. Fonte: Décima
urbana de 1890.
O perímetro urbano de Fortaleza, definido pela Comparando esta reconstituição cartográfica de 1888
Décima de 1890 (Figura 81), se amplia contando um com a reconstituição anterior de 1875, verificam-se poucas
total de seis Boulevards146, 50 ruas147, seis travessas148, alterações, como, por exemplo, a ampliação do cemitério
uma avenida (Senador Jaguaribe), 19 praças149, duas São João Batista até o Boulevard da Jacarecanga (atual
estradas (Pacatuba - atual rua Marechal Deodoro - e av. Filomeno Gomes) e mudanças na nomenclatura de
do Soure - av. Bezerra de Menezes), uma povoação várias ruas, (Palma por Major Facundo, Amélia por Senador
denominada Mucuripe e um arraial (Moura Brasil). A Pompeu, São Bernardo por Pedro Pereira, Hortas por
povoação continha 117 imóveis e o arraial 130. Foram Senador Alencar) e de várias praças151. Na reconstituição
arrolados 5.560 imóveis150 para fins de tributação, dos da ocupação de 1888, nota-se maior adensamento nas
quais 1.580 (22,3%) eram palhoças. Dos imóveis tribu- direções leste, oeste e sudeste “consolidando em defi-
tados, 4.155 (74,7%) destinavam-se à renda de aluguel nitivo as radiais ainda não absorvidas pela expansão da
e 1.405 (25,3%) para uso próprio. malha ortogonal” (CASTRO, 1994:70) (Figura 82).
146 Jacarecanga, Visconde do Cauípe (antiga Estrada do Arronches), Conceição (atual Dom Manuel), Livramento (atual Duque de Caxias) ,
Imperador, Visconde do Rio Branco.
147 Alagoinha (Tristão Gonçalves), Aldeota (Nogueira Acioly), Arrecife (Senador Almino),Assunção, Barão do Rio Branco (antiga Formosa),
Cajueiro (Pedro Borges), Castro e Silva (antiga travessa das Flores), Clarindo de Queiroz (Livramento), Colégio (Coronel Ferraz), Conselheiro
Estelita, Conselheiro Tristão, Coronel Ferraz, Costa Barros, Dona Leopoldina, Dom Joaquim (antiga Soledade), Dr. Antônio Pompeu, Dragão
do Mar (antiga Alfândega), Filgueiras, Gal. Sampaio, Floriano Peixoto (antiga Boa Vista), Gal. Bezerril, Gloria (Rodrigues Junior), Governador
Sampaio (antiga Sampaio), Guilherme Rocha (antiga Municipal), José Avelino (antiga Roberto Singlehurst e Chafariz), Lago (Barão de Aratanha),
Liberato Barroso - Ouvidor (antiga Trincheiras), Major Facundo (antiga Palma), Misericórdia (Dr. João Moreira), Nogueira Acioly (antiga Aldeota),
Paço, Padre Mororó (São Cosmo), Pajeú (25 de março), Patrocínio (24 de Maio), Pedro I, Pedro Pereira (antiga D. Pedro), Pedro Pereira, Pereira
Filgueiras (antiga Poço), Praia (Pessoa Anta), Rosário, Rufino de Alencar (Ponte e da Bica), Santa Izabel, São José, São Luiz, São Paulo (Assem-
bleia), Seminário (atual Monsenhor Tabosa), Sena Madureira (antiga Conde d´Eu), Senador Alencar (Travessa das Belas), Senador Pompeu (antiga
Amélia), Tereza Cristina ( Paiol), Trindade (Solon Pinheiro).
148 Boa Vista, Chafariz, Catolé, Tavares, Alfândega, Pajeú.
149 Alfândega, Barão de Ibiapaba (Cristo Rei), Caio Prado (Sé), Coelhos (Polícia Militar), Colégio (Filgueira de Melo), Cristo Redentor (Senador
Machado), Dr. José Julio, Ferreira, Gal. Tibúrcio, José de Alencar, (antiga Assembleia, atual Valdemar Falcão), Lagoinha (Cel. Teodorico), Livramento,
Marquês de Herval (José de Alencar), Mártires (Passeio Público), São Sebastião, Senador Castro Carreira (antiga Campo da Amélia), Senador
Paulo Pessoa (São Sebastião), Visconde de Pelotas, Voluntários.
150 Nesse arrolamento, estão incluídos a povoação Mucuripe (117) e o arraial Moura Brasil (130).
151 Lagoinha por Coronel Teodorico, Coração de Jesus por Dr. José Julio, São Sebastião por Senador Paula Pessoa,
176 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
TABEL A 24 Relatório Geral do Censo de 1887 - Tipologia TABEL A 25 Relatório Geral do Censo de 1887 - Uso
Freguesias Quantidade Percentual Freguesias Quantidade Percentual
São José e N. S. do São José e N. S. do
3556152 100% 3.556 100%
Patrocínio Patrocínio
Tipologia Quantidade Percentual Uso Quantidade Percentual
Sobrado + Chalé 58 1,63%
Comercial/Serviço 241 6,77%
Térrea 3.485 98,00%
Industrial/Oficina 44 1,23%
Chácara 13 0,37%
Institucional 36 1,00%
Palhoças 796 -
Residencial 3.235 91,00%
Fonte: Censo de 1887.
Palhoças (residencial) 796 -
Quanto à tipologia dos imóveis, conclui-se que que dos 5.560 imóveis arrolados, 3.999 eram de aluguel
Fortaleza era uma cidade predominantemente térrea, (71,92%), 1.405 habitados pelo dono (25,27%), 70 estavam
com 3.485 casas, correspondendo a 98% do conjunto em construção, 34 estavam fechados e 52 em ruínas.
do casario, contando a cidade com apenas 58 (1,63%) Na tabela 27, posicionam-se várias ruas da área cen-
sobrados. (Figura 83). Observa-se ainda um grande tral158 por ordem de pagamento de tributos, registrando
número de palhoças (796)153 e 13 chácaras inseridas no a predominância de casas destinadas a renda de aluguel.
perímetro urbano ao longo dos Boulevards; Imperador154 Conclui-se que, a Rua Barão do Rio Branco, estava o
(2), Visconde do Rio Branco155 (2) e do Cauípe, Jacare- maior número de imóveis alugados, enquanto, na Rua
canga156 (8), na rua Municipal, Estrada de Pacatuba157 (1) Floriano Peixoto, o menor.
e ao longo do riacho Pajeú (Tabela 24). A sobreposição dos dados do Censo de 1887 e da
Quanto aos usos, de um total de 3.556 imóveis Décima de 1890 à planta do engenheiro Adolpho Herbster,
cadastrados, 91% do tecido urbano era composto de de 1888, revela que, apesar da área mais densamente
edifícios residenciais. Os imóveis restantes, 241, eram construída ter se expandido, ainda não ocupava toda a
comerciais e/ou de serviços; 44 industriais/oficinas e 36 área planejada em 1863, permanecendo nos arredores
institucionais (civis e religiosos) (Tabela 25 e Figura 84). grandes chácaras (Jacarecanga e Benfica) (Figura 85).
Complementando com os dados da Décima Urbana Pode-se afirmar que, na década 1880, Fortaleza ainda
de 1890, monta-se também um relatório geral quanto era uma cidade predominantemente térrea (Figura 86),
à finalidade (aluguel, em construção, fechado, habitado residencial, com mais de 70%159 das pessoas vivendo em
pelo dono e ruína). Em comparação ao Censo de 1887, casas alugadas, caracterizando-se pela mistura das fun-
houve aumento dos imóveis arrolados de 3.556 para 5.560 ções urbanas – residência, comércio, serviços, indústria
e das palhoças de 796 para 1.580 (Tabela 26). Concluiu-se e instituições civis e religiosas.
152 Incluindo o Arraial Moura Brasil da Boa Esperança (40 imóveis) e o Arraial Aldeota (15 imóveis) e não foram incluídas as palhoças (796).
153 Não estão representadas na planta de 1888.
154 Artista Francisco Pereira da Costa e outra chácara sem inquilino.
155 s/n - proprietário francês Eugenio Baubier, negociante Ernesto Borges da Sa .
156 Joaquim José de Lima, Negociante Alfredo Salgado, negociante português João Joaquim Simões, negociante Guilherme Cesar da Rocha,
negociante José Monteiro de Aguiar, artista Firmo Beviláqua Fontenelle e criador Luiz Xavier de Castro..
157 No Censo, a chácara foi arrolada sem inquilino, porém segundo a pesquisa de Liberal de Castro sobre a localização da chácara Villa Izabel,
pode-se supor que seja do proprietário Gualter Rodrigues da Silva. Vale destacar que o referido imóvel está no limite do perímetro urbano.
158 Este trecho será estudado com melhor detalhamento.
159 Segundo dados da Décima Urbana de 1890.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 177
TABEL A 26Tabela 26 Relatório Geral da Décima Urbana A percentagem dos Imóveis alugados e de
TABEL A 27
de 1890 - Finalidade uso próprio em 1890
Freguesias Quantidade Percentual Percentual Percentual
Logradouro norte a sul de casas de casas de Total
São José e N. S. do 5.560160 100% alugadas uso próprio
Patrocínio
Rua Barão do Rio Branco 84,1% 15,9% 291
Finalidade
Rua Senador Pompeu 78,8% 21,2% 283
Aluguel 3.999 71,92%
Rua Major Facundo 80,0% 20,0% 249
Em construção 70 1,26%
Rua Floriano Peixoto 74,8% 25,2% 227
Fechado 34 0,61%
Rua General Sampaio 78,6% 21,4% 154
Habitado pelo dono 1.405 25,27%
Rua 24 de Maio 81,3% 18,7% 139
Ruína 52 0,94%
Fonte: Décima Urbana de 1872
Palhoças 1.580 -
A oeste, o Boulevard Jacarecanga era o limite vard Visconde do Cauípe e o Boulevard Visconde do Rio
da área urbana. A Décima urbana faz referência a 23 Branco tinham o maior número de contribuintes: 309 e
palhoças. Por sua vez, a planta de 1888 e o Censo de 308, respectivamente.
1887 revelam, junto do Boulevard Jacarecanga, sete A cidade, nesse momento, já se adensava no sentido
chácaras: Chácara 1 - de Joaquim José de Lima; Chá- leste-oeste, com a presença de “casas de travessas”165
cara 2 - Alfredo Salgado; Chácara 3 - João Joaquim entre as ruas Senador Alencar e Dom Pedro, ou seja,
Simões161; Chácara 4 – Guilherme Cesar da Rocha apresentando parcelamento dos quintais especialmente
(Figura 87)162; Chácara 5 - José Monteiro de Aguiar163; dos imóveis de esquina. Na Rua da Assembleia166, entre a
Chácara 6 - Firmo Bevilaqua Fontenelle164; Chácara 7 - Rua Formosa e a Rua Senador Pompeu, predominavam
Luiz Xavier de Castro. Essas chácaras foram parceladas pequenas casas de aluguel - escritórios de empresas167,
no processo de expansão a oeste da cidade a partir da armazéns de estivas168 e uma oficina de sapateiro, porém
década de 1920 (Figura 88). os imóveis tornavam-se residenciais à medida que se
Alguns dos antigos caminhos de saída para o interior afastavam da Rua Senador Pompeu no sentido oeste,
foram encobertos pelo plano proposto por Herbster, abrigando simultaneamente os seguintes profissionais
permanecendo apenas quatro: o Boulevard Visconde – serviços domésticos, artistas, jornaleiros, lavadeiras,
do Cauípe (antiga estrada de Arronches, atual Av. da padeiros, cozinheiros. Na Rua das Trincheiras (atual
Universidade) (Figura 89); o Boulevard Visconde do Rio Liberato Barroso), destacavam-se indivíduos sem pro-
Branco (estrada de Messejana, saída para atual Br. 116); fissão – jornaleiros (diaristas) (12), viúvas, agências e
a Estrada do Soure e a Estrada de Pacatuba, que nessa meretrizes, com somente uma oficina de torneiro e um
época ainda tinham a mesma denominação. O Boule- armazém de ferragens.
160 Incluindo o Arraial Moura Brasil (70 imóveis) e a Povoação do Mucuripe (57 imóveis) e sem incluir as palhoças (1.580) pois elas não são
arroladas individualmente por lote e sim por ruas.
161 Negociante português com 26 anos.
162 Negociante.
163 Negociante.
164 Artífice.
165 Casas de travessas, como foi visto, corresponde uma subdivisão dos quintais nos lotes de esquinas das quadras.
166 Atual São Paulo, continha 87 imóveis.
167 Nº 54 - Narcizio C. P. & Cia., nº 49 - Carneiro & Cia.
168 Nº 58 - Narcizio C. P. & Cia., nº 60 - Cia. de Gás; nº 53 - Simões, Irmão & Cia., nº 55 - Mattos & Cia.
178 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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FIGURA 82 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1888: Ocupação e
perímetro urbano. Fortaleza
1888. Autora Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta
da cidade da Fortaleza,
Capital da Província do Ceará,
levantada por Adolfo Herbster,
Ex-engo. da província e Archo.
aposentado da Câmara
Municipal, 1888. Fonte: Planta
da Fortaleza, 1888; Décima
Urbana 1890.
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DIVISÃO ECLESIÁSTICA
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1,000 2,000 8,000 4,000
CASA TÉ RREA
Capital em duas Freguezias
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A de S. Jozé = ao Nascente =
CH Á CARA
A de Nª Sª do Patrocínio = ao Poente =
PRIN CIPAIS EDIFÍ CIOS DA CIDADE
FIGURA 83 Exercício de
reconstituição cartográfica
- Fortaleza 1888. Tipologia.
Autora Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade
da Fortaleza, Capital da
Província do Ceará, levantada
por Adolfo Herbster, Ex-engo.
da província e Archo.
aposentado da Câmara
Municipal, 1888. Fonte: Censo
1887; Décima Urbana; Planta
da Fortaleza, 1859, 1888, 1912
e 1945.
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FORTALEZA - 18 8 8
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Escala de Palmos
DIVISÃO ECLESIÁSTICA LEGENDA
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1,000 2,000 8,000
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A de S. Jozé = ao Nascente = M isto
A de Nª Sª do Patrocínio = ao Poente =
FIGURA 84 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1890: Usos. Autora
Margarida Andrade. Mapa-base:
Planta da cidade da Fortaleza,
Capital da Província do Ceará,
levantada por Adolfo Herbster,
Ex-engo. da província e Archo.
aposentado da Câmara
Municipal, 1888. Fonte: Planta
da Fortaleza, 1888; Décima
Urbana 1890.
FIGURA 85 Exercício de
reconstituição cartográfica
– Fortaleza 1888. Recorte
espacial da cidade de Fortaleza
– usos. Autora Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta
da cidade da Fortaleza,
capital da Província do Ceará,
Quartel da M arinha levantada por Adolfo Herbster,
Ex-engo. da província e Archo.
aposentado da Câmara
Municipal, 1888. Fonte: Décima
urbana, 1890; Encarte da planta
da zona comercial da Fortaleza
do Anuário de 1912; Censo de
G az ô metro
1887, Planta da Fortaleza 1859,
Arraial M oura B rasil
1888, 1912 e 1945.
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182 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Mar n a
Igre a N S do Ros r o
Fon e Ar u o N re FIGURA 86 Cartão postal de 1910
mostrando a vista panorâmica
da cidade de Fortaleza, tirada
da torre da Igreja Coração
de Jesus. Destacam-se os
quintais arborizados, com os
cataventos, e a predominância
de casas térreas com
platibandas. À esquerda, a
Igreja do Carmo, no Boulervard
Duque de Caxias, e, ao
fundo, a serra da Aratanha.
LEGENDA Fonte: Reprodução fotográfica
a partir de Gerodetti, 2004:196.
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FIGURA 88 Exercício de reconstituição
Fran s o Nunes de Me 1893
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FIGURA 89 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza, 1888: Benfica,
sítios e chácaras. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-
base: Planta da cidade da
el de
Quartinha
M ar
Fortaleza, capital da Província
do Ceará, levantada por
Adolpho Herbster, Ex-engo da
província e Archo.apozentado
da Câmara Municipal, 1888.
Fonte: Inventários; Décima
Urbana 1890; Censo de 1887.
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Na Rua Municipal (atual Guilherme Rocha)169, impor- Aldeota, 31. Nas ruas sentido leste–oeste (Paço, Sol, Colé-
tante via de ligação para a Praça do Fernandes Vieira (atual gio e São Luiz), 569 imóveis e 163 palhoças.
Praça do Liceu), nota-se a subdivisão das portas laterais Outro arraial é o do Moura Brasil da Boa Esperança175,
dos sobrados, assim como na Rua Formosa, para uso de um grupo de casas atrás da estação ferroviária, à beira
armazéns. Algumas casas de travessas são ocupadas por da praia, considerado por Liberal de Castro como “a mais
“artistas”(7). A partir da Praça da Lagoinha, observam-se antiga forma de pré-favelamento que a cidade conhe-
várias residências de pessoas importantes - do advogado ceu” (CASTRO, 1982a:72). Segundo o Censo de 1887, foram
Raimundo Rossio Brigido dos Santos, dos negociantes arrolados 40 imóveis e 44 palhoças e nele predominavam:
Joaquim Felício de Oliveira Lima e Antonio Machado pescadores (3), artistas (8), jornaleiros (16), lavadeiras (10),
Coelho, do farmacêutico João Francisco Sampaio, do negociantes (6), jangadeiros (2), agências (2), lavrador (1)
empregado público Manoel Antonio Garcia. Nota-se tam- e outros, atingindo 70 imóveis e 60 palhoças em 1890176.
bém o parcelamento de algumas chácaras170 como por Essa área se estenderá ao longo da praia no sentido oeste,
exemplo, a chácara de Luis Sand171, vendida em 1875 ao dando origem à futura “favela do Pirambu”. Essa solução
advogado Manoel Antônio Torres Portugal. Com a implan- habitacional só será vista com intensidade em Fortaleza a
tação da linha de bonde ao longo dessa rua, acelera-se o partir da década de 1930.
parcelamento do solo, formando-se um eixo de expansão A zona do porto, no período de 18 anos, cresceu lenta-
oeste para as camadas mais abastadas, resultando em mente, passando de 112 imóveis (em 1872) para 138 (em 1887).
uma série de palacetes na área. Um novo equipamento foi inaugurado na Rua da Praia - o
As ruas Dr. Pedro Pereira e Dom Pedro também apre- edifício da Alfândega Nova, “que representava a junção dos
sentaram um adensamento semelhante, com 41 e 45 “casas interesses britânicos com o governo e com o grupo de diri-
de travessas” arroladas, mas predominam indivíduos sem gentes do comércio exterior no Ceará” (CASTRO, 1987:217).
profissão, meretrizes, pequenos negociantes172, jornaleiros, Nota-se o adensamento de 19 armazéns, distribuídos na
depósito de materiais, alfaiates173, sapateiro174, caldoreiro, Rua da Praia (11), Alfândega (3), Chafariz (2) e na Praça da
depósito de ferramentas, “artistas”. Alfândega177 (3). Na travessa do Chafariz, foram arrolados
Outro eixo de expansão identificado é no sentido 16 imóveis178 com usos bastante variados: jangadeiros (3),
sudoeste, entre a Estrada de Soure, nas imediações do servidor da escola da polícia (3), várias viúvas e meretrizes,
Matadouro e da linha do trilho do trem, nas proximida- persistindo somente sete palhoças (CENSO, 1887).
des da fábrica de tecidos de Pompeu & Irmão (Rua Santa Outro aspecto interessante é o da Praça dos Coe-
Isabel). Observa-se uma ocupação linear no sentido sul, lhos, com 34 imóveis arrolados em 1887, 14 deles
definido pelas ruas Formosa, Palma e Boa Vista, atingindo pertencentes a tecelões.
as imediações da Praça dos Coelhos. Das 1.044 palhoças arroladas, 773 eram de aluguel e 271
O mesmo ocorre em menor escala na área leste da de uso próprio. A concentração delas se dava no percurso
cidade, denominada arraial Aldeota. Segundo o Censo da ferrovia, na avenida Tristão Gonçalves (118) e em suas
de 1887, nela predominavam ainda características rurais: imediações – Boulevard Imperador (75) e Rua Tereza Cris-
12 lavradores, dois vaqueiros, um marchante, nove pes- tina (72). Existia também um agrupamento na praça Senador
cadores, 12 jornaleiros, uma lavadeira, uma parteira, um Paula Pessoa, próximo ao Matadouro Público. Nota-se dimi-
trabalhador do campo, e dois soldados reformados eram nuição gradativa das palhoças no perímetro urbano da
seus moradores. A Décima Urbana de 1890 revela, nas cidade, em decorrência dos Códigos de Postura que, a partir
quadras entre o Colégio dos Educandos e o Asilo de de 1875, progressivamente proibiram as casas de palhas ou
Mendicidade, nas ruas no sentido norte–sul, 516 imóveis: de taipa “dentro do quadro limitado pelas ruas do Pajehú,
Conceição, 148; Glória, 161; Leopoldina, 116; Soledade, 60; Livramento e Boulervard do Imperador, inclusivamente”179.
FIGURA 90 Exercício de
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1911: Recorte espacial
da cidade de Fortaleza – usos.
Autora Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade da
arinha
Quarte
l de M Fortaleza, capital da Província
do Ceará, levantada por Adolfo
Herbster, Ex-engo. da província
e Archo.aposentado da Câmara
Municipal, 1888. Fonte: Décima
urbana, 1911; Encarte da planta
da zona comercial da Fortaleza
G az ô metro do Anuário de 1912.
Arraial M oura B rasil
Fortal ez a de N . S.
d’ Assumpção
Detenção
Santa Casa
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O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 187
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3.5.3 Reconstituição da área urbanizada entre
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dos bondes de burros
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A análise do novo imposto predial publicado no de modas, mercearias e tavernas (34), amazéns de Uso s otos
Jornal
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A República, de 1911, permite verificar o surgimento de depósito (11), padarias (2), teatro (1), clube (1), restaurante
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algumas ruas (Rua do Lago e Rua da Cruz180, no sentido (1), bilhar (1), drogaria (1), agência de leilão (1) e oficinas186
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Ar gos B os
Senador
Genera
sul), de novas travessas (Cemitério, Catolé, Madame e (19), num total de 72 edifícios comerciais. Na Rua Senador
Ma or
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Matadouro) e a ocupação efetiva das antigas. No sen- Pompeu, observa-se um crescimento significativo de
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Igre a N S do Ros r o
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tido leste, é criado o Boulevard Nogueira Accioly (atual imóveis comerciais, atingindo o total de 41, enquanto a
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Fon e CALS 2002 33
Aldeota. Dois bairros novos também surgem- o Asse Porto comerciais,
b a Leg sa a passando de 15 imóveis comerciais para 30.
Pere ra
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Rua Pedro
Gener
das Jangadas (futura Praia de Iracema) e o Alagadiço Mer ado P bEssao área passa gradativamente por mudanças de usos
Tr ndade
L E G E N D A
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Praça r o
Rua
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Uso o er a Praças
1890, na área formada pelas ruas Floriano Peixoto, Major instituições,
Te gra o Sub ar no serviços, administração pública e lazer). Em
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Facundo, Barão do Rio Branco, Senador Pompeu, General 1911, pode-se anQuar e do 11 Ba a ão de In ar a
observar (figura 89) o predomínio do uso
Tr buna de Re ação do Cear
Pe Rua Do Pedro
Dr Sampaio e 24 de Maio, nota-se uma efetiva ocupação das comercial nas ruas Floriano Peixoto, Major Facundo e
Rua
Rua
a
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Tesourar a Gera
a
quadras
Ar gos Bao os longo da Rua General Sampaio (antiga Cadeia), Barão do Rio Branco (entre a Rua Castro e Silva e a Rua
Ru
Te gra o Terrestre
passando
Quar e Podea18 imóveis arrolados para 118181, bem como na Com. Luiz Ribeiro) acentuado principalmente em torno
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Pra n r
Rua 24 de maio (antiga Patrocínio), com 23 imóveis cadas- Tea ro Jos das
de Apraças
en ar do Ferreira e José de Alencar (antiga Carolina).
Vo
Igre a N S do Ros r o
trados
Paço Munem 1872,
pa atingindo 76 em 1890182. Outra ocupação Constata-se o deslocamento das residências de alguns
a
Ru
Pos o Po a
linear acontece nas ruas Formosa, Major Facundo e Boa proprietários para a Rua General Sampaio: José Eustáquio
Asse b a Leg s a a
Vista, a partir da rua Pedro Pereira (Figura 90). Vieira (nº 14) e Hildebrando Pompeu de Souza Brasil (nº
Tr ndade
a
Mer ado P b o
dA
Rua
Tesourar a Gera
modas, mercearias e tavernas (62), armazéns de depósito (nº 84, valor do imposto 144$000); o segundo, a Diogo José
Te gra o Terrestre
(4), Estação
farmácias (4), livrarias (3), uma fábrica de suco de da Silva (nº 71, valor do imposto 129$000); e o terceiro ao
Cen ra da Estrada de Ferro de Ba ur
cajuTeae rooutra de
Jos de A en gelo,
ar escritório comercial (1), hotel (1) e Barão de Aquiraz (nº 86, valor do imposto 120$000).
O comércio ainda convivia com residências na rua sólidas “em parte pela importância já adquirida pelo seu
Formosa, marcada pela presença de grandes comer- mercado consumidor, em parte pelo estabelecimento de
ciantes - Antônio Gonçalves Justa (nº 94), Luis Ribeiro relações diretas com mercados estrangeiros, através
da Cunha (nº 70), Severiano Ribeiro da Cunha (nº 84). da importação de artigos finos” (TINHORÃO, 1966:25). O
O cartão postal de 1909, mostra um trecho da atual rua centro foi então definido como tal, tornando-se o lugar
Barão do Rio Branco e representa a coexistência de usos do comércio, dos serviços e do lazer, com a inauguração
na área central da cidade (Figura 91). do teatro José de Alencar (1910) e dos cinemas Poly-
Pode-se concluir que após ter se estabelecido o theama, (1911), Majestic (1917) e Moderno, (1920). É um
regime republicano188, Fortaleza continuou com o período de intensa efervescência cultural fortalezense,
processo de modernização social e tecnológica. As com o surgimento de várias associações cientificas e
transformações na vida urbana com a chegada de linhas literárias: Clube Literário189 (1886), Instituto do Ceará
de bondes elétricos (1913) e do automóvel (1909), da (1887), Escola Militar (1889) Fênix Caixeiral (1891), Padaria
rede de esgotos, de abastecimento de água, da ilumina- Espiritual (1892), Academia Cearense de Letras (1894),
ção elétrica, o fornecimento de energia em instalações Centro Literário (1894). Assim “à volta de cada uma
privadas contribuíram para a transformação da vida das novas instituições vinham agrupar-se elementos
urbana. O comércio se apresentava com bases mais também novos, segundo suas diferentes ´tendências`
188 Não deve ser esquecido o fato de que o Estado enfrentou seguidas secas: 1877-79, 1888 e 1900. Todas provocaram “o fluxo de volumo-
sas correntes migratórias para a Amazônia, então vista como terra de enriquecimento fácil e rápido por via da exploração da borracha”
(CASTRO, 1992:71).
189 Tinha por objetivo “promover e activar o progresso intelectual de seus associados, só podendo, por isso, enfileirar-se nele os homens
realmente dados às letras” (BARREIRA,1986:117).
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 189
FIGURA 93 Antiga
Alfândega
de Fortaleza
inaugurada em 1891,
atual agência da
Caixa Econômica.
Fonte: Cals, 2002:3.
FIGURA 94 Escadaria
interna da antiga
Alfândega.
Fonte: Coleção da
autora
e `inclinações`190, isto é, mais exatamente, segundo a pública de Fortaleza, ficando obrigada a substituir o
direção a que os encaminhava a sua posição na escala sistema então em funcionamento de iluminação pelo
social ” (TINHORÃO, 1966:65). de incandescência, no prazo de três anos193.
A arquitetura adquire novos aspectos morfológicos, Quanto à arquitetura, é indispensável um exame mais
resultado desse processo de mutações, “assim, come- atento das obras construídas neste período até os pri-
çam a aparecer tanto casas de esquina com entrada mórdios do século XX. “As construções em Fortaleza,
pelas `travessas´ como casas situadas no meio dos com raras exceções, eram executadas com alvenaria
quarteirões com a entrada recuada com o alinhamento de tijolos, como aliás no restante do País, usando-se
da rua” (CASTRO, 1987:219). A sede da sociedade assis- a madeira para o travejamento das cobertas, forros e
tencial e cultural Fênix Caixeiral (1905), localizada na pisos” (DIOGENES, 2010:101). Com a integração do Ceará
praça Marquez de Herval com a rua Guilherme Rocha, é ao mercado internacional, as inovações tecnológicas
um exemplo do que reproduzia o novo padrão de casas advindas da Revolução Industrial chegaram à Província:
de esquina com entrada lateral (Figura 92). “um fenômeno completamente novo na arquitetura: os
Antonio Pinto Nogueira Accioly191 (1896-1900 edifícios importados, produzidos pela indústria”, conse-
e 1904-1912) assumiu o controle político do Ceará, quência das “novas condições de transporte, criadas
enquanto a Intendência da capital estava a cargo do com a instalação das ferrovias e linhas de navegação
coronel Guilherme Rocha (1892-1912). Algumas obras fluvial (REIS, 1970:156).
de modernização foram realizadas, como a remodelação A Alfândega Nova194 (1884-1891) é um exemplo das
das praças - Ferreira, Marquês de Herval (atual José de inovações tecnológicas então em curso. Construída pela
Alencar), da Sé, Praça Fernandes Vieira192 - e do calça- empresa concessionária dos serviços do porto, “Ceará
mento de alguns pontos da cidade. Os melhoramentos Harbour Coporation”, “mostrava uma aparência pesada,
urbanos pautavam-se no Código de Posturas de 1893, com uns toques de arquitetura vernacular britânica em
então em vigor, na linha dos Códigos sanitários vigentes pedra” (CASTRO, 1987:217). No entanto, seus elementos
nos demais centros urbanos do Brasil. construtivos eram colunas, escadaria, balcões, cor-
Em 16 de agosto de 1909, foi prorrogado por mais 35 rimãos e gradis fornecidos pela empresa Walter Mac
anos o prazo concedido à Ceará Gás Company Limited, Farlane & Co, de Glasgow, a mesma da futura obra do
de Londres, para a exploração do serviço de iluminação Teatro José de Alencar (Figuras 93 e 94).
190 Segundo Tinhorão, no Instituto Histórico, se reuniam “os mais velhos e mais responsáveis, ligados, na maioria, às famílias dirigentes
da Província”, enquanto “os moços, representantes da novíssima geração da classe média, eram absorvidos pela Escola Militar, dentro do
espírito previdente das famílias remediadas de onde se originavam, e cujo maior desejo era lhes ´garantir o futuro”, ao passo que “os literatos
da geração de ‘novos’, isto é, os intelectuais não aquinhoados com a distribuição de cargos administrativos, levada a efeito pelos beneficiários
da República, iriam alardear a sua disponibilidade na Padaria Espiritual, com a preocupação de épater les bourgeois”; finalmente o grupo de
espírito mais prático e descontente “com a dispersividade de alguns componentes da nova associação, a Padaria Espiritual”, direcionava-se
para o Centro Literário (1966:65-66).
191 Cria também a Faculdade de Direito, em 1903.
192 Foi realizado o calçamento em 1908 (1.558m).
193 Mensagem do Presidente do Estado de 1911 .
194 Edifício tombado pelo Patrimônio Estadual em 2005.
190 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
O Mercado de Ferro195 é outro exemplar. Trata-se A Igreja do Pequeno Grande localizada ao lado do
de um “mercado aberto”196 e “constitui-se também de Colégio da Imaculada Conceição197, inaugurada em 1903,
um valioso testemunho da portabilidade da arquite- é mais um dos poucos exemplares remanescentes, e
tura do ferro” (SILVA, 1986:171). Situado na praça José segue tendências estéticas do ecletismo, com padrões
de Alencar (antiga Carolina), em frente à Assembleia neogóticos. João Brigido pressupõe que a origem da
Provincial, dispunha-se em dois pavilhões paralelos estrutura metálica seja de procedência belga e a autoria
ligados por uma rua coberta de cinco metros de do projeto e construção de Isaac Correia do Amaral, em
largura. A estrutura metálica fabricada nas oficinas parceria com o engenheiro escocês Robert Gow Bleasby
“Guillot Pelletier”, de Orleans, é composta de 16 colu- (CASTRO, 1992:75), (Figuras 100, 101 e 102).
nas internas de ferro fundido e 28 colunas externas. Segundo descrição de Liberal de Castro,
Manifesta uma elegância “graças à abertura de suas
fachadas, guarnecidas por grades de ferro em quase A igreja consta de nave única, vencida por pórticos
toda a sua altura e à esbelteza das colunas que supor- de perfis metálicos em H, cujos trechos correspon-
tam as delgadas treliças de coberta” (SILVA, 1986:171) dentes à coberta apresentam forma pontiaguda,
(Figuras 95, 96, 97, 98 e 99). objetivando a formação de abas de telhado bastante
195 Em 1938, o Mercado foi desmembrado, sendo transferido um dos pavilhões para a Praça dos Pinhões e o outro para a praça São Sebastião
e, posteriormente, para a praça da Aerolândia.
196 Classificação sugerida por Geraldo Gomes da Silva, 1986.
197 Antigo Colégio das Irmãs, inaugurado em 1857 “para servir de hospital aos moradores do Outeiro, caso fosse esta capital invadida pelo
cólera-mórbus” (BEZERRA DE MENEZES, 1992:85), foi posteriormente designado Casa de Educandos; em 1866, passou a funcionar como o
Colégio das Órfãs e, depois, o Colégio da Imaculada Conceição.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 191
íngremes. Um feixe de meios-pórticos se reúne Accioly, com estrutura metálica fornecida pela casa Wal-
na cabeceira posterior da igreja, criando uma ter Macfarlane & Co, de Glasgow, na Escócia (Figura 103).
espécie de abside poligonal. Fortes cabos de aço Segundo Mensagem à Assembleia Legislativa do
funcionam como tirantes destinados a absorver Estado do Ceará, em 1908,
os empuxos, ajudados por pequenas rosáceas
lobuladas que servem de elementos de reforço Tornou-se uma verdadeira aspiração popular a cons-
estrutural, beneficiando a hiperestaticidade dos trução de uma casa de espetáculos nesta capital.
pórticos. [...] Contornada exteriormente por paredes Convencido da sua necessidade e dos resultados
de alvenaria de tijolos sem função estrutural. [...] A indirectos que as diversões artísticas podem trazer
coberta, íngreme, é revestida com telhas planas ao nosso desenvolvimento social, resolvi, fundado na
de ardósia, material cuja imitação entrou em moda Lei nº 768, de 20 de agosto de 1904, encommendar
nos avarandados de muitas casas fortalezenses na ao Sr. Boris Frères, de Pariz, um theatro de ferro, de
época (1992:74). acordo com a planta organisada pelo 1º tenente Ber-
nardo José de Mello. A encommenda foi executada
O Teatro José de Alencar é mais outro exemplar. com todas as regras d´arte, e o Governo já se acha
Espécie de “teatro de jardim”, seu projeto concilia estru- de posse do material férreo, [...]. O theatro obedece
tura de ferro com alvenaria de tijolo198. Foi construído em ao typo dos theatros-jardins, sendo composto de
1910, no governo oligárquico de Antônio Pinto Nogueira quatro secções (1908:12)199.
