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DECISÃO
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0206833-10.2020.8.06.0001 e código 5FE92D8.
Processo nº: 0206833-10.2020.8.06.0001
Classe: Procedimento Comum
Assunto: Garantias Constitucionais
Requerente: Austin Empreendimentos Artisticos e Gastronomico Ltda e
outro
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOAQUIM VIEIRA CAVALCANTE NETO, liberado nos autos em 18/02/2020 às 15:01 .
Requerido: Estado do Ceará - Procuradoria Geral do Estado do Ceará -
PGE
Recebidos hoje.
Vistos,
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clientes nos referidos estabelecimentos, tendo inclusive, em uma dessas ocasiões, o
policial Ítalo Castro Rodrigues, alvejado com arma de fogo, um dos seguranças do
estabelecimento.
Colaciona que o policial Gustavo Braga Rocha, já teria deixado uma
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arma de fogo no interior do banheiro do estabelecimento, causando outro acidente,
visto que um dos visitantes, ao encontrar a arma teria atirado, pensando tratar-se de
arma de brinquedo, tendo sido, ao final, a arma devolvida ao distrito policial.
Informa que o Delegado de Polícia, João Carlos Araújo Machado sacou
sua arma e ameaçou um cliente no interior do estabelecimento, mesmo não tendo o
referido policial ingerido bebida alcoólica, o que reforça o argumento das autoras de
que o porte de arma em seu interior acarreta enorme risco de homicídio.
Traz à colação diversas notícias dando conta de acidentes e tragédias
envolvendo policiais armados em estabelecimentos de diversão em Fortaleza e por
todo o Brasil.
Assevera que em 26 de janeiro de 2020, um Delegado de Polícia, deu voz
de prisão a um dos sócios da empresa Austin Pub, alegando que a proibição de sua
entrada dentro do estabelecimento configurava violação de sua prerrogativa
funcional, tendo tal fato sido amplamente divulgado na mídia e redes sociais.
Afirma que o referido Delegado de Polícia teria efetuado a prisão do
sócio da Austin Pub, de forma ilegal, segurando o mesmo violentamente pelo braço e
o arrastando desnecessariamente à força até a calçada, em frente ao estabelecimento e
na frente de clientes e funcionários.
Consta na peça inicial, que o Delegado Huggo Leonardo, autor da prisão
do sócio da Austin estaria conclamando os policiais a comparecer no dia 31 de janeiro
de 2020, à presença de policiais defronte ao Austin Pub e a Living, com o objetivo de
provocar animosidades entre os agentes de segurança pública e os funcionários e
sócios das casas.
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medida antecipatória para momento posterior à manifestação estatal, bem como foi
oficiado o Secretário de Segurança Pública para que tomasse providências a respeito
do "Movimento Vamos para o Austing/Leaving".
Em petição de fls. 120/121, as autoras acostam documentos dando conta
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de que no dia 29 de setembro de 2019, o policial Ewerton Roberto Rodrigues Alves
sacou de sua arma após discussão com outros clientes.
Em petição de fls. 138/139, as autoras pugnam pela concessão de
segredo de justiça no presente feito.
Em decisão de fls. 140/142, foi indeferido o pedido de segredo de justiça.
Em petição de fls. 143/148, as autoras pugnam pela análise da tutela
provisória, informando a ocorrência de novos incidentes decorrentes do uso de armas
no estabelecimento.
Em petição de fls. 164/174, a Associação dos Delegados de Polícia Civil
do Estado do Ceará – ADEPOL/CE, solicitando o ingresso no feito na qualidade de
assistente do réu.
O Estado do Ceará apresentou manifestação sobre o pedido de tutela de
urgência em fls. 215/232, pugnando pelo indeferimento da medida, em razão da
ausência dos requisitos legais.
Em petição de fls. 233/238, a parte autora traz à baila que os policiais
Carlos Sodson Santos Araújo e Caio Rodrigo Fernandes Lima, ingressaram no
estabelecimento armados e ingeriram bebida alcoólica, o que reforçaria a necessidade
de deferimento da medida de urgência reclamada.
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do direito, representado pela relevância do fundamento do pedido, e o periculum in
mora , que atine à iminência de dano irreparável ou de difícil reparação.
No que tange ao pedido de tutela provisória, consistente na ordem de
que o Estado do Ceará proíba o ingresso dos policiais civis e militares, armados e fora
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do serviços, no interior dos estabelecimentos das autoras, visto que tais ingressos
acarretariam danos reais e presumidos aos colaboradores e clientes das requerentes,
uma vez que pessoas armadas ingerindo bebidas alcoólicas teria a potencialidade de
causar graves danos pessoais e patrimoniais, entendo que nesse momento visando
prolatar decisão mais justa e consentânea com o ordenamento jurídico, cabe a
digressão a respeito do porte de arma de policiais civis e militares, o seu alcance e
extensão.
Inicialmente cumpre fixar que de acordo com as diretrizes do Estatuto
do Desarmamento, o porte de arma de fogo é, em regra, proibido em todo o território
nacional, entretanto, algumas categorias funcionais, possuem o direito do porte de
armas, dentre elas a polícia civil e militar:
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termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito
nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI.
