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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO REGIONAL XV - BUTANTÃ
1ª VARA CÍVEL
Avenida Corifeu de Azevedo Marques,148/150, - Butanta
CEP: 05582-000 - São Paulo - SP
Telefone: (11) 3721-6399 - E-mail: butantacivel@tjsp.jus.br

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1003122-02.2018.8.26.0704 e código 1CE2C8A.
SENTENÇA

Processo nº: 1003122-02.2018.8.26.0704

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MONICA DE CASSIA THOMAZ PEREZ REIS LOBO, liberado nos autos em 19/06/2020 às 17:36 .
Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Indenização por Dano Moral
Requerente: Felipe Alves de Carvalho e outros
Requerido: Concessionaria da Linha 4 do Metro de Sao Paulo S.a. (Via Quatro)

Justiça Gratuita

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Mônica de Cassia Thomaz Perez Reis Lobo

Vistos.

Felipe Alves de Carvalho e outros, qualificados na inicial, ajuizaram ação de


Procedimento Comum Cível em face de Concessionaria da Linha 4 do Metro de Sao Paulo
S.a. (Via Quatro), ambos qualificados. Relatam os autores que, no dia 12 de abril de 2018 em
notícia veiculada no sítio eletrônico da ré, foi divulgada uma plataforma de interatividade com os
seus usuários, tendo como finalidade facilitar a comunicação com os passageiros por meio de
campanhas de orientação, mensagens de prestação de serviços e anúncios publicitários. Afirmam
que no dia 13 de maio de 2018 a plataforma foi amplamente divulgada na mídia, informando a
possibilidade de medir o impacto das publicidades em tempo real através dos sensores e câmeras
do sistema. Defendem que não houve qualquer esclarecimento ou comunicado a respeito das
políticas da segurança de informação dos dados coletados, gerando insegurança tanto aos autores
quanto aos demais usuários. Salientam, também, que a empresa ré sequer obteve o consentimento
expresso dos autores para a coleta de seus dados pessoais, portanto o reconhecimento facial se
enquadra como um dado pessoal, uma vez que possui relação com a pessoa. Declaram que a ré
viola todos os princípios protegidos pelo marco civil da internet e vai de encontro à proteção da
privacidade, bem como o consentimento dos autores e dos demais usuários. Requerem,
inicialmente, a concessão da tutela de urgência para que a ré se abstenha da utilizar a ferramenta
de reconhecimento e coleta de informações faciais e sua eventual aplicação comercial, uma vez
que tal prática coloca em risco os dados pessoais dos autores. Ao final, requerem a destruição dos

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dados coletados dos autores em razão da ausência do expresso consentimento para a sua coleta.
Requerem, assim, a condenação da ré ao pagamento de indenização a título de danos morais no
montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), tendo em vista a coleta e utilização dos dados dos

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autores em desconformidade com a legislação pátria. Requerem, por fim, a condenação da ré ao
pagamento das custas processuais, juros de multa, correção monetária e honorários advocatícios.
Com a inicial juntou documentos (fls. 10/20).
A tutela de urgência foi indeferida às fls. 59, já os benefícios da justiça gratuita
foram deferidos aos coautores Felipe Alves de Carvalho e Moisés Muniz Lobo às fls. 239/240 e ao
coautor Victor Hugo Pereira Gonçalves às fls. 258.
Regularmente citada, a empresa ré apresentou Contestação (fls. 64/73), aduzindo
que não há coleta ou armazenamento de dados pessoais no sistema implantado nas estações da
Linha 4 do metrô, sendo certo que os dados gerados não possuem caráter pessoal e tampouco
fazem cruzamento com qualquer informação que identifique o passageiro. Salienta, ainda, que não
há viabilidade técnica para a individualização do usuário, tendo em vista que os dados são
agregados e convertidos em valores numéricos, sendo estratificado relatório de acesso restrito, o
qual transforma a detecção em números. Defende que a concessionara possui diversos canais de
atendimento aos usuários, através dos quais os autores poderiam ter obtido maiores
esclarecimentos a respeito da ausência da coleta de dados pessoais, além disso, esclarece que as
plataformas não extrapolam os limites do serviço concedido. Impugna os benefícios da justiça
gratuita. Requer, assim, a total improcedência da ação para condenar os autores ao pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios. Também juntou documentos (fls. 74/217).
Os autores apresentaram réplica (fls. 223/231).
As partes não manifestaram interesse na audiência prevista no art. 139, inciso V
do Código de Processo civil.
Saneado o feito, foi deferida a produção de prova pericial, nomeando-se para o
encargo o Expert Raul Spiguel (fls. 240).
A ré apresentou quesitos às fls. 264/268.
Laudo preliminar apresentado às fls. 350/377.
Foi interposto agravo de instrumento com efeito suspensivo (fls. 280).
O laudo pericial final foi apresentado às fls. 394/456 e homologado em decisão de
fls. 484.
As partes ofereceram suas alegações finais (fls. 488/494 e 495/501), reiterando,