198 Implantado na praça Marquez de Herval (atual José de Alencar), entre o quartel do Batalhão de Segurança e a Escola Normal.
199 http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1449/000012.html (pesquisado em 8/1/2012).
192 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Segundo palavras de Liberal de Castro, ser utilizado para concertos, conferências e sessões
literárias” (MENSAGEM, 1908:15) (Figura 104).
Trata-se do mais notável remanescente da arqui- No plano estadual, alguns administradores da década
tetura metálica do país, proposta artística ligada de 1920 merecem destaque: Justiniano de Serpa201, Ilde-
às concepções Art Nouveau, pelo menos na traça fonso Albano202 (1920-24) e José Moreira da Rocha203
do frontispício. A caixa do palco é de autoria do (1924-1928). Eles “imprimirão maior ritmo às obras
arquiteto mineiro Herculano Ramos200 (1856-1928), públicas, arrefecido na administração de José Carlos
que, estando em Natal a projetar e construir o tea- de Mattos Peixoto (1928-1930)” (CASTRO, 1987:230).
tro Djalma Maranhão, veio ao Ceará cooperar na Merecem também destaque os intendentes e prefeitos204
construção do teatro José de Alencar (1982b:8). nomeados pelos presidentes do Estado nesse período,
Ildefonso Albano (1921-1923), Godofredo Maciel (1924-
O projeto do bloco de acesso, em dois pavimentos, 1928) e Alvaro Weyne205 (1928-1930).
foi realizado por Bernardo José de Mello (1868-1910) A administração estadual de Justiniano de Serpa
“segundo os ditames do decorativismo eclético” (CAS- (1920-23) e de Ildefonso Albano (1923-24) foi marcada
TRO, 1982b:8). O pavimento superior é destinado ao foyer pela modernização do sistema educacional, consequen-
“com excelente disposição acústica, de modo que deva temente, foram construídas novas instalações de edifícios
200 Diplomado no Rio de Janeiro pela Academia de Belas Artes, “figura como o primeiro arquiteto de formação profissional explícita em
atividade no Ceará” (CASTRO, 1982b:8).
201 Justiniano de Serpa (1852–1923), jornalista, bacharel em Direito (1888) na Faculdade de Direito de Recife, deputado geral pelo partido
conservador entre 1882-1889 e um dos fundadores da Academia Cearense de Letras.
202 Ildefonso Albano ( 1885-1957) foi prefeito de Fortaleza, de 1912 a 1914 e de 1921 a 1923 e governador do Ceará, de 12 de julho de 1923 a
12 de julho de 1924.
203 José Moreira da Rocha (1869–1934) governou o Ceará de 1924 a 1928. Bacaharel em Ciências Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife.
204 Entre 1923 e 1924, Adolfo Gonçalves de Siqueira, como presidente da Câmara Municipal, assumiu interinamente a Prefeitura.
205 Álvaro Nunes Weyne (1881-1963), comerciante, eleito na primeira eleição de voto secreto, em 1928, e afastado do cargo pela revolução de
1930. Estudou no Ginásio Cearense e no Instituto de Humanidades. Casou-se com Maria José Rodrigues Weyne. Fundador do Centro Espírita
Cearense, em 1910, e Presidente do Rotary Clube de Fortaleza, dirigiu o Asilo de Mendicidade e a Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza.
Primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Ceará, entre 1928 e 1932.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 193
escolares. Os primeiros grupos escolares da capital Na mesma época, foram realizadas obras públicas
construídos, segundo esse plano educacional, foram importantes, como a ampliação da Ponte de Desembar-
o Visconde do Rio Branco e o Fernandes Vieira (atual que do Porto (1927) e a construção do novo prédio da
Juvenal Galeno). Projetados por Armando de Oliveira, Secretaria da Fazenda (1927), projetado por José Gon-
estabeleceram um padrão de arquitetura “dita ‘tradicio- çalves da Justa (1870-1944). A Secretaria é considerada
nalista’ pelos seus prosélitos, porém, mais conhecida por a primeira edificação a utilizar concreto armado no piso
neocolonial, não passava de uma tentativa de criar uma do pavimento superior, “com paredes de sustentação
versão do ecletismo arquitetônico” (CASTRO, 1987:231) em alvenaria de tijolos e escadas de madeira, e obra
(Figuras 105 e 106). ainda concebida de acordo com os preceitos de uma
Por outro lado, duas outras escolas foram projetadas arquitetura eclética, inspirada na Renascença veneziana”
por José Gonçalves da Justa (1870-1944) - o Grupo (CASTRO, 1989:127), (Figuras 109).
Escolar do Benfica206 (Figura 107), de “feição classici- Outro projetista desse período é o engenheiro João
zante”, (1923) (atual Faculdade de Ciências Econômicas), e Saboia Barbosa207 (1886-1972), que realizou vários edi-
a Escola Normal (1923) (Figura 108). A Escola Normal está fícios residenciais e comerciais para o banqueiro José
situada no meio da praça Figueira de Melo, fazendo con- Gentil Alves de Carvalho e o capitalista Plácido Carva-
junto com o Colégio Imaculada Conceição e a Igreja do lho, todos com feições estilísticas bastante variadas. As
Pequeno Grande. Segundo o jornal O Nordeste, “o estylo obras referentes ao empresário Gentil são o Palacete
da composição é flamengo moderno. A sua composição Ceará, na praça do Ferreira (onde funcionou o Rotisserie
lembra a nova biblioteca de Lausanne” (apud CASTRO, Sportman, no pavimento térreo, e o Club Iracema, nos
1987:240). Destaca-se a escadaria de entrada “entalada altos) (Figura 110); o Banco Frota & Gentil (1925), na Rua
entre dois torrões do tipo klokgevel (empena-relógio), Floriano Peixoto com a Rua São Paulo (Figura 111), e a
que, por certo, lhe caracterizam o ‘estylo flamengo’” própria residência do banqueiro, situada no Benfica,
(CASTRO, 1987:240). ampliada para sede da Reitoria da UFC.
206 Depois, passou a denominar-se Grupo Escolar Rodolfo Teófilo. Abrigou, na década de 1950, o Museu Antropológico e o Instituto do Ceará.
207 Cearense, diplomado em engenharia pela Universidade de Liverpool, em 1911 (CASTRO, 1987:238).
194 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 112Residência de
Plácido de Carvalho situada
na avenida Santos Dumont
(demolida em 1970), projeto
de João Saboia Barbosa.
Fonte: Cals, 2002.
196 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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João Saboia Barbosa também projetou para o capi- Luiz; o Boulevard Visconde do Rio Branco, até o ponto
talista Plácido de Carvalho sua residência, conhecida terminal dos bondes na altura do Tauape; a Rua Major
por “Castelo da Dona Pierina”, situada na Avenida Santos Facundo, até o ponto do bonde da Praça dos Coelhos; o
Dumont (Figura 112). Outra obra do engenheiro foi talvez Boulevard do Cauípe, até o Benfica; Parte do bairro do
o Cine Moderno, de 1922, de propriedade do capitalista, Matadouro, entre a Praça de Pelotas e Praça Senador
localizado na Rua Major Facundo, próximo à Praça do Paula Pessoa e Rua Antônio Pompeu e Duque de Caxias;
Ferreira. Realizou outras obras, como o Palacete Morais e o de Fernandes Vieira, até a praça deste nome, entre as
Correa, na Av. Demostenhes Rockert (atual Francisco ruas das Trincheiras, São Paulo e o Boulevard Imperador
Sá), esquina com a Praça Fernandes Vieira, bem como (Regulamento 1918, art. 484) (Figura 113). Constatou-se,
o Palacete Jeremias Arruda, na praça do Carmo. também, que os bairros Benfica, Fernandes Vieira, Praia
e Outeiro estavam inseridos no perímetro urbano da
3.5.4 Reconstituição da área urbanizada em 1922 cidade e eram servidos pelos bondes elétricos.
Comparando a reconstituição (Figura 114) da planta
A interpretação da planta esquemática de 1922, acres- esquemática de 1922 com a de 1888, nota-se uma
cida dos dados do regulamento da Diretoria Geral da proposta de expansão do plano de Herbster em várias
Higiene, de 1918, e do Imposto Predial de 1922, per- direções. O deslocamento da ferrovia em 1919 para
mite verificar as áreas efetivamente ocupadas até esse o seu novo endereço, ao longo da av. José Bastos,
momento. A parte central da cidade delimitava-se pelas permitiu maior ampliação da zona oeste da cidade
ruas da Misericórdia, Imperador, General Clarindo e e o surgimento de um local onde foi, mais tarde,
Sena Madureira; o bairro da Praia concentrava-se entre implantado o novo parque industrial de Fortaleza.
Sena Madureira, Alfândega, Seminário e Sé; o bairro do Outra constatação é a ocupação mais efetiva das
Outeiro, desde a Rua do Sampaio até a Praça Benjamin áreas destacadas em 1888 (bairros Matadouro, Fer-
Constant, bem como entre as ruas do Sol e de São nandes Vieira e Outeiro) e das vias radiais - Av. João
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 197
Pessoa (antiga Estrada de Arronches), Visconde do antigas chácaras na face oeste da praça. O Cel. Antô-
Rio Branco (antiga Estrada de Messejana). A antiga nio Diogo Siqueira adquire a chácara do intendente
Estrada de Soure (atual Bezerra de Menezes) não fazia Guilherme Rocha e antigo sítio São Luiz para construir
parte do perímetro urbano, mesmo estando servida o Asilo de Mendicidade (Figuras 116, 117).
pelos bondes elétricos. Na face norte da praça, são arrolados três imó-
Por outro lado, o Imposto Predial de 1922 mostra veis pertencentes ao Dr. Nestor Barbosa Leite (nº
a ocupação do perímetro urbano de Fortaleza, que 570), a Vicente Ferreira de Ponte (nº 584) e a Zacarias
continha sete boulevards208; 81 ruas209, 12 travessas210, Bayma (nº 594). Os outros dois lados (leste e sul) ainda
uma avenida (Alberto Nepomuceno, antiga da Ponte), não estavam ocupados, mas logo, em 1923, o Grupo
19 praças211, duas estradas (do Cocó e do Outeiro212), Escolar Fernandes Vieira é construído, e o serviço de
dois povoados (Mucuripe e Alagadiço) arraial Moura empedramento realizado em 1927. A Rua Guilherme
Brasil (388 imóveis)213, pequenas concentrações: Alto Rocha (antiga Municipal), que servia de acesso ao
Alegre (33 imóveis), Cambirinhas (32 imóveis), Morro bairro, totalizava, nessa data, 53 imóveis (16 no lado
do Moinho (37 imóveis), Morro do Croatá (33 imóveis), par e 37 no ímpar), entre os quais se encontravam
Porto das Jangadas (11 imóveis), Meireles (18 imóveis). alguns palacetes, como “Itapuca Vila”215 (nº 375) (Figura
Notam-se ainda duas estradas remanescentes, a do 118), pertencente ao comerciante exportador Alfredo
Cocó e a do Outeiro, com 29 e nove imóveis respectiva- Salgado216. Além deste, na mesma rua, havia algumas
mente, enquanto as antigas (Arronches, Messejana)214 residências que “se apresentavam à imitação de cha-
foram transformadas em Boulevards. Mesmo assim, lés, outras com torreões pontiagudos ou com vãos de
o perímetro do traçado proposto por Herbster ainda esquadrias em circunferência, marcas residuais do
não havia sido preenchido na sua totalidade. floreal ” (CASTRO, 1987:235). Algumas famílias des-
Confrontando o imposto predial de 1922 com a tacam-se nessa via: os herdeiros do Dr. Manoel A. S.
Planta (Figura 115), verifica-se que a expansão oeste Torres Portugal; Pedro Filomeno Gomes217; Lauro, Lais,
não ultrapassava a Praça Fernandes Vieira. Entretanto Cecil e Laura Salgado (no 562); e o Dr. Luis de Moraes
constata-se a mudança dos proprietários das duas Correia (Figura 119).
208 Jacarecanga (atual Filomeno Gomes), Imperador, Visconde do Cauípe (antiga Estrada do Arronches), Visconde do Rio Branco (antiga
estrada de Messejana), D. Manoel (antiga Conceição), Duque de Caxias (antiga Livramento), Nogueira Accioly (atual Santos Dumont).
209 2 de Novembro, 24 de Maio (antiga Patrocínio), 25 de Março (antiga Pajeú), Aldeota (Nogueira Acioly), Alfândega, Aracaty, Aratanha, Arrecife
(atual Senador Almino), Assunção (antiga Cons. Liberato Barroso), Baixa Preta, Barão de Aratanha, Barão do Rio Branco (antiga Formosa),
Boris (travessa da Praia), Botija, Calçamento, Capitão José da Penha (D. Joaquim Garcia), Senador Castro e Silva (antiga Flores), Cauípe (atual
João Cordeiro), Cavalaria (atual Pinto Madeira), Cel Guilherme Rocha (Municipal), Coelhos (Domingos Olímpio), Colégio (atual Coronel Ferraz),
Conselheiro Estelita, Conselheiro Liberato Barroso (antiga Trincheiras e Com. Luis Ribeiro, atual Ouvidor), Conselheiro Rodrigues Junior (antiga
Gloria), Conselheiro Tristão (antiga da Cruz), Coronel Soares, D. Leopoldina (D. Leopoldina), Dom Joaquim (antiga Soledade), Dom Pedro, Dr.
Antonio Pompeu, Dr. João Moreira (antiga Misericórdia), Dr. João Thomé (atual Jaime Benévolo), Dr. Pedro Borges (antiga do Cajueiro), Dr. Pedro
Pereira, Floriano Peixoto (antiga Boa Vista), Gal Bezerril (antiga Quartel), Gal José Clarindo de Queiroz (antiga Livramento), Gal Mesquita (antiga
do Chafariz, Singlehurst, atual José Avelino), Gal Sampaio (antiga Cadeia), Gloria (Henrique Rabelo), Governador Sampaio (antiga Sampaio),
Guageru (atual Gonçalves Ledo), Igreja, Juvenal Galeno, Lago, Major Facundo (antiga Palma), Major Rangel, Marechal Deodoro (antiga Estrada
de Pacatuba, Cachorra Magra), Monte Flor (atual Antonio Augusto), Morro, Nova da Cruz, Paço, Padre Mororó (antiga São Cosmo), Paz, Pé do
Morro, Pedro Borges (antiga Cajueiro), Pereira Filgueiras (antiga Poço), Praia (Pessoa Anta), Rosário, Dr. Rufino de Alencar (antiga Ponte, da
Bica e Corredor do Bispo), Sampaio, Santa Izabel (antiga D. Isabel e atual Princesa Isabel), Santa Tereza (antiga Paiol, atual Tereza Cristina), São
Jorge, São José, São Lunguinho, São Paulo (Assembleia), São Sebastião (atual Teodoro Sampaio), Seminário (atual Monsenhor Tabosa), Sena
Madureira (antiga Conde d´Eu, Direita dos Mercadores), Senador Alencar (antiga da Horta), Senador Castro e Silva (antiga travessa das Flores),
Senador Jaguaribe (antiga Gasômetro), Senador Pompeu (antiga Amélia), Sol (atual Costa Barros), Tahuape (Antonio Rodrigues), Trindade (Sólon
Pinheiro), Tristão Gonçalves (Alagoinha), Xinchá.
210 Beco, Cemitério, Chafariz, Conceição, Lagoa da Onça, Matadouro, Mercado, Pajeú, São Luiz, Senador Pompeu, Tavares, Tijubana.
211 Alfândega, Barão de Ibiapaba (atual Cristo Redentor), Benjamin Constant (Filgueira de Mello - antigo Colégio), Caio Prado (Sé), Cel. Teodorico
(Alagoinha), Coelhos (polícia Militar), Dr. José Julio (atual Parque das Crianças), Fernandes Vieira, Ferreira, Gal. Tibúrcio (na ala sul, o Palácio
da Presidência), José de Alencar, (antiga Carolina, atual Valdemar Falcão), Livramento, Marquês de Herval (José de Alencar), Mártires (Passeio
Público), São Benedito, Senador Castro Carreira (antiga Campo da Amélia), Senador Machado, Senador Paulo Pessoa (São Sebastião), Visconde
de Pelotas, Voluntários.
212 Atual Deputado Moreira da Rocha.
213 Existiam quatro ruas (rua 1 – Beira Mar, rua 2 - Pé do Morro, rua 3 – Trilho do Ferro, rua 4 - lado da Via Férrea) e três travessas (trav. 1 – atrás
da Estação, trav. 2 e trav. 3).
214 A Décima Urbana não faz referência à estrada de Soure.
215 O número, em 1936, era 1055, e o Imposto predial 240$000
216 (1855-1947) Filho do português Francisco Luis Salgado.
217 Situada na rua Padre Mororó esquina com Guilherme Rocha s/n, logo depois do número 562. O último imóvel pertencia a Lauro da Rocha
Salgado, também s/n.
198 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FORTALEZA - 1922
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A zona leste, com acesso pelo Boulevard Nogueira (atual nº 1896), de Manços Valente Cavalcante (na
Accioly218 (atual Santos Dumont), aparece como uma época com 53,0 metros de testada, com o imposto
área de ocupação residencial ainda bastante rarefeita predial no valor de 240$000) (Figura 124), e a de nº 566
(28 imóveis), seus imóveis conviviam com os vários (atual nº 1940), de Neutel Maia (fachada com adorno
sítios, como o de Adolfo Quixadá (Figura 120)219, vizinho listrado, com o valor de 180$000 réis) (Figura 125).
ao Castelo do Plácido. Destacam-se, na paisagem, o Outros exemplares do final da década de 1920, como o
Colégio Imaculada Conceição, o Colégio Militar (Figura palacete de porão alto na esquina com a rua Dr. Anto-
121)220 (1919) e o Palacete de Plácido de Carvalho que nio Pompeu (atual nº 1798), pertencente, na década de
ocupava a quadra entre as atuais ruas Carlos Vas- 1930, aos herdeiros do Dr. Meton de Alencar,convivem
concelos, Monsenhor Bruno, Costa Barros e Santos com outras tipologias do lado do sol, marcadas por
Dumont221. O palacete apresentava “reminiscências de edifícios isolados no centro do lote.
um palazzo comunale italiano, certamente para aten- No percurso intermediário do Boulevard Visconde
der às solicitações nostálgicas da esposa de Carvalho, do Cauípe, observam-se lotes estreitos, ocupados com
senhora milanesa” (CASTRO, 1987:238). Destaca-se pequenas casas alinhadas à rua, em sua grande maioria,
também a residência de Demonsthenes Brígido e a com desenho das platibandas imitando ameias e arcos
antiga casa de chácara de Antônio Pinto Nogueira ogivais nas portas, reminiscências neogóticas, e outras
Accioly Filho222, encravada num terreno de 500 pal- com pequenas entradas laterais (Figuras 126 e 127).
mos (110,0m) de largura por 600 palmos (113,0m) de Na parte final do Boulevard, no bairro do Benfica
fundos, todo murado, com casa de morada de tijolo e (Figura 128), onde tradicionalmente se implantavam
telha, com cata-vento, cacimba, vacaria e mais ben- chácaras, surgem alguns exemplares inseridos em
feitorias e servidões, arrematado em 1913223. Outros grandes lotes: o Colégio Santa Cecília, nº 910, na
residentes igualmente importantes marcas o cenário antiga chácara, correspondendo a um quarteirão de
dessa região: Antônio Machado Coelho224, Mirtil Meyer, terreno, pertencente a Carlos Eduardo Saulnier de
Lazaro Gradvhol e outros. Pierreleveè (1909)226 (Figura 129); o Palacete do ban-
Destaca-se, ao longo do Boulevard Visconde do queiro, comerciante coronel José Gentil Alves de
Cauípe (antiga estrada de Arronches), uma ocupação Carvalho227, adquirido da família Garcia (Figura 130)
mais densa, porém com diferentes tipos de parcela- no início do século XX e reformado por João Saboia
mento fundiário. No início do Boulevard, próximo à Barbosa, em 1918; o Palacete de João Gentil Alves
Praça de Pelotas, os lotes eram mais amplos, com de Carvalho, situado na quadra entre a Rua Paulino
novo esquema de implantação, recuo no limite late- Nogueira e a Rua Padre Francisco Pinto (Figura 131).
ral, porém conservando o alinhamento da via pública Outros exemplares que merecem destaque: residência
(Figuras 122 e 123). de João Thomé, na Av. Visconde do Cauípe com atual
Como exemplos remanescentes, citam-se as duas 13 de Maio (Figura 132) e a de Baulio Bezerra Lima, atual
casas de porão alto225 do final do século XIX - a nº 548 Cultura Francesa, bastante alterada (Figura 133).
218 Foram realizadas obras de calçamento (1.834,16 m2) no governo do desembargador José Moreira da Rocha em 1925.
219 Limitado pela Rua Ildefonso Albano até a Carlos Vasconcelos e pela Avenida Santos Dumont até à atual Deputado Moreira da Rocha (antigo
caminho do Mucuripe).
220 Ocupou o Quartel do Batalhão de Segurança, antigo Colégio dos Educandos.
221 As ruas Carlos Vasconcelos e Monsenhor Bruno não existiam no Imposto Predial de 1922.
222 Filho de Antonio Pinto Nogueira Accioly (1840-1921) e neto do Senador Pompeu.
223 Inventário de Dr. Antonio Pinto Nogueira Accioly Filho, em 1913.
224 Filho do comerciante português no ramo de importação na segunda metade do século XIX. Atualmente proprietário de garage de auto-
móveis “Studebaker”.
225 Esses dados foram confrontados com o trabalho do professor José Liberal de Castro (2007:48-49) e o Imposto Predial de 1922.
226 Segundo Inventário de 1909, pacote 38. Barroso (2004) descreve lote por lote sobre o bairro do Benfica no fim da década de 1920.
227 Segundo as palavras de Fernando de Castro Lima: “recebi o convite do coronel Gentil para transformar o seu sítio no Benfica na atual
Gentilândia. Procedi ao levantamento da área respectiva e projetei as ruas que deviam ser abertas, e as praças. Aprovado pelo Cel. Gentil o
projeto, dei início aos trabalhos em 1923. Interessante o amor que o Cel Gentil tinha às mangueiras do seu sítio, mas era preciso derrubar as
atingidas pela abertura das ruas projetadas” (LIMA, 1999:33-34). Atualmente, funciona a Reitoria da Universidade Federal do Ceará.
204 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 122 [EM CIMA, À ESQ.]Início do FIGURA 124 [EM CIMA, À DIR.]Casa de porão alto
Boulevard Visconde de Cauípe (antiga situada no Boulevard Visconde do Cauípe
Estrada de Arronches e atual Av. da nº 548 (atual 1896), (antiga Estrada de Aronches,
Universidade, próximo à praça das caixas atual Av. da Universidade), pertencente a
d´água. À direita, o palacete do Dr. Meton Manços Valente Cavalcante, segundo a décima
de Alencar. Fonte: Arquivo Nirez. urbana de 1922. Fonte: Arquivo Nirez.
FIGURA 123 [EMBAIXO, À ESQ.] Início do FIGURA 125 [EMBAIXO, À DIR.] Casa de porão alto
Boulevard Visconde de Cauípe (antiga situada no Boulevard Visconde do Cauípe
Estrada de Arronches e atual Av. da nº 566 (atual 1940), (antiga Estrada de Arronches,
Universidade, próximo à praça das caixas atual Av. da Universidade) pertencente a
d´água. À direita, o palacete do Dr. Meton Neutel Maia, segundo a décima urbana de 1922.
de Alencar. Fonte: Arquivo Nirez. Fonte: Arquivo Nirez.
FIGURA 128 [EM CIMA, À ESQ.] FIGURA 131 [EM CIMA, À DIR.]
Aspecto da Av. João Pessoa (antiga Palacete de João Gentil (filho
Estrada de Arronches) no bairro do do cel. Gentil), em frente a
Benfica. Nota-se a arborização densa Igreja dos Remédios (demolida).
dos palacetes: à esquerda a Escola Santa Fonte: Coleção da autora.
Cecília e à direita os muros dos palacetes
da família Gentil. Fonte: Coleção Nirez. FIGURA 132 [NO MEIO, À DIR.]
Residência de João Thomé de Saboya
FIGURA 129 [NO MEIO, À ESQ.] - Vila Angélica, na Av. Visconde do
Antiga chácara de Pierreleveè (1909), Cauípe 2762, antiga sede da Escola
depois Colégio Santa Cecília, atualmente o de Engenharia da UFC (demolida).
local do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Fonte: Arquivo Nirez.
Fonte: Coleção Nirez.
FIGURA 133 [EMBAIXO, À DIR.]
Família Gentil
FIGURA 130 [EMBAIXO, À ESQ.] Antiga residência de Braulio Bezerra
em frente da antiga chácara, no inicio do Lima, atual Cultura Francesa (UFC),
século XX. Fonte: Arquivo Nirez. Fonte: Arquivo Nirez.
206 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
A cidade, nessa década, inicia também um processo lugares do tecido urbano de Fortaleza (Figura 141). Ambas
de adensamento na praia de Iracema, antiga Porto das iriam caracterizar um tipo de habitação proletária232 pos-
Jangadas, praia do Peixe, processo acentuado com o teriormente recorrente.
prolongamento da linha de bonde na Av. Epitácio Pessoa Assim, pode-se afirmar que uma estrutura espa-
até o casario da Praia. Segundo jornal da época, “arre- cial, estratificada a partir de 1920, já se delineava em
balde dos mais populosos, que a esse melhoramento bem Fortaleza, através de espaços específicos para cada
fazia jus, sendo uma aspiração louvável dos seus habi- grupo social. Porém é a década de 1930 que marca a
tantes. E esse desejo a Light, por entre as demonstrações aceleração desse processo.
de alegria dos praianos, realizou-o, finalmente”228. As A superposição dos dados do Imposto predial de
casas apalacetadas foram sendo erguidas ao longo da 1922 e do Almanaque de 1922-25 à Planta de 1922 revela
“rua beira mar”, denominada “Porto das Jangadas”, entre algumas transformações. As ruas relacionadas à zona
os 11 imóveis nela existente, todas com imposto entre de portuária (Rua da Alfândega, Boris233, José Avelino (antiga
42$000 réis e 240$000 réis229 (Figuras 134, 135, 136 e 137). Chafariz), da Praia, a Praça da Alfândega, Av. Alberto
Uma delas, a “Vila Morena” (atual Estoril230) (Figuras 138 Nepomuceno e a Travessa Chafariz) possuíam 126 imó-
e 139), pertencente ao comerciante pernambucano José veis. A Rua da Praia (atual Pessoa Anta) concentrava
Magalhães Porto, fazia conjunto com outras de menor sete imóveis de Gradvohl & Fils, cinco de Salgado Rogers
porte. Na Rua do Calçamento, logo atrás, registram- & Cia., quatro da Boris & Frères, e três da Frota Gentil.
-se 59 imóveis, 20 deles pertencentes ao comerciante Compreendiam, também, oito armazéns de exportação:
Magalhães Porto acima citado. “Os banhos de mar, ainda Salgado Filho & Cia.; Ulisses Borges; Leite Barbosa & Cia.
de modo reservado, começavam a atrair a população, G. Gradvhol & Cia.; Castelar & Cia.; Cia. Industrial de
como forma de lazer coletivo e gratuito, deixando de Algodão e Óleos; Berringer & Cia., Paschen & Cia.; e mais
figurar como tratamento de saúde recomendado pelos o depósito Standart Oil of Brasil. A Rua da Alfândega
médicos” (CASTRO, 1987:236). contava com 30 imóveis, desses seis pertencentes a
A antiga estrada do Soure (atual Bezerra de Menezes), Jeremias Arruda234 (nº 39, nº 41, nº 43, nº 49, nº 51 e
mesmo com a linha de bonde elétrico percorrendo-a nº 55); um ao comerciante José Gentil Alves de Car-
em três trechos - Mercado São Sebastião, Igreja São valho235 (nº 14); e dois pertencentes à empresa Boris &
Gerardo, e, finalmente, até o Colégio Santa Isabel, no Frères (nº 45) e ao empresário Francisco Otávio Ferreira
riacho do Alagadiço Grande - continuava margeada por Gomes (nº 47). Reuniam-se também alguns importadores
sítios231, permanecendo até 1932 como zona suburbana. e exportadores: J. Lopes & Cia. e Jeremias Arruda. Na
O imposto predial de 1922 identifica o “povoado do Ala- Rua José Avelino, o maior proprietário é Boris & Frères,
gadiço” com 148 imóveis, maior do que os 25 prédios do com oito imóveis (nº 87, nº 89, nº 97, nº 99, nº 101, nº 103
“povoado do Mucuripe”. Em 1924, o prefeito Godofredo nº 105 e nº 117), seguido da Baronesa de Ibiapaba (com
Maciel realizou o prolongamento da Avenida Bezerra de três imóveis), de Gradvohl & Fils (com dois) e de Frota
Menezes, desapropriando uma faixa de terreno de 2.000 Gentil (somente um). Na Praça da Alfândega, observa-se
metros de frente por 22,0 metros de fundo. o surgimento de novos proprietários: do lado oriental:
Na década de 1920, também tem início a construção os nove imóveis existentes pertenciam ao banqueiro
de vilas para operários por iniciativa das empresas liga- José Gentil Alves de Carvalho; e do lado sul, os imóveis
das à indústria têxtil (Figura 140). Observa-se, também, pertenciam ao industrial Antônio Diogo de Siqueira. Ali
o surgimento de algumas vilas de aluguel, construídas funcionava a Usina de beneficiamento de algodão e Óleos
por empreendedores particulares, espalhadas em vários “Miriam”. Na Travessa do Chafariz, foram arrolados 31
FIGURA 134 [EM CIMA, À ESQ.] FIGURA 137 [EM CIMA, À DIR.]
“Porto das Jangadas”, na atual Praia Conjunto das residências
de Iracema, com seu conjunto das localizadas na rua da Beira-Mar
residências, em torno de 1940. (atual Praia de Iracema), na década
Fonte: Arquivo Nirez. de 1930. Fonte: Arquivo Nirez.
FIGURA 135 [NO MEIO, À ESQ.] FIGURA 138 [NO MEIO, À DIR.]
Conjunto das residências Vila Morena, antiga residência
localizadas na rua da Beira-Mar de José Magalhães Porto.
(atual Praia de Iracema), na década Fonte: Arquivo Nirez.
de 1930. Fonte: Arquivo Nirez.
FIGURA 139 [EMBAIXO, À DIR.]
FIGURA 136 [EMBAIXO, À ESQ.] Na segunda guerra mundial,
Conjunto das residências a Vila Morena foi cedida ao
localizadas na rua da Beira-mar “United State Office”, e depois
(antiga Porto das Jangadas) em arrendado para um restaurante
torno de 1931. À direita, a Vila pelos portugueses com o nome
Morena. Fonte: Arquivo Nirez. Estoril. Fonte: Arquivo Nirez.
208 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
imóveis; na Avenida Alberto Nepomuceno (22 imóveis) A zona urbana237 também foi definida na planta de
e o imposto mais caro, 1.860$000, referente ao imóvel 1932 (Figura 149). É interessante destacar o fato de
do Frota & Gentil. Nele, agrupavam-se as Companhias de que a antiga Estrada do Soure continua sendo área
Seguro Great American de New York, Cia. Internacional suburbana, mesmo com a linha de bonde elétrico
de Seguros, Sul América Terrestre, o armazém de sal e percorrendo-a até o Alagadiço.
os armazéns de exportação (A. D. Siqueira, Barbosa & Na planta de 1932, evidencia-se o início de novos
Cia., Costa Lima & Myrtil, Deodato e Gonçalves & Cia.). loteamentos, transpondo a área planejada por Herbs-
Dos proprietários registrados na zona portuária: Boris ter, principalmente ao longo das duas radiais - Av.
& Frères possuíam 14 imóveis; José Gentil Alves de Car- Demonstenes Rockert e a antiga Estrada do Soure (atual
valho, 11; Gradvohl & Fils, nove; Jeremias Arruda, seis; Av. Bezerra de Menezes) (Figura 150).
Antonio Diogo de Siqueira, cinco; Baronesa de Ibiapaba, Constatam-se os novos loteamentos, transpondo a
três (Figuras 142, 143, 144, 145). Isso atesta que inves- área planejada por Adopho Herbster em 1863. Exemplos
timentos no setor imobiliário eram prósperos também disso são os dois empreendimentos do final da década
nessa área portuária. de 1920: o Loteamento Floresta, de propriedade Boris
A planta com a reconstituição do tecido urbano da Frères Cia. Ltda (Figura 151), fora do perímetro urbano;
área central236 em 1922 (Figura 146) revela a ampliação da e o parcelamento da Chácara Iracema, no Bairro São
área comercial nas ruas Floriano Peixoto, Major Facundo Gerardo, de propriedade do Cel. José Gentil Alves de
e entre as ruas Pedro Pereira e Senador Alencar, ficando Carvalho (Figura 152). Ambos os casos foram projeta-
rarefeita à medida que se aproximava do Passeio Público. dos por Fernando Lima.
Apresenta também uma expansão comercial no sentido Segundo depoimento do agrimensor,
oeste, além da Rua Barão do Rio Branco, principalmente
no comércio de secos e molhados: Senador Pompeu Fui encarregado [pelo Cel. Gentil] de transformar o
(19), General Sampaio (oito) e 24 de maio (10), atingindo terreno no Alagadiço, onde agora existe a “Casa dos
fora desse perímetro os Boulevards Imperador (11), Cegos”, que tinha de fundos mais de 900 metros,
Visconde do Rio Branco (22), Visconde do Cauípe (12) em um loteamento que se chamou de Vila Iracema.
