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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1003938-82.2020.8.26.0099 e código 6BB4783.
SENTENÇA
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FREDERICO LOPES AZEVEDO, liberado nos autos em 16/09/2020 às 13:34 .
Vistos.
Regularmente citado (pág. 73), o banco Réu apresentou contestação (pág. 74/81),
alegando a prevalência do postulado pacta sunt servanda, além da aplicação dos princípios da
intangibilidade e da força obrigatória dos contratos. Defende que a posterior discussão dos termos
contratados enseja ofensa à boa-fé contratual, pugnando pela improcedência da ação. Juntou
documentos (pág. 82/110).
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Em réplica (pág. 113/116), a Autora repisa termos iniciais e tenta rebater os
argumentos defensivos.
É o relatório.
FUNDAMENTO E DECIDO.
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Não havendo questões preliminares a serem enfrentadas e, tampouco, vícios ou
irregularidades que maculem o processo, passo ao julgamento do meritum causae, já que, ante a
controvérsia instaurada nos autos, desnecessária a produção de outras provas, além dos
documentos já apresentados pelas partes (art. 355, inc. I, do Código de Processo Civil).
Trata-se de ação cominatória sob o rito ordinário, através da qual a Autora postula
a suspensão do contrato de financiamento indicado na inicial (pág. 31/35 e 82/83), em razão de
temporária impossibilidade de pagamento decorrente dos impactos econômico-financeiros
causados pela pandemia de COVID-19 sobre sua atividade empresarial. Em contraposição ao
pedido inicial, o banco Réu invoca o postulado pacta sund servanda, além dos princípios da
intangibilidade contratual e da força obrigatória dos contratos.
Com efeito, é fato notório que a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus tem
acarretado impacto severo na atividade econômica do país, não só pelo recolhimento voluntário
das pessoas para evitar a disseminação da doença, como também pelas múltiplas decisões estatais
que determinaram a suspensão de diversas atividades empresariais, atingindo direta e gravemente
o faturamento de empresas, além de trazerem inexoravelmente o comprometimento financeiro de
milhares de brasileiros proprietários destas empresas.
Nessa esteira, a situação que emerge dos autos permite a aplicação da teoria da
imprevisão (cláusula rebus sic stantibus), aliada aos princípios da boa-fé objetiva e da função
social dos contratos (arts. 421 e 422, do Código Civil). Isto porque, é evidente que o surgimento
da pandemia provocada pelo novo coronavírus e as medidas restritivas impostas pelo Poder
Público são acontecimentos extraordinários e imprevisíveis que alteraram de forma substancial as
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bases negociais sobre as quais fora construído o contrato vigente.
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Diante de tal quadro, o parcial acolhimento da pretensão inicial é medida que
se impõe, para, a partir de junho/2020, postergar o pagamento de todas as parcelas do
contrato, sem a incidência de encargos (exceto correção monetária), suspendendo-o pelo
prazo de 06 (seis) meses, após o qual será retomada a exigibilidade das prestações. Registre-
se: o prazo de suspensão ora fixado está a considerar que, atualmente, a economia do país já
demonstra sinais de recuperação, não havendo falar, assim, em suspensão por período superior,
inclusive em respeito à intervenção mínima do Estado na vontade privada e à excepcionalidade da
medida buscada nestes autos (art. 421, parágrafo único, do Código Civil).
Por fim, e por óbvio, o Réu deverá abster-se de entrar com ação de busca e
apreensão do veículo objeto da ação, bem como de incluir o nome da Autora nos órgãos de
proteção ao crédito, durante o período de suspensão ora determinado, sendo que, transcorrido o
prazo assinalado, a manutenção da posse do bem financiado em favor da Autora e a não inclusão
de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito dependerão do cumprimento do contrato celebrado
entre as partes, não cabendo a este juízo, após a retomada da exigibilidade da avença, tolher o
regular exercício do direito do credor de proceder aos meios lícitos de cobrança previstos no
ordenamento vigente.
Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, com fundamento no art.
487, inc. I, do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido
formulado na inicial, para, retificando os termos da liminar anteriormente deferida, postergar o
pagamento de todas as parcelas do contrato sub judice, a partir de junho/2020, sem a incidência de
encargos (exceto correção monetária), suspendendo-o pelo prazo de 06 (seis) meses, após o qual
será retomada a exigibilidade das prestações. Ante a sucumbência preponderante, condeno o Réu
ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios, que fixo em R$ 1.500,00
(mil e quinhentos reais) (art. 85, §8º, do CPC).
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Diante do pedido de ampliação da tutela provisória, que fora anteriormente
indeferido por este juízo (pág. 117), e a partir dos elementos que foram carreados aos autos
ao longo da marcha processual, entendo ser o caso de ampliar os efeitos da tutela, para que,
nos termos constantes no dispositivo do presente decisum, e independentemente do trânsito
em julgado, sejam postergados os vencimentos das parcelas atinentes aos meses de
setembro/2020, outubro/2020 e novembro/2020, sob pena de imposição da multa diária já
fixada (pág. 64/67). Providencie-se.
Após o trânsito em julgado, aguarde-se por até 30 (trinta) dias o início de eventual
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fase de cumprimento de sentença, oportunidade em que deverá o credor observar o contido nos
arts. 513 e seguintes do Código de Processo Civil, bem como o disposto nos arts. 1.285 e seguintes
do Tomo I das Normas de Serviço da Corregedoria-Geral de Justiça. No silêncio, certificando-se,
arquivem-se os autos, observadas as formalidades legais.
P.R.I.C.
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