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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE INDAIATUBA
FORO DE INDAIATUBA
3ª VARA CÍVEL
RUA ADHEMAR DE BARROS, 774, Indaiatuba - SP - CEP 13330-901
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001119-89.2015.8.26.0248 e código 70354F5.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1001119-89.2015.8.26.0248


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Defeito, nulidade ou anulação
Requerente: Reginaldo Pereira
Requerido: Rui Lima Cabral e outros

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CLAUDIA MARINA MAIMONE SPAGNUOLO, liberado nos autos em 06/07/2020 às 00:26 .
Justiça Gratuita

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Claudia Marina Maimone Spagnuolo

Vistos.

REGINALDO PEREIRA ajuizou ação declaratória de nulidade de negócio


jurídico c.c. indenização por danos morais em face de RUI LIMA CABRAL, MARCOS
ROBERTO SILVEIRA MELO e RICARDO FERNANDES DE SOUZA, sócios da empresa
MASTER COMPANY AIR CARGO LTDA. Disse que trabalhou de 01/02/2001 a 31/08/2008 na
referida empresa na função de despachante e em março de 2007 foi convocado para figurar como
único sócio da empresa MC LOGÍSTICA LTDA após retirada dos réus do quadro societário. Disse
que nunca exerceu nenhum ato de gerência, teve acesso a contas bancárias, folhas de pagamentos e
fez retirada de valores desta empresa, permanecendo sempre no desempenho de suas atividades
com recebimento de salário pela MASTER COMPANY AIR CARGO LTDA. ate ser demitido.
Disse que algum tempo depois começou a receber notificações de ações judiciais referentes à
empresa MC TRANSPORTES INTERMODAIS, pois figurava em seu quadro societário e em
11/03/2013 teve penhorado o seu único veículo em virtude de dívida trabalhista advinda do
processo n. 0010011-96.2014.5.15.0053. Alegando ocorrência de simulação, pediu a nulidade do
ato consistente na sua inclusão no quadro societário da empresa MC TRANSPORTES
INTERMODAIS. Requereu ainda a indenização por dano moral no valor de R$ 50.000,00, visto
que seu nome foi incluído no cadastro de devedores da Justiça do Trabalho e perante a Justiça
Federal por débitos que não são de sua responsabilidade e ainda teve seu veiculo penhorado.
Juntou documentos.

Citados, os réus apresentaram contestação.

Marcos Roberto Silveira Melo alegou, em preliminar, inépcia da inicial. No


mérito, alegou que os fatos narrados pelo autor não condizem com a verdade, pois o autor adquiriu
a empresa MC por acordo verbal em razão de relação de confiança e amizade e não ha nos autor
prova de que exercia administração da empresa quando o autor figurava como único sócio da
empresa. Pugnou pela improcedência da ação.

Ricardo Fernandes de Souza Costa sustentou, em preliminar, a ocorrência de


decadência. No mérito, alegou que o réu não especificou qual seria a fraude ou vício de
consentimento ou social que embasaria a sua pretensão. Disse que tinha pouco contato com o autor
e que foi o autor quem propôs ao correu Marcos a aquisição da sociedade, que não se mostrou
eivada de qualquer vicio social ou de consentimento. Afirmou que jamais existiu qualquer fraude
ou coação que justifique a pretensão anulatória deduzida pelo autor. Pediu a improcedência da
ação.

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Rui Lima Cabral, em resposta, sustentou preliminar de inépcia da inicial e no
mérito afirmou que se retirou da sociedade MC em 01/10/2005, não tendo mais contato com os
demais corréus, não sabendo acerca da aquisição das cotas sociais da empresa pelo autor.
Requereu a improcedência da ação.

Sobreveio réplica às fls. 199/203.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CLAUDIA MARINA MAIMONE SPAGNUOLO, liberado nos autos em 06/07/2020 às 00:26 .
Saneador prolatado às fls. 221/223 com afastamento das preliminares arguidas
pelos réus.

Decisão proferida às fls. 227/228 julgando extinto o feito em relação ao corréu


Rui.

Em juízo, foram colhidos o depoimento do autor (fls. 304/305) e de duas


testemunhas (fls. 329 e 330). Encerrada a instrução (fls. 342/343), o autor e o correu Ricardo se
manifestaram em alegações finais.

É o breve relatório.
Decido.

Pretende o autor deseja seja declarado nulo o seu ingresso no quadro social da
empresa MC Transporte Intermodais ocorrido em 08/03/2007, tendo em vista que tal inserção
apenas ocorreu em razão da celebração de negócio simulado.