(Figuras 147 e 148). O primeiro quarteirão ficaria anexo à Casa dos
Cegos; o segundo onde nasce o riacho Alagadiço
3.5.5 Reconstituição da área urbanizada em Grande, passaria a ser meu como pagamento dos
1931-32 3 contos de réis relativos aos meus trabalhos de
agrimensura. Esse terreno seria loteado e vendido
A Planta de 1931/32 é um levantamento preciso da para completar a quantia de trinta contos de réis
ocupação da cidade entre 1888 e 1932, que permite (LIMA, 1999:34).
identificar a zona comercial, a central, a urbana e a
suburbana, segundo o Decreto nº 70, de 13 de dezem- Em 1933, o Imposto Predial incidirá sobre o valor
bro de 1932. Constitui a zona central a área limitada locatício dos prédios de modo diferenciado: 1 - pré-
pelas ruas João Moreira, 24 de maio, avenida Duque de dios ocupados por hotéis, bares, restaurantes, cafés
Caxias, Visconde do Rio Branco, ruas Sena Madureira, e pensões, nas zona central, urbana e suburbana, 13%;
Conde d´Eu e Avenida Alberto Nepomuceno. A área 2 - prédios alugados e prédios ocupados por estabele-
comercial concentra-se nas ruas João Moreira, Barão cimentos comerciais, ainda que pelo proprietário, nas
do Rio Branco, Av. Duque de Caxias, Pedro Pereira, zonas central, urbana e na parte pavimentada da zona
prolongamento das ruas da Assunção e Liberato suburbana, 12%; na parte não calçada da zona suburbana,
Barroso (projetados), ruas Floriano Peixoto, Pedro 10%; 3 – Prédios residenciais ocupados pelo proprietá-
Borges, Sena Madureira, Conde d´Eu, Castro e Silva rio, nas zonas central, urbana e na parte pavimentada
e Floriano Peixoto até a rua João Moreira, bem como da zona suburbana, 6%; e na parte não calçada da
nas quadras norte e sul da praça Visconde de Pelotas. zona suburbana, 4%.
236 Composta das ruas: Floriano Peixoto, Major Facundo, Barão do Rio Branco, Senador Pompeu, General Sampaio e 24 de Maio.
237 Constitui a área compreendida entre os limites da zona central, Rua dos Arariús, orla oceânica, ruas Barão do Rio Branco, Adolfo Caminha,
Senador Pompeu, Senador Jaguaribe, General Sampaio, João Moreira, 24 de Maio, Castro e Silva, Padre Mororó e Guilherme Rocha, Praça
Fernandes Vieira, ruas Liberato Barroso, Meton de Alencar, Santa Tereza, Antonio Pompeu, Tristão Gonçalves, Domingos Olímpio, da Assunção,
Avenida Visconde do Rio Branco, Rua Rocha Lima, avenidas D. Luiz e Santos Dumont, ruas D. Leopoldina, Tenente Benévolo, Senador Almino e
Avenida Pessoa Anta, até a Rua dos Arariús e mais os seguintes trechos: Avenida Francisco Sá até a passagem do ramal Baturité, rua Juvenal
Galeno até a mesma passagem férrea, avenida Visconde do Cauípe, Gentilândia contornada pelas ruas 13 de Maio, Rodolfo Teófilo, Paulino
Nogueira, Julio Cesar e Adolfo Herbster: toda a avenida João Pessoa (antiga Estrada de Arronches e Visconde do Cauípe) e avenidas Visconde
do Rio Branco e Santos Dumont até o fim da linha de bonde.
210 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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( antiga residencia José Lourenço)
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Rua Dom Pedro
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1 5 Estação Central da
Rua
Rua
FIGURA 147
Rua Major Facundo
em direção à
Rua São Paulo.
À esquerda,
Loja de Modas e
confecções – Torre
Eiffel, de Paulo
Moraes & Filho.
Observar, na
figura à direita, a
fachada da loja.
Fonte: Arquivo
Nirez.
FIGURA 148
Cartão Postal
por volta de 1925.
Trecho da antiga
Rua Formosa,
atual Barão do Rio
Branco, a partir
da Rua Guilherme
Rocha, no sentido
do Passeio Público.
Destaca-se a
variedade de casas
de duas, três e
quatro portas,
com vergas retas,
arcos ogivais e
arcos plenos.
Fonte: Gerodetti,
2004:198.
212 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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1922 E VIAS
QUADRAS E VIAS
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Edifícios Institucionais
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FIGURA 149 Exercício de reconstituição FIGURA 150 Exercício de reconstituição cartográfica. Edifícios Institucionais
cartográfica. Fortaleza 1932. Espacialização Fortaleza 1932: Quadras e vias, destacando as zonas
do perímetro urbano em Fortaleza, comercial, central e urbana. Autora Margarida
segundo o Código Municipal da Prefeitura Andrade. Mapa-base: “Planta da cidade de Fortaleza,
Municipal de Fortaleza. Autora Margarida levantada na Administração Revolucionária, PMF, 1932
Andrade. Mapa-base: “Planta da cidade e Carta da cidade de Fortaleza, arredores, levantada,
de Fortaleza, levantada na Administração desenhada e impressa pelo Serviço Geográfico do
Revolucionária, PMF”. Fonte: Código Exército, 1945”. Fonte: Código Municipal, Decreto 70 de
Municipal (Decreto 70). 13/12/1932 e Imposto Predial de 1934.
Nessa década, identifica-se um crescimento de Adolpho Herbster. “Logo depois dessas ruas, começava
bairros residenciais em torno da praça Fernandes uma grande área coberta de capim, onde se encontrava
Vieira (Jacarecanga), Aldeota, Outeiro, Benfica. A praça a Lagoa do Tauape, alimentada pelo riacho do mesmo
Fernandes Vieira é um exemplo de propagação desse nome, procedente das bandas do bairro do Parangabuçu,
processo (Figura 153). e outros menores que se formavam na época do inverno”
No final da década de 1920, acelera-se o parcela- (SILVA, 2010:13) (Figura 162).
mento do solo junto à Avenida Tomaz Pompeu (antigo A Imobiliária José Gentil S/A (1933) construiu vários
Boulevard Jacarecanga e atual Av. Filomeno Gomes), tipos de casas para alugar, “todas tinham água enca-
na avenida Demóstenes Rockert238 (5 de Julho e atual nada, esgoto e outros serviços básicos de qualidade
Francisco Sá), e entre a praça e o riacho Jacarecanga, funcionando. Para isso, havia uma administração central
compondo “um conjunto que se destacava dos demais [...] que dispunha de uma equipe de operários especia-
bairros da cidade, constituído por edificações realizadas lizados para realizar os serviços relacionados com a
consoante às inúmeras variações formais do ecletismo manutenção e serventia das casas” (SILVA, 2010:15).
arquitetônico” (CASTRO, 1987:235) (Figura 154). No Bairro do Outeiro (Aldeota) foram abertas pela
Na avenida 5 de Julho (Figura 155) encontram-se Prefeitura três ruas, denominadas pela Câmara, Mon-
as residências dos industriais do setor têxtil Pedro senhor Bruno Figueiredo, Dr. Carlos Vasconcelos e Dr.
Filomeno Gomes (nº 1770) (Figura 156) e José Pinto do Leonidas Porto, nas quais já existiam várias construções.
Carmo (nº 1946) (Figura 157) e do engenheiro Thomás Enquanto isso, num processo tímido, a população
Pompeu Sobrinho (nº 1801) (Figura 158), do empre- mais pobre se estabelecia nas proximidades da linha
sário de ônibus Oscar Pedreira (nº 1849) (Figura 159), férrea nos bairros de Jacarecanga e Farias Brito, acen-
do ex-prefeito Raimundo Girão (nº 2052), de Luis de tuando uma tendência já observada no sentido sudoeste.
Moraes Correia (nº 1733)239, entre outros. Outras casas Do mesmo modo, crescia a ocupação da faixa litorânea
são implantadas em lotes maiores, ao longo da avenida próxima à linha do trem, com a presença de barracos
Thomas Pompeu, como a de Raimundo Brasil Pinheiro que começavam a levantar no arraial do Pirambu, à
de Mello (nº 836) (Figura 160), Juracy Moura (nº 802), medida que “o regime de propriedade da terra não
Dr. Francisco Ayres Coelho Cintra (nº 778), Aristides exerceu função restritiva à ocupação daquela área,
Capibaribe (nº 742), Miguel Jorge Rabay (nº 704). Na onde foi se formando a favela do Pirambu, a maior da
praça Fernandes Vieira, na face oeste, só existiam dois cidade” (SOUZA, 1978:79). Essa nova solução habita-
imóveis: a residência de Meton de Alencar (nº 946) e o cional desenvolve-se a partir de 1930 e caracteriza-se
Asilo do Bom Pastor; já na face norte, observa-se um por invasões e o não reconhecimento da propriedade
desmembramento dos lotes, entre 1922 e 1934, de três da terra. Assim surgiram, também, as favelas do Cer-
para cinco: o de Zacarias Bayma divide-se em dois (nº cado de Zé Padre (1930), Mucuripe (1933) e Lagamar
1664 e nº 1690240), como também o de Nestor Barbosa (1933) (SOUZA, 1978:89).
Leite (nº 1624 e nº 1606241). No lado leste só existia o Mesmo assim, a zona oeste em torno da Praça Fer-
Grupo Escolar Fernandes Vieira (1923). nandes Vieira ainda permaneceu por bom tempo um
Outros pontos da cidade foram também ocupados, reduto da população das camadas altas, mas certamente
como parte do bairro do Benfica, denominada Gentilân- esse fenômeno se alteraria com a implantação das
dia, após o parcelamento da chácara do comerciante industrias e das vilas operárias ao longo da Av. Rockert
e banqueiro coronel José Gentil Alves de Carvalho (atual Francisco Sá).
(1866-1941), iniciado da década de 1920242 pelo topógrafo Quanto ao bairro da Aldeota, gradativamente, “a alta
Fernando Lima (LIMA, 1999:34) (Figura 161). A Chácara burguesia passaria a construir em direção ao leste, bem
se limitava ao oeste, pela av. Visconde do Cauípe (antiga longe do centro, das fábricas e dos pobres, criando um
Estrada de Arronches, atual Av. da Universidade), ao leste, novo espaço de diferenciação social, tentando marcar
pela Rua Marechal Deodoro (antiga Estrada do Gado), o seu prestígio e aprendendo tropegamente uma certa
ao norte, pela atual Av. 13 de Maio e, ao sul pela Rua arte de viver” (LINHARES, 1992:201).
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FIGURA 155 [EM CIMA, À ESQ.] FIGURA 158 [EM CIMA, À DIR.]
Aspecto do início da Av. 5 Residência de Thomas Pompeu. Av.
de Julho, atual Francisco 5 de Julho, 1801. Desenho Nearco.
Sá. Desenho Nearco. Fonte: Coleção Nirez e COSTA,
Fonte: Coleção Nirez; Costa, 2003:137.
2003:137.
FIGURA 159 [NO MEIO, À DIR.]
FIGURA 156 [NO MEIO, À ESQ.] Residência de Oscar
Residência de Pedro Filomeno Pereira. Av. 5 de Julho, 1849.
Gomes, Av. 5 de Julho, 1770. Fonte: Coleção Nirez.
Fonte: Coleção Nirez.
FIGURA 160 [EMBAIXO, À DIR.]
FIGURA 157 [EMBAIXO, À ESQ.] Residência de Raimundo Pinheiro
Residência de José Pinto do de Melo. Av. Thomaz Pompeu,
Carmo. Av. 5 de Julho, 1946. 836. Fonte: Coleção Nirez.
Fonte: Coleção Nirez.
218 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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Bonde do Prado
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FIGURA 162
Espacialização do
perímetro das terras
do coronel José
N Gentil, denominada
Gentilândia. No
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primeiro plano, a
Lagoa do Tauape, hoje
canalizada. Autora:
Margarida Andrade.
Fonte: Fotografia
aérea de Fortaleza, na
década de 1930.
G
Observa-se, na reconstituição da planta de ocupa- A zona central da cidade, a partir de 1918, não foi alvo
ção de 1932, o deslocamento do Matadouro243 da antiga praticamente de alterações, entretanto “os sobrados
Estrada de Soure (atual Bezerra de Menezes) para a antiga oitocentistas, guardando ainda harmoniosa volumetria,
Estrada de Pacatuba, ao lugar denominado Tauape244. O aparecem revestidos de roupagem nova, de acordo
“Matadouro Modelo”, foi obra realizada pelos capitalis- com os ditames da arquitetura eclética, cujo ciclo his-
tas Antonio Diogo de Siqueira, Arthur Themoteo, Abel tórico então se encerrava” (CASTRO, 1977:39) (Figuras
Ribeiro e outros com menores ações, na administração 164, 165, 166 e 167). A primeira “cirurgia urbana” na área
do desembargador José Moreira da Rocha e do prefeito central da cidade realizou-se somente em 1933, quando
Godofredo Maciel, segundo a Lei nº 126, de 29 de dezem- o Decreto nº 99 determinu o prolongamento da Rua
bro de 1924. Segundo relatório à Câmara, “a Prefeitura das Trincheiras (atual Liberato Barroso) até a Rua Flo-
prestou mão forte, atendendo às exigências de higiene riano Peixoto. Somente na administração de Tibúrcio
e às necessidades que se faziam sentir de um melhora- Cavalcante (1931-33) e Raimundo Girão245 (1933-34) se
mento de tão grande vulto [...] sem falar na solidez e ótima esboçou o primeiro plano de remodelação, idealizado
localização do edifício” (PMF, 1927) (Figuras 163). pelo arquiteto pernambucano Nestor de Figueiredo.
243 A Lei 1.116, de 9 de setembro de 1913, “autoriza a Intendência a vender o terreno onde se acha o matadouro publico, logo que tenha adquirido
outro”, mas somente em 29 de dezembro de 1924 a Lei Municipal autoriza o contrato de construção. As obras foram iniciadas em março de
1925. O interventor Fernandes Távora autoriza a Prefeitura a rescindir o contrato pelo Decreto de 28 de abril de 1931. Consequentemente a
Prefeitura assume a direção do Matadouro.
244 Tauape, desmembrado do Sítio Aguanambi, em 1791, foi vendido ao padre vigário da Vila de Arronches, Manuel Francisco Rodrigues da
Cunha (BEZERRA DE MENEZES, 1992:156).
245 Já ocupava o cargo interinamente desde 1º de dezembro de 1932.
220 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 164 [EM CIMA, À ESQ.] FIGURA 166 [EM CIMA, À DIR.]
Rua Major Facundo, no sentido Rua Barão do Rio Branco
do Passeio Público. Foto (antiga rua Formosa)
realizada do Excelsior Hotel, em torno de 1938.
1940. Fonte: Arquivo Nirez. Fonte: Coleção Aba Film.
FIGURA 168 O
primeiro “arranha-
céu” da área
central de Fortaleza
– Excelsior Hotel
(1928-31), localizado
na praça do
Ferreira. Fonte: Cals,
2002:148,149 e 150.
O Código Municipal de 1932 (Decreto nº 70) favo- b) aos mestres de obras que provarem sua capa-
rece o processo de verticalização na área comercial. cidade para exercer a profissão, com títulos de
Enquanto a zona central se “verticaliza”, a expansão institutos nacionais ou estrangeiros, oficialmente
urbana se amplia em novos bairros e se intensifica ao reconhecidos no Brasil;
longo dos antigos caminhos, atuais vias radiais Visconde
do Cauípe (antiga Estrada de Arronches, atual Av. da c) aos mestres de obras sem título, que tenham
Universidade) e Visconde do Rio Branco. Não se pode demonstrado capacidade na execução de obras
deixar de destacar a relação entre o crescimento dos no Município e evidenciarem em exame especial
bairros operários, Jacarecanga e Farias Brito, e a locali- feito na Prefeitura a competência necessária ao
zação das duas fábricas - São José e Usina Gurgel - no exercício da profissão.
bairro da zona oeste.
Somente a partir da década de 1930 “a aplicação Art. 66 - Para as construções com estrutura metálica
do concreto armado tornou-se prática usual nas ou as em concreto armado e para as edificações de
construções de Fortaleza” (DIÓGENES, 2010:104), sur- vulto, que possam comprometer a segurança pública ou
gindo a modernização no campo da arquitetura, com particular, só poderão ser admitidos como construtores
a participação dos engenheiros locais e as mudanças os profissionais a que se referem a alínea a do art. 63.
na legislação por meio do novo Código Municipal, de
1932246. Algumas modificações são introduzidas no apa- No inicio da década de 1930, a área central passou por
rato de controle urbanístico e edilício do Estado, que um processo de remodelação e verticalização247, já per-
nessa época, começou, de forma mais incisiva a legislar cebida na década anterior. O primeiro “arranha–céu” da
acerca do zoneamento, da ocupação do solo, do uso do cidade, com oito pavimentos, foi o Excelsior Hotel (1928-
concreto armado e do registro de títulos profissionais 31) (Figura 168), substituindo o sobrado do comerciante
por parte dos construtores. Coronel Machado248, localizado na Praça do Ferreira
Os arts. 63 e 66 do Código de Obras de 1932 determinam esquina com Guilherme Rocha. Com “estrutura cons-
tituída por pilares, vigas e lajes executados com trilhos
Art. 63 - Somente se concederá registro de título: de trem, foi reforçada posteriormente com uma amar-
a) aos engenheiros civis, militares, arquitetos e ração de concreto armado, calculada pelo engenheiro
equiparados, que apresentarem diploma passado Archias Medrado” (DIOGENES, 2010:101). É considerado
pelas escolas superiores do paiz, ou do estran- por Liberal de Castro como “a grande realização final do
geiro, oficialmente reconhecidas; ecletismo arquitetônico no Ceará” (CASTRO, 1987:243).
Essas primeiras tentativas de verticalização, prin- arquiteto construtor (Clovis Janja, Emilio Hinko, José
cipalmente na área central, são consequência direta Barros Maia) e outros construtores e empreiteiros
de alguns fatores: a legislação, a tecnologia estrutural, que continuaram construindo a arquitetura da cidade
o surgimento do elevador na cidade e a especulação (Edificadora do Norte Ltda.253·, Hinko & Fabrício, Vicente
imobiliária. Outro edifício desse período (1932-34) foi o Alexandre Ferreira & Filho, Jacinto Matos, L. Gonzaga F.
dos Correios e Telégrafos (Figura 169) localizado na Praça da Silva, João Oscar, Lourenço Justiano Sousa, e José
dos Correios249, apresentando “um volume único, bem a Francisco e José Nogueira) (IMPOSTO PREDIAL,1932,
ogosto Déco, com pátio central a partir do primeiro pavi- e ALMANAQUE, 1932). Em 1933, foi criado o estatuto da
mento, condizente com as preocupações em garantir Imobiliária José Gentil S/A, tendo como maior acionista
iluminação e ventilação a todos os ambientes, já presen- José Gentil Alves de Carvalho (24.000 ações)254.
tes no Código Municipal de 1932” (BORGES, 2006:107). O engenheiro-arquiteto Silvio Jaguaribe Ekman
A área central, no entanto, continuou polarizando a (1901-78)255 contribuiu na modernização material de
maioria das atividades urbanas: o comércio, os serviços, Fortaleza, “aperfeiçoando os processo construtivos e a
as instituições civis e religiosas (Figura 170). mão de obra local” (DIOGENES, 2010:107) e construindo
Nessa fase de modernização, no que se refere à vários projetos importantes na cidade, inclusive na área
utilização do concreto armado, embora as primeiras central (Edifício Carneiro (Figura 171), Casa Parente, Loja
realizações do Estado tenham sido anteriores à década A Cearense, Jangada Clube (Figura 172), Edifício Prudên-
de 1930, pode-se afirmar que o marco foi a constru- cia e outros). O arquiteto húngaro Emilio Hinko realizou
ção do Pavilhão da Oficina do Urubu (RVC) em 1931, na também vários projetos256, espalhados na cidade: (Base
zona oeste da cidade, calculado pelo engenheiro Emílio Aérea de Fortaleza, Casa do Estudante (Figura 173), Clube
Baumgart250. Nota-se também a presença de jovens Iracema, Hospital de Messejana, Igreja dos Missionários,
engenheiros construtores: (Alberto Sá251, Sylvio Jagua- Igreja São Pedro, Jockey Clube Cearense (Figura 174),
ribe Ekman, Waldir Diogo Siqueira252), atuando ao lado Náutico Atlético Cearense, várias casas na Aldeota,
dos práticos “licenciados” que receberam o título de Jacarecanga, Floriano Peixoto, Av. da Universidade).
249 A antiga Praça da Carolina, com a remoção dos mercados de ferro em 1933, foi sendo ocupada por alguns edifícios: Correios e Telégrafos,
Banco do Brasil e o Palácio do Comércio, formando pequenas áreas verdes denominadas Praça dos Correios e Praça Waldemar Falcão.
250 Ver CASTRO, 1990, p. 121-140.
251 Diplomado pela Escola de Engenharia, Minas e Metalurgia de Ouro Preto, Minas Gerais.
252 Filho do industrial Antônio Diogo de Siqueira. Recém-formado na Politécnica da Bahia, em 1932 retorna imediatamente para Fortaleza.
253 Segundo o Álbum de Fortaleza de 1931, essa companhia foi instalada de 22 de setembro de 1930. Visava a fomentar a economia entre as
classes menos favorecidas, facilitando-lhes a aquisição de casas para morada, por meio de módicas prestações mensais. Explora também o
“Plano Título”, de sua propriedade, autorizado e fiscalizado pelo Governo Federal, conforme Carta Patente nº 91, emitindo Títulos Nominativos
para venda a prestações,mediante sorteio, de móveis e imóvel, com resgate garantido, a partir do segundo ano de vigência.
254 Diário Oficial de 23 de dezembro de 1933.
255 Ver CASTRO, 1998, p. 27-72.
256 Quase todos depois de 1933.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 223
Para o entendimento das mudanças e exame da dinâ- uso misto e três institucionais, definindo-se assim como
mica do mercado imobiliário ao redor da Praça do uma área com 52,94% de imóveis comerciais (Figura 176).
Ferreira, recorreu-se, mais uma vez, às Décimas Urba- A listagem da décima, lote a lote, revela um comércio
nas, aos almanaques, às plantas, reconstituindo-se lote diversificado, predominando tavernas (nove), lojas de
a lote o perfil das edificações e as mudanças realizadas, fazendas (cinco), boticas (duas), tipografia, escritório,
tanto pelo poder público como pela iniciativa privada. livraria, galeria fotográfica, loja de louça, açougue,
Essa espacialização das informações baseou-se na oficina de latoeiro e funileiro. Dos quatro imóveis de
metodologia de pesquisa de Beatriz Bueno, elegendo-se uso misto, três eram sobrados com lojas no térreo e
esse pedaço da cidade como “uma metonímia, em que residência no pavimento superior (Figura 177).
a parte explica a dinâmica do todo” (2008:117). Na reconstituição dos lotes, destaca-se a seguinte
A área em torno da Praça do Ferreira passou gra- divisão fundiária: lotes largos na face oeste, com imó-
dativamente por várias mudanças de uso, tipologias, veis de três a cinco portas258 (possibilitando uma futura
finalidades e proprietários, como também por vários verticalização), lotes bastante estreitos na face leste
melhoramentos realizados por intendentes e prefeitos. predominando casas de duas portas, com exceção do
A primeira maior interferência realizada na Praça do lote da esquina da Rua Boa Vista com a Rua Municipal259
Ferreira, outrora denominada Largo das Trincheiras257, (Figuras 178, 179 e 180).
depois D. Pedro II (1842), foi a eliminação do Beco do Quanto à finalidade, em 1872, 42 imóveis esta-
Cotovelo, realizada pelo Boticário Ferreira, permitindo vam alugados e apenas nove eram de uso próprio260,
a redefinição do seu perímetro, conforme explicado no incluindo a Câmara e o Ensino Mútuo. Quanto à tipo-
capítulo anterior na figura 34. Em 1850, na Praça Pedro logia, em torno da praça, existiam sete sobrados,
II (atual Ferreira), ainda predominava o uso residencial, havendo uma concentração na Rua da Palma (atual
conforme se pode observar na figura 175. Major Facundo), permanecendo praticamente esse
Até 1902, a praça era “cercada de copadas mongu- perfil até 1917 (Figura 181). Dos imóveis registrados,
beiras, [...] não era revestida sequer de um calçamento os herdeiros do Senador Alencar (José Martiniano
tosco. Prestavam-se essas árvores ao mister de postes de Alencar) possuíam 11; a Câmara Municipal, nove; o
para amarrar os animais dos comboios, que traziam Barão de Aquiraz (Gonçalo Batista Vieira), sete; Manuel
para os negociantes dali mercadorias do sertão (GIRÃO, Nunes de Mello, quatro; Pulcheria Izabel Teóphilo, Luiza
1959:195). A praça tinha, no seu centro, uma cacimba Amanda Rodrigues, Victoriano do Rego Toscano de
publica. Na Décima Urbana de 1872, foram inventariados Brito e Joaquim Brito de Andrade, dois cada um. Os
51 imóveis para fins de tributação, dos quais 17 eram três proprietários restantes possuíam somente um
residências, 27 edifícios comerciais, quatro edifícios de imóvel cada qual (Figuras 182 e 183).
257 “Chamavam de largo das Trincheiras ou Feira Nova para diferenciar da Feira Velha (Praça da Carolina) pois vendia produtos advindos de
Messejana e Parangaba” (ADERALDO, 1989:45). Em 1842 foi denominada de Pedro II, do Ferreira em 1871 e Municipal em 1890.
258 “Portas, em fala fortalezense, designavam portas e também janelas. Na verdade, uma ‘casa de duas portas’ era, de fato, uma ‘casa de
porta e janela’. Esses tipos de casas térreas conheceram disseminação nacional, embora recebessem nomenclatura que variava com os locais”
(CASTRO, 2007:20).
259 Onde funcionava o edifício do Ensino Mútuo, depois Guarda Civil, foi demolido em 1918 para no local ser construído o Palacete Ceará.
260 Residência do coronel Maximiano Barroso, nº 4, livraria de Joaquim José de Oliveira, nº 10, residência de Francisco Parrillo Fernandes
Bastos, nº 14, altos, residência e comércio de Manuel Nunes de Mello, nº 18, botica do farmacêutico Pedro Nogueira Borges da Fonseca, nº 24,
todos do lado oeste.
226 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Rua Boa V s a
a
Margarida Andrade.
Rua da Pa
Mapa-base: Levantamento
aerofotogramétrico da cidade
de Fortaleza, elaborado
pela Prefeitura Municipal
Tra essa Mun pa de Fortaleza (PMF) em 1973.
Fonte: Planta de 1859; Outro
Aramac, 1979; Menezes, 1992;
Castro, 1994.
Rua Boa V s a
Praça
Pedro II
o
er
C au
a do
Ru
Rua da A egr a
Rua do Fogo
Be o das Tr n e ras
0 20
10 50
LEGENDA
Uso ns u ona
Uso res den a
Uso o er a
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 227
Rua Boa V s a
a
Rua da Pa
Praça do
Ferre ra
o
er
C au
a do
Ru
0 20
10 50
LEGENDA
Praça do
Ferre ra
ro
a ue
oC
ad
Ru
0 20
10 50
LEGENDA
Bo as
Ca ba
Ta ernas
Lo as de a endas
Não den ado
Rua Boa V s a
a
Rua da Pa
Praça do
Ferre ra
ro
a ue
oC
ad
Ru
0 20
10 50
LEGENDA
Praça do
Ferre ra
ro
a ue
oC
ad
Ru
0 20
10 50
LEGENDA
Sobrados
Casas rreas
Não den ado
Ca ba
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 231
Rua Boa V s a
a
Rua da Pa
Praça do
Ferre ra
o
er
C au
a do
Ru
0 20
10 50
LEGENDA
96 Barão de A u
98 Jos Ma an
100 Manue da C
87 102 Corone Jos
e Co g o Cearens
51
96
53 2 Barão de A u ra
98
55
100 4 Ce Jos Ma
6 erd Manue da
57 8 Jos Or ano Me
102
10 Joa u Jos
12 Fran s o Ferr
87
14 F o Paur o F
Rua Mun pa e es r r o B
96
16 An n o Gonça
98
18 Manue Nunes
100
20 Manue Nunes
102
22 Barão de A u
24 Far a u o
26 Manue Nunes
Ru
28 Manue Nunes
30 Barão de A u
32 Barão de A u
34 Barão de A u
Rua Boa V s a
a
36 Barão de A u
38 Barão de A u
Rua da Pa
40 Barão de A u
42 Pu er a I ab
a
Praça do 42a Pu er a I a
Rua da Pa
Ferre ra 104 Não den a
106 Barão de A uP
108 Lu s do Car
110 Ju a M a
112 Manue Duar
114 Não den a
o
u er 87 Manue Fran
o Ca
ad 1 C ara Mun p
Ru 3 C ara Mun p
5 C ara Mun p
7 C ara Mun p
104
9 C ara Mun p
106 11 C ara Mun
104
108 13 C ara Mun
106 sn C ara Mun
110
10 50 23 erd Jos Ma
25 erd Jos Ma
27 erd Jos Ma
FIGURA 183 Exercício de reconstituição LEGENDA
cartográfica. Fortaleza 1872: numeração 29 V or ano do R
Ca ba 31 V or ano do R
da época, lotes, proprietários e usos na
33 Joa u Ben o
Praça do Ferreira. Autora: Margarida
35 erd Jos Ma
Andrade. Mapa-base: Levantamento 37 erd Jos Ma
aerofotogramétrico da cidade de Fortaleza, 39 erd Jos Ma
elaborado pela Prefeitura Municipal de 41 erd Jos Ma
Fortaleza (PMF) em 1973. Fonte: Décima 43 Joa u Ben o
LEGENDA
Urbana, 1872; Almanaque 1870. 45 Joa u Ben o
47 erd Jos Ma
Ca ba 49 Lu a A anda
51 Lu a A anda
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 233
96. Barão de Aquiraz 30. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista 51. Felícia Joaquina Dutra Macedo
Vieira) - Loja de Fazenda (Manuel Nunes de - Residência
98. José Maximiano Barroso
Melo)
53. Barão de Aquiraz
100. Manuel da Costa Moura Bravo
32. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista Vieira) - Residência
102. Coronel José Antônio Machado - (Dr. Gonçalo Batista Vieira)
55. Barão de Aquiraz
Residência (do dono) - Alto, e Colégio
34. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista Vieira) - Residência
Cearense - Baixo.
(Dr. Gonçalo Batista Vieira) - Residência
57. Jacó Ferreira da Costa - Residência
36. Barão de Aquiraz
2. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista |(Dr. Gonçalo Batista Vieira) - Residência
Vieira) - Loja de Fazenda (Manuel de Moura s/n. Ensino Mútuo
38. Barão de Aquiraz
Rolim & Sobrinho)
(Dr. Gonçalo Batista Vieira) - Residência 17. Herd. José Martiniano de Alencar
4. Cel. José Maximiano Barroso - - Taverna
40. Barão de Aquiraz
Residência (do dono)
(Dr. Gonçalo Batista Vieira) - Residência 19. Herd. José Martiniano de Alencar -
6. Herd. Manuel da Costa Moura Bravo - Loja de Louças (João de Costa Bastos)
42. Pulcheria Izabel Teófilo - Residência
Residência (José Nicolau Afonso Maia)
21. Herd. José Martiniano de Alencar -
42a. Pulcheria Izabel Teófilo - Residência
8. José Oriano Menescal - Colégio Secos e Molhados
Cearense (João Evangelista Barbosa)
10. Joaquim José de Oliveira - Livraria (do 104. Não identificado 23. Herd. José Martiniano de Alencar
dono) - Taverna
106. Barão de Aquiraz
12. Francisco Ferreira Borges - Tipografia (Dr. Gonçalo Batista Vieira) 25. Herd. José Martiniano de Alencar
Juvenal Galeno - Quitanda
108. Luis do Carmo - Livraria
14. Fco. Paurillo Fernandes Bastos - (José Maria Martins) 27. Herd. José Martiniano de Alencar - Loja
Residência - Alto (do dono) e escritório de Fazendas (Raimundo Toquarto de Araújo)
110. Julia Máxima Mendes - Galeria
- Baixo (Dr. Gonçalo de Lagos Fernandes
Fotográfica (Leal & Cia.) 29. Victoriano do Rego Toscano de Brito -
Bastos)
Latoeiro (Máximo & Freitas)
112. Manuel Duarte Pimentel - Taverna
16. Antônio Gonçalves da Justa Araújo
31. Victoriano do Rego Toscano de Brito -
- Taverna 114. Não identificado
Funileiro (Rodrigues & Freitas)
18. Manuel Nunes de Mello - Residência e
33. Joaquim Bento de Andrade - Taverna
comércio (do dono)
87. Manuel Francisco da Silva Albano
35. Herd. José Martiniano de Alencar
20. Manuel Nunes de Mello - Residência
- Residência
22. Barão de Aquiraz
37. Herd. José Martiniano de Alencar
(Dr. Gonçalo Batista Vieira)
1. Câmara Municipal - Taverna - Residência
24. Farmacêutico Pedro Nogueira Borges
3. Câmara Municipal - Loja de Fazenda 39. Herd. José Martiniano de Alencar
da Fonseca - Botica (do dono)
(Paulino Félix Bezerra) - Residência
26. Manuel Nunes de Mello - Residência
5. Câmara Municipal - Taverna 41. Herd. José Martiniano de Alencar
(Antônio Nunes de Mello)
- Residência
7. Câmara Municipal - Taverna
28. Manuel Nunes de Mello
43. Joaquim Bento de Andrade - Taverna
9. Câmara Municipal - Armazém de Secos e
Molhados (Singlehurst & Cia.) 45. Joaquim Bento de Andrade - Taverna
11. Câmara Municipal - Taverna 47. Herd. José Martiniano de Alencar -
Açougue (Pedro Rodrigues Cordeiro)
13. Câmara Municipal - Loja de Fazenda
49. Luiza Amanda Rodrigues
s/n. Câmara Municipal - Sede
51. Luiza Amanda Rodrigues - Taverna
234 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Na Décima Urbana de 1890, cresceu o número de canto nordeste), Café Iracema (no canto sudoeste) e
imóveis arrolados para 55, como resultado das subdivi- Café Elegante (no canto sudeste) (Figuras 190, 191, 192
sões, visando ao funcionamento de mais de um negócio e 193). Na face norte, entre os dois cafés, uma guarita
na mesma edificação - nos 28/28A, 30/30A, 53/55, e servia de posto fiscal da Ceará Light. Nota-se também
da nova construção, como no caso do edifício nº 44. o percurso norte-sul dos bondes puxados a burro cir-
Totalizou, assim 42 edifícios comerciais, três residências, culando na Rua da Boa Vista. O intendente Guilherme
cinco imóveis de uso misto e duas instituições, cres- Rocha, em 1902, transformou o areal num jardim cercado
cendo os imóveis comerciais de 52,19% para 76,36%, com grades de ferro na área central (Figura 189), “em
num período de 18 anos (Figuras 184 e 185). A listagem forma de paralelogramo, cortado por duas alamedas
da Décima revela uma alteração no uso comercial, com em cruz” (ADERALDO, 1989:13). Esse espaço foi denomi-
um aumento de duas boticas para cinco, e de cinco lojas nado Jardim 7 de Setembro261, onde os cafés estendiam
de fazenda para nove. Desapareceram as tavernas e suas mesas e cadeiras. No centro, um catavento puxava
surgiram lojas de molhados (7), armazéns (4), alfaiates água para molhar os canteiros, e 28 lampiões a gás os
(2), tipografia, escritório, livraria, galeria fotográfica, loja iluminavam (Figuras 194, 195 e 196).
de louça, açougue, oficina de latoeiro e funileiro (Figura Por volta de 1911, a praça não possuía mais nenhum
186). Dos imóveis mistos, três eram sobrados com lojas edifício residencial (Figura 197). Dos imóveis comerciais
no térreo e residência no pavimento superior. Quanto constatava-se uma grande diversificação de uso - far-
aos proprietários, observou-se uma redução no número mácias (seis), fábricas (cinco)262, livrarias (quatro), lojas
de imóveis de alguns deles - os herdeiros do Barão de de moda (três), oficinas de alfaiataria (duas), cinema263/
Alencar (José Martiniano Alencar) passam de 11 para teatro, posto policial264, Empresa Telefônica do Ceará265,
três; Manuel Nunes de Mello, de sete para quatro, Barão tipografia, barbearia (Figuras 198, 199 e 200).
de Aquiraz (Gonçalo Batista Vieira), de oito para sete. Na listagem dos proprietários, nota-se uma varie-
Por outro lado, a Câmara Municipal mantém nove edi- dade de nomes novos com duas propriedades: Boris
ficações e surgem novos donos com dois imóveis cada & Frères, Menescal & Ribeiro, Machado Coelho & Cia.,
um - Pulcheria Izabel Teóphilo, Luiza Amanda Rodrigues, Ildefonso Correia Lima, Luis do Carmo e Silva, Joa-
Victoriano do Rego Toscano de Brito e Joaquim Brito de quim de Oliveira Torres, José Agostinho, Joaquim Sá,
Andrade. Os três proprietários restantes (três) possuíam Hyppolito Gomes Brazil (padre), Thereza de Oliveira
somente um imóvel cada um (Figura 187). Pamplona, Virgílio Augusto de Moraes, Joaquim Bento
Confrontando as Décimas Urbanas de 1872 e 1890, de Souza Andrade (herdeiros), Maria Ephigenia de Aze-
constata-se que o aluguel de alguns imóveis diminuiu vedo e Sá. Nesse cenário, a exceção eram os herdeiros
o preço: nº 2 (100$000 para 75$000), nº 42 (60$000 do Barão de Aquiraz, com três imóveis. Notam as linhas
para 42$200), nº 33 (80$000 para 20$000), e que os de bondes puxados a burro circulando na Rua Floriano
imóveis mais caros situavam-se, ao longo dos anos, na Peixoto (no sentido Praia-norte); no sentido sul (estação
face oeste, “lado da sombra”(Figura 189). do Bonde, Alagadiço e Matadouro); e na Rua Municipal,
A partir de 1896, foram construídos quatro quiosques no sentido da estação do Trem (oeste) e no sentido do
de madeira nos quatro cantos da praça, denominados: Outeiro (leste). Não existe alteração na tipologia da
Café Comércio (no canto noroeste), Café Java (no praça entre 1890-1911.