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em síntese, suas manifestações anteriores.

É o relatório.

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DECIDO.
Trata-se de Ação de Procedimento Comum, por meio da qual objetivam os autores
a condenação da empresa ré na obrigação de não fazer, consistente em abster-se de utilizar a
plataforma de reconhecimento facial e eventual coleta, armazenagem, tratamento e utilização dos
dados pessoais para qualquer fim, bem como que a ré seja compelida a destruir eventuais dados
coletados dos autores. Além disso, requerem a condenação da ré ao pagamento de indenização
para reparação de danos morais.
Sustentam os autores que foi amplamente divulgado pela própria ré a implantação
de uma plataforma de interatividade com os seus usuários, a qual teria como finalidade facilitar a
comunicação com os passageiros por meio de campanhas de orientação, mensagens de prestação
de serviços e anúncios publicitários.
Segundo a notícia, a plataforma desenvolvida possibilitaria medir o impacto das
publicidades em tempo real através dos sensores e câmeras do sistema. Ocorre que não teria
havido qualquer esclarecimento ou comunicado a respeito das políticas da segurança de
informação dos dados coletados, tampouco a empresa ré obteve o consentimento expresso dos
autores para a coleta de seus dados pessoais. Sustentam que o reconhecimento facial se enquadra
como um dado pessoal, uma vez que possui relação com a pessoa.
A ré, por sua vez, defende a legalidade do sistema, argumentando que não há
coleta ou armazenamento de dados pessoais no sistema implantado nas estações da Linha 4 do
metrô, de tal sorte que os dados gerados não possuem caráter pessoal e tampouco fazem
cruzamento com qualquer informação que identifique o passageiro. Salienta, ainda, que não há
viabilidade técnica para a individualização do usuário, tendo em vista que os dados são agregados
e convertidos em valores numéricos.
A controvérsia cinge-se, portanto, à coleta, utilização e armazenamento de dados
pessoais de usuários pela plataforma digital implantada pela empresa ré nas estações de metrô, e,
consequentemente, à ocorrência de danos morais.
De início, importante destacar que a proteção que a ordem jurídica confere aos
dados pessoais está diretamente ligada ao direito fundamental à privacidade, à intimidade, à honra

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e à imagem, assegurado na Constituição da República (artigo 5º, inciso X).
No plano infraconstitucional, o Decreto nº 8.771/16, que regulamenta o Marco
Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), considera, em seu o artigo 14, inciso I, como dado pessoal