No caso, o autor logrou demonstrar que embora constasse como sócio na empresa
nunca exerceu função de administração. Os documentos acostados aos autos apontam que na
época do ingresso do autor como sócio na empresa MC ele trabalhava na Master Company na
função de assistente operacional ate 31/005/2008 quando foi demitido sem justa causa. Já as duas
testemunhas ouvidas em juízo e que trabalharam na empresa na função de motorista disseram que
o autor exercia o cargo de encarregado e Rui e Marcos se apresentavam como sócios da empresa.
As provas revelam, pois, que o autor, mesmo figurando como sócio da empresa MC permaneceu
como mero empregado dos réus, sem poder de tomada de quaisquer decisões em prol da
sociedade. Ou seja, o autor figurou meramente como “laranja” ou “testa de ferro”, sendo, pois,
aceita a alegação de vício de consentimento.

No mais, há de se considerar que os réus não fizeram prova em sentido contrário,


limitando-se a afirmar pela regularidade do negócio.

Merece, assim, acolhimento o pedido de declaração de nulidade do contrato


social da empresa.

Restou ainda caracterizada a ocorrência de dano moral, visto que em decorrência


da inserção do autor no quadro societário ele respondeu por dívida trabalhista e teve seu veículo
penhorado seis anos depois de ter sido demitido sem justa causa da empresa Master Company.
Não há dúvida de que o autor experimentou o desgosto de, ao ter o seu nome incluído no quadro
societário sem que realmente tivesse o intuito de exercer a administração do negócio, acabar
sofrendo penhora por dívida a que não deu causa, já que não participava de fato da sociedade.

Sobre a questão:

1001119-89.2015.8.26.0248 - lauda 2
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“APELAÇÃO – Anulação de ato jurídico c/c indenização por danos materiais e
morais – Sentença que julgou parcialmente procedente o pedido mantida – 1. Inclusão indevida do
autor no quadro societário de empresa – Recebimento de cobranças bancárias, concessão de cartão
de crédito, negativação do nome, bloqueio de ativos financeiros e de veículo – Autor que alega
desconhecimento em relação à empresa por ser funcionário público municipal – Laudo pericial
grafotécnico que apurou falsidade das assinaturas do autor no Protocolo da JUCESP e na
Alteração de Contrato Social e Consolidação da empresa – Réus que não se desincumbiram de seu

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CLAUDIA MARINA MAIMONE SPAGNUOLO, liberado nos autos em 06/07/2020 às 00:26 .
ônus probatório, tendo em vista que os documentos caracterizadores dos débitos e o contrato de
concessão de cartão de crédito não foram localizados - art. 373, II, do CPC – 2. Danos morais
configurados – Evidência do abalo moral sofrido pelo autor – Majoração da indenização por danos
morais fixados na sentença em R$ 7.000,00 para R$ 10.000,00 – Incidência de correção monetária
a partir do julgamento do recurso, nos termos da Súmula nº 362 do STJ e de juros de mora de 1%
ao mês, desde a citação – Recuso do autor parcialmente provido – Recurso do réu não provido”
(TJSP; Apelação Cível 0212404-18.2008.8.26.0100; Relator (a): Egidio Giacoia; Órgão Julgador:
3ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 32ª Vara Cível; Data do Julgamento:
31/01/2018; Data de Registro: 31/01/2018).

Nesse sentido, levando-se em consideração o efeito danoso, a condição econômica


das partes, a natureza inibitória e penalizadora e tendo em vista que tal valor não deve ser ínfimo
a ponto de não incomodar o causador do dano, com o intuito de impedi-lo na reincidência do ato,
mas também, não há de ser extravagante, entendo que deve ser fixado em R$ 20.000,00.

Diante do exposto, com fulcro no art. 487, I, do CPC, julgo a ação PROCEDENTE
e o faço para declarar a nulidade do ato consistente na inclusão do autor no quadro societário da
empresa MC TRANSPORTES INTERMODAIS, devendo ser excluído o seu nome
do contrato social perante a JUCESP e dos órgãos de proteção ao crédito, mantendo-se os sócios
anteriores e condenar os réus ao pagamento de indenização por danos morais na quantia de R$
20.000,00, devendo ser atualizada, a partir da data desta sentença até o efetivo pagamento,
acrescida de juros de mora de 1% ao mês a contar da citação.

Condeno ainda os réus ao pagamento de despesas processuais e honorários dos


advogados fixados em 10% sobre o valor atualizado da condenação. Oficie-se à Junta Comercial
do Estado de São Paulo para retificação do contrato social.

P.R.I.

De São Paulo para Indaiatuba, 06 de julho de 2020.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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