261 As praças de Fortaleza, ao serem urbanizadas, recebiam dois nomes, o da Praça e do Jardim.
262 Chapéu de Sol, Cigarro, Refinação (2) e Refinação e Torrefação (1).
263 O primeiro cinema fixo de Fortaleza, o Cinematográfico Art Nouveau, (1908-1914), de propriedade do italiano Victor di Maio, localizado no
canto sudoeste da praça. Outro cine-teatro é o Polytheama, do empresário José de Oliveira Rola. http://www.memoriadocinema.com.br/.
264 O edifício do Ensino Mútuo passa a ser ocupado pelo Posto Policial.
265 O responsável técnico holandês John Petter Bernard chega a Fortaleza para instalar a Empresa Telefônica por iniciativa empresarial de
Confúcio Pamplona. Sua inauguração acontece em 10 de setembro de 1891.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 235
Rua Boa V s a
Praça do
Ferre ra
o
er
C au
a do
Ru
Rua Co end Lu R be ro
0 20
10 50
LEGENDA
Uso ns u ona Ru na
Uso res den a L n a dos bondes
Uso o er a Ca ba
Uso so
236 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Rua Boa V s a
Praça do
Ferre ra
o
er
C au
a do
Ru
Rua Co end Lu R be ro
0 20
10 50
LEGENDA
Sobrados Ca ba
Casas rreas
Ru na
L n a dos bondes
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 237
Rua Boa V s a
Praça do
Ferre ra
o
er
C au
a do
Ru
Rua Co end Lu R be ro
0 20
10 50
LEGENDA
Bo as A a a ar as
Lo as de Mo ados Ru na
Ar a ns L n a dos bondes
Lo as de Fa endas Ca ba
e Moda
238 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
87
96 Tra
96 Pau no Joa u
98 98 Jos 89
Corre a do
100 100 Lu sa A anda
91
102 Neg Gerson G
93 93a
Pra a
87 48 102 2 Jos Abdon da S
4 S no da S e ra
51
6 M da San a Ma a
96 Tra essa Boa V s a 53 8 E pregado P b R
98 10 Joa u Jos d
89 55
12 Fran s o Ferre
100 91 14 Dr Gonça es S
93 93a 57 16 erd D r o Te e
18 Neg por Ernes
102
2 20 Barão de A u ra
Rua Ma or Fa undo
28 a Á aro Lea de
97 Barão de A u ra
30 95 Barão de A u
32 Barão de A u ra
34 Barão de A u ra
36 Barão de A u ra
38 Barão de A u ra
Rua Ma or Fa undo
40 Barão de A u ra
Rua Boa V s a
42 Pu er a I abe
44 50 Pu er a I a
s n s n s n Pu e
52 Barão de A u ra
108 Lu s de Cas ro
110 Barão de Ib ap
112 Ru na
114 Barão de Ib ap
a do
Ru 108 89 In end n a
95
91 In end n a
110 93 In end n a
93a In end n a
Rua Co end Lu R be ro 97
104 1 In end n a Lo a
59
112 3 In end n a Lo a
106
114 5 In end n a Lo a
61 7 In end n a Lo a
108 95 50 9 In end n a Lo a
Es ação A agad ço Ma adouro
sn 11 In end n a Lo
110 sn
sn 13 In end n a Lo
15 In end n a Lo
Rua Co end Lu R be ro 97 52 s n Paço Mun pa
112
51 Fran s a A
114
53 T o Nunes de M
0 20 55 An n o Manoe
57 2 Fe o Du ra d
10 50
17 29 Es o a Es ad
19 Jos An n o de
FIGURA 187 Exercício de reconstituição LEGENDA 21 Loure ro Ir ão
cartográfica. Fortaleza, 1890: numeração da 23 João da Cos a B
época, lotes, proprietários e usos ao redor da L n a dos bondes 25 Barão de A en a
Praça do Ferreira. Autora: Margarida Andrade. 27 Ana A e andra L
Mapa-base: Levantamento aerofotogramétrico Ca ba 29 Barão de A en a
da cidade de Fortaleza, elaborado pela 31 Barão de A en a
33 F o Lopes Ferr
Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF) em
35 Con o Pa p
1973. Fonte: Décima Urbana, 1890; Inventários;
LEGENDA 37 Con o Pa p
Almanaque 1900; Aderaldo, 1989. 39 F o Lopes Ferr
L n a dos bondes 41 An n o Do ng
43 Dr V rg o Augu
Ca ba 45 Dr V rg o Augu
47 Dr Joa u Ben
49 Dr Joa u Ben
51 An n o Do ng
53 M Ip gen a de
55 M Ip gen a de
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 239
96. Paulino Joaquim Barroso - Residência e 97. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista 51. Francisca Amélia Santabaía - Loja de
Loja de Moda Vieira) - Oficina de Barbeiro Fazenda
98. José Correia do Amaral - Loja de Moda 30/95. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo 53. Tito Nunes de Melo - Residência (Neg.
Batista Vieira) - Secos e Molhados Manoel Antônio Rodrigues)
100. Luisa Amanda Rodrigues - Loja de
Fazenda e Moda 32. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista 55. Antônio Manoel da Costa - Loja de
Vieira) - Oficina de Alfaiate Fazenda
102. Neg. Gerson Gradvhol - Residência e
Armazém 34. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista 57/2. Felício Dutra de Macedo
Vieira) - Tipografia
36. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista
2. José Abdon da Silva - Botica 17/29. Escola Estadual
Vieira) - Residência
(Farmacêutico Carlos Studart) 19. José Antônio de Souza - Loja de
38. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista
4. Silvino da Silveira - Residência e Oficina Fazenda
Vieira) - Oficina de Barbeiro
de Alfaiate 21. Loureiro Irmão & Cia. - Loja de Fazenda
40. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista
6. Mª da Santa Maia - Farmácia 23. João da Costa Bastos & Filho - Loja de
Vieira) - Residência
8. Empregado Público João Severiano Louça
42. Pulcheria Izabel Theóphilo - Oficina de
Ribeiro - Residência (do dono) 25. Barão de Alencar - Armazém
Barbeiro
10. Joaquim José de Alencar - Residência e 27. Ana Alexandra Lima - Loja de Molhados
44/50. Pulcheria Izabel Theóphilo
Livraria (do dono)
- Armazém 29. Barão de Alencar - Venda de Carne
12. Francisco Ferreira Borges - Farmácia (Açougue)
s/n, s/n, s/n. Pulcheria Izabel Theóphilo
14. Dr. Gonçalves Souza Fernandes Bastos - Quartos 31. Barão de Alencar - Armazém
- Residência e Comércio
52. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista 33. Fco. Lopes Ferreira Francy - Loja de
16. Herd. Dário Teles Menezes - Farmácia Vieira) - Oficina de Barbeiro Molhados
18. Neg. port. Ernesto Prisco Vidal - 35. Confúcio Pamplona - Residência
Residência e Agência de Loteria
104. Álvaro Leal de Miranda - Residência 37. Confúcio Pamplona - Residência e
20. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista (do dono) Armazém
Vieira) - Residência (do dono) e Agência de
106. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista 39. Fco. Lopes Ferreira Francy - Residência
Leilões
Vieira) - Residência (Neg. Antônio de e Armazém
22. Barão de Aquiraz (Dr. Gonçalo Batista Oliveira Borges)
Vieira) - Oficina de Ouriversaria 41. Antônio Domingues dos Santos Silva -
108. Luis de Castro e Silva - Residência (do Loja de Fazenda
24. Luis do Carmo e Silva - Farmácia dono)
43. Dr. Virgilio Augusto de Moraes
26. Fco. Nunes Teixeira de Melo - Oficina de 110. Barão de Ibiapaba (Joaquim da Cunha - Tipografia
Relojoeiro Freire) - Residência e Bodega
45. Dr. Virgilio Augusto de Moraes - Loja de
28. Álvaro Leal de Miranda - Residência 112. Ruína Molhados
28a. Álvaro Leal de Miranda - Oficina de 114. Barão de Ibiapaba (Joaquim da Cunha 47. Dr. Joaquim Bento de G. de Andrade -
Ouriversaria Freire) - Residência Venda de Carne (Açougue)
49. Dr. Joaquim Bento de G. de Andrade -
87. Não identificado Armazém de Representação
Praça do
Ferre ra
o
er
C au
a do
Ru
0 20
10 50
LEGENDA
Rua Boa V s a
Praça do
Ferre ra
ro
a ue
oC
ad
Ru
Rua Co end Lu R be ro
0 20
10 50
LEGENDA
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
Jard
7 de Se e bro
s
rge
Bo
D r P
C3 C4
Rua
0 20
10 50
LEGENDA
FIGURA 191 [EM CIMA, À ESQ.] FIGURA 194 [EM CIMA, À DIR.]
O Café do Comércio, situado na O Café Iracema, situado na esquina
esquina noroeste da Praça do sudoeste da Praça do Ferreira,
Ferreira. Fonte: Arquivo Nirez. 1908. Fonte: Álbum de vistas do
Estado do Ceará, 1908.
FIGURA 192 [NO MEIO, À ESQ.]
O Café Java, situado na esquina FIGURA 195 [NO MEIO, À DIR.]
nordeste da Praça do Ferreira, Aspecto parcial do Jardim 7 de
1908. Fonte: Álbum de vistas do Setembro (Praça do Ferreira),
Estado do Ceará, 1908. realizado pelo intendente
Guilherme Rocha, em 1902.
FIGURA 193 [EMBAIXO, À ESQ.] Fonte: Arquivo Nirez.
O Café Elegante, situado na
esquina sudeste da Praça FIGURA 196 [EMBAIXO, À DIR.]
do Ferreira. À esquerda, Alameda central do Jardim 7 de
o Cine Majestic (1918). Setembro (Praça do Ferreira),
Fonte: Arquivo Nirez. realizado pelo intendente Guilherme
Rocha em 1902. Fonte: Arquivo Nirez.
244 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Jard
7 de Se e bro
P s
rge
Bo
C3 C4
0 20
10 50
LEGENDA
Far as F br as
L rar as F gura 200 Far a Ga eno o a ada Praça do
Ca a en o Ferre ra n 24 1911 per en en e Perd gão Nogue ra
A a a ar as Fon e Ar u o N re
C ne as L n a dos bondes
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 245
A partir de 1913, com a inauguração dos bondes O Cine Majestic, uma das quatro268 reminiscências
elétricos, a praça torna-se o centro de articulação da das obras de arquitetura de ferro importadas, inau-
área central com vários bairros. Ao longo desse período, gurado em 14 de julho de 1917, de propriedade de Luis
segundo Mozart Soriano, nela “pulsou por dilatado Severiano Ribeiro, foi destaque de muitas fotografias da
período o coração da cidade, com seus quiosques, seus época. Era constituído de dois blocos independentes,
cafés, suas casas de pasto, sua livrarias, seus cinemas,
seus bancos, seus jardins, suas árvores.” (1989:81). A o bloco da frente, provavelmente projetado por José
numeração266 das praças independia das ruas que as Gonçalves da Justa e construído com alvenaria de
contornavam (Figura 201), porém essa situação se altera tijolos, voltava-se para a Praça do Ferreira. Tinha o
a partir de 1917, com a introdução de um novo método, pavimento térreo dividido em dois setores, funcio-
ou seja, a numeração passa a ser corrida pelas ruas nando um deles como entrada e sala de espera do
norte-sul e leste-oeste, trazendo grandes alterações cinema, enquanto o outro era ocupado por uma cer-
nos números dos imóveis (Figura 202). Em algumas pro- vejaria. Os andares superiores, embora destinados a
pagandas das lojas, nos almanaques, nota-se a menção uso comercial, eram alugados para morada. O bloco
do número “antigo” e do “moderno”. dos fundos destinava-se à casa de espetáculos.
A área da praça já esboçava uma tendência à verti- Estendendo-se até a Rua Barão do Rio Branco, cons-
calização, desde a primeira metade do século XIX. Dois tituía uma edificação construtivamente compósita:
sobrados haviam sido construídos - a casa da Câmara exteriormente envolvida por redes de alvenaria de
(antiga residência do Pachecão) e o sobrado do Cel. tijolos, tinha os interiores resolvidos por meio de
Machado (Figura 203). Na década de 1910, inicia-se, uma estrutura metálica (CASTRO, 1992:72).
de fato, a verticalização com construções de mais
de dois pavimentos, como o Cine Majestic267 (1917, na A praça do Ferreira mereceu outra grande reforma
face oeste) (Figuras 204 e 205), Cine Moderno (1921), na administração de Godofredo Maciel, em 1925, quando
arrendado por Luiz Severiano Ribeiro (Figura 206), e o foram retirados os quiosques de café, e a’ pra’ça recebeu
Palacete Ceará, 1918, na esquina com a Rua Guilherme um “amplo piso ladrilhado com mosaicos” sendo “erguido
Rocha, demonstrando também uma modernização do um coreto que servia de tribuna nas manifestações públi-
lazer em torno da praça. Quanto ao uso comercial, cas” (CASTRO, 1987:232) (Figuras 208 e 209). O relatório
constata-se uma concentração de armazéns de estivas, dos serviços, obras e melhoramentos executados pela
cereais e miudezas (10) principalmente na face leste Prefeitura durante o período de 1924 a 1928, assinado
da praça, casas de moda (7), Farmácias (2), cinemas e pelo arquiteto municipal Rubens Franco da Silva, destaca
teatros (3) (Figura 207). alguns ítem sobre a Avenida 7 de Setembro:
266 Como foi visto, a numeração das praças independia das ruas que as contornavam, porém essa situação se altera a partir de 1917, com
um novo método, ou seja, a numeração passa a ser corrida pelas ruas norte-sul e leste-oeste, trazendo grandes alterações nos números dos
imóveis. Em 29 de outubro de 1890, o Conselho de Intendência Municipal aprovou uma resolução para alterar os nomes das ruas e travessas
por números, como se observa no artigo 1º Fica suprimida a denominação existente das ruas da cidade e substituída por numeração, pela
forma assim determinada: da Rua Formosa para o nascente, todas as ruas serão ímpares, e para o poente, pares; do Boulevard Duque de Caxias
para o norte, ímpares, e para o sul, pares. “Pouco durou aquela Resolução, aprovada (29-X-1890) pelo Conselho de Intendência Municipal de
Fortaleza” (PORDEUS, 1963:346).
267 Em 1917, Luiz Severiano Ribeiro dá início a sua parceria com Plácido Carvalho, ao arrendar dele o “Cine-Theatro Majestic-Palace, através
da firma Ribeiro & Cia. Essa parceria ainda se repetiria, em relação a salas de exibição de cinema, mais duas vezes: quando dos arrendamentos
dos prédios do Cine Moderno e do Cine Luz, pertencentes a Carvalho (VIANA, 2010: 217).
268 As outras três: Igreja do Pequeno Grande (1903), Mercado de Ferro (1897) e o Teatro José de Alencar (1910-1912).
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 247
c) Nos lados leste e oeste, foram construídos sal- o Palácio do Governo e a Assembleia Legislativa; no
va-vidas com 85,0m de comprimento por 3,24m do comércio, as melhores lojas, padarias, farmácias
de largura, “os quais servem não só para refúgio e hotéis. Não muito distante, havia ainda um setor
de pedestres, como também para espera segura residencial de boa qualidade, alimentando a fre-
de bondes e automóveis” (PMF, 1927:90). quência noturna, sustentada pelo serviço de bondes
(CASTRO, 1982a:29).
d) “Separando a avenida dos salva-vidas foram
construídas, para uso de automóveis duas Confirmam esta asserção os vários editais publicados
alamedas de 5,25m de largura por todo o com- pela Polícia do Estado do Ceará – Inspetoria Geral do
primento da praça” (PMF, 1927:91). Veículo, regulamentando o trânsito em torno da Praça
do Ferreira sobre as vias consideradas contramão e os
e) No interior da praça, foram distribuídos sete estacionamentos proibidos.
canteiros gramados, medindo cada um 14,0m Em 1931, a Prefeitura Municipal de Fortaleza adotou
por 3,0m, e construído um coreto para retretas, as seguintes modificações no serviço de tráfego de
“com colunas e balaustradas de cimento armado veículos referente à Praça do Ferreira :
e forma octogonal alongada” (PMF, 1927:91).
1. Nenhum auto-ômnibus ou bonde estacionará na
Nesse momento, “toda a cidade convergia para lá: Praça do Ferreira, senão o tempo estritamente
os bondes, os ônibus, os carros de aluguel antecessores necessário para deixar ou receber passageiro e
dos táxis” (GIRÃO, 1997:171) (Figura 210). Em 1923, por somente nos locais determinados neste edital,
meio do Edital nº 3, é estabelecido o preço de 5.000 sendo proibido aos guiadores abandonarem ali
réis para as corridas dos carros de aluguel, grandes a direção dos seus veículos.
e pequenos, “quando tomados à Praça do Ferreira ou
nas garagens; quando chamados em domicílio, custará 2. Os ômnibus de “São Gerardo” e “Joaquim Távora”
10$000”. Entenda-se por corrida a viagem direta entre deverão receber e deixar passageiros no quartei-
dois pontos da cidade, tomando-se como referência as rão da Rua Dr. Pedro Borges, lado sul da Praça
linhas dos tramways da Light, “com excepção, porém, do Ferreira e não poderão contorná-la, devendo
das estradas do Alagadiço, Mecejana e Outeiro, que voltarem pela Rua Major Facundo.
sofrem o accréscimo de 60% além do Matadouro, Esta-
ção de Bondes e Collégio Militar, respectivamente (Edital 3. Os ômnibus de “João Pessoa” e “Escola de
nº 3, de 8 de janeiro de 1923). Aprendizes Marinheiros” receberão e deixarão
A praça, na década de 1930, passageiros no quarteirão da Rua Cel. Guilherme
Rocha, lado norte da Praça do Ferreira, depois
era a própria cidade, reunindo em si as mais diversas de terem feito o contorno desta.
funções, se não todas, pelo menos se se extrapo-
lasse a periferia do circuito para uma faixa de 100 4. Os ômnibus de “Redenção”, “Guaramiranga’,
metros de envolvência. No campo dos transportes, “Maranguape”, “Soure” e “Mecejana” farão o esta-
havia bondes, ônibus e automóveis; no do lazer, cine- cionamento à Rua Dr. Pedro Pereira, no trecho
mas269, clubes, confeitarias, cafés, retretas, footing, compreendido entre as ruas da Assunção e Major
bilhares, bares e casas de jogos de azar; no do poder, Facundo, não podendo transitarem pela Praça
a Câmara Municipal e, nas proximidades, a Prefeitura, do Ferreira (Edital nº 30 da PMF, de 17/11/1931).
96 Joa u Barroso C
98 Jos Corre a do A
Pra a
100 G Grad o F
87 48
102 M R Corde ro
51
96 Tra essa Boa V s a 53 2 Bor s Fr res Ma son
Pra a
98 4 T o e A de Mo a B
89 5587 48
6 Menes a R be ro
100 91 51 8 Menes a R be ro
93 96 57Tra essa Boa V s a 53 10 Dr Eduardo S udar
102 98 89 12 Ma ado Coe o
55
2
100 91 14 Ma ado Coe o
93 16 E a Borges do A
Ben a F V e ra Moror V a F rrea Rua Mun pa 57
18 Dr Ide onso Correa
102 Ou e ro
29 2 20 Dr Ide onso Correa
C1 C2 22 erd Dr An Augus
Ben a F V e ra Moror V a F rrea Rua Mun pa 24 Lu s do Car o e S
29 26 erd F o Nunes de
C1 C2 28 Lu s do Car o e S
104 Á aro Lea de M ra
106 Andr Ba s a V e ra
108 Res d n a
Rua F or ano Pe o o 110 Bor s Fr res Espe
Rua Ma or Fa undo
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
C3 C4 D r P Bo den
52 Não ado
a P
C3 Ru C4
a Dr52a Não den ado
Ru
48 João Fran s o A ba
87 Jos A bano F o
104
104 59
59
106 89 Não den ado
106
91 Não den ado
108 61 61
95 108 93 Não den ado
Es ação A agad ço Ma adouro
95
Es ação A agad ço Ma adouro
110 110
1 In end n a Casa E
96. Joaquim Barroso - Casa Importadora 97. Não identificado 51. Antônio Ferreira e Sá
(do dono) 30a. Joaquim de Oliveira Torres - Farmácia 53. Marcos Dias & Cia.
98. José Correia do Amaral - Casa Moura (Francisco Borges Moura) 55. João Carvalho
Importadora Reishofer Frères 30/95. Joaquim de Oliveira Torres - Zuca 55a. João Carvalho - Tipografia A República
100. G. Gradvhol & Filho Accioly (José da Cunha Accioly)
57. Chefatura de Polícia
102. M. R. & Cordeiro - Agência e Dentista 32. Herd. Barão de Aquiraz - Armazém de
Estivas (Braga Barroso & Cia.)
34. Herd. Barão de Aquiraz - Alfaiataria 17. Posto Policial
2. Boris Frères - Maison Art Nouveau (A.
(Amâncio Cavalcante & Irmão) 19. Mª de Medeiros Marques - Costa & Filho
Pequeno & Cia.)
36. Herd. Barão de Aquiraz - Alfaiataria 21. Antônio Augusto Loureiro - Loureiro
4. Thomé A. de Motta - Barbearia Izidro
(Amâncio Cavalcante & Irmão) Irmão & Cia.
6. Menescal & Ribeiro - Livraria Menescal
38. José Augustinho - Fumo e corda 23. João da Costa Bastos
(do dono)
(Alfredo Gurgel)
8. Menescal & Ribeiro - Livraria Menescal 25. Mª Izabel de Castro Vidal - Empório da
40. José Augustinho - Loja de Secos e Moda (R. Liberato & Cia.)
(do dono)
Molhados (Alfredo Gurgel)
10. Dr. Eduardo Studart - Livraria Cearense 27. Herd. Raimundo Paula Lima - A. Martins
42. Pulcheria Izabel Theophilo - Barbearia & Cia.
(H. Barroso & Cia.)
(Fenelon Pereira Maia)
12. Machado Coelho & Cia. - Polytheama 29. Padre Hyppolito Gomes Brazil - J. R. da
44. Joaquim Sá - Casa de Bilhares Costa
14. Machado Coelho & Cia. - Farmácia
46. Joaquim Sá - Refinação e torrefação 31. Padre Hyppolito Gomes Brazil - Mundo
16. Emília Borges do Amaral - Farmácia Elegante
52. Não identificado
Pasteur (Prático Eduardo de Castro
Bezerra) 52a. Não identificado 33. Raymundo Maciel - J. D. Oliveira
18. Dr. Ildefonso Correa Lima - Livraria (H. 35. Thereza de Oliveira Pamplona -
Barroso) Empresa Telefônica
48. João Francisco Albano
20. Dr. Ildefonso Correa Lima - Fábrica de 37. Thereza de Oliveira Pamplona -
87. José Albano Filho A Graciosa (Correia Pinto)
chapéu de sol (J. Motta)
22. Herd. Dr. Ant. Augusto de Menezes - 39. Fco. Ferreira Lopes Francez -
Loja Esperança (Xavier Pinto & Irmão) 89. Não identificado J. Leopoldina Silva
24. Luis do Carmo e Silva - Farmácia 91. Não identificado 41. Joaquim da Silva Frota - Aurão Amaral
Galeno (Perdigão Nogueira) 93. Não identificado 43. Dr. Virgílio Augusto de Moraes -
26. Herd. Fco. Nunes de Mello - Farmácia American Typograph
Central (José Motta Studart) 45. Dr. Virgílio Augusto de Moraes -
1. Intendência - Casa Emygdio
28. Luis do Carmo e Silva - Farmácia Siqueira & Oliveira
3. Intendência - Loja Crisântemo
Normal 47. Herd. Joaquim Bento de Souza Andrade
5. Intendência - Rotisserie - Leitão Irmão & Cia.
104. Álvaro Leal de Miranda
7. Intendência - Lopes & Cia. 49. Herd. Joaquim Bento de Souza Andrade
106. André Batista Vieira - Farmácia
Amorim (João Soares Amorim) 9. Intendência - Lopes & Cia. - Leitão Irmão & Cia.
108. Residência 11. Intendência - Fábrica de cigarros 51. Luiz Mosca - Tabacaria Havanesa
Filomeno Lopes Filho 53. Mª Ephigenia de Azevedo Sá - Adolpho
110. Boris Frères - Especialidade em
bicicleta (João Nery) 13. Intendência - Livraria Araújo Justi
162 96 a Joa u
166 98 Re s o er Fr
Rua F or ano Pe o o
236 112 Não den
Rua Ma or Fa undo
e s 38 38 R Agos n o
B org 40 40 R Agos n o
r P s
42 42 C Cades
D e
rg ero Coe
C3 C4
a 44 44 oAn
Ru B
C4 Dr 46P46 An ero Coe
C3 a
Ru
52 Não den ado
52a Não den ado
48 A bano Ir ão
157 87 A bano Ir
225
167 89 J Mar an C
225
171 91 F Ca n aM
173 93 J E d o de
Rua das Tr n e ras 227 52 52a 225 95 Não den a
Rua das Tr n e ras 227 52 52a 227 221 Não den
236
236
240 sn1 E gd o Ir
240
0 20
0 46 3 M
20 Gu er e
10 50 48 5
10 Jos Cas e o B
50 7 J Lopes Ca
52 9 Ludgero Gar a
LEG
FIGURA E Exercício
202 NDA de LEGENDA
54 11 Taba ar a Cas
reconstituição cartográfica.
56 13 Não den ad
Ca do
Fortaleza Conovar numeração
1917: o Arrenda Ca do Co r o ArrendaCa
ao r o J F Ra os r oa Jen
F oRa os Ca a en o
56 15 Não den ad
redor da Praça do Ferreira. Autora: Ca Ja a Arrenda r o O d o Leopo d no da S a L n a dos bondes
Ca Ja a Arrenda r o O d o Leopo d no da S a L n a dos bondes s n Paço Mun pa
Margarida Andrade. Mapa-base:
Levantamento Ca Ira e a Arrenda r o Jos Guerre ro
Ca Ira e aerofotogramétrico
a Arrenda r o Jos Guerre ro
da cidade de Fortaleza, elaborado Ca A en da Arrenda r o E er Ca
Ca
pela A en da
Prefeitura Arrenda r o E er
Municipal Ca
de Fortaleza (PMF) em 1973.
Fonte: Almanaque 1916 e 1917.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 251
162 (96). Viúva Joaquim Barroso - Casa 34 (34). Viúva Amâncio Cavalcante - 175 (17). Palacete Ceará - Altos: Clube
Importadora (do dono) Alfaiataria Amâncio (do dono) Iracema / Baixos: Rotisserie Sportmar
(Júlio Pinto)
166 (98). Reishofer Frères - Casa 36 (36). A. Medeiros
Importadora (do dono) 175 (19). Palacete Ceará - Altos: Clube
38 (38). R. Agostinho - Casa de fumo (do
Iracema / Baixos: Rotisserie Sportmar
170 (100). Mario Campos & Cia. dono)
(Júlio Pinto)
174 (102). Luis Severiano Ribeiro - Riche 40 (40). R. Agostinho - Loja de Secos e
179 (21). Agência de loteria nacional (Dr.
Cinema Molhados (Vieira Gurgel & Cia.)
Edgar A. Borges)
42 (42). C. Cades
181 (23). R. Liberato & Cia. - Armazém de
178 (2). Maison Riche Salão de Bilhar 44 (44). Anthero Coelho Arruda estivas, cereais e miudezas (Loureiro & Cia.)
(Ribeiro & Cia.) 46 (46). Anthero Coelho Arruda 183 (25). R. Liberato & Cia. - Armazém de
180 (4). Luis Gonthier & Cia. - Casa (52). Não identificado estivas, cereais e miudezas (Loureiro & Cia.)
exportadora e importadora (Solon &
(52a). Não identificado 185 (27). Luiz Perdigão Bastos - Loja de
Valente) e Restaurante A Gruta (Theophilo
moda (R. Liberato & Cia.)
Cordeiro)
187 (29). Dr. Edgar Augusto Borges -
186 (6). Souza Gentil & Cia. - Loja de louça, (48). Albano & Irmão
Armazém de estivas, cereais e miudezas (V.
vidro e miudezas (F. Rosa & Cia.)
157 (87). Albano & Irmão Castro & Cia.)
188 (8). Souza Gentil & Cia. - Livraria e
189 (31). Abdon Hissa - Armazém de
papelaria (do dono)
167 (89). J. Markan - Casa de Moda Bazar estivas, cereais e miudezas (Menna Barreto
192 (10). Efrem Gondim - Livraria e & Cia.)
Cearense (J. Lopes & Cia.)
papelaria (do dono)
171 (91). F. Caminha Muniz - Casa de Moda 191 (33). Fenelon Pereira Maia - Barbearia
194 (12). Luis Severiano Ribeiro - Teatro e (do dono)
Republicana (do dono)
cinema Polytheama (Raimundo Lima)
173 (93). J. Emídio de Castro 193 (35). Empresa Telefônica (J. de Oliveira)
198 (14). Casa importadora (Machado
225 (95). Não identificado 195 (37). Conrado Cabral & Cia.
Coelho & Cia.)
227 (221). Não identificado 199 (39). J. Leopoldina Silva - Armazém de
202 (16). Farmácia Pasteur (Eduardo
estivas, cereais e miudezas (do dono)
Bezerra & Cia.)
201 (41). J. Patrício & Cia. - Casa de
208 (18). Luis Severiano Ribeiro - Teatro e s/n (1).. Emygdio & Irmão - Casa de moda ferragem (do dono)
cinema e casa de cômodos Majestic (do dono)
203 (41). Armazém de estivas, cereais e
210 (20). Não identificado 46 (3). M. Guilherme & Irmão - Loja miudezas (Fco. Vieira Perdigão)
212 (22). Almeida & Cia. - Casa Almeida (do Crisântemo (A. Nunes Valente)
205 (43). Silva, Costa & Cia. - Armazém de
dono) 48 (5). José Castelo Branco estivas, cereais e miudezas (A. Simões &
214 (24). Joaquim Studart da Fonseca - 50 (7). J. Lopes & Cia. - Casa exportadora e Cia.)
Farmácia Galeno (do dono) importadora (do dono) 207 (45). Leitão & Silva - Armazém de
216 (26). Alfaiataria e Barbearia ABC - 52 (9). Ludgero Garcia - Joalheria Suissa estivas, cereais e miudezas
Alfredo Guimarães (Luiz Gonthier & Cia.) 209 (47). Leitão & Silva - Armazém de
220 (28). Jayme Studart - Farmácia Normal 54 (11). Tabacaria Castelo estivas, cereais e miudezas
(Armando Theophilo Marçal)
56 (13). Não identificado 211 (47). Vasconcelos & Cia. - Armazém de
222 (104). Não identificado estivas, cereais e miudezas
56 (15). Não identificado
224 (106). Não identificado 213 (49). Zahlouth & Cia.