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responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis ;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.
(Constituição Federal)
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anterior, a regulamentação a ser baixada pelo Comandante-
Geral e a legislação aplicável;
(Estatuto dos Militares Estaduais do Ceará)
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Art. 157 – Ao policial civil é facultado o livre ingresso em
todas as casas de diversões e lugares sujeitos à fiscalização
da polícia, bem como portar arma para sua defesa pessoal
e da comunidade.
(Estatuto da Polícia Civil do Ceará)
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direitos subjetivos expressamente garantidos em lei.
Assim, em um primeiro momento, assinalo que o pleito antecipatório
requestado não preencheu o requisito da probabilidade do direito, visto que vertido
contra expressa previsão legal, em outras palavras, entendo que as normas internas
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das casas de diversões, como no caso sob análise, não podem restringir o âmbito de
incidência da lei.
Tem-se do exposto que não pode o particular impedir que o policial, seja
ele civil ou militar, deixe de portar sua arma dentro do estabelecimento comercial,
visto que, no final das contas, tal prerrogativa, tem como objetivo, a proteção pessoal e
da comunidade, interesses de índoles coletiva e difusa.
Cumpre salientar que, a prerrogativa funcional dos policiais civis e
militares não diz respeito às pessoas físicas em si mesmo consideradas, mas à própria
função exercida, não podendo haver sequer a possibilidade de renúncia ao direito de
portar arma, visto que tal direito eregra são inerentes ao cargo.
De igual forma, se entremostram alarmantes os fatos trazidos à baila
pelas demandantes, de diversos incidentes no interior das casas de diversão, que dão
conta, de que alguns policiais, civis e militares, ingressam armados no
estabelecimento e ingerem bebidas alcoólicas, muitas vezes, em demasia, causando
distúrbios, tais como, discussões com arma em punho, tiros acidentais, com danos
materiais e pessoais.
Tais casos, por mais lamentáveis que sejam, não podem ensejar a
retirada da prerrogativa funcional de tais servidores, visto que, como já afirmado, a
prerrogativa não atende os interesses pessoais de tais servidores públicos, mas de
garantia de suas seguranças pessoais e da comunidade, além do que, considerando
que tais incidentes são pontuais e não generalizados, estar-se-ia, punindo toda uma
categoria de profissionais, em razão dos desvios éticos e funcionais de alguns.
Ademais, se essa linha de raciocínio de que a entrada de policiais
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armados no estabelecimento da autora fosse ato de per si, capaz de causar vulneração
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da ordem pública, o próprio porte de arma deveria ser proibido em qualquer local,
fechado ou ao ar livre, visto que o indivíduo armado tem o potencial de causar
incidentes diversos, seja dentro do estabelecimento da autora ou numa via pública,
por exemplo.
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Nesse diapasão, neste momento processual, a solução mais adequada me
afigura ser, não a restrição do porte de armas dos policiais civis e militares nas casas
de diversão, mas sim, o acionamento das instâncias investigativas e punitivas internas
das Polícias Civis e Militares, de modo a se garantir que sejam punidos severamente
os policiais que não cumprem fielmente seus deveres e não exercem suas
prerrogativas funcionais de forma plenamente responsável.
Analisando as diversas petições apresentadas pela parte autora, é
inquestionável que as requerentes possuem plena capacidade de identificar os
policiais que causam transtornos dentro do estabelecimento, o que comprova sua
capacidade para acionar as instâncias disciplinares, tais como a Controladoria Geral
de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário – CGD e
Cordenadoria do Grupo Tático de Atividade Correicional – GTAC, medida a ser
tomada pelas autoras em casos de eventuais necessidades.
Assim, não se mostra razoável e nem proporcional que a categoria
policial seja simplesmente responsabilizada pela atuação irresponsável e ilegal de
alguns de seus componentes, os quais deverão ser devidamente identificados e
punidos na seara administrativa, civil e penal, visto que causam males não apenas ao
estabelecimento, mas à própria corporação a que pertencem e à sociedade que
buscam proteger.
Sendo certo que quando identificável situação em que é transbordado
os limites do razoável e do proporcional deverá o Poder Judiciário intervir para
restabelecer a ordem jurídica administrativa. Entendimento esposado por Leonardo
José Carneiro da Cunha, senão vejamos:
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"[...] a atividade administrativa deverá ser guiada pelos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, haja
vista serem inadmissíveis condutas bizarras, tomadas em
desconsideração às circunstâncias factuais e às vicissitudes
concretas que a hipótese encerra. [...].
[...]
Em suma, é manifesto e inegável que o controle judicial da
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atividade administrativa vem sendo ampliado, sem que
implique invasão na discricionariedade administrativa ou
usurpação dela pelos órgãos jurisdicionais. Ao se traçar os
limites da atividade discricionária, distinguindo-a da mera
atividade interpretativa, pretende-se evitar os abusos que a
Administração Pública comete, corrigindo os atos que,
conquanto revistam aparência de legalidade por praticados
sob o pálio da discrição, traduzem verdadeiro arbítrio." (in
A Fazenda Pública em Juízo, 5.ª ed. rev. e ampl. e. atual.
São Paulo: Dialética, 2007, pp. 483-484)