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o “dado relacionado à pessoa natural identificada ou identificável, inclusive números
identificativos, dados locacionais ou identificadores eletrônicos, quando estes estiverem
relacionados a uma pessoa”.
Mais recentemente, a Lei 13.709, Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais,
promulgada em 2018 e nesta data ainda em vacatio legis (mencionada, portanto, apenas a título
elucidativo), trará em seu artigo 5, inciso I, o mesmo conceito, in verbis:
Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:
I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou
identificável;
O conceito adotado na Lei, portanto, é amplo. Pode ser qualquer informação que
identifique uma pessoa ou que, se cruzada com outro dado, permita identificar uma pessoa.
Nesse sentido, na hipótese dos autos, a prova pericial produzida pelo perito
judicial é de suma importância para a solução da lide, na medida em que, embora não vincule o
julgador, traz elementos indispensáveis para elucidar as circunstâncias do caso concreto,
mormente em estabelecer se os dados coletados pelo programa instalado pela empresa ré são,
isoladamente ou em conjunto, capazes de identificar o usuário, e que tipo de tratamento se dá a
tais dados.
Para a perícia, o Expert efetuou testes simulados do programa objeto da presente
demanda em ambiente controlado para identificar quais são os dados capturados e como são
utilizados e armazenados.
Sobre o funcionamento da aludida plataforma, o Expert apontou que o programa
denominado MATRIX faz a integração câmera e software, realizando a detecção da face através
dos pontos específicos.
Explica: o módulo cliente MATRIX recebe imagens em tempo real de uma câmera
instalada na plataforma de embarque, assim, cada vez que um rosto humano é detectado, o sistema
atualiza um contador de rostos, internamente denominado de impressions (fls. 404).
Em seguida o programa MATRIX captura pontos específicos do rosto e os compara
com o modelo demográfico e com o modelo de emoções, gerando resultados analíticos de idade,
gênero e emoção, construindo um conjunto de informações anônimas denominado de matriz

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numérica, conforme ilustração trazida no laudo às fls. 404.
Ressalta o Expert que esta matriz numérica não contém as imagens trazidas da
câmera e não contém os pontos capturados. Contém a provável faixa etária, o provável gênero e a

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emoção provável (feliz, surpreso, zangado, triste, confuso, enjoado ou calmo) considerada durante
o período e o tempo total em que o rosto encara a câmera (fls. 405).
Tampouco há armazenamento das imagens. Segundo as constatações periciais, os
pontos capturados dos rostos humanos e as imagens recebidas da câmera não são armazenados em
nenhum tipo de arquivo ou mídia, sendo descartados pelo sistema. O que é armazenado pelo
servidor são as totalizaçãos dos dados anônimos contidos na matriz numérica enviado pelo
programa MATRIX. (fls. 405).
Com tais informações, faz-se, de forma automatizada, uma seleção das listas
publicitárias a serem veiculadas nos paineis existentes nas plataformas de embargue do Metrô (fls.
405).
Esclarecedora, também, a resposta do Expert ao quesito 1 da parte ré quanto às
diferenças conceituais de detecção facial, reconhecimento facial e detecção de emoções.
Transcrevo:
O artigo Detecting Faces in Images: A Survey, publicado em revista do
IEEE define os conceitos de detecção facial, detecção de emoções e
reconhecimento facial, entre outros.
Assim, temos:
Detecção facial consiste em determinar se há ou não uma ou mais faces
humanas na imagem e, caso presente(s), sinalizar a sua posição.
Detecção de emoções consiste em identificar o estado afetivo dos seres
humanos (felicidade, tristeza etc.). Para tanto, é necessário que previamente tenha
sido realizada a “detecção facial"
Reconhecimento facial consiste em comparar a imagem de uma face com
uma base de dados visando encontrar uma equivalência ou match. Essa técnica
também é dependente da realização prévia da detecção facial. (fls. 406)

E acrescenta em resposta ao Quesito 3:


Conforme apresentado anteriormente, a primeira ação de um algoritmo
desse tipo é determinar se há ou não uma face humana na imagem (condição de

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detecção facial).
Após a detecção, para que se faça o reconhecimento facial, é necessário
que o algoritmo compare a face detectada com algum tipo de subsídio, neste caso

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uma base de dados especifica da pessoa a ser reconhecida, para que então ele
obtenha parâmetros para determinar se as faces são diferentes ou não.
Nesse sentido, os conceitos de detecção facial e reconhecimento facial são
absolutamente distintos, uma vez que a detecção apenas permite esclarecer se
existe ou não uma face em uma imagem e localizá-la nessa imagem, enquanto que
a ação de reconhecimento facial ativamente busca dar uma identidade àquela
face, comparando-a com outras faces previamente conhecidas.(fls. 407 )

Pois bem.