(s/n). Paço Municipal
230 (108). Residência 215 (51). Gity Club
234 (110). Não identificado 217 (53). H. R. de Oliveira - Casa de
161 (51). Casa de moda
Ferragem (Alencar & Saboya)
(Antônio Ferreira e Sá)
236 (112). Não identificado 219 (55). H. R. de Oliveira - Casa de
163 (53). Casa importadora
Ferragem (Alencar & Saboya)
240 (114). Não identificado (Marcos Dias & Cia.)
225 (57). Não identificado
165 (55). Casa de moda - Rosa dos Alpes
(João Carvalho)
(97). Não identificado
169 (55a). R. Liberato & Cia. - Casa de moda 219 (59). Anthero Irmão & Cia. - Refinação
30 (30a). Não identificado
El Contato (A. Ferreira Sá) e torrefação Santa Isabel (Joaquim Sá)
30 (30/95). José Guerreiro - Casa de
173 (57). Olsen & Irmão - Casa de moda - (61).. Não identificado
Ferragens (Antônio de Oliveira & Cia.)
Rosa dos Alpes (João Carvalho)
32 (32). Alfredo Guimarães - Armazém de
estivas, cereais e miudezas (Braga, Barroso,
Andrade & Cia.)
252 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
Jard
7 de Se e bro
s
rge
Bo
C3 C4 D r P
Rua
0 20
10 50
LEGENDA
Ar a de es as erea s e ude as
Casa de oda
Tea ro e ne a L n a dos bondes
Far as Ca a en o
254 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
Praça do
Ferre ra
s
rge
Bo
r P
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Ru
0 20
10 50
LEGENDA
Praça do
Ferre ra
Rua Gu er e Ro a
s
rge
Bo
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Rua
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
sa Praça do
Ferre ra
Rua das Tr n e ras
0 20
o a 10 50
rges
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LEGENDA
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0 20
10 50
s
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es as erea s e ude as L Brar
P
a a Dr L n a dos bondes
Ru
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256 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Rua Ma or Fa undo
230 108 R be ro u
234 110 Ca E dg
236 112 Lo a de a ç
240 114 Não den
Praça Pr
do Ferre ra 97 Não den do Feado
30 30 Mer ad n o To
30 30 Para Todos
30 30 Fo o Sa es
32 32 Ar a de e
34 34 A a a ar a A
s
o rge 36 36 Mo dura Ceare
r PB 38 38 Casa de u o
aD 40 40 Lo a de Se os
Ru 42 42 Far a V da
44 44 Casa de Moda
44 46 Casa de Moda
52 Não den ado
52a Não den ado
48 A bano Ir ão
157 87 Casa For e
236 236
s n 1 Casa de oda
240 240
46 3 Lo a Cr san e
0 20
48 5 Jos Cas e o B
10 50
50 7 Es r roT eI
52 9 Joa er a Su ss
56 11 Não den ad
L E210
FIGURA G EExercício
NDA de reconstituição LEGENDA
58 13 Não den ad
cartográfica. Fortaleza, 1920: numeração,
58 15 Não den ad
De o ção e usos ao redor da
lotes, proprietários De o ção sn C ara Mun pa
Praça do Ferreira. Autora: Margarida
L n a dos bondes e r os L n a dos bondes e r os
Andrade. Mapa-base: Levantamento
aerofotogramétrico
Core o da cidade de Core o
Fortaleza, elaborado pela Prefeitura
Municipal de Fortaleza (PMF) em 1973.
Fonte: Almanaque 1920 e 1922; Aderaldo,
1989; Imposto Predial 1922.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 257
162 (96). Casa importadora (Benoit Levy & (97). Não identificado 169(55a). Casa de moda El Contato (A.
Cia.) 30 (30). Mercadinho Torres
Ferreira Sá)
166 (98). Casa Importadora (Reishofer 30 (30). Para Todos
171(55a). Casa de moda Olsen (Olsen &
Frères) Irmão)
30 (30). Foto Sales
170 (100). Demolido para construção do 173 (57). Casa de moda Rosa dos Alpes
Excélsior Hotel. 32 (32). Armazém de estivas, cereais e (João Carvalho)
miudezas (Braga, Barroso, Andrade & Cia.)
174 (102). Demolido para construção do 175 (17). Palacete Ceará - Altos: Clube
Excélsior Hotel. 34 (34). Alfaiataria Amâncio (viúva Amâncio Iracema / Baixos: Rotisserie Sportmar
Cavalcante) (Júlio Pinto)
36 (36). Moldura Cearense (A. Medeiros)
178 (2). Maison Riche (Pedro Eugenio & Cia.)
38 (38). Casa de fumo (R. Agostinho) 175 (19). Palacete Ceará - Altos: Clube
180 (4). Casa exportadora e importadora
40 (40). Loja de Secos e Molhados (Vieira Iracema / Baixos: Rotisserie Sportmar
(Solon & Valente)
Gurgel & Cia.) (Júlio Pinto)
Restaurante A Gruta (Theophilo Cordeiro)
42 (42). Farmácia Vidal 181 (23). Casa de moda El Contato (Cauby
186 (6). Casa importadora de louças, vidro Ribeiro & Cia.)
e miudezas e Livraria Americana 44 (44). Casa de Moda Maranguape
(Agapito Sales & Cia.) 183 (25). Casa de moda El Contato (Cauby
(Sousa Gentil & Cia.) Ribeiro & Cia.)
44 (46). Casa de Moda Maranguape
188 (8). Casa importadora (Sousa Gentil) (Agapito Sales & Cia.) 185 (27). Casa de moda Empório Moda
192 (10). Loja de moda Amadeu (R. Liberato (Fontenele & Saboia) e Armazém de estivas,
(52). Não identificado
& Cia.) cereais e miudezas (Luis Perdigão Barros)
(52a). Não identificado
194 (12). Teatro e cinema Polytheama 187 (29). Armazém de estivas, cereais e
(Raimundo Lima) miudezas (V. Castro & Cia.)
196 (12). Polytheama tabacaria (J. Bezerra (48). Albano & Irmão 189 (31). Loja de fazenda e miudezas (Habid
Neto) 157 (87). Casa Forte (Chaves & Cia.) Abbaid & Filho)
198 (14). Casa importadora (Machado 191 (33). Barbearia (Fenelon Pereira Maia)
Coelho & Cia.) 193 (35). Empresa Telefônica (J. de Oliveira)
167 (89). Casa de Moda Bazar Cearense (J.
202 (16). Farmácia Pasteur (Eduardo Lopes & Cia.) 195 (37). Conrado Cabral & Cia.
Bezerra & Cia.)
171 (91). Casa de Moda Republicana (F. 197 (37). Casa de Moda (Paulo Caminha)
204 (18). Teatro e cinema Majestic (Luis Caminha Muniz)
199 (39). Armazém de estivas, cereais e
Severiano Ribeiro)
173 (93). Tabacaria Emigdio (Emygdio & miudezas (J. Leopoldina Silva)
204 (20). Hotel Majestic (Luis Severiano Irmão)
201 (41). Casa de ferragem (J. Patrício &
Ribeiro)
Cia.)
212 (22). Casa Almeida (Almeida & Cia.)
s/n (1). Casa de moda (Emygdio & Irmão) 203 (41). Armazém de estivas, cereais e
214 (24). Farmácia Galeno (Joaquim miudezas (Fco. Vieira Perdigão)
46 (3). Loja Crysânthemo (A. Nunes
Studart da Fonseca)
Valente) 205 (43). Armazém de estivas, cereais e
216 (26). Alfaiataria e Barbearia ABC miudezas (A. Simões & Cia.)
48 (5). José Castelo Branco
(Alfredo Guimarães)
50 (7). Escritório The Iron Work Trading Co. 207 (45). Armazém de estivas, cereais e
220 (28). Livraria Orion e Atelier de retratos miudezas (F. Ribeiro Leitão)
Ltd. (J. Lopes & Cia.)
(J. Ribeiro)
52 (9). Joalheria Suissa (Luiz Gonthier & 209 (47). Armazém de estivas, cereais e
228 (104/106). Cine Moderno (Plácido miudezas (F. Ribeiro Leitão)
Cia.)
Carvalho)
56 (11). Não identificado 211 (47). Armazém de estivas, cereais e
230 (108). Ribeiro Óculos miudezas (Vasconcelos & Cia.)
58 (13). Não identificado
234 (110). Café Emydgio (Emydgio & Irmão) 213 (49). Zahlouth & Cia.
58 (15). Não identificado
215 (51). Gity Club
s/n. Câmara Municipal
236 (112). Loja de calçados Bota Universal 217 (53). Oficina de Funilaria São José
(Marcilio Viana) (Heráclito Rodrigues de Oliveira)
240 (114). Não identificado 161 (51). Casa de moda (Cisne Telles & Cia.) 217 (55). Oficina de Funilaria São José
163 (53). Casa de moda (Marcos Dias & (Heráclito Rodrigues de Oliveira)
Cia.)
165 (55). Casa de moda Rosa dos Alpes 219 (59). Mercearia de F. Ribeiro Leitão
(João Carvalho)
(61). Não identificado
258 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Alguns levantamentos também confirmam essa afir- uma de eletricista; quatro hotéis e pensão (Excelsior,
mação, como, o Edital nº 3, de 7 de janeiro de 1933, da Rotisserie Sportman, A Gruta, Pensão Frota); quatro
Inspetoria Geral de Veículos do Estado, que manifesta cafés, bar e tabacarias; uma Estação Central da Empresa
o intuito de melhorar o tráfego na Praça do Ferreira, Telefônica; um Clube de danças e recreação (Iracema);
proibindo o estacionamento de carros particulares três Cinemas e Teatros (Moderno, Majestic-Cine-Teatro
na Praça, na Rua Pará e na Rua Floriano Peixoto, no e Polytheama) (ALMANAQUE, 1929-1933). Nessa década,
trecho compreendido entre as ruas Castro e Silva e São quatro lotes272 (186, 188, 192 e 194/196) são destruídos
Bernardo (atual Pedro Pereira). O Posto Mazini (Figura para ser implantado o Cine São Luiz, de 12 andares,
211) era um ponto de referência para os carros que que somente em 1958 consegue ser inaugurado (Figura
esperavam os passageiros270 na Praça do Ferreira, nº 212). Nas figuras 213, 214 e 215, observam-se os três
38. A Garage Elite e o posto de Gasolina “The Texas Co . momentos da Praça do Ferreira pela Rua Guilherme
(South American) Ltd. localizavam-se ao seu redor (Rua Rocha. Na administração do prefeito Raimundo Girão,
Major Facundo, 48 e 105). O imposto de estacionamento substituiu-se o coreto por uma coluna com quatro reló-
de cada automóvel de aluguel, nas alas sul e nascente gios um em cada face. De concreto armado e revestida
da praça do Ferreira, era de 60$000 réis por mês, de pó de pedra, um típico exemplar do Art Déco. Na
enquanto na rua Pará custava a metade, 30$000 réis271 Figura 216, foram identificados os principais edifícios
Quanto ao comércio, existiam três farmácias e em torno da Praça do Ferreira, na década de 1930.
drogarias (Pasteur, Galeno e América); seis lojas de fer- Destaca-se a coluna da hora no centro.
ragens, louças e vidros; uma mercearia; dois armazéns Em 1933, a nova numeração métrica foi introduzida,
de estivas; três camisarias; dois armarinhos; três lojas sendo orientadas as ruas norte a sul, do mar para o
de fazendas e modas; uma loja de molduras e espelhos; sertão; as ruas leste-oeste começavam na rua Conde
uma de máquinas de costura; uma de perfumaria; duas d´Eu, e seguem cada um para o lado correspondente
lojas de fotografias; uma de automóveis e outra de (Figura 217). A figura 218 mostra os lotes demolidos
acessórios; uma de Loteria; uma de instalação sanitária; para construção do Cine São Luiz.
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
1938
Praça do
Ferre ra
0 20
10 50
LEGENDA
LEGENDA
Co una da Hora 6 Casa A e da 1 Ed o Gran o
2 C ne Moderno 7 Tea ro ne a Ma es 12 E e s or Ho e
3 Fo o Sa es 8 Far a Pas eur 13 C ara Mun pa
4 Far a Os a do Cru 1934 9 Lo es de o dos para ons rução do ne São Lu s 14 Ro sser e Spor an
5 Far a Ga eno 10 Ar ar n o Res auran e Gru a 15 An ga Es ação Cen ra da E presa Te e n a
Rua F or ano Pe o o
500
Rua Ma or Fa undo
584 220 Fo o Sa es
586 220 Con e ar a
508
594 228 C ne Moder
000 604 230 Con e ar a
526 Dr A o Se
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Praça do 612 234 Ca çados P
Ferre ra
630 236 Lo a de a ç
s n 30 Casa de Fer
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201 38 Casa de u
R ua 195 42 Lo a de Se o
193 42 C Cades
189 44 Casa de Mo
187 44 Casa de Mod
000 183 44 Não den
153
130 s n A bano Ir
124 46 Casa For e
000 48 Não den
167 89 Casa de Mod
171 91 Casa de Mod
Rua L bera o Barroso
173 93 Taba ar a E
630
000 s n São Lourenç
124 46 Lo a Cr san e
0 20
000 48 Não den a
10 50
118 50 Ca A en da
114 52 Ca Ira e a
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATERI AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 263
454 (170 e 174). Excelsior Hotel 604 (230). Confeitaria Cristal 000 (s/n). São Lourenço
Dr. Atilo Sendé (Sala comercial) 124 (46). Loja Crisântemo (R. Guilherme
F gura 218 Praça do Ferre ra o os o es deAltoso dos para Santos)
476 (178). Edifício Granito Salas Comercias
ons rução do C ne São Lu s Dr. Álvaro Fernandes (Sala
comercial) Altos 000 (48). Não identificado
Fon e 484
Ar (180).
& Cia.)
u oArmarinho
N re O Augusto (A. Saliba Dra. Elisabeth Sendé (Consultório) 118 (50). Café Avenida
486 (180). Restaurante Gruta 612 (234). Calçados Pio Rodrigues 114 (52). Café Iracema
494 (186). Demolido para construção do Cine 106 (54). Café Comércio (Luiz Gonthier &
São Luis 630 (236). Loja de calçados Bota Universal Cia.)
500 (188). Demolido para construção do (Marcilio Viana) 000 (56). Maison Chic
Cine São Luis s/n. Câmara Municipal
508 (192). Demolido para construção do Cine s/n (30). Casa de Ferragens (Antônio de
São Luis Oliveira & Cia.)
565 (175). Rotisserie Sportman
526 (196). Demolido para construção do Cine 213. (32). Armazém de estivas, cereais e
São Luis 573 (179). Rotisserie Sportman
miudezas (Braga, Barroso, Andrade & Cia.)
532 (198). Casa importadora (Machado 577 (181). Restaurante Petit Bar
209 (34). Alfaiataria Amâncio (viúva Amâncio
Coelho & Cia.) Cavalcante) 587 (183). Não identificado
538 (202). Farmácia Pasteur (Eduardo 203 (36). Atelier de moldura (A. Medeiros) 601 (187). Loja de ferragens e instalações
Bezerra & Cia.) sanitárias (Edmar Vilar Queiroz)
201 (38). Casa de fumo (R. Agostinho)
548 (204). Teatro e cinema e hotel Majestic 611 (189). Restaurante Itália
000 (40). Não identificado
(Luis Severiano Ribeiro)
615 (191). Farmácia Santa Cruz
195 (42). Loja de Secos e Molhados (Vieira
548 (204). Teatro e cinema e salão de bilhar
Gurgel & Cia.) 617 (193). Fábrica Italiana
Majestic (Luis Severiano Ribeiro)
193 (42). C. Cades 621(195). Não identificado
560 (212). Loja de Ferragens e Louças e
Vidros Casa Almeida (Almeida & Cia.) 189 (44). Casa de Moda (Anthero Coelho 625 (199). Loja de ferragens Ceará Gás
Arruda) 629 (201/203). Loja de fazendas e Alfaiataria
560a (212). Empreiteiro e Construtor Alberto
Sá & Cia. 187 (44). Casa de Moda (Anthero Coelho Formosa Cearense (Cunto & Cia.)
Arruda) 635 (205). Não identificado
566 (214). Farmácia Galeno (Joaquim Studart
da Fonseca) 183 (44). Não identificado 637 (209/211). Não identificado
570 (214). Confeitaria Para Todos 643 (213). Não identificado
576 (216). Camisaria R. Liberato & Cia. 130 (s/n). Albano & Irmão 649 (215). Não identificado
Dr. Cyro Leal (Consultório) Altos 124 (46). Casa Forte (Chaves & Cia.)
Dr. Benjamin H. de Medeiros 657 (217). Não identificado
(Consultório) Altos 000 (48). Não identificado
580 (220). Confeitaria Cinelândia 167 (89). Casa de Moda Bazar Cearense (J. 157. Confeitaria Lisbonense
Lopes & Cia.)
584 (220). Foto Sales 173. Loja de fazendas e Alfaiataria Rosa dos
171 (91). Casa de Moda Republicana (F. Alpes (João Carvalho Rocha)
586 (220). Confeitaria Queluz Caminha Muniz)
594 (228). Cine Moderno (Plácido Carvalho) 173 (93). Tabacaria Emydgio (Emygdio &
Irmão)
264 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Dentre as casas comerciais estrangeiras que se Até 1920, esse quadro não sofreu alteração sensível,
estabeleceram em 1860, atuantes em 1870, pode- tudo progredindo em marcha tarda, mas constante,
-se identificar Kalkmann & Cia.273, alterando a razão e polarizando-se os negócios mais e mais na capital,
social para J. Schaepffer & Cia. em 1874; Bruno & onde se consolidavam casas importadoras e expor-
Cia.274; J.U. Graff & Cia.275; H. Saxer & Cia.; Jeanvenand tadoras da maior importância, como Singlehurst,
& Cia., Scheliply & Cia.; juntamente com a Boris Frères Boris Frères, Gradvohl & Fils, Levy Frères, Albano &
(Casa Boris). Outras firmas francesas instalaram-se Irmão, Frota & Gentil, Tomé Mota, Machado Coelho,
em Fortaleza: Gradvohl Frères e Levy Frères. A Weill J. Bruno & Cia.
& Cia., a Habisreutinger & Cia. e a Brurmschiveiberg276
implantaram-se em Aracati277. Em 1930, Gradvohl Era pronunciada, agora, a influência de comerciantes
era apresentado “como ‘banqueiro–negociante’ e franceses, não somente na mercancia em grosso,
‘negociante–exportador’ do Ceará, Levy como ‘nego- como na dos artigos de moda e armarinhos. Os
ciante–importador’ e Boris, diferentemente dos dois figurinos parisienses esplendem nos salões de
anteriores, descrito como um negociante que reunia sociedades elegantes de alta expressão, como o
as três atividades” (TAKEYA, 1995:138). ‘Clube Cearense’, que reunia a goma do mundanismo,
Segundo esse mesmo autor, e o ‘Clube Iracema’, saído daquele numa como que
repulsão aos exageros dum aristocracismo vaidoso.
Interessados em tudo aquilo que beneficiasse a Assim, em Fortaleza, como em muitas cidades do
atividade comercial de modo geral e favorecesse interior, realça-se uma gente encartolada e de
a expansão de seus negócios na província, os luvas, que sabe portar-se na rua em cavalheirismo
comerciantes estrangeiros estiveram envolvidos impecável, e em casa se requinta num luxo refinado,
em iniciativas como a criação de bancos (para imitando o europeu” (GIRÃO, 1947:113-114).
facilitar o desconto de títulos, as operações de
câmbio etc.), o estabelecimento de estradas de Foram também essas firmas que criaram as usinas de
ferro (para o escoamento da produção para os beneficiamento e prensagem, com o objetivo de garantir
portos litorâneos) e a fundação de companhias o padrão de qualidade de exportação do algodão a ser
de seguros (para a garantia das mercadorias tran- vendido no mercado internacional. Além disso, impor-
sacionadas). Foi dessa forma que se tentou criar tavam artigos de luxo bastante diversificados (vinhos,
o “Banco Comercial”, em 1869 – numa tentativa chapéus de feltro, cartolas, espelhos, leques, fazendas
frustrada; que se concedeu autorização para for- bordadas, aguardente, armas, azeite, batatas, bonés,
mar-se a “Cia. de Seguros União Cearense”, no calçados de couro, cartas de jogar, chá, cerveja, cha-
mesmo ano, com “capitais cearenses e ingleses”; péus de seda e palha, especiarias, feijão, farinha, livros,
que foi assinado o contrato para a construção louças, vidros etc.). Joséph Clement, Gradvohl & Cia.,
da primeira ferrovia da província, em 1870; e até Singlehurst & Cia., Henri Cals, Henri François Golinac,
mesmo se cuidou da iluminação pública da capital, Pierre Hipolite Girard e, principalmente, Boris Frères,
efetuada em 1867 (1995:113). (BRASIL, 1997:416). Segundo Leite, “a produção interna
não era suficiente para suprir a demanda, sobretudo nos
Essa polarização dos negócios na capital permanece períodos de seca, e nas épocas em que se intensificava
até segunda década do século XX, como anota Girão: o plantio do produto de exportação” (LEITE, 1994:115). A
273 Funcionando desde 1867 e durante todo a década de 1870 em Fortaleza, comprava couro para exportação e importava farinha de trigo,
alterando, em 1874, sua razão social para J. Schaepffer & Cia. (TAKEYA, 1995:136). A Décima Urbana de 1890 faz referência à empresa Kalkmann,
que morava na chácara comprada pelo coronel Gentil.
274 Existiu também durante a década de 1870.
275 Sua matriz era em Paris, com filiais no Rio Grande do Norte e Ceará.
276 Na segunda metade da década de 1870.
277 “Embora, no século XIX, estivesse em curso o processo de hegemonia de Fortaleza, aquela cidade continuou sendo um polo comercial
importante, reforçado nos anos sessenta e parte dos setenta, quando drenou para o litoral a produção de algodão do vale do Jaguaribe. Além
disso, Aracati manteve-se como um centro importante no comércio de couros da província e de cera e palha de carnaúba” (TAKEYA, 1995:135).
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 265
autora também destaca “a debilidade da produção arte- TABEL A 28 Casa Exportadoras estrangeiras e nacionais
sanal local, que sofria, ainda mais, com a concorrência - 1900
dos artigos estrangeiros” (LEITE, 1994:115). O dono da
1. Albano & Irmão Rua Major Facundo, 85
Gradvhol & Fils278, Henry Lazare Gradvhol, participa em
2. Boris Frères Rua Boris
vários negócios, incluindo o algodão, investe em duas
usinas de beneficiamento de óleo e algodão279, gerando 3. Holderness & Salgado Praça José de Alencar, 5
a fbrica têxtil de Maranguape, destinada à produção 4. João Tiburcio Albano Rua Floriano Peixoto, 48
de algodõezinhos crus e sacarias. Observa-se assim
5. J. C. Levy & Cia.
que as principais atividades econômicas tiveram como
protagonistas estrangeiros – especialmente ingleses 6. J. Bruno de Miranda & Cia. Rua Major Facundo, 34
- destacando-se importantes figuras na economia regio- 7. Bruno Filhos & Cia. Rua Formosa, 101
nal, na política e na administração do Ceará, seguidos 8. Justi e Barsi Praça do Ferreira, 27
pelos Gradwohl e Levy na comercialização dos courinhos
9. Joaquim Sá Praça do Ferreira, 51
(ovinos e caprinos).
Boris Frères280 foi a mais importante firma na eco- 10. Levy Frères Rua Formosa, 52
nomia regional e atuou na política e na administração do 11. Menescal, Campos & Cia. Rua Major Facundo, 60
Ceará. Expandiu os negócios em vários ramos: impor- 12. Silva Mattos & Irmão Praça do Ferreira, 29
tações, exportações, agroindústria, cana-de-açúcar e
Total 12
outros. Além disso, organizou uma agência de seguros
e navegação e tornou-se proprietário da fábrica têxtil Fonte: Almanaque, 1900
“Ceará Industrial”, adquirida como pagamento de dívida.
Mirtil Lima & Cia. destaca-se no comércio de fazen-
das, estivas e miudezas. Pertenciam aos estrangeiros
as joalherias mais importantes: Albert Roth281, Charles & Cia., Seixas Correia & Cia., Frota & Gentil, J. Bruno,
Adolph Cranes e Jacques Weil. Filho & Cia., Cruz Irmão, Sousa Carvalho & Filho, Mar-
Quanto às indústrias, destacam-se “Dard Lacorone” ques Dias & Cia., J. Barroso & Cia., Costa Freire & Cia.
na destilação de bebidas; “Altieri & Gabriele” na confecção e Jesuino Lopes (SOUZA, 1960). No ramo dos artigos
de gravatas; “Louiz Cholowscki” em oficina tipográfica finos, também se destacam os nacionais - Confúcio
e de encadernação; “Necor Ascotine” em ourivesaria; Pamplona283 e Geminiano Maia284 (Barão de Camocim,
“Jacques Weill” no conserto de relógios; e “Frederico Lojas “O Propheta” e “Louvre”) -, bem como na impor-
Skiner” em trabalhos com mármore, sem falar de alguns tação de ferragens - Antônio Valente, Amaral & Filhos
portugueses com panificadoras. “Esses comerciantes, e Conrado Cabral & Cia. - e no comércio de secos e
quase todos estrangeiros, reuniram-se e fundaram a molhados - Joaquim Barbosa e Osório de Paiva.
Associação Comercial do Ceará, procurando proteger Gradativamente o comércio exportador mescla
seus interesses e opondo-se a medidas fiscais que ini- nacionais com ancestrais lusitanos e estrangeiros, como
bissem o comércio” (LEITE, 1994:115). se observa no levantamento do Almanaque do Ceará
Quanto aos comerciantes nacionais, destacam-se de 1900 (Tabela 28).
os do ramo farmacêutico - Antonio Eloy, boticário No inventário do comerciante exportador Luis
Antônio Paes da Cunha Mamede282 - e no ramo de teci- Severiano da Cunha (Visconde do Cauípe), são identi-
dos - Smith de Vasconcellos (O Barateiro), Barão de ficados vários devedores comerciantes: José Joaquim
Aratanha e seu irmão Antônio Albano (Casa Albano), da Silva Bezerra, Francisco d’Oliveira Cabral, João Brí-
Antônio Justa, Diogo & Cia. , Santos Neves, Bernardino gido dos Santos, Mamede & Irmão, José Joaquim da
Carvalho, Antonio Garcia, Esmerino Barroso, Salgado Costa, Francisco Pinto Brandão. O comerciante Manoel
278 Proprietários judeus franceses, Gradvhol e Henry Lazare Gradvhol e filhos, o objetivo da firma é “o comércio de importação e exportação de
mercadorias, gêneros de produtos de qualquer natureza, no Brasil e particularmente no Ceará. A sede se localizava em Paris” (ARAGÃO, 1989:43).
279 Almanaque do Ceará 1939.
280 De procedência francesa, fixa-se no Estado em 1869, fundando a casa de comércio Theodore Boris & Irmão. Além do Ceará, os negócios se
ampliam em outros Estados como o Piauí, o Pernambuco, o Rio Grande do Norte, a Paraíba, o Maranhão, o Rio de Janeiro e praças comerciais
no exterior (SOUZA MOTA, 1982).
281 Possuía somente o imóvel onde residia, na Rua Major Facundo, nº 58, em 1890.
282 Foi expositor na Exposição Nacional de 1861.
283 Em 1890, possuía somente dois imóveis localizados na Rua Senador Pompeu.
284 Em 1890, possuía oito imóveis, todos na Rua Formosa, residindo no número 127.
266 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Monteiro da Silva era credor de dois comerciantes liga- de transporte coletivo por meio de “bondes de burros”
dos ao ramo farmacêutico: herdeiros de Catão Paes da no sentido leste da cidade. Assumiu a presidência da
Cunha Mamede e José Eloy da Costa (LIMA, 1999:120). primeira diretoria da Associação Comercial do Ceará
Outros comerciantes, como Antônio Gonçalves da Justa, e inaugurou a Fábrica Progresso (1899), e foi, também,
Francisco Castro da Fonseca e Luis Ribeiro da Cunha o presidente do Centro Industrial Cearense em 1919.
aparecem como devedores da grande firma estrangeira Uma das características da trajetória dos chama-
exportadora Singlehurst. dos capitães das indústrias cearenses foi o processo
Assim, segundo Leite, de concentração de riquezas assegurado pela multi-
plicidade de investimento nos diversos segmentos
[...] era através das firmas exportadoras que os da economia do Estado.
financiamentos e empréstimos eram obtidos. As Outra antiga atividade cearense é a de extração de
secas afetavam intensamente muitos fazendeiros e óleos vegetais, que, “até a década de 1920, era desti-
comerciantes locais, que acabavam contraindo dívi- nada, quase que exclusivamente, à fabricação de sabão
das com as casas exportadoras, resgatadas, muitas nas próprias fábricas onde os óleos eram extraídos”
vezes, através de produtos exportáveis (1994:120). (VIANA, 1994:392). De acordo com Carlos Viana, já
existiam, em 1886, duas fábricas de óleos vegetais em
“À medida que se tornavam mais proeminentes, Fortaleza, de propriedade do Barão de Ibiapaba289 e
alcançavam cargos políticos importantes [...] como de Guilherme Rocha290.
Joaquim da Cunha Freire [Barão de Ibiapaba], [...] que foi Assim escreve Carlos Viana sobre os dois
chefe político de uma facção do Partido Conservador” empreendedores
(NOBRE, 1991:122 apud LEITE, 1994:122). O crescimento
“do número de comerciantes na praça de Fortaleza, na O Barão de Ibiapaba [Joaquim da Cunha Freire]
década de sessenta, levou à fundação da Associação (1827-1907), pelo seu caráter empreendedor, ficou
Comercial do Ceará, em 1866.” Muitas vezes, os Presi- conhecido como `Mauá Cearense´. Consta, entre
dentes da Província eram convidados para o “quadro seus empreendimentos, a participação como sócio
honorário [...] de forma a defender seus interesses sem da firma que iniciou a construção da E. F. de Batu-
entrar em conflito com o governo, com quem mantinha rité. Esteve ligado também a projetos, na década de
relações cordiais” (LIMA, 1999:122). 1860, que não se concretizaram, como a exploração
A Décima de 1872 aponta que as grandes proprieda- da iluminação a gás de Fortaleza e a instalação do
des urbanas pertenciam aos negociantes portugueses Banco Comercial. [...]. Já Guilherme Cezar da Rocha
e nacionais e, em menor proporção, aos comerciantes (1846-1928), que ficou mais conhecido por suas ati-
exportadores estrangeiros. vidades políticas, sobretudo por ocupar o cargo de
É o caso do Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil285 Intendente de Fortaleza por 20 anos ininterruptos
(1852-1929), juntamente com seu irmão médico, Antônio (1892-1912), era proprietário da firma Guilherme
Pompeu de Sousa Brasil (1851-1886), e seu cunhado Rocha & Cia., que instalou a Drogaria Central, em
Antonio Pinto Nogueira Accioly286 (1840-1921), que ins- 1872, na rua Formosa (atual Barão do Rio Branco), e
talaram, em 1882, a primeira fábrica de fiação e tecidos que explorava o comércio de exportação e importa-
cearense, denominada Pompeu & Irmão287. Ele era inte- ção. Em 1896, era ele Presidente do Conselho Fiscal
grante da sociedade anônima do Banco do Ceará288, da Caixa Econômica e, em 1903, o agente da Cia. de
tornando-se, em 1903, o seu presidente, ao lado de Seguros Paraense em Fortaleza (1994:393).
Alfredo Salgado (secretário) e Antônio Frederico de
Carvalho Mota (diretor). Era também sócio da Companhia Os empreendedores, entre 1919 e 1925, relacio-
Ferro Carril do Outeiro (1896), criada para prestar serviço nados à indústria de óleo de caroço de algodão291 do
Ceará, eram Teófilo Gurgel Valente292, dono da Usina 3.7.1 Principais famílias detentoras de imóveis
Gurgel293 (1919-1930), no antigo bairro do Matadouro294, urbanos
e Antonio Diogo de Siqueira e filhos (1888-1932),
donos da Usina Ceará295. O inventário post mortem do Cel. José Antônio Machado
Pedro Filomeno Gomes296, industrial do ramo de (1772-1869), na década de 1870 permite constatar que a
cigarro, posteriormente monta uma fábrica de sabão e família MACHADO era detentora de terras e de diversos
só após 1920 investe no setor têxtil. Vale destacar que imóveis urbanos. Leopoldina Machado de Azevedo Sá,
esse empresário era sócio da Siqueira Gurgel Gomes casada com o Cel. Manuel Felix de Azevedo Sá (f.1871)
& Cia. Ltda. (Usina Gurgel) (Figuras 219 e 220) e se possuía nesse momento quatro casas: Rua da palma,
juntou com a empresa Diogo Siqueira para instalar a nº 98, Rua Formosa, nº 101, Rua Rosário, nº 18 e nº
Fábrica de Tecidos São José (Figura 221), em sua fase 8. Por herança do pai, recebeu terras na estrada de
inicial. Nota-se, então, com esses dados que, na década Messejana, medindo 443.015 braças quadradas (21,44
de 1920, o sub-ramo da indústria têxtil de Fortaleza km2), a 10 réis cada braça – 4.430$150 réis, bem como
cresceu por meio do processo de consolidação dos terras em comum com os demais herdeiros junto à
antigos grupos e do surgimento de dois novos – os cidade e entre as estradas que seguem para Messejana
grupos José Pinto do Carmo (Figura 222) e Pedro e Tauape (2.327$177). Todos os bens foram leiloados.
Filomeno Gomes. Em 1924, Filomeno Gomes expandiu As terras denominadas Cocó foram repartidas entre
suas atividades, ao lado de Antônio Diogo de Siqueira, os descendentes, chegando posteriormente a ser uma
Teofilo Gurgel e outros, transformando a usina de parte vendida para o Barão de Aquiraz. Sua filha, Antônia
beneficiamento de algodão numa indústria de óleo Machado da Fonseca (f.1889), casada com o comenda-
e sabão – a Siqueira, Gurgel, Gomes & Cia. Ltda. A dor português Francisco Coelho da Fonseca (f.1896),
nova concentração dessas indústrias (Baturité, Usina recebeu uma gleba de terras, entre as da irmandade N.
Gurgel e São José) na zona oeste da cidade acelerou S. do Rosário e do Barão de Aquiraz. Sua filha Leopoldina
o processo de ocupação operária da área próxima às Machado de Azevedo Sá, casada com o Cel. Manuel
unidades fabris. Filomeno Gomes destacou-se, tam- Felix de Azevedo e Sá, herdou terras que foram depois
bém, no setor imobiliário, com a construção de diversos arrematadas para pagamento de dívida passiva.
edifícios espalhados pela cidade, a exemplo da indústria Com base nas Décimas Urbanas de 1872 e 1890,
hoteleira, vários apartamentos e casas de aluguel e a como nos Inventários post mortem e nos almanaques,
vila São José, para seus operários, nas proximidades podem-se identificar e caracterizar perfis semelhantes
da fábrica. Instalou, no bairro de Jacarecanga, a Imo- ao do Cel. José Antonio Machado, notando-se que os
biliária Pedro Filomeno Gomes. homens mais ricos da cidade eram negociantes lusita-
nos, proprietários de imóveis urbanos.
292 Nasceu em Aracati em 1855, acumulou capital no Amazonas e retornou para o Ceará como comerciante em Senador Pompeu. Em 1912
transferiu-se para Fortaleza instalando uma fábrica de óleo e sabão na Praça de Pelotas, no cruzamento da Rua Gen. Sampaio esquina da Rua
Meton de Alencar, onde funcionou do final do século XIX até 1904, ”uma fábrica de sabão pertencente a vários marchantes [Joaquim Martins
Jr., Francisco de Araujo Barros e Antonio José de Souza], dentre os quais Antonio Diogo Siqueira” (VIANA, 1994:407). Em 1919, participa da
fundação do Centro Industrial e ocupa o cargo de tesoureiro.
293 A Usina Gurgel, além dos fios e redes, “suas atividades se estendiam à produção de óleo extraído do caroço do algodão e fabricação de
sabão com a marca GURGEL, que conferia à empresa maior elasticidade nos lucros advindos do produto principal, o algodão” (ALMEIDA,
1989:51). Em 1930, a firma entra em concordata, sendo encampada pela A. D. Siqueira & Filhos, que se torna sócia majoritária, sendo esta
fundida à Usina Ceará (ALMEIDA, 1989:56).
294 Com o objetivo de expandir, a usina foi deslocada para o antigo bairro do Matadouro pois “a retirada dos trilhos da estrada de ferro que
passavam nas proximidades de sua [antiga] usina [na Rua do Trilho, atual Tristão Gonçalves], apressou sua decisão, uma vez que a estrada de
ferro representava, para o industrial da época, o único meio de transporte terrestre capaz de agilizar o escoamento de seus produtos como
também para fazer chegar até à industria a matéria-prima necessária com custos mais reduzidos.Desse modo, a escolha do novo local teve
como fator determinante a proximidade da estrada [de ferro] que passava no bairro do matadouro” (ALMEIDA, 1989:51).
295 A Siqueira & Gurgel Ltda. e a A. D. Siqueira & Filhos eram os “únicos responsáveis pela produção de óleo da capital até o final da década
de 20” (ALMEIDA, 1989:57).
296 Ver VIANA, 2008, p. 213-223.
268 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
FIGURA 219 [EM CIMA, À ESQ.] FIGURA 221 [EM CIMA, À DIR.]
Usina Gurgel (1919), Fábrica de tecidos São José,
bairro Otávio Bomfim bairro Jacarecanga.
Fonte: Arquivo Nirez. Fonte: Arquivo Nirez.
TABEL A 29 Proprietários de imóveis urbanos – 1872 1872 registra 44 imóveis da sua propriedade, totalizando
1:423$600 de aluguel por mês. Segundo o Almanaque
Barão de Aquiraz – Gonçalo Batista Vieira 44
de 1873, residia na Praça Municipal, nº 14. Seus bens
Luis Ribeiro da Cunha, negociante 38
de raiz, em 1886, eram: sítio no lugar chamado Damas,
José Joaquim Carneiro, major, negociante 34 Município de Parangaba, com terras para plantação de
Barão de Ibiapaba – Joaquim da Cunha Freire, negociante 28 cana e outras lavouras com pequena casa de morada-
3:000$000 réis, terreno em Damas com casa de tijolo e
Thomaz Pompeu de Souza Brazil, senador 26
telha e terras secas ao poente da estrada empedrada que
João Antonio do Amaral, negociante 26
vai desta capital para aquela vila – 1:000$000 réis; terras
Visconde do Cauípe - Severiano Ribeiro da Cunha 22 na estrada que segue para Mecejana, Boulevard B. do
Francisco Manoel Alves, capitão, 22 Rio Branco - 450 braças (990,0m) de frente pela mesma
filha casa com José Correia do Amaral estrada, 640 braças (1408,0m) pelo lado esquerdo, 625
Barão de Aratanha - José Francisco da Silva Albano 20 braças (1375,0m) e 900 braças (1980,0m) pelo lado direito.
Luis de Seixas Correia, negociante 20
Por compra feita aos herdeiros do Cel. Manoel Felício
Azevedo e Sá, adquiriu o sítio Alagadiço Grande, com
Luiz Rodrigues Samico, negociante 18
grande casa de morada, plantações de cana, engenho,
Diogo José da Silva, negociante 17 fábrica e “locomóvel” a vapor - 16:000$000; na Rua Gal
Manoel Francisco da Silva Albano 15 Sampaio, nos 116, 118, 120, 124, 126, com fundo corres-
José Martiniano de Alencar, Conselheiro 15
pondente para a 24 de Maio, parte de uma cacimba para
diversas casas e o imóvel nº 91, com duas portas; na Rua
Antonio Gonçalves da Justa, comerciante e político 15
São Bernardo nos 35, 37, 39, 41, 43, 45, 47, 49, imóveis com
Fonte: Décima Urbana de 1872 duas portas e divididos ao meio e parte de uma cacimba
que serve para diversas casas; na Rua Formosa, nº 97,
casa de tijolo e telhas com seis portas, com sótão, tendo
cinco portas para a Rua Municipal; na Rua Major Facundo,
Observam-se, concomitantemente, novos ato- nos 51 (armazém), 53, 97, 99, 101, 103, 105; na Praça do
res emergindo no cenário e assumindo o controle da Ferreira, nº 18 (sobrado), nº 20 (sobrado), nº 30, com
economia da cidade, convertendo-se nos principais cinco portas, esquina com a Rua Major Facundo, com seis
proprietários dos imóveis urbanos até então. Os estran- portas; nos 32, 34, 36, 38, 40, todas com duas portas; na
geiros, donos de casas de exportações e importações, Praça da Sé, nº9, imóvel com seis portas; fazendo esquina
embora pareça pouco crível, não eram os grandes com a Rua Sena Madureira, com cinco portas; na Praça
proprietários de imóveis urbanos; ao contrário, eram José de Alencar, nº 24, casa com cinco portas e fundo
grandes latifundiários rurais no último quartel do até o meio da cacimba existente no quintal; na Rua Sena
século XIX. Destacam-se, portanto, os comercian- Madureira, nos 47 e 105, casas com quatro portas e três
tes de origem portuguesa, atuantes desde o início do portas e fundo correspondente à rua do Sampaio; na Rua
oitocentos (Tabela 29). do Quartel, nos 14, 16; na Rua Boa Vista nos 47 e 63, casas
O negociante Gonçalo Baptista Vieira (1819-1896), de quatro portas e uma porta; na Rua do Sampaio, seis
Barão de Aquiraz - bacharel em Direito, pela Academia de quartos; e na Rua Senador Pompeu, nº 128, esquina com
Direito de Olinda (1843), filiou-se ao Partido Conservador. a Rua das Trincheiras 297.
Após a morte de seu primo, o senador Miguel Fernandes Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1818-1877), padre,
Vieira, em 1862, assumiu a chefia do Partido na Província. intelectual e influente líder do partido Liberal, jornalista,
Deputado na Assembleia Geral, Vice-presidente (1877), bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e
recebeu o titulo de Barão de Aquiraz em 1871, incluído indicado, em 1864, para senador do Império. Desenvolveu,
em lista senatorial apresentada à escolha da Coroa (STU- também, algumas atividades empresariais: proprietário
DART, 1910: 344). Em 1873, juntamente com o Senador da Tipografia Brasileira, sócio do cel. Antônio Pereira de
Pompeu (Tomaz Pompeu de Souza Brasil), o Barão de Brito e Paiva298 e presidente da “Companhia Cearense
Ibiapaba (Joaquim da Cunha Freire), o inglês Henrique da Via Férrea de Baturité” constituída com o objetivo
Brochlehust e o engenheiro José Pompeu de Albuquer- de se construir “uma via férrea, que partindo da capital
que Cavalcante, iniciam a implantação da Companhia do Estado, fosse ter à cidade de Baturité” (FERREIRA,
Cearense de Via Férrea de Baturité. A Décima Urbana de 1989:32), cujas ações foram avaliadas em 20:000$000
(vinte contos de réis). Possuía também 40 ações da Cia. O Barão de Ibiapaba, coronel Joaquim da Cunha
de gás, avaliadas em quatro contos de réis (4:000$000). Freire300 (1827-1907), comerciante, acumulou grande
Segundo seu inventário de 1877, possuía várias casas: fortuna. Assumiu várias vezes como vice-presidente
na Rua da Cadeia, nº 107, nº 109; Rua da Alfândega, nº da Província. Foi presidente da Câmara Municipal de
4; Rua da Alagoinha com terreno anexo; Rua da Amélia; Fortaleza, da Junta Comercial, da Caixa Econômica e
Rua Municipal, morada; Rua Boa Vista, nº 4, com 2 portas; Monte de Socorro da província (STUDART, 1910). Com
na Rua Formosa, com 2 portas; na Rua da Cadeia (Gen. Tomaz Rich Brandt, constituiu a empresa que substituiu a
Sampaio), nº 109, esquina com a Rua da Municipalidade; iluminação do óleo de peixe pelo gás hidrogenal em For-
na Rua da Cadeia (Gal Sampaio), nº 107 (com 2 portas), nº taleza, como também participou da sociedade anônima
118 (com 3 portas) (onde morava o herdeiro Hildebrando); constituída com o objetivo de implantar a Estrada de
nº 120 (com 2 portas; Rua da Cadeia, nos fundos da Igreja Ferro de Baturité. Possuía 28 imóveis: na Praça Visconde
São Bernardo, com 2 portas; cinco casas na Rua do Impe- de Pelotas s/n; na Rua da Alegria, nº 9; na Rua das Hortas,
rador, s/n, anexas; três casas na Rua do Patrocínio, s/n, s/n; na Rua do Rosário, nº 36; seis na rua Amélia; seis na
anexas. Além desses imóveis, possuía vários terrenos: rua Boa Vista (nº 25a, 25b, 25c, nº 66a, nº 128, nº 130);
na Rua Alagoinha, com 30 palmos (6,6m); na Rua Ala- quatro na Rua São Bernardo s/n; seis na Rua Formosa
goinha com 20 palmos (6,6m); na Estrada Empedrada de (nº 124, nº 126, nº 128, nº 129, nº 156, nº 158, nº 162). Sua
Arronches, quarteirão do Benfica; na Rua do Imperador, firma, denominada Joaquim da Cunha Freire & Irmão,
na Rua do Paiol299. Seus bens de raiz foram avaliados em situava-se na Rua da Palma, nº 54, assim como os seus
35:296$000 réis. O médico Antonio Pompeu de Souza armazéns de secos e molhados e de açúcar.
Brasil (1851-1886), Dr. Thomaz Pompeu de Souza Bra- O negociante, comendador e vice-consul tenente-co-
sil (1852-1929), seus filhos, juntamente com o bacharel ronel Severiano Ribeiro da Cunha301 (1831-1876), Visconde
Antonio Pinto Nogueira Accioly (1840-1921), seu cunhado, do Cauípe, era proprietário de um armazém de secos
iniciaram atividades empresariais, constituindo a firma e molhados na Rua Formosa, nº 48, juntamente com
Pompeu & Irmão. Antônio, em 1890, possuía três imóveis seu irmão. Era sócio efetivo da Associação Comercial e
no Boulevard Imperador s/n, na Senador Pompeu, nº 18, proprietário de 22 imóveis urbanos: três na Rua da Amélia
e dois na Rua 24 de Maio. As propriedades do Dr. Thomaz (nos 27, 49, 58, 64 e 90); nove na Rua da Assembleia302 (nos
localizavam-se nas proximidades da fábrica na Rua do 29, 31, 33, 35, 37, 39, 41, 43 e 47); dois na rua da Cadeia (nos
Paiol (atual Tereza Cristina), com 22 unidades; uma na 24 94 e 96); dois na Rua do Patrocínio (nos 63 e 95); na Praça
de Maio, nº 120 e três na Pe. Mororó s/n. Nogueira Accioly Visconde de Pelotas s/n; na Rua da Palma, nº 135; na Rua
possuía três imóveis na Rua 24 de Maio (nos 37, 110 e 122); Formosa, nº 48; na Rua do Imperador s/n. Sua filha Luisa
um na Rua da Lagoinha e outro na Rua da Cadeia (atual da Cunha Sombra casara-se com o Dr. José Sombra,
Gen. Sampaio), nº 104. proprietário de 11 imóveis em 1872, cujo inventário, datado
Luis Ribeiro da Cunha (falecido em 1889), matricu- de (1888), apresenta 25 imóveis: Rua Formosa, nº 46;
lado na Associação Comercial com armazém de secos Rua 24 de Maio esquina com a Rua da Assembleia, que
e molhados, loja de fazenda, um armazém de farinha tem uma porta de fundo no nº 89; Rua da Assembleia
de trigo por atacado, todos na Rua Formosa, nº 70, e (nos 73, 75, 77); Rua do Livramento (nos 1, 2, 3, 4 e 12); Rua
s/n, além de uma fábrica de sabão (ALMANAK, 1870). A Senador Pompeu (nos 46, 59, 142, 241); Boulevard Duque
firma Luis Ribeiro da Cunha & Sobrinho implantou uma de Caxias, nº 72; Rua do Rosário, nº 7; Rua Conde d´Eu,
fábrica de sabão fora da cidade em terras de Soure, atual nº 82; Rua Boa Vista (nos 107, 109); praça dos Voluntários
Caucaia, pois esse equipamento exigia “condições espe- (nos 7, 22); Rua Major Facundo, nº 79; Rua da Alegria, nº
ciais para o processamento da matéria-prima” (NOBRE, 36; dois quartos pequenos na vila do Arraial desta pro-
1989:131). Observa-se, nesse ramo industrial um “certo víncia, patrimônio avaliado em 87:375$000, e um sítio
desenvolvimento no Ceará, em 1861-1870, para atender denominado Coqueirinho, com casa303, no lugar Tauape, na
ao consumo crescente da população urbana” (NOBRE, antiga estrada de Pacatuba, perto de Arronches, avaliado
1989:131) era proprietário de 39 imóveis, dos quais 11 se em 4:000$000 réis. Quanto aos bens de raiz adquiridos
localizavam na Rua Formosa, 17 na Rua Amélia, três na durante o matrimônio destacam-se ainda: uma chácara
Rua da Assembleia e oito na Rua das Flores. com casa de dez portas, de frente para a Praça da Sé,
299 Além de um sítio - o Magnólia - em Arronches, duas casas em Messejana e terras em São Francisco.
300 Filho do português Felisberto Correia da Cunha e Custódia Ribeiro da Cunha.
301 Casado com Eufrásia Gouveia, filha do comendador Manuel Caetano Gouvêa e de Francisca Agrela.
302 Esses imóveis são compartimentos dos edifícios de frente para as ruas principais norte e sul.
303 Foi parcelado depois de 1930.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 271
numa esquina da Rua Conde d’Eu, comprada a Luis Seixas Thaumaturgo de Guerra Machado, avaliado em 200$000
Correia (30:000$000 réis); e uma casa com duas portas réis; uma nesga de terreno com 620 palmos (136,4m) de
na Rua do Sampaio (900$000 réis) e alugada para a Escola frente, entre as ruas Conceição (atual Av. Dom Manuel) e
de Aprendizes Marinheiros304 (1:834$169 réis). Tinha ainda União, com fundos extremando com terras do Patrimônio
duas cadernetas da Caixa Econômica com três contos São José, comprado dos Thaumaturgo, por 200$000
de reis cada uma (6:000$000 réis) e dinheiro em espécie réis; terreno de um quarteirão com 500 palmos (110m)
(8:455$980 réis)305 . nas ruas Leopoldina, Glória (atual Rodrigues Jr), Colégio
O negociante major José Joaquim Carneiro possuía (atual Santos Dumont) e São Luiz (atual Franklin Távora),
uma prensa hidráulica a vapor na Rua do Mercado, um comprado de Adolpho Herbster, avaliado em 400$000
armazém de madeira e uma loja de fazenda na Rua da réis; casa de palha em um terreno na praia confinando ao
Praia (ALMANAK, 1870). Executava outras atividades de sul com a Travessa do Chafariz, ao norte com o inventa-
construção: empedramento das ruas306 de Fortaleza riado, ao poente com o Riacho Maceió e ao nascente com
e construção de Estrada307. Participou da sociedade João José de Oliveira, comprado de Manoel Honorato
anônima para a construção da estradas de Ferro desta de Nascimento e avaliado em 200$000 réis; armazém
capital para Baturité com 50 ações, juntamente com de tijolos coberto de telhas com uma porta de frente, nº
outros negociantes. Segundo dados fornecidos pelo seu 25, sem fundos, avaliado em 2:000$000 réis; sobrado de
inventario308, possuía grande patrimônio: terreno de 450 um andar com quatro portas de frente, situado na Rua da
palmos (99m) com 500 palmos (110m) de fundo, na estrada Praia, nº 27, avaliado em 15:000$000 réis; armazém na Rua
empredada de Arroches, extremando ao norte com casas da Praia, com uma porta de frente e sem fundo, de tijolo
de Padre Pedro Mastro Silva, comprado a Bernardo José coberto de telhas, avaliado em 2:000$000 réis; armazém
Pereira, avaliado por 700$000 réis; terreno de 100 palmos n Rua da Praia s/n, de tijolo, coberto de telhas, dividido
(22m) na mesma estrada empedrada para Arronches do em quatro salas, com armação envidraçada e balcão,
lado nascente, comprado de Adopho Herbster, avaliado alugado para o estabelecimento Shep chandler, avaliado
por 200$000 réis; terreno de 100 palmos (22m) na mesma em 8:000$000 réis; armazém na Rua Conde d’Eu nº 2,
estrada, confinado de norte a sul com terras de José com máquina de prensa para algodão, máquina vertical,
Antonio Vieira da Cunha, comprado de José Paulino Hor- máquina e caldeira, máquina de cortar e furar, tudo hipo-
nholtz; terreno de 650 palmos (143m) e 1.050 palmos tecado ao Barão de Ibiapaba no valor de 40:000$000 réis;
(231m) de fundo, cercado e foreiro à Câmara Municipal, casa de tijolo coberta de telhas com duas portas de frente,
com uma casa de taipa coberta de telhas no Arroches, na rua da Praia, junto ao arsenal, avaliada em 2:000$000
comprado de Adolpho Herbster, avaliado 1:300$000 réis; casa de tijolos coberta de telhas com duas portas de
réis; sítio denominado Alagoinha, de um lado ao outro frente na rua da Praia, avaliada por 2:000$000 réis; casa
da estrada empedrada de Arronches, com 100 braças de tijolos coberta de telhas, com duas portas de frente,
(222,0m) de terreno, que confina ao sul com terreno de na Rua da Praia, avaliada por 2:000$000 réis; terreno
Manoel Francisco da Silva Albano, com uma casa de taipa com alicerces, na Rua da Praia a terminar na Travessa do
arruinada, fruteiras em terras das Anigas e a lagoa, ava- Maceió, avaliado em 400$000 réis; casa de tijolo coberta
liado 3:000$000 réis; terreno na Praça dos Voluntários, de telhas à Rua Conde d’Eu, com três portas de frente
a contar da Rua D’Alegria à Rua Conde d’Eu, com fundos e fundo, de 4:000$000 réis; casa de tijolos coberta de
para a lagoa do Garrote, comprado de Adolpho Herbs- telhas com duas portas de frente, na rua Conde d’Eu, nº
ter, avaliado por 2:000$000 réis; casa coberta de palha 06, 3:000$000 réis; casa de tijolos coberta de telhas com
em terreno de 30 palmos (6,6m) na Rua dos Educandos, três portas de frente à rua Conde d’Eu, nº 8, de 5:000$000
com fundo correspondente, avaliado em 200$000 réis; réis; casa de tijolos coberta de telhas com duas portas
casas de palha em um terreno de 80 palmos (17,60m), na de frente e um quarto separado no quintal, na rua Conde
Rua Formosa, comprado em leilão do agente Jatahy, por d’Eu, nº 10, de 2:500$000 réis; casa de tijolos coberta
869$000 réis; um quarteirão no Oiteiro com 270 palmos de telhas com duas portas de frente para a rua Conde
(59,40m) na Rua da Gloria (atual Rodrigues Jr.), entre as d’Eu, nº 12, de 2:000$000 réis; casa de tijolos coberta de
ruas da Assembleia (atual São Paulo) e a do Colégio (atual telhas com duas portas de frente para a rua Conde d’Eu,
Santos Dumont), lado nascente, comprado do Major Luis nº 14, de 1:800$000 réis; casa de tijolos coberta de telhas
FIGURA 223
Casa Albano, situada
na travessa Pará, hoje
ocupado pelo antigo Hotel
Savanah e a Sul América.
Fonte: Arquivo Nirez.
com duas portas de frente na Rua do Chafariz, nº 84, João Antônio do Amaral309 (falecido em 1878), por-
2:000$000; casa de tijolos coberta de telhas com duas tuguês, “tornou-se um opulento negociante na capital
portas de frente na Rua do Chafariz, nº 86, de 2:000$000 cearense: o seu estabelecimento foi a primeira casa de
réis; casa de tijolos coberta de telhas com duas portas comércio de ferragens aqui montada e onde foi ven-
de frente na Rua do Chafariz, nº 88, hipotecada ao Barão dida, no Ceará, a primeira máquina de costurar Singer”
de Ibiapaba, como as duas acima, de 2:000$000 réis; (GIRÃO, 1975: 41). Sua loja situava-se no sobrado na Rua
casa de tijolos coberta de telhas com duas portas de Formosa, nº 120, e havia uma cocheira na Rua Amélia
frente na Rua do Chafariz, nº 90, de 2:000$000 réis; s/n para estacionamento de seus animais. O português
casa de tijolos coberta de telhas com duas portas de Amaral possuía, ao todo, 26 imóveis urbanos, assim dis-
frente na Rua do Chafariz, nº 92, hipotecada ao barão de tribuídos: seis na Rua da Amélia (nos 141, 143, 174 e três
Ibiapaba, de 2:000$000 réis; casa de tijolos coberta de s/n); três na Rua das Trincheiras (nos 4, 6 e 8); oito na
telhas com duas portas de frente na Rua do Chafariz, nº Rua São Bernardo (nos 44, 46, 48, 50, e quatro s/n); um
94, hipotecada para o barão de Ibiapaba, de 2:000$000 na Rua Chafariz (nº 125); oito na Rua Formosa (nos 116,
réis; casa de tijolos coberta de telhas com duas portas 120, 141, 143, 147, 149, 155 e 157).
de frente na rua do Chafariz, nº 96, hipotecada ao barão Seu filho João Antônio do Amaral Junior possuía
de Ibiapaba, de 2:000$000 réis; casa de tijolos coberta uma loja de fazenda e uma taverna na Rua da Palma, nos
de telhas com duas portas de frente na Rua do Chafariz, 86 e 79; era também proprietário de um imóvel na Rua do
nº 98, hipotecada ao barão de Ibiapaba, de 2:000$000 Livramento s/n. Em 1890, seu outro filho, José Correia
réis; casa de tijolos coberta de telhas com três portas de do Amaral (1847-1929), aumenta esse patrimônio em mais
frente na Rua Gen. Sampaio, s/n, hipotecada ao barão sete imóveis: Rua Senador Pompeu, nº 22; rua Formosa
de Ibiapaba, de 3:500$000 réis; casa na povoação de (nos 151 e 153); Rua Gen. Sampaio s/n (entre nos 75 e 77);
Arronches; e terras na Sabiaguaba, compradas de Luis Rua Major Facundo, nº 98; Rua Senador Pompeu, (nos
Mathes do Nascimento. Em 1878, arrematou de Thereza 158 e 220). Esse filho se casou com Maria Julia Alves,
Lima de Jesus, casa de uma porta na Rua Conde d’Eu, no filha de Francisco Manoel Alves, capitão, acionista da
baixo da praia, nº 12. Nota-se, nesta década (1870), um Companhia União Cearense (com dez ações) e sócio
parcelamento já definido por quadras na área do Outeiro, efetivo do Club Cearense. Possuía, ainda, 22 imóveis
nas proximidades do Colégio dos Educandos. assim distribuídos: cinco casas na Rua Amélia (nos 8, 10,
FIGURA 224
Propaganda da Casa
Albano, 1912.
Fonte: Almanak
Hénault, 1913.
18, 20 e 22); uma na casa Boa Vista, nº 21, seis na Rua da Cia. União Cearense (com três ações). Sua loja de
da Cadeia (nos 13, 15, 17, 19, 50, s/n e s/n); três na Rua da fazenda localizava-se na Rua Formosa, nº 107. Possuía
Palma (nos 40, 44 e 98); quatro casas na Rua Imperador 20 imóveis, a saber: nove na Rua Formosa, (nos 107, 121,
s/n; e duas na Rua Formosa (nos 41 e 45). 182, 184, 186, 194, 196, 202 e 204); um no Outeiro dos
O capitão José Francisco da Silva Albano, filho de Educandos s/n; um na Rua do Rosário, nº 20; um na
Manuel Francisco da Silva, português e comerciante Praça dos Voluntários, nº 17; oito na Rua Amélia (nos 112,
em Fortaleza, recebeu, em 1887, o título de Barão de 130, 201, 203, 205, 211, 215 e 217).
Aratanha. Era caixeiro de José Smith de Vasconcelos, Luiz Rodrigues Samico Sobrinho foi juiz de órfãos
e criou, em 1852, com seu irmão Manuel Francisco da e empregado da Câmara como solicitador. Possuía 18
Silva Albano, a firma Albano & Irmão, conhecida como imóveis: 11 na Rua Amélia (nos 63, 65, 72, 74, 76, 78, 80,
“Loja do Povo” e depois “Casa Albano”. Era uma grande 82, 86, 98 e 100); cinco na Rua das Hortas (nos 51, 53, 55,
loja de fazendas nacionais e estrangeiras, vinhos finos e 57 e 59); e dois na Rua Formosa (nos 54 e 56).
vários outros produtos, situada na Rua da Palma (atual O comerciante Diogo José da Silva participou com
Major Facundo). Os 20 imóveis de José Francisco loca- 20 ações da sociedade anônima para a construção da
lizavam-se: dois na Rua Boa Vista (nos 42 e 44) e na do Estrada de Ferro de Baturité, juntamente com o Cel.
Rosário (nos 44 e 46); três na Rua da Palma (nos 54, 89 e Joaquim da Cunha Freire (150 ações), Dr. Gonçalo Batista
91); seis na Rua das Flores (nos 25, 27, 29, 31, 33, 35); sete (100 ações), Senador Pompeu (60 ações), José Joaquim
na Rua Formosa (nos 30, 32, 34, 36, 38, 40 e 42). O irmão Carneiro (50 ações), vigário Francisco Salles de Oliveira
Manuel Francisco foi vereador e dirigiu interinamente a Bastos (925 ações). Sua loja de fazenda localizava-se na
Prefeitura. Possuía mais 15 imóveis: um na Rua Conde Rua da Palma, nº 71.
d’Eu, nº 64; um na Praça da Assembleia, nº 61; seis na Rua Antônio Gonçalves da Justa310, (1831-1878), era
da Palma (nos 52, 85, 87, 122, 148, 154); e sete na Rua For- comerciante e político vinculado ao partido conserva-
mosa (nos 151, 153, 177, 179, 181, 183) (Figuras 223 e 224). dor, bem como tenente-coronel da Guarda Nacional, do
Luiz de Seixas Correia, juiz de paz e 4º capitão do Corpo de Cavalaria, Tesoureiro da União Conservadora
1º distrito da capital, era sócio efetivo da Associação (Grêmio Cearense), quinto Vice-governador do Estado
Comercial, sócio efetivo do Club Cearense e acionista do Ceará e Juiz de Paz. Foi várias vezes vereador da
310 Não foram encontrados dados suficientes sobre o parentesco com o português Antônio Gonçalves Justa, falecido em 1852, e grande
construtor na Rua Amélia, conforme visto no capítulo anterior.
2 74 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Câmara Municipal de Fortaleza e seu presidente entre Quartel, nº 1. Desses, três313 eram de uso próprio e 11
1869 e 1876. Era sócio da firma Antônio Gonçalves da estavam alugados. Em 1890, esse número aumentou
Justa & Cia, sediada na capital. Possuía 15 imóveis: três para 18. Constata-se investimento imobiliário dessa
na Praça Visconde de Pelotas s/n; um na Rua Amé- firma na zona portuária. A firma Kalkmann314 & Cia.
lia, nº 111; dois na Rua Formosa (nº 94 e nº 96); e nove possuía apenas dois imóveis para uso próprio, ambos
na Rua Municipal s/n. situados na Rua da Palma, nº 25, e da Alfândega, nº 63.
A tabela 30 revela os maiores proprietários de imóveis Na Décima Urbana de 1890, destacam-se ainda a firma
urbanos, por família, entre 1872 e 1890, destacando-se os Boris Frère315, com 22 imóveis, a Singlehurst & Co.316,
Cunha, os Pompeu de Souza Brasil, o Barão de Aquiraz311, com 16, e a Gradvohl Frère317, com cinco (Tabela 32).
os Silva, os Albano, os Amaral e os Seixas. Observa-se que a elite imperial ligada ao comércio
Com base nesses dados, é possível concluir que era cresceu ao longo da segunda metade do século XIX, pas-
um ótimo negócio investir no setor imobiliário nos Oito- sando de 42 negociantes em 1845 para 131318 em 1870, e
centos, sobretudo em função da receita sob a forma de elevando-se para 430 em 1896. A partir de 1920, nota-se
aluguéis (Tabela 31). mudança nesse cenário: os grandes proprietários de
Entre as casas exportadoras estrangeiras citadas imóveis urbanos são os antigos comerciantes estran-
na Décima Urbana de 1872, encontra-se a Singlehurst geiros, bem como novos ricos vinculados ao comércio
& Co.312, que possuía uma prensa hidráulica a vapor, e a bancos - José Gentil Alves de Carvalho – ou ligados
um depósito de carvão vegetal na Rua da Praia, nº 3, à indústria - Maximiano Leite Barbosa319 e Antonio Diogo
um armazém de secos e molhados na Praça Municipal de Siqueira (Tabela 33).
(atual Praça do Ferreira) e um armazém de açúcar na Tal como demonstrou Mônica Brito para o caso de
Rua do Mercado, nº 53. Era proprietária de 14 imóveis São Paulo, verifica-se enorme diversidade de investimen-
na cidade: sete na Rua Conde d’Eu (nos 40, 42, 45, 47, tos desses “capitalistas” oitocentistas, simultaneamente
49, 51 e 53); um na Praça da Assembleia, nº 13; qua- envolvidos com empresas particulares, bancos, casas
tro na Rua da Praia (nos 1, 3, 5 e 13); e um na Rua do bancárias, cias. de seguros (Tabelas 34 e 35).
(em 1888)
Luiza Gonzaga da Cunha, filha de Severiano, casada com Dr. José Sombra (1890 - herdeiros) 11
28321
110 164
70 75
Total 35 50
Total 45 7
35 45
- 48
320 Após o seu falecimento, seus imóveis foram adquiridos por pessoas diferentes restando apenas três: dois na Rua Formosa s/n e Rua
da Boa Vista s/n.
321 A décima de 1890 faz referência a 16 imóveis, enquanto o inventário de 1888 arrola 28.
322 A décima faz referência a 22 imóveis e, no inventário na partilhas dos bens de seu pai, Severiano Ribeiro da Cunha, são 28.
323 Foi vereador da Câmara Municipal de Fortaleza, dirigindo interinamente a intendência municipal.
324 Comerciante e continuador dos negócios do pai, Antonio José do Amaral.
325 Comendador casado com Maria da Justa de Seixas Correa e pai do Dr. Antonio da Justa Seixas Correa (n. 1864), médico pelo RJ.
276 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
TABEL A 31 Famílias proprietárias de imóveis urbanos – TABEL A 33 Cidade de Fortaleza: Empresas Particulares
1872 – 1890
Empresa Telefônica
1872 1890 Ceará Gás Company Limited
Família Cunha 110 prédios = 164 prédios = Companhia de navegação – “Loide Brasileiro”
3:459$000 2:720$000
Navegação Costeira – Loide Nacional, Delta Line e America
Família Souza Brasil 70 prédios = 75 prédios = Brazil Line327
e Vieira 1:730$600 1:215$500
Chargeurs Reunia, Sud Atlantic, Mala Real Ingleza, Comércio e
Família Albano 35 prédios = 50 prédios = navegação, Costeira328
1:287$400 1:045$000
The Booth Steamship Co. Ltd.329
Família Amaral 45 prédios = 7 prédios =
Lamport & Holt Ltd. e Navegação das Lagoas330
746$000 180$000
Norddeutscher Lloyd Bremen331
Família Seixas 35 prédios = 45 prédios =
606$000 1:015$000 Companhia de Navegação Aérea (Panair do Brasil S/A)332
Gomes Barbosa - 48 prédios = Fonte: Almanaque de 1933.