A disciplina da responsabilidade civil prevista na Lei Civil estatui que aquele que
“por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem”, comete ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo (artigos 186 c/c 927, caput, do Código
Civil.
Atende-se, no entanto, que, o dever de indenizar encontra-se condicionado à prova
da existência dos elementos caracterizadores da responsabilidade civil. Torna-se, portanto,
imperiosa a segura demonstração do prejuízo sofrido (dano imaterial), do elemento intencional
(dolo ou culpa) e do nexo de causalidade (relação entre o fato e o resultado danoso), sob pena de
caracterização de locupletamento ilícito.
Como bem leciona Carlos Roberto Gonçalves, “o art. 186 do Código Civil
consagra uma regra universalmente aceita: a de que todo aquele que causa dano a outrem é
obrigado a repará-lo. Estabelece o aludido dispositivo legal, informativo da responsabilidade
aquiliana: 'Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito'. A análise do artigo
supra transcrito evidencia que quatro são os elementos essenciais da responsabilidade civil: ação
ou omissão, culpa ou dolo, relação de causalidade, e o dano experimentado pela vítima.”
(Gonçalves, Carlos Roberto, Responsabilidade Civil 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 66).
Em sendo pessoa jurídica de direito privado, fornecedora de serviços, incidem as
disposições do Código de Defesa do Consumidor, que preconiza, nos termos do artigo 14, a
existência de responsabilidade objetiva, sendo prescindível a comprovação da culpa lato sensu do

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agente causador.
Na hipótese, contudo, não se verificam os requisitos para a configuração de atos
ilícitos, conforme narrados e, consequentemente, dos elementos hábeis a caracterizar o dever de

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indenizar.
Conforme elucidado no laudo pericial, o sistema digital implantado pela empresa
ré nas estações de metrô, ao contrário do que alegam os autores, não colhe dados pessoais, não
armazena imagens dos passageiros e tampouco faz reconhecimento facial.
Além disso, há que se considerar que eventual dano deveria ser certo (possível,
real, aferível). Ocorre que a própria materialização do ato contra o qual os autores se insurgem, é,
no plano individual, deveras tênue. Isso porque não há prova de que sejam usuários do metrô e,
principalmente, de que a aludida plataforma digital tenha, de fato, realizado a detecção facial dos
autores, sendo impossível à ré, na hipótese, fazer prova negativa.
Desta feita, à luz das importantes informações trazidas pelo Expert e dos demais
elementos contidos nos autos, o pedido de reparação de danos morais deve ser rejeitado.
Prejudicado, outrossim, o pedido de destruição de eventuais dados coletados dos
autores, tendo em vista que as imagens recebidas da câmera não são armazenados em nenhum tipo
de arquivo ou mídia, sendo descartadas pelo sistema, consoante explicação do Expert
supramencionada.
Por fim, os autores, em alegações finais requerem que o ônus sucumbencial recaia
sobre a empresa ré, uma vez que o intuito da presente demanda era obter junto a ré
esclarecimentos acerca da plataforma cujo mecanismo fora discutido nestes autos.
Com efeito, segundo o princípio da causalidade, consagrado tanto na doutrina
quanto na jurisprudência, os encargos processuais devem ser atribuídos à parte que provocou o
ajuizamento da ação.
Porém, como bem salientou a ré em sua defesa, há outros canais por meio dos
quais os autores poderiam ter pedido os esclarecimentos necessários, de tal sorte que somente com
a recusa pela empresa ré em fornecer tais informações, poder-se-ia dizer que esta deu causa à
propositura da presente demanda.
Assim, ante a ausência de prova de recusa da ré em fornecer eventuais
esclarecimentos pleiteados pelos autores, o ônus sucumbencial, em virtude do princípio da
causalidade, deve ser arcado, na sua integralidade, pelos autores.

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a presente ação, extinguindo-a nos

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termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil.

Sucumbentes, arcarão aos autores com o pagamento das custas e despesas

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processuais, bem como dos honorários advocatícios que fixo em 10% do valor atualizado da
causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do referido diploma legal, observada a gratuidade da justiça.

P.R.I.

São Paulo, 19 de junho de 2020.

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