1:355$000
Total: 8
Total: 5
Total: 13
3.7.2 Os setores médios da População Urbana Quanto às atividades terciárias, observa-se a pre-
sença marcante de sujeitos envolvidos em serviços
Se por um lado, o Ceará, no final do século XIX, atraves- domésticos (84), lavadeiras (144), engomadeiras (23),
sou tempos difíceis com as seguidas secas (1877-1879, criados (16), totalizando 267 pessoas. Foram registrados
1888 e 1900), por outro vivenciou “o despontar de seis tipógrafos, entre eles, Joaquim Lopes Verçosa349,
uma série de movimentos intelectuais destinados a se Francisco Perdigão, Raimundo Paula Lima350, Antônio de
revelarem um dos mais curiosos capítulos da história Lafayette. Dentre os profissionais liberais, encontram-se
da literatura brasileira” (TINHORÃO, 1966:19). Esses 10 engenheiros351 – Adolpho Herbster352, Antônio Teixeira
movimentos, desde a Academia Francesa de 1872 até a Coimbra353, Carlos Eduardo Pierrelevèe, Epaminondas da
Padaria Espiritual em 1892, prendem-se, “fundamental- Frota, Francisco Cândido de Souza354, Francisco Perdigão
mente, ao advento de uma classe média nas principais de Oliveira, Francisco Sá355, Hildebrando Pompeu de
cidades da província e, acima de tudo, em Fortaleza”, Souza Brazil356, os ingleses Jean Seiland357 e José Wilson.
composta “por amanuenses, empregados em escritórios Sobressai-se também a diversificação de especializações
de grandes firmas, estudantes, profissionais liberais e no ramo da construção civil: carpinas (25), pedreiros358
pequenos comerciantes” (TINHORÃO, 1966:21). (20), marceneiros (10), pintores (7), carpinteiros (3) e
O censo de 1887 revela a diversidade de atividades calceteiros (2). O Almanaque de 1896 revela a presença
produtivas – primárias, secundárias e terciárias – pre- de empreiteiros (9) ou contratadores de obras: Izaac
dominantes em Fortaleza naquele momento (Tabela 36). Correia Amaral359, Cassiano Ferreira Gomes, Francisco
Dos 143 indivíduos relacionados às atividades pri- Alves de Carvalho, Francisco Pedra Branca, João de
márias, constata-se a presença de 97 lavradores346, 23 Goes, João Baptista, Joaquim Lino da Silveira, Victoriano
pescadores e 18 agricultores. Os lavradores situavam-se Gomes de Oliveira e Victoriano Ferreira de Souza, o que
principalmente na periferia da área urbanizada: Arraial demonstra a dinâmica de transformação edilícia em
da Aldeota, Caminho do Cocó, Boulevard Visconde do uso em fins do século XIX. A empresa de Isaac & Cia.
Rio Branco, Estrada de Messejana, enquanto os pesca- empregava pedreiros, marceneiros, carpinteiros, fer-
dores localizavam-se próximo ao mar, no Arraial Moura reiros etc., “avulsamente, em suas atividades, tanto em
Brasil, na rua do Paiol. Fortaleza como em outras partes do Estado” (NOBRE,
Vinculados às atividades secundárias, destaca-se 1989:196). O Censo de 1887 define 85 proprietários, entre
um número significativo de costureiras (110), de tece- os quais verificam-se vários negociantes, comerciantes,
lões (61), de jornaleiros347 (496), de artistas348 (364) e de industriais360 e viúvas de negociantes.
agências (219). Em contrapartida ferreiros (5) e tornei-
ros (2) eram escassos.
Desenhistas 1 Criados 16
Encadernador 1 Desenhista 1
Feitor 1 Despachantes 2
Ferreiros 5 Engenheiros 10
Ficheira 1 Engomadeiras 23
Floristas 3 Escrivães 5
Fogueteiros 2 Farmacêuticos 6
Industrial 1 Guarda-livros 11
Marceneiros 10 Mágicos 2
Marchantes 19 Magistrados 9
Mascates 2 Médicos 8
Mecânicos 2 Músicos 3
Modistas 7 Parteiras 2
361 Professores (cinco), Professor aposentados (dois), Professores particulares (sete) e Professores Públicos (quatro).
362 Três são comerciantes portugueses.
280 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Quanto aos funcionários públicos, também com- TABEL A 37 Cidade de Fortaleza: funcionários públicos
põem o quadro social da cidade em número significativo - 1887
(319), conforme se verifica na Tabela 37, o que corrobora
Grupos Ocupacionais Números
a hipótese da reestruturação da máquina burocrática
então em curso para controle do território e da cidade. Alferes (do exército) 4
Soldado (Marinha) 09
Superintendência da G. C. 1
Tabelião público 1
Tenente do exército 1
Viúva pensionista 1
Total 319
Fonte: Censo de 1887
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 281
Farmacêuticos 6 6 10
Fogueteiros - 2 2
Fotógrafos 4 1
Guarda-livros - 11 16
Mascates 1 2
Médicos 8 8 23
Mestres de obras - - 4
Pedreiros 23 20 17
Professores de Piano 5 5 9
Pintores - 7 5
Relojoeiros 3 1 2
Retratistas 1 2 -
Taquígrafos da Assembleia 2 - -
Tecedeiras - 12 -
Tipógrafos 28 6 8
Fonte: Censo de 1887; Almanaques 1870, 1896; BEZERRA DE
MENEZES, 1992.
3.7.3 Algumas trajetórias si fazem a viúva e filhos”, que os imóveis do grupo Diogo
estavam implantados em várias áreas da cidade: terre-
O Grupo Diogo Siqueira que, durante as últimas déca- nos: no Alagadiço a oeste da Linha da Estrada de Ferro
das do século XIX, exportava couro e peles, passou de Baturité, com três pequenas casas e um grande
depoisa investir no setor de sabão, óleo, cigarros prédio em que antigamente funcionou uma fábrica de
e beneficiamento de algodão e, finalmente, no têx- sabão, medindo 1.500 palmos (330m) de frente e com
til. Nota-se também uma ampliação dos negócios, as extremas constante da escritura373; outro a leste
especialmente no setor fabril, incorporando diversas da referida Estrada de Ferro de Baturité, em frente ao
fábricas em pontos diferentes da cidade - a fábrica terreno anterior, que mede 100 palmos (22m) de frente,
Santo Antônio371, de fios e tecidos grossos de algodão e tem as extremas constantes da predita escritura
(estampas, brins, riscadinhos, sacos), por exemplo, foi pública de 19/7/1907; no prolongamento da Rua Gui-
arrematada pelo grupo entre 1925 e 1930. A Ceará lherme Rocha, medindo 301 palmos (66,22m) de frente
Industrial, que pertencia a Boris Frères, passa para e 495 palmos (108,9m) de fundo, extremando ao Norte
o controle do grupo na década de 1920, responsável com aquela avenida, ao sul com o terreno nos fundos
pelos tecidos finos (algodãozinho, brins), incluindo no do “Asilo Bom Pastor” acima descrito (Jacarecanga) e
seu espaço uma oficina mecânica para a manutenção a Leste e a Oeste com os terrenos que são ou foram
de equipamentos de todas as fábricas da empresa. A de propriedade de Lauro da Rocha Salgado374; na Av.
São Luiz produzia fios e redes, enquanto a Santa Elisa, Imperador, lado nascente, com 77 palmos (16,94m) de
a primeira fábrica do grupo, objetivava a fabricação de frente murada, fundos de meio quarteirão, benfeitorias
fios, redes e a prensagem do algodão para a expor- e servidões, adquirido pelo inventariado em 7/8/1911375;
tação; “como consequência da instalação da Usina entre o Boulevard Duque de Caxias e a Rua do Livra-
Ceará, não mais serão extraídos óleos e fabricados mento, lado poente, com 54 palmos (11,88m) de frente
sabões” (VIANA, 2009:242). e fundos de ½ quarteirão, adquirido em 22/8/1911376;
Em 1932, foi sócio-diretor do Banco dos Impor- terreno desmembrado do antigo Sítio “SÃO LUIZ”,
tadores, além de participar de diversas associações adquirido em 26/9/1918377. O dito terreno é constituído
patronais: Centro de Importadores, Associação pela parte restante das terras do mencionado sítio São
Comercial e Centro Industrial Cearense como vice- Luiz, excetuada a que o inventariado fez doação para a
-presidente. Construiu e manteve o Leprosário Antonio fundação do atual Asilo do Bom Pastor. Está situado
Diogo e foi sócio benemérito da Fênix Caixeiral e do nos fundos do mesmo Asilo até encontrar a linha da
Centro Artístico Cearense. Estrada de Ferro de Baturité, no Bairro de Fernandes
O grupo Filomeno Gomes, além de investidor do Vieira, antiga Jacarecanga, limitando-se mais, ao Norte
setor têxtil, sabão, óleo vegetal e cigarros, criou, em e ao Sul, pelas antigas extremas do referido sítio São
1925, a Empresa Matadouro Modelo Ltda372, juntamente Luiz; no bairro Otávio Bonfim (antigo Matadouro), na
com o marchante Arthur Themoteo, o capitalista Abel estrada empedrada de Soure, com 50 palmos (11,0m)
Ribeiro e outros sócios minoritários, “com o objetivo de de frente e 250 palmos (55,0m) de fundo, a partir do
construir e explorar um matadouro modelo em Forta- alinhamento da rua e com as extremas constantes da
leza.” (VIANA, 1994:419). Nota-se a vinculação do grupo escritura particular, adquirido em 10/3/1920; na Rua
com novos equipamentos urbanos, como matadouro Padre Mororó, lado leste, confinando ao norte com
e leprosário, centrais no âmbito da política higienista a Rua D. Pedro e ao sul com o Boulevard Duque de
então em curso, sob o patrocínio e orquestração do Caxias, medindo 381 palmos (83,82m) frente e fundo de
Estado. Destaca-se também na estratégia imobiliária, ½ quarteirão, adquirido em 3/12/1931378; na Rua Santa
como se pode observar na “Escritura particular de des- Tereza, com 57 palmos (12,54m) de frente e fundo de
crição, avaliação e partilha amigável de bens que entre ½ quarteirão, estando nele encravadas duas casas de
371 Pertencente a Monteiro, Andrade & Cia., constituída em 1924, localizada na Rua Antônio Pompeu, arrendada pelo grupo A. D. Siqueira em 1927.
372 A concessão foi suspensa pelo Decreto nº 17, de 2/5/1931.
373 Escritura publica de 19/71907, lavrada em notas do tabelião JOAQUIM FEIJÓ DE MELO, registrada sob o nº 3.112.
374 Inventário Comendador Luis Ribeiro da Cunha, Sítio São Luis, com grande casa de morada abarracada, casa com banho, cacimba de
água potável, casa e aviamento de fazer farinha, cercado, com parte do terreno murado, currais de gado, pequeno açude, baixa para capim e
muitas fruteiras.
375 Lavrada em notas do Tabelião ALEXANDRINO DIOGENES, registrada sob o nº 3.798
376 Lavrada em notas do tabelião ALEXANDRINO DIOGENES.
377 Lavrada em notas do tabelião LUIZ XAVIER DE CASTRO e registrada sob o nº 5.123
378 Lavrada em notas do Tabelião RAUL DE SOUSA GIRÃO e registrada sob o nº 13.468.
O PA P E L DA IN ICIATIVA PRIVA DA N A A PROPR I AÇÃO E PR OD UÇÃO MATER I AL DAS ÁR EAS PLANEJADAS (1863-193 3 ) 283
taipa, adquirido pelo inventariado de acordo com a Banco Frota Gentil S/A. Em 1933, abriu a Imobiliária
escritura pública de 30/7/1925379. Além dos terrenos José Gentil S/A, que tinha como sócios: José Gentil
nos arredores da cidade, fundamentais e lucrativos Alves de Carvalho (majoritário com 24.000 ações),
para o futuro processo de expansão de Fortaleza, o Francisca da Frota Gentil (250 ações), João da Frota
mesmo industrial tinha casas: na Rua Antonio Pompeu Gentil (100 ações), Dr. José Torquato de Aguiar (100
(1 chalé); na Rua Barão do Rio Branco (nos 208, 210, ações), Dr. Nestor Barbosa Leite (100 ações), Eugenio
219, 231, 491, 493); na Av. Bezerra de Menezes (Bairro Porto Cesar do Amaral (100 ações) Adalberto Costa
São Gerardo, antigo Alagadiço, s/n – prédio com 4 Sousa (100 ações), José Campos Paiva (100 ações) os
portas); na Rua Conceição (atual Dom Manuel - nos 68 outros restantes com 10 ações cada. Foi presidente da
70); no Boulevard Duque de Caxias (nº 399, s/n, s/n); Associação Comercial do Ceará durante dois períodos
na Rua Gen. Mesquita (nos 168, 170, 172, 174, 176); na - 1905-1908 e 1913-1936; “não queria misturar política
Rua Gal. Sampaio (nos 9, 11, 13, 15, 401, 403, 405); na com negócios, mas aceitou, em certa época, ser eleito
Rua Guilherme Rocha (nos 300, 414 - Chácara); na Rua vice-presidente do Ceará” (BARROSO, 2004:248). Em
do Imperador (Vila Diogo380, nos 348, 350, 352, 354, 1922, possuía 41 imóveis em Fortaleza. De acordo com
356, 458, 360, 362, 364, 366, 368, 370, 372, 374; 384, o imposto predial de 1936 totalizavam mais de 150. A
389, 397); na Rua Liberato Barroso (nº 20); na Rua maioria concentrava-se no bairro do Benfica, incluindo
Major Facundo (nos 232, 234); na Rua Nogueira Acióli a Gentilândia (Tabela 40).
(atual Av. Santos Dumont s/n – chalé381 e s/n382); na Rua Na linha do que disseram Nestor Goulart Reis,
Pedro Pereira (nos 204, 206); na Rua Santa Tereza (Vila Monica Brito e Beatriz Bueno, a produção material do
Diogo383 - nos 345, 347, 349, 351, 353, 357, 359, 361, 363, território e da cidade em inúmeros ramos de ativida-
365, 367, 369, 371, 373, 375, 377, 379, 381, 466, 468, 470); des – infraestrutura, serviços urbanos, equipamentos
na Rua do Seminário (nº 13); na Rua Senador Pompeu e imóveis - tornara-se um excelente negócio.
(nº 505); na Travessa do Cemitério (nos 55, 57, 59, 61,
63, 65, 67, 87, 89, 91, 125, 127, 129, 131, 133, 135, 137, 139,
306); no Boulevard Tristão Gonçalves (nos 82, 84, 356,
358, 360, 364, 366, 368, 370, 374, 380, 392, 394, 373, TABELA 40 Imóveis urbanos da Imobiliária Gentil – 1936384
375, 377, 379, 381); na Rua interna da Vila Diogo (nos
Ruas da Gentilândia
1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19, 21, 23, 25, 27, 2, 4, 6, 8, 10,
12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 26, 28, 30, 32, 34, 36 e 38); no Adolpho Herbster 17
379 Lavradas em notas do tabelião ALEXANDRINO DIOGENES, registradas sob o n. 8,821, no livro de transcrição..
380 14 casas com 28 portas de frente, medindo 286 palmos (62,92m) e 118 palmos (25,96m) de fundo.
381 Chalé de tijolo e telha, com 2 portas de frente, encravado em 208 palmos (45,76m) de terreno de frente sobre 500 palmos (110,0m) de
fundo, adquirido pelo inventariado, de acordo com a escritura publica, em 15/9/1923, lavrado em notas do tabelião ALEXANDRINO DIOGENES,
registrada sob o n. 7.335.
382 Prédio de tijolo e telha encravado em um terreno no prolongamento do Boul. Nogueira Acióli, à margem esquerda da linha de bondes,
com 300 palmos (66,00m) de frente e fundos pertencentes, adquirido pelo inventariado de acordo escritura pública de 8/8/1923, lavrada em
notas do tabelião ALEXANDRINO DIOGENES e registrada sob o n. 7.249.
383 Lado nascente, dezenove casas com 38 portas de frente, medindo 384 palmos de frente e (84,48m) e 109 palmos (23,98m) de fundo,
extremando ao norte com a esquina da Rua D. Pedro e ao sul com o Boulevard Duque de Caxias.
384 Possuía outros imóveis na área central e nas proximidades do porto (34).
284 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
285
A
A pesquisa ora apresentada analisou o processo de
urbanização de Fortaleza, entre 1810 e 1933, compreen-
dendo o papel do poder público e da iniciativa privada
na apropriação e produção material da cidade. Analisou
as mudanças em duas escalas, a do território e a do
intraurbano, em três momentos de inflexão (1810, 1863
Quanto aos instrumentos de controle do uso do solo,
a Postura de 1868 exigiu o disciplinamento do espaço
urbano mediante o respeito ao traçado em xadrez e
estabeleceu o zoneamento de funções e usos. Somente
em 1932, o Código Municipal favoreceu a verticalização
dos imóveis na zona central e comercial (prédios de
e 1933). Com isso, pretendeu contribuir com novas dois ou mais pavimentos) e, ao mesmo tempo, esta-
possibilidades de interpretação histórica do urbanismo, beleceu um novo esquema de parcelamento do solo
espacializando o processo de formação e transforma- (incluindo recuos laterais nos novos bairros residen-
ção da tessitura urbana, especialmente na área central, ciais). Tessituras diversas configuraram-se na área
e pondo luz nos agentes e na dinâmica de produção central na longa duração.
dos espaços intraurbanos. Contribui com uma série de Ao contrário das décadas precedentes, em que as
exercícios de reconstituição gráfica e interpretação do diversas atividades se misturavam num mesmo espaço,
espaço intraurbano, realizados mediante a sobreposição a partir de 1920, delineava-se, em Fortaleza, uma estru-
de documentação textual, cartográfica e iconográfica. tura com áreas mais definidas para cada grupo social
A hipótese central é a de que Fortaleza, entre 1863 e e uso. Na década de 1930, observa-se a aceleração do
1933, cresceu induzida por planos e normas de regulação, processo, com a ampliação de novos bairros ao longo
mas foi edificada de fato pelas mãos da iniciativa privada. das antigas estradas, então transformados em vias
O mesmo não se observa a partir do ano de 1933, verifi- radiais (Figura 226) e a ocupação da zona oeste (Figura
cando-se a incapacidade do Estado de conduzir as ações 227). As moradias foram gradativamente deslocadas:
da iniciativa privada. Verificou-se que a cidade seguiu primeiramente para novas áreas próximas ao centro
sendo transformada pelas mãos da iniciativa privada, (ao longo das ruas Senador Pompeu, 24 de Maio e em
mas que o poder público perdeu a capacidade de indução torno de algumas praças) e, num segundo momento
e condução, constatada anteriormente. (com a realocação da via férrea em 1919), ao longo da
A década de 1860 marca um período de profundas Rua Guilherme Rocha (antiga Municipal) entre a praça da
transformações decorrentes da economia do algodão Lagoinha e a praça Fernandes Vieira. No final da década
e do papel de Fortaleza como porto exportador do de 1920, a área urbanizada espalhava-se até as margens
produto para o mercado externo. Nesse momento de do riacho Jacarecanga, ao longo da Avenida Filomeno
prosperidade, o poder público induziu o crescimento Gomes (antigo Boulevard Jacarecanga). Outros pontos
da cidade por meio de um plano de expansão proposto da cidade foram também ocupados, como, o bairro do
pelo engenheiro Adolpho Herbster (1863). O plano Benfica, fruto do parcelamento da chácara do empresá-
seguiu um padrão de intervenção urbana recorrente rio coronel João Gentil Alves de Carvalho (Gentilândia).
no Brasil-Império, optando por uma malha ortogonal Nota-se a aceleração da ocupação também do bairro
semelhante à de outras capitais do Norte e Nordeste Aldeota, ao longo da Av. Santos Dumont, passando de
(Figura 225). Observa-se também que instrumentos de 18 imóveis arrolados em 1922 para 110 em 1936.
regulação urbanística (como os códigos de posturas) Em paralelo, observam-se grandes comerciantes
permaneceram de uma mesma natureza no Império cearenses e estrangeiros atuando na capital, sobre-
e ao longo de toda a Primeira República. Da mesma tudo aqueles vinculados às importações e exportações.
forma, observa-se a manutenção de um processo de Esses investiam em diversas modalidades de negócios
terceirização da infraestrutura urbana ao capital privado, urbanos: comércio, empréstimo de dinheiro a juros,
cabendo ao poder público fiscalizar a qualidade dos renda de aluguel, obras de infraestrutura, serviços e
serviços prestados. equipamentos urbanos.
286 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
O “perímetro central” da cidade é definido como tal e partir de 1927, algumas novas vias de comunicação foram
passa por um processo de mutação de usos e tipologias realizadas: do Outeiro ao Mucuripe e da Praça Fernandes
edilícias. De predominantemente residenciais e térreos, Vieira às novas oficinas do Urubu, na zona oeste.
os imóveis do centro foram progressivamente se verti- A ocupação intensiva para sudoeste deve-se à loca-
calizando, cedendo lugar ao comércio, aos serviços, aos lização das fábricas têxteis no bairro de Jacarecanga,
edifícios da administração pública e ao lazer1. Nenhum próxima à linha férrea sul, no cruzamento com a Ave-
grande plano de remodelação urbana foi realizado, de nida Demóstenes Rockert, seguida de outras indústrias.
modo que o centro não mereceu cirurgias urbanísticas Estas, por sua vez, atraíram um grande contingente de
de tipo haussmanniana, transformando-se ao sabor dos migrantes do interior do Estado, condicionando inclusive
intentos da iniciativa privada. Única exceção é a primeira a expansão do Arraial Moura Brasil e do Arraial Pirambu,
fase da abertura da Rua Liberato Barroso e a segunda o que consolidou a periferia sudoeste.
o “ypsilone” do Araripe, pequeno prolongamento das No sentido leste, transpondo a antiga barreira do
ruas Liberato Barroso e Assunção, em 19382, realizado riacho Pajeú, consolidou a o novo bairro da Aldeota,
de acordo com o plano da Secção Técnica da Diretoria “reduto da burguesia, que exercia a sua hegemonia nos
de Viação e Obras Públicas Municipais (Figura 228). diferentes setores da vida urbana” (JUCÁ, 2003:40).
As intervenções públicas de caráter urbanístico no Essa ocupação começou “a ganhar contornos visíveis
centro de Fortaleza restringiram-se a melhoramentos de [...] de que participavam sertanejos recém-imigrados e
logradouros públicos (arborização das ruas, calçamento, gente de cujos bens pouco se sabia a origem, em maior
ajardinamento das praças3, iluminação pública). Somente a parte beneficiários da seca de 1932” (CASTRO, 1987:244),
1 Inauguração do Teatro José de Alencar (1910) e dos cinemas Polytheama (1911), Majestic (1917) e Moderno (1920).
2 Decreto 416, de 7 de novembro de 1938.
3 No período da administração do intendente Guilherme Rocha, urbanizam-se a praça do Ferreira (1902) e a Praça Marquês de Herval (1903).
288 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
limitando-se ao final da linha de bondes, nas proximi- ruas dominantes e de 13 metros nas ruas de menor
dades da Rua Carlos Vasconcelos. No levantamento circulação. O artigo 25 determinava que os loteamentos
dos projetos para novos loteamentos, percebeu-se que só seriam permitidos se fossem “devidamente aprovados
grandes glebas foram parceladas, mas permaneceram ou modificados pela Prefeitura os planos respectivos,
desabitadas, como o empreendimento de Antônio Mat- devendo o interessado requerer, previamente a apro-
tos Porto, Lydianópolis Nova Cidade, de 1931 (Figura vação de um anteprojeto, com a indicação das ruas
229), ampliado em 1940 como bairro de Meireles - “A a serem abertas”. Determinava também terrenos com
topografia plana e a estrutura fundiária, com formas área mínima igual ou superior a 40.000m2, sendo que “o
rigidamente ortogonais, facilitaram a expansão do espaço a ser ocupado por vias públicas não poderá ser
bairro, repetindo-se a retícula em todas as direções” inferior a 20% da superfície total” (Art.28). Nesse sentido,
(DIOGENES, 2005:44). a Prefeitura não induziu a ocupação de novas áreas, mas
Convém ressaltar que, nesse período, a iniciativa garantiu a qualidade dos resultados, deixando ao sabor
privada conduziu o processo de expansão segundo a dos interesses dos particulares a colagem de novos
lógica dos seus interesses, cabendo aos proprietários loteamentos nas áreas envoltórias da cidade, justapostos
de terra definirem as novas áreas a serem incorporadas de forma “anárquica” e não planejada.
à cidade. De qualquer forma, o parcelamento dos lotes O prefeito Tibúrcio Cavalcante, em seu relatório de
deveria seguir o padrão definido pelo Código de Posturas setembro de 1932, apresentado à Interventoria, relata: “a
de 1932, muito diferente daquele definido pelo Plano construção da planta da cidade (a de 1931) veio tornar
de Herbster. Na década de 1930, grandes áreas foram evidente a necessidade inadiável de ser adotado um
loteadas dessa forma nos eixos oeste e sudoeste4 da plano para o sistemático desenvolvimento da cidade e
cidade, configurando uma tessitura urbana em colcha de a conveniência de ser consultado um urbanista sobre o
retalhos. O Código de Posturas do Município de Fortaleza seu traçado” (GIRÃO, 1943:205). Para isso, foi convidado
de 1932 definiu diretrizes específicas para a divisão das o arquiteto Nestor de Figueiredo, que se encontrava
quadras e lotes, estabelecendo dimensões mínimas para no Recife e já havia elaborado um plano para a capital
ambos (quadras de 100m X 100m e lotes com testada pernambucana e outro para João Pessoa. Quando o
mínima de 10m e 22m2 ). Quanto à largura mínima das prefeito Raimundo Girão assumiu a prefeitura, mandou
ruas, determinava que as vias fossem de 18 metros nas o plano para o Conselho Consultivo.
4 Segundo levantamento dos loteamentos na Prefeitura Municipal de Fortaleza e escrituras particulares do Arquivo Público do Estado.
C O N SIDERAÇÕ ES FIN A IS 289
Antô
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O parecer emitido pelo conselheiro Eurico Salgado o apoio incondicional de todos e nunca prevenções
foi favorável: desarrazoadas e personalistas (GIRÃO, 1943:210).
aos bairros-jardins, que devem constituir a zona edifi- naturais, sem a necessidade de prescrições artificiais
cada do seu perímetro”. do poder público. Basta apreciar, na história ainda
Durante a votação do plano, no Conselho Consultivo, recente da cidade, o que se tem passado com os
o conselheiro Júlio Rodrigues, contrário a ele, justifica-se quarteirões das ruas Major Facundo, Floriano Peixoto
ressaltando a falta de concorrência pública, as condi- e Barão do Rio Branco, mais próximos da Praça do
ções financeiras da administração pública, destacando, Ferreira” (GIRÃO, 1943: 221).
ainda que, no lugar do plano geral de urbanização, deli-
neado em novos moldes urbanísticos, devia-se apenas O prefeito Alvaro Weyne, que substituiu Raimundo
“ampliar e desenvolver o existente, corrigindo-lhe esta ou Girão, rescindiu o contrato com Nestor de Figueiredo:
aquela imperfeição que o tempo tenha evidenciado, para “por parecer ao recém-empossado, que a cidade
atender às novas necessidades criadas pelo constante precisava de coisas mais importantes do que planos
progresso de Fortaleza” (GIRÃO, 1943:220). A título de urbanísticos” (CASTRO, 1982:26).
exemplo, cita a possibilidade de se “estabelecer a inter- Assim, a partir de 1933, com o fracasso do plano
comunicação entre os bairros existentes, abrindo novas regulador, observa-se um momento de inflexão num pro-
artérias de ligação, e a de prever a possível expansão cesso em curso desde meados do Oitocentos: a cidade
da cidade na direção do Mucuripe”. seguiu sendo transformada pelas mãos dos empreen-
Continua sua exposição: dedores imobiliários, que capitanearam a produção de
áreas novas, constituindo uma malha viária diversificada
Que necessidade há em Fortaleza, por exemplo, de e anárquica. Como se observa, o poder público perdeu
se determinar zona especial para as casas residen- a capacidade de indução e condução do processo. A
ciais, de modo a assegurar-lhes a tranquilidade e o Figura 231 apresenta os loteamentos realizados nas
repouso? A separação entre a zona comercial e a décadas de 1930 e 1940, fora do perímetro do plano de
residencial vai-se operando naturalmente, no curso Adolpho Herbster. Merece destaque o Parque Trindade,
do desenvolvimento e progresso da cidade. À medida na avenida 13 de Maio, de propriedade da Imobiliária José
que o centro se comercializa, as famílias, fugindo Gentil, no bairro Joaquim Távora, e as terras da Estância
certamente ao tumulto da vida comercial, se retiram Castelo, na avenida Antonio Sales, de propriedade do
para as zonas mais distanciadas: é um fenômeno de Sr. Dionísio Torres6, ambos projetados pelo agrimensor
crescimento da cidade, que obedece a leis a bem dizer Fernando Lima (Figuras 232).
1
1
10
10
7
7
3 2 3
2 6
6
4 4
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5 5
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Pa
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O centro prosseguiu sua trajetória sem nenhuma Moreira, desde a Rua General Bizerril até a Rua Barão
“cirurgia urbana”. No entanto, as novas legislações vão do Rio Branco; na Rua Guilherme Rocha, desde a Rua
induzir, de maneira decisiva, seu processo de verticali- Barão do Rio Branco até a Rua General Sampaio;
zação. Esse processo se deve, de forma mais acentuada, nas avenidas Alberto Nepomuceno e Pessoa Anta
aos decretos, que reescreveram o artigo n. 225, do em toda sua extensão; tratando-se de construções,
Código Municipal de 19387. reconstruções e reformas de prédios, somente serão
O Decreto de 1939 induz à verticalização a área concedidas licenças para sobrados (Decreto 461, de
central: 4 de julho de 1939, Art. 225) (Figura 233).
Na área delimitada pela face oeste da Rua Barão do Assim, vários grandes edifícios foram construídos na
Rio Branco, desde a Rua João Moreira até a Rua Pedro área central depois de 1933: o Edifício J. Lopes (1935),
Pereira; pela face sul da Rua Pedro Pereira desde a com sete pavimentos, na Rua Major Facundo (Figura
Rua Barão do Rio Branco até a Rua da Assunção; 234); o Edifício Parente (1936), de cinco pavimentos, na
pela face este da Rua da Assunção (prolongamento), Rua Guilherme Rocha (Figura 235); o Edifício Abel Ribeiro
desde a Rua Pedro Pereira até a Rua Liberato Barroso (1937); o Edifício São Luiz (1937/1959), com 12 pavimentos;
(prolongamento); pelas faces Sul da Rua Liberato o Cine Diogo (1940) (Figura 236), com nove pavimentos;
Barroso (prolongamento) e Travessa Granja, desde o edifício da Secretaria de Polícia e Segurança Pública
a Rua da Assunção até a Rua do Rosário; pela face (1942), com cinco pavimentos; a Secretaria de Finanças do
este da Rua do Rosário, desde a Travessa Granja Município, na Rua Floriano Peixoto; o Palácio do Comér-
até a Rua Guilherme Rocha; pela face este da Rua cio, do francês J. Mounier; e o Edifício Jangada (1948)
General Bizerril, desde a Rua Guilherme Rocha até com 9 pavimentos (Figura 237). Na figura 238, verifica-se
a Rua João Moreira; e pela face norte da Rua João a localização dos edifícios na década de 1930 e 1940.
2 3
11
15
13
12 7
1 4 5
6
10
9
14
8 Praça do Ferre ra
Ed os ons ru dos na d ada de 1930
Ed os ons ru dos na d ada de 1940
LEGENDA
Ed o Carne ro Ed o Paren e C ub Ira e a
E presa Te e n a de For a e a Lo a A Cearense Ed o C ne D ogo
O Nordes e Ed o J Lopes Obras do C ne São Lu s
E e s or Ho e Ed o Abe R be ro Ed o S udar
Ed o Gran o Pa o do Co r o Tr buna de Jus ça
Quanto à Praça do Ferreira, a grande alteração foi a No memorial descritivo, apresentado à Prefeitura
demolição da quadra onde se localizava a antiga Câmara Municipal de Fortaleza, em 1947, José Otacílio de Saboya
Municipal, logo após o incêndio de 1939, sendo criada Ribeiro relata o estado atual da cidade:
uma “pequena praça separada da outra apenas pela Gui-
lherme Rocha, quando por ela ainda circulavam carros” O crescimento feito à margem das vias radiais que
(AZEVEDO, 1991:163) (Figura 239). Na gestão do prefeito se estendiam fora desses limites (Avenida Bezerra
Acrísio Moreira da Rocha (1949), construiu-se o “Abrigo de Menezes, Avenida Visconde do Cauípe, prolonga-
Central”, com vários boxes comerciais (Figuras 240 e 241). mento da Rua Senador Pompeu, Avenida Visconde
Depois de 1933, observa-se a presença de novos do Rio Branco, Rua Santos Dumont etc.) é fruto de
atores sociais (pessoa física ou jurídica) na construção iniciativa privada, sem que tivesse a guiá-lo nenhum
do espaço urbano: Edificadora do Norte Ltda8; Hinko & plano geral ou quaisquer diretrizes urbanísticas [...].
Fabrício; Jacinto Matos; João Oscar (construtor); José Os bairros do Outeiro e da Aldeota, limitando o seu
Francisco (empreiteiro); José Nogueira (1928) (emprei- traçado ao xadrez mais ou menos rígido, não alcan-
teiro); L. Gonzaga F. da Silva; Lourenço Justiano Sousa çaram um elevado padrão urbanístico (RIC, 1955:228).
(1921) (construtor); Vicente A. Ferreira & Filho9. Em 1933,
já surgira outra novidade - a Imobiliária José Gentil S/A Assim, nos anos após 1933, inicia-se um novo capí-
– que tinha como sócio majoritário José Gentil Alves de tulo dessa história, já contemplado em outros estudos,
Carvalho (24.000 ações), além de Francisca da Frota fugindo assim do escopo deste trabalho. Ao cobrir
Gentil (250 ações) e outros acionistas menores (Antonio um tempo longo sob outro ponto de vista, espera-se
da Frota de Carvalho, João da Frota Gentil, Dr. José contribuir para a história da urbanização do Brasil, em
Torquato Aguiar, Dr. Nestor Barbosa Leite10). Até 1936, geral, e de Fortaleza, em específico, desenvolvendo uma
formaram-se outras imobiliárias, dentre elas a Antonio nova metodologia de espacialização de documentação
Diogo, Boris Frères, multiplicando-se na década de 1940, primária, raramente mobilizada pela historiografia.
o que demonstra uma nova tendência então em curso11.
Quatorze anos após a elaboração do plano de
Figueiredo, surge nova oportunidade de um Plano Diretor
de Remodelação e Extensão da Cidade de Fortaleza
(1947). Elaborado por José Otacílio de Saboya Ribeiro,
o plano “previa o fim da mononucleação da cidade, de
sorte que insistia na divisão bem demarcada da malha
urbana em bairros separados por cintas de avenidas
delimitadoras” (CASTRO, 1982a:26). Apesar de aprovado,
não foi posto em prática em virtude da pressão “dos
proprietários de imóveis envolvidos em alargamentos
de ruas” (CASTRO, 1982a: 27), prevalecendo, entretanto,
o código urbano redigido pelo urbanista.
8 Segundo o Álbum 1931, essa companhia visava a fomentar a economia entre as classes menos favorecidas facilitando-lhes a aquisição de
casas para morada, por meio de módicas prestações mensais. Foi instalada em 22/9/1930. Consultor Jurídico - Dr. Francisco Menezes Pimentel;
Presidente - Dr. Erminio Araujo e Silva; Conselho Administrativo - Lesko Araújo, Dr. Waldemar Barros e Francisco Anísio de Oliveira Paula.
Conselho Fiscal - Raimundo Bezerra Lima, Raimundo Gurgel e Horácio Alves de Lima. Explora também o “Plano Título”, de sua propriedade,
autorizado e fiscalizado pelo Governo Federal, conforme Carta Patente n. 91, emitindo Títulos nominativos para venda a prestações, mediante
sorteio, de móveis e imóveis, com resgate garantido, a partir do segundo ano de vigência.
9 Almanaque do Ceará de 1932.
10 Diário Oficial de 23 de dezembro de 1933.
11 Antonio Albino Ferreira, Antonio Ferreira, Arthur Arcanjo, Construtora Limitada, Construtora Limitada José Monteiro, Domingos C. Reis,
Dr. Silvio l. Ekman, Dr. Alberto Sá, Dr. Armando Campello, Dr. Clovis Janja, Dr. Valdir Diogo Siqueira, Imobiliária José Gentil S/A, João Ferreira
Oriá, João Oscar Carvalho, José Barros Maia, José Belizardo de Souza, José Brasil, Manoel Chagas, Manoel E. dos Santos, Manoel Nobre de
Souza, Manoel Ribeiro Abreu, Orlando Luna Freire, Raymundo N. Gomes, Raymundo P. Oliveira, Vicente Alves dos Santos (Diário Oficial de
1936),totalizando 25.
Tra essa Par
298 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
Abr go Cen ra
Rua Gu er e Ro a
FIGURA 239 Exercício de
reconstrução cartográfica.
Fortaleza, década de F gura 240 Abr go
1940: tipologia ao redor de 1940 no uar e
Tra essa Par
da Praça do Ferreira, no Fon e Ar u o N re
fim da década de 1940.
Abr go Cen ra Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Levantamento
Rua F or ano Pe o o
aerofotogramétrico da cidade
Rua Ma or Fa undo
Praça do
Ferre ra
Rua F or ano Pe o o
Rua Ma or Fa undo
1938
Praça do
s
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R ua Ferre ra
Fon e Ar u o N re
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0 20
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LEGENDA
LEGENDA
Ed os de a s de 3 andares L n a dos bondes e r os
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Sobrados
os de a s de 3 andares Co una da ora L n a dos bondes e r os
Sobrados
Casas rreas Co una da ora
De o ção
Casas rreas
De o ção
C O N SIDERAÇÕ ES FIN A IS 299
ANEXO I
301
Como já se mostrou, a planta de 1875 representa os apresentam uma estrutura radial (antigos caminhos de
trilhos do trem, consequência do contrato de 1870 entre penetrações), ultrapassando a área ocupada, como a Via
o Governo Provincial e a Cia. Cearense da Via Férrea de de Cauípe, a Estrada de Messejana e a Estrada de Soure9.
Baturité, objetivando maior desenvolvimento da lavoura e Observa-se também, na planta, a primeira fábrica têxtil,
da indústria na Província. Após dois anos, foi inaugurado o Pompeu & Irmão. Consequentemente, foi criada, no fim
primeiro trecho, que partia da estação ferroviária na Praça da década de 1890, uma linha de bonde direcionada à
Castro Carreira, subia pela Avenida Tristão Gonçalves na fábrica de tecido, partindo da Praça do Ferreira das “7
direção sul, servindo como elemento indutor do primeiro horas da manhã, de hora em hora, até as 5 horas da
processo de ocupação nas proximidades do eixo ferro- tarde, sendo, posteriormente, em 1906, absorvida pela
viário por parte das primeiras indústrias e de algumas Linha do Matadouro10”.
vilas operárias1, apesar de as primeiras unidades fabris A lei 319 do Estado do Ceará, de 31 de agosto de 1896,
propriamente ditas só terem início a partir de 1881.
A segunda Planta de Adopho Herbster2, de 1888, Art. 1º - Autoriza a Câmara da Fortaleza a conceder
embora seja uma atualização da planta anterior (1875), privilégio a Manuel Rodrigues dos Santos Moura,
reflete as mudanças ocorridas no período entre a grande para a construção de uma via-férrea de tração
seca de 1877/79 e o ano de sua impressão. Destacam-se animal ou dinâmica que, partindo da Praça Benja-
as linhas de bonde a burro comandando o crescimento min Constant, nesta capital, vai ter ao Sítio Cocó
da cidade de 1880 a 1914, quando o bonde elétrico come- da propriedade do concessionário, não podendo
çou a funcionar, até 1947 (Figuras 242, 243 e 244). exceder de 35 anos (Grifou-se).
Foram implantadas as seguintes linhas, partindo da
Praça da Assembleia3 e seus arredores: para a Estação § único – A referida concessão compreenderá tam-
de Bondes (3), em 1880,4 situada na antiga Estrada de bém um ramal até o povoado do Mucuripe.
Messejana, atual Visconde do Rio Branco; para o Mata-
douro5 (5), em 1880, situada na Estrada de Soure (atual A partir de 1913, o ponto central dos “tramways”
Bezerra de Menezes); a linha para o Porto (7), em 1880, a é a Praça do Ferreira, “de onde partem, de 10 em 10
linha para a Praia; para a Estação do Trem (8), em 18836, minutos e de 15 em 15 para as seguintes linhas: Estação,
para a Praça de Pelotas (4), em 1885; para a Fábrica de Fernandes Vieira, Praia, Via-Férrea, Matadouro, Alaga-
Tecidos7,em 1886; para o Bairro do Benfica (6), em 18888; diço, Mororó, Praça dos Coelhos, Benfica e Outeiro”11
para a estrada do Arronches. Alguns desses percursos (ALMANAQUE, 1916) (Figuras 245 e 246).
6 V a F rrea
V a dos bondes
12 Durante o dia esses destinos serão indicados pela inscrição das tabuletas e a noite pelas luzes: cor verde indica que as carros se destinam
a Pelotas/cor encarnada indica que os carros se destinam à Estação /cor azul indica que os carros se destinam à Praia / cor amarella indica
que os carros se destinam à Via Férrea /cor verde indica que os carros se destinam ao Merc. Publico/ cor branca indica que os carros se
destinam à Praça da Ferreira. (Jornal Cearense de 29/1/1886:1).
13 http://bancodedados.cepimar.org.br/bdCeará/principal1.php.
14 Jornal de 17 de agosto de 1923.
15 Foram realizadas reconstruções de calçamentos (1.606,20m) e novas construções (3.363,30m).
16 Foi desapropriada uma faixa perto de 2.000,0m de frente por 22,0m de fundo.
17 Monsenhor Bruno Figueiredo, Dr. Carlos de Vasconcelos e Dr. Leônidas Porto (atual Idelfonso Albano).
18 Segundo a lei de 5 de junho de 1927, que autorizava o prefeito a prolongar a Avenida até encontrar o Rio Ceará.
19 (Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1928:26-28) Partia do lugar de Damas, na Estrada de Parangaba, ao denominado “Alto da Balança”, na
Estrada de Messejana.
20 Almanaque do Ceará de 1932, p. 201.
21 Almanaque do Ceará de 1932, p. 202.
A N EXO I 305
5
JACARECANGA 1
3 2
4
6 ALDEOT
ALDEOTA
ALAGADIÇO
8
S TIO
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V a F rrea
V a dos bondes
Tr os o ro e
7 para ra er o os
Praça do Ferre ra
P
PARANGABA
Na gestão do Major Manoel Tibúrcio Cavalcante, Praça do Ferreira: linha da Praia em 1914 (1.530m); a da Via
foram realizados, pela seção de Topografia chefiada por Férrea (1930); estação (2.450m); a Fernandes Vieira (1.800
Fernando Lima, alguns prolongamentos: o da Avenida m); a Benfica (2.630m); a Alagadiço (4.500m); a Outeiro, em
Pessoa Anta, que finalizava na Praça Almirante Barroso; 1924 (2.500) e a da Praça dos Coelhos (1.100m)23. O bonde
o da avenida Aquidabã, “em parte ocupada pelo ramal do Alagadiço era a linha mais longa, sendo dividida em três
férreo do Mucuripe” (LIMA, 1999:54). seções: a primeira, da Praça do Ferreira ao Mercado São
A Planta de 1931/32, levantada pela Prefeitura, mostra Sebastião; a segunda, Farias Brito (Igreja N. S. das Dores)
que a cidade ainda não havia conseguido ocupar a área pela Av. Bezerra de Menezes (antiga Estrada do Soure) até
loteada segundo o plano do engenheiro Adolpho Herbster, a Igreja São Gerardo; e a última pela Bezerra de Menezes
de 1863, “salvo, pelo menos de modo descontínuo ao até o Colégio Santa Izabel (Figura 251).
longo das radiais e no trecho da parte leste mais próxima Na década de 1930, este serviço era realizado por 40
do centro, já no bairro emergente da Aldeota” (CASTRO, “tramways” de primeira e segunda classes, gradativa-
1994:70). Esse processo de ocupação sequencia as linhas mente articulado aos 16 ônibus introduzidos. Nota-se uma
de bonde elétrico e os ônibus que articulam a área central alteração no sistema de transporte coletivo na cidade,
aos novos bairros ou ultrapassaram o final da linha de iniciando-se a substituição gradativa dos trilhos dos bon-
bonde nas radiais. Exemplo disso, a Empresa Cruzeiro, des por linhas de ônibus mais versáteis e espalhadas.
no sentido Joaquim Távora (8), estava dividida em três Por causa da pavimentação em pedra tosca, os ônibus
seções: “cem réis até a estação, duzentos réis até o fim trafegavam sobre os trilhos dos bondes. Esse fato levou a
da linha de bonde e trezentos réis até a terceira secção uma série de reclamações por parte da Light, fazendo com
(final do calçamento)”. que a Prefeitura construísse, na primeira etapa, as “faixas
O serviço de bondes elétricos inaugurado em 191322 de lajes de granito lisas e paralelas, à guisa de ‘trilhos de
apresentou novos destinos até 1930: Praia de Iracema (1), ônibus’” (CASTRO, 1987:232). Nessa época, existiam 12
1925; Avenida Epitácio (ou Atlântica, em 1919); Praça José linhas regulares, realizadas pelo ônibus, por veículos, e
Bonifácio e Prado, prolongamento da linha Fernandes por 11 ferro carris elétricos. Nota-se uma substituição
Vieira (4) até a Escola de Aprendizes Marinheiros, em 1926 gradativa do bonde elétrico pelo ônibus. Além disso, várias
(5). Verificam-se as distâncias percorridas pelos bondes ruas começam a ser pavimentadas e alargadas, a fim de
elétricos em 1913, tomando como ponto de partida a facilitarem a comunicação entre os vários bairros.
22 A Lei nº 916, de 24/8/1907, decretou: A Câmara Municipal da Fortaleza fica autorizada a conceder ao cidadão Thomé A. da Motta privilégio
para o estabelecimento, uso e goso, por si ou companhia que organizar, de uma usina geradora de energia eléctrica para a tração dos carris
da Empreza Ferro Carril do Ceará e outros misteres correlativos, e bem assim para o fornecimento e distribuição de força motriz e luz às
casas particulares, respeitado o contracto celebrado com a Ceará Gas Company Limited, na parte referente ao serviço de iluminação pública.
No dia 8/5/1911 foi criada a Usina de Luz e Força do Passeio Público para alimentar os bondes de tração elétrica. Observa-se, no entanto, a
substituição gradativa dos bondes puxados a burros pelos elétricos, porém administrados pela Light.
23 Excepcionalmente nos dias de corridas no Jockey Club (http://bancodedados.cepimar.org.br/bdCeará/principal1.php),
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JOAQUIM TÁVORA
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ANEXO II
309
Planta elaborada por Adolfo Herbster em 1874 (Figura 252) FIGURA 252 Planta eleaborada
ANEXO III
311
Esta planta foi realizada para o inventário post mortem FIGURA 253 Planta de parte das
do Coronel José Antonio Machado, em 1869, cabendo terras do Coronel José Antonio
Machado. Fonte: Encarte do
as poligonais I, II, III e VIII aos herdeiros. Inventário da Baronesa de
No inventário da Baronesa de Aquiraz1 foi incluído o Aquiraz – cartórios dos órfãos,
encarte da planta com a seguinte descrição: “um lote Fortaleza; Arquivo Público
de terras nesta capital na Estrada que segue para a vila do Ceará.
1 Ana Angelina Bastos de Oliveira, viúva do Senador Miguel Fernandes Vieira, casada, é a terceira esposa do Barão de Aquiraz (deputado Gonçalo
Batista Vieira), Pacote 108 - Arquivo Público do Estado do Ceará..
2 Casado com Leopoldina Machado, filha do Coronel Machado.
312 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
ANEXO IV
Figura 26 Exercício de
reconstituição cartográfica. FORTALEZA - 1799
Fortaleza 1799: Quadras e Vias. QUADRAS E VIAS
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta do porto
e Villa da Fortaleza, 1817,
elaborada por Antonio José
da Silva Paulet. Fonte: Brígido,
2001/ CASTRO, 1994/
GIRALDES, 1810 (planta da
enseada)/ MENEZES, 1992/
OUTRO ARAMAC, 1979/ Planta
da Fortaleza 1859 e 1945.
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4 - Matriz
5 - Igreja do Rosário
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7 - Antiga Residência dos Governadores
8 - Assembleia Provincial
9 - Morro do Croatá
10 - Morro do Moinho
11 - Morro da Jacarecanga
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Ria 100 300
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Figura 27 Exercício de reconstituição
cartográfica. Fortaleza 1799: FORTALEZA - 1799
Ocupação. Autora: Margarida OCUPAÇÃO
Andrade. Mapa-base: Planta do
porto e Villa da Fortaleza, 1817,
elaborada por Antonio José da
Silva Paulet. Fonte: Brígido, 2001;
Castro, 1994; Giraldes, 1810 (planta
da enseada); Menezes, 1992; Outro
ramac, 1979; Planta da Fortaleza
1859 e 1945.
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Picada do Mocoripe
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1 - Forte
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4 - Matriz
5 - Igreja do Rosário
6 - Casa de Câmara
7 - Antiga Residência dos Governadores
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Exercício de
FORTALEZA - 1810/1813
Figura 28
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1810-13: quadras
e vias. Autora: Margarida QUADRAS E VIAS
Andrade. Mapa-base: Planta
do porto e Villa da Fortaleza,
1817, elaborada por Antonio
José da Silva Paulet.
Fonte: Brígido, 2001; Castro,
1994; Giraldes, 1810 (planta
da enseada); Menezes, 1992;
Outro Aramac, 1979; Planta da
Fortaleza 1859 e 1945.
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3 - Açougue
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5 - Quartel
6 - Casa da Prensa
7 - Casa para recolher alvarengas
8 - Trapiche
Lagoa do 9 - Paiol de Pólvora
Porangabussu 10 - Chafariz
11 - Igreja do Rosário
12 - Igreja Matriz
13 - Forte em Construção
14 - Palácio do Governo
15 - Morro do Croatá
16 - Morro do Moinho
17 - Morro da Jacarecanga
Antigas estradas
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Figura 29 Exercício de reconstituição
cartográfica – Fortaleza 1810-
13 – ocupação. Autora: Margarida
Andrade. Mapa-base: Planta do porto
e Villa da Fortaleza, 1817, elaborada
por Antonio José da Silva Paulet.
Fonte: Brígido, 2001; Castro, 1994;
Giraldes, 1810 (planta da enseada);
Menezes, 1992; Outro Aramac, 1979;
Planta da Fortaleza 1859 e 1945.
FIGURA 39 Exercício
de reconstituição
cartográfica. Planta da
cidade de Fortaleza,
Planta Exacta da Capital
1859. Autora: Margarida
Andrade. Mapa-base:
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16 - Trapiche e Trilho da Alfândega M' - Rua do Pitombeira
17 - Quartel de Polícia N - Rua Fogo
uiraz)
18 - Igreja N. S. do Bom Parto N' - Travessa da Municipalidade
19 - Mercado Público O - Rua da Alegria
20 - Cadeia O' - Travessa Formosa
21 - Cemitério Inglês P - Travessa Cajueiro
22 - Antigo Paiol P' - Rua do Garrote
Lagoa do 23 - Cemitério Público Q - Rua do Rosário
Porangabussu
24 - Igreja Q' - Travessa São Bernardo
25 - Igreja de N. S. do Patrocínio R - Rua da Matriz
26 - Projeto duma Casa de R' - Travessa dos Mercadores
Assembleia S - Rua Sampaio
27 - Casa de Educandos S' - Rua da Ponte
28 - Cavalaria da Polícia T - Rua da Praia
T' - Rua da Alfândega
U - Travessa do Pocinho
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Figura 43 Exercício de
reconstituição cartográfica
FORTALEZA - 1859
de Fortaleza: ocupação, 1859. OCUPAÇÃO
Mapa-base: Planta Exacta da 16
Capital do Ceará, abril de 1859.
Fonte: Planta da cidade da 2
Fortaleza, 1859; Bezerra, 1992
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Lagoa 13 21 - Cemitério Inglês
do Garrote 2 - Paiol da Pólvora 22 - Antigo Paiol
3 - Hospital de Caridade e Liceu 23 - Cemitério Público
Ria 4 - Igreja Matriz 24 - Igreja
cho
15 5 - Tesouraria Provincial 25 - Igreja de N. S. do Patrocínio
6 - Tesouraria Geral 26 - Projeto duma Casa de
7 - Igreja de N. S. do Rosário Assembleia
12 8 - Palácio da Presidência 27 - Casa de Educandos
9 - Casa da Câmara Municipal 28 - Cavalaria da Polícia
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10 - Igreja de N. S. da Conceição
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Rua do Fogo Rua da Palma
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Pr. Pedro II 39 o
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Rua 47 0 50 100
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Palhoça
Imóveis Identificados:
proprietários e inquilinos
Figura 49 Exercício de reconstituição
cartográfica – Fortaleza, 1850:
FORTALEZA - 1850
Tipologias. Autora: Margarida Andrade. TIPOLOGIAS
Mapa-base: Planta da cidade de
Fortaleza – Antonio Simões Ferreira de
Faria em 1850; desenhada em escala
reduzida por F.B. de Oliveira, 1883.
Fonte: Castro, 1994; Menezes, 1992;
Outro Aramac, 1979; Planta exacta da
Capital do Ceará, 1859, organizada por
Adolfo Herbster.
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FORTALEZA - 1850
Figura 51 Exercício de reconstrução
cartográfica. Fortaleza, 1850: Usos.
Autora: Margarida Andrade. Mapa-base.
Planta da cidade de Fortaleza – Antonio
USOS
Simões Ferreira de Faria, em 1850;
desenhada em escala reduzida por F.B.
de Oliveira, 1883. Fonte: Castro, 1994;
Menezes, 1992; Outro Aramac, 1979;
Planta exacta da Capital do Ceará, 1859,
organizada por Adolfo Herbster.
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Figura 73 Exercício de
reconstituição cartográfica.
FORTALEZA - 1875
Fortaleza 1875: Quadras e vias. QUADRAS E VIAS
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade
da Fortaleza e Subúrbios,
organizado por Adolfo Herbster,
arquiteto da Câmara Municipal,
1875. Fonte: Planta da cidade de E
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J - Rua do Livramento E' - Rua do Payol W' - Rua Soledade
K - Rua São Sebastião F' - Rua Isabel X - Rua Aldeota
L - Rua Antônio Pompeu G' - Boulevard Imperador Y - Rua do São José
M - Rua dos Coelhos H' - Rua 14 de Março Z' - Rua do Sampaio
N - Rua do Bom Fim I' - Rua 24 de Maio Z" - Rua da Alegria
O - Rua do Córrego J' - Rua General Sampaio Z"' - Boulevard do Rio Branco
P - Rua de São Luís K' - Rua Senador Pompeu
Q - Rua do Colégio L' - Rua Formosa
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Figura 75 Exercício de reconstituição
cartográfica. Fortaleza 1875: FORTALEZA - 1875
Ocupação e perímetro urbano.
Autora: Margarida Andrade. Mapa- OCUPAÇÃO
base: Planta da cidade da Fortaleza
e Subúrbios, organizada por Adolfo
Herbster, arquiteto da Câmara
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Municipal, 1875. Fonte: Planta da
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cidade de Fortaleza 1859, 1875 e 1945.
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Figura 77 Exercício de
reconstituição cartográfica. FORTALEZA - 1888
Fortaleza 1888: Quadras e vias. QUADRAS E VIAS
Autora: Margarida Andrade.
Mapa-base: Planta da cidade da
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B - Rua Senador Castro Silva U - Rua do Seminário N" - Boulevard Visconde do Cauípe Assunção 18 - Cemitério Inglês
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G - Rua Dr. Pedro Pereira A' - Boulevard Jacarecanga R' - Travessa da Conceição 6 - Igreja de N. S. do Rosário 23 - Cavalhariça da Polícia
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H - Rua Dom Pedro B' - Rua Conselheiro Estelita S' - Rua Pasu 7 - Palácio do Governo
I - Boulevard Duque de Caxias C' - Rua Filgueiras T' - Boulevard Conceição 8 - Intendência Edifícios Institucionais
J - Rua do Livramento D' - Rua Padre Mororó U' - Rua da Glória 9 - Igreja de N. S. da Conceição
K - Rua São Sebastião E' - Rua do Payol V' - Rua Leopodina da Praia e Seminário da Prainha Ferrovia
L - Rua Antônio Pompeu F' - Rua Isabel W' - Rua Soledade 10 - Alfândega
M - Rua dos Coelhos G' - Boulevard Imperador X - Rua Aldeota 11 - Matadouro Linha de Bonde
N - Rua do Bom Fim H' - Rua 14 de Março Y - Rua do São José 12 - Açude do Pajeú
O - Rua do Córrego I' - Rua 24 de Maio Z' - Rua do Sampaio 13 - Igreja N. S. do Livramento Antigas estradas
P - Rua de São Luís J' - Rua General Sampaio Z" - Rua da Alegria 14 - Quartel de Polícia
Q - Rua do Paço K' - Rua Senador Pompeu Z"' - Boulevard do Rio Branco 15 - Igreja N. S. do Bom Parto
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Exercício de reconstituição
FORTALEZA - 1888
Figura 82
cartográfica. Fortaleza 1888:
Ocupação e perímetro urbano.
Fortaleza 1888. Autora: Margarida OCUPAÇÃO
Andrade. Mapa-base: Planta da
cidade da Fortaleza, Capital da Pharol
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Rua
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Rua
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Estrad
Bole
Escala de Palmos
DIVISÃO ECLESIÁSTICA LEGENDA
Palmos Palmos
100 0
1,000 2,000 8,000
A rua Formosa divide a Residencial
4,000
fic
a Capital em duas Freguezias: Não residencial (comércio, serviço, institucional)
Be
n
0mt 005= 100 palmos
A de S. Jozé = ao Nascente = Misto
A de Nª Sª do Patrocínio = ao Poente =
Figura 114 Exercício de
reconstituição cartográfica. FORTALEZA - 1922
Fortaleza 1922: Quadras e vias.
Autora: Margarida Andrade. QUADRAS E VIAS
Mapa-base: “Planta de Fortaleza,
no anno do centenário
da independência, 1922”.
Fonte: Imposto Predial de 1922.
Poço da
Draga
Jacarecanga
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Açude
João Lopes
Lagoa do
Garrote
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jeú
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uap Área de Expansão
bi
e
Antigas estradas
Lagoa do
Tauape
Exercício de
FORTALEZA - 1922
Figura 115
reconstituição cartográfica.
Fortaleza 1922: Ocupação.
Autora: Margarida Andrade. OCUPAÇÃO
Mapa-base: “Planta de
Fortaleza, no anno do
centenário da independência”.
Fonte: Imposto Predial de 1922.
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Poço da
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Edifícios Institucionais
Lagoa
do T
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Figura 153 Exercício de reconstituição
cartográfica. Fortaleza 1932: Ocupação, FORTALEZA - 1932
destacando o perímetro urbano. Autora:
Margarida Andrade. Mapa-base: “Planta
OCUPAÇÃO
da cidade de Fortaleza, levantada na
Administração Revolucionária, PMF, 1932;
Carta da cidade de Fortaleza, arredores,
levantada, desenhada e impressa pelo
Serviço Geográfico do Exército, 1945”.
Fonte: Código Municipal, Decreto 70, de
13/12/1932; Imposto Predial de 1934.
Poço da
Draga
Açude
João Lopes
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Riacho
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Lagoa da
Pajuçara
Ria
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Tau
ape
Lagoa
do Tauape
336 FORTALEZA EM PERSPECTI VA HI STÓ R ICA
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de Oliveira, 1864; BRAGA, Antonio José Francisco das Chagas, 1878; RODRIGUES,
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Sousa, 1877, BRAVO, João de Moura Taveira,
Ângelo Rodrigues, 1852; SAMICO, Anna Bre- Cartório Feijó de Fortaleza, (1853-1857)
1879; BRAVO, Manoel da Costa Moura, 1872;
sida, 1844; SAMICO, José Henrique, 1852; 2º Cartório de Fortaleza, Caixa 03 (1816-
CAHN, Jacob, 1872; CAMPA, José de Paula SAMPAIO, Jesuína Leal de, 1890; SANTOS, 1835) e (1834-1838)
Ferreira, 1885; CAMPO, Anna Holanda, 1891; José Gonçalves dos, 1891; SILVA, Antonio
CARMO, Julio Pinto do, 1917; CARNEIRO, Domingues da, 1890; SILVA, Antonio Fran- Livros de Registros de Ofício e Ordens
José Joaquim, 1872; CARVALHO, Joaquim cisco da, 1837; SILVA, Antonio Thomaz,
Alves, 1889; CAUÍPE, Visconde de, 1888; Livro 1 – Registro de Offício e Ordens diri-
1825; SILVA, Diogo José da, 1872; SILVA,
CARVALHO, Antonio Joaquim, 1890; CAR- gidas por este Governo ao Vendor da gente
Manoel Monteiro da, 1916; SIQUEIRA, João
VALHO, Joaquim Alves de, 1889; CARVALHO, de guerra e aos chefes e mais officiais de
Nepomuceno, 1891; SOMBRA, José, 1888;
Manoel Alves de, 1861; CASTRO, Fco Xavier linha e melícias. In: Livro 33 (antigo 65A)
SOUTO, João Nepomuceno Siqueira, 1891;
de, 1905; CASTRO e SILVA, João Lourenço, série governo da Capitania do Ceará aos
TORRES, Francisco Xavier, 1847; militares da capitania, Ofícios, 26 de abril
1888;COHN, Jacob, 1872; CONCEIÇÃO,
Ana Joaquina da, 1831; CORLETT, Carlos, VASCONCELOS, Manoel José de, 1867; 1812: Offício ao tenente-coronel Ant.o Joze
VIANA, João Fagundes, 1891; VIEIRA, José da Silva Paulet p.a nivelar o terreno para se
1877; CUNHA, José Antonio Vieira da, 1883;
Maria Eustáquio, 1854; VIEIRA, Miguelina fazer hum chafariz público.
CUNHA, Luiz Ribeiro da, 1888; CUNHA,
Narcisio Antonio Vieira da, 1882; ELLERY, Fernandes (baronesa de Aquiraz), 1886; Livro 1 – Registro de Offício e Ordens diri-
Henrique, 1856; VIEIRA, João de Carvalho Fernandes, 1885; gidas por este Governo ao Vendor da gente
VIEIRA, José Eustáquio, 1854; de guerra e aos chefes e mais officiais de
FERNANDES VIEIRA, João de Carvalho,
linha e melícias. In: Livro 33 (antigo 65A)
1885; FERREIRA, Francisco Verino, 1892; Correspondência expedida série governo da Capitania do Ceará aos
FREIRE, Maria Pessoa, 1901; FREIRE,
1881 a 1894 (Câmara Municipal) militares da capitania, Ofícios, 20 de maio
Valdivino Soares, 1891; FREITAS, Manoel
1812: Registro de hum offício dirigido ao
de Jesus, 1876; 1889 a 1891 (Repartições de obras públicas) Ten.te-C.el Antonio Joze da S.a Paulet.
GOIS, Angelina de Castro, 1891; GOIS, 1901-1902 (Câmara Municipal) Livro 1 – Registro de Offício e Ordens diri-
Antonio Francisco de, 1886; GOIS, 1908 gidas por este Governo ao Vendor da gente
Manoel Xavier, 1870; GOUVEIA, Francisca de guerra e aos chefes e mais officiais de
Agrella, 1871; GOUVEIA, Manuel de, 1865; Escrituras de venda linha e melícias. In: Livro 33 (antigo 65A)
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1878; GUIMARÃES, Manoel Mendes, 1855; 1857 – 1860
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GUIMARÃES, Maria Baptista Freitas, 1889; Junho 1930 – maio 1932 1812: Registro de hum oficio dirigido ao
HARVEY, Alfred, 1847; HERBSTER, Adolpho, 1º Cartório Feijó, janeiro de 1889 a agosto Ten.te-coronel Antonio Jozé da S.a Paulet,
1894; de 1892; junho 1917 a novembro 1918 e 1930; encarregando-o da inspecção sobre todos
R E F ER ÊN CIAS BIBLIO GRÁ FICAS 337
os novos edifícios que pretendem edificar ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade
nesta Villa várias pessoas, a fim de ficarem Mercantil, Industrial e Literário do Estado de Fortaleza - Lei nº 308, de 24 de julho
alinhadas e com a devida regularidade. do Ceará, 1899 de 1844.
Livro 1 – Registro de Offício e Ordens diri- ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade
gidas por este Governo ao Vendor da gente Mercantil, Industrial e Literário do Estado de Fortaleza - Lei nº 328, de 19 de agosto
de guerra e aos chefes e mais officiais de do Ceará, 1914 de 1844.
linha e melícias. In: Livro 33 (antigo 65A) Posturas da Câmara Municipal da cidade
ALMANACH Administrativo, Estatístico,
série governo da Capitania do Ceará aos de Fortaleza - Resolução nº 1.162, de 3 de
Mercantil, Industrial e Literário do Estado
militares da capitania, Ofícios, 27 de junho agosto de 1865.
do Ceará, 1918
1812: Registro de hum offício dirigido ao
Tenente-coronel Antonio Jozé da Silva Pau- ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade
let, ordenando-lhe que, ao examinar com Mercantil, Industrial e Literário do Estado de Fortaleza - Resolução nº 1.356, de 3 de
com madureza o plano desta Villa, proponha do Ceará, 1919 novembro de 1870.
à Câmera da d.ta V.a as modificações e alte- ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade
rações que nelle ha a fazer. Mercantil, Industrial e Literário do Estado de Fortaleza - Resolução nº 1.365, de 20
Livro 1 – Registro de Offício e Ordens dirigi- do Ceará, 1920 de novembro de 1870.
das por este Governo ao Vendor da gente de ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade de
guerra e aos chefes e mais officiais de linha Fortaleza - Resolução 1.731, de 19 de agosto
Mercantil, Industrial e Literário do Estado
e melícias. In: Livro 33 (antigo 65A) série de 1876.
do Ceará, 1921
governo da Capitania do Ceará aos milita-
ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade
res da capitania, Ofícios, 23 de novembro
Mercantil, Industrial e Literário do Estado de Fortaleza - Resolução 1.818, de 1º de
1812: Offício dirigido ao Tenente-coronel
do Ceará, 1922 fevereiro de 1879.
Ant.o para levantar o plano desta Villa.
ALMANACH Administrativo, Estatístico, Posturas da Câmara Municipal da cidade
Biblioteca Pública do Ceará Mercantil, Industrial e Literário do Estado de Fortaleza - Resolução 1.870, de 25 de
do Ceará, 1925 outubro de 1879.
Censo efetuado pela chefatura de Polícia
-1887 (Setor de Microfilmagem) Posturas da Câmara Municipal da cidade
ALMANACH Administrativo, Estatístico,
de Fortaleza - Resolução 1.875, de 25 de
Cadastro das casas comerciais do Estado Mercantil, Industrial e Literário do Estado
do Ceará - 1922 – Praça de Fortaleza novembro de 1879.
do Ceará, 1928
Projeto Resgate de documentação histórica. Posturas da Câmara Municipal da cidade
ALMANACH Administrativo, Estatístico,
de Fortaleza - Resolução nº 1.896, de 18 de
[post. 1799, janeiro, 17]. FORTALEZA. “LISTA Mercantil, Industrial e Literário do Estado
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de homens brancos que habitam a vila do Ceará, 1929
de Fortaleza”. Projeto Resgate de docu- Posturas da Câmara Municipal da cidade
ALMANACH Administrativo, Estatístico,
mentação histórica Barão do Rio Branco. de Fortaleza - Resolução nº 1.942, de 19 de
Mercantil, Industrial e Literário do Estado
Conselho Ultramarino, Brasil. Documen- agosto de 1881.
do Ceará, 1932
tos manuscritos avulsos da capitania do Posturas da Câmara Municipal da cidade de
ALMANACH Administrativo, Estatístico,
Ceará (1618 – 1832). CT:AHU_ACL_CU_017. Fortaleza - Lei nº 1.955, de 12 de setembro
Caixa13.Doc.721. Mercantil, Industrial e Literário do Estado
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do Ceará, 1933
Posturas da Câmara Municipal da cidade
ALMANACH Administrativo, Estatístico, de Fortaleza - Lei 2.128, de 20 de novembro
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Margarida Julia Farias de Salles Andrade
Professora Associada do Departamento
de Arquitetura, Urbanismo e Design
da Universidade Federal do Ceará.
Arquiteta pela Universidade Federal do
Ceará (1972). Mestre em Arquitetura
e Urbanismo pela Universidade
Federal da Bahia (1990). Doutora pela
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo (2012).
© Fundação Waldemar Alcântara, 2019
Presidente
Claudia Feitosa Peixoto Mota
Vice-Presidente
Maria Auxiliadora Lemos Benevides
Coordenação Editorial
Lumiar Comunicação e Consultoria Ltda.
Dora Freitas e Silvia Furtado
Revisão
Lumiar Comunicação e Consultoria Ltda.
REALIZAÇÃO
Lucas Carneiro
Ficha Catalográfica
Bibliotecária: Perpétua Socorro Tavares Guimarães-CRB 3